A Cinderella Story

Written by Jay



Cap. 1

– Vai logo, !
A menina, já irritada, jogou-se na poltrona atrás de si. Deixou-se levar pelo cansaço, com os olhos já fechados enquanto acomodava sua cabeça na almofada. Leves mechas de cabelo castanho caíam sobre seu rosto delicado de pele clara e bochechas rosadas. Ali, deitada no sofá da casa tão conhecida por ela já há anos, sentia o sono tomar conta de seu corpo.
– Já estou pronto! – Em um pulo, os olhos da menina deitada se arregalaram, mostrando um esverdeado que lembrava uma esmeralda. Ela fez menção de continuar deitada ali; dormir. Estava tão cansada... – Depois eu que te atraso, né? Vai, vamos logo dorminhoca!
– Se você repetir isso, pode se considerar um homem morto, . – Falou entre um exagerado bocejo. levantou-se com certa dificuldade, sorrindo ao ver o amigo rir e logo a ajudar com um ‘leve’ puxão que quase a fez ser arremessada contra a parede. Esfregou os olhos e observou o menino parado em sua frente, ocupado demais mexendo em uma gaveta. Era alto, extremamente bonito e tinha os olhos mais encantadores e belos que ela já vira em sua vida; eram azuis. Os cabelos exageradamente arrepiados como se acabasse de ter sido eletrocutado e a barba mal-feita, dando um certo ar adulto para o garoto de apenas 17 anos, e que ainda mantinha os mesmos traços na face desde criança.
– Que foi? – arqueou uma sobrancelha, rindo ao ver a amiga parecer sair de um transe.
– Nada – Ela deu de ombros, sorrindo e jogando a mochila nas costas – Você está diferente hoje... charmoso – riu.
– Eu sou charmoso, babe. Sempre sexy – O garoto riu enquanto fechava a porta atrás de si, reclamando quando recebeu um tapa de – E você está... bem, – se virou e encarou a amiga. Ela era muito bonita; parecia que fora ontem que a vira pela primeira vez, aos 10 anos. As feições de tempos atrás haviam desaparecido, deixando lugar para uma verdadeira adolescente: o belo corpo de curvas que fizeram vários garotos ganharem olhos roxos presenteados pelo próprio ; as saias e blusas que davam ainda mais valor ao corpo, se possível; os longos cabelos levemente ondulados que a faziam parecer mais mulher ainda. A única lembrança do passado que o restara era o rosto; aqueles traços de sua face que a entregavam como ainda uma criança, aquela feição estampada no rosto da menina que a fazia parecer como no primeiro dia em que se conheceram era, na opinião de , a maior característica de e o que, pessoalmente, a fazia ainda mais bonita. E mesmo a conhecendo por sete anos, sendo melhores amigos e crescendo juntos desde então, o garoto ainda parecia não acreditar na mulher que sua pequena havia se tornado.
– Sabe – A menina riu ao ver que assustou o amigo, que antes a observava atentamente enquanto sorria abobado – Às vezes é bom quando nós terminamos as nossas frases.
– Espertinha – bagunçou o cabelo dela, rindo ao ouvi-la soltar berros – É que eu ainda não acredito que você cresceu tanto.
– Ai papai – brincou ao que fechava a porta do carro, rindo ao ver o amigo mostrar a língua – Vamos logo senão vamos nos atrasar, e eu realmente não estou afim de passar mais um dia de detenção com vocês e com os seus amigos!
– Metida – riu ao ver a menina fingir estar exageradamente ofendida. Ligou o carro e logo já estavam longe de sua casa, rumo à mais um dia na escola da cidade de Londres.


Cap. 2

– Sério, você cresceu mais nesse final de semana? – não havia falado de mais nada com desde que deixaram a casa do menino – Você está me parecendo mais alta!
– Eu tô usando tênis hoje, nem vem – Ela estirou a língua e sorriu ao vê-lo rir.
! – poderia jurar que havia ficado surdo com aquele berro – , aqui! – tornaram a berrar.
! – berrou de volta, rindo ao ver cobrir as orelhas e em seguida fingir estar surdo – Exagerado – riu, dando a língua para ele novamente.
– Até que enfim você chegou! – A menina sorriu. Era bonita; um pouco mais baixa que , de cabelos e olhos castanhos que realçavam sua pele de cor extremamente clara – Anh, oi .
– O-oi sentiu suas bochechas queimarem ao ver-se gaguejando. apenas sorriu sem graça e corou levemente, o que era muito visível por causa do tom de sua pele.
tentou segurar o riso; conhecia aqueles dois mais que eles mesmos achavam que se conheciam. Ambos sempre faziam de seus ‘encontros’ embaraçosos, e a menina sempre sentia vontade de rir daquelas situações que, em sua opinião, eram engraçadas.
– Bom, é melhor a gente ir – tentou se fazer de séria e controlar o riso ao sentir uma forte cotovelada de em seu braço – Não queremos chegar atrasadas.
– Ah, claro! – sorriu envergonhado e passou os dedos entre alguns fios de cabelo arrepiados, sem graça – Vejo vocês depois então, meninas. – Beijou a testa de e acenou para , ainda envergonhado. Antes que as garotas pudessem se distanciar muito, o garoto apenas virou-se e berrou, sorrindo ao ver sua melhor amiga rir e dar a língua: – E vê se pára de crescer, miss Barbie Malibu!
– Barbie Malibu? – repetiu, rindo, ao que já estavam distantes de .
– É – apenas riu e deu de ombros – Eu costumava ter essa boneca quando eu era mais nova, que era a Barbie Malibu, sabe? Bom, eu não gostava dela, dizia que nunca iria crescer igual a uma ‘barbie’, tipo aquelas peruas metidas, e... bem, o lembrou disso no carro e disse que eu havia me tornado ela agora – A menina fez cara feia, mas logo riu novamente – Louco!
– Ah, é bonitinho! – sentiu-se corar mais uma vez ao perceber o olhar da amiga sobre ela, e logo tentou disfarçar – Digo, sim... louco! Mas bonitinho por ele ter lembrado disso e... – Ela logo desistiu e corou ainda mais vendo rir dela – Ah, você entendeu!
– Claro que entendi, – A menina continuou num tom provocativo, rindo da cor da face da amiga e apoiando seu braço ao redor do ombro dela – Entendi muito bem...
As duas seguiram rindo para a classe, e assim que adentraram a sala, todos os olhares se voltaram para elas. piscou para a amiga, jogando os cabelos para trás e desfilando até onde as outras amigas se encontravam, rindo. apenas balançou a cabeça e também riu da brincadeira. Passou os olhos pela sala; parecia querer encontrar alguém. Seguiu para seu lugar, sorrindo para algumas pessoas que acenavam animadamente para ela e lhe davam ‘bom dia’, por mais que nem tivesse idéia de quem eles fossem. Sentou-se aos fundos, em frente de uma de suas amigas; eram sempre as quatro.
– E aí, meninas – começou, virando-se para trás com o corpo assim como , podendo observar as meninas nas carteiras atrás delas.
‘Porque minhas melhores amigas têm que ser tão bonitas?’, pensou enquanto ria consigo mesma. olhou para as amigas; fora , havia mais duas delas: , uma garota bonita e alegre, de cabelos cacheados que ela sempre invejara, e tinha o rosto que lembrava a de uma criança apaixonada; e , que tinha belos cabelos de ondulações intensas e perfeitamente bem-feitas e ajeitadas, e no rosto levava delicadas sardas que, em sua opinião, era a maior beleza da amiga.
Em um momento em que estava ali, rindo com as amigas, se viu entrar em transe. Seus olhos acompanhavam cada passo do garoto que agora adentrava a sala: cabelos e de olhos azuis, era um dos rapazes mais bonitos da escola. Desde a primeira vez que se conheceram, apresentados por , ela e nunca se falaram muito, apenas as mesmas trocas de olhares quando se viam no mesmo local. Tinha alguma coisa naquele menino que chamava sua atenção... Além da beleza, é claro. corou ao ver ele a observando, e apenas sorriram sem graça um ao outro. ‘Como sempre’, pensou.
– Se ele apenas andasse com as pessoas certas... – disse em um suspiro, acordando a amiga de seu transe, que antes observava sentar ao lado do amigo, do outro lado da sala.
– E o que você quer dizer com isso? – riu, corando e tentando ignorar o olhar de , que provavelmente a vira observar o garoto com uma atenção... ‘especial’.
– Ah, olhou onde se encontrava, mas não exatamente para ele. Desviou o olhar para seu amigo ao lado: belos olhos azuis, os cabelos e lisos caindo aos olhos, e na face, o sorriso mais perfeito e contagiante que já viram – Ele anda com o , cara! Qualquer um que é amigo do deveria se considerar um completo loser! Quero dizer, olha pra ele...
– Eu olho, já você baba – apontou para , que corou e bateu levemente na amiga.
– O é amigo do ... – deu de ombros, rindo tanto das palhaçadas de quanto da cor que havia ficado ao ouvir tal nome – Então quer dizer que o também é loser, ? – Provocou. Adorava aquilo.
– Hein? Oi? Anh, o , é? – gaguejou, corando ainda mais enquanto tentava ignorar as risadas das amigas – Mas é lógico que o é um completo loser, ! E o maior de todos.
As meninas riram novamente, menos , que sentia que poderia enforcar naquele momento. Só não o fez pois havia sido interrompida.
– Bom dia, alunos – Uma mulher morena de olhos claros, que eram escondidos por enormes e grossos óculos entrou sorridente. riu consigo mesma, não conseguia evitar. Gostava da srta. Bradshaw, e sabia que era bonita, mas não entendia o porquê em escondê-la em vestidos exageradamente longos, largos e estranhos, naqueles óculos fundo-de-garrafa e naqueles cabelos bagunçados, sempre presos por um coque firme e intocável. – Desculpem a demora...
– Demora? Que isso, professora, foram apenas 30 minutos de atraso, mas fica firme que você chega lá! – murmurou num tom irônico, fazendo as amigas rirem – Não que isso seja ruim...
– Eu estava na sala do diretor discutindo algumas coisas, – A professora apoiou os vários cadernos grossos sobre a mesa e segurou uma pilha de papéis nas mãos – sobre o nosso baile!
– Baile? – As meninas riram ao ver o brilho nos olhos de enquanto repetia a palavra. Ela provavelmente era a pessoa mais fascinada por esses tipos de festas do que qualquer outro ser vivo. A professora pediu para a classe se calar, e apenas porque estavam interessados, obedeceram.
– Como já faz cinco semanas desde que vocês voltaram das férias, e não falta muito para as aulas acabarem, – A professora ignorou os comentários de comemoração e sorrisos dos alunos com o que havia acabado de falar – eu achei que nada seria melhor do que um baile como despedida!
– Tudo bem que se o baile for esse final de semana, não vai ser nada despedida porque ainda vão faltar mais duas semanas para as aulas acabarem, aí o baile não vai servir pra nada e... – , que falava muito rápido, repentinamente parou ao ver os olhares das amigas, perguntando mais para si mesma: – E porque eu continuo falando?
– Porque você é uma matraca – riu com as outras ao que estirava a língua – E o baile vai ser nesse final de semana mesmo... No sábado, na verdade.
– E como você sabe? – arqueou uma sobrancelha, olhando a amiga tão curiosa quanto as outras.
Ela, por sua vez, apenas deu de ombros e ignorou os olhares das meninas.
– Pode contando, ! – reclamou, rindo quando atacou uma bola de papel amassada na amiga. Sabia que elas odiavam não saber das coisas... ‘Curiosas’, pensou.
– Credo, não precisa partir pra violência! – riu, atacando de volta a bola de papel em e berrando algo como ‘você que começou’ quando a amiga se fingiu de indignada – Tá bom, tá bom. Credo, vocês são curiosas demais e isso não é muito bom, sab...
– Ih, pára de enrolar e conta logo! – reclamou, brincando, arrancando risadas das outras.
– Ai gente, eu só meio que... anh, ajudei. Digo, dei apenas algumas idéias! – Ela se apressou em falar, vendo a cara de espanto das amigas – É que como a srta. Bradshaw é a professora de literatura e eu faço parte do jornal da escola, ela me pediu e... Ah, parem de me olhar assim, cacete!
- E você não nos contou?! – sem querer soltou, quase em um berro, o que realmente pareceu ao que a classe inteira havia parado para encará-la, fazendo a menina corar e afundar na cadeira.
– Meninas – A professora as chamou atenção, ajeitando os imensos óculos sem graça. Aproveitou que a sala havia entrado em silêncio, exceto, é claro, pelas risadas abafadas de , e , enquanto as mandava calar a boca, ainda corada – Bom, – a professora continuou – quero agradecer especialmente a ajudante de todas essas excelentes idéias, srta. !
A professora começou a bater palmas e sorrir euforicamente, e a classe logo a seguiu. apenas afundou na carteira, numa tentativa falha de se esconder enquanto mostrava o dedo para as amigas, que a zombavam com palmas e assovios exagerados. Mas, ao que percorreu seus olhos pela classe que a encarava, encontrou o olhar de , do outro lado da sala. Ele a observava com um doce sorriso nos lábios, rindo da menina que ainda tentava se esconder. Sem perceber, como em um ato involuntário, um sorriso verdadeiro se abriu no canto de sua boca.
– Que tal se você me ajudasse com os panfletos, querida? – O imenso sorriso da professora fora substituído por uma expressão confusa, ao que sua aluna nem sequer a notara – ?
– Anh, como é? – A menina pareceu ter acabado de acordar de um transe, e vendo que a professora, que a olhava desentendida fez menção de responder àquilo, logo consertou – Ah, eu adoraria!
– Puxa saco! – Ouviu murmurar em seu ouvido antes que se levantasse. Sem que a professora notasse, apenas mostrou o dedo para a amiga enquanto caminhava até a frente da sala, rindo.
– Aqui, querida – A mulher lhe entregou uma pilha de papéis – Você começa por ali e eu por aqui.
Ela, apenas concordando com um sinal de cabeça, apanhou os panfletos e começou a entregá-los para uma metade da classe, enquanto a professora entregava para a outra metade. ‘Graças a deus que não vou precisar entregar pra elas!’, riu, imaginando o quanto as amigas não iriam lhe zombar ainda mais. Ao que entregava o papel para as pessoas, ganhava sorrisos e comentários como ‘amei a idéia’, ‘você é demais, Jojo!’, e até ‘você tem par para o baile?’. apenas sorria e respondia um simples ‘obrigada’, até para o menino que a convidara para ser seu par na festa. E Jojo? Como é que alguém que ela nem conhecia poderia saber o apelido que havia lhe dado há muito tempo atrás? Às vezes ela tinha a sensação de que aquelas pessoas a conheciam melhor do que ela mesma, e era assustador.
Começava a entregar os panfletos muito rápido agora; era apenas impressão ou ela sentia medo dessas pessoas? Sem perceber, apenas um papel lhe sobrou nas mãos. Levantou a cabeça.
– Baile de máscaras? – sorriu gentilmente – Cool!
abriu a boca para falar algo, mas quando as palavras resolveram sair, foram completamente abafadas pelo sinal estridente, indicando que a aula finalmente havia acabado. Com isso, apenas sorriu de volta e observou o loiro se levantar e deixar a sala com .
Alguns minutos depois, ela e as amigas já estavam lá fora, andando pelo pátio uma ao lado da outra.
– Eu acho que essa foi uma das poucas e únicas idéias boas que você teve o ano inteiro, falou tentando parecer séria, o que foi em vão, uma vez que saiu correndo enquanto gritava e ria histericamente ao mesmo tempo quando a amiga fez menção de correr atrás dela para pegá-la.
– Olha, eu também gostei da idéia do baile e tal, não me leve a mal, ... – começou enquanto encarava o panfleto nas mãos – Mas se vamos estar de máscaras, como vamos reconhecer as pessoas? Quero dizer, e se a gente acidentalmente acabar ficando com pessoas como... como... como o !
– E eu aposto que você vai fazer de tudo pra esse acidente acontecer, não é mesmo? – piscou para as amigas, que riram ao ver ficar brava e exageradamente corada com o comentário.
– A festa vai ser ótima e vocês vão amar e me agradecer, prometo! – riu quando viu as amigas a imitaram – Agora, eu quero saber quando nós vamos comprar nossos vestidos e achar máscaras!
– Ué, a idéia disso tudo foi sua, decida você! – reclamou, tentando novamente se manter séria, mas obviamente que não conseguia. Riu e abraçou a amiga, que estirava a língua para ela.
– A gente pode ir procurar hoje, é quinta – comentou, rindo ao ver a cena das duas enquanto sentava-se com elas na mesa de pedra do pátio.
– Hoje não dá, prometi ao que iria ajudar ele em redação – deu de ombros, sendo a única a se sentar na mesa mesmo, e não no banquinho em frente como as outras.
– Ah gente, eu já tenho o meu vestido! Ele é rosa, lindo e ainda veio de Paris! – reclamou.
– Desculpa , mas eu não acho que o traje do baile seja nada parecido com seu vestido de Paris – comentou, apontando para o panfleto e rindo da cara que a amiga havia feito.
– É, falando nisso – se virou para a menina, ainda encarando o panfleto – Que negócio é esse de se vestir como mulheres...
– Donzelas – a corrigiu, rindo.
– Ah, whatever – estirou a língua – Essas... coisas dos anos 90?
– Ah, isso foi uma idéia da srta. Bradshaw – comentou, rindo do comentário de – Mas deve ser legal, nós vamos nos vestir como a Keira Knightley em Piratas do Caribe! Eu acho aqueles vestidos tão legais e chiques – A menina fez uma pose estranha, fazendo as amigas rirem.
– Eba, vamos ter então garotos vestidos de piratas, com tampão nos olhos e bêbados por beber tanto rum! – brincou, batendo palminhas, fingindo estar animada com o que acabara de falar.
– Se me derem um pirata igual ao Orlando Bloom... – riu, os olhos brilhando.
– Ou o Johnny Depp – completou, imitando uma voz sensual e arrancando risadas das amigas.
– Mas aqueles vestidos, apesar de legais, são compridos demais e nos fazem parecer gordas! – comentou assim que elas finalmente haviam parado de rir – Eu vou parecer com a srta. Bradshaw!
– Ah claro, porque a Keira Knightley realmente estava muito gorda naqueles vestidos, principalmente com aquele espartilho! – respondeu, ainda rindo do comentário que a amiga havia feito sobre a professora – E quanto ao comprimento, nós podemos diminuir. Ninguém nos disse o tamanho que os vestidos devem ser!
– Uh, agora dessa idéia eu gostei – riu, batendo palminhas animadas.
– Nós podemos só vestir os espartilhos e diminuir o comprimento da parte debaixo, uma coisa meio parecida com aquelas dançarinas de cabaré, sabem? – riu com o próprio comentário.
– Mas também nada muito vulgar como essas dançarinas aí, aquelas meias que elas usam debaixo da saia... Digo, até que eu gosto, são bem fashion. E eu curto aquelas dancinhas delas! – cantarolou alguma música do tipo cabaret e dançou no ritmo, fazendo as amigas rirem.
– Anh, sem querer estragar tudo isso, gente – começou, rindo quando as outras já mostravam as línguas ou jogavam coisas nela – Mas onde nós vamos encontrar todas essas coisas aí?
– Ah, já isso não é um problema – respondeu imitando aquelas vozes de propagandas sobre algum produto, onde o locutor sempre dizia: ‘agora seus problemas acabaram!’ – Minha tia tem uma loja de relíquias, coisas antigas ou sei lá como chamam... Bom, só sei que ela está cheia dessas coisas!
– Podemos ir amanhã então pra loja dela? – sorriu animada quando todas concordaram – Ótimo, aí eu aproveito e pego alguma coisa pro !
– E nós vamos juntas pro baile, certo? – pareceu um tanto desesperada por um segundo – Eu não quero chegar lá sozinha e confundir vocês com as jogadoras de futebol americano da escola!
– Porque, realmente, começou, rindo com as outras quando já mostrava a língua, sabendo que seria zoada – Nossos físicos são extremamente semelhantes ao delas!
– Ok, vamos juntas sim, como sempre – riu da expressão que havia feito por causa do comentário de – Mas o pode ir com a gente? Vocês se trocam lá em casa, e ele pode passar pegar a gente lá mesmo e vamos todos juntos. Que tal?
– Contanto que o não esteja junto – deu de ombros, fazendo-se de séria. Mas não segurou o riso quando as amigas logo começaram a fazer piadinhas provocativas, como sempre.
– Ok, então amanhã, todo mundo lá em casa às quatro da tarde e aí vamos juntas pra loja da minha tia – concluiu e todas concordaram com um aceno de cabeça e um sorriso. Em seguida, o sinal da escola tocou novamente. As quatro apenas se levantaram e seguiram para a próxima aula, animadas.


Cap. 3

– Ai , é só escrever! – reclamou, rindo da cara de indignação do amigo.
Já era tarde, e os dois haviam voltado da escola juntos para a casa do menino para escreverem uma redação. Ou melhor, para escrever uma redação; a outra só estava ali para ajudá-lo.
– Fácil pra você falar, a srta. Bradshaw sempre puxou seu saco! – Ele retrucou, mostrando a língua para a amiga que se achava com o comentário que havia feito.
– Vai, vamos lá – puxou o papel e a caneta para ela, ajeitando-se no chão, deitada de barriga para baixo – Você escreve letras de músicas e não consegue fazer uma simples redação?
– As duas coisas são completamente diferentes – disse revirando os olhos, como se aquilo fosse óbvio. Virou-se de barriga para cima, no chão, encarando o teto e o enorme lustre pendurado.
– Lógico que não, ! – se virou de frente para o corpo estirado do amigo, ainda de barriga para baixo, apoiando a folha de papel sobre a barriga dele – Pegue alguma coisa que te inspire pra escrever músicas e use isso na redação, nem que sua inspiração seja loiras siliconadas sem cérebro!
– Agora eu gostei – riu marotamente, reclamando quando recebeu um tapa na barriga dado pela amiga – O que?
– Eu achei que você fosse falar que eu era sua inspiração! – Ela disse chorosa, sorrindo e estirando a língua quando o rapaz riu do comentário.
– Você não é uma loira siliconada sem cérebro, meu chuchuzinho.
– Graças a Deus! – A menina levantou as mãos e olhou para o alto, fazendo ele rir.
– Tá, agora me conte sobre esse tal baile de máscaras que você inventou – sorriu divertido, ‘escorregando’ para baixo, podendo assim observar o rosto da amiga.
– Primeiro que eu nem inventei nada, tá? – Ela riu, apoiando os cotovelos no chão, ainda de barriga para baixo, enquanto observava o garoto deitado de barriga para cima, encarando-a – E é só um baile, ué... – deu de ombros, sorrindo – Falando nisso, amanhã eu vou com as meninas pegar nossas roupas e vou aproveitar para pegar a sua também, porque se eu não for, você que realmente não vai, né?
– Ah nãaaaaao! – reclamou, levando mais um tapa da garota. Fez cara de piedade e fingiu estar triste. Ela apenas riu e se virou igual à ele, deixando-o deitar sua cabeça em sua barriga agora virada para cima também – Tá bom, tá bom... Eu só não entendo o motivo de você querer planejar esse baile!
– Porque é legal, ué – não entendia o porquê dele parecer estar irritado com aquilo – É só uma festa, . Porque ficar bravo por causa disso?
– Eu não tô bravo! – O menino se levantou, sentando-se no chão, deixando as mãos da amiga, que antes acariciavam seus cabelos, suspensas no ar. Ela também se sentou, parecendo assustada. – Mas pra que você fazer isso? Pra aumentar a sua popularidade e das suas amiguinhas também?!
não fez nada. Não se moveu nem falou nada, por mais que sua boca estivesse semi-aberta. Apenas sentiu os olhos marejarem em lágrimas. estava falando aquilo para ela?
– Ai, Jô, eu... desculpa, eu... Jojo! – Ele segurou no braço da amiga, impedindo-a de se levantar e ir embora. Odiava falar as coisas sem pensar... – Desculpa, pequena. Eu... eu sou um idiota, cara!
– É mesmo – A garota respondeu em um murmúrio, enxugando as lágrimas enquanto se deixava ser abraçada pelo amigo. Era incrível como não conseguia ficar brava com ele, por mais que tentasse.
– Eu não queria dizer isso, Jojo... – segurou o rosto da menina com uma de suas mãos, enxugando delicadamente suas bochechas molhadas e coradas – É que... – Ele começou, mas logo parou. Suspirou profundamente, parecia ter medo. – Quando você começou a crescer, cara?
– Porque você tá tão encanado com isso, ? Ultimamente você só tem falado nisso, como se... Sei lá, eu ainda fosse aquela garotinha que você conheceu há sete anos atrás!
– Porque você ainda é aquela garotinha pra mim, Jô! E sempre vai ser... Você sabe que é como minha irmãzinha, cara! – A menina se viu sorrindo ao ouvir aquilo de seu melhor amigo – Por isso eu ainda te chamo de Jojo... – eles riram – Lembra, Joanna?
– E como eu vou esquecer? – Ela mostrou a língua para o garoto, que riu – Da primeira vez que a gente se conheceu, você simplesmente esqueceu meu nome e me chamou de Joanna! Louco...
Os dois voltaram a se deitar de barriga para cima, encarando o teto e rindo.
– Hey, você não pode me culpar! Eu era um garoto muito lerdo.
– Você ainda é... – Ela riu quando o menino mostrou a língua e começou a fazer cócegas nela.
esticou o braço e apoiou sua cabeça sobre ele, deixando assim o amigo abraçá-la. Ficaram ali, deitados no chão, em silêncio por alguns minutos.
– Lembra quando a gente jogava cricket? – Ela perguntou, abrindo um sorriso largo no rosto e se virando de lado, podendo assim encarar os olhos azuis dele que sempre a confortavam.
– Se lembro – sorriu junto, olhando nos olhos dela também – A gente costumava jogar todo dia, agora seu esporte favorito é fazer compras!
! – Eles riram, enquanto batia no peito do menino, sem o machucar. Voltou a encarar o teto e abriu um sorriso maroto no canto dos lábios – Eu aposto como ainda consigo acabar com você!
– Acabar comigo? – Ele riu alto – Eu que sempre ganhava de você, !
– Que mentira! – A garota fingiu ficar ofendida, fazendo-o rir ainda mais – , seu cara-de-pau!
Os dois continuaram a rir juntos, praticamente rolando pelo chão.
– Dorme aqui hoje? – pediu, depois de um tempo de silêncio. Ela pensou em recusar, mas como sempre, o amigo usava sua ‘arma secreta’: a cara que fazia, implorando, como um cachorrinho sem dono, e como ela morria de dó de cachorros abandonados... – Faz anos que você não dorme aqui, Jô!
– Tá bom, eu durmo – se rendeu, sorrindo ao que o menino beijava-lhe a bochecha. Ficaram mais alguns minutos em silêncio, até que ela se virou e o encarou nos olhos – Te amo, pentelho!
Ele riu baixinho.
– Também te amo, pequena.


Cap. 4

A imagem embaçada de uma parede. Era a única coisa que conseguia enxergar. Abriu um pouco mais os olhos, esfregando-os. A mesma parede. Olhou para o lado e levou um susto. Pés? Com certa dificuldade, se apoiou com força na cama e levantou a cabeça e apenas metade do corpo. Ali ao lado, dormia estirado; o rosto virado para os pés da menina também, a boca aberta que fazia um leve barulho, mais reconhecido como ronco.
Sorriu e voltou a fechar os olhos, deixando o corpo cair gostosamente na cama. Se virou e reencostou a cabeça no travesseiro, sentindo o sono voltar. Estava quase dormindo novamente, até levar mais um susto e pular na cama. Um barulho. Esfregou os olhos mais uma vez, apanhando o objeto que emitia um som alto e estridente: seu celular. Riu quando viu que , apesar do barulho, não havia nem se mexido, apenas soltado um ronco alto e pesado.
– Alô? – disse entre um bocejo extremamente exagerado. Se surpreendeu quando a pessoa do outro lado da linha pareceu ter entendido o que falara.
, cadê você?! – A voz berrou, fazendo a menina ainda adormecida sentir leves pontadas na cabeça – Já é intervalo e nada de você! Onde você tá, cacete?
? – Ela perguntou em mais um longo bocejo, simplesmente afastando o celular da orelha quando ouviu a amiga berrar novamente.
– Não, Captain Jack Sparrow aqui – A outra berrou irritada num tom de completa ironia, e jurou ter ouvido uma risada no fundo que definitivamente não era de nenhuma menina, a não ser que uma de suas amigas estivesse com sérios problemas na voz – A gente tá esperando você aqui!
– E o ! – Uma outra voz masculina berrou ao fundo. Ouviu reclamar alguma coisa para o menino e não conteve o riso.
– Bom, onde você estaria me esperando, Captain Sparrow? – A menina imitou uma voz provocativa, rindo – Aliás, quem está aí com você, ?
– Eu, a , a , e... – parou de falar repentinamente.
– Os losers estão aqui com a gente, ! – Uma outra voz falou ao telefone, e a garota logo reconheceu como sendo – Nossa popularidade está indo por água abaixo, a não ser que você chegue logo! – Ela sussurrava alto, provavelmente para os meninos ali perto não ouvirem.
, pelo amor do Orlando Bloom – Agora era a vez de – O... tá aqui! Eu não agüento estar no mesmo lugar com o maior loser da escola, cara!
– Ah, por favor, ... Como se você não estivesse simplesmente amando, né! – falou ao fundo e tomou o celular de volta, fazendo rir – Amiga, quando você vai chegar? Já é tarde.
– Bom, eu vou... – A menina começou, passando a mão pelos longos cabelos. Ainda não estava entendendo. – Se você me disser aonde.
– Anh, na escola?
não precisou ouvir mais nada. Soltou um berro que fez até pular na cama e acordar. Gritou um ‘estamos indo’ para e desligou.
– ESCOLA! – Ela berrou, se levantando rapidamente em apenas um pulo.
– ESCOLA? – Ele repetiu, também berrando, assustado e confuso.
– ESCOLA! – Ela voltou a berrar enquanto tentava vestir a saia jeans e a blusa ao mesmo tempo.
– Escola... – repetiu, agora para si mesmo, tentando assimilar aquilo. Demorou, mas quando entendeu, o desespero voltou – AAAAH, ESCOLA!
Agora, os dois corriam e pulavam pelo quarto, enquanto vestiam suas roupas, escovavam os dentes e colocavam sapatos, tudo ao mesmo tempo. Em questão de segundos, já estavam no carro.
Já na rua, passava alguns sinais vermelhos e andava tão rápido que berrou extremamente alto quando achou que o menino fosse atropelar um cachorro que atravessava a rua. Ela até reclamaria, se não fosse por terem chegado na escola em menos de três minutos.
– O que está fazendo? – A garota perguntou, ao que já abria a porta para sair do carro, mas viu que era a única.
– Arrumando o cabelo, ué – deu de ombros, sem tirar os olhos do espelho retrovisor, enquanto passava as mãos por algumas mechas de cabelo, levantando-as ainda mais.
– Larga de ser gay, ! A gosta de você de qualquer jeito, acredite se quiser. – revirou os olhos, rindo ao ver o amigo corar com seu comentário, e o puxou para fora do carro – Vamos logo!
– Sabe, você fica mais bonita assim, natural – comentou, sorrindo para a amiga, ao que adentravam a escola – Sem maquiagem, se arrumando toda e tal...
– Eu nem uso maquiagem, ! – Ela mostrou a língua, rindo – Mas obrigada.
Os dois seguiram para o pátio e logo viram um grupo de pessoas. comentou como seus amigos ficavam ‘bonitinhos’ daquele jeito, todos juntos, como um verdadeiro grupo. apenas riu.
! – berrou, correndo até a menina e a abraçando como se não acreditasse que ela realmente estivesse ali. Ela, porém, parou de repente, encarando acima do rosto da amiga – Você fez alguma coisa diferente no cabelo hoje, ?
– Fiz – A menina respondeu, piscando para , que riu junto com ela – Não penteei.
– Eu gostei – Ouviram uma voz mais ao fundo. sentiu suas bochechas queimarem quando viu sorrindo docemente para ela.
– Gostou do que? – Agora era uma outra voz, também de um menino que saía de trás de . Ele riu amigavelmente quando viu o brilho nos olhos e o imenso sorriso no rosto de .
! – A menina berrou, correndo e pulando no pescoço do garoto, que quase caiu para trás. Riu ao receber vários beijos nas bochechas, que começavam a ficar vermelhas.
– Vocês se... conhecem? – perguntou, franzindo a testa.
– Bom, eu espero que sim – comentou rindo com os outros, exceto por e , que se entreolhavam confusas – Sair beijando e pulando em cima de desconhecidos seria meio estranho.
– Você sumiu, ! – reclamou chorosa, ainda sorrindo para o amigo.
– Eu continuo na mesma escola que o , na mesma classe que o , na mesma banda que o ... E eu que sumi? – riu ao levar um tapa da menina, abraçando-a em seguida.
– É que ela ficou metida – Dessa vez fora a vez de levar um tapa dela.
– Não fiquei metida não, – Ela estirou a língua, abraçando ainda mais forte seu amigo ao lado – Eu senti sua falta, .
– Eu também, Jojo! – riu, beijando a testa da amiga – Vamos fazer assim, porque a gente não sai hoje pra tomar um sorvete e, anh... botar as fofocas em dia, como vocês meninas diriam? – riu.
– Ai , hoje não dá – se sentiu culpada e triste ao ter que recusar o pedido, vendo o amigo fechar a cara. Fazia tanto tempo que não se viam, realmente sentira sua falta... – Eu e as meninas vamos comprar nossas roupas pro baile de amanhã. Mas hey, você vai, né?
– Bom, eu estava na verdade pensando em não ir, sabe...
! – A garota colocou as mãos na cintura e fingiu estar brava, fazendo-o rir – Você tem que ir e... Ah, você vai e pronto!
– Você não manda em mim – riu, estirando a língua, mas ao ver a expressão de , logo parou e abaixou a cabeça – Ok, você venceu... Eu vou, né, fazer o que!
, o cachorrinho da relação – finalmente falou, imitando barulhos de chicoteadas com a boca, ganhando um tapa na cabeça dado por , enquanto os outros gargalhavam.
– Ok, hora de ir – começou, já puxando as amigas pelos braços – Aulas, né, fazer o que!
, antes de deixar ser levada pela amiga, se despediu dos meninos, beijando e na bochecha e acenando e sorrindo para e .
– Ah, eu também queria um beijinho... – comentou quando as meninas já estavam distantes, recebendo mais um tapa na cabeça, agora dado por .
– Gente, melhor parar – avisou, fingindo acariciar a cabeça de – A gente bate tanto na cabeça dele, que acho que foi isso que causou tantas perdas de neurônios!
Os quatro rapazes riram, até mesmo , que primeiramente não havia gostado da piada mas depois se deixou levar. Apanharam suas mochilas e também seguiram para suas salas. Mais um dia...


Cap. 5

– Nos lembre, por favor – começou, puxando os óculos escuros e encarando . Já estavam no carro de , a caminho da loja para escolherem suas roupas do baile, e desde que deixaram a escola, a menina continuava no mesmo assunto. – Desde quando você é tão amiga dos losers?
– Eu já disse, recomeçou, provavelmente pela sétima vez naquele dia. Antes de continuar, entreolhou-se com , que dirigia. As duas estavam no banco da frente, enquanto e estavam no banco de trás. – Eu conheço o praticamente desde que me conheço por gente, aí ele me apresentou o , o e o .
– Quem você conhece há mais tempo, tirando o ? – perguntou, olhando por alguns segundos a amiga ao seu lado, mas logo voltando a encarar a estrada.
– O sorriu. Se sentia bem em saber que pelo menos uma de suas amigas não ligava por ela ser amiga dos ‘losers’ da escola e nem ligava tanto sobre popularidade quanto as outras duas. – Aí depois eu conheci o e então o .
– Ai , eu não entendo – começou, enquanto brincava com uma mecha de cabelo entre os dedos e sorria e acenava para um carro cheio de garotos que havia parado ao lado delas no semáforo – A gente é tão ‘pop’ e você andando com esses losers... Isso é simplesmente suicídio social!
– Suicídio social? – repetiu, entreolhando-se com novamente, que reviraram os olhos juntas ao mesmo tempo.
– Eu tirei do filme ‘Meninas Malvadas’ – deu de ombros, trocando risinhos com – A Lindsay tá simplesmente demais nesse filme, cara! Meu favorito dela.
– Ai, eu soube que ela e o Will terminaram – comentou, balançando a cabeça em negação. As duas que se encontravam na frente do carro não conteram o riso quando viu arregalar os olhos e levar as mãos à boca escancarada, como se houvesse acabado de saber que o mundo acabaria.
– Eles eram tão fofos juntos! – A garota finalmente falou, calmamente, saindo de seu transe e como se não se importasse mais se o ‘mundo acabaria’ ou não.
– Obrigada, meu Deus! – disse, levantando as mãos e a cabeça para o alto. e , que não entenderam, a chamaram de maluca sem ela ver, e apenas chorava de tanto rir – Chegamos. – disse, de repente, calma como se não houvesse falado nada antes.
Enquanto entravam na loja, ria ainda mais com quando ouviu comentar com que elas haviam enlouquecido. ‘Claro que fomos nós’, pensou sem parar de rir.
– Querida! – Uma voz feminina gritou de longe, chamando a atenção das quatro meninas, mas foi a única que a reconheceu, enquanto sorria.
– Oi tia! – Respondeu alegremente, abraçando a mulher alta e de roupas estranhas – Essas são as minhas amigas: , e . – falou, enquanto sua tia sorria e cumprimentava cada uma que a sobrinha apresentava com um aceno de cabeça. deu uma leve cotovelada em , que olhava as roupas da mulher de baixo a cima – Chegamos muito cedo?
– Oh, não, não, claro que não! – Respondeu, parecendo ter acordado de um transe com a pergunta da sobrinha. Agora sorria mais animada do que as próprias meninas – Vamos, me sigam!
As cinco passaram para uma sala mais ao fundo, onde se encontravam dois vestiários, que lembravam aquelas ‘cortinas’ que os japoneses usavam para trocar de roupa; a única diferença era que aqueles ali, em frente à elas, eram mais altos e fechados, como cabines. A tia de pediu para que esperassem, se retirando da sala. Dentro de menos de cinco minutos, já estava de volta com uma pilha de roupas nos braços, que chegava a lhe atrapalhar a visão.
– Espero que seja suficiente – A mulher disse, largando a pilha de roupas sobre um sofá, deixando mostrar o sorriso eufórico. apenas acenou com a cabeça em afirmação, arregalando os olhos diante de tantas peças de roupas diferentes – Podem experimentar, garotas – Ela andou até a porta e parou ali, apenas com a cabeça e metade do corpo de fora – Vou buscar alguns acessórios e sapatos! – E com isso, soltou um risinho e girou nos tornozelos, deixando as meninas sozinhas novamente.
– Sua tia é legal – comentou, pegando algumas roupas da pilha e as olhando junto de , enquanto e se enfiavam juntas na mesma cabine com várias blusas, saias e vestidos.
– Ela é estranha, mas é bem legal – deu de ombros, sorrindo – Agora me diz qual o problema dessas duas hoje? – Ela apontou para o vestiário que praticamente se movia junto com as duas meninas que se trocavam ao mesmo tempo e soltavam risinhos.
– Sei lá, sabe deu de ombros e soltou um profundo suspiro, que mais lembrava um bufo. Não conseguiu esconder a seriedade nem a voz chorosa, pelo menos não para . – Isso tudo já está começando a me irritar muito, sabe? Todo esse negócio de ‘você é popular demais para eles!’, e ‘eles são losers, ! Isso é suicídio social’. – Nem ela nem conseguiram evitar o riso com a voz extremamente aguda e irritante que havia imitado – Poxa , eles são meus amigos, porra!
– Eu sei, , eu sei – Ela sorriu levemente para a amiga na tentativa de animá-la – Essas duas andam merecendo as sandálias da humildade ultimamente! – comentou num tom irônico, e ambas riram.
– Não me leve a mal, , vocês três são minhas melhores amigas e eu amo vocês igualmente – recomeçou, fazendo uma pausa para suspirar profundamente – Mas... ah, sei lá! Porque elas têm que gritar tanto?! – brincou, rindo em uma voz chorosa.
gargalhou alto do comentário, mas pensou que iria molhar suas calças com o que vira em seguida:
– AAAAAAAAAAHH! – Um berro veio de dentro da cabine.
– Entende o que eu quero dizer? – sussurrou alto, apontando para o lugar de onde viera o grito e fazendo cara de piedade. Não conteve uma risada gostosa ao ver a amiga chorar de tanto rir, mas achou melhor disfarçar antes que as duas histéricas percebessem. – O que aconteceu, meninas?
– AAAAAAAAAAHH! – Mais um berro, dessa vez seguido de vários outros gritinhos de empolgação.
– Tá, isso a gente já sabe – riu quando viu bater nela enquanto ria descontroladamente e apontava para a própria barriga, mandando-a fazer parar. Deduziu que a barriga da amiga já doía demais para continuar rindo, então resolveu simplesmente tampar sua boca com a própria mão. – O que aconteceu aí? Vocês viram uma borboleta?
sentiu sua mão praticamente ser babada por , que riu ainda mais, se possível.
– Larga de ser tosca, ! – finalmente falou, enfiando apenas a cabeça para fora da cabine – Credo, o que aconteceu com ela? – Apontou para , que se encontrava mais vermelha do que a calcinha cor tomate que segurava, por algum motivo. Mas, sem esperar respostas, continuou. – Bom, eu e a achamos as roupas per-fei-tas! E... tcharaaaaam!
Com uma rápida puxada na cortina, surgiram duas belas e dos anos 90. vestia um vestido preto e curto; a parte debaixo que lembrava uma saia era totalmente estufada e rodada, contendo alguns detalhes em branco e vermelho, fazendo a garota parecer com uma bela princesinha. , ao contrário, vestia algo mais ‘vulgar’: uma saia preta, curta e também rodada; e em cima, usava uma blusa branca que parecia com a de uma camponesa, e tinha as mangas ‘cheias’ e estufadas nos ombros, fazendo-a lembrar uma Branca de Neve mais sensual. até comentou algo sobre ser seu ‘lobo mau’, deixando a amiga completamente constrangida e até mais vermelha do que havia ficado antes por rir tanto.
– Ficaram lindas! Lindas! – A tia da amiga delas batia palminhas e sorria, ao que já havia deixado mais uma pilha de coisas ao lado da pilha de roupas – Aqui estão uns sapatos, máscaras e alguns dos meus acessórios de dançarina de cabaret. Eu costumava dançar, sabe... – A mulher começou a fazer alguns gestos com as mãos e pés enquanto cantarolava alguma coisa, nem percebendo as risadas abafadas das quatro meninas. Logo, parou, parecendo ter acordado de um transe... de novo. – Bom, vou deixá-las à sós, qualquer coisa é só chamar! – e saiu, continuando a cantarolar e dançar com as mãos.

Haviam passado apenas mais 30 minutos e a única que faltava escolher sua roupa era . já havia até experimentado sua roupa, mas não mostrou às amigas pois queria fazer uma surpresa. e a chamaram de estraga-prazeres, ajudando a última que faltava ali.
– Que saco, eu não vou conseguir achar uma máscara que eu goste! – reclamou, revirando e bagunçando ainda mais a zona sobre o sofá, que misturava roupas, sapatos e várias outros. A menina até jogava algumas blusas e saias para , em uma tentativa falha de ajudá-la e apressá-la.
– Não, ! Eu quero uma coisa meio Elizabeth Turner, e não rainha Elizabeth! – reclamou, chorosa. e apenas trocaram olhares e riam, enquanto murmurava todos os tipos de xingamento. – E , não esquece de pegar as roupas pro e pro !
– Cacete, eu quase esqueci! – Ela deu um tapa na própria testa, levantando-se rapidamente – Já volto!
– Você só não esquece a cabeça porque ela tá grudada no pescoço e porque você tem a mim! – brincou, rindo quando viu a amiga mostrar-lhe a língua antes de deixar a sala.
seguiu pelo corredor, observando cada objeto antigo ali. Sobre uma mesa, avistou o retrato de quando criança, provavelmente aos cinco ou seis anos. Sorriu. A amiga não havia mudado nada; pelo menos não de rosto – os mesmos traços angelicais e infantis da menininha da foto.
Colocou o retrato de volta na mesa e continuou olhando tudo atentamente. Até que, de repente, seus olhos pousaram em algo que havia realmente lhe chamado atenção: uma máscara. Mas não uma qualquer, como as que havia visto na sala. Não, aquela parecia uma das máscaras que usavam naquelas cenas românticas de algum filme de Hollywood. Era inteira branca, com alguns feixes dourados que brilhavam reluzentes, e seu formato e aparência lembravam daquelas máscaras teatrais.
Não resistiu: apanhou delicadamente o objeto e o pousou sobre a face, tendo o encaixe perfeito. A máscara cobria todo o rosto; jurava que não se reconheceria se não fosse pelos olhos verdes esmeraldas inconfundíveis à mostra, e, bem, se não fosse ela mesma ali. Era a máscara perfeita...
– Bela máscara, não? – Uma voz surgiu atrás de si, fazendo a garota, antes concentrada e desatenta, pular em um susto – Oh, me perdoe, querida. Não quis te assustar!
– Tudo bem – sorriu, tirando a máscara rapidamente do rosto, envergonhada pela tia de sua amiga vê-la com algo que não era seu, e sim da loja dela – Anh, sim... É realmente linda.
A mulher passeou o olhar pela máscara até a menina em sua frente, que encarava o objeto atentamente, com os olhos brilhando. Sorriu.
– Porque não a leva?
– O que?! – Ela quase chegou a gritar, surpresa com a pergunta da mulher. Mas sabia que era apenas por educação, já que mantinha o olhar vidrado sob a máscara. Corou levemente e pousou o objeto sobre a mesa em sua frente. – Não, obrigada, mas...
– Eu não estou lhe oferecendo apenas por educação, sabe? – A mulher sorriu amigavelmente, lançando uma piscadela para a garota, como se conseguisse ler seus pensamentos. Pegou de volta a máscara e a ofereceu para . – Ficou melhor em você do que em mim, de qualquer jeito.
Ela pensou em se desculpar e recusar novamente, juro que pensou. Mas a mulher apenas insistiu um pouco mais, e como realmente queria aquela máscara...
– Muito obrigada – sorriu sinceramente, apesar de ainda envergonhada. A tia de sua amiga apenas piscou mais uma vez e se virou.
A garota já ia se retirar dali também e seguir para a sala, até que se lembrou de . A amiga tinha razão: tinha sorte em tê-la, pois senão seria bem possível que se esquecesse até da própria cabeça, mesmo estando grudada ao pescoço. Girou nos tornozelos e chamou a mulher, que parou de andar e a encarou, sorrindo.
– A senhora por acaso teria duas roupas dos anos 90 para meninos?


Cap. 6

O dia do baile havia finalmente chegado. já havia feito de tudo naquele dia: fora fazer compras com a mãe, foi na manicure e no cabeleireiro, passou na casa de e, finalmente, se encontrado com e para lhes entregar suas roupas, aproveitando para matar as saudades e combinar o horário que iriam sair de casa para o baile.
Agora já era noite. A menina já estava pronta; olhava para o espelho do banheiro, checando se estava tudo perfeito. Ouviu um murro na porta... pela décima vez nos últimos cinco minutos.
– Vai logo, ! – gritava lá de fora, batendo o pé freneticamente – Só falta você, ô noiva!
– Ih , relaxa – riu de dentro do banheiro, enquanto passava o lápis preto pelos olhos – O e o já chegaram?
– Já, tá todo mundo lá embaixo te esperando! – A garota voltou a esmurrar a porta – O que você faz tanto aí? Fabricando sua roupa, fazendo plástica no rosto ou o que?
– Já terminei, , já terminei...
– Aleluia! – Ela levantou as mãos para o alto ao ouvir o trinco da porta girar – Posso até ouvir os porcos voando e cantando em couro, e... – parou subitamente de falar, ao que a imagem de sua amiga surgia à porta. Os olhos se arregalaram, soltando um assovio e rindo ao vê-la corar – Não era a toa que você queria fazer surpresa com a sua roupa! Você está... linda!
– Sério? – perguntou, parecendo com medo. Olhou duvidosa para a própria imagem refletida no espelho do quarto – Não tá muito... anh, ‘sluty’?
– Claro que não! – riu com o comentário da amiga – Digo, na verdade tá, né, mas... – Ela riu ainda mais quando levou um tapa da amiga, que fingiu estar exageradamente ofendida – Tô brincando, chuchu, você está super hot! Vai arrasar lá na festa!
mordeu o lábio inferior, receosa, enquanto se olhava mais uma vez no espelho. Estava vestida como uma perfeita e verdadeira dançarina de cabaret dos anos 90: usava uma saia preta, curta e extremamente estufada e rodada – a ponto de que, se girasse no mesmo lugar, toda sua calcinha apareceria –, e numa tentativa falha de cobrir as pernas nuas, vestia por baixo da saia uma meia-calça típica daquelas dançarinas, que era presa pelas coxas e ia até a ponta dos pés, e o que acabava por não cobrir as pernas era por causa que a vestimenta parecia estar cheia de ‘buracos’, como se estivesse rasgada. Na parte de cima, vestia um espartilho branco meio amarelado, dando a aparência de estar sujo e também de ser realmente apertado, o que não era. Aquele espartilho, que sempre a lembrava de algo como a do filme ‘Piratas do Caribe’ – o seu favorito – tinha os fechos pretos, era bem decotado e um tanto pequeno, por isso aparentava ser apertado, ajudando também na amostra de sua tatuagem de escorpião que tinha desenhado desde a parte inferior do abdômen até sua virilha. Amava aquela tatuagem, mas nem queria imaginar se seu pai descobrisse que tinha uma... Apenas sua mãe sabia, e suas amigas, obviamente. Deu sorte que, naquela semana, seu pai estava viajando a negócios.
– Dá pra parar de se admirar e se apressar, ô narcisa? – brincou, vendo que sua amiga ainda se olhava no espelho; o cenho franzido – Que foi, ?
– Sei lá, ... Eu acho que eu tô, anh – Ela parou, encarando a amiga enquanto corava involuntariamente – com vergonha de descer assim, perto dos meninos e tal.
– Vergonha? – repetiu, sem entender – , todos seus amigos estão lá embaixo, e apenas seus amigos... Você tem vergonha do que, tosquinha?
riu baixinho, e deu de ombros. Também não sabia de certo o motivo da vergonha, mas tinha medo do que poderia falar, após toda aquela conversa que tiveram no dia anterior. Tudo aquilo lhe fez perceber que realmente estava crescendo. Sentia falta de como as coisas eram antes...
, a já tá pronta? Porque já são MEU DEUS! – parou de falar assim que avistou as duas garotas, principalmente . Ou sua roupa.
– O que já são meu deus, ? – Ela perguntou rindo do amigo.
– Não, são nove horas – disse consultando o relógio de pulso, em seguida rindo dos dois ali, que já se encontravam extremamente corados – O ‘meu deus’ foi pra você, .
– D-desde quando você cresc... – parou de falar assim que foi cortado por .
– Por favor, – Ela bufou, jogando-se na cama – Nem vem me perguntar a mesma coisa! – imitou uma voz grossa, fazendo os amigos rirem – ‘Desde quando você começou a crescer, ?’.
O garoto apenas riu baixinho, colocando as mãos no bolso.
– Acho que o já deve perguntar isso bastante, e por todos nós, não é mesmo?
– Como adivinhou? – A voz dela era de completa ironia. Sentiu-se culpada por falar daquele jeito.
– Anh, , você se importa em deixar a gente à sós um pouquinho, por favor? – perguntou educadamente, rindo da cara que a menina havia feito – Eu juro que é rápido! – riu, virando-se para assim que a outra já havia saído do quarto. Sentou-se ao lado dela, encarando-a – , você sabe que o só diz isso porque ele se preocupa com você. Muito.
– Eu sei, – Ela sentou-se na cama, assim como ele. Encarou os pés – É que... o jeito que ele falou comigo naquele dia, e o que ele falou... – ela falava em pausas; por mais que não quisesse, as palavras de naquele dia em que brigaram ainda ecoavam na mente, e o pior de tudo era que se sentia culpada, como se tudo que ele dissera fosse verdade. ‘E se realmente for?’, pensou, observando seus próprios pés balançarem, sem coragem de olhar nos olhos de . – Acredita que eu tô até com vergonha de descer vestida assim, preocupada com o que ele vai pensar ou... – pausou novamente, suspirando profundamente – Falar?
, o só disse aquilo porque ele tava guardando aquelas coisas por um tempo já, e quando ele finalmente resolveu falar... Bom, saiu tipo num desabafo, sabe? Ele não queria ficar bravo com você.
– Como você pode ter tanta certeza? – Ela finalmente levantou a cabeça, encarando , e ele pôde ver que os olhos dela já estavam marejados em lágrimas que ela parecia se segurar para não deixar cair.
– Porque ele me contou, Jô – Ele riu baixinho ao ver abrir um pequeno sorriso no canto dos lábios com o que acabara de ouvir – Eu juro que xinguei ele e mandei ele comprar rosas pra você pra reforçar as desculpas, mas ele disse que já estava tudo bem. – levantou as mãos, como quem dissesse que não era culpado – Ele te ama, Jojo... Aliás, nós te amamos.
sentiu uma ou duas lágrimas escorrerem pelo rosto e abraçou forte. Gostava quando as pessoas lhe falavam que se importavam com ela, ainda mais se aquelas pessoas fossem seus melhores amigos. De repente, se sentiu melhor. Não estava mais com vergonha, muito menos medo de descer as escadas e ouvir o que os outros poderiam falar dela. Sabia que tinha seus amigos ali. Sempre.
– Anh, ? – murmurou, tentando ser delicado – Eu não... não... consigo respirar!
– Cacete , eu aqui tentando ter um daqueles momentos entre amigos e você me atrapalha só porque não consegue respirar? – Ela riu ao ver o menino, já vermelho, a olhar como se quisesse a enforcar e fazê-la ficar sem respirar também – Agora vamos, você já enrolou demais.
– Ah, eu que enrolei? – riu, deixando a amiga o puxar pela mão, empurrando-o para fora do quarto.
– Mas é lógico que foi você, ! – ia puxando o menino pelas escadas, rindo ao ver a cara dos amigos que não entediam o que acontecia – Olha só, o que enrolou lá em cima. Quis experimentar um pouco do meu blush e tal... Por isso ele tá todo vermelho agora! – brincou, apontando para ele, que não conseguiu fingir-se de bravo e riu, gritando algo como ‘vai ter vingança’.
, ao passar por , que os esperava no jardim ao lado do carro, apenas o abraçou, deixando o rapaz com a boca aberta sem falar nada, já que o cortara com o abraço. Ele, que apesar de não entender, se calou e abraçou a amiga de volta.
– Podemos ir então?
Todos concordaram e entraram no carro, rumo ao tão esperado baile. Finalmente.

– Aqui estamos... – disse, uma vez que todas as quatro meninas e os dois meninos já estavam no baile. Bom, não exatamente no baile, e sim na entrada do local enquanto encaravam tudo.
– E nós vamos ficar aqui parados ou vamos entrar? – perguntou, puxando as amigas pelas mãos e deixando que os outros dois as seguissem.
– Ah, mas antes... – parou os amigos e colocou sua própria máscara, falando para que os outros fizessem o mesmo também – Vai , coloca logo! Isso... Pronto, agora vamos.
Finalmente adentraram o salão; estava tudo lindo. As pessoas já estavam dançando, extremamente animadas e bem vestidas. Achou engraçado ver um lugar cheio de ‘donzelas’ e ‘cavaleiros’.
– Olha, eu acho que aquela ali roubou o vestido da minha vó – riu, comentando baixinho com que soltava gritos histéricos com aquele comentário.
– E aquela fez a roupa com as cortinas, por acaso? – emendou, apontando para uma menina que passava com um vestido de bolinhas vermelhas.
– Anh, ... Posso falar com você? – perguntou, já puxando para que ficassem distantes dos outros. Assim que viu parar de olhar, desviou o olhar que tinha sobre ela e se virou para a amiga em sua frente – Eu vou te contar isso e você é a única pessoa que vai saber, e se contar pra alguém eu... Bom, eu não vou te esmurrar porque você é uma menina, mas você entendeu.
– Credo, – Ela riu, assistindo a cena dramática que o rapaz fazia – Você sabe que eu não vou contar pra ninguém. Tanto por você ser meu melhor amigo como... anh, porque eu não quero apanhar.
– Olha, eu não sei porque mas... Eu nem conheço ela direito, sabe? E... – pausava constantemente, parecia que estava gago ou algo parecido. até tentou bater em suas costas para ver se cuspia as palavras de uma vez, mas a única coisa que conseguiu foi vários xingamentos – Eu acho que eu to afim de uma menina, pronto, falei.
– AAAAAHH QUE LIINDO! – Ela apertou as bochechas do garoto, fazendo-o corar. Várias pessoas que passavam por ali riram da cena – Meu bebê tá crescendo, que bonitinho!
– Hey, eu que tenho o papel de irmão mais velho e chato e digo que você tá crescendo! – Ele resmungou, rindo em seguida. Tirou as mãos da menina de sua bochecha antes que elas ficassem mais vermelhas do que já estavam, de vergonha – Mas bom, não é qualquer garota, ...
– Como assim? MEU DEUS, ela não é bissexual, né? , VOCÊ JÁ CHECOU PRA VER SE ELA TEM... anh, você sabe... debaixo das calças, entre as pernas?
– AI, SUA MULA! – bateu na sua própria testa, e depois que percebeu a cara da amiga como se não entendesse, bateu na dela também – Não esse tipo de ‘qualquer garota’. Cara, você tem andando muito com o por acaso?
– Ai, grosso – Ela estirou a língua, massageando o lugar que havia batido – Ah, você não explica direito... Agora dá pra me contar logo quem é a sortuda, ?
– Ameninaéa – Falou tão rápido que ficou parada, encarando o garoto com a mesma cara estúpida com quem não havia entendido uma sequer letra da frase. E realmente não havia entendido.
– Será que você poderia falar direito, ô analfabeto?
– Analfabeto é quem não sabe escrever nem ler, ô cérebro – rolou os olhos, rindo quando a menina apenas deu de ombros e mandou-o repetir, agora, lentamente – Tá bom, tá bom... Ai meu Deus. Se você zoar, eu... – parou ao ver a cara da amiga – Ai, cacete, eu gosto da , tá bom? Sim, da , a sua amiga metida... Essa mesmo, .
Por mais que quisesse fazer ou falar algo, não teve reação. Sabia que a achava bonita e desconfiava de uma certa paixonite, mas não fazia idéia de que era algo mais sério a ponto de fazê-lo ficar nervoso. Normalmente, ele sempre era muito confiante e se dava bem com as garotas.
– Se você quiser falar alguma coisa agora... – falou, quebrando o silêncio, enquanto passava os dedos pelos cabelos arrepiados; corado.
– Anh... – Ela nem sabia por onde começar; permanecia a expressão indecifrável na face – Eu brincava com você sobre isso, mas... Eu... eu não imaginava que era tão... verdade?
– Pra ser sincero, nem eu. – se silenciou, encarando os pés. Não tinha contado aquilo pra ninguém, e por mais que fosse sua melhor amiga, era difícil. As duas eram melhores amigas.
– Você quer que eu fale com ela, ?
– O QUE? – Ele deixou de olhar para os pés e passou a encarar a menina naquele momento, assustado. Mais medo, pra falar a verdade – Mas... E se ela não gostar de mim, ?
, você não vai saber enquanto não fizer algo.
– Não sei. – Ele tentava descobrir o que estava pensando, mas sua expressão não deixava escapar nada, como normalmente fazia. Era tão fácil adivinhar o que ela pensava antes... – Você não me parece muito feliz com isso, sabe?
– Não é isso, . – Ela suspirou, e o amigo finalmente conseguiu ver o que acontecia apenas pela mudança de humor e pelo jeito que falava – Eu tenho medo que você magoe ela, entende? E depois, como vai ficar pra mim? Vocês dois são meus melhores amigos e... Eu não posso tomar lados.
– E o que a faz pensar que eu vou magoar ela?! – Ele arregalou os olhos. Tinha tanta ‘fama’ assim?
– Ora , não é como se você fosse o cara mais santo da escola, né? Você nunca namorou sério e... Bem, por mais que não pareça, a é muito sensível, sabia?
– Todas vocês são...
! – Ela estirou a língua, mas não riu; apenas abaixou a cabeça e voltou a encarar os pés. levantou delicadamente seu rosto com a mão e olhou dentro de seus olhos. Sempre conseguia ver o que ele pensava apenas pelo olhar – Você realmente gosta dela, não é? – O menino apenas mexeu a cabeça vagarosamente, em afirmação. Ela não fez nada além de sorrir. Sorrir verdadeiramente. – Vai lá, fala com ela... – o menino fez menção de falar algo, provavelmente avisando que realmente não iria, mas ela foi mais rápida – , o máximo que pode acontecer é ela falar que não gosta de você ou que não quer ficar com você, ou sei lá... E de qualquer jeito, você tem a mim pra convencê-la.
Ele apenas sorriu. soltou seu rosto, olhando dele até , que ainda se encontrava um pouco mais a frente, esperando. Por mais complicado que poderia ser as coisas, estava gostando da idéia dos dois melhores amigos começarem a namorar ou ter algum tipo de relação... ‘Pelo menos alguma das minhas amigas vão se dar bem essa noite’, riu com o próprio pensamento.
– Anh, antes faz um favor pra mim? – pediu, rindo até antes de falar – Embebeda ela pra mim antes, aí quando ela tiver quase caindo, você me chama e eu dou uma de herói e salvo ela?
riu, dando um tapa na cabeça dele e o empurrando para o lugar onde antes estavam, e onde os amigos ainda permaneciam enquanto os esperavam.
– Ai, aleluia hein! – reclamou ao ver os dois se aproximando – Vamos logo, , eu quero dançar!
– Dançar? Agora? – olhou da amiga para , sentiu as mãos dele suarem de tanto nervosismo – Anh, eu acho que é uma boa idéia. , me procure quando estiver... anh, melhor. – disfarçou.
O garoto apenas concordou com um aceno de cabeça e um sorriso forçado e sem graça, vendo as quatro meninas se distanciarem, rumo à pista de dança. Continuou olhando até seus corpos sumirem entre o aglomerado de pessoas, e ao que isso aconteceu, seu olhar permaneceu fixo ali.
– Alô, terra para chamou, batendo na cabeça de seu amigo, que reclamava. Ele apenas riu. – Vamos logo procurar o e o ... Aquele retardado do deve estar perdido já.

– O que vocês conversaram tanto? – perguntou, andando com um pouco mais atrás, enquanto e iam na frente, guiando o caminho para o meio da pista.
– Anh? – Ela se fingiu de desentendida.
– Você e o... fez uma pausa, parando de encarar o chão por onde andava e passando a olhar a amiga – O que vocês tanto conversaram lá?
– Ah, nada demais... – deu de ombros. Queria tanto contar para ela; era costume dividirem todos seus segredos. Mas aquele era o segredo de , o que a fazia sentir-se pior ainda, mas logo a amiga já estaria sabendo. ‘Espero’, pensou. – Ele só tava me contando de uma menina aí e tal...
– Ah – Foi a única coisa que saiu da boca de . Um único murmúrio triste, desapontada.
– Que foi? – havia percebido, não era idiota e, por mais que fosse um pouco lerda, conhecia muito bem a amiga. Aquele ‘ah’ não havia sido nada de desinteresse, e sim o contrário.
– Nada – Mentiu, voltando a encarar o chão.
riu amigavelmente, abraçando a menina – Você não me engana!
– Já disse que não é nada – apenas se desvencilhou dos braços da amiga e continuou encarando os pés, e pôde ver, por mais que a outra estivesse usando máscara, que estava muito vermelha.
As duas permaneceram em silêncio por um tempo. O caminho para a pista de dança agora parecia demorar uma eternidade. Porque havia ficado tão brava com isso? De repente, a ficha lhe caiu.
, – começou, inocentemente – você... você gosta do ?
– O QUE? Faça-me o favor, . Eu sabia que você era lerda e tudo mais, mas não esperava que dissesse tamanha idiotice como essa, né... Pelo amor de Deus! Há, gostar do ... essa é ótima!
– Você... você gosta dele! – apenas abriu um dos sorrisos mais largos que já abrira em sua vida. Uma das características que mais gostava em era aquela: ela não conseguia mentir. – Você gosta dele, cara! Você gosta dele, mas é orgulhosa demais pra admitir, só porque ele é um ‘loser’!
, pára com isso! Eu NÃO gosto dele, valeu? – sentiu suas bochechas queimarem como se estivessem em fogo.
, pára com essa mania de julgar os livros pela capa! Além do mais, você não consegue mentir pra mim! – falava tudo muito rápido; parecia não pensar mais no que saía de sua boca – Ele não é um loser, . Pára de pensar e falar essas coisas e aproveita que ele tá afim de você também, cara!
– ELE TÁ AFIM DE MIM?! – sentiu as palavras saírem mais alto do que imaginara, mas não ligou. Olhava para , que agora havia parado intacta no lugar com os olhos arregalados e as mãos na boca. – , pode me contar! Que história é essa que ele gosta de mim?
– Ih, piro de vez, ? Eu... Eu nem disse nada – Ela deu de ombros. Era óbvio que a amiga não iria cair naquela, já que a cagada já havia sido feita, mas o que custava tentar?
! OU VOCÊ ME EXPLICA ISSO AGORA MESMO OU EU... – parou de falar para passar a olhar a amiga com um olhar vitorioso. Continuou, mas agora murmurando: – Ou eu conto pro que você AMA ele!
– O QUE?! – Agora foi a vez de berrar – Da... da onde você tirou isso, ? O é o maior loser, cara... Eu nem... nem gosto dele!
– Ué, o que aconteceu com ‘pare com essa idiotice de loser’, hein? – ria, principalmente da cara que a amiga fazia – Você também não consegue mentir pra mim, srta. ! – provocou.
– Ahá! Então você admite que gosta do ? – fez o máximo para tentar ignorar aquele comentário de , mas sentia as bochechas coradas.
– Não mude de assunto, ! – ficou ainda mais vermelha, e deu graças a deus que ninguém ali poderia ver por causa das máscaras – Eu sei que você gosta do !
– E eu sei que você gosta do ! – retrucou, e de repente, as duas entraram em silêncio. ‘Meu Deus, será que nós duas estamos certas?’. Ao pensar nisso, em e se realmente gostava dele, sentiu um frio percorrer seu estômago, por algum motivo que não sabia qual era – E eu sei também que você está vermelha por debaixo dessa máscara – riu, tentando aliviar a ‘tensão’ entre elas.
– Você também está, eu sei – Ela riu – Por isso que agora estou realmente gostando dessa idéia de usar máscaras em festas – brincou, mas logo entrou em silêncio novamente.
chamou, após mais um intervalo caladas. Optou por tirar a máscara, pelo menos naquele momento, e fez o mesmo, levantando a cabeça em seguida e murmurando algo quase inaudível – Você acha que... anh, que tá muito na cara que eu gosto dele?
– Na verdade, não. Você até que disfarça bem – riu, voltando a encarar os pés – E você acha que... tá muito na cara que eu gosto do ?
– Na verdade, não também – As duas riram juntas – Eu brincava com vocês, sabia que um achava o outro pelo menos muito... anh, atraentes – sorriu ao ver a amiga corar novamente, ao que um pequeno sorriso se abria ao canto de seus lábios – Apenas não sabia que era algo mais sério.
– E é bom que continue assim – pareceu séria por um momento, mas logo a pose envergonhada voltou – Você realmente acha que... Bom, que ele também gosta de mim?
– Não – respondeu rapidamente, sorrindo ao ver a decepção estampada claramente na face da amiga – Eu tenho certeza.
– C-como? – Ela perguntou, gaguejando ao ver a amiga rir de seus olhos que brilhavam com intensidade – Como você tem certeza de que ele gosta de mim, ?
– Era sobre isso que a gente tava conversando, ! Você é a menina que ele tava me ‘contando’. E ele gosta de você... não entendo o porquê, mas sei que ele gosta – brincou, levando um tapa da amiga.
apenas sorriu. Sorriu de verdade, como nunca vira. Não assim, feliz daquele jeito. Foi ali que teve certeza que, o que estava pra acontecer, iria mudar muita coisa. Mas pra melhor. Pegou-se sorrindo também ao ver a imagem de seus dois melhores amigos juntos, em sua cabeça.
– E se você quiser saber, eu também acho que o gosta de você, tosquinha – brincou, rindo ao ver a amiga corar fortemente.
– Tá bom, , já vi que muito amor faz mal pra sua cabeça. Agora vamos logo que aquelas duas retardadas da e da devem estar nos procurando! – riu, puxando a máscara de volta para o rosto como se fosse uma ‘Power Ranger’ prestes a ser descoberta. soltou uma gargalhada histérica, pondo sua máscara também e deixando-se ser empurrada pela amiga.
– Onde vocês estavam?! – Ouviram a voz de de longe, e que por mais que o som estivesse alto demais, ela realmente tinha o poder de gritar – A gente tava andando e do nada... ‘tchum’, vocês somem!
– ‘Tchum’? – riu junto com – Relaxa, babe. A gente só parou pra...
– Uns gatinhos vieram conversar com a gente – mentiu, dando de ombros e piscando para as amigas. e fizeram barulhos com a boca, acreditando, e apenas riu.
– Agora vem logo que eu to morrendo pra dançar essa música! – berrou, puxando as três meninas para a pista, ao que começava tocar Don’t Cha, das Pussycat Dolls. Segundo elas, aquela música era a música delas. Viviam dançando e cantando sempre que a ouviam.

Depois de dançarem mais seis ou sete músicas, as quatro garotas já estavam cansadas. Resolveram ir para o bar pegar algo pra beber, já que não haviam bebido nada desde que chegaram. E festa sem bebidas? Bom, segundo elas, não era festa.
– Vamos voltar a dançar depois de pegar as bebidas, gente! – reclamou. Estava tocando ‘Twist and Shout’, dos Beatles, música que adorava cantar, ouvir e dançar. Simplesmente amava os Beatles.
– Ai , que mania de gostar dessas bandas idosas! – retrucou, rindo ao ver a outra estirar a língua.
– São os Beatles, ! Os B-E-A-T-L-E-S. – Ela voltou a reclamar, dizendo o nome da banda pausadamente, como se a amiga fosse retardada ou algo do tipo.
– Eu S-E-I – copiou, zombeteira – Eu também gosto dos B-E-A-T-L-E-S, – riu ao que a amiga estirava a língua novamente – Mas não serve tanto pra dançar quanto as Pussycat Dolls, muito obrigada. E eu estou cansada...
– Mas é Twist and Shout e eu amo essa mús... – logo parou de falar, ao que a música parou de tocar também – E lá se vai minha chance de dançar Twist and Shout!
– Relaxa, vai ter muita música pra gente dançar ainda – disse, passando no meio das duas e se apoiando no balcão do bar, chamando pelo bartender – Moço, me vê só um uísque, por favor?
– Ah, SÓ um uísque? – riu, aproximando-se do balcão também – Já começando com o uísque, ? Depois reclama quando acorda de ressaca... – riu quando a amiga lhe mostrou a língua – Eu vou querer... Anh, só uma vodka com coca e muito gelo, por favor.
– Ah, ah, ah! – empurrou as duas amigas, balançando as mãos freneticamente para que o bartender lhe desse atenção – Eu quero um ‘Frozen’, moço! Eu quero um ‘Frozen’!
– Calma , ele vai te dar o seu ‘Frozen’ – riu, assim como , que percebeu que o bartender ria de toda aquela situação.
– Aqui está – O homem detrás do balcão avisou, colocando dois copos na mesa e empurrando-os para e . olhou para o bartender perdida, provavelmente se perguntando onde estava o seu drink – Calma, o seu está aqui – Ele entregou o copo à ela, lançando-lhe uma piscadela.
– Meu deus, o que foi aquela piscadinha? – perguntou assim que se sentaram a uma mesa, rindo ao ver corar – O bartender deu maior mole pra você, sua besta, e porque você tá bebendo vodka com coca no canudinho?
– Anh? – levantou a cabeça, falando o que conseguia, ainda com o canudo na boca – Ah, mania. Eu acho bonitinho – deu de ombros, ignorando as risadas das amigas. Tentando ser discreta, olhou pelo canto dos olhos o bartender. Sentiu seu coração parar na garganta quando o viu sorrindo para ela. O que era aquele sorriso? ‘Provavelmente não era pra você, sua idiota!’, falou para si mesma.
, que secada meudeusdocéu! – falou rápido, rindo com e lançando olhares do bartender para a amiga – Porque isso nunca acontece comigo, cara?
– Ele sorriria pra você se você não gritasse que nem uma histérica pedindo seu ‘Frozen’ – riu, vendo a amiga estirar a língua. Enfiou a boca no canudo e tomou um longo gole – Além do mais, ele nem estava olhando pra MIM. – Falou, com a boca cheia de vodka e coca, quase babando.
– Pára de babar – riu, fazendo a amiga quase cuspir toda sua bebida da boca – E lógico que ele tava olhando pra você, , e pára de tomar vodka com esse canudinho, cacete! – falou rápido.
– Gente, gente, ele tá olhando de novo – avisou, abaixando a cabeça como quem não quisesse ser vista. As outras duas apenas riram.
– Ele não tá olhando, , e... – Ao que se virou, deu de cara com o bartender a encarando e sorrindo – Meu deus, ele tá mesmo olhando! – fez o mesmo que a amiga e abaixou a cabeça.
– Parem de ser retardadas, ele vai pensar que a gente tem dez anos de idade, cara! – reclamou, sorrindo sem graça para o bartender, como se nada estivesse acontecendo.
– Que pense! Eu não quero um cara de vinte e poucos anos sorrindo e piscando pra mim, cara!
...
– Vou eu lá saber se o cara já não tem filhos e é separado?
.
– Meu deus, imagina se ele ainda estiver casado e trai a mulher dele!
?
– Eu vou ficar quietinha aqui no meu lugar e...
!
– AI CACETE, QUER ME MATAR DE SUSTO? – berrou, colocando a mão sobre o peito, sentindo o coração bater acelerado – Pra que gritar desse jeito, sua exagerada?!
– Porque você não tava ouvindo e não calava a boca, sua anta! – retrucou.
– Anta não, hein ! Não vamos rebaixar o nível e...
Vendo que realmente não iria parar de falar, segurou a cabeça da amiga com as duas mãos e a virou para o outro lado. A menina tentou se desvencilhar, mas quando sua cabeça finalmente foi solta, já tinha congelado. O bartender gritava por seu nome e a chamava para ir até ele.
– Como ele sabe meu nome? – Ela perguntou, olhando do homem até as amigas.
– Quem se importa?! – berrou, com os olhos brilhando – Ele tá te chamando, sua lerda! Vai lá!
– Eu não, nem conheço ele e...
– Fica conhecendo, pronto! – se levantou e puxou o braço de , que se segurava à mesa para não se levantar – , pára de ser criança e vai! O que você tem a perder? NADA! E sabe por quê? Porque ele é o maior gato e tá dando em cima de você, e isso é uma festa, e festas servem pra isso. Agora VAI, porque se você não for, eu vou chamar o pra te agarrar aqui!
– O QUE?! – Ela berrou. O que? Até sabia disso agora? ‘Não é possível, será que eu tô dando muito na cara mesmo?’, pensou, receosa. – Eu não... não gosto dele.
– É claro que não – respondeu, irônica – Agora vai lá, nem que se for só pra conversar!
– Tá, mas só vou pra te provar que eu não gosto do ! E... e ainda vou voltar beijando ele, valeu? Porque eu NÃO gosto do ! – Berrou, falando firmemente para si mesma, por mais que soubesse que não era verdade. Levantou-se da cadeira e foi andando até o bar. Passou por um menino loiro que segurava seu chapéu que lembrava uma cartola nas mãos; olhou bem em seus olhos e viu que eram azuis, já que só se era possível enxergar isso e de sua boca para baixo, por causa de sua máscara. Balançou a cabeça, espantando os pensamentos ao se ver olhando demais para o tal menino. Parou em frente ao balcão, encarando firmemente o bartender, apesar de estar tremendo. – Anh... Chamou?
– Chamei – O homem respondeu rindo. não queria admitir, nem na verdade perceber, mas viu que seu sorriso era perfeito. – Eu acho que você esqueceu sua bolsa aqui.
– Ah – Ela respondeu, confusa. Não podia negar que sentia-se até um pouco desapontada. Até que lembrou: – Mas hey, eu não trouxe bolsa!
– Ah não? Erro meu, desculpe. Mas já que está aqui... – O bartender continuou, rapidamente, apoiando-se no balcão e ficando mais próximo de – Aceita uma bebida? Por conta da casa.
– Mas eu nem pago as bebidas, ué – Ela riu, tentando não deixar o homem perceber que tremia.
– Droga, acho que essa não deu certo. Vou tentar outra. Vejamos... – Falou, parecendo pensar em algo, fazendo-a rir – Ah, que tal essa: seu pai era ladrão?
– Anh, não. – Ela respondeu, rindo, apesar de realmente não ter entendido. – Por quê?!
– Porque eu acho que ele roubou as estrelas e colocou nos seus olhos – O bartender piscou, fingindo ser super sexy. não agüentou - riu até a barriga doer. Aquela provavelmente fora a pior cantada que já levara em sua vida. – Eu tô brincando, viu? Não pense que eu realmente uso essas coisas!
– Ah sim, menos mal – Brincou, ainda rindo – Mas tá, eu vou continuar te chamando de ‘moço’, ‘bartender’ ou você prefere algo melhor, como ‘funcionário do lugar onde teve o baile da minha escola’?
– Ouch – Ele brincou, rindo com ela. Estendeu a mão. – Pode me chamar de Pete mesmo – abriu mais um de seus sorrisos, e ao que lhe deu sua mão também, o homem a beijou.
– Anh, posso te perguntar uma coisa? – Ela tirou a mão rapidamente, já extremamente corada. Viu Pete concordar com um aceno de cabeça e um mais um sorriso e continuou – Quantos anos você tem?
– Quantos anos você acha que eu tenho? – brincou.
– Ah não, eu sou péssima com essas coisas! Vou acabar falando que você tem 30 anos e...
– Você acha que eu tenho 30 anos?! – Ele riu, vendo corar. Ela não queria realmente ter dito aquilo, mas parecia que naquela noite ela estava falando até demais. – Eu tenho 20 anos.
– Sério? Quer dizer, você parece mais velho...
– E isso seria uma coisa boa?
– Diria que sim – deu de ombros, rindo. Sabia que não era verdade; não gostava de meninos com cara de adulto, preferia aqueles com carinhas de bebê. Como . ‘Como o ?!’, brigou consigo mesma.
Ela entrou em silêncio. Balançou a cabeça, afim de espantar os pensamentos. Olhou em volta, sem ligar mais para o bartender ali. Seus olhos pousaram na mesa onde antes estava e sorriu. e se encontravam lá, juntas de dois meninos muito bonitos.
Peraí... e ?!’, berrou dentro da própria mente. Voltou a olhar em volta, agora com certo desespero. ‘Meu deus, cadê a ?!’; continuou brigando com seu consciente.
– Licença – se virou de volta para o balcão do bar, cortando Pete, que comentava algo sobre seu belo Cadillac e que já fora para a Marinha. – Eu tenho que procurar minha amiga.
Sem deixar que ele falasse mais alguma coisa, a garota levantou-se do banquinho e saiu dali. Passou por e , falando algo, que para elas, foi inaudível. Empurrou algumas pessoas para poder passar, e bastou olhar para o lado para finalmente ver . Mas aquela imagem não lhe agradou muito: ela estava com um menino, e não era . Não queria atrapalhar, ela parecia estar se divertindo, já que ria constantemente enquanto o garoto em sua frente falava sem parar.

– Ela tá com um cara – murmurou, mais para si mesmo. Não esperava que ninguém ouvisse.
– Quem? – perguntou. Para sua felicidade, ele havia ouvido... – A ? – riu.
– Anh? – Se fingiu de desentendido. Agradeceu por estar usando aquela máscara ridícula, que naquele momento não era tão ridícula, já que estava escondendo seu rosto completamente corado. – É, a ! – mentiu.
– Cara, eu tô odiando esse chapéu ridículo e essa máscara – Ouviram reclamar, e agradeceu novamente; viu que já começava a suspeitar – Ninguém tá me reconhecendo, cacete!
– Esse é o objetivo, meu querido abraçou o amigo por trás, arrancando gargalhas dos outros. apenas o empurrou e lhe deu um tapa na cabeça. – Eu estou amando. Posso fingir que sou o George Clooney e dar em cima das meninas fácil. – sorriu, fazendo uma dancinha ridícula.
Os dois amigos começaram a rir, gritando algo como ‘montinho!’ enquanto colocava as mãos sobre a cabeça para se proteger. não riu e nem fez nada, apenas voltou a olhar para o lado. Para . Mas, agora, estava puxando-a para algum lugar, longe do menino que antes estava. O menino sorriu; a amiga estava sempre o ajudando. Mas se perguntou se sua ajuda serviria para alguma coisa quando chegasse a hora em que tivesse que falar com . Tinha medo, mas sabia que tinha que falar. ‘É, acho que ela vai gostar de mim... com a máscara.’, pensou, desanimado. ‘Já que não dá pra me reconhecer, né’. Abaixou a cabeça e continuou encarando os sapatos.

– Quem era aquele? – perguntou, uma vez que ela e já estavam longe do menino que antes a amiga conversava – Você parecia estar se divertindo...
– Ih, olhou para ela, sorrindo. Parecia estar muito feliz. – Ele tá na minha classe de Biologia... Não é nada demais. – deu de ombros – Só veio falar comigo; ele é divertido.
apenas franziu o lábio, assistindo a felicidade de sua amiga. Continuaram andando, sem saber para onde iam.
– Moço, me vê um ‘Sex on the beach’, por favor? – pediu, apoiando os cotovelos no balcão do bar. Riu ao ver sua amiga arregalar os olhos e se abaixar, sentada no chão – O que você tá fazendo?
– Shiiiiiiiiu! – Exclamou em um murmúrio alto, colocando o dedo nos lábios. , que não entendeu, fez menção de abrir a boca para falar mais alguma coisa. lhe chutou a perna, enquanto fazia gestos, apontando para o bar. – O cara... ali, oh.
– Anh, oi? – O bartender chamou , que não percebeu e continuou olhando pra baixo, se comunicando com a amiga através de gestos e leituras labiais.
– O bartender?! – murmurou, mas daquele seu jeito bem sutil de ‘murmurar’. Apontou para frente, querendo indicar o homem do bar, sem perceber que ele estava ali.
– Eu? – Ele riu, vendo o susto que a menina havia levado – Com quem você tá falando aí embaixo?
– Anh? Eu não to falando com ninguém não! – se enfiou na frente do bartender quando o mesmo tentou se inclinar no balcão para ver se havia alguém ali – Não tem ninguém aqui! Pára de olhar!
O bartender insistiu, e sendo mais alto que a menina em sua frente, desviou dela e conseguiu olhar para baixo. Apenas riu ao ver sorrir amarelo, enquanto corava fortemente.
– Oi Pete – Ela acenou com as mãos, completamente sem graça – E aí, que manda?
– Anh, nada demais – Ele riu novamente – E você?
– Ah, o mesmo de sempre... – balançou a mão, como se realmente não tivesse nada para contar. Ele riu ainda mais com o modo calmo que agia. – Você sabe... – deu de ombros.
– Aham, claro que sei – Pete abriu mais um daqueles sorrisos, fazendo até engasgar com a bebida – Você se importaria em responder uma coisinha pra mim, ?
– Claro – Respondeu, dando de ombros e sorrindo. Agia normalmente, como se aquilo fosse algo que fizesse sempre. ‘Claro, conversar com bartenders sentada no chão’, pensou. ‘Virou até mania, sabe’.
– Porque você tá sentada no chão? – Ele riu novamente – Se escondendo de mim?
– O-o que? – Gaguejou, corando ainda mais. Beliscou a perna de quando a viu sentada, tomando seu drink enquanto assistia e ria daquela cena. – Mas é claro que não, Pete! O que o faz pensar isso? – forçou uma risada.
– Nada não – Pete sorriu mais uma vez e deu de ombros – E... você não vai levantar, não?
realmente nem havia mais notado que estava sentada no chão. Sorriu sem graça novamente e se levantou, arrumando a saia amassada e o espartilho, que insistia em cair.
– Bom, é melhor a gente ir – Abriu o maior sorriso que pôde, puxando o braço de – Mas anh, legal te conhecer e... sucesso, cara!
‘Sucesso, cara?’, pensou consigo. Se xingou mentalmente e acenou para Pete.
– Espera aí – Ouviu ele berrar. parou, fechou os olhos e suspirou profundamente, ainda de costas. Se virou e o viu escrever algo em um papel. – Caso você esteja livre e... solteira. – riu.
Pete apenas lhe entregou o bilhete. Sem esperar para que ela falasse nada, lhe deu um beijo na bochecha - que havia sido muito, mas muito próximo do canto de sua boca -, e sentiu o mesmo frio percorrer seu corpo. Intacta e sem saber exatamente o que falar, ela deixou-se ser puxada ‘delicadamente’ pela amiga.
– Ok, já podemos entregar o cara por assédio sexual – riu, enquanto procurava suas amigas no grande aglomerado de pessoas – Mas como ele é bonito...
– Achei elas! – berrou, tentando ao máximo ignorar o comentário da amiga. Puxou-a pelo braço e caminharam até e , que pela surpresa delas, estavam conversando com e . ‘Essa festa tá estranha demais, obrigada por perguntar’, falou para si mesma.
– O que será que as duas tão fazendo lá com eles? – perguntou, arqueando a sobrancelha.
– Porque, tá com ciúmes, é? – Brincou, apertando as bochechas da amiga que havia corado fortemente, ganhando em conseqüência um forte tapa. – Tá bom, tá bom. Vamos logo!
As duas seguiram em direção aos amigos, rindo e conversando o tempo inteiro. não parava de perguntar se seu cabelo estava arrumado e bonito, e apenas ria com a cena.
– Aleluia, irmão – levantou os braços para o alto quando viram ambas garotas se aproximando – Onde vocês foram parar? Mania de se perderem de nós...
– Mas eu passei por vocês e falei que ia achar a arregalou levemente os olhos, como se quisesse dizer que sua amiga estava provavelmente com amnésia.
– E o e o não estavam com vocês? – perguntou, empurrando o corpo de delicadamente para o lado, procurando pelos amigos, como se eles estivessem escondidos ali.
– Eles não estão aqui? – corou fortemente ao ver que percebera a decepção em sua voz.
– Não! – respondeu, bufando – Qual o problema daqueles dois?
– Problema nada – riu – Eles é que são espertos e foram curtir o baile!
– Não acredito que você chamou o e o de ESPERTOS! – riu alto, mas logo parou quando , de brincadeira, lhe deu um leve tapa e riu junto. Os dois se entreolharam e coraram sob os olhares e comentários provocativos dos amigos.
– Eu acho que a gente deveria dançar – retrucou, já puxando os braços das meninas.
– Ah gente, eu não to afim, não – sentiu todos os olhares se virarem para ela. Encarou os pés e puxou seu braço das mãos de . – Vão vocês, depois a gente se encontra.
– Ah não! – reclamou – Pra gente se perder de novo? – Ela apanhou o braço da amiga e voltou a puxá-la – Vamos lá, !
– Ah , eu to com frio e... cansada! – mentiu. – Leva o , ele tá super afim de dançar!
– Estou, é? – O garoto perguntou, arqueando a sobrancelha.
– É lógico que está – riu, pisando ‘discretamente’ no pé do amigo – Mas acho que a não está muito, não... E o ... ah, o ! Ele odeia dançar, sabe. – balançou a cabeça em negação.
murmurou em um tom mortal, lançando o olhar que a menina tanto conhecia. ‘Ela vai me matar agora e me agradecer depois’, pensou consigo mesma, rindo e piscando para .
– Ok, vamos logo – falou e puxou os braços de e rapidamente – Encontramos vocês mais tarde, pessoas.
Com isso, os três saíram dali. apenas sorriu sem graça e berrou o nome de alguém que havia acabado de inventar, fingindo ter encontrado com tal pessoa.
– Anh... oi. – finalmente falou assim que todos seus amigos já haviam ido embora. Passava os dedos entre os cabelos constantemente, ato que demonstrava estar mais nervoso do que antes.
– Oi – respondeu, sem saber onde enfiar a cara. Estava tão envergonhada e sem graça quanto , mas o tom de cor da sua pele não superava a dele: estava mais vermelha do que jamais ficara.

sentou-se em uma mesa, mas dessa vez, longe do bar. Olhou para o pedaço de papel ainda em sua mão que Pete havia lhe dado. Suspirou profundamente, olhando as pessoas dançando. Sentiu os pêlos da nuca e dos braços de arrepiarem com o frio; estava gelada. Ficou ali, observando os outros se divertindo, enquanto esfregava os braços com freneticamente, na tentativa falha de se esquentar.
– Anh, oi – Ouviu ao seu lado. Levantou e viu o mesmo com quem antes conversava.
– Oi – Sorriu amigavelmente – Você é amigo da , não é?
– Sou sim – Ele riu baixinho, estendendo a mão – Eu sou Dave; e você deve ser – falou rapidamente, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa e a fazendo corar levemente.
– A gente já se conhece?
– Não – Dave deu de ombros, sorrindo – Mas todo mundo na escola sabe quem você é... você e suas amigas.
– Ah sim – sorriu forçado. Odiava essa popularidade superficial que tinha. ‘Todo mundo na escola conhece minha imagem, não eu’, pensou irritada. – Desculpe atrapalhar sua conversa com a antes e tirá-la de lá, mas... – deu de ombros, rindo – você sabe, coisas de meninas.
– Tudo bem – Ele riu, aproximando-se mais da garota – Nem estava tão interessante assim...
– Como assim? – Sentiu o cenho franzir quase que involuntariamente.
– Ah, não que ela não seja legal, ela é... – Dave deu de ombros novamente, olhando de baixo a cima. Ela não estava gostando nada daquilo. – Mas não tão interessante quanto você.
– O que você quer dizer com isso?! – Ela se afastou do garoto, indignada com o que ouvia.
– Ah, qual é – Ele, se aproximando agora até demais, enlaçou a cintura de com seus braços, deixando seus rostos extremamente próximos. – Essa pose de ‘garota boazinha que odeia ser popular’ não funciona comigo.
sentiu aquele cheiro forte de álcool da boca dele entrar em suas narinas. Tentou se desvencilhar, empurrando-o ou batendo em seu braço, mas Dave era mais forte. Mexia constantemente a cabeça para os lados e para baixo, se livrando das tentativas do menino em beijá-la.
– Me larga! – Berrou, já extremamente irritada. Tentava puxar seu braço que estava sendo apertado brutalmente e já devia estar vermelho; sentia-o latejar. – Você tá me machucando! ME LARGA!
Dave fez cada vez mais força; sua mão apertando cada vez mais o braço gelado da menina, e o outro braço puxava o corpo dela contra o seu, agarrado à sua cintura. fazia de tudo para de soltar; seus olhos já marejados em lágrimas de dor por causa do braço que latejava cada vez mais forte. Um certo desespero começava a tomar conta dela.
– Ela disse pra você soltar – Ouviram uma voz mais adiante. Ambos levantaram a cabeça e viram um menino bem vestido, mas completamente irreconhecível na fantasia. O chapéu na cabeça não permitia ver seu cabelo, e a máscara lhe escondia o rosto. As únicas coisas visíveis eram seus bels olhos azuis e sua boca, nada mais. logo lembrou de ter o visto perto do bar quando fora falar com Pete.
– Quem é isso, seu ‘Zorro’ particular? – Dave perguntou no tom de voz mais irônico possível, encarando do garoto de olhos azuis até a menina em sua frente.
– Larga ela – Ele voltou a falar, agora mais alto e irritado; seu punho já fechado.
Dave apenas apertou ainda mais forte o braço de , ouvindo-a gemer de dor, enquanto a fuzilava com o olhar. O menino desconhecido por eles, ao ver a cena, deu um passo para frente, fazendo menção de partir pra cima do outro. Finalmente ela sentiu seu braço se soltar, livre das mãos de Dave. Voltou a gemer, mas agora, de alívio.
– Você está bem? – Ele perguntou, assim que assistiram Dave se afastar. Tocou delicadamente no braço de , agora já quase roxo. – Nossa, seu braço tá gelado! – O garoto agora levou as mãos ao rosto dela – Meu deus, você tá congelando!
– Eu estou bem, obrigada – Ela se sentiu quente por alguns segundos com o toque do rapaz, mas logo se desvencilhou dele, envergonhada. Massageou o local machucado, sem saber exatamente se olhava para ele ou para baixo. Optou então continuar encarando os pés. – Eu só estou com um pouco de frio...
Ele pareceu não precisar ouvir mais nada: retirou seu paletó e estendeu para ; o sorriso mais doce que já vira. Por um momento, ela pareceu lembrar da voz, daquele sorriso e os olhos, que lhe pareciam extremamente familiares. Seria mesmo ele...?
– Pode pegar – Ele voltou a falar entre aquele imenso e perfeito sorriso ao ver a menina em sua frente parecer acordar de um transe.
pensou em recusar, mas estava realmente com muito frio. Apanhou o paletó e o colocou, rindo ao se olhar. Por mais que parecesse uma enorme camisola de pijama, estava até que bonitinho...

Ela estava linda. Era a única coisa que conseguia pensar. Sorriu intensamente ao vê-la rir de si mesma com seu paletó. Aquele sorriso, aqueles olhos, seu rosto... tudo nela era simplesmente e incrivelmente tão perfeito.
– Obrigada – Ouviu falar baixinho, sorrindo envergonhada.
Ele apenas sorriu de volta, sentindo um forte aperto no coração. Queria tanto poder apenas agarrá-la e beijá-la ali mesmo, dizer quem realmente era. Mas não podia. Sabia muito bem o que ela sentia por ele; ouvira ela falar para as amigas quando estavam perto do bar. Por mais que doesse, era a verdade. ‘Eu NÃO gosto do !’; ouvia aquelas palavras ecoarem em sua cabeça constantemente. Gostava de desde a primeira que a vira, até antes de os apresentarem. Desde então, seu sentimento só havia crescido, assim como ela mesma. Se conheciam há três anos já, e só trocavam olhares e algumas palavras, obviamente dependendo da situação. Ela era popular, tinha provavelmente todos os meninos que quisesse. Porque então iria querer ? Preferia deixar as coisas daquele jeito; pelo menos estava falando com ela agora. ‘É melhor, assim ela não me reconhece’, pensou, sentindo o coração apertar e bater mais rápido. ‘É só por isso que ela está falando comigo agora’.
– Ai, eu amo essa música! – Ela falou de repente, cortando o silêncio que pairava sobre eles. Não olhava para , e sim para todos os casais que se direcionavam para a pista de dança.
‘Ela gosta de Beatles?’, perguntou a si mesmo, sem perceber o imenso sorriso que havia aberto. ‘Acho que ela não poderia ser mais perfeita’.
– Eu também – respondeu sem graça, encarando os pés ao vê-la olhar para ele. Então, levantou a cabeça, como se tivesse acabado de ter uma idéia. E realmente teve. Mas será que devia perguntar? E se ela recusasse? Balançou a cabeça, querendo espantar aqueles pensamentos. – Você... – parou, receoso. Ela o olhava sem entender, e ele obviamente não poderia começar a frase sem terminar. Então, tomou fôlego, estufou o peito e continuou, agora firme. Ou tentando parecer estar. – você quer dançar?
– Com você? – perguntou rapidamente, corando e parecendo surpresa com a pergunta.
– Bom, era isso que eu tinha em mente – Ele riu, parecendo confiante, enquanto na verdade estava fazendo de tudo para não sair correndo dali, chorando e berrando pela sua mãe. até poderia ser o tipo de garoto que aparenta se dar bem com as meninas, mas na realidade, morria de medo de se aproximar demais delas. Nunca namorara sério. – Mas se você não quiser, tudo b...
– Não, não é isso – Ela o cortou rapidamente, corando e mordendo o lábio inferior na tentativa de esconder o sorriso – Eu quero sim.
sentiu uma festa com direito a fogos de artifício comemorar dentro dele. A princípio, não se preocupou em esconder a felicidade: sorriu tanto que mostrou todos os dentes que tinha na boca. Mas ao vê-la rindo baixinho de tanta felicidade que ele demonstrava, se conteu. Retirou o chapéu da cabeça e o atacou para longe, como uma espécie de bumerangue, fazendo rir mais alto. Então, fez uma pequena reverência e estendeu sua mão, sentindo as famosas ‘borboletas’ em sua barriga ao sentir a mão dela encostar-se à sua. Apertou-a delicadamente, e assim guiou a garota para a pista de dança.
– É minha música favorita dos Beatles – falou em seu ouvido para que pudesse ouvir, já que o som estava alto. sentiu um frio lhe percorrer toda a espinha.
– A minha também – Respondeu, piscando para ela e berrando algo como: ‘oh my god, somos alma gêmeas!’, fazendo-a rir ainda mais. poderia passar a noite inteira ali com ela, vendo-a rir daquele jeito que só ela conseguia, e para melhorar todo aquele momento, se fosse mais possível, ao som de suas música favorita: All My Loving, dos Beatles.
Assim que chegaram ao meio da pista, ambos pareceram congelar. Se encararam, sem graça e envergonhados. ‘Larga de ser gay e dança logo com ela, !’, xingou-se mentalmente.
Prendendo a respiração e sentindo o coração disparar, se aproximou de e enlaçou seus braços delicadamente em volta de sua cintura. E, quando fora a vez dela em entrelaçar os dedos ao redor de sua nuca, ele chegou até a fechar os olhos. Seria aquilo tudo um sonho? ‘Se for, por favor, NÃO ME ACORDEM!’, ouviu a vozinha em sua cabeça berrar quase desesperadamente.
Abriu os olhos finalmente, vendo guardar um pedaço de papel no bolso de seu paletó. Apenas sorriu à ela e a viu retribuir. Então, sentiu a cabeça da menina deitar delicadamente em seu ombro. jurou que seu coração havia ido parar em sua garganta. Sentiu o cheiro do perfume dela, o cheiro de seu cabelo. Dançavam lentamente, muito próximos.

Close your eyes and I'll kiss you
Tomorrow I'll miss you
Remember I'll always be true


sentiu o coração bater rápido. Não sabia exatamente o que sentia, mas o que tinha certeza era que, para seu azar, parecia estar fortemente atraída por aquele garoto. Tinha medo, não sabia como aquilo havia acontecido. Nem sabia quem ele era. Seria que era só porque ele havia a ‘salvado’ de Dave, por ter o sorriso e os olhos mais lindos que já vira e parecer ser extramente bonito? ‘Não esqueça do extremamente legal e simpático também e o ótimo bom gosto musical’, pensou consigo mesma, rindo baixinho. Ainda nem havia acreditado que estava com sua cabeça ali, no ombro do garoto. Tão próximo.

And then while I'm away
I'll write home every day
And I'll send all my loving to you


– Qual seu nome? – acordou de um transe ao ouvir ela sussurrar em seu ouvido, sentindo o coração bater cada vez mais forte e o estômago afundar cada vez mais.
– É... – Parou rapidamente. Não poderia dizer quem era. Se ela soubesse... Não, não poderia dizer que era . – Don – mentiu, tentando esconder a voz chorosa. – Meu nome é Don.

I'll pretend that I'm kissing
the lips I am missing
And hope that my dreams will come true


Don? tinha quase certeza de que não conhecia ninguém de nome ‘Don’ na escola. Mas, mesmo assim, parecia que todos a conheciam e ela não. Resolveu esquecer.
– Don, tipo Don Juan? – Brincou, ficando vermelha involuntariamente ao perceber que ele riu alto daquele comentário completamente idiota. Porque não ficara quieta? Tentou mudar de assunto. Rápido. – Não vai perguntar o meu nome, não? – Ela riu, olhando dentro daqueles olhos azuis penetrantes.

And then while I'm away
I'll write home every day
And I'll send all my loving to you


adorou aquele comentário. ‘Sim, exatamente como Don Juan’, pensou consigo mesmo, rindo. Mas logo parou ao vê-la encarar os olhos dele profundamente. Sentiu seu estômago afundar pela milionésima vez só naquela noite. ‘Responda ela! Responda ela, seu idiota!’, brigou consigo mesmo.
– Eu não acho que eu preciso – Ele finalmente respondeu, rindo baixinho ao que havia abaixado a cabeça para tentar esconder a vermelhidão no rosto. – Eu sei quem você é... Aliás, todos sabem, né.

All my loving I will send to you
All my loving, darling I'll be true


Porque sempre tinha que ouvir a mesma coisa? Odiava aquilo. Irritada, virou o rosto rapidamente e deixou o garoto um tanto desnorteado. Percebeu que ela estava brava, só não sabia o porque.
– Não, você realmente não sabe quem eu sou. – As palavras pareceram sair por conta própria de sua boca. Fingiu não ver que ele insistia em olhar para ela, procurando algo em resposta.

Close your eyes and I'll kiss you
Tomorrow I'll miss you
Remember I'll always be true


– Eu sei que eu não sei realmente quem você é – de repente pareceu entender. Lembrou de ter comentado que odiava a popularidade que tinha, o que o surpreendia, vendo que as amigas pareciam não ser assim. Era isso que a deixava cada vez mais perfeita, em sua visão.
Riu baixinho ao ver a garota levantar a cabeça vagarosamente, encarando-o sem entender o que ele quisera dizer. Mas não parecia brava; parecia, na verdade, aliviada ou até feliz.
– Eu quis dizer que te conheço porque sei seu nome, porque se eu realmente te conhecesse, não iria pedir pra dançar com você. – Riu ao vê-la franzir o cenho – Não por causa disso, mas sim porque eu queria... te conhecer melhor. – Abriu um pequeno sorriso no canto dos lábios – Te conhecer de verdade.

And then while I'm away
I'll write home every day
And I'll send all my loving to you


ficou simplesmente imóvel. Agora entendia o porquê parecia gostar dele: ele era simplesmente diferente de todos os outros garotos que existiam.
Corou ao se ver perdida no olhar dele, logo reencostando a cabeça em seu ombro. Sentiu o coração acelerar quando sentiu-o abraçar mais forte, mas ainda assim muito delicado. Mas fora outra coisa que a fez simplesmente perder todos os sentidos: ele cantava uma parte da música em seu ouvido, num sussurro gostoso. Sem perceber, já estavam mais uma vez com os rostos colados; os olhares perdidos um no outro. apenas ficou na ponta dos pés, fechando os olhos lentamente.

All my loving I will send to you
All my loving, darling I'll be true


Por mais que não ouvisse mais a música, e sim apenas o barulho de seu coração acelerado que parecia ecoar em sua cabeça, lutou com todos seus sentidos que insistiam em congelar. Segurou delicadamente o rosto da menina com suas mãos e aproximou seu rosto cada vez mais, já sentindo a respiração ofegante tanto dela quanto sua. Os lábios finalmente se encontraram em um selinho delicado. Ao sentir passar suas mãos de sua nuca para seus cabelos, puxou-a para ainda mais perto, se fosse possível, com os corpos grudados, quase formando um só. Tudo que sempre quis, com a garota que sempre quis, que sempre sonhou; estava agora ali, acontecendo.
Viu que ela deu autorização para o beijo se intensificar, abrindo mais a boca. As línguas finalmente se encontraram, e procurou conhecer tudo ali que sempre quis conhecer. Sentiu os pêlos da nuca arrepiarem ao que ela bagunçava seu cabelo com uma de suas mãos, enquanto a outra mão segurava o cós de sua calça. Pensou que seu estômago havia simplesmente sumido de tanto afundar quando a garota mordeu levemente e gostosamente o lábio inferior dele. Agora já não sentia nada de seu corpo.

All my loving, all my loving
All my loving
I will send to you.


sentiu os pés tocarem o chão vagarosamente. Sentia borboletas na barriga, o coração bater mais rápido e forte do que nunca, um frio lhe percorrer a espinha, o estômago virar de ponta cabeça, perder todos os sentidos do corpo; tudo de uma vez só. Mas em uma sensação extremamente boa.
Cessou o beijo em um selinho. Os olhos ainda fechados e o sorriso estampado nos rostos de ambos. Apenas voltaram a abrir os olhos quando ouviram uma salda de palmas do salão inteiro, mas ainda assim não tirou o olhar de cima do garoto. Podia ficar assim pela noite inteira...
! – Ouviram um berro. ‘Ah, claro! Essas coisas só acontecem comigo mesmo!’, pensou, deixando a cabeça cair delicadamente no peitoral do garoto. – !
Ao se virar, viu correr até ela. Viu o desespero na cara da amiga e começou a se preocupar.
, aqui! – Ela berrou, abanando as mãos para cima para que a garota a visse. Viu-a correr até os dois, mas sem perceber que existia a presença de um garoto entre elas. – O que aconteceu?
, você tem vir rápido! – falava ofegante, atropelando as palavras – A ... A ...
– O que tem a ? – Sentiu o desespero também lhe tomar conta, mas a amiga ainda parecia ter dificuldade em deixar as palavras saírem – Desembucha ! O que aconteceu com a ?! – Ela bateu nas costas da garota como se estivesse engasgada, mas só ganhou xingamentos.
– Cacete, a tá chorando! – berrou, já puxando o braço da outra para que a seguisse – Vem logo!
– Espera , eu... – não teve tempo de se despedir de Don. Fez menção de tirar o paletó, mas o garoto apenas disse para ela ficar. – Mas eu não sei se a gente vai se ver e...
– A gente vai se ver de novo – Ele apenas lançou uma piscadela e sorriu ao vê-la sorrir intensamente e sumir pela multidão com a amiga. Suspirou profundamente, assim tirando a máscara. – De volta a ser – ele deixou a máscara cair no chão e saiu do salão, procurando pelos amigos.

! – correu até a amiga, que chorava em um canto – ! – Olhou para o lado e viu o amigo com o nariz sangrando. ‘Meu deus, o que tá acontecendo com esse baile?’ – Alguém pode me explicar o que tá acontecendo aqui?
– Eu vou quebrar a cara daquele filho da p...
– Ow, ow, ow – cortou , que parecia nem ligar para o nariz machucado e perguntava constantemente se estava bem – Alguém me explica, pelo amor de deus, caralho!
– O apanhou – falou rapidamente, apoiando a mão no ombro do amigo que pareceu ficar irritado com o comentário.
– Ele e o um garoto aí brigaram – surgiu atrás deles junto de , trazendo um pequeno pedaço de pano molhado e obrigando a colocar em seu nariz.
– Que garoto?
– O Dave – soluçou.
– Dave? – repetiu, sentindo o sangue subir fervendo – Aquele idiota que você tava conversando?
– E como você sabe que ele é idiota? – riu.
– Ele tentou me agarrar à força!
– VOCÊ TAMBÉM?! – berrou, se levantando, já com o punho fechado.
– Como assim, eu também?
– Ele tentou agarrar a também – falou quase em um sussurro, enquanto passava as mãos pelos cabelos de , tentando acalmá-la. não fez nada, apenas sentiu a boca escancarada, sem falar nenhuma palavra.
– Eu juro que da próxima vez que eu ver esse idiota, eu vou arrebentar a cara dele mais do que já arrebentei – falou entre os dentes.
– Deixa, – Ouviram sussurrar, enxugando as lágrimas – É muita coisa pra uma noite só – apenas concordou mentalmente. Realmente era até demais. – Eu só quero voltar pra casa.
– Eu também – disse entre um bocejo.
– Tudo bem, eu levo vocês – falou, olhando preocupado para ; seu nariz já não sangrava mais tanto. apenas observou a cena e sorriu. – Você vem também, ?
– Anh – Ela olhou para as escadas que havia acabado de descer. Provavelmente não iria encontrar Don novamente, e sentia suas pálpebras pesarem. – Vou sim.

A viagem inteira, todos permaneceram em completo silêncio. Deixaram primeiro em sua casa e depois . Ao chegarem à casa de , desceu do carro para abrir a porta para ela. Aproveitou o momento para falar com .
– Você vai ficar bem?
– E porque não ficaria? – Ele riu baixinho, mas a menina viu que havia sido completamente forçado. Olhou preocupada à ele. – É sério, , eu estou bem. Amanhã eu te ligo, tá?
– Promete?
– Prometo.
E com isso, apenas beijou a testa de , observando-a sair do carro. Se despediu de e entrou em sua casa. Subiu as escadas para seu quarto e se trocou vagarosamente, sentindo o cansaço. Assim que se deitou na cama e se cobriu, olhou para o lado, e involuntariamente um sorriso se abriu no canto dos lábios. Ali, sobre a cadeira, estendia-se o paletó de Don.
Ela se virou, lembrando de tudo que havia acontecido. Não conseguia parar de sorrir toda vez que a imagem do garoto lhe vinha na cabeça, a cena deles se beijando. O perfume dele, aquele sorriso e olhos tão familiares. parecia saber quem ele era, mas ao mesmo tempo, não fazia a menor idéia. Queria falar, se encontrar com ele novamente. Mas tinha quase certeza de que não havia nenhum ‘Don’ em sua escola. Como iria achá-lo?
Balançou levemente a cabeça, tentando espantar os pensamentos. Pelo menos por enquanto. A única coisa que queria mesmo deixar em sua mente era no momento que passara com ele. Virou-se na cama de novo, voltando a olhar para o paletó sobre a cadeira. Sorriu e fixou seu olhar ali por um bom tempo. Até que se esticou, alcançando a cadeira. Puxou o paletó para si, colocando-o na cama e abraçando-o como se fosse um urso de pelúcia. Conseguia sentir o cheiro dele ali ainda. Ficou ali, apenas pensando e sonhando. Tudo havia sido tão perfeito, mas tão estranho... Parecia até uma história da Cinderela.
Os olhos foram se fechando vagarosamente. Sem perceber, dormiu; o sorriso ainda estampado no rosto.


Cap. 7

soltou um longo e profundo suspiro e se virou na cama pela vigésima vez naquele dia. Era domingo à tarde, e como de costume, ficou fazendo nada em sua casa apenas pelo fato de ser domingo. Nem teriam aula no dia seguinte, porque não estava fazendo nada? Bom, na verdade ela havia feito algo... Contado exatamente quantas horas havia passado desde o baile, a única coisa que conseguia pensar: na noite anterior. Em como tudo havia ocorrido; a festa, as pessoas, as músicas... e, bem, Don.
Virou-se novamente, agora de barriga para cima. Colocou as pernas para o alto, encostando-as na cabeceira da cama. Fazia já uma hora que esperava pela ligação de . Havia falado com o amigo pelo computador, no MSN, e ele havia prometido lhe ligar para contarem um ao outro sobre ontem. levantava constantemente da cama para checar seu MSN, ainda on-line, mas não via mais nenhum ‘’ em sua lista. Continuou deitada, ignorando os barulhinhos vindos do computador sempre que alguém lhe mandava uma mensagem. Se não estava on-line, o que adiantaria ir ver de novo?
Ouviu o telefone tocar. ‘Finalmente!’, pensou consigo mesma, já irritada.
– Alô? – Falou rapidamente, esperando ser quem achava que era.
? – A voz grossa respondeu do outro lado da linha.
– Não, aqui é a Britney Spears, honey – Brincou, imitando uma voz extremamente aguda e chata – Estava esperando pela sua ligação. Nossa noite ontem foi tu-do, hein ? Meu deus...
– Nem me fale, cara – A voz respondeu, tentando não rir – Você vestida de aeromoça, tipo ‘the kinky bitch’... Meu deus, eu que diga!
! – o repreendeu, ainda assim rindo – Agora diz, porque você demorou, noiva?
– Ah, eu... – parou, quieto por alguns segundos – Eu tava arrumando meu quarto!
– Ai , você realmente precisa aprender a mentir, e pras pessoas certas. Porque você não me engana, principalmente se a desculpa for arrumar seu quarto! – Riu, revirando os olhos.
– E o que você quer dizer com isso? – Ele se fingiu de ofendido.
– Quero dizer que você não limpa seu quarto nem se a for te fazer uma visitinha, cara – soltou uma gargalhada quase involuntária ao ouvir falando palavrões do outro lado da linha – Falando nela, o que deu ontem? Você conversou com ela, dançou com ela e até a salvou do ‘vilão’... Que isso, ? Tá apaixonado mesmo então? – Riu mais uma vez. Adorava provocá-lo.
– Nem começa, falou? Ou eu que vou começar com esse seu negócio de beijar seu amor mascarado... – Foi a vez dele de rir ao que a menina corava e o mandava calar a boca – Vai, você primeiro.
– Não, eu que perguntei primeiro! – Retrucou.
– E eu sou mais velho.
– E o que isso tem a ver?
– Sei lá, eu só quero saber disso pra zoar da sua cara primeiro, antes que você zoe da minha!
– Ah, vai se fud...
– Opa, opa – pigarreou, rindo ao parar a amiga, irritada – Tá bom, eu falo. Eu tava...
– Vai, cospe logo.
– Tá com pressa por acaso?
– Tô!
– Vai pescar então, dude.
– Ai , essa é tão velha e... ruim.
– Quem perguntou?
– AH, CHEGA! Fala logo, cacete.
– Hey, não é minha culpa se você está na TPM e...
– FALA LOGO!
– AAAAH TÁ BOM EU FALO! – Ele berrou, assustado com o berro repentino de – Credo, que estresse, cara. Acho que você precisa descansar mais, sabe...
?
– Oi?
– Você AINDA não contou.
– Ah é – Ele soltou risadinhas sem graça, sem ver que a amiga rolava os olhos e o xingava mentalmente do outro lado da linha – Bom... Mas, ah... Não sei se eu falo e...
– VOCÊ QUER APANHAR OU É IMPRESSÃO MINHA?
– AH, TÁ BOM! EU FALO! – Tomou ar e... bem, e coragem. – Eu tava... Eu tava escrevendo pra , falou? Pronto, satisfeita? Zoa agora, vai. Pode zoar, eu agüento!
– AAAH QUE FOFO! Me conta o que você mandou pra ela? Conta, vai? Conta, conta, conta! Por favor, diz que coooonta, vai! Conta?
– Você bateu a cabeça hoje por acaso? Ou é só o efeito que seu... Don Juan causa em você?
– Ah , cala a boca e só fala, vai.
– Como eu vou calar a boca e falar ao mesmo tempo?
– Acho mais fácil você se perguntar como você vai falar nos próximos meses se eu socar sua boquinha.
– Mas se você fizer isso, você não vai saber o que eu falei pra !
?
– Oi?
– FALA LOGO, PORRA!
– Tá bom, tá bom. Credo, as coisas com você só funcionam na base da violência, é?
– É, e você quer apanhar?
– Não.
– Então desembucha, cabeção!
– Olha lá como fala comigo, porque eu sou mais velho e...
– Alô, ? Oiii amiga! Então, me conta aí o que o te mandou e...
– AAAAAAAAAAH NÃO! CALMA, EU TE FALO! EU TE FALO, PELO AMOR DE DEUS!
– Há, você sempre cai. Trouxa!
– Engraçadinha.
– Obrigada. Agora vai, conta!
– Eu só falei que queria encontrar com ela, pra gente...
– Dar uns amassos?
– NÃO!
– Sei, sei... – Ela riu ironicamente.
– Você mandou eu contar, e eu to contando. Quer que eu termine ou não?
– Quero, vai logo.
– ‘Vai logo’, hunf – repetiu, bufando – Pra gente conversar, falou? Quero saber se ela gostou de ontem e... Se ela tá bem. – Ele deu de ombros. Agradeceu por não poder vê-lo naquele momento, uma vez que já estava extremamente corado.
– Ah, que bonitinho! Se eu tivesse aí eu apertaria suas bochechas.
– Bom, sorte minha que você não está então.
– Chato! – Ela deu a língua para o telefone, já que não poderia vê-la – Mas o que ela disse?
– Não respondeu ainda...
– Ah, é que a é muito demente e sempre esquece onde enfia o celular – Disfarçou. Percebeu o tom de voz do amigo quando respondera àquilo. Parecia triste. – Você pretende ver ela hoje?
– Eu pretendia, mas acho que ela não vai querer...
– Pára de glicose anal, ! Ela vai sim, e eu vou junto!
London Eye não ter voltado cê acha que eu sou o que? Um candelabro pra ficar segurando vela? Não, obrigada.
– Mas então porque você quer ir?
– Porque eu não agüento ficar em casa, cara! Todo domingo é assim.
– Nem me fale...
Os dois ficaram em silêncio por algum tempo, apenas ouvindo os suspiros um do outro.
– Hey, e se a gente chamasse todo mundo pra sair? Assim a iria na boa, você conversaria com ela, eu sairia dessa casa entediante e todos viveriam felizes para sempre.
– E quem seria ‘todo mundo’ pra você?
– Anh, sei lá! Eu, você, a , a , a , o ...?
– O e o .
– Ah, acho que pode ser também... – sentiu seu estômago afundar. Não que não gostasse deles, pelo contrário, gostava. Mas de até demais.
– Hey, se eu tenho que agüentar suas amigas, você que agüente os meus também!
– Agüentar? Você ‘agüenta’ tanto minhas amigas que quer namorar uma delas, não é mesmo ?
– Ah, cala a boca.
– Tá de TPM? – Riu, percebendo que o deixara irritado – Que horas e onde?
– No shopping e daqui... 20 minutos tô indo te pegar.
– VINTE MINUTOS?!
– Ah, é tempo de sobra, !
– Eu não sou que nem você que toma banho em menos de cinco minutos, !
– Não é o banho que você demora, é na maquiagem.
– Cala a boca.
– Tá, meia hora e pronto! Liga pras suas amigas e eu ligo pros caras.
– Meia hora?!
– Ah , pelo amor de deus, vai.
– Tá bom, tá bom. Mas vê se não demora pra vir, falou?
– Eu que demoro, né?
– É – Ela respondeu rapidamente, rindo – Até daqui a meia hora, mala.
– Até, pentelha.
Com isso, desligou o telefone e se levantou da cama, agora animada. Abriu o armário, olhando cada roupa que tinha. Como iria escolher algo pra vestir em tão pouco tempo?

Pa-na-nã.
Ouvi o barulhinho vindo do computador. Mais mensagens do MSN.
A garota apenas deu de ombros e continuou olhando para o armário como se a resposta fosse cair do céu. Revirou alguns cabides onde haviam estendidos vestidos, saias, blusas de frio...

Pa-na-nã.
Ela apenas revirou os olhos e bufou. Estava com pressa, precisava se arrumar logo antes que chegasse. Não iria perder seu tempo que tinha que escolher sua roupa conversando no MSN, ainda mais que todas suas amigas já deviam estar se trocando nesse momento. Já havia mandado mensagem no celular de todas avisando sobre o shopping. Ninguém que realmente gostaria ou precisava falar estaria on-line e principalmente falando com ela. Bom, pelo menos achava que não...

Pa-na-nã.
– Mas que saco! – Berrou, finalmente saindo de frente do armário e se dirigindo à enorme cadeira que mais lembrava um sofá em frente ao computador. – Espero que seja alguém muito importante mesmo, senão eu juro que a pessoa vai ouvir até...
De repente, parou de falar. Apenas sentiu um sorriso se formar no canto dos lábios com o que via.

Don Juan <3 says:
Close your eyes and I'll kiss you, tomorrow I'll miss you.
Remember I'll always be true.

Don Juan <3 says:
And then while I'm away, I'll write home every day…
And I'll send all my loving to you.

Don Juan <3 says:
I'll pretend that I'm kissing the lips I am missing
And hope that my dreams will come true

A única coisa que conseguia pensar era em como Don havia conseguido seu MSN. Mas, na verdade, aquilo realmente não importava. Ele estava ali, falando com ela... ‘Cantando’ a música deles.
se ajeitou na cadeira e olhou para o teclado, pensando no que falar. Mas sabia o que responder.

<3 and i’ll send all my loving to you; (não to) says:
And then while I'm away, I'll write home every day
And I'll send all my loving to you

<3 and i’ll send all my loving to you; (não to) says: All my loving I will send to you
All my loving, darling I'll be true

Don Juan <3 says:
Então você tá aí sim, eh?

<3 and i’ll send all my loving to you; (não to) says:
to sim :) mas daqui a pouco eu vou sair!

Don Juan <3 says:
Ah...

apenas sorriu com aquilo. Ele na verdade parecia chateado por ela sair, ou por não ficar ali e conversar com ele. Apesar de que queria... queria muito.

Don Juan <3 says:
vc voltou bem pra casa?

<3 and i’ll send all my loving to you; (não to) says:
aham.. apesar de que queria ficar mais lah com vc!

Don Juan <3 says:
eu tbm queria... mas pelo menos eu consegui conhecer vc de verdade, sabe.. quem vc realmente eh, e não o que os outros falam.

sentiu seu estômago afundar nesse momento. Aquela dor boa que fazia o abdômen contrair e um frio lhe percorrer o corpo inteiro.
Mordeu o lábio inferior, ainda com o sorriso estampado no rosto. Pensou.

<3 and i’ll send all my loving to you; (não to) says:
e vc gostou?

Don Juan <3 says:
precisa mesmo responder? Lol

Não sabia o que era, mas o que realmente sabia era o sentimento que aquele garoto lhe causava. Querida tanto saber quem era...

<3 and i’ll send all my loving to you; (não to) says:
eu ainda to com o seu paletó.. como vou te devolver?

Sentiu seu estômago revirar ao ver a demora de Don para responder. A única coisa que lhe passava na cabeça era se ele não queria a ver novamente.

<3 and i’ll send all my loving to you; (não to) says:
a gente bem que podia se encontrar, neh?
vc ganha seu paletó de volta e eu ganho... saber quem vc eh.

<3 and i’ll send all my loving to you; (não to) says:
todos saimos ganhando assim! Lol

Mordeu o lábio inferior novamente, que provavelmente já deveria estar vermelho de tanto que mordia. E se ele recusasse? E se ele nem ao menos tivesse gostado de sair com ela?

Don Juan <3 says:
acho melhor não...

Sentiu uma pontada forte na boca do estômago, e daquela vez a dor não fora boa. Agora parecia nem se importar com horário ou roupas...

<3 and i’ll send all my loving to you; (não to) says:
pq não? vc mesmo disse que gostou e…

<3 and i’ll send all my loving to you; (não to) says:
vc disse que a gente ia se ver de novo.

<3 and i’ll send all my loving to you; (não to) says:
vc prometeu…

Don Juan <3 says:
eu sei, mas eh melhor que por enquanto fique desse jeito.

Don Juan <3 says:
eu to fazendo isso pro seu próprio bem...

<3 and i’ll send all my loving to you; (não to) says:
pro meu próprio bem?
eu acho que sei cuidar de mim mesma, obrigada.

parecia não medir mais as palavras. Queria falar realmente o que estava sentindo. Com que direito ele tinha de fazê-la acreditar que se veriam novamente se não era isso o que ele queria? Com que direito ele tinha de falar aquilo? Com que direito ele tinha de ‘proteger’ ela?
Sentiu a dor boa de antes de transformar em uma dor ruim; algo muito parecido com raiva.

Don Juan <3 says:
eu não quero que vc fique brava comigo, mas eu acho que se vc vesse quem eu realmente sou...
acredite, eh para o seu bem.

A única coisa que conseguiu fazer naquele momento foi chutar o botão do aparelho do computador, fazendo-o desligar. Sabia que havia feito aquilo com medo do que poderia falar para Don... ‘Se esse realmente for o nome dele’, pensou irritada.
– Querida! – Ouviu a voz de sua mãe berrar – O ligou e disse que já está vindo de pegar. Vou sair, deixei seu dinheiro na mesinha de centro! Qualquer coisa é só me ligar.
nem fez menção de responder. Estava ocupada demais desenhando uma imagem muito mal-feita de Don em seu caderno e em seguida a rabiscando, escrevendo sobre a figura: ‘loser’.
– Filha? – Sua mãe voltou a berrar.
– Tá bom, mãe – Berrou de volta, finalmente levantando-se – Tchau!
– Tchau querida!
Foi a última coisa que ouviu, seguido da porta da casa se fechando. voltou para o armário e, agora completamente sem vontade, apanhou a primeira roupa que havia visto em sua frente. Foi a primeira vez que pensou que queria seu domingo entediante de antes...


Cap. 8

– Que cara é essa? – se encostou de lado na parede, em frente à , com as costas apoiadas na mesma parede que o amigo. – Você tá assim desde que fui te pegar.
nem respondeu. Olhou ao redor, observando brincar de algo que parecia bem divertido com , já que eles riam constantemente. havia ido à livraria, olhar revistas femininas e ver fotos dos, como dizia ela, ‘gatinhos’. e viriam juntos, e estava para chegar.
– Alô? Terra pra ? – balançou a mão freneticamente na frente do rosto da amiga, reclamando quando recebeu um tapa no braço. – Que foi dessa vez? Tá estressada porque o seu Don Juan não te ligou, mandou mensagem, trocou palavras nem beijinhos com você?
– Não, é porque eu percebi que ele é mais um cara tarado, idiota que só pensa em si mesmo como qualquer outro no mundo que se finge de bonzinho, e depois que consegue o que quer, foge. – Respondeu completamente irritada – E cala a boca.
– Hey, a gente não pensa só em nós mesmos não, tá! – deu a língua, cruzando os braços.
– Oh, me desculpe, é verdade. Vocês não pensam SÓ em vocês mesmos... Vocês também pensam em peitos, bundas e em como ‘catar’ a menina, né? – Ela bufou, revirando os olhos.
– Não! E porque você tá generalizando?
– Chegaaaaaamos! – Ouviram uma voz masculina berrar atrás deles. Não foi surpresa alguma ver que fora , seguido de um cabisbaixo e de uma menina desconhecida.
– Podemos ver, riu, entreolhando-se com todos ali, provavelmente se perguntando quem era a garota. – Não vai apresentar sua companhia não, ? – brincou.
– Hein? O que? – pareceu não entender, e pareceu também nem querer. Estava no mesmo estado de : calado, emburrado e perdido nos próprios pensamentos.
– E porque a companhia tem que ser dele, ? – estirou a língua, puxando a menina pela cintura, vendo-a corar intensamente – Essa é a Kim, gente.
– O que você deu pra garota pra ela sair com você, ? – perguntou, sem rir. Apesar de aquilo parecer uma piada, para ele provavelmente não fora. Mantinha o tom sério e seco.
– Ai , coitada da menina – o repreendeu, sorrindo para Kim – Ela vai pensar que somos um bando de mal-educados e chatos!
– É... Mas pra que esconder a verdade, ? – brincou, levando um tapa da menina – Tô brincando. Tirando o e esse carinha que você tá, nós somos legais! – Ele riu – Não é mesmo, ?
– Claro... – deu de ombros, sem mesmo saber com o que estava concordando.
– Porque eu sinto que nós dois e vocês dois são os únicos animados aqui? – perguntou, apontando para ele mesmo e Kim, e em seguida para e .
– Talvez porque só nós quatro estamos realmente animados – revirou os olhos.
– Geeeeeente, o povo já che... – , que finalmente saía da livraria com pelo menos três revistas em mãos, parou logo de falar, encarando de para Kim. Nem ao menos tentava disfarçar.
– Anh, ! – a repreendeu, dando uma ‘leve’ cotovelada em seu braço – Essa é a Kim, ela veio com o . Kim, essa é a .
– Prazer – Kim abriu um largo sorriso, toda simpática.
jurou que, se não estivesse nos seus piores dias, iria adorar aquela garota. , por outro lado, pareceu não gostar tanto...
– Oi – A garota respondeu secamente, em seguida fazendo um sinal de cabeça em direção à . Ele preferiu entender aquilo como um cumprimento. – Cadê a ?
– Ainda não chegou... – finalmente falou, encarando os pés. Aquele dia estava parecendo perfeito: além de brigar com Don e receber o pior ‘fora’ de sua vida, agora estava bravo com ela.
– Anh, ? – Ouviram falar, provavelmente as primeiras palavras que na verdade sabia o que estava falando – Posso falar com você um instante?
nem respondeu, apenas seguiu o amigo para um canto mais distante dos outros. Todos ali se entreolharam, curiosos. deu de ombros, abraçando Kim sem perceber o olhar mortal de sobre eles; e apenas voltaram a brincar. , por sua vez, enfiou as mãos nos bolsos da calça e ficou observando os dois garotos conversarem, tentando até uma leitura labial.
Em seguida, pararam de falar e se dirigiu para um corredor, enquanto voltava para o lugar onde os amigos permaneciam. Observou-o sentar ao lado de , completamente calado e irritado.
– Onde o foi? – perguntou, ignorando o mal-humor de e continuando a brincar com , que tinha os próprios braços ao redor de si mesma enquanto pedia para o garoto soltá-la.
– No banheiro.
não falou nada, apenas continuou rodando no mesmo lugar com os braços dela, enquanto a garota berrava e ria ao mesmo tempo, dizendo que ia vomitar. não tirou os olhos dos tênis, assim como não tirava os olhos de suas revistas; cochichava e algumas vezes fazia cócegas em Kim, fazendo-a rir. Cada um se divertindo - ou não - de seu próprio jeito. procurava fazer o mesmo, apesar de parecer um tanto difícil. Dobrou a perna no ar e apoiou o pé na parede, soltando em seguida um profundo suspiro. Olhou ao redor, para os amigos. Até , que havia ficado ‘misteriosamente’ de mal-humor do nada, estava se divertindo lendo sua revista. Porque ela não podia se divertir também? Tentar esquecer Don por pelo menos aquela noite...
acordou de seu transe ao ver voltando do banheiro. O garoto, ao passar por ela, sorriu fracamente com o canto dos lábios e viu o brilho em seu olhar. Um brilho triste. Mas parecia ter reconhecido aquele olhar... Parecia-lhe tão familiar.
se sentou no banco também, deixando no meio, entre ele e . enfiou as mãos nos bolsos das calças e ficou observando aquela cena discretamente. Onde estaria àquela hora?
Sentiu então algo emitir um barulho alto enquanto se movia em seu bolso traseiro. Todos passaram a encará-la, e só depois percebeu que era seu celular. Sorriu sem graça para os amigos e, ao passar os olhos por todos eles, viu que parecia a observar atentamente. Franziu os lábios, tentando tirar sua atenção daquilo. Apanhou o celular, lendo o escrito na telinha: ‘Uma mensagem recebida’.

Eu prometo que tudo vai acontecer, é só esperar o momento certo. Você realmente acha que eu também não quero te ver? Mais que tudo, my Cinderella. Mais que tudo. <3
I'll pretend that I'm kissing the lips I am missing… and I’ll send all my loving to you.


Apenas não resistiu: involuntariamente, abriu um sorriso sincero e sentiu aquela dor boa percorrer seu corpo como antes. Mordeu o lábio inferior, pensando em respondê-lo mais tarde. Voltou a colocar o celular no bolso traseiro e, ao olhar para sua frente, viu que ainda a observava, agora na verdade também sorrindo. riu baixinho, vendo que o garoto parecia ter acordado de um transe e passando agora a sorrir completamente sem graça e olhando para a revista de , fingindo interesse. De repente, sentiu que tudo havia ficado melhor... E iria ficar ainda melhor com o tempo.

– Mas , eu nem sei o que falar! – quase berrou, andando de um lado ao outro.
A garota havia finalmente chegado e todos seus amigos já estavam comprando seus ingressos para o cinema, enquanto ela e compravam a comida e as bebidas.
– Relaxa mulher – falou com a boca cheia de pipoca, cuspindo metade para fora – Ele provavelmente já deve até ter feito um textinho na casa dele e decorado pra falar pra você.
chamou a amiga rapidamente, apontando para a própria boca.
– Anh?
– A boca...
– Que tem sua boca?
– Ai cacete, sua boca tá suja! – berrou, a tempo de se virar antes que , , e Kim se aproximassem – Anh, oi gente!
– O que a tá fazendo? – perguntou, ignorando que pareceu ficar ofendida com aquilo.
– Anh – virou-se de frente para os amigos, sorrindo sem graça – Nada não.
– Cadê o ? – perguntou, após levar um cutucão da amiga para ajudá-la a disfarçar.
– Disse que precisava ir numa loja aí – deu de ombros – Ele volta antes do filme começar.
apenas balançava a cabeça em afirmação freneticamente como se estivesse interessada, olhando disfarçadamente para seu espelhinho, checando se sua boca ainda estava suja.
– Gente, que filme nós vamos assistir? – berrou de longe, chamando a atenção de todo shopping.
– Romance!
– Terror!
– Comédia!
– Ação!
– Tá bom – Ele apenas levantou o dedão, como se tivesse entendido – Moça, tem algum filme tipo comédia romântica, mas que seja assustador e tenha muita ação? – Sorriu como um bobo.

– Não acredito que vamos assistir Jogos Mortais! – reclamou, fazendo careta enquanto encarava de seu ingresso em sua mão até o pôster do filme na entrada do cinema.
– O que tem de romântico nisso?! – soltou em um berro completamente agudo.
– Nada, por isso é legal – riu, espalmando a mão de no ar, como se comemorassem – A não ser que você não goste, chuchu – Ele puxou Kim para si mesmo, vendo-a rir e corar – Aí nós trocamos sem problemas.
– Eu não sou muito fã de filme de terror, mas eu assisto sem problemas – Kim sorriu.
– Que bom, porque a gente não ia trocar MESMO, sabe? Eu adoro filmes de terror e tava louquinha pra assistir Jogos Mortais! – retrucou, lançando olhares mortais de Kim para , que eram os únicos que pareciam não perceber.
– Mas você acabou de falar que queria de romance e... – começou, sem entender, mas logo foi cortado pela garota irritada que já puxava , dizendo que queria ir ao banheiro.
– Esquenta não, ela só tá de mal-humor – respondeu, rindo da cara que havia feito como se perguntasse mentalmente se havia feito algo errado. Viu Kim apenas rir e beijar a bochecha do menino; parecia tão simpática. Não era o ciúmes e o orgulho de que iam lhe impedir de conhecer uma nova amiga. – Anh, Kim? – chamou, vendo a menina olhar até que um tanto surpresa – Você pode me ajudar com as pipocas aqui? Eu só tenho duas mãos e elas não agüentam a quantidade de comida que esses garotos consomem – riu.
– Ah, eu sei como é – Kim riu também, olhando para que se fingiu de desentendido – Ajudo sim.
apenas ficou encarando toda aquela cena, procurando encontrar o olhar da amiga para uma explicação. apenas lhe deu um forte cutucão que a ‘jogou’ do lado de . Em seguida, lançou um olhar significativo para e , que pareceram entender. Bom, pelo menos.
, chega aqui cara – Disfarçou, fazendo um sinal com a cabeça para que o amigo o seguisse – Vamos comprar... chiclete.
– Por quê? Meu hálito tá ruim, é? – Perguntou, tentando cheirar o próprio hálito.
– Não, é que eu quero chiclete, ! – insistiu, lançando olhares tão ‘significativos’ para que até e entenderam, deixando-os extremamente corados.
– Mas eu tenho chiclete aqui e...
nem teve a oportunidade de terminar a frase. havia o puxado pela manga da blusa e o arrastado para uma lojinha distante do cinema. Kim e foram para a lanchonete ao lado, deixando o casal finalmente sozinho. Ouviram de longe o berro de que havia finalmente entendido o que se passava, deduzindo que havia lhe contando. Riram ao ver receber um tapa do amigo.
– Me lembre como e porque você está saindo com o novamente, por favor, Kim – brincou, fazendo a menina rir.
– Ah, ele é tão fofo – Kim deu de ombros, sorrindo ao observar o garoto de longe – Faz tempo que vocês se conhecem?
– Na verdade, mais ou menos... – olhava da menina em sua frente até e , que ainda conversavam. Parecia ansiosa por eles. – O apresentou a gente há algum tempo, mas nunca nos falamos muito bem. Na verdade, nunca saímos assim... Todos juntos. – riu, dando de ombros.
– Você e o são muito amigos, né? – Ela perguntou, olhando também para e ao ver que a amiga os observava – O me contou algumas coisas.
– Somos sim – sorriu, olhando novamente para . Realmente eram muito amigos. Melhores amigos, e há tanto tempo. – Mas então... – ela pigarreou, acordando de seu sonho de ‘flashbacks’ que tivera por alguns minutos – Você e o se conhecem faz tempo também?
– Aham – Kim balançou a cabeça em afirmação, pausando para tomar um gole de sua coca – Conheço ele desde que éramos crianças, na verdade. Nossas famílias eram super amigas, mas aí os se mudaram pra cá... E a gente veio fazer uma visitinha, e o disse que ia me mostrar a cidade. – riu baixinho, envergonhada. – Aí ele finalmente tomou coragem e me chamou pra sair.
– Mostrar a cidade? – perguntou, confusa ao ver a menina concordar com mais um aceno de cabeça – Você não é daqui de Londres?
– Não, eu sou de Bolton – Ela sorriu – O morou lá por muito tempo também...
– Olha, agora que me lembro – pareceu parar alguns segundos para pensar, rindo consigo mesma – Quando a gente brincava de ‘Stop’, o sempre colocava Bolton em cidades, até quando a letra não começava com ‘B’! – riram – Ele sempre dizia que Bolton é a melhor cidade do mundo!
– Então vocês eram bem amigos também?
– Ah, mais ou menos... Isso já foi há um tempo atrás. – Suspirou, pensando em como tudo era tão mais fácil e divertido naquela época – Depois a gente perdeu um pouco de contato. – deu de ombros.
As duas ficaram em silêncio por algum tempo, esperando a atendente trazer o resto das pipocas. Kim não tirava a boca de seu canudo, tomando a coca, e não parava de olhar para e .
– Quanto tempo você vai ficar aqui? – perguntou, finalmente cortando aquele silêncio horrível entre elas. Odiava aquilo.
– Esse na verdade é meu último dia... – Kim respondeu, parecendo triste – Volto pra Bolton à noite.
– Já? – sentiu pena da menina – Garanto que o não te mostrou nem metade de Londres! Do jeito que ele é...
– Tudo bem – A garota riu baixinho, dando de ombros – Eu volto pra cá mês que vem, acho.
– Ah, então quando você voltar, liga pra gente combinar de sair! – Sorriu ao ver Kim também sorrindo abertamente – Anh, aqui oh... – escreveu algo em um pedaço de papel – Meu MSN!
– Ah, obrigada – Kim apanhou o papel completamente feliz e sorridente, guardando-o no bolso da calça jeans – O não me disse que tinha amigas tão legais.
– Acho que foi porque ele esqueceu de falar sobre mim então – brincou, rindo com sua nova amiga. Disfarçaram quando viram e se aproximarem delas.
– Olá, as gatinhas tem telefone? – engrossou a voz, tentando parecer ‘sexy’.
– Hey o chamou, batendo de leve em sua cabeça – Vê se tenta não fazer cagada pela primeira vez na sua vida com a primeira garota legal que você arranjou!
apenas concordou com um leve e envergonhado aceno de cabeça, corando. Kim riu e apertou as bochechas do garoto, lhe dando um selinho estalado e puxando-o pelo corredor. apenas os seguiu com o olhar, rindo e pensando em como queria aquilo para ela também. ‘É só esperar o momento certo’, pensou consigo mesma, sorrindo involuntariamente ao se lembrar de Don.
– All my loving I will send to you; all my loving, darling I'll be true...
virou a cabeça rapidamente ao ouvir aquilo. Sentiu até seu coração bater mais rápido.
– Te assustei? – riu baixinho ao ver a cara assustada da menina – Só estava cantando...
– Eu… eu percebi. – Ela riu também, mais para si mesma – É só que... ah, esquece.
– Ah não, pode contando agora! – Ele jogou uma pipoca no rosto dela, fazendo-a rir e jogar uma mão inteira cheia de pipoca de volta na cara dele. – Hey, isso não é justo!
– Você que começou! – berrou enquanto ria, pulando sobre o garoto e enfiando uma única pipoca em sua boca – Nem devia ter mexido comigo, !
– Ah é? – Nisso, repentinamente agarrou as duas pernas da menina e a levantou no ar, carregando-a de ponta cabeça sobre os ombros como se fosse um objeto. – Digo o mesmo, !
, me põe no chãaaaaaaaaaao! – Berrava, sentindo a barriga doer de tanto rir e por estar apoiada com força sobre os braços dele, enquanto socava suas costas – Eu vou cair, sua besta!
– Pede desculpas! – Ele berrou de volta, girando no mesmo lugar e fazendo soltar mais gritos enquanto segurava em seu pescoço para não cair.
– Não! – Ela estirou a língua – Nunca vou me entregar ao meu inimigo!
– Tem certeza disso? – soltou os braços que mantinha a garota em cima de si, deixando-a quase cair no chão. Antes que isso acontecesse, voltou a segurá-la rapidamente.
! – Berrou ainda mais alto, agora com todos ao redor olhando para eles – CUIDADO!
– Vai pedir desculpas? – Voltou a perguntar, rindo ao que retirou os braços ao redor dela novamente quando a ouviu começar a falar algo muito parecido com um ‘não’.
– Tá bom, tá bom! – Se rendeu, balançando as pernas freneticamente enquanto não conseguia parar de rir – Desculpas, desculpas, descuuulpas! Agora me solta pelo amor de deus, !
– ‘Me desculpe meu amor, querido amigo mais lindo de todos’ – falou, rindo alto.
– Aí você já tá exagerando, vai!
– Que bom que você não tem medo de altura, – Provocou, fingindo que iria soltá-la de uma vez.
– AAAH ME DESCULPE MEU AMOR QUERIDO AMIGO MAIS LINDO DE TODOS! – falou extremamente rápido em um berro.
– Agora sim! – sorriu, vitorioso, finalmente colocando-a no chão.
nem sentia mais as bochechas de tão vermelhas que estavam, sem conseguir parar de rir. Nunca havia sido tão próxima do garoto assim e nem sabia como de repente haviam ficado, mas sabia que estava gostando. Assim, sem ver, apanhou o balde de pipoca que estava no balcão atrás de si.
– Você vai ver agora, !
Ao se virar, começou a rir e correr ao mesmo tempo. correu atrás dele, e até continuaria, se não fosse por outra coisa lhe chamar atenção. O garoto continuou correndo agora ao redor dela, enquanto ela permanecia parada, sem tirar os olhos de onde prestava tanta atenção.
– Vem me pegar, então! Vamos, tô esperando! – berrava, rodando e fazendo caretas para – Parada aí você não vai conseguir nada e...
nem conseguiu parar de falar, cortado apenas pela mão da menina que lhe agarrou a camisa e o puxou. Ficou a encarando, sem entender, mas ela não olhava para ele. De repente, segurou seu rosto e o virou para a mesma direção onde olhava, e logo entendeu.
– ELES TÃO SE BEIJAAAAANDO! – berrou, como se anunciasse para o shopping inteiro. Sem perceber exatamente o que fazia, pulou novamente sobre e começou a lhe beijar as bochechas. Nem via que o garoto corava que chegava a cor vermelha de sua blusa. – ELES SE BEIJARAAAM!
Ao que parou, encarando , viu o quão próximo seus rostos estavam. Sentiu seu rosto queimar ainda mais, mas nem fez menção de se distanciar. Parecia completamente hipnotizada pelos olhos azuis do garoto. Aqueles olhos... Conhecia aquele olhar, tinha que certeza que conhecia. Mas não poderia ser. Ou poderia?
– QUEM SE BEIJOU? – Ouviram um berro atrás deles, e em um ato extremamente rápido, praticamente pulou fora do colo de , que antes a carregava. – QUEM SE BEIJOOOOU?
– Ai , fala mais baixo! – a repreendeu, revirando os olhos. Continuava emburrada.
ouviu suas amigas se aproximarem, mas ainda continuava olhando nos mesmos olhos azuis tão familiares, que naquele momento estavam bem em sua frente. Várias coisas passavam em sua cabeça.
, acorda! – a chacoalhou, dando pulinhos no lugar – Quem se beijou?
– Anh, como? – A garota acordou de um transe, trocando olhares completamente envergonhados e sem graça com . Ambos coravam cada vez mais.
– É que ninguém ouviu você berrando ‘ELES SE BEIJARAM!’, sabe ... – comentou, agora parecendo acordar a amiga de uma vez.
– Aii ! – berrou, sem deixar responder – Ali oh! – Apontou para e , que agora estavam abraçados e trocavam sussurros e risos. – QUE LINDOOOOOO!
Pela primeira vez no dia, pareceu feliz e começou a comemorar com pulinhos e berrinhos com . Gostou de ver suas amigas esquecerem sobre aquela idiotice dos garotos serem os ‘losers’.
– Ai, cala a boca, ! Eles tão vindo! – repreendeu a amiga, batendo em sua mão que antes balançava freneticamente no ar. As duas seguraram as risadinhas quando o casal se aproximou.
– Anh, gente – começou, pigarreando ao ver que sua voz havia falhado. Perceberam que ele e trocavam olhares constantemente. – O filme vai começar... Vamos?
– Mas o nem chegou ainda! – agora parecia chateada.
– Ah, ele acha a gente! – deu de ombros, puxando a mão da amiga e a guiando para dentro do cinema.
Kim e já entregavam seus ingressos para o homem em frente à porta também, e em seguida andou até os amigos, seguida de . Ambos tentando disfarçar o que acontecera, sem saber que todos já sabiam. apenas ficou parada no mesmo lugar.
– V-você não vem, ? – perguntou, corando ao se ver gaguejar.
– Vai na frente, eu já tô indo – Disfarçou.
apenas concordou em um aceno de cabeça, observando atentamente a garota antes de se virar. o seguiu com o olhar até vê-lo sumir dentro das portas imensas do cinema. Apenas ficou ali, encarando o mesmo ponto vazio, sem se mexer ou dizer nada. Não conseguia tirar da cabeça o quanto o olhar de lembrava o de Don... Por mais que achasse besteira, a semelhança era incrível. Sabia que não era ele, que aquilo era impossível e que estava provavelmente louca.
Com isso, apenas respirou profundamente, fechando os olhos por alguns segundos, como se quisesse tomar coragem ou esquecer algo. Finalmente se dirigiu à porta e entrou no cinema atrás dos amigos.


Cap. 9

<3 Cinderella says:
pára de frescura, raissa!

(: _ HYPERLINK "http://www.jamesbourne.com.br" __www.jamesbourne.com.br_ says:
não eh frescura, oh ‘cinderella’ lol

<3 Cinderella says:
¬¬

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minha mãe quer q eu ajude ela a fazer compras

(: _ HYPERLINK "http://www.jamesbourne.com.br" __www.jamesbourne.com.br_ says:
ew.

<3 Cinderella says:
Lol

<3 Cinderella says:
vc pelo menos ligou pras meninas?

(: _ HYPERLINK "http://www.jamesbourne.com.br" __www.jamesbourne.com.br_ says:
liguei! a não vai poder ir tbm, mas a disse pra vc ligar pra ela!

<3 Cinderella says:
vc não vai mesmo então?

(: _ HYPERLINK "http://www.jamesbourne.com.br" __www.jamesbourne.com.br_ says:
não dá :(

<3 Cinderella says:
ah...

<3 Cinderella says:
mas o vai ficar chateado, tadinho! hihihi.

<3 Cinderella says:
(6)

(: _ HYPERLINK "http://www.jamesbourne.com.br" __www.jamesbourne.com.br_ says:
cala a boca, .

<3 Cinderella says:
grossa

(: _ HYPERLINK "http://www.jamesbourne.com.br" __www.jamesbourne.com.br_ says:
troxa

<3 Cinderella says:
idiota

(: _ HYPERLINK "http://www.jamesbourne.com.br" __www.jamesbourne.com.br_ says:
retardada

<3 Cinderella says:
te amo.

(: _ HYPERLINK "http://www.jamesbourne.com.br" __www.jamesbourne.com.br_ says:
tbm te amo.
me liga depois, senão vc morre!
beijo, oh cinderella (6)

(: _ HYPERLINK "http://www.jamesbourne.com.br" __www.jamesbourne.com.br_ parece estar offline. As mensagens enviadas serão entregues quando esse contato entrar.

chutou o botão do computador e se jogou na cama. Ficou em silêncio por alguns minutos, pensativa. Olhou para todos seus pôsteres, como se eles tivessem a solução para todos seus problemas.
– Não me olhe com essa cara, James! – disse de repente, conversando com a foto de James Bourne, vocalista e guitarrista de uma de suas bandas favoritas, o Busted. – Eu sei que eu não falei com ele ainda, mas... – A garota bufou, dando a língua para a imagem de seu ídolo na parede, que obviamente mantinha a mesma pose: cara de bobo, os cabelos bicolores bagunçados, o sorriso no rosto e o dedão levantado, em um ‘jóia!’ – Ai, não sei quem é mais demente: eu conversando com um pôster ou você com essa cara de idiota! – Continuou olhando a imensa foto da parede – Tá, idiota mas fofo.
riu com o próprio comentário, mandando beijinhos para o pôster de James. Em seguida apanhou o telefone sobre o criado-mudo e apertou o botão ‘ON’. Encarou o objeto, ouvindo o barulhinho irritante e interminável que emitia constantemente. Tomou então coragem e discou o número tão conhecido.
– Alô? – Uma voz rouca e grossa atendeu. Parecia sonolento.
?
– Anh?
– É, uhm... – Mordeu o lábio inferior – É a .
– Ah, oi – A voz parecia ter acordado.
– Tu-tudo bom? – Gaguejou. ‘Porque eu to tão nervosa, porra?’, brigou consigo mesma.
– Anh... tudo?
– Que bom...
Um silêncio extremamente constrangedor tomou conta deles. apenas ouvia a respiração leve e alguns bocejos que deixava soltar. Resolveu tomar coragem; não iria deixar as coisas assim.
– Gostou de ontem?
– Ah, gostei...
– E você e a ?
– Que tem?
– Bom... O que deu lá? Vocês... conversaram?
– Aham.
– Sobre o que?
– Ah, nada demais...
– Uhm.
Novamente o silêncio que tanto odiava. Aquilo estava começando a irritá-la.
– Não quer me contar nada?
– Sei lá.
– ‘Sei lá’? – Repetiu, começando a ficar nervosa. parecia nem ligar.
– O que você quer que eu conte, ué?
Pronto. Não precisou de mais nada para que perdesse a paciência.
– Ai , cacete! Qual o seu problema?!
– MEU problema?
– Não, o da minha vó! Ah, desculpa, o problema dela eu já sei que é lepra. Agora falta saber o seu! Problemas mentais? Psicológicos? TPM constante? Pode escolher.
– Ah, eu que tenho esses problemas agora?
– Sempre teve.
– EU? Você que briga comigo do NADA no shopping e depois eu que tenho os problemas mentais e psicológicos da vida? E a TPM constante? Essa foi ótima, porque eu juro que desse problema é você quem sofre!
– Pois se você sabe que eu sofro de TPM constante, porque insiste em me irritar?
– Te irritar? Eu só perguntei o que você tinha pra eu te ajudar!
– Mas... Mas...
– Viu, não tem nem desculpa!
– Tenho sim!
– Então fala, vai!
– Eu tava irritada por causa do negócio do Don, falou?
– E porque descontar em alguém que tava tentando te AJUDAR?
– Porque na hora você foi o único que tava falando comigo e... eu me descontrolei, cacete!
– Ah lógico, comigo você estoura. Agora com o você fica só brincando, né? Todo amiguinho!
– Que foi? Tá com ciúmes, é?
– Não, eu só quero saber porque com ele você não se ‘descontrola’!
– Porque quando ele veio falar comigo eu já tava mais calma!
– É, e eu que se foda, né?
– Não é verdade, !
– Tá bom então...
– Se eu tivesse pouco me fodendo pra você, não estaria te ligando pra pedir desculpas!
– Você ainda nem pediu desculpas...
Os dois ficaram em silêncio mais uma vez, mas desta vez não irritou nem nada do tipo. Apenas lhe fez se sentir mal por ter brigado com seu melhor amigo; odiava aquilo. E o pior de tudo era que sabia que estava errada, mas seu orgulho sempre atrapalhava.
– E então, não vai pedir as desculpas, ué? – Ele cortou o silêncio; a voz chorosa.
– Desculpa, – Disse entre lágrimas.
– Tudo bem, pequena. – Ao ouvir seu amigo falando aquilo e em seguida rindo, simplesmente abriu um sorriso involuntário. Era incrível como ele conseguia fazer seu dia ficar sempre melhor.
Ela enxugou sem delicadeza alguma os olhos marejados, envergonhada por ter que ouvi-la com a voz chorosa.
– Agora me conta, vai – Ele voltou a cortar o silêncio – Sua vó tem lepra mesmo?
– Tonto! – Riu, sentindo um grande peso aliviar de sua consciência – O que você vai fazer hoje?
– Vou ignorar que você não respondeu à minha pergunta – O garoto brincou, arrancando mais risadas da amiga – Eu vou ensaiar com os caras aqui. Quer vir?
– Não sei...
– Larga de ser metida! Você já não tá toda amiguinha do ?
– Ih, ciumento – Brincou, provavelmente imaginando que ele deveria estar mostrando a língua para o telefone e riu com isso – Não é por isso, você sabe que eu sempre quis ver vocês ensaiando! Tantos anos de banda e eu nunca vi vocês tocando... Mas é que eu acho que a quer sair também.
– Ué, traz ela.
– A ? Com o ? – riu ironicamente – Você quer que sua casa vire um ringue, né?
– Ai cara, o que ela tem contra o ? Sério, é só porque ele é um pouco retardado? Porque ela se acostuma, juro. A gente se acostumou...
– Eu não acho que seja por isso não – Falou num tom provocativo, ainda rindo pelo que havia falado de .
– Porque então?
– Pra mim tá mais pra amor, viu!
– SÉRIO?
– Se você falar alguma coisa pra ela, você morre duas vezes, !
– Mas como eu posso morrer duas vezes?
– Bom, a primeira vez a que vai te matar por falar tal coisa pra ela, e a segunda vai ser eu te ressuscitando só pra te matar de novo por ter contado!
– Ah sim – riu – Mas cara, como isso? COMO?
– Como o que?
– Um idiota que nem o conseguir tantas garotas!
– Ele é demente, , mas é bonitinho.
– Você acha o bonito? – O garoto riu alto, como se tivesse ouvido a piada mais engraçada do mundo – Daqui a pouco você vai falar que acha o super ‘gatinho’! – riu mais alto ainda.
– Ué, mas o é gato – Ela respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, rindo ao ver o amigo se calar.
– Vocês garotas tem problemas...
– Relaxa, a ainda te acha bonito, . – provocou.
– A única que tem bom gosto, se quiser saber!
– Metido!
– Não é metido, ... É questão de bom senso!
– Ah, desculpe então, hein gatão!
– Está desculpada.
Eles riram e ficaram mais algum tempo em silêncio.
– E então, você vem ou não?
– Pro ensaio?
– Não, lá pro puteiro. Não te avisei que eu e os caras vamos sempre lá?
– Que nojo, !
– Mas é lógico que é pro ensaio, ! Você está andando demais com o e o ...
– Chato – Ela deu a língua pro telefone, já que não poderia ver – Bom, eu tenho que ver com a .
– Então vê com ela e depois me manda mensagem, tá?
– Tá bom.
– Beijo, pequena.
– Hey! – Ela o chamou rapidamente, antes que desligasse.
– Diz.
– Brigada.
– Pelo que?
– Sei lá, só... Brigada.
– Bom – Ele riu baixinho para si mesmo – De nada então.
Ela riu também e ouviu o telefone fazer o mesmo barulho irritante de antes, sabendo então que havia ido. Desligou o telefone e o jogou sobre a cama, enquanto levantava da mesma. Agora, apanhou o celular.

Em frente de casa daqui a 15 minutos. Esteja aqui, biatch!
Te amo.


Digitou rapidamente e enviou para , jogando o celular na cama também. Assim que se virou para entrar no banheiro, ouviu um barulho. ‘Que rápida!’, pensou rindo consigo mesma ao ver que havia recebido uma mensagem. Apanhou o celular de volta, pensando que se houvesse recusado o convite ou algo do tipo, ela estaria morta. Levou um susto ao ler as palavras da tela minúscula.

Saudades, <3
Recently I've been hopelessly reaching out for this girl, who's out of this world. Believe me.


Involuntariamente, um dos sorrisos mais sinceros e felizes surgiu no rosto de . Não esperava receber aquela mensagem, pelo menos não agora. Mas teve que admitir que aquilo simplesmente fez de seu dia melhor. Por mais que ainda não soubesse quem Don realmente era, faria de tudo para saber. Tinha que saber.
Voltou a jogar o celular na cama, pensando em respondê-lo mais tarde. Com isso, saiu saltitante para o banheiro, imaginando que mais nada nem ninguém poderia estragar seu dia.


Cap. 10

apertou o casaco contra o corpo, sentindo o frio do primeiro dia de inverno londrino. Trancou a porta de sua casa e guardou as chaves no bolso da calça; olhou para os lados. Ninguém.
Sabia que poderia chegar a qualquer momento, então apanhou o celular e sentou-se no meio fio da calçada.
Querido Don’. Não, espere aí. Querido Don? Por acaso ela estava escrevendo para seu diário? Apagou tudo e voltou a olhar para os lados. Ainda nenhum sinal da amiga.
– Vai, vamos lá – Murmurou para si mesma, como se estivesse se auto-encorajando.
Don, também estou com saudades’. Não, ainda não. Parecia que estava escrevendo uma carta à seu pai. Suspirou profundamente, quase em um bufo. Como Don conseguia lhe escrever mensagens tão simples e facilmente, ainda assim tão lindas?
– Finja que está escrevendo uma mensagem pro – Falou novamente consigo mesma, rindo enquanto imaginava Don ler algo semelhante ao que escrevia para seu amigo. – Tá, não exatamente igual assim...
Também to com saudades, my Don Juan <3 quando nós vamos nos ver? By the way, amei esse trecho; é de alguma música? :)
Finalmente, uma mensagem que prestasse.
– BU!
– AAAAAAAHH! – pulou com o susto, conseguindo fazer sua cabeça bater de encontro com a árvore ao seu lado – Dê graças a deus que eu já tinha enviado a mensagem, , senão você estaria morta! – Falou como se estivesse brava, mas ainda assim rindo, olhando da amiga que gargalhava até seu celular que havia ido parar no chão.
– Uuh, tava mandando mensagem pra quem? – Ouviu a amiga perguntar num tom provocativo, enquanto apanhava seu celular de volta e o limpava.
– Ah, pro... – mentiu – Dizendo que vamos chegar atrasadas porque alguém é uma noiva, né? – Brincou, rindo ao ver a menina fazer careta.
– E porque a gente vai no ensaio deles, hein? – perguntou, ao que ajudava a se levantar – Digo, o vai estar lá! E provavelmente vai levar aquela... Karen.
– Kim.
– Tanto faz – rolou os olhos, fazendo uma cara extremamente engraçada enquanto repetia o nome de Kim em uma voz irritante.
– Ela já foi embora, riu baixinho, puxando a amiga para que começassem a andar logo – Você vai ter o todinho pra você hoje, não se preocupe.
– Como se eu quisesse! – soltou em um berro agudo, como se estivesse extremamente ofendida.
apenas riu e voltou a puxá-la. As duas seguiram o curto caminho para a casa de que ficava apenas a alguns quarteirões dali.

Tirilim.
– Cacete , você não tá parando com esse celular hoje! – reclamou ao ver o amigo mexer em seu celular pela vigésima vez em menos de dez minutos.
– Hey, da primeira vez era a minha mãe me ligando, tá! Ela só queria saber se eu não tinha esquecido minha escova de dente e minhas cuecas... – falou na tentativa de se defender e acabou fazendo os amigos rirem – Ah, qual é, ela tá preocupada porque eu vou dormir aqui na casa do hoje! – Ele tentou consertar, mas viu que apenas havia piorado a situação, uma vez que os outros riram ainda mais e apertavam suas bochechas, chamando-o de ‘bebezinho da mamãe’.
– E as mensagens eram pra mamãe também? – perguntou, imitando uma voz de uma mãe que falava com seu bebê de três anos.
– Não! – berrou, fazendo careta e murmurando xingamentos para os amigos – Se vocês querem saber, eu tava mandando mensagem pra uma garota, e ela acabou de me responder!
– Uuuuuh – Os outros três falaram em um uníssono, provocando-o.
– Que garota? – perguntou sorridente, enquanto brincava com uma das guitarras.
– Ah, uma garota aí – deu de ombros, já corado e pensando em como fora idiota por ter falado sobre a tal garota – Conheci no baile. Nada demais. – tentou disfarçar – Agora com licença que eu vou respondê-la.
se afastou um pouco dos amigos enquanto os ouvia fazer barulhinhos engraçados e provocativos com a boca. Mesmo que rindo disso, ignorou-os e parou no canto da parede; o celular já em mãos.
A cada palavra que lia, os olhos brilhavam e o sorriso de orelha a orelha se abria cada vez mais, num ato involuntário. Ao terminar, sentiu os dedos apertarem cada tecla do celular com rapidez e ansiedade.
Gostou, é? Foi uma música que eu escrevi especialmente pra você :)
Ficou encarando a tela, como se esperasse coragem para mandar a mensagem. O dedo bem em cima do botão ‘enviar’. Agora faltava só apertá-lo.
– Chegamos!
Apertou.
– Não! – sem querer soltou. Havia enviado a mensagem para no mesmo tempo em que via a mesma bem ali, parada na porta na garagem de , junto de sua amiga.
– Obrigada por demonstrar tamanha felicidade em nos ver, – A garota ironizou, indo cumprimentá-lo.
– N-não é isso – Foi tudo o que conseguiu dizer, sendo que havia o cumprimentado com um beijo na bochecha, que agora tinha certeza de que aquele mesmo local estava extremamente vermelho.
– Porque demoraram tanto? – perguntou, enquanto o agradecida mentalmente.
– Porque você acha? – A menina apontou ‘discretamente’ com a cabeça em direção à , rindo em seguida ao levar um tapa da mesma.
– Bom, pelo menos a gente avisou você que iríamos nos atrasar, respondeu um tanto irritada enquanto lançava um olhar mortal em direção à , que obviamente não entendeu.
– Avisaram? – perguntou como se estivesse inseguro da resposta.
– É, sobre isso... , esq...
– Avisamos! – cortou a amiga – Bom, pelo menos a sim... Ela te mandou mensagem no celular dizendo que a gente ia chegar atrasada, ué.
– Mandou, é? – voltou a perguntar, agora mais confuso do que inseguro.
, deixa pra...
– Credo , você por acaso tem amnésia ou algo do tipo? – , antes de esperar pela resposta do garoto, apanhou o celular do mesmo que estava sobre a mesinha de centro. Começou a mexer no aparelho enquanto se desviava das mãos de . – Você deve ter a mensagem aqui, oh...
– Mas eu não recebi nenhuma mensagem! – se justificou, ajudando a amiga a tirar seu celular das mãos de . E se ela lesse alguma mensagem muito... particular?
– Olha , e não é que o realmente não recebeu nenhuma mensagem? Só tem umas aqui de alguma tal de... Ga... Gas... Gasparzinho?
– Gasparzinho? – repetiu, segurando a risada e olhando para como se esperasse uma explicação, mas via que a única coisa que o garoto fazia era corar e tentar pegar seu celular.
– Me... Dá... Isso... AQUI! – Finalmente havia conseguido apanhar o aparelho das mãos das duas meninas que brincavam de jogar o celular de um lado para o outro para irritá-lo. – Não recebi nenhuma mensagem sua não, . – ele voltou a falar, sério, enquanto ajeitava as roupas.
– Ui ui, a princesinha ficou estressadinha! – brincou, rindo junto de todos na sala ao ver o garoto ficar com as bochechas cada vez mais vermelhas – Vamos chamar a Gasparzinho pra ele, gente?
– Nome criativo pra uma amante, . ‘Gasparzinho’... – ria cada vez mais – Essa é nova até mesmo pra você e...
não teve tempo de terminar sua frase antes de ser interrompida por um barulho alto e estridente. Ao mesmo tempo, sentiu sua bunda vibrar. Calma, era apenas o celular.
– Quem é? – perguntou, inclinando-se no ombro da amiga que mexia no aparelho e já até se esquecendo o quanto era legal zoar .
– Anh, ninguém – Ela disse sem pensar, sorrindo involuntariamente e nem ligando para o resto dos amigos ali. Começou a andar para algum lugar da sala que nem mesmo ela sabia para onde ia. – Já volto, gente, vou responder o... ninguém – riu baixinho, sem tirar os olhos do celular.
– Hein?
– NÃO! – apenas pulou com o susto, acordando de seu transe. Assim como ela, todos os outros se viraram para onde o berro havia vindo. – Anh, digo... – recomeçou, corando sob os olhares dos amigos nele – Res-responde depois, . V-você não vai ver nosso ensaio? A gente já vai começar!
– Vamos, é? – perguntou, completamente perdido, como se nem estivesse ali nos últimos minutos.
– Vamos! – respondeu por , e o garoto agradeceu mentalmente o amigo – A gente já enrolou demais! E você deixa pra responder seu Don Juan depois, !
– Credo, acho que você realmente precisa da tal Gasparzinho, hein? – Ela ironizou, mas ao ver a cara do amigo, apenas levantou as mãos para o alto e fez-se de inocente – Tá bom, estresse, tá bom!
Enquanto as duas únicas garotas se sentavam no sofá velho e rasgado da garagem da casa de , os meninos se posicionaram. Todos já com seus respectivos instrumentos. Mas nenhum deles fez nada.
– Seria legal se vocês começassem a tocar, sabe – comentou num tom completamente irônico, rindo com a amiga.
– Engraçadinha – deu a língua, mas também rindo – Estamos pensando.
– Oh God, isso vai demorar! – Agora foi a vez de .
– Então, dudes – começou, ignorando os comentários das meninas e praticamente fingindo que elas nem estavam ali – Por que música vamos começar hoje? Saturday Night?
– Ah não, a gente já tocou tanto essa música que eu até... Bem, eu até já decorei ela, cara! – falou como se fosse algo muito óbvio. Os outros apenas riram da cara que o mesmo havia feito.
– Então que tal tocarmos aquela sua nova, ? – perguntou, apontando para o amigo que sentiu os olhos se arregalarem automaticamente.
– Uuh, então quer dizer que o escreve músicas? – brincou, num tom provocador.
– N-não, que isso! – engoliu a seco – , cala a boc...
– Que humildade, riu, piscando para as meninas – Sua música é tão tocante e inspiradora. E eu sei que você a escreveu pensando em mim, amor! Por favor, toque-a para mim!
– Cala a boca, falou entre os dentes, sentindo as bochechas queimarem.
– Vai, vamos lá, o encorajou – Precisamos de músicas novas de qualquer jeito! – Nesse momento, escreveu um pequeno lembrete mental em não agradecer mais pelas outras vezes que o amigo havia o ‘salvado’ sem mesmo saber. Ele não estava ajudando muito agora. – E da primeira vez que a gente tocou sua música, saiu bem legal. Vai, eu voto nela! – levantou o próprio braço, olhando para os amigos – Quem mais?
sentiu vontade de socar cada pessoa daquela sala, uma vez que todos levantaram a mão junto de . Bom, a única pessoa que não queria socar era , obviamente.
– Vai , por mim! – falou em um tom de voz provocador e meigo, brincando com o garoto. O que ela não sabia era que ela realmente brincava com ele. Com ele e com seus sentimentos.
– Depois dessa não tem como negar, hein garanhão – brincou, dando fortes cotoveladas significantes em , que apenas tinha forças para soltar gemidos inaudíveis de dor com a boca.
– Pronto, então é essa mesmo! – disse de repente, como se estivesse realmente decidido e até mesmo houvesse dado permissão. O problema era que ele não dera.
– Eba! – bateu uma mão contra a outra, em leves palminhas, enquanto sorria – Agora diz aí, , como que a música chama?
– Anh... – precisou de algum tempo para responder àquela pergunta. Ainda tentava tomar o máximo de coragem que podia. – A música se chama... ‘Obviously’.
– Uh, ‘obviously’... Gostei. – sorriu, trocando comentários animados com a amiga ao seu lado.
– Então podemos começar? – perguntou, e todos confirmaram em um aceno de cabeça, menos – Um, dois, trê...
– Anh, gente? – A contagem foi interrompida pela voz receosa de ao microfone – Será que podemos pular o primeiro verso da música?
– Porque? – perguntou confuso, entreolhando-se com os outros membros da banda.
– Porque... – parou para pensar – Eu não gostei muito, quero mudar – foi a primeira e única desculpa que conseguiu inventar para uma resposta imediata.
– Ai , relaxa – revirou os olhos – Tá ótimo, vamos deixar assim!
abriu a boca para falar mais alguma coisa, mas foi interrompido pelo integrante da banda que voltou a fazer a contagem. Nisso, a guitarra começou a ser tocada, numa melodia calma e gostosa.
– Recently I’ve been...
– La la la laaaaaa – cantou por cima, abafando a voz do cantor da banda.
! – Os três garotos gritaram em um uníssono.
– Não gostaram? Eu achei que ficaria bom assim! – Inventou, sorrindo forçadamente.
– Dá pra você parar de ser mais esquisito do que o normal, pelo menos hoje? – falou já um tanto sem paciência, realmente sem entender porque o garoto agia daquele jeito. E não só ele que não entendia, o resto dos rapazes e as garotas também. – E vamos logo ao que interessa!
A contagem voltou a ser feita e o som da guitarra voltou a ser ouvido.

Recently I've been
hopelessly reaching


ouvia a cada palavra com muita atenção, e desde que a música havia começado a ser cantada, ela não pôde deixar de notar uma certa familiaridade com aquela letra. Onde já havia ouvido aquilo antes?
Balançou a cabeça na tentativa de espantar os pensamentos. Sabia que aquilo era impossível, uma vez que nunca havia ouvido uma única música da banda dos amigos, por mais que os conhecesse há tempos. Mas, por mais que tentasse, não conseguia parar de pensar em como sentia que conhecia pelo menos a letra.

Out for this girl,
who's out of this world.


Foi quando a ficha simplesmente lhe caiu: sabia sim que música era aquela.
Rapidamente, apanhou o celular do bolso traseiro e começou a apertar algumas teclas com muita velocidade. Ouviu falar algo para ela como para que a garota prestasse atenção, mas apenas o que fez foi ignorar tal comentário. Por algum motivo, sentia o coração acelerar cada vez mais.
Ali estava, finalmente. A mensagem. Apenas pressionou o botão com o dedo e leu as palavras na tela.

Believe me.

– DON?! – Foi a única coisa que conseguiu fazer que saísse de sua boca.
– Mas que saco! – bufou, ouvindo o barulho dos instrumentos desafinarem quando todos pararam de tocar subitamente. Jogou tudo que tinha em mãos no chão. – Quando todo mundo parar de ser esquisito, me chamem e eu volto pra gente continuar o ensaio. Vou jogar videogame!
– Desculpe gente, é que... – tentou consertar, levantando-se e puxando rapidamente o braço de e impedindo-o de deixar a sala – Eu... Vocês vão achar isso estranho e ridículo, mas... – a garota ficou em silêncio, corando ao ver todos os olhares impacientes sob ela. Passeou seus olhos por todos ali, e viu que, por algum motivo desconhecido por ela, era o único que não a encarava e nem parecia irritado pela interrupção. – Vocês por acaso não conhecem nenhum Don, conhecem? Da escola.
– Ah , você parou nosso ensaio pra perguntar sobre o seu Don Juan? – perguntou, agora realmente sem paciência alguma.
– É sério, ! – A garota o repreendeu em uma voz chorosa e corou ao perceber.
– Anh, vejamos... – falou, parando em uma pose estranha e olhando para o teto, como se pensasse – Don... Don. Don? Don! – Por um momento, ele pareceu ter lembrado de algo, nem percebendo o olhar esperançoso de sobre ele – Yeap, nenhum Don! Sorry.
sentiu todos os músculos, antes contraídos pela ansiedade, relaxarem, e uma boa parte de sua esperança se esvair. Voltou a passear os olhos pela sala, encarando como se ele tivesse a resposta. Mas a única coisa que o garoto fez foi dar de ombros e balançar a cabeça em sentido negativo. Passou o olhar direto por ; sabia que nem adiantaria perguntar para ele. Agora, seus olhos pousaram sobre o último dos garotos, mas o mesmo parecia tentar ignorar tudo e qualquer coisa daquela conversa.
– E você, ? – perguntou firmemente, ainda olhando para o garoto. Este, por sua vez, pareceu ter acordado de um transe falso, e fingiu-se de desentendido. – Você conhece algum Don?
– Don? – Ele perguntou para si mesmo, fingindo estar pensando – Não, nenhum Don. Desculpe .
viu agora toda a esperança que antes tinha sumir. Forçou um sorriso para os garotos e deu de ombros, murmurando quase um inaudível ‘deixa pra lá’.
– Vamos aproveitar então pra fazer um intervalo? – perguntou animado, acariciando sua própria barriga – Estou com fome! Muito trabalho me deixa faminto, sabe.
– Muito trabalho? – perguntou no tom mais sarcástico possível – A gente nem fez nada, !
– E você vai culpar o garoto por ter apetite de um cavalo, ? – brincou, acariciando a barriga de também, que agora fazia força para deixá-la enorme, como se estivesse grávido – Vai, vamos comer pizza!
e riram ao ouvir berrar um imenso ‘YAY!’ e sair saltitando para a cozinha, e seguiram o garoto aparentemente muito faminto. e não se moveram, apenas permaneceram intactos onde estavam, trocando olhares. lentamente seguiu os amigos, antes de ser parado por uma mão.
puxou o amigo, vendo a irritação estampada na cara dele. Sabia o quanto amava música, tocar e aquela banda, e também sabia que ele pensava que ela não estava o levando a sério. Mas não era isso, ele tinha que entender. – Me desculpa, eu não quis atrapalhar...
– Tudo bem – apenas deu de ombros, sorrindo fracamente. Não conseguia ficar bravo com a menina. – Só não gosto quando você fica se preocupando por garotos que nem mesmo gostam de você.
– Mas... O Don gosta de mim, . – falou em um murmúrio, sentindo o coração apertado.
, você sabe que eu te amo demais, não é? E que você, sendo uma irmã pra mim, eu me preocupo com você. – Ele apenas via a garota concordar com leves acenos de cabeça – Então, se esse idiota realmente gostasse de você, já teria se revelado apenas para querer passar mais tempo com você, e não ficar se escondendo! Não quero te magoar, só to falando isso porque não quero te ver mal depois por causa de um babaca desses, entendeu? – Ela apenas concordou mais uma vez com a cabeça, se esforçando ao máximo para abrir o maior sorriso que conseguia, o que realmente não era muito. sorriu de leve e beijou a testa da amiga. – Agora vamos lá comer pizza!
Nisso, o garoto se virou e passou pela mesma porta que os outros amigos já haviam ido. , por sua vez, não se moveu.

, que ainda continuava ali e que ouvira toda a conversa, sentiu uma pontada lhe atingir o estômago. Viu o desapontamento estampado ali no rosto da menina que mais gostava no mundo, e tudo por causa dele. Sabia que tudo o que dissera era verdade, ele era um verdadeiro babaca. Mas e agora, se ele mostrasse quem realmente é, poderia ganhar boas surras do garoto por causa do fizera e do que ainda continuava a fazer. Tinha que acabar com aquilo agora mesmo.
– Anh, ? – Chamou-a, fazendo com que a garotasse acordasse de mais um de seus transes.
– Ai, que ódio!
– Hein? – Ele se assustou com o que havia dito repentinamente – Ódio do que?
– Desses idiotas que acham que podem fazer a gente de otária!
– Q-que idiotas? – Sim, ele tinha quase certeza de que ela estava se referindo à Don... Digo, à ele.
– O DON! – Viu como ele tinha razão?
– M-mas porque? – Queria mais era se perguntar porque gaguejava que nem uma galinha botando ovo.
– PORQUE? – Ela berrava, deixando bem visível o verdadeiro ódio que comentara há segundos atrás – O garoto simplesmente me engana! Faz eu me apaixonar por ele, manda mensagens lindas, diz que a gente vai se encontrar logo, quando o “momento estiver certo”, – Ela fez aspas no ar – e até agora eu não vi NADA!
pareceu não ouvir nada além da primeira frase. Ele havia feito se apaixonar por ele? Bom, Don havia feito. Mas ele era Don, então conseqüentemente, ele também havia feito. Mas ela não sabia que ele era Don, e... Ah, aquilo realmente era muito confuso.
– V-você se apaixonou por ele, é? – Repetiu, mais para si mesmo, como se quisesse ter certeza.
– Bom, aparentemente sim. E eu não entendo o porquê, sabe? Tinha tantos garotos legais na festa, e alguns realmente até gostaram de mim! E sabe, tinha o Pete! O Pete, ele era tão fofo! Bonito, engraçado, simpático, e... Ele já foi da Marinha, cara! E ele nem era tão velho, só tinha o que? 20 anos?
– 23. – Ele de repente disse, como se a corrigisse, e não espantando apenas ela, mas a si mesmo. Pronto, agora já poderia ir contar à que ele não era o cara mais lerdo do mundo. Ele havia conseguido tomar seu lugar. – Digo... Hehe, brincadeirinha! – Nota mental um: calar a boca. Nota mental dois: aprender a inventar melhores desculpas.
– Que seja! Só sei que ele gostava de mim, cara. Ele na verdade gostava de mim e eu preferi um mentiroso que se chama DON!
sentia o estômago afundar com cada palavra de . Saber que ela estava se referindo realmente à ele e que se arrependia por não ter conhecido melhor o tal de Pete, que sabia quem era. Estava no bar perto dos dois quando eles conversavam, fazendo até dar uma ‘participação especial’ para o bartender da festa em sua música, Obviously.
Mas então, se odiava tanto ficar ali ouvindo a garota dizer tudo aquilo, porque simplesmente não lhe contava a verdade?
Pronto, era isso. Tinha que lhe contar quem realmente era.
– Chamou, quase gaguejando. – Sabe, sobre o Don... Eu preciso falar com você sobre ele e...
– Não, , por favor – Ela o interrompeu, jogando-se no sofá atrás de si – Eu realmente não preciso de outra pessoa me falando o quão babaca o Don é e que ele só me faz sofrer e blá blá blá. Isso agora parece bem claro pra mim, obrigada.
– N-não, não é isso!
– Antes eu achava que o só tinha... sei lá, ciúmes, talvez? Ou só estivesse sendo ele mesmo, sabe? Super protetor e tal. Mas agora eu entendo ele, eu realmente entendo. Meninos assim simplesmente não prestam!
– Mas , deixa eu só...
– Sabe, eu acho que se o Don estivesse bem aqui, nessa sala mesmo, e quisesse se ‘revelar’ pra mim, eu... Eu lhe quebraria a cara, isso que eu faria! E... e... – Ela bufou, agora apanhando o próprio celular e fazendo com que tivesse graves ataques dentro dele mesmo – E quer saber? Quer saber o que eu vou fazer?
– O-o-o qu... O que? – Gaguejar é uma coisa, aquilo já era demais.
– Vou ligar pra ele agora mesmo e dizer... E dizer o que ele está perdendo, isso sim! Sabe, tantos garotos no mundo e eu me preocupando por um retardado que não quer nem me ver e se sustenta por mensagens melosas e lindas e perfeitas e... – Ela parou de falar, provavelmente percebendo que estava elogiando até demais as tais mensagens de Don, sendo que queria ofendê-las – Anh, vou ligar logo!
– NÃO! – Droga, mas que mania de vomitar as palavras em alto tom e nas horas não muito certas.
, você realmente precisava parar de fazer isso – comentou após um leve pulo no sofá com o susto – E porque não? Ele é um idiota e eu faço questão em deixar ele saber disso!
, ele não deve ser tuuuudo isso que você fala também, vai... – O que ele estava fazendo? Querendo se auto-defender só porque a menina que mais amava no mundo estava o insultando sem saber que era ele mesmo ali? É, bem... Talvez seja realmente isso que estava fazendo.
, você nem o conhece e te garanto que, se você estivesse na mesma situação com alguma garota, ficaria tão irritado quanto eu!
– Mas , você já pensou se ele estiver apenas... Não sei, realmente querendo te proteger?
– Proteger do que, ? Ele por acaso é algum tipo de serial killer?
– Mas é lógico que não! – Ele corou ao ver a garota o encarando, provavelmente se perguntando o que o fazia ter tanta certeza daquilo – Digo, acho que não... – consertou.
– Sabe de uma coisa? Não interessa. Ele é um idiota e eu não vou mais perder um minuto do meu tempo falando sobre um idiota! Porque sabe, eu odeio idiotas. Eu realmente odeio idiotas!
Ah, ótimo. Agora ela o odiava.
– Ele não é um idiota, !
Ah, ainda mais ótimo: ele estava tendo vômitos verbais. Aliás, ótima hora para tê-los, realmente.
, você nem o conhece.
– Mas eu sei que ele não é um idiota, . Ele só deve gostar MUITO de você, ué! – Ok, ele poderia parar com esses vômitos verbais se quisesse, sabe.
– Se ele gostasse tanto assim de mim, ele apareceria e diria para mim em carne e osso, olhando nos meus olhos!
– Talvez você deveria pensar que ele provavelmente deve estar numa situação muito delicada também, sabe? Às vezes as coisas não são tão fáceis quanto queremos, ! Digo, o que o garoto iria dizer? Bater na sua porta e falar: ‘Hey, lembra de mim? Sou o mascarado que te beijou na festa e a fez se apaixonar por mim!’
Yeap, agora era oficial: ele era o garoto mais estúpido que existia no planeta. Nem faria algo tão idiota assim.
Os dois entraram num completo silêncio naquele momento, que não ajudou em nada. Ele respirava ofegante e com dificuldade por causa dos berros, enquanto encarava agora uma irritada e desnorteada, agora também em pé devido à briga.
– Como você sabia que ele me beijou na festa? – Ótimo, agora tudo estava perfeito. Ele tinha melhorado toda situação, realmente. – E porque você tá defendendo ele tanto assim se você nem o conhece?
– P-p-p-por... porque... – E lá ia a galinha botando ovo tomando conta da voz dele novamente.
De repente, apenas arregalou os olhos e escancarou a boca, olhando diretamente para . Ele, no momento em que viu aquilo, teve a certeza de que era aquilo. Ela agora sabia a verdade. Mas não sabia se ficava feliz ou desesperada por isso. Desde o dia da festa, tudo o que mais queria era contar à garota quem realmente era, e aquilo finalmente estava acontecendo. Não do jeito que queria, mas estava acontecendo. Por outro lado, ela agora o odiava e tinha dito que adoraria socar o verdadeiro Don. Fora que tinha ... Ele não ficaria nada feliz em saber aquilo.
Com isso em mente, optou pelo desespero.
, v-v-você...? – Ela gaguejava tanto quanto o garoto. Bom, pelo menos tinham várias coisas em comum.
– Sim, , e me desculpe – Ele já começou, fechando os olhos, sem querer encarar a garota naquele momento. Se fosse levar um murro dela, que fosse de olhos fechados para não ver a cena nem o ódio na face dela. – Eu queria te contar desde o começo, e tudo o que disse defendendo o “Don” – ele fez aspas no ar – era verdade, e eu fiz tudo isso realmente para te proteger, você precisa acreditar. Eu nunca quis te magoar desse jeito, mas eu... eu realmente gosto muito de vo...
– VOCÊ CONHECE O DON?!
– Sim, eu conheço ele. E continuando, eu realmente gosto muito de...OQUE?! – Falou tudo extremamente rápido.
– Você acabou de falar que sim! Você conhece o Don, eu não acredito! Como ele é? Ele realmente disse tudo isso pra você? Que gosta de mim e que era realmente apenas para me proteger? – A garota também falava tudo com muita rapidez, não se preocupando em esconder a felicidade. Porque realmente não estava nem tentando.
– Eu... eu... – realmente não sabia o que falar. Ele esperava que a garota tivesse descoberto e quisesse provavelmente o socar. Mas, na verdade, ela havia pensando que ele apenas era um conhecido de Don, e não que ela era o verdadeiro. Será que ela estava andando demais com o ?
– Desembucha, ! – Ela praticamente berrou, e pôde ver o brilho em seus olhos verdes.
– O-o que você quer que eu fale? – Ele praticamente berrou. Estava na verdade irritado com aquilo.
– Como ele é? Ele estuda na nossa escola mesmo? Ele fala muito de mim pra você? – não fazia nem ao menos pausas entre as perguntas, e antes que pudesse responder qualquer uma delas, ela fez um barulho engraçado com a boca e voltou a falar: – AH, A MÚSICA!
– O que tem a música?
– Bom, foi você que escreveu mesmo? Porque o Don me mandou uma mensagem assim e...
– Eu sei – Ele deixou escapar, e logo se arrependeu ao ver a cara que a menina lhe dava, provavelmente se perguntando como ele saberia. Falou a primeira coisa que lhe veio a cabeça, na tentativa de consertar a idiotice: – Digo, é... Ele que escreveu. Acho.
– E porque os meninos acham que é sua música?
Ótimo, uma desculpa melhor que a outra.
– Porque... – olhou ao redor, como se algo naquela sala fosse lhe dar a resposta – Sei lá, ele me mostrou a música e eu achei legal? – Sim, aquilo havia sido praticamente uma pergunta, como quem fosse questionar se aquela desculpa havia sido boa. Deveria ter sido, já que havia acreditado.
– Que legal! – Agora ela parecia não ter mais perguntas. ‘Graças à Deus’, foi a única coisa que pensou, antes de ver que havia pensado cedo demais. – E ele... bem, ele já mencionou alguma vez pra você quando ele vai querer me encontrar?
O garoto abriu a boca para falar alguma coisa, talvez a verdade, já que suas maravilhosas desculpas já estavam se esgotando, mas foi quando algo lhe atingiu na cabeça: o pior pensamento de todos. E se tivesse pensado aquilo porque ela simplesmente não queria que o verdadeiro Don fosse ele? Talvez a última das opções em ‘quem seria o Don’, para ela, seria . Aquilo realmente havia lhe atingido com muita força.
– É, ele é um amigo... – Simplesmente falou, sem ao menos tentar disfarçar. A cabeça abaixada, encarando os pés para evitar olhar nos olhos da garota.
– Me conta sobre ele, ! – falou apertando sua mão, apesar de ele ter apenas sentido um aperto no coração.
abriu a boca para falar alguma, mas agradeceu quando , , e entraram pela porta carregando três caixas de pizza e várias garrafas de refrigerante. Ele nem sabia o porquê de ter aberto a boca, não tinha uma sequer desculpa. Não conseguia pensar em nada mais naquele momento.
– Comida chegou! – berrou, a felicidade estampada na cara.
– Aleluia, tava morrendo de fome já! – falou numa tentativa de tirá-lo de perto de . Não iria agüentar mais nenhum segundo daquilo. Observou a garota pelo canto dos olhos, vendo que o brilho que antes tinha havia sumido. Assistiu-a jogar-se no sofá e sentar-se ao seu lado, conversando preocupadamente com ela. Tudo que conseguiu ler do movimento de seus lábios foi a palavra ‘Don’ ser repetida várias vezes.
– Ninguém abre essas pizzas! – gritou de repente, ganhando assim todos os olhares para ele e até almofadadas de um furioso – Calma , você já come, cace... HEY, PÁRA! – Berrou para o amigo que insistia em tentar nocauteá-lo e roubar as pizzas – Antes de comermos, a gente vai ensaiar a maldita música do , e quando terminamos vamos comer, ASSIM – Ele falou mais alto quando viu que já havia aberto a boca para reclamar – a gente vai conseguir terminar rápido, já que todo mundo tá com fome, certo? – Voltou a olhar para , que agora olhava para o nada completamente emburrado – CERTO?
– AH, certo – falou com o susto, já se levantando e indo em direção ao seu instrumento – Então vamos logo, seus lerdos! Eu quero comer, cacete.
Os outros apenas riram e se posicionaram junto de seus respectivos instrumentos como antes. Agora, sem demoras, a contagem foi feita e a guitarra começou a ser tocada, na mesma melodia gostosa que todos já conheciam por terem a feito várias vezes antes.

Recently I've been
hopelessly reaching
out for this girl, who's out of this world
Believe me.


e começaram a balançar ambos os braços no alto, como se fosse um show. Os garotos sorriram, entreolhando-se, e dessa vez, diferente das outras, a música finalmente foi continuada.

She's got a boyfriend
He drives her round the bend
‘Cuz he's 23
He's in the marines
He’d kill me


riu baixinho ouvindo atentamente a letra da música, mas não deixando de sentir o mesmo aperto no coração apenas por saber que essa música havia sido escrita por Don, e provavelmente baseada nela mesma, uma vez que parecia falar sobre o baile. Sobre Pete, o bartender de 23 anos, bonito, forte e que já havia sido da Marinha.
E tinha que admitir, tudo aquilo era na verdade engraçado. Ainda mais se fosse colocado em uma música.

For so many nights now
I find myself thinking about her now

‘Cuz obviously she's out of my league
But how can I win
She keeps dragging me in
And I know
I never will be good enough for her
No, no
I never will be good enough for her


Em meio a música, pegou-se olhando para . Para sua sorte, a garota estava se divertindo bastante para perceber seu olhar sob ela, e aquilo só o fez ficar pior. Ela estava gostando de uma música que achava que Don havia escrito para ela, sendo que havia sido ele. Ele sentia todos aquelas coisas por ela, ele que queria dizer tudo aquilo para ela, era ele quem a amava... E ele que era Don.

Gotta escape now
Get on a plane now
Off to L.A
And that's where I'll stay
For two years

Put her behind me
And go to a place where she can't find me


– Sua sortuda.
ouviu um sussurro em seu ouvido, e virou-se para a amiga em seu lado. , por sua vez, falou aquilo e no mesmo instante virou-se para frente, continuando a abanar as mãos no ar junto com o ritmo da música.
– Hein?
– Você. – Ela disse, sem tirar os olhos da banda. Ou de ? – Você é sortuda.
– Porque?
– Sei lá... Você tem alguém que gosta de você e que escreveu essa música super fofa pra você. – A garota deu de ombros, sorrindo pelo canto dos lábios – Queria ter alguém assim também.
– Assim como? Escrevendo músicas e mensagens fofas para você mas sem um pingo de coragem para chegar na sua frente e falar: ‘Hey, e aí? Eu sou o cara que te escreveu aquelas coisas! Como anda a vida?’ – Ela disse tudo muito rápido, enquanto imitava uma voz grossa, mas sem perceber que aquilo havia saído num tom de voz irritado e impaciente.
apenas apanhou a mão da garota e sorriu fraco, como se tentasse consolá-la. sentiu-se culpada pelo modo como havia falado, e pior ainda quando a amiga fez aquilo. Pareciam que as pessoas tinham dó dela pelo que ela estava passando ou algo do tipo. Odiava ser tratada assim.

‘Cuz obviously she's out of my league
I'm wasting my time
‘Cuz she'll never be mine
And I know
I never will be good enough for her
No, no
I never will be good enough for her


pensou em como queria uma pessoa na verdade presente. Que estivesse ali com ela, falando todas aquelas coisas bonitas pessoalmente, e não através de mensagens e e-mails como Don fazia. Queria alguém como , que apesar de saber que não podia comparar namorados com seu melhor amigo, era alguém que estava sempre lá para ela. Ou como ou qualquer outra pessoa naquela sala: todos estavam presentes na vida dela. Queria algo assim, exatamente assim.

She's out of my hands
And I never know where I stand
‘Cuz I'm not good enough for her
Good enough for her


Foi quando seu olhar encontrou involuntariamente a figura de . Ele também era presente, era simpático, bonito, e pelo que havia lhe contado, era surpreendentemente romântico.
O único problema era que, desde que se conheceram, o garoto nunca ficou sabendo da secreta paixão que tinha por ele. Aliás, ninguém sabia; ela havia apenas comentado sobre o assunto com há muito tempo atrás. Isso tudo porque sabia que nenhuma de suas amigas, pelo menos naquela época, não iria lhe apoiar por gostar de um dos maiores ‘losers’ da escola. E achava também que nem o próprio aceitaria muito bem a idéia. Ele nunca sairia com uma das garotas mais populares da escola, pelo simples fato dos ‘grupos sociais’ não se deram muito bem. Apesar de não ser assim, sempre teve medo de falar para ele o que realmente sentia por ele desde o primeiro momento em que o viu.
E, ouvindo aquela música, não pode deixar de rir consigo mesmo pela própria miséria: para ela, era bom demais. Bom demais para uma menina que fingia ser algo que não era, bom demais para se preocupar com as coisas banais como a popularidade e se os outros falavam ou deixavam de falar sobre você. Só sabia que era diferente. Ela não era o suficiente para ele.

‘Cuz obviously she's out of my league
I'm wasting my time
‘Cuz she'll never be mine
And I know
I never will be good enough for her


Apesar de parecer fingir até que bem, estava praticamente sendo obrigado a tocar e não se sentir como o melhor cara do mundo. Na verdade, sentia-se como o pior deles. Havia enganado tanto e a feito sofrer que havia chegado num ponto que não conseguia mais lhe dizer a verdade. Odiava mentir, odiava enganar, odiava inventar desculpas - por isso era tão ruim -, e principalmente se fosse para pessoas que gostava. E no caso de , não era simplesmente um ‘gostar’.
Como quase a primeira vez no dia, ele abriu um pequeno sorriso no canto dos lábios, lembrando-se do primeiro dia em que havia conhecido a menina. Ela era diferente. Andava com calças largas, blusas que pareciam ser emprestadas de , o tênis All Star sempre nos pés, os cabelos presos e adorava andar de skate. Lembrou também em como haviam se dado bem, discutindo sobre suas bandas favoritas: Blink-182. Haviam assistido ao DVD da banda juntos, riram das idiotices de Mark Hoppus, ídolo dela, e Thomas Delonge, ídolo dele. Lembrou da felicidade em que sentiu quando ela havia comentado que ele lembrava o próprio Delonge, e foi a primeira vez que havia se sentindo realmente o cara mais bonito e idiota do mundo. Lembrou em como se deram bem. Lembrou em como voltou feliz para casa após conhecê-la. Lembrou em como ele se apaixonou por ela naquele mesmo dia.

‘Cuz obviously she's out of my league
But how can I win
She keeps dragging me in
And I know
I never will be good enough for her


– O tá praticamente dormindo e babando, cara.
Mais uma vez, levou um pequeno susto com a voz da amiga ao seu lado. Como havia entrado em um de seus transes em que passava um flashback em sua cabeça, dessa vez chegou até a pular no sofá.
– To vendo que não só ele, né... – comentou rindo da garota.
Ela apenas riu forçado e instantaneamente olhou para . Ele realmente parecia estar babando, sonhando, e tudo mais que temos direito enquanto dormimos. E não conteve o sorriso quando viu o garoto sorrindo sozinho, como se estivesse tendo um sonho realmente muito legal. Ficou até surpresa em como ele conseguia dormir acordado e continuar tocando a música perfeitamente, sem erros.

‘Cuz obviously she's out of my league
I'm wasting my time
‘Cuz she'll never be mine
And I know
I never will be good enough for her
No, no
I never will be good enough for her


A música finalmente foi finalizada, e no mesmo instante, e se levantaram e começaram a aplaudir e assoviar freneticamente. Os garotos faziam cara de metido, como aqueles rockstars, piscando e mandando beijinhos para ela, tendo até gritando algo para como ‘passa no meu camarim depois, babe’, o que a fez corar exageradamente.
apenas deixou seu instrumento de lado e seguiu os amigos para a mesa de centro, sentando-se ao redor dela como todos. já reclamava em como estava com fome, enquanto lhe falava que aquilo apenas havia ajudado a tocarem a música sem enrolação. sugeriu que deixassem com fome antes de todos os shows, enquanto as garotas riam de tudo aquilo. Ele apenas continuava calado.
– Então, o Don que escreveu tudo isso mesmo? – Ouviu uma voz atrás de si, e sentiu seu coração ir parar em sua garganta ao ver sentando-se ao seu lado no chão. Meu deus, como ela era cheirosa.
Não, na verdade fui eu que escrevi. Aliás, na verdade MESMO, nem existe nenhum Don, sou eu mesmo. E ah, eu te amo’.
– Yeap.
– Uhm – Foi a única coisa que ela disse, antes de pegar uma pizza, morder e se sujar toda de molho. Tudo bem, aquilo já era tortura. Até suja ela conseguia ficar linda? – Diz que eu gostei! – Falou de boca cheia, cuspindo quase metade da coca que tomava agora, mas nada comparado ao que quase havia saído pelo seu nariz quando riu de sua situação. não conseguiu não rir também; o jeito desastrado dela a deixava ainda mais perfeita, se possível. Ouvia-a murmurar alguns xingamentos, ainda rindo e limpando sua blusa. Ele apenas apanhou alguns guardanapos e a ajudou. – Ah, obrigada. Eu odeio ser idiota assim! – riu.
– Tudo bem, não é nada comparado ao , sabe – Ele comentou, apontando com a cabeça, que deixava cair a comida mais do que a comia, e em seguida, pegava tudo que havia sujado sua camisa e lambia – Eu sempre tenho que ficar limpando a boquinha do bebê babão!
voltou a rir, e não pôde deixar de sorrir também e lembrar dos velhos tempos. Ela, com uma camisa curta do Taking Back Sunday, calças capri e largas, os cabelos ondulados nas pontas presos e caídos pelos ombros, e seu tão adorado tênis da Adio, uma das marcas favoritas do garoto também.
– E então, o que vocês rockstars vão fazer hoje? – perguntou para todos na mesa, acordando de seu transe e fazendo-o corar por ficar tanto tempo observando a menina.
– Cobmelr – falou num grunhido, com a boca repleta de pizza.
– O que? – perguntou, encarando com os olhos quase arregalados para o garoto ao seu lado, mas logo parou de olhar quando o mesmo virou para ela, fazendo-a ter uma bela vista de sua boca cheia de comida mastigada. – Ew, . Que nojo! Vira essa boca pra lá seu porco!
– Clalma – Ele falou completamente enrolado novamente, forçando a pizza a descer por sua garganta – Eu disse que vou comer.
– Você já está fazendo isso, comentou, revirando os olhos.
– É, mas depois vou repetir a dose! – Ele disse, e em seguida soltou um arroto – É legal.
– AI QUE NOJO, MOLEQUE!
não conseguiu deixar de rir ao ver brigar com , e ele apenas continuar a provocando sem entender o que realmente acontecia. Imagine como seria se esses dois namorassem? Ela apenas riu ainda mais com essa imagem na cabeça.
– Bom, eu não vou fazer nada também – comentou quando havia finalmente parado de gritar e desistir de fazer de um menino menos nojento – E vocês, caras?
– Anh... Eu... – pigarreou, engolindo uma pequena porção de pizza que provavelmente nem havia em sua boca – Eu vou sair.
– Uuuh, sair pra onde? – perguntou, emitindo sons engraçados com a boca, que saíram mais engraçados do que o normal por causa da mais quantidade de comida e bebida misturados em sua boca.
– Engole a comida antes de falar, ! E a bebida. – falou, rindo com os outros – Ah, vou só... sair. – deu de ombros.
– Pode contando, ! – tacou um pedaço de guardanapo amassado no amigo.
– Eu tenho um encontro, tá bom? Pronto, podem zoar agora! – Ele falou rápido, corando ao que os amigos o provocavam com mais barulhinhos estranhos com a boca. Mas apenas os meninos. As únicas duas garotas que estavam presente não gostaram nada de ouvir aquilo, e sabiam o porque.
– Com quem, ? – perguntou, tentando não soar muito curiosa.
– Ah... U-uma menina aí! Vocês ne-nem conhecem! – Ele gaguejou, enfiando a pizza em sua boca o mais rápido que conseguiu.
e resolveram não insistir no assunto. Sabiam que aquilo não era muito bom, uma vez que uma de suas melhores amigas, , estava na verdade gostando de . Para não havia sido tão estranho assim, mas já para e , havia sido a notícia do ano. Imagine então se ela falasse que já teve uma grande queda por , e que, na verdade, poderia até sentir aquilo ainda, mesmo depois de tanto tempo.
– E você, , vai fazer o que? – perguntou, e as meninas perceberam que ele parecia querer mudar logo de assunto.
– ANH, EU? – O garoto se assustou.
– Tem algum outro aqui? – perguntou, rindo com os outros por causa da reação do amigo.
– E-eu... Eu não vou fazer nada não! – Mas porque todos os garotos gaguejavam agora? – Porque perguntam? Cacete, que interrogatório. Querem saber tudo da minha vida! Já disse, não vou fazer nada!
– Credo , foi uma pergunta, seu besta – comentou, rindo também com os amigos – E não precisa repetir a mesma resposta três vezes.
– Pera aí, pera aí, pera aí – começou, encarando nos olhos como quem soubesse que o amigo estava ‘aprontando’ algo. Ele ficava nervoso demais para uma simples pergunta. – Pode desembuchando, !
– Desembuchando o que, ? Pirou, é? – Ele perguntou, quase suando frio, e enfiando um pedaço de pizza rapidamente na boca.
– Você não me engana, seu tosco! Pode contando, o que você vai fazer hoje?
– Ninguém mandou você ter uma melhor amiga mulher, dude – falou, rindo do amigo – Elas sabem de tudo.
– Não é nem esse o caso, . O problema é a que me conhece bem até demais. – comentou, mostrando que havia desistido e estava se ‘entregando’ – Tá bom, eu vou sair sim. Feliz?
– Não.
– E porque não?
– Você ainda não me contou com quem vai sair!
abriu a boca para falar algo, mas apenas conseguiu gaguejar. olhou para ele com ar de vitória e de superioridade, e o garoto apenas soltou um bufo e continuou murmurando que ela o conhecia bem demais.
– A mesma coisa que o .
– HEY! – O menino protestou ao ouvir a frase de .
– O que? Só to falando que vou fazer o mesmo que você, idiota! Vou sair... num encontro.
e novamente fizeram barulhinhos provocadores com a boca. e voltaram a se encarar, preocupadas. Era melhor esse encontro ser com , porque senão... Bem, porque senão ele não estaria contando, certo?
– Que fofo! Você e a vão sair, é? – perguntou, tentando tirar algo de .
– QUE? N-não, não! – O garoto gaguejou, corando exageradamente – Não é com... Não é com a !
– Ah não, é? – encarou o amigo num olhar mortal que chegava a penetrar em sua pele – Com quem é, então?
– Ah, vocês também não conhecem a menina... – deu de ombros.
já estava quase se levantando, provavelmente para socar , mas foi impedida por , que a puxou pelo braço e a fez cair de volta no chão.
– E então, hehe... – começou, sem graça e tentando mudar de assunto. Riu ao ver o agradecer através de murmúrios exagerados que todos perceberam – Vocês vão fazer o que, meninas?
– Eu queria sair – deu de ombros, parecendo chateada – Mas eu já falei com a e com a , e aparentemente elas vão sair também! E como todo mundo tem algo pra fazer hoje... – Ela suspirou alto.
– A e a vão sair hoje? – perguntou, curiosa – Não sabia dessa.
– O QUE? C-como não, ? Até e-eu sabia! – respondeu, novamente gaguejando. Corou ao ver que havia falado quando não deveria.
– É, parece que a mãe da não deixou ela sair, o que é estranho, sendo que a tia sempre deixa, né? – continuou, ignorando o comentário de , assim como a amiga também fez – E a disse que tem um jantar aí que ela tem que ir com os pais. – A garota deu de ombros, suspirando alto e profundo novamente – Você vai sair também, ? Diz que não, cara. Não quero ficar sozinha em pleno feriado!
– Na verdade eu não vou fazer nada hoje não, respondeu, após engolir um pedaço de pizza – Vamos fazer alguma coisa? Também não quero ficar em casa. Urgh, já enjoei daquele lugar!
– Vamos, vamos, vamos, vamos! – respondeu animada, mas não durou muito – Mas a gente vai fazer o que?
– Vocês querem sair? – perguntou de repente, surpreendo na verdade a todos na sala – Credo gente, se todo mundo tem um encontro aqui, eu acho justo eu e o também termos, certo dude? – Ele piscou para , que concordou feliz com a cabeça e bateu a mão com o amigo, em um ‘high five’ – O que nos dizem, girls?
– Por mim – deu de ombros, sorrindo para e, por sorte, nem o vendo corar.
– Me diga o que eu possivelmente poderia fazer em um encontro com o perguntou, olhando com desgosto para o menino ao seu lado.
– E quem aqui disse que seu par vai ser o , ? – provocou, recebendo em seguida um chute da amiga por debaixo da mesa – Hey, calma! – ela riu – Só estou dizendo que eu que vou com ele, certo -boy? – Piscou para o garoto, que retribuiu e ainda mandou beijinhos para ela, fazendo-a rir.
Sem perceber, na mesma hora, e coraram intensamente e pareceram evitar olhar a cena.

Após uma hora com mais pizzas, bebidas, risadas e até alguns acústicos, todos já se despediam. alegava que precisava se trocar rápido para seu encontro, assim praticamente expulsando os amigos de sua casa. não demorou nada pra ir embora, também por causa de seu ‘misterioso encontro’. Com isso, restaram apenas , , e parados ao meio fio da calçada em frente à casa de .
– Então, o que vamos fazer? – perguntou, balançando seu corpo para frente e para trás.
– Ir para uma pizzaria! – berrou, batendo palminhas e sorrindo animado.
, você acabou de comer uma pizza inteiro sozinho! – comentou, abismada com o apetite do garoto.
– E daí? Eu gosto de pizza, ué! – Ele deu a língua.
– Bom, isso nós já vimos...
– Tem certeza de que é uma boa idéia sairmos com esses dois juntos? – perguntou, virando-se para . Em seguida, a garota corou ao ver que sua pergunta havia soado como se quisesse sair sozinha com ele. Não que não quisesse também.
– Tenho, e eu já sei para onde vamos e não é para uma pizzaria, se apressou em dizer ao ver a cara esperançosa do amigo, fazendo-o se sentir decepcionado, rir e revirar os olhos. – Mas vocês vão ter que confiar em mim.
– Ok, essa história agora não está me soando muito bem – comentou, e apesar dos amigos rirem, ela pareceu séria.
– Vocês preferem ficar em casa sem fazer nada ou sair com a gente? – perguntou, olhando para , e quando ela ameaçou abrir a boca, provavelmente para reclamar, ele se apressou e a cortou: - Você vai gostar, acredite.
– Vai , o que custa? – lhe deu uma leve cotovelada, como se quisesse a motivar. Ouviu a amiga gemer algumas palavras, e aceitou isso como um ‘sim’. – Ok , pra onde você pretende nos levar?
– Bom, falando assim até parece que eu vou seqüestrar vocês e fazer coisas proibidas e... – preferiu nem terminar a frase, apenas pelo olhar que e o davam naquele momento – Era só brincadeira, gente. É bem legal o lugar, eu tenho certeza que vocês vão gostar, principalmente vocês, meninas. Mas é segredo!
– Segredos são legais. – comentou, soando um completo bobo.
– Segredos são idiotas. – disse em seguida, cruzando os braços e fechando a cara para o garoto.
– Não interessa, nós topamos! – se apressou em dizer, ignorando a face da amiga.
– Certo, então vamos lá! – disse animado, já começando a andar com em seu encalce.
– Pera aí, a gente vai agora? – perguntou, confusa.
– Mas é claro, ué. Você queria ir que horas?
– Bom, eu achei que a gente ia pelo menos tomar um banho e se trocar! Além de que está frio, eu queria pegar um agasalho em casa.
– Tomar banho? Pra que? – perguntou como se fosse óbvio, dando a língua para quando a mesma murmurou um ‘porco’ para ele.
– Ai, vamos logo – disse, já puxando pela mão, que também puxou .
Os quatro seguiram o caminho sendo liderados por , o que causava um certo medo nas meninas. apenas comentava que ele realmente pretendia seqüestrá-las, enquanto ria dos comentários e tentava adivinhar para onde poderiam estar indo, já que não queria contar nem porque o caminho era tão longo assim.


Cap. 11

– Pronto, chegamos!
disse ao que abria os braços e sentia a brisa gélida bater em seu rosto. apenas riu da cena e perguntou-se se o garoto achava que estavam no filme ‘Titanic’. Em seguida, viraram para o lado e esperaram e saírem brigando do metrô que antes estavam. Passaram por uma placa gigante que dizia "Westminster tube station", e saíram pela imensa porta que seguia de mais uma placa indicando a saída. Os outros três que não conheciam o lugar que estava os levando, provavelmente esperavam ver algo realmente muito interessante e bonito. Ao invés disso, apenas se entreolharam.
– Ok , que parte do ‘confiem em mim, vocês vão gostar’ a gente não entendeu? – perguntou um tanto impaciente, olhando ao redor.
Assim que haviam saído da estação de metrô, os quatro se depararam com uma rua longa e recoberta pela neve branca e fofa. Algumas pessoas passavam por ali, andando no sentido contrário ao deles. A vista na verdade muito bonita, com a paisagem branca e de ‘enfeite’, algumas luzes que brilhavam do céu, provavelmente vindas de algum lugar não muito longe dali. Mas realmente não era o que esperavam.
– Ah, que isso, . Eu achei muito bonito sim, tá ? – comentou sorrindo amigavelmente, batendo no ombro do garoto, como quem quisesse o animá-lo – E não estou dizendo isso só pra te animar!
– Vocês realmente são muito lerdos – falou em seguida, deixando todos confusos – Não é esse o lugar, gente.
– AH NÃO! – , apesar de antes tentar ser gentil, foi a primeira a reclamar – A gente vai ter que andar mais e pegar mais metrôs?
– Não – riu – A gente vai passar naquela loja antes comprar bebida, e depois vamos seguindo aquelas luzes ali – ele apontou para o céu, que brilhava agora um azul que combinava com as estrelas e a bela noite – que é o nosso... ‘destino’.
– Uh, gostei disso – comentou, batendo palminhas – Comprar bebidas!
– Mas onde a gente tá, ? – ignorou o comentário de , revirando os olhos – A gente atravessou a cidade inteira já, chegamos no centro de Londres, passamos pela ponte de Westminster e estamos quase perto da Whitehall! – Ela tomou ar após falar tudo aquilo extremamente rápido. – Pra onde você pretende levar a gente?
– A gente tá perto da Downing Street já... – falou, encarando um ponto, sem tirar seus olhos de lá.
– Como você sabe?
– Tem uma placa ali – Ela apontou, rindo quando lhe deu um leve empurrão – ‘10 Downing Street, London, SW1A 2AA’.
– Ah, ótimo. Agora a gente vai fazer uma visitinha pro Primeiro Ministro, é? – perguntou em tom irônico.
– Eu sou mais a rainha... – falou, dando de ombros e fazendo e rirem, enquanto revirava os olhos.
– Isso daqui vai levar a gente pra lá – indicou as luzes no céu com a cabeça – Me surpreende vocês não terem visto o lugar pela ponte ou pelo metrô de Westminster.
– Whatever – falou de repente, já correndo pela rua e quase escorregando em um lugar em que a neve estava quase derretendo – Vamos comprar as bebidas logo!
Os outros três apenas riram - até , para o espanto deles - e seguiram . Entraram em um pequeno supermercado que se encontrava bem no finalzinho da rua. , ao entrar no local, agradeceu mentalmente o dono daquela loja por colocar um aquecedor ali. Desde que deixaram a casa de , ela não havia vestido nenhum moletom, e nem tivera tempo de pegar um também. Sentia os braços gelados e já roxos por causa do frio, e esfregava as mãos freneticamente tentando se esquentar.
Passaram por alguns corredores, procurando bebidas. Sim, bebidas... Aquilo provavelmente a esquentaria.
– Ok, cervejas são essenciais – disse rindo, apanhando um engradado de cerveja.
– Hey hey hey, porque você tá pegando energético, ? – perguntou indignado com o ato da garota – Isso nem tem álcool!
apenas riu, jogando vários energéticos na sacola, em seguida se dirigindo para outra prateleira.
– Pra misturar com a vodka, sua anta – Ela completou, ao que mostrava uma garrafa enorme que podia-se ler no rótulo: ‘Vodka’.
apenas sorriu abertamente, batendo sua mão contra a de em um ‘high five’.

Após alguns minutos, os quatro já saíam da loja com várias sacolas nas mãos.
– Ok, agora – começou, fazendo os outros três que andavam animados em direção das luzes no céu pararem – , me empresta sua mochila.
– Porque?
– Eu preciso guardar as bebidas, eles não podem nos ver entrando lá com isso – Explicou, ajeitando algumas das sacolas no meio de suas cuecas e roupas, na própria mochila. Em seguida, fez o mesmo quando lhe deu a sua. – Pronto, podemos ir.
– Você ainda não vai nos dizer onde isso fica ou o que é? – perguntou quando os quatro voltaram a andar.
– Você verá – disse, piscando para a garota. Ela apenas sorriu e apertou os próprios braços contra o corpo, como se quisesse abraçar à si mesma. Porque tinha que ser tão idiota e esquecer seu agasalho? – Você tá com frio?
– Anh? – olhou surpresa para , que a observava preocupado – Ah, só um pouquinho... – deu de ombros.
não falou nada, apenas parou de andar, colocou a mochila que antes carregava no chão e levantou os braços, retirando seu próprio moletom. sabia o que ele pretendia fazer, por isso tentou o impedir. Não queria fazer com que ele passasse frio por sua causa.
– Eu não tenho frio, pode pegar – estendeu o agasalho para a menina em um sorriso extremamente meigo. Vendo isso, simplesmente não conseguiu recusar. O que um efeito de um sorriso perfeito não faz na gente? – Boa menina!
Ambos apenas riram e seguiram seu caminho. andava enquanto colocava o moletom, atrapalhando-se tanto com isso quanto pela vestimenta ser um pouco grande demais para seu corpo e ela não saber exatamente em que buraco enfiar os braços ou a cabeça.
Quando finalmente conseguiu vestir, a garota olhou para si mesma. Adorava usar aquelas roupas largas de menino, achava que a deixava na verdade sexy. Ainda mais se fosse um agasalho vermelho da Hurley, uma de suas marcas favoritas. Fora que estava quentinho e tinha o perfume de ... Não poderia ser melhor.
Enquanto continuava seu caminho e ria da constante briga entre e , se assustou ao sentir algo ser enfiado em sua cabeça. Levantou os olhos e viu tentando colocar seu gorro nela. Sorriu com a cena e pelo pensamento de que ele estava na verdade preocupado com ela.
– Obrigada – Ela falou quando ele finalmente conseguiu ajeitar o gorro em sua cabeça e agora arrumava seus cabelos bagunçados – Tudo bem, , pode deixar que dos cabelos eu arrumo! – Os dois riram, enquanto consertava o gorro torto em sua cabeça e colocava algumas mechas de cabelo para trás.
! – Ouviu seu nome ser berrado, e ao virar-se para frente depois de algum tempo encarando sem graça, viu correndo em sua direção – !
– Fala !
– Você não vai acreditar pra onde o nos troooooouxe! – Ela berrava enquanto corria, o que fazia daquilo uma cena na verdade muito engraçada.
– Pra onde? – olhou da amiga para , que sorria vitorioso pelo canto dos lábios.
Antes que respondesse, praticamente pulou sobre , deixando-o sem graça e fazendo de uma , por algum motivo que a assustou, extremamente ciumenta.
– LONDON EEEEEEEEYE! – finalmente falou - ou berrou - quando havia largado do garoto – , eu nunca imaginei que diria isso, mas... EU TE AMO!
Com isso, a menina voltou a correr pela rua em direção de onde antes vira. e duvidaram que ela estivesse louca, mas a teoria foi confirmada quando a viram pular em e beijar várias vezes o rosto do mesmo de tanta felicidade. E, mesmo de longe, puderam ver o quanto havia corado.
– Verdade isso, ? – Ela finalmente perguntou, lançando um olhar provocador ao menino.
– Era pra ser segredo, droga – Ele brincou, rindo da cara de .
– Sabia que eu nunca vim pra cá? – A garota começou, quando voltaram a caminhada até a famosa roda-gigante, uma das mais conhecidas em todo o mundo – Já ouvi tantas coisas sobre ela, mas... Não sei porque nunca vim.
– Você realmente não sabe o que esteve perdendo – comentou, olhando para no canto dos olhos e sorrindo.
– Você vem sempre aqui? – Ela riu para si mesma, percebendo o quanto aquilo havia soado com uma daquelas cantadas ridículas.
– Sempre que posso – Ele respondeu, sem notar a risada dela – É linda a vista, as luzes... Tudo. Principalmente à noite. – Ele fez uma pausa, olhando diretamente para a ponta da London Eye que já começava a aparecer – Me ajuda a pensar.
sorriu involuntariamente com o que havia ouvido. Mordeu o lábio inferior, sem tirar os olhos de . Como alguém conseguia ser tão perfeito assim?
Mais alguns passos e já estavam ali, em frente à maior e mais bela roda-gigante de todo o mundo, a London Eye, também conhecida como Millenium Wheel. pensou em como tudo que havia ouvido sobre o tal monumento foi comprovado no momento em que colocou os olhos naquelas imensas cabines, nas luzes que brilhavam e que trocavam constantemente de cor, fazendo de tudo ainda mais bonito, se possível. Como nunca havia ido para lá?
Após chamarem e , os quatro pararam em frente a uma enorme placa que se encontrava em frente à roda-gigante.
– O QUE? – berrou após ler o que havia escrito – Como assim ninguém pode usar?!
– A London Eye vai ser parada daqui a pouco – Um guarda disse quando provavelmente ouviu o berro da garota.
– Porque vai ser parada? – perguntou, disfarçando os xingamentos que já murmurava.
– À meia-noite e meia vai ter fogos de artifício, e vai precisar ser parada. Mas logo em seguida ela já volta a funcionar, é para a segurança de vocês – O guarda alegou, sorrindo amigavelmente.
– Mas então porque ela ainda tá girando? – perguntou, seguindo o movimento da roda-gigante com a cabeça.
– Ainda faltam algumas pessoas saírem, mas meia-noite em ponto ela vai ser parada.
Com isso, o homem se afastou dos quatro para ajudar algumas crianças a saírem das imensas cabines da roda-gigante. Aquilo realmente surpreendeu : normalmente, quando ia a parques de diversões, as rodas-gigantes cabiam no mínimo quatro pessoas; naquela estavam situadas simplesmente 30 adultos mais as duas crianças ao mesmo tempo.
– Ainda falta uma hora! – reclamou enquanto encarava do relógio até a cabine, balançando a perna freneticamente em nervosismo.
estranhou a expressão do garoto. Ele olhava demais para a London Eye, para a cabine vaga e ainda aberta e para o guarda que se distanciava dali e deixavam apenas os quatro sozinhos. O que estava pensando?
Rapidamente, a pergunta da garota foi respondida por um simples puxão em seu braço. estava na verdade a arrastando para dentro da cabine, aproveitando que ninguém poderia vê-los. ameaçou berrar alguma coisa como ‘VOCÊ ESTÁ LOUCO?!’, mas ele havia sido mais rápido e esperto ao tapar sua boca com a própria mão. Chamou e , que se jogaram junto com eles dentro da cabine que já se movia para o alto, continuando a girar junto com a roda-gigante.
– Conseguimos! – murmurou ao que fechava a porta delicadamente para não serem ouvidos.
– VOCÊ É DOENT... – Mas que droga, porque tinha que sempre ser interrompida pela mão dele? não pôde nem terminar de berrar com que sua mão já lhe tampava a boca novamente, agora ainda a puxando para baixo e fazendo os dois caírem do chão. – , o que você tá faz... – Novamente, ele tampara sua boca, espiando pela janela da cabine para checar que estavam alto o bastante para alguém os veres. fazia o mesmo, assim como , que engatinhava até sua mochila para pegar as bebidas. – Pára de fazer isso, cacete! – Ela finalmente reclamou, tirando a mão dele sobre sua boca.
– Ah, desculpa – riu baixinho, ainda abraçado ao corpo dela.
Ambos estavam estirados no chão, apenas percebendo o quão próximos estavam quando sentiram a respiração um do outro. Era provavelmente a segunda vez que conseguia olhar de tão perto aqueles olhos azuis penetrantes dele, e neles havia algo tão familiar que a fazia ter quase a certeza de que já havia visto um par daqueles em algum lugar.
– Alguém quer por favor me ajudar a abrir isso daqui! – reclamou, enquanto tentava em vão fazer o máximo de força que conseguia para retirar o lacre da garrafa de vodka.
Nisso, pareceu acordar depois de ter sido hipnotizada pelos olhos azuis de . Ele se levantou e ajudou-a a fazer o mesmo.
– Aqui – se aproximou de , deixando sua cerveja de lado e apanhando a garrafa de suas mãos. Com um gesto incrivelmente simples, ele conseguiu fazer com que o lacre se soltasse e caísse no chão, fazendo da garota em sua frente impressionada. apenas lhe lançou uma piscadela, devolvendo a garrafa, e voltou sua atenção para a cerveja. jurou ter visto corar e sorrir.
– Cerveja?
, novamente parecendo ter acordado de mais um de seus transes, sentiu um frio percorrer sua espinha e todos os pêlos de sua nuca arrepiarem com o toque de em suas costas, enquanto lhe oferecia uma latinha da bebida. Ela apenas aceitou e agradeceu em um sorriso envergonhado, tentando ignorar as borboletas que voavam em seu interior e brincavam com seu estômago.
– Olha, dá pra ver a Trafalgar Square daqui! – falou, apontando para o devido lugar.
Os outros três logo viraram para ver, juntando-se à na janela da cabine.
– E olha ali – apontou para um imenso prédio – Aquele não é o HSBC Tower?
– Yeap – respondeu, sorrindo para a garota e em seguida apontando para outros lugares – E ali tem a ponte de Westminster, por onde a gente veio... Ali o Palace of Westminster, e ali o Big Ben!
– Eu nunca achei que diria isso, mas... é bem legal aqui em cima... – sorriu, olhando tudo ao redor – romântico. – Ele completou, agora olhando pelo canto dos olhos.
– Anh, gente? Vamos fazer alguma coisa? – de repente falou, se distanciando dos amigos. Obviamente que e entendiam a atitude dela, mas ainda parecia não ter nenhuma pista.
– Tipo o que? – perguntou, rindo baixinho por causa do nervosismo da amiga.
– A gente pode jogar ‘Verdade ou Desafio’... – falou, ignorando os comentários provocativos de .
– Mas a gente não tem uma garrafa ainda – comentou, olhando para o ‘estoque’ de bebidas deles e vendo que todas as garrafas ainda estavam cheias.
– A gente acaba com uma agora então, ué – deixou sua latinha de cerveja de lado, sentando-se no chão e apanhando a garrafa de vodka que havia sido aberta por ele há alguns minutos atrás. – É preciso estar bêbado para fazer essa brincadeira mesmo! – Ele riu, piscando para .
– Ok, jogar Verdade ou Desafio com vocês bêbados? – perguntou, rindo ironicamente – Qual é a próxima? Jogar strip poker com vocês também?
– Não é uma má idéia – respondeu, rindo com os três amigos da cara perplexa de .
– Vai , descontrai e tenta se divertir pelo menos dessa vez, vai! – pediu, sentando-se no chão com e puxando a mão da amiga para que ela fizesse o mesmo.
– Você fala como se eu nunca me divertisse...
– Bom, não é como se você fosse a pessoa mais espontânea e divertida do mundo, sabe. – rolou os olhos, rindo da expressão que havia feito, como se não acreditasse que sua melhor amiga havia falado aquilo para ela – Ué, a gente vai jogar Verdade ou Desafio, não é? Pense como se o jogo já tivesse começado... Te falei uma verdade e ainda foi um desafio te falar isso, porque eu sabia dos meus riscos de vida!
e seguraram suas risadas, e apenas olhava perplexa e indignada com o que ouvia. Agora, como se estivesse determinada, ela se sentou no chão, apanhou a garrafa de vodka e virou garganta abaixo uma grande quantidade da bebida, deixando bem claro o que queria dizer. apenas piscou para os garotos, que lhe levantaram os polegares em ‘jóia’.
, já conhecendo sua amiga há tanto tempo e sabendo exatamente como ela era, talvez até mais que a própria, sabia que, ouvindo aquilo, iria fazer exatamente o contrário, apenas para provar à todos ali que ela sim era uma pessoa realmente divertida e adorava viver a vida de uma maneira espontânea. O plano, então, realmente havia dado certo, como prevera.

Menos de meia hora, a garrafa de vodka já estava vazia. Cada um tomava um gole rápido da bebida e passava para o outro, e sempre nas vezes em que iria tomar, ela descia uma quantidade generosa do líquido, fazendo assim os amigos não se surpreenderem ao vê-la já ‘alterada’, ‘feliz demais’, ou como gostava de falar, ‘uma mais legal do que a sóbria’.
Não demorou mais que um minuto para que uma também já não tão sã desse o último gole da última gota de vodka e girava a garrafa no chão. e , segundo as meninas, estavam mais engraçados do que o normal, e mesmo de terem acabado de terminar uma garrafa de vodka, continuavam tomando suas cervejas.
, m’boy! – falou em um berro animado, as palavras saindo distorcidas de sua boca assim como a cerveja que havia acabado de tirar das mãos de e tomava. – Deu eu e você, babe, e... Opa, eu pergunto! – Ela soltou uma risadinha aguda, lembrando muito uma daquelas patys líderes de torcida quando são convidadas para sair por um dos jogadores de futebol.
– Hit me... – falou, rindo em seguida sem ninguém entender o porquê – Baby one more timeee! – Ele completou, cantando em uma nota completamente desafinada.
– Verdade ou desafio, -boy?
– Bom, eu acho que pra desafio eu vou precisar de mais algumas cervejas e doses de vodka... – Ele falou, contando quantas das latinhas ao lado dele no chão haviam sido esvaziadas por si mesmo – Verdade, então!
apenas soltou uma daquelas risadas malévolas, esfregando as mãos uma contra a outra freneticamente, como quem dizia ‘sou malvada’.
– Diga-nos, então, -boy... – Ela começou, deitando-se de barriga para baixo no chão e nem sequer notando que seguia cada movimento seu. – quais são suas verdadeiras intenções com a aqui?
Nesse momento, engasgou com o gole de cerveja que tomava, seu rosto já vermelho. e riam baixinho, e parecia ter levado aquela pergunta como uma qualquer que se pergunta em seu dia-a-dia.
– Intenções? – Ele repetiu, tomando mais um gole de sua cerveja – Não sei exatamente... Eu acho ela bonita.
– Hey, eu to aqui, sabe! – berrou, olhando perplexa de para os outros dois que riam cada vez mais, e agora não tão baixo, mas parecendo ficar particularmente irritada apenas com .
– E-eu sei, eu não sou cego – retrucou, sem entender o porquê de ficar brava com ele, sendo que havia sido e que estavam rindo. Ele apenas havia respondido à pergunta. – Porque você sempre fica irritada comigo?
– E depois diz que não é cego! – comentou enquanto ria, não tão baixo quanto esperava.
– O que você quer dizer com isso? – e perguntaram juntos, no mesmo tempo, em seguida se entreolhando sem graça.
– Nada ué... – deu de ombros, sem conseguir segurar a risada – Se você não for cego, você vai perceber. Certo ?
– Yeap – O garoto antes calado respondeu, tentando segurar o riso – Agora vamos continuar, vai... Quem é o próximo?
– Não, agora você vai esperar – disse de repente, agora também irritado. pensou que nunca o vira assim antes. – O que você quer dizer que eu sou cego?!
, relaxa – disse, tanto para não criar um clima ruim como para defender .
– Não relaxa não! – Agora foi a vez de – Pode explicando! Vocês dois!
– Tá bom, você quer mesmo saber? – também estava ficando irritada. Talvez fosse algum efeito do álcool... – Eu disse que você é cego porque você simplesmente não enxerga que a gosta de você e você também gosta dela! E... vocês são dois lerdos!
Os quatro entraram em completo silêncio. E assim iria permanecer, se não fosse pelo barulho que a cabine havia emitido ao parar completamente de se mover. Em seguida, um barulho alto parecido com algo explodindo pôde ser ouvido bem perto deles. pulou no lugar e deixou um grito escapar, antes de perceberem que eram apenas os fogos de artifício que o guarda havia antes mencionado, agora sendo soltos no céu. Mas, fora o barulho dos rojões que pareciam querer explodir cada estrela do céu escuro, agora iluminado apenas pelos feixes de luz dos fogos, os quatro continuavam sem dizer nada.
– Anh... Então, quem é o próximo? – Finalmente quebrou o silêncio, apesar de agora estar se arrependendo por ter o feito.
– Eu acho que não quero jogar mais... – disse rapidamente, surpreendendo os amigos e logo levantando-se e indo se sentar em um canto distante da cabine.
– Eu... eu acho que vou lá falar com ela. – disse de repente, lançando um olhar significativo para e e os deixando sozinhos.
– Ah, ótimo – murmurou, após ter certeza de que nem nem poderiam ouvir. Enquanto isso, os observava conversar pelo canto dos olhos. – Eu sou uma boca aberta idiota mesmo!
– Não é não – disse, sorrindo docemente para . A única coisa que ela conseguiu pensar foi em como era incrível o jeito que conseguia fazer seus problemas sumirem apenas com um simples sorriso. Em seguida, ele apenas esticou sua mão à ela. – Vamos ver os fogos?
apenas sorriu e aceitou sua mão, levantando-se com sua ajuda. , apesar de já tê-la levantado, continuou de mãos dadas com ela até a enorme janela da cabine. Aquilo fez as borboletas no estômago de voltarem a voar com uma velocidade surpreendente.
– É lindo, né? – A voz de voltou a acordá-la. olhou para o lado e viu que ele também a observava com atenção, o sorriso meigo no rosto.
– Você não tá com frio? – Ela perguntou, sentindo a mão gélida do garoto ainda entrelaçada com a sua.
apenas deu de ombros, ainda sorrindo, e logo voltou a observar os fogos explodindo no céu. o puxou delicadamente, colocando as mãos dele no bolso fronteiro do agasalho, para que assim ficassem aquecidas. Em seguida, para sua própria surpresa, ela encaixou seus braços ao redor da cintura de , deitando a cabeça em seu peitoral. Sem dizer uma palavra, continuou olhando o céu colorido pelas luzes dos fogos de artifício.
– Olha, acho que sua dica deu certo – disse, depois de vários minutos em silêncio, ainda abraçado à .
virou o rosto e sorriu no mesmo instante em que viu e encostados na parede do outro lado da cabine, dormindo. Mas o que realmente surpreendia era que eles não estavam apenas dormindo, eles estavam juntos, abraçados, com a cabeça de no colo de , que havia caído sobre ela, provavelmente por causa do sono. teve que admitir, eles faziam um casal fofo.
Ao que virou o rosto para frente de novo, deu de cara com o rosto de à apenas um centímetro da própria face. Conseguia sentir a respiração ofegante dele, o perfume dele, ver mais uma vez aqueles olhos que tanto a deixavam hipnotizada... E ainda assim, tudo aquilo lhe sendo muito familiar.
Sentiu as borboletas voltarem em uma velocidade maior ainda ao que sentiu o toque dele perto de seu rosto. apenas fechou os olhos, sem saber exatamente o que estava fazendo. na verdade tinha esse poder sobre ela: deixá-la completamente desnorteada e, ainda assim, sem se importar. Sentiu os dedos de delicadamente colocarem uma mecha de cabelo dela atrás de sua orelha, e então descendo a mão para segurar seu queixo. estremeceu. Seria aquilo efeito do álcool?
Sem esperar por isso - por mais que as indiretas fossem óbvias -, ela sentiu os lábios de encostarem suavemente nos seus como se acariciassem, mas não fizeram nada além disso. Pareciam esperar por autorização, e logo os deu: sem pressa alguma em aproveitar o momento, ela vagarosamente abriu a boca e permitiu que a língua de brincasse com a sua, lhe dando a sensação mais gostosa que já sentira. E aquele beijo... Até aquilo lhe era familiar.
Os dois continuaram se beijando e se acariciando como se tivessem todo o tempo do mundo para eles, e sem pausa. às vezes parava o beijo apenas para morder o lábio inferior de , ou lhe morder ou beijar o pescoço, mas logo voltavam ao beijo intenso, úmido e que parecia ser interminável. E realmente foi, para o que passaram, de algo tranqüilo e sem pressa, para um beijo ardente e cheio de paixão. Agora, os dois se beijavam como se fosse a última vez que se veriam, e, por isso, teriam que aproveitar cada momento juntos, decorar cada parte e canto um do outro para nunca esquecerem.
escorregou uma de suas mãos pelas costas de , acariciando delicadamente por debaixo de sua blusa. , por sua vez, mantinha uma de suas mãos da nuca para os cabelos do menino que cada vez mais bagunçava, e a outra se encontrava no cós de sua calça, puxando seu corpo mais e mais para si.
conduziu-a, sem apartar o beijo, para a janela da cabine e a pressionou delicadamente contra a parede. levantou a perna, logo sentindo a segurar firme e a levantar em seu colo. Em seguida, os dois foram escorregando pela parede gelada, até seus corpos encontrarem o chão, ela ainda sobre o colo dele. Sem pensar duas vezes, levantou os braços e ajudou-a a tirar o moletom. Ela sentia que não precisava mais daquilo, uma vez que agora se sentia extremamente quente, nem parecendo que estava na verdade nevando lá fora.
Ao que passou a beijar-lhe o pescoço, aproveitou para checar nos amigos. Os dois continuavam dormindo em um sono profundo, sendo que estava até roncando em intervalos de tempo. Em seguida, ela segurou o rosto de e voltou a lhe beijar os lábios, agora levando as mãos na barra da própria camisa e a retirando. cortou o beijo por alguns segundos, e pôde ver que os lábios do garoto já estavam extremamente vermelhos, e não pôde deixar de sorrir com isso. Ele também sorriu, mas ainda olhando para ela com um certo receio. não disse nada, e nem precisou; apenas riu baixinho e voltou a beijá-lo, agora retirando sua camisa também. Não demorou para que ambas calças também fossem parar esparramadas pelo chão da cabine, e as únicas coisas que sobrassem em seus corpos fossem a calcinha e o sutiã de e as boxers de .
Pela primeira vez em dias, parecia não pensar e muito menos se preocupar com nada. Nada além de aproveitar aquele momento com . Nenhum imaginário brigando com ela e principalmente com por fazer isso com sua melhor amiga, quase irmã; nenhuma lhe repreendendo sobre como aquilo que estava fazendo era errado; e o melhor de tudo, nenhum Don para lhe dar falsas esperanças com mensagens bonitinhas. Ali estava realmente o que queria: um cara que sempre gostara, que tinham várias coisas em comum e, principalmente, que estava presente.
Agora, não queria nem mais saber se tudo aquilo era ou não efeito do álcool. Ela simplesmente beijou com toda paixão e com toda vontade, enquanto lentamente retirava seu sutiã. Ela queria apenas, pelo menos uma vez em sua vida, viver o momento sem pensar se iria se arrepender. E assim que ambos corpos se juntaram, formando apenas um, nada mais disso passou pela cabeça de . Ela finalmente e apenas estava aproveitando o momento.


Cap. 12

O dia seguinte amanheceu justamente igual à : não tão bem. Sua cabeça latejava como se um ser vivo estivesse morando ali dentro e estivesse agora tentando sair, fora que já não sentia mais nenhuma parte de seu corpo devido ao frio. Mas pelo menos ela não teve que suportar a luz do dia tão forte, uma vez que, ao abrir os olhos esperando ter uma dor de cabeça ainda mais forte por causa dos raios de sol, encontrou apenas as nuvens nubladas e uma leve mas densa chuva atingindo a janela da cabine. E obviamente ainda havia o fato da roda-gigante London Eye não ter voltado a funcionar após os fogos de artifício, portanto ficando suspensa em ar até aquele mesmo momento.
Esfregando os olhos, tentou enxergar o que se movia vagarosamente ao seu lado, apesar de que a tontura por causa da ressaca da noite anterior não lhe favorecia muito a vista. Mas ao que a visão voltava aos poucos ao normal, dava-se para ver que era um corpo. ‘E que corpo...’, mas esse não era o objetivo e nem a hora para pensar algo assim. Notou que o mesmo corpo tinha os cabelos bagunçados e só usava boxers. Boxers do piu-piu, na verdade, mas tentou ignorar para não rir. Sabia que a risada apenas iria piorar sua dor de cabeça.
Viu, então, o corpo se mexer um pouco mais, e percebeu que ele estava acordando.
– Bom dia – A voz do corpo ao seu lado disse calmamente, ao que se inclinava para lhe beijar os lábios.
Pronto, foi o que precisou para ter um ataque e uma briga interna com a própria consciência. Ali, estirado ao seu lado e apenas de boxers, se encontrava o corpo semi-nu de . E, agora que havia parado para notar, ela não estava em suas melhores roupas também. Bom, na verdade, não estava em quase roupa alguma... Vestia apenas sua calcinha, e cobrindo seu tronco até mais ou menos a altura dos quadris, havia o moletom da Hurley que havia lhe emprestado na noite anterior. Como se não bastasse, viu que ao redor deles haviam várias garrafas de vodka e latinhas de cerveja vazias. Não precisou de mais nada para que o pior pensamento lhe viesse à cabeça: haveria ela dormido com ele?
abriu a boca para falar algo, mas não emitiu nenhum som. Nisso, voltou a fechá-la e encarou em uma expressão extremamente confusa. Então, sentiu sua mandíbula quase que involuntariamente se projetar para baixo, como se tivesse se desprendido de seu crânio. Mais uma vez, ela voltou a sentir os dentes semi-cerrarem em quase que uma dentada, como se algo fosse entrar em sua boca se a deixasse aberta por mais algum tempo. Seus olhos apenas deixaram de encarar para passar a observar o que emitiu um barulho estranho um tanto distante deles: havia acabado de soltar mais um de seus roncos, enquanto se acomodava sobre o corpo de , no qual estava abraçado. Ok, talvez o pensamento de ter dormido com lhe era muito estranho, mas sua melhor amiga ter dormido com já lhe parecia algo impossível.
Então, de repente, passou a olhar para em uma expressão aliviada e, na verdade, alegre. Era óbvio, como pôde ser tão burra? Ela provavelmente estava participando do programa Punk’d, aquele que o lindo do Ashton Kutcher apresentava. Claro, só podia ser. Se não aquilo, talvez fosse alguma piadinha de primeiro de abril... Mas eles não estavam em Setembro?
, você quer voltar aqui, por favor? – pediu com a voz tão fofa que deixava com o coração na garganta. Ele se jogou de volta no chão, olhando para a menina com aquela expressão de cachorro sem dono. Ela sentiu seu estômago afundar naquela hora. – Você tá usando o meu moletom, e a única coisa que tava me esquentando eram vocês...
abriu um sorriso que fora ao mesmo tempo maroto e extremamente meigo. não sabia o que queria fazer primeiro: estrangulá-lo por lhe torturar daquele jeito, ou pular em cima dele e o beijar com toda vontade como sempre quis. Mas a ‘brincadeira’ que seu estômago parecia fazer com a bebida da noite anterior a proibiu de mexer um sequer músculo, quanto mais beijar ou estrangular o garoto. – ? – voltou a chamá-la, agora preocupado com a expressão doentia da garota. – Você tá bem? havia sentido uma das piores sensações de sua vida: uma noite de excesso em bebidas. Agora sabia por que seu estômago parecia dar tantas voltas como em uma montanha-russa de quarenta loopings com direito a ficar de ponta cabeça ainda. E aquela fora provavelmente a primeira vez que realmente esperava que tudo aquilo que sentia fosse pela tortura que fazia com ela, e não por causa da ressaca. Sabia o quão ruim era com elas... E, se não estivesse enganada, a aparência pálida e doente que tinha na face era porque havia sentido um indício de vômito.
Mais uma vez, voltou a chamá-la, agora se levantando tamanha preocupação. apenas abriu a boca, dando graças à Deus que, quando o fez, não viu vômito saindo dela. Dessa vez, quando as palavras estavam finalmente para sair, um barulho que não fora o ronco de a fez apenas gritar. Tanto tempo que demorara a finalmente conseguir falar algo, e tudo o que fizera fora soltar um berro?
No mesmo instante, e acordaram assustados. Talvez não tanto pelo barulho e pelo tranco que pôde ser ouvido e sentido logo em seguida, mas pelo jeito em que se viram: abraçados, como um verdadeiro casal de namorados. jogou o menino ao seu lado para longe ao perceber os olhares de seus amigos que aparentemente já estavam acordados.
– O-o que aconteceu? – perguntou rapidamente, tentando disfarçar a situação e de que estava extremamente corado.
– Ah não – disse de repente, assustando todos ali.
– Que foi? – perguntou, os olhos arregalados. – Desembucha, ! O que você quer dizer com ‘ah não’?
– A cabine... – Ele falava devagar, como se quisesse ter certeza. – O London Eye...
– O que tem, ? – Finalmente, algo havia saído da boca de . Que não fosse um grito, claro.
– A gente tá... – levou segundos para finalmente conseguir completar a frase, mas quando o fez, saiu em um berro. – A gente tá descendo!
e soltaram gritos de desespero, enquanto soltava um ‘O QUE?!’ e tentava apanhar o máximo de garrafas vazias de bebidas que conseguia agüentar nos braços. Mas era tarde demais: em mais um tranco, a cabine parou de se locomover. Todos ali se entreolharam, deixando de fazer o que faziam antes; o pânico era grande demais para algum deles pensar no que fazer.
Ainda intactos, exatamente do jeito que haviam parado, e ainda trocando olhares curiosos e assustados, os quatro adolescentes viram a porta da cabine da London Eye em que se encontravam se abrir. Ali fora, viram em cerca de dois seguranças, um homem junto a eles e uma aglomeração de pessoas mais atrás, apenas observando e rindo da cena. Na verdade, até estava rindo: estava usando apenas boxers, enquanto era apenas coberta pelo moletom do garoto, deixando as pernas completamente nuas. , que não achava aquilo nada engraçado, e estava na verdade assustada e boquiaberta, deu um forte tapa no braço de para que ele parasse de rir.
Quando finalmente percebeu o que acontecia – ainda parecia estar completamente perdido –, correu para trás do garoto, enquanto tentava puxar o moletom mais para baixo. Além das pessoas estarem rindo e cochichando sobre aquilo, ainda estava chovendo e ventando forte.
– Vocês poderiam, por favor, sair da cabine e nos acompanhar? – Um dos seguranças pediu seriamente, correndo os olhos pelos quatro, mas parando para observar melhor o par de adolescentes semi-nus.
– Eu não! Você tá louco? – deixou escapar, se encolhendo completamente por causa do frio.
! – a repreendeu, lançando olhares significantes para ela.
– Desculpe, mas isso não é um pedido, senhorita, é uma ordem. – O outro segurança falou, ainda mais sério.
– Olha moço, você que me perdoe, mas tá MUITO frio – recomeçou, ignorando a expressão inacreditável de e as risadas abafadas de . – Eu não saio daqui nem que me façam!
– Pois iremos fazer você sair mesmo, se não for por conta própria! – Agora fora a vez do terceiro homem, que não aparentava nada ser um segurança. Ele usava um terno e tinha os cabelos disciplinadamente penteados; estava muito chique para uma visita ao London Eye. jurou ter visto ele em algum lugar, só não lembrava onde.
, talvez fosse melhor a gente só sair e... – finalmente falou, sorrindo extremamente sem graça para os seguranças, o homem e as pessoas atrás.
– Quem você acha que é pra falar assim comigo, hein? – o cortou rapidamente, levantando a voz para o homem bem vestido que já tinha as bochechas vermelhas e uma veia saltando de sua têmpora. – Aliás, quem você acha que é pra me tirar daqui à força?
– O Primeiro Ministro. – O homem simplesmente falou, na verdade sorrindo marotamente pelo canto dos lábios.
– A Rainha Elizabeth, por acaso? O senhor acha que tem algum poder sobre o London Eye, sobre Londres e sobre MI... – parou de falar bruscamente; a boca permanecia aberta pela frase não terminada e os olhos ainda mais arregalados. – Q-quem o senhor disse que era?
– O Primeiro Ministro. – O homem repetiu, indiferente, como se fosse uma resposta óbvia.
– Hehe, bom dia Primeiro Ministro – começou, rindo completamente sem graça enquanto procurava discretamente por suas calças, ignorando as risadas das pessoas e até dos seguranças. Nem mesmo havia conseguido segurar mais, e e batiam nas próprias testas. – Como vai o senhor? Fazendo o que por aqui a essa hora?
– Não sei se você sabe - vejo que não -, mas hoje é aniversário de 7 anos desde a abertura da London Eye – O homem explicou, agora na verdade calmo. Não poderia ser coisa boa, já que ele fazia questão em abrir no canto dos lábios um daqueles sorrisos malévolos e vitoriosos. – Acredito que ontem à noite você tenha reparado nos fogos de artifício? Ou não... – Ele deu uma breve mas significante observada em e , que estavam semi-nus. – Acho que a senhorita estava, anh... ocupada demais, digamos assim de passagem.
apenas arregalou os olhos, abrindo e fechando a boca em torno de três vezes, mas nada saía dela.
– Olha senhor – se pronunciou após alguns segundos em silêncio, tentando fazer com que a voz saísse o mais natural possível. – Nós precisamos de apenas alguns minutos para nos trocar e, então, poderemos resolver todo esse mal entendido. Porque não podemos sair assim lá fora, está chovendo.
O homem fitou-os novamente e concordou, mesmo que de má vontade, que eles pudessem se trocar enquanto e o acompanhavam para um enorme carro estacionado perto de Downing Street.
– Vocês têm dez minutos... – Ele disse consultando seu relógio de pulso e guardando suas mãos cuidadosamente dentro dos bolsos de seu paletó. – Deixarei um de meus homens do lado de fora para acompanhá-los e levá-los até mim. Dez minutos e nada mais!
apenas assentiu com a cabeça em um leve sorriso, agradecendo o homem. O mesmo fez um gesto quase que imperceptível e saiu com e ao seu encalce.
– Obrigada – murmurou, sorrindo pelo canto dos lábios para o garoto. Ele apenas retribuiu o sorriso e lhe entregou suas calças, rindo baixinho.
Após acharem todas as peças de roupas, ambos recolheram todas as garrafas e latinhas de bebida vazias.
Assim que jogou a última latinha de cerveja que vira no lixo, se virou para trás para encarar o que havia puxado sua mão. Ou melhor: quem havia puxado. havia entrelaçado ambas mãos uma na outra, e para seu grande espanto, ele segurava delicadamente seu rosto, parecendo admirar cada feição e traço de seu rosto. Sem esperar por aquilo, o garoto terminou com a distância entre eles, colando os lábios em um breve selinho. sentiu as maçãs do rosto queimarem, podendo jurar que elas não estavam nem mais vermelhas – agora provavelmente já haviam chegado ao roxo.
já estava prestes a virar, quando foi impedido pela mão de . Ela sentiu o estômago afundar ao ver aquele doce sorriso no rosto do garoto quando voltou a encarar sua face. Se ele apenas não tivesse demorado tanto para fazer aquilo acontecer... Talvez existisse uma chance de eles estarem juntos. Mas sabia que agora era diferente. Por mais que não quisesse, por mais que estivesse cansada de sofrer assim, sabia de quem realmente gostava. E era de Don.
, eu... – Ela começou, hesitando primeiramente. Não sabia como lhe dizer aquilo. – Desculpa, mas... não dá.
– O que não dá, ? – Ele perguntou confuso, agora acariciando levemente com os dedos as costas da mão de que o segurava.
, eu... – Não sabia como completar a frase. Não sabia e não conseguia. Era simplesmente difícil demais para ela, vendo que, não há muito tempo atrás, ela já fora apaixonada pelo garoto que, apenas agora, parecia sentir o mesmo que ela havia sentido por ele. Mas era tudo diferente agora, e não poderia iludi-lo... Com isso, suspirou profundamente em procura de coragem e, fechando os olhos, ela deixou sair com certa dificuldade: – Eu gosto do Don.
As palavras pareciam ter acertado-a na boca do estômago, mas ainda assim imaginava que não teriam feito a metade do efeito comparado com que parecia estar sentido. havia aberto os olhos para encarar o garoto, ver qual seria sua reação, e se arrependeu imensamente de ter o feito: a boca havia se contraído, os olhos estavam vermelhos e a face pálida, como se tivesse comido algo muito ruim e amargo que havia lhe feito mal. A mão de , que segurava a sua, caiu para o lado do corpo, deixando a mão de pendendo no ar. E, naquele momento, teve a certeza de que ninguém mais, nem mesmo a odiava mais do que ela mesma.
? – Ela o chamou, alcançando pela mão que o garoto havia, momentos antes, tirado. – Me desculpa, , eu não queria que acontecesse desse jeito. Mas... bom, digamos que você demorou um pouco para fazer isso. Eu... eu realmente gosto do Don agora, .
Por ora, não falou nada, apenas retirou sua mão no mesmo instante em que fora segurá-la. E, como se para garantir, enfiou-as no bolso da calça.
! Eu já disse que...
– Como você pode gostar mais dele? – Ele de repente perguntou, a voz mais cortante do que o próprio olhar.
– Não é que eu gosto mais dele, , mas você tem que entender...
– Não! Eu não entendo. – Ele agora berrava, dando cor às bochechas que antes estavam pálidas. – Você... você nem sabe quem ele é, . E ele não fez nem questão de se aparecer pra você! Não seria mais fácil se você simplesmente esquecesse que esse cara entrou na sua vida e seguir com ela normalmente?
– Não é bem assim, ! E eu sei que ele vai aparecer, ele só está...
– Esperando o momento certo? – O garoto completou, olhando-a com completo cinismo e sarcasmo. – Eu acho que você tem razão quando disse que gosta de idiotas...
– É, talvez eu realmente goste de idiotas, . – retrucou, agora já irritada com o comportamento de . Não esperava que ele fosse reagir de tal forma, por mais que o choque fosse um tanto grande pra ele.
– É, e talvez você só não esteja enxergando o idiota certo! – berrou à plenos pulmões, sem medir as palavras e atraindo alguns olhares das pessoas para eles.
– E o que você quer dizer com isso?
– Nada. – Ele respondeu rapidamente, arfando devido aos berros e ao frio que fazia. – Eu não quis dizer nada com isso.
E, com isso, deu as costas a e começou a andar na direção ao imenso lago Thames.
– Aonde você pensa que vai? – Ela berrou em certa indignação, antes que o garoto sumisse de sua vista.
– E você se preocupa com o que? – Ele berrou de volta, virando-se para ela enquanto continuava a andar de costas. – Da última vez que chequei, eu não era o Don. Ou era?
sentiu a mais completa ironia na frase de . O que ele queria dizer com aquilo? E ainda mais do que jeito com que falara... Mas não era exatamente isso que a deixava mais indignada, abismada e, principalmente, irritada com tudo aquilo. Era a reação de . Tudo bem se ele ficasse triste, tudo bem se ele ainda quisesse xingá-la apenas para aliviar sua raiva, mas nunca ela esperaria aquela exata reação, pelo menos não dele. Achava que seria uma das poucas pessoas que iria apoiá-la, dizer para seguir seu coração e defendê-la das críticas de e . Mas ele estava na verdade fazendo exatamente o contrário daquilo: estava fazendo tudo que imaginou que ele não faria.
– Quer saber, ? – Ela recomeçou, berrando o máximo que conseguia como que para descontar a irritação. Observou virar-se para ela e, como antes, andar de costas sem ver onde pisava. – Vá pra onde você quiser, suma! Isso, suma da minha vida. Porque mais pessoas como você, me julgando e dizendo o que eu devo fazer, eu já estou cheia! CHEIA! – De algum modo que nem pareceu notar, ela fez questão em dar ênfase à sua última palavra.
– Desculpe em te avisar, querida, mas se eu sumir da sua vida, o seu amorzinho Don Juan também irá sumir! – Ele berrou de volta, o sarcasmo parecendo ganhar forças cada vez mais em sua voz.
abriu a boca para voltar a berrar com ele, mas logo a fechou. O que diabos ele queria dizer com aquilo? O que teria ele haver com Don? Por acaso eles eram a mesma pessoa e se saísse de sua vida, Don obrigatoriamente teria de fazer o mesmo? A única coisa que conseguiu fazer, com esse pensamento, foi rir. e Don, a mesma pessoa... Aquilo realmente até chegava a ser engraçado. Claro, não pelo fato de serem muito diferentes – porque, na verdade, eram até que surpreendentemente parecidos – ou de gostar mais de um do que do outro, mas sim pela situação: todo o tempo que passara com e ele nunca teria lhe dito que era Don? Sim, aquilo seria engraçado.
– Sabe, eu, por um momento, por um único momento, achei que você seria diferente dos outros e iria acreditar em mim, iria me apoiar – Ela recomeçou, agora as palavras saindo cada vez mais alto de sua boca, o que não era o único sinal de sua irritação: involuntariamente, lágrimas começaram a escorrer dos olhos e rolar pelo rosto vermelho por causa da raiva e do vento que batia contra seu corpo. – Mas acho que você é como qualquer outro, né? Não, desculpa, isso já seria um insulto até mesmo pro ! Você não é como qualquer outro, porque você não quer o ‘melhor pra mim’ – Ela fez aspas no ar em um gesto quase que exagerado, ignorando os olhares das pessoas sobre ela. Não queria e nem iria parar de berrar ou chorar. Que se foda os outros, pensava. –, você só quer o melhor pra VOCÊ MESMO!
Sem perceber, estava à apenas um metro de distância de , tendo andado até ele enquanto berrava. Como havia chegado até ele sem nem mesmo notar? E, para melhorar a situação, o garoto ainda a encarava seriamente, em um misto de expressão entre raiva e dó. Ela conseguia sentir o olhar dele sobre cada lágrima sua que escorria pelo rosto que agora deveria estar mais vermelho, quase ao vinho, como nunca havia chegado antes.
abriu a boca, mas sem aquele ar que tinha antes onde tinha certeza que iria berrar com ela de volta. Ele parecia mais calmo, apesar do sarcasmo não ter sumido completamente de sua expressão. continuou a encará-lo diretamente nos olhos, vendo que ele fazia o mesmo, sem sentir vergonha nas lágrimas que ainda insistiam em rolar pesadamente sobre a face. Tudo aquilo que estava segurando para ou para com aquele papo de ‘é para o seu bem’ veio à tona em , e não podia ignorar o fato de que estava satisfeita em liberar sua raiva em alguém e vê-lo sentir a mesma coisa que havia também sentido. Mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, foi logo interrompido.
– Ah, aí estão vocês! – Ouviram a voz de ao longe, e ao se virarem, puderam ver a menina andando com certa dificuldade pela neve derretida da calçada até eles. – A gente já foi falar lá com o Primeiro Ministro... Bom, eu falei né, porque o fez mais perguntas idiotas e... O que aconteceu?
passou os dedos pelos olhos vermelhos e molhados com força, tentando enxugá-los antes que pudesse notar qualquer coisa, mas obviamente fora em vão. A amiga já lhe dava o típico olhar preocupado e confuso, perguntando apenas pela expressão o porquê de ela estar chorando.
– Nada, foi o vento... – mentiu, ainda esfregando os olhos sem delicadeza alguma. – Entrou um cisco, foi só...
, você não me engan...
Antes que pudesse completar sua frase, pôde-se ouvir um baque surdo atrás deles. Os três giraram as cabeças e conseguiram ver estatelado no chão, murmurando todos os tipos de xingamento para a neve derretida e as ruas escorregadias. então, andando vagarosamente, passou pelas duas garotas, lançando olhares cheios de significância para em especial e seguindo para ajudar o amigo. Ela observou enquanto o garoto estendia a mão para , e tudo isso para evitar o olhar de . Não queria lhe contar o que tinha acontecido, que tinha brigado com e chorado...
– Err, então... – começou quando se aproximou das meninas junto de , corando levemente por ter caído e por perceber que tinha restos de neve em seu rosto. – A gente já ligou pro , ele ta vindo pegar a gente.
– Não, obrigada. – disse de repente, fazendo todos se virarem para ela. Mas, diferente de e , que estavam confusos, preocupados e não entendiam o porquê daquilo, a olhou sem sentimento algum em sua expressão, como se não ligasse. Aquilo fez seu sangue subir fervendo. – Vou a pé mesmo.
E antes que qualquer um dos amigos pudesse dizer algo, primeiramente levou os dedos na barra do moletom que usava e, em um gesto rápido, puxou-o para cima dos braços e, após passar por sua cabeça e estar livre de seu corpo, jogou com força a vestimenta contra , lhe retribuindo o olhar sem sentimento. Bom, talvez existisse algum sentimento ali, mas mesmo se houvesse, não era nenhum bom. Em seguida, murmurou algo inaudível mais para e e deu as costas aos amigos, começando a caminhar lentamente enquanto chutava a neve derretida. Sentiu seu rosto queimar ao que, em um dos ‘chutes’, quase chegou a escorregar na água gelada. Parou, sentindo os olhares dos três em suas costas e, apertando os braços contra o corpo em uma tentativa completamente falha de se esquentar, continuou seu caminho. Em algum momento dele, chegou a ouvir a voz de , mas assim como ouvira aquilo, ouviu também murmurar em alto e bom tom: ‘deixa ela’.
Nesse momento, seu sangue fervia e também parecia ter parado de circular, não sentindo mais as pontas dos dedos. Seu coração, aparentemente, havia ido parar na garanta e estava prestes a vomitá-lo, lembrando de tudo que havia lhe dito e do modo como a olhara. De todas as pessoas, ele era provavelmente a última que ela esperava aquela reação tão infantil. Até mesmo de poderia esperar, sendo que era extremamente ciumento quando se tratava de . Mas não de ... nunca de . Além do mais, simplesmente não via motivos para o garoto agir daquela forma. Ele não era como seu irmão mais velho, não era ciumento – até onde sabia – e nunca havia gostado tanto de da forma em que ela já gostara dele no passado. E, de qualquer jeito, era passado. Claro, ela tinha ainda suas quedas por , mas sabia de quem realmente gostava, e não era a opinião dos outros que iria mudar a sua. Afinal, não era o que todos sempre falavam: o que importa é o que a gente pensa? Sim, era isso. Que se foda os outros, iria começar a viver a vida para ela mesma.
Não haviam passado dez minutos quando viu um carro preto andar extremamente devagar logo atrás de si. Por um momento, não ligou, mas quando viu que o motorista não iria desistir, apertou o passo enquanto sentia o medo tomar conta. Primeiro havia discutido com o Primeiro Ministro em pessoa sem ao menos saber que era ele; uma dúzia de pessoas haviam a visto semi-nua e pensado as piores coisas sobre ela; havia discutido com e chorado... Agora alguém a perseguia? Dia perfeito, pensou.
Mesmo andando o mais rápido que pudesse enquanto ao mesmo tempo tentava parecer discreta, o carro a alcançou e agora alguém abria o vidro do veículo. desviou o olhar e fez o máximo para parecer extremamente distraída e encantada com o passarinho da árvore ao seu lado.
– Você vai continuar me ignorando, – A voz ao lado, de dentro do carro, começou, ainda observando atentamente mas de um jeito quase que entediante para ela. – ou vai entrar no carro?
se virou, assustada com a familiaridade que tinha naquela voz. Fora provavelmente a primeira vez que sorrira no dia: ali no carro se encontrava , e não um perseguidor maníaco como havia pensado que fosse. Colocou o pé na rua, pronta para entrar no veículo, se aquecer e ser consolada pelo amigo, mas um pensamento lhe veio na cabeça e ela logo parou o que antes fazia.
– Não vou entrar. – Disse séria, cruzando os braços e fechando a cara.
– O não tá aqui, ele foi a pé – disse de repente, como se pudesse ler seus pensamentos.
– Ah... – descruzou os braços e, um tanto sem graça, encolheu os ombros e deu a volta no carro, abrindo a porta do banco da frente de passageiro. Mas logo parou, encontrando o rosto de ali, sorrindo abertamente para ela. – ? – Ela olhou para o fundo do carro. – ?
– Você não achou que a gente também fosse a pé, né? – falou, sorrindo enquanto se abraçava à um cobertor.
tentou fazer o máximo para abrir o maior sorriso, o que realmente não foi muito. Estava esperando encontrar sozinho ali para poder conversar com o amigo e lhe contar tudo o que havia acontecido, assim recebendo a feliz oferta de quando sempre queria lhe consolar: levá-la ao Starbucks para tomar um Moccha branco quentinho.
, passa pra trás – disse calmamente, batendo de leve nas pernas de que estavam dobradas e agarradas aos braços, como na tentativa de se aquecer.
– Aaaaah, porque? – O garoto perguntou em um jeito criança, fazendo os amigos rirem.
– Porque sim, agora vai – voltou a bater mais uma vez em suas pernas e, automaticamente, pulou para o banco de trás, roubando o cobertor de e fazendo-a reclamar e começar uma pequena e típica briga deles. – Entra aí, pequena.
, pela primeira vez desde a hora em que acordara, sentiu-se acolhida e um tanto feliz. Ouvir seu melhor amigo, seu irmão lhe chamar de ‘pequena’ era uma das coisas que mais lhe consolava e lhe alegrava quando estava triste.
– Você vai levar a gente direto pra casa? – perguntou após alguns minutos de silêncio. – Digo, me levar pra minha casa... – Ela consertou, tristonha.
– Você quer passar no Starbucks? – sorriu ao que olhou a amiga ao seu lado pelo canto dos olhos e a via bater palmas animada. Era certo: ele conseguia de fato ler seus pensamentos. se inclinou e lhe deu um beijo na bochecha, murmurando um ‘obrigada’ em seu ouvido, realmente agradecida. O que seria dela sem ? – Mas depois tenho que te deixar na sua casa, tudo bem? Eu vou sair... A não ser que você queira ficar me esperando lá em casa.
– Oferta tentadora – sorriu pelo canto dos olhos, fazendo o amigo rir. – Mas já que você vai sair, pode me deixar lá em casa mesmo.
apenas concordou em um aceno de cabeça. Em seguida, ao que o sinal de trânsito havia ficado verde e deixando-os passar pelo cruzamento da Downing Street, o garoto antes segurou delicadamente o rosto de e lhe beijou a testa. Ela apenas sorriu, se sentindo agora muito melhor.
, você vem comigo? – perguntou após mais alguns minutos de silêncio, onde os quatro apenas ouviam a música que tocava do CD de : What Went Wrong, do Blink. Aquilo lhe lembrou terrivelmente de tudo que estava dando errado. E bem, a lembrou ainda mais de , que amava a banda tanto quanto ela. – Pra casa... – Ela adicionou, tentando afastar os pensamentos anteriores.
– Claro. – concordou, enquanto batia no braço de para que ele soltasse a grande quantidade de cobertor que havia puxado apenas para si mesmo. – Devemos ligar pra e pra ?
– Yeap. – concordou. A idéia em ver as outras duas amigas que na verdade não via há algum tempo lhe alegrou, mas não demorou muito, imaginando que teria de contar a elas sobre o ocorrido no London Eye, antes que elas descobrissem por outras fontes.
Não demorou um ou dois minutos a mais e os quatro já estavam parados em frente a uma conveniência imensa. apertou um botão da chave do carro e, com um barulho, o veículo fechou automaticamente as janelas e se trancou. e foram na frente, abrindo a porta e dando espaço para e as seguirem. Enquanto parou para dar uma olhada nas revistas de fofocas, ia em direção à vitrine de doces e folheava algumas revistas sobre carros, correu extremamente rápido em direção à uma placa onde podia-se ler: ‘Starbucks’.
– Ô moça, moça, moça, moça – chamou a atendente sem parar, não sabendo se aquele sorriso que ela lhe dera fora porque a achara muito infantil ou porque estava realmente irritada mas tentava não demonstrar. – Me vê um Moccha branco, por favor?
A mulher apenas concordou com a cabeça, apanhou a pequena e dura plaquinha que e todos os clientes recebiam na entrada e a passou em uma máquina, que emitiu um barulho e uma luz vermelha, que marcava o pedido da pessoa. Em seguida, a atendente se distanciou para preparar o Moccha de , enquanto ela se virava e recostava suas costas no balcão. Observou se aproximar lentamente dela enquanto segurava o famoso jornal The Sun nas mãos.
– E aí, vai me contar o que aconteceu? – Ele perguntou de repente, passeando o olhar do jornal até . – O não quis entrar de jeito nenhum no carro e me disse pra se preocupar com você, que você estava por aí andando sozinha...
– Uhm... – Ela respondeu simplesmente, não demonstrando nenhum interesse ou afeto pela ação solidária de . É claro que estava curiosa para saber o porquê da repentina mudança, se antes evitara olhá-la com qualquer sentimento na face, como se a odiasse tanto que nem ao menos conseguia demonstrar a raiva na expressão. Mas, ainda assim, fazia de tudo para não notar nem sua curiosidade.
– Não quer me contar mesmo? – voltou a perguntar. Achou legal de sua parte não forçar nada, como normalmente faria apenas para saber o que havia acontecido entre os dois amigos. Agora ele parecia calmo, parecendo não querer magoar mais a amiga. Sim, ele provavelmente sabia o quão magoada estava... Ele sabia tudo sobre ela apenas por um olhar, o que poderia ser bom como ruim.
– Pode ser depois, ? – pediu, encolhendo os ombros. Realmente não queria falar nem pensar sobre aquilo, pelo menos não naquele momento em que estava melhorando. – Juro que te conto, só não... agora.
– Quando você quiser, pequena – E, com um beijo em sua testa, sorriu e voltou a folhear o jornal na mesa em que se encontrava devorando vários doces. apenas continuou sorrindo, observando a figura de seu melhor amigo distraído.
– Está pronto. – Ouviu uma voz atrás de si e, ao se virar, viu a atendente apoiar a caneca com o símbolo da Starbucks sobre o balcão. agradeceu com um sorriso e se distanciou, indo em direção à , que continuava a folhear as várias revistas.
– Vou ligar pras meninas. – avisou, apanhando o celular do bolso traseiro da calça jeans e o abrindo, já discando o número tão conhecido. apenas murmurou algumas palavras que foram impossíveis de serem reconhecidas, distraída demais lendo sobre o relacionamento acabado de Jennifer Anniston e Brad Pitt, e em como o ator havia a traído com Angelina Jolie. apenas riu e levou o celular ao ouvido quando terminou de apertar as teclas.
– Alô? – A voz feminina, fina, meiga e que soava como a de uma criança disse do outro lado da linha.
? – perguntou, por mais que soubesse que era mesmo a amiga.
? – A garota também perguntou, seguindo de um momento de silêncio e então as duas riram juntas. – Tá, a gente parece duas idiotas... Como você tá, honey?
– Anh... bem. – Mentiu. – E você?
– Bem também. – disse simplesmente, e pôde por um momento calcular os movimentos que a amiga fazia enquanto falava. Riu ao pensar nisso. – Gostou do ensaio dos meninos?
– Ensaio? – perguntou, mais para si mesma. E então se lembrou: tanto havia acontecido que ela havia esquecido por um momento sobre o ensaio da banda dos garotos e fora dali que a levou para o London Eye junto de e . – Ah sim, o ensaio... Foi bem legal... acho.
– Verdade que você e a saíram com o e o ?
– Bom, é... – encolheu os ombros. Porque agora todos pareciam querer lembrá-la dos dois piores dias de sua vida? – Mas hey, calma aí... Como que você sabe?
– Eu... eu... – Ela gaguejou, extremamente sem graça. – Bem, o me contou...
– E desde quando você e o andam se comunicando? – perguntou em tom provocativo.
– Ah , deixa isso pra lá, vai! – falou rapidamente, fazendo rir enquanto imaginava a cor que a amiga do outro lado da linha deveria estar. – E aí, me conta. Como que foi?
– Então, sobre isso... – começou, medindo as palavras e mordendo o lábio inferior. Vai , você precisa contar pras suas amigas, pensou. – Eu queria conversar com vocês hoje, sabe... Digo, com você, com a e com a ...
– Com a ? – perguntou, sem entender. – Mas ela não tava lá com você?
– Tava, mas... , só aparece lá em casa com a às seis, ok? – Falou rapidamente, sem saber outro jeito de falar. – A já vai estar comigo. A gente tá aqui com o e com o numa conveniência.
– O ? – voltou a perguntar, novamente confusa. – E o ?
– Eu vou explicar tudo depois, tá? – falou, e sem esperar resposta, continuou rapidamente: – Só esteja lá com a . Amo você, beijo!
E, com isso, desligou. Sabia que se passasse mais um minuto ao telefone sobre o interrogatório curioso de , iria acabar falando algo que não deveria. E tudo que queria falar iria ser dito quando elas se encontrassem em sua casa. E, naquele momento, não conseguiu parar de agradecer mentalmente sua mãe por ser desnaturada e tê-la deixado sozinha na casa para ir viajar para Liverpool, em algum SPA com sua amiga. Assim, estaria sozinha com suas amigas e ninguém ouviria a conversa delas.

Eram quase seis horas da tarde e o sol já quase sumia entre os enormes prédios. O carro de havia parado em frente à casa de , onde ela e desceram e se despediram dos garotos. ia aproveitar que estava com sua mochila para dormir na casa de e depois, segundo ele, convidar para uma partida de videogame na casa de , já que o mesmo e iriam sair com suas ‘namoradas’ misteriosas. não prestou muita atenção para àquilo: tudo e qualquer coisa que tinha o nome de envolvido não lhe interessava mais, a partir de agora. Ela havia decidido isso no caminho para casa e havia na verdade gostado de sua idéia, apesar de estar sendo um tanto difícil de cumprir tal tarefa.
Assim que o carro preto em que se encontravam os garotos deu partida e sumiu pela esquina do próximo quarteirão, girou as chaves na fechadura e abriu a porta, contemplando o lugar que chamava de casa mas que, ainda assim, era o único recinto que menos permanecia ultimamente. , que adorava a casa da amiga, saiu correndo assim que a porta foi aberta e se jogou no sofá preferido da casa: uma daqueles que pareciam sofás de psicólogos, mas muito mais fofo, confortável, quentinho e... bom, era simplesmente bem melhor. Buddy, o cachorro que tinha desde que se conhecia por gente, pulou logo em seguida, ficando sobre e lambendo sua face.
– Eu também tava com saudades, Buddy – começou, tentando se desvencilhar da língua do cachorro. – Mas cheg... Buddy! – Ela riu, reclamando que agora fazia cócegas. – , manda o Buddy sair de cima de mim! O gelado da língua dele faz cócegas!
– Meu próprio cachorro prefere a retardada da minha amiga a mim – brincou, enquanto ria do dedo que lhe estirara e batia palmas para que seu cachorro saísse de cima da amiga. E ele assim o fez: pulou do sofá rapidamente e correu em uma velocidade surpreendente até a dona, pulando sobre ela apenas com as patas traseiras e quase a fazendo cair para trás com o peso do animal. – Cacete, o que você anda comendo, cachorro? Tá gordo... – Buddy apenas soltou um alto latido, como se entendesse o que falava e estivesse a respondendo. – Tá bom, vai – Disse, agora como se ela que tivesse entendido o que o cachorro quisera dizer. – Vamos lá que eu vou pegar comida pra você! Mas to dizendo, você ainda vai sair rolando por aí ao invés de correr.
Em mais um latido, o cachorro seguiu a dona em direção à cozinha. No mesmo instante em que sumiu pela porta, pôde-se ouvir o barulho da campainha sendo tocada. , que estava ocupada dando ração à Buddy, berrou de onde estava para atender.
– Hunf, a casa é sua e eu que tenho que fazer as coisas – reclamou em voz alta para que escutasse, logo soltando um resmungo ao ouvi-la responder algo como ‘se você não fizer as coisas, fica sem o sofá’. E como ela viveria sem o sofá da família ? – Fala girls! – Disse de repente, assim que abriu a porta e viu as imagens de e ali em sua frente.
– To com fooooooome – reclamou assim que adentrou a casa, sem nem cumprimentar ninguém.
– Oi pra você também – respondeu sarcasticamente, e quando foi a vez de entrar, ela largou a amiga sozinha para correr ao sofá e salvar seu lugar que queria pegar. – Sai , é meeeeeeeu!
– E oi pra você também – falou no mesmo tom sarcástico, fechando a porta atrás de si. – Cadê a ?
– Lá na cozinha dando comida pro Buddy – falou rapidamente sem olhar para a amiga, já que estava ocupada demais puxando a perna de , que berrava ‘água! água! eu desistooo!’ para que a amiga a largasse. apenas riu da cena e berrou pelo nome de .
– To indo, meninas – berrou de volta da cozinha.
– Aproveita e traz algo pra comeeeer – berrou de volta enquanto arfava, quando finalmente havia a soltado. Tudo por causa de um sofá? Apesar de que aquele ser realmente o melhor sofá que já existiu...
Ao que apareceu na fresta da porta, deixou escapar um grito: Buddy vinha correndo em sua direção com a mesma velocidade que tinha feito há minutos atrás. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, se viu deitada no chão, berrando e sendo lambida por toda face pelo cachorro.
, quantas vezes eu vou ter que falar pra você adestrar esse bicho?! – berrou, tentando se livrar das enormes patas peludas do labrador.
– Ai , como você é fresca – comentou, assoviando e chamando Buddy para ela. O cachorro obedeceu e correu em sua direção, sentando educadamente na ponta do sofá e deixando que a garota acariciasse sua cabeça. – O Buddy é o cachorro mais manso e bobo que eu já vi! Pior que poodle...
– Mentira, porque a minha poodle é um amor, e o Buddy é extremamente diferente da Bella, tá? – retrucou, levantando-se com a ajuda de e batendo nas roupas para que os excessos de pêlos grudados ali saíssem.
– Sua poodle é uma nojentinha – murmurou, girando os olhos e em seguida rindo ao ver que havia ouvido aquilo e gritado em protesto.
– Mudando o assunto sobre cachorros – começou, ainda rindo da cena das amigas –, apesar de que eu concordo com a - desculpe – Ela falou rapidamente, agora segurando o riso –, vamos subir pro meu quarto, gente?
– Isso, vamos – concordou fervorosamente. – E deixar o Buddy aqui! – Acrescentou, fechando a cara quando lhe mostrou a língua.
e apenas riram das duas outras amigas – provocava chamando Buddy para subir junto, enquanto dava berrinhos altos e tapas na amiga – e logo subiram as escadas que levavam para um corredor que separava dois quartos: o de e de seus pais.
As garotas viraram à esquerda e entraram pela porta onde haviam vários sinaleiros como pôsteres e placas pendurados, e o maior deles era uma placa preta onde lia-se: ‘keep out!’ em letreiros grandes e amarelos – obviamente, o quarto de . Assim que adentraram o local, fechou a porta rapidamente atrás de si para ter certeza de que o labrador da amiga não entraria ali também.
– Droga, será que a mamãe lembrou de alimentar a Pinky antes de ter saído? – perguntou mais para si mesmo, enquanto abria duas portinhas de um armário abaixo de sua escrivaninha.
– Não me diga que você ainda tem... isso. – disse entre os dentes, contraindo o rosto em uma expressão de extremo nojo.
apenas riu do modo como a amiga referia ao seu querido ‘animal de estimação’. Pinky, como dera o nome, era um bicho pequeno, peludo e de várias patas que era mantida em algo parecido com um tanque de tamanho médio de vidro. Agora você pensa: o que é pequeno, peludo, tem várias patas e é preso em um tanque de vidro? Sim, era exatamente o que mais temera quando soube que sua amiga havia comprado aquela ‘coisa’, como gostava de chamar tão carinhosamente.
, como você pode ter uma aranha de bicho de estimação?! – perguntou indignada, a expressão enojada ainda na face. – Cachorros são bichos de estimação, gatos são animais de estimação, e pingüins! Pingüins, isso seria um bichinho legal para se ter. Mas aranhas? Você deve ter problemas!
– Pingüins? – perguntou, rindo com as amigas. – E depois a que tem problemas?
– Hey, pingüins são fofos! – retrucou, dando a língua. – Mas uma aranha... – Ela acrescentou, em seguida se arrepiando exageradamente.
– Ah, porque de um cachorro de meio metro, forte e violento você não tem medo, mas tem de animais pequenos que são inofensivos! – retrucou, encarando de braços cruzados.
– Inofensivos, é? – perguntou e, quando havia virado para a amiga para respondê-la, a única coisa que conseguira fazer fora berrar, e muito alto: estava segurando a aranha em suas mãos e enfiava na cara da amiga.
– AAAAAAAAAAAAH! Tira isso daqui, ! Tira, tira, tira! – abanava as mãos como se uma mosca sobrevoasse sua cabeça e ela quisesse o acertar.
– Você dizia o que, ? – perguntou completamente sarcástica, também cruzando os braços como a amiga antes e fazendo as outras rirem. apenas mostrou o dedo para ela e fechou a cara.
– Você tem um zoológico aqui na sua casa, ... – comentou, enquanto colocava a aranha Pinky de volta onde antes se encontrava.
realmente tinha praticamente a floresta Amazônica inteira em sua casa: fora Buddy, o labrador, e Pinky, a aranha, ela também tinha um cachorrinho de pequeno porte da raça lhasa apso chamado Sam que sua mãe sempre levava consigo em viagens, como nessa que havia ido – os dois pareciam não se desgrudar, e Sam era o único animal que sua mãe gostava –, dois peixinhos chamados Cosmo e Wanda – nomeados assim por causa de seu desenho favorito, os Padrinhos Mágicos –, um hamster chamado Tim e um sapo chamado Trevor. Havia também comprado do próprio zoológico uma cobra recém-nascida que nomeara Ella, mas nem sua mãe nem o zoológico haviam a deixado levar o animal para seu quarto, então sempre que podia, ia até lá visitar a cobra de agora quase um ano.
– Gente – finalmente chamou as amigas que pareciam não se aquietar. fazia caretas para os peixinhos dourados Cosmo e Wanda, enquanto ameaçava abrir a porta para deixar o labrador Buddy entrar, fazendo com que brigasse aos berros com ela. – Gente, eu preciso falar com vocês. Ou vocês realmente acharam que eu chamei vocês aqui pra apreciar essa zona? – Ela riu.
– Mal educada – reclamou, fingindo estar extremante ofendida. – Hey, eu quero comida!
– E depois a que é mal educada? – perguntou, rindo de e a fazendo lhe dar o dedo. – Mal educada, folgada e violenta ainda!
– Mas eu estou com fooooooome, ué! – voltou a reclamar, passando a mão pela barriga.
– Credo , você tá parecendo o comentou, rindo alto.
– Gente... – voltou a chamar ao que a bagunça e as vozes das amigas aumentavam mais.
– Ih, olha a apaixonadinha! – falou, apertando as bochechas de e fazendo-a corar intensamente. – Ai , ui ...
– Cala a boca, ! – retrucou, tirando as mãos da amiga de seu rosto e mostrando o dedo para a mesma e para que riam.
– Uhm, gente?
– Ops, o que é isso? – perguntou cinicamente com as mãos na boca, enquanto mexia no celular de . – Por acaso é o número do... aqui, ? Aquele que você vivia reclamando em ser o ‘maior loser da escola’?
– Me devolve isso, ! – disse, alcançando o celular nas mãos da amiga e fazendo-a rir por seu rosto estar quase púrpura naquele momento. – E, pelo que eu saiba, você dizia o mesmo sobre o ... – Acrescentou, abrindo um sorriso provocativo nos lábios.
– Geeeeeeeente?
– Cale a boca, retrucou, agora sendo sua vez de ter as maçãs do rosto vermelhas. – O é o maior loser da escola e sempre será!
– Então quer dizer que a rainha pop da está gostando do loser da escola? – Agora fora a vez de ter as bochechas apertadas por .
– O que você tá falando, ? – perguntou batendo no braço da amiga e deixando-a confusa e, como que para ‘completar’, também corada. – Você ama o ! and , sitting in a tree – cantou, enquanto ria com . –, K-I-S-S-I-N-G.
– GENTE! – Dessa vez, deixara um berro escapar de sua boca enquanto arfava tamanho fora o fôlego que havia tomado para berrar daquele jeito, e sentia agora suas bochechas também vermelhas, mas não de vergonha, e sim de irritação.
As três, que antes falavam sem pausa, subitamente pararam e encararam a amiga um tanto assustadas. Elas se entreolharam e em seguida murmurando pedidos de desculpas. , por um momento, sentiu-se sem graça por perder o controle daquele jeito na frente delas, mas manteve a pose de quem parecia estressada e pretendia por ordem naquilo. Mandou-as sentar em um sussurro, mas ela mesma permaneceu-se em pé.
– Eu... eu preciso falar com vocês. S-sério. – Ela começou, andando de um lado ao outro do quarto e corando quando sentiu as palavras saírem atropeladas de sua boca.
– Odeio assuntos sérios – comentou baixinho, reclamando e logo calando-se quando lhe deu um tapa para que prestasse atenção na amiga que antes falava. – Er, desculpe... – Acrescentou, sem graça.
– Vocês não precisam ter medo de mim ou de falar também – comentou um tanto irritada, mas ainda assim rindo baixinho.
As quatro entraram em um silêncio horrível, no qual passaram a fitar umas às outras. pensou em como, em anos de amizade, nunca havia presenciado uma situação daquelas com suas melhores amigas. E desejou nunca mais presenciar também.
– Então, você queria falar com a gente? – finalmente perguntou, cortando o silêncio. – Algo sério?
– Ah sim – disse como se estivesse acabado de lembrar, e, parando de roer as unhas, suspirou tão profundo que uma pontinha de coragem pareceu brotar nela. Ou pelo menos esperava. – Eu... bom, eu realmente não sei como começar a contar... nem como continuar nem terminar, caso arranje um jeito de primeiro começar. – Ela falou, extremamente nervosa, não ligando pelo fato de já estar confundindo as amigas com as palavras enroladas. – Mas eu preciso contar... o que... bem, o que aconteceu... ontem.
– Ah, isso eu já sei! – de repente falou, sorrindo e abanando as mãos. – Eu estava lá, .
– Não , você não sabe o que aconteceu – respondeu de um jeito meio que misterioso e sombrio, assustando tanto quanto as outras duas. – Sabe, aconteceu enquanto você e o dormiam e... eu não sei como justo aquilo foi acontecer... bom, acho que eu tenho uma idéia: as bebidas. Mas nunca imaginei em chegar naquele ponto, e...
– Você pode parar de dar ênfases nas palavras para não nos deixar tão curiosas, já que você aparentemente vai enrolar pra contar? – pediu, rindo.
– Desculpe – disse sem graça, encolhendo os ombros e tentando também sorrir, apesar de não ter exatamente sucedido.
– Conta logo, ! – pediu ansiosa, balançando as pernas e roendo as unhas.
– Ah, bem... como vou falar isso? – perguntou mais para si mesma, enquanto parecia conversar consigo mesma como se, quando fosse falar para as amigas, não errasse ou fizesse alguma besteira. – Eu e o ... bom, a gente... nós...
– Bom, pelo menos sabemos que é algo com vocês dois, obviamente – voltou a brincar, rindo. Queria ser calma como ela.
– Fala looooooogo! – pediu, agora tão ansiosa quanto , já que não mordia as unhas, e sim as próprias pontas dos dedos.
– Nós... – inspirou novamente, fechando os olhos e continuou, com toda a coragem e força que tinha, apesar de não ser muita. – Nós... fizemos...
– Fizeram o que? – perguntou inocentemente, virando levemente a cabeça para o lado como um cachorrinho.
– Bom, nós... fizemos.
, por um momento, abriu novamente a boca já em uma expressão irritada para reclamar, mas em seguida, fez o que mais tinha medo: não a fechou. Apenas continuou com ela escancarada, como se tivesse descolado de seu crânio, mas a expressão não era confusa agora, e sim assustada e abismada, os olhos extremamente arregalados. não estava muito diferente também: na verdade, estava igual à , a única diferença entre as duas era que agora havia se tornado mais pálida do que normalmente já era, e ainda tinha sua cor normal. , por sua vez, continuava a fitar normalmente, provavelmente ainda esperando pelo final da frase que não veio.
– Como assim? – perguntou, na mesma voz inocente que havia feito minutos atrás. – Fizeram o que, meu Deus? E porque você tá pálida, ?
, como em um ato automático, virou-se para e, tampando a boca de lado com sua mão e a encostando-a na cabeça da amiga, sussurrou algo em seu ouvido. Rapidamente, imitou as faces das amigas: os olhos e a boca tão escancarados quanto.
, que antes pensara em como não gostaria de viver mais um daqueles silêncios horríveis de antes com as amigas, estava o presenciando novamente naquele momento. Mas daquela vez era bem pior, uma vez que as três a encaravam em expressões horrorizadas, como se a julgassem apenas com o olhar. não sabia se ficava irritada ou desesperada, então resolveu optar pelos dois.
– Vocês realmente vão ficar aí me olhando como três idiotas ou vão falar algo? – Ela começou, vendo que nenhuma das amigas iria tomar a iniciativa. – Falar, julgar, xingar... seja lá o que forem fazer, façam!
– C-como? – Foi tudo que conseguiu falar, ainda chocada.
– Você realmente quer saber como, ? – perguntou ironicamente em um sorriso afetado. Odiava o humor em que ficava quando coisas como aquela aconteciam. Sabia que estava errada e, ainda assim, o orgulho falava mais alto. E sua saída para tudo sempre parecera ser as piadinhas irônicas.
– Mas você... você ainda era... você sabe... – perguntou, arrastando e medindo cada palavra como se pudesse ser presa se falasse normalmente.
– Você quer dizer virgem? – simplesmente perguntou, em um tom de voz quase que entediado. Estava sendo extremamente rude daquele modo, mas o silêncio e choque das amigas estavam a incomodando. Ainda mais de : sabia que ela iria lhe dar a maior bronca, maior do que a de se soubesse, então porque não parava de enrolação e já ia direto ao ponto de uma vez? – Sim, eu era virgem.
O silêncio voltou a reinar sobre o quarto. Sabia que, se dependesse de , ficariam assim pelo menos até amanhã; era meio que inocente demais para continuar um assunto como aqueles – sabia que a menina tinha até receio de comentar sobre aquelas coisas mesmo em aulas de Biologia; então apelou pela sua última esperança: . A amiga sempre a ajudava quando estava com problemas, especialmente se eles se relacionassem de alguma forma à . Ela sempre lhe dava uma força para não fazer com que nenhuma matasse a outra.
Agradecendo à amiga e a todos os deuses que lembrava, pareceu notar o olhar suplicante de sobre ela. Levou alguns minutos para se recuperar o máximo que podia – não completamente, é claro, mas de qualquer jeito ela sempre entendia mais dos problemas dos outros –, mas pelo menos por ora.
– Bom, vocês pelo menos usaram proteção, certo? – finalmente se pronunciou, mas após perceber o que a amiga havia perguntado, desejou que ela não o tivesse feito. Tinha muita certeza de que, se estava bêbada o bastante para fazer aquilo com , a última coisa que iria lembrar era sobre camisinhas.
– Sim. – Mentiu, tentando ignorar os olhares das amigas.
– Menos mal, menos mal... – disse enquanto acenava freneticamente a cabeça em nervoso.
As quatro entraram em silêncio mais uma vez, e, pela primeira vez, preferiu que tivessem continuado daquele jeito à ter que finalmente enfrentar a voz de :
– Mentirosa. – Ela simplesmente disse com a voz cortante, assim como seu olhar sobre a amiga.
– Que? – perguntou, desentendida.
– Eu disse mentirosa repetiu lentamente, como se fosse retardada ou algo do tipo.
– E o que você quer dizer com isso? – Perguntou tentando parecer ofendida. Mas que mania de em saber tudo que passava em sua mente!
– Quero dizer que você está mentindo, ué. – Ela disse mais uma vez em voz de serenidade cínica. Odiava aquilo em mais que tudo: sabia que, quando estava mais nervosa, fingia-se de calma, tendo então o poder de deixar a outra pessoa nervosa.
– E como você pode saber que eu estou mentindo? – perguntou, agora já irritada com aquela falsa tranqüilidade da amiga. – Não acredita em mim?
– Não. – Ela simplesmente respondeu em um sorriso cínico: a resposta que nunca esperara.
– Quer saber? – Começou, andando em passos firmes até a porta e a abrindo com força. – Acho que não foi uma boa idéia trazer vocês aqui apenas pra contar isso. Vocês não me ajudam nem me apóiam de qualquer jeito, e repito o que disse pro : não preciso nem quero mais pessoas para me julgar. Estou cansada e quero dormir, amanhã a gente se fala.
E, com isso, ficou parada ali esperando que suas amigas passassem pela porta segurada aberta para elas. Sabia que iriam protestar, principalmente , que iria agora querer ficar ali até saber a verdade, do que realmente havia acontecido. Mas, para sua surpresa, foi a primeira a se levantar, sem abrir a boca, e se dirigiu até a porta. Murmurou algo para as outras duas para que elas fizessem o mesmo, e, lentamente, elas fizeram. , ao que passou, lançou à um olhar de desculpas e ainda de choque; , por sua vez, sorriu fracamente à ela e, após lhe dar um forte abraço que quase fez cair sobre seus braços e começar a chorar desesperadamente, disse que ligaria amanhã de manhã.
assistiu as amigas sumirem pelo corredor, e continuou ali segurando a maçaneta até ouvir os barulhos de passos cessarem e a porta de entrada lá debaixo se fechar atrás da última delas em um click. Bastou isso para que deixasse as lágrimas rolarem pesadamente dos olhos e esmurrasse a porta tamanha era sua raiva, aproveitando que sua mãe não estava ali para lhe perguntar o que havia acontecido.
Como quase que em um ritual para estados daqueles, sentou-se na ponta da cama, perto de seu criado-mudo e abriu uma das gavetas. De lá, tirou um porta-CDs e começou a revirá-lo à procura de algum em especial. Assim que pode ver, no CD, a foto dos rostos de duas meninas, onde embaixo podia-se ler ‘Aly & AJ’, apanhou-o e colocou-o no som para tocar. Sempre que se sentia depressiva ou até mesmo um pouco para baixo, ela pegava seus CDs secretos de boybands ou cantoras melosas e ouvia o dia inteiro, como para ‘afogar suas mágoas’.

I am moving through the crowd
Trying to find myself
Feel like a guitar that's never played
Will someone strum away?

And I ask myself
Who do I wanna be?
Do I wanna throw away the key?
And invent a whole new me
And I tell myself
No one, no one - don't wanna be
No one but me


caminhou até o banheiro e, vagarosamente, como se tivesse todo o tempo do mundo, despiu-se e deixou as roupas ali jogadas no chão. Vestiu seu roupão devido ao frio que fazia e, em seguida, girou a torneira e deixou a água quente despejar sobre sua banheira, enquanto a enchia de uma substância líquida que fazia a água espumar e fazer bolhas.

You are moving through the crowd
Trying to find yourself
Feeling like a doll left on a shelf
Will someone take you down?

And you ask yourself
Who do I wanna be?
Do I wanna throw away the key?
And invent a whole new me
Gotta tell yourself
No one, no one - don't wanna be
No one but me


Enquanto esperava a banheiro se encher por completo, subiu em um impulso forte com os pés na bancada da pia. Balançou os pés freneticamente em sinal de nervosismo, enquanto forçava a si mesma a não chorar. Virou-se delicadamente para não derrubar nenhum objeto que a rodeava e, ao se olhar no espelho, não conseguiu evitar uma careta: sua maquiagem de ontem havia parcialmente sumido, mas o pouco que lhe restara estava borrado. Os olhos e toda a face estavam inchados devido ao choro constante, e os cabelos pareciam um tanto ressecados.
Porque, pensou, apenas um garoto conseguia fazer tudo aquilo a ela em um dia? Um simples garoto tinha o poder de destruir seu dia e a si mesma... Mas, como?

Your life plays out on the shadows of the wall
You turn the light on to erase it all
You wonder what it’s like to not feel worthless
So open all the blinds and all the curtains


desceu da bancada em um pulo ao ver que a água estava quase transbordando da banheira. Girou as torneiras e o jato parou instantaneamente. Retirando agora o roupão e também o deixando jogado pelo chão, ela entrou primeiramente a perna na água quente, que já fez seu corpo gelado estremecer e arrepiar. Em seguida, passou a outra perna para dentro e logo o corpo inteiro, deitando-se e encostando a cabeça na beirada da banheira. Fechou os olhos, pensando em tudo que havia acontecido... Era simplesmente demais para um dia só, para uma pessoa só. Nunca tivera de agüentar tantas emoções juntas em menos de 24 horas.
A música tocava em bom e alto volume, e se sentiu imensamente agradecida por não ter nenhum dos pais na casa para mandá-la abaixar aquilo que adoravam chamar de ‘barulheira’. Para ela, aquilo não era barulho algum para os ouvidos, e sim um relaxamento. Um relaxamento tão grande que, devido ao extremo cansaço da garota, acabou acidentalmente caindo no sono ali mesmo.

No one - no one, don't wanna be
No one but me
We are moving through the crowd...



Cap. 13

Em algum ponto do horizonte, a luz do sol nascia fracamente, que ainda assim não era tão visível por causa das cortinas fechadas do quarto extremamente bagunçado. Estendido na cama, um corpo nu – se não fosse é claro pela boxer – e musculoso se mexia constantemente, enfiando o travesseiro sobre a face amassada e os cabelos extremamente bagunçados. Era incrível como nós sempre vemos luz demais quando estamos de ressaca ou muito, muito mal...
, telefone! – Uma voz berrou de algum lugar que pareceu ser de seu inconsciente. – !
– Que foi, cacete? – berrou de volta com a voz abafada pelo travesseiro na cara.
– Larga de ser grosso, garoto! – A voz voltou a berrar. Irmãs... – É o seu amiguinho no telefone!
Em um bufo, jogou o travesseiro contra a parede mais próxima e esfregou os olhos sem delicadeza alguma. Tateou o criado-mudo ao seu lado até achar o aparelho do telefone, tirando-o da base com violência que até o impressionou em não ver o objeto quebrado quando o colocou sobre o ouvido.
– Alô? – Ele disse com a voz sonolenta, por um momento se esquecendo com quem estava falando.
– Cara, sua voz tá tão horrível que eu nem quero ver o seu estado – A voz do outro lado ironizou, e pôde ouvir risadinhas ao fundo que certamente não eram da pessoa com quem estava falando.
– Cala a boca – Disse simplesmente antes de se jogar bruscamente de volta na cama. – Que você quer?
– Credo dude, que mal humor – comentou, rindo ao ouvir alguns murmúrios aborrecidos do amigo do outro lado da linha. – Olha só, a gente queria saber se você não quer vir aqui pra casa jogar videogame, já que hoje não vai dar pra fazer nada, né.
– Porque não vai dar pra fazer nada? – perguntou em um exagerado bocejo, se surpreendendo quando viu que havia entendido a pergunta.
– Você já olhou pela sua janela?
apenas murmurou algo muito parecido com um ‘não’ e finalmente se levantou da cama. Se aproximou da janela e percebeu que lá fora fazia um barulho estranho, e ao puxar violentamente as cortinas brancas de seu quarto, viu o mundo praticamente caindo ali fora. A chuva caía forte, formando riozinhos nas ruas que levavam os objetos largados ali, e batia com tanta intensidade no vidro que parecia que iria quebrá-lo a qualquer momento. O céu estava mais cinzento do que seu próprio humor, e viu que a luz que antes o incomodava não era do sol, e sim das luzes dos trovões.
Estranho. Será que o dia havia amanhecido igual à ele?
– Você contaminou o clima com o seu mal humor, . – A voz de disse, acordando-o de seus pensamentos.
– Idiota – falou baixinho, mas ainda assim fazendo com que o amigo ouvisse.
– Então, você vem?
– Certo – disse vagarosamente, como quem quisesse ter certeza. Se espreguiçou, bocejou exageradamente, esfregou os olhos, molhou o rosto em água gelada e, novamente como se fosse para ter certeza, dessa vez que não dormiria a caminho da casa de , bocejou pela terceira vez em menos de cinco minutos. Em seguida, resolveu responder o amigo. – Que horas?
– Cara, o é uma noiva – Ouviu a voz de falar em um murmúrio como se estivesse comunicando alguém ao seu lado, e em seguida voltou-se para ele. – Erm, vem agora mesmo.
– Quem tá aí?
– O .
– E o ?
– Vem daqui a pouco.
– Uhm, ok. Vou tomar um banho e em dez minutos to aí.
– Certo – Antes que pudesse desligar, ouviu a voz de o chamando novamente. – Dude, não demora. Eu... eu preciso falar com você.
– Sobre o que?
– Sobre, erm... ah, vem logo!
– Certo. Até então.
– Até.
Com isso, finalmente apertou o botão ‘OFF’ do telefone e, em um único barulho, o aparelho desligou. O garoto o colocou sobre a base e, após despir sua boxer e ligar o chuveiro, começou a tomar banho enquanto várias coisas sobre o que iria querer falar com ele passavam em sua cabeça.

xx

– Vamos!
– Eu não quero!
– Porque não?
– Eu já disse, , quero ficar em casa hoje!
Fazia quase meia hora que havia chegado em sua casa e estava tentando a convencer de sair, ir ao menos até a casa de , já que ele havia convidado. Fazia pelo menos dois dias desde o ‘incidente’ entre ela e no London Eye. Mas insistia em dizer que o dia estava perfeito para se passar sozinha, se entupindo de brigadeiro de panela e fazer uma sessão de filmes. Tinha alugado Star Wars, De Volta Para O Futuro, Escola de Rock, Sexta-Feira Muito Louca, A Era do Gelo, a série inteira de Friends, e ah, tinha também o...
! – berrou, assustando a menina que mantinha a mesma pose pensativa, imaginando por qual dos filmes iria começar.
– Olha , eu até deixo você ficar aqui e passar essa tarde calma e maravilhosa comigo, mas você tem que prometer que não vai ficar insistindo pra eu ir na casa do e berrando que nem uma gazela no cio!
– Vou ficar insistindo sim resmungou, cruzando os braços na altura do abdome – E eu não berro que nem uma gazela no cio!
– Ah não? Já tentou gravar você mesma cantando? – falou em um murmúrio, mais para si mesma, enquanto revirava os olhos. Se assustou quando recebeu um tapa da amiga por isso. – , eu estou numa fase de depressão e esquecimento, e isso é regra! Você sabe disso. Aliás, não pense que eu esqueci o que você e as meninas fizeram comigo em relação ao que aconteceu com o ...
– E desde quando é regra ficar em casa engordando pra esquecer alguém? Você precisa ver meninos para isso, meu amor, e eu conheço uns bons! – disse, ignorando a última parte que a amiga disse e a puxando pelo braço e tentando a arrastar pela porta, o que era impossível, uma vez que ela praticamente escalava as paredes e puxava seu próprio contra na direção oposta.
– Cada um tem seu modo, tá bom? – disse com dificuldade, já que lutava com todas suas forças contra a mão de que insistia em puxá-la para fora. Normalmente ela seria mais forte que a amiga, mas não naqueles dias.
– Ok , eu desisto – finalmente disse, extremamente irritada, largando o braço de tão subitamente que a mesma caiu em um forte estrondo no chão. A garota, por sua vez, pareceu não ligar que a amiga estava estirada em sua frente, reclamando de dor e xingando de todos os nomes possíveis. – Mas agora só me diz uma coisa. O QUE exatamente você quer esquecer?
– Ué, mais que óbvio, ! – retrucou, sentando-se no chão de pernas cruzadas, agora com preguiça demais para se levantar. – Do , né! Acho que você esteve com o até demais...
– Ao menos eu estive com alguém! – disse, ignorando o máximo o fato de estar vermelha por causa do comentário da amiga sobre ela e .
– Outch – murmurou, abaixando levemente a cabeça.
– Desculpa , eu não queria ser dura assim – começou, sentando-se no chão ao lado da amiga e colocando a cabeça dela em seu ombro, enquanto acariciava algumas mechas de seu cabelo. – Mas você nunca teve alguma coisa concreta com o para querer esquecê-lo. Quero dizer, o que aconteceu com aquele Damian?
– Don.
– Don, isso. – corrigiu rapidamente, sentindo pena da amiga quando a mesma soltou um profundo e triste suspiro. – Você gosta dele, não gosta? E... ele não gosta de você?
– Eu não sei mais de nada, disse calmamente, brincando com a barra de sua camisa do New Found Glory. – E aliás, o que adianta eu gostar dele e ele de mim se o otário não tem nem coragem de aparecer na minha frente? Acho que o tinha razão...
– Não, olha aqui! – disse firmemente, pegando pelo queixo e levantando sua cabeça. – O não tinha razão de nada, quem é ele pra dizer algo sobre a sua vida? Ele te usou só pra... bom, você sabe pra que. Mas ele não tem direito nenhum em te deixar assim, entendeu bem? Por isso você deveria se levantar, vestir alguma coisa bem sexy e ir comigo pra casa do ! – Ela acrescentou, batendo animadamente na perna da amiga.
apenas riu. Não tinha como não rir. Ter ali do seu lado, tentando animá-la, dizendo coisas que sempre a confortavam... O que faria sem ela? Ah é, esqueceria até da cabeça se ela não estivesse grudada ao próprio pescoço. E, lembrando disso, não conseguiu deixar de se sentir um pouco mais animada.
– Olha, consegui fazer você rir! Eu sou demais, diz aí. – falou dando pulinhos no chão, em seguida começando a fazer cócegas em quando a viu estirando a língua. As duas ficaram ali, estiradas no chão rindo por algum tempo, até pararem deitadas encarando o teto, em silêncio.
– Hey, quer saber de uma coisa? – começou, quebrando o silêncio e encarando a amiga ao seu lado com um sorriso no rosto, fazendo-a sorrir também. – Vamos pra casa do !

xx

Hurley ou Element?’, pensou enquanto segurava dois moletons, um em cada mão. ‘Ah, é só pra ir pra casa do mesmo...’, ele deu de ombros, jogando o moletom da Element dentro do armário e encarando com um sorriso a outra vestimenta, onde lia-se em letras torcidas, coloridas e grandes Hurley. ‘É, vou com o da Element mesmo’.
Assim que guardou tudo de volta, vestiu finalmente o moletom vermelho onde lia-se ‘Element Skateboards’ em branco. Mais uma calça jeans básica, um cinto simples para segurá-la – apesar de que metade da boxer ainda estava à mostra –, os tênis branco e azul marinho da Adio que tanto amava e as pulseiras coloridas espalhadas pelos dois pulsos. O cabelo foi arrumado em um simples balanço de cabeça, jogando as mechas para o lado e deixando-as na frente do rosto, quase tampando os olhos.
– To indo pra casa do , tchau! – Berrou antes de passar pelo hall de entrada e sair, fechando a porta atrás de si antes que pudesse ouvir o resto da frase berrada por sua mãe.
Assim que colocou os pés nas escadas da varanda, puxou o capuz do moletom e o colocou sobre a cabeça. Apertou o casaco contra o corpo, as mãos dentro dos bolsos e, de cabeça abaixada, seguiu pelos cinco quarteirões tão conhecidos que o levavam para a casa do amigo, .
A chuva caía forte sobre sua cabeça, o encharcando inteiro, junto de sua roupa. Mas não ligava. Não naquele momento.
Ali, logo em sua frente, se encontrava a casa de . sentiu a cabeça ficar atordoada com tantas perguntas que se passavam: estaria ela bem? Será que ela já havia esquecido dele? E de Don? Don... fazia algum tempo que ela não se correspondia com ele através de mensagens ou e-mails. Sim, algum tempo, dois dias. Será que agora ela odiava tanto quanto Don?
Sentiu um aperto forte dentro do peito ao ver movimentação no quarto de . As luzes estavam acesas, as sombras de duas pessoas se moviam constantemente lá dentro, enquanto uma música invadia o bairro calmo e silencioso. E as duas pessoas pareciam dançar... E não conseguiu deixar de rir quando percebeu quem eram e o que faziam. Sim, por mais que quisesse estar bravo com a menina, não conseguia não pensar em como era engraçado ver e dançando ao som de algo como ‘It’s so delicious, they want a taste of what I got, I’m Fergalicious’.
só decidiu se mover quando viu alguma das garotas se aproximando da janela e abrindo as cortinas. Se jogou no arbusto mais próximo para se esconder, sentindo o quão patético ele era. Logo que se sentiu incomodado com galhos lhe entrando em lugares não tão agradáveis e apropriados, resolveu sair dali o mais rápido possível e, de preferência, sem que elas o vissem – o que não foi muito difícil, vendo que as duas se divertiam tanto que nem que ele sobrevoasse em frente a janela escancarada elas perceberiam sua presença. E aquilo o fez se sentir realmente mal: já havia provavelmente esquecido de todo o ocorrido de dois dias atrás, da noite que passaram, da briga que tiveram e de tudo daquele dia. pensou se era a melhor coisa a se fazer também ou se a garota apenas havia esquecido tão rapidamente porque aquilo não havia significado nada para ela.
Cinco minutos a mais e já estava parado em frente à porta de entrada da casa de , chacoalhando o corpo em um modo estranho como se fosse adiantar a secá-lo, fazendo-o parecer um cachorrinho. Estava extremamente molhado, com frio e com falta de ar, devido à corrida que havia feito para não ter que agüentar mais as pesadas gotas de chuva o encharcando cada vez mais, mas ao menos havia chegado lá rápido. Bateu na porta duas vezes com o nós dos dedos e, ao ouvir uma gritaria interna, abriu a porta vagarosamente. Colocou a cabeça pela fresta; não queria invadir a casa de repentinamente. E se houvesse alguém fora ele e os meninos lá?
– Pode entrar, dude – A voz de disse de um canto da sala, e , ainda com apenas um pedaço da cabeça por entre a fresta da porta, virou-se com tanta rapidez que esqueceu a posição em que se encontrava e sentiu uma forte dor no pescoço. – Meus pais estão fora de cidade, estamos sozinhos.
– Pra variar – Completou , que não fez nem menção de tirar os olhos da tela da televisão, concentrado demais no videogame.
– Cara, parece que o mundo vai cair hoje – comentou, ao que passava agora o corpo inteira pela porta e a fechava atrás de si. Retirou rapidamente o moletom molhado do corpo, que o deixava cada vez mais com frio, revelando assim sua blusa listrada branca e azul marinho.
– Dia perfeito pra se entupir de brigadeiro – disse em um imenso sorriso. – , já terminou aí?
– ESPEEEEEERA! – A voz de berrou de longe, e concluiu que ele deveria estar na cozinha.
– O que ele tá fazendo lá? – perguntou, apanhando o controle de videogame do chão que provavelmente pertencia antes à .
– Brigadeiro, ué – respondeu, mais uma vez abrindo o sorriso de orelha a orelha.
– Dude, deixa eu ligar pra , vai – reclamou, saindo da cozinha vestindo um avental e chupando o dedo indicador.
– Ligar pra ? – perguntou, arregalando os olhos e deixando o controle escorregar de suas mãos. – P-porque?
– Cara, pára de chupar o dedo – falou rindo, ignorando a pergunta de .
– Eu me queimei tentando fazer brigadeiro! – retrucou em uma voz chorosa, mostrando o dedo vermelho e babado.
– Você não é capaz nem de fazer brigadeiro de panela, ? – perguntou, rindo com dos murmúrios que soltava irritado. – Calma que daqui a pouco elas tão aí...
– Elas quem? – e perguntaram juntos, em um uníssono.
– A e a . – simplesmente disse, lançando uma piscadela à , que ria da cara dos amigos.
– O que a vem fazer aqui?
– O que a vem fazer aqui?
– Vocês são patéticos – falou, apontando para e que haviam acabado de berrar ao mesmo tempo.
– Cara, o que é patético – se defendeu, tentando se segurar para não rir quando viu o amigo abrir a boca como se estivesse realmente ofendido e lhe dar o dedo. – Não foi ele que brigou com a , não foi ele que teve a gritando no seu ouvindo e chorando e...
Ding dong.
– E eu vou estar ali atrás, fugindo pelas portas do fundo.
levantou-se rapidamente da poltrona e já ia colocar o pé no chão para dar o primeiro de vários passos rápidos na tentativa de fugir, quando sentiu uma mão lhe segurando pela gola da blusa e o puxar na direção oposta. O garoto não sabia que ficava mais desesperado pelo fato de estar sendo quase enforcado por ou por ter que encarar cara a cara após a briga deles há dois dias atrás.
– E depois eu que sou patético... – comentou enquanto revirava os olhos e ria da cena.
– Vai atender! – disse antes de empurrar em direção à porta, fazendo-o bater a cara na madeira dura.
– Delicado... – Reclamou, com a mão no rosto.
– Atende logo – Agora fora a vez de , sendo seguido pelas risadas dos outros três.
apenas lançou o pior olhar que podia a eles e se virou para encarar a porta, como se pudesse ver através dela. Calma, primeiro a porta, depois a ... Fechou os olhos e suspirou profundamente, ignorando os comentários dos amigos que comentavam o quão gay e patético aquilo que ele fazia era. Após reunir toda a coragem que tinha – o que, acredite, para aquele momento era pouco demais –, levou a mão à maçaneta e a girou extremamente devagar. Os olhos na verdade permaneciam fechados, e se arrependeu mortalmente por tê-los aberto: aquela visão de havia o deixado de boca aberta, e dela saindo litros de baba, fora que se sentia até um pouco atordoado. Como ela estava linda. Sexy. Não, o sexy dela não precisava ser necessariamente um vestido preto extremamente decotado e curto, com um salto alto, batom e unhas vermelhas e os peitos quase pulando para fora da roupa. É claro que assim ela também iria ficar muito, mas muito sexy... Mas daquele jeito que ela estava, simples e ainda assim tão bonita, que fazia o coração de dar mais pulos do que daria se visse ela vestindo o tal vestido curto e decotado. Um moletom da Atticus, uma saia jeans que deixava as belas pernas à mostra, os tênis pretos e rosa da Adio e os longos cabelos presos em um rabo-de-cavalo, deixando apenas algumas mechas da franja molhada jogadas ao rosto corado. E tudo aquilo que, se visse em uma garota qualquer, acharia apenas legal, era surpreendentemente sexy nela. Apenas nela! Como? Como?!
– Credo , fecha a boca senão você vai desidratar de tanta baba que tá deixando escorrer – falou ironicamente, rindo com os amigos e fazendo com que acordasse de seu transe.
Ele apenas sorriu sem graça e deu espaço para que as meninas entrassem na casa. Quando passou, percebeu que ela fazia questão em olhar para o chão, apenas para evitar os dois olhares de se cruzarem. O garoto sentiu uma dor no peito tão forte que pensou que seu coração fosse sair pela boca a qualquer momento. Ela não olha nem na minha cara, pensou.
fechou a porta logo em seguida, virando-se para encarar os amigos e, naquele momento, percebeu o quão patético era. Sim, ele só havia percebido aquilo agora. Viu sair correndo e pulando sobre no chão, juntando-se à ele nas cobertas. Estaria ele com ciúmes de ?
– Sai pra lá, falou, enquanto empurrava o amigo ao lado com os quadris, puxando cada vez mais quantidade de cobertor para ela, enquanto encolhia o corpo inteiro, que tremia. E a única coisa que conseguiu pensar foi o quão linda ela ficava daquele jeito, e o quanto ele queria ser naquele momento para ficar ao lado dela e esquentá-la. Não te disse? Patético. – Tá friiiiio!
– Senta aqui do meu ladinho que eu te esquento, babe – falou em um sussurro audível, soando extremamente ridículo ao tentar fazer uma voz sexy, e ainda mais retardado quando começou a acariciar o sofá ao seu lado e mandar beijinhos e piscadinhas para o ar, em direção à .
– Quer morrer, ? – perguntou em um olhar mortal, enquanto fazia questão de ajudar o amigo e dar um pedala extremamente forte em .
– Cuidado , tem dois tomando conta dela – disse, piscando para . – Então pode deixar que eu vou! – E, nisso, a garota pulou no sofá em que havia antes ‘alisado’ e se cobriu, fazendo do garoto ao lado soltar risinhos ridículos. riu e pareceu ficar extremamente vermelho por alguns minutos, tentando ignorar aquela cena.
, , chamou, apanhando o controle de videogame das mãos de e ignorando os murmúrios de reclamação do garoto. – Eles tão jogando videogame, olha!
– Eu vi, eu vi, eu vi – ironizou, rindo quando a amiga lhe estirou a língua. Apanhou o controle das mãos de e também o ignorou quando ele começou a berrar coisas como ‘meu precioso jogo!’ – O que vocês estão jogando?
Estávamos, você quer dizer. – disse enquanto cruzava os braços e fechava a cara. – Passado.
– Oh, que bonitinho, gente! – disse de repente, levantando-se do chão apenas para ir até e lhe apertar as bochechas. – Ele aprendeu a conjugar os verbos no passado já, cara!
Todos riram, enquanto apenas estirava a língua e se afundava no sofá de cara amarrada. Todos pareciam estar se divertindo. Todos, exceto por uma pessoa.
– Hey , o que você tem, cara? – perguntou, lhe dando um leve soquinho no ombro. abriu a boca para responder, mas foi logo cortado.
– Cacete, tem Tony Hawk aqui! – berrou, ignorando o fato de ter ‘estragado’ a conversa de e . Aliás, até duvidou se ela ao menos sabia que ele estava ali, na mesma sala que ela. – Vamos jogar Tony Haaaawk?
– Mas eu tava me divertindo jogando aquele game do macaquinho que puuula! – reclamou em uma voz chorosa, fazendo se contorcer de tanto rir pela criancice e retardadice do garoto.
– Cala a boca, . A gente vai jogar o Tony Hawk! – disse, rindo ao receber mais uma vez a língua de . – Eu tava treinando esses dias em casa porque não queria fazer mais nada e... erm, bem, eu aprendi a fazer um Flip!
– Credo, você parece o , falou, rindo do próprio comentário.
e congelaram na mesma hora. Tinham até esquecido em como eram parecidos, como dividiam os mesmos gostos, e principalmente como costumavam se divertir antes jogando Tony Hawk juntos e humilhando todos os outros garotos. Eram os melhores naquele game.
– Uhm, ... erm, joga aí. – disse rapidamente, jogando o controle para . – Eu vou na cozinha... pegar algo... pra beber.
deixou a sala sob o silêncio horrível dos amigos. Assim que sumiu pela porta da cozinha, comentou algo que foi impossível de se ouvir, uma vez que tinha murmurado tão baixo que deveria ter pensado um pouco demais, e logo se levantou do sofá para colocar o game que jogava antes e voltou a se divertir com o macaquinho que pulava de galho em galho para juntar bananas. continuava intacto, sem coragem de abrir a boca ou piscar, e se assustou quando ouviu a voz de .
– Vai lá atrás dela...
– HEIN?
– Sua anta, vai atrás dela! – repetiu, dessa vez acrescentando um pedala na nuca de .
– Ela... ela não vai gostar.
– Garanto que ela vai preferir você ir falar com ela do que à isso. – Ele falou fazendo gestos exagerados com as mãos. – Essa merda de silêncio entre vocês dois... Nem eu agüento mais, e olha que não sou eu que faço parte dessa briga idiota de vocês!
– É, acho... acho que você tem razão.
– É claro que tenho razão! – respondeu rapidamente em um sorriso, fazendo rir baixinho. – Agora vai.
apenas assentiu com a cabeça e seguiu o mesmo caminho que havia efeito há apenas um minuto atrás. Sentia as pernas tremerem e o lábio inferior já deveria estar vermelho de tanto que o mordia. A sensação de que o coração iria sair pela boca voltara, agora ainda mais forte, ao que aproximava cada vez mais da cozinha.
E ali estava ela. Era tortura? Até bebendo cerveja ela era sexy! Talvez se ela soltasse um arroto depois de tomar um gole daquilo? Não, acho que até assim ela ficaria linda. Com isso, balançou a cabeça na tentativa de espantar os pensamentos, o que realmente não adiantou em nada, uma vez que seu olhar recaíra exatamente nas belas pernas nuas da garota. Mordeu o lábio inferior mais uma vez, subindo os olhos vagarosamente por seu corpo, até pararem na cena que fez seu coração parar de bater de uma vez. Ele sabia que ver demais iria acabar em um ataque cardíaco, droga! E lá estava ela, desfazendo o rabo-de-cavalo e chacoalhando levemente a cabeça, fazendo os cabelos agora soltos balançarem junto, como em um ritmo. E tudo em câmera lenta, como naqueles filmes, sabe? Sim, exatamente como em um filme... E, deus, como ela era linda...
?
Toda aquela cena que antes se passava lentamente, pelo menos em seus olhos e em sua cabeça, fora cortada pela voz de , que o encarava seriamente. Também, não era por menos. estava parado ao batente da porta da cozinha, a boca semi-aberta, os olhos arregalados e, se não se enganava, um pequeno indício de baba escorrendo pelo canto dos lábios. Que nojo, eu sei, mas ela realmente era muito linda. Se você visse uma cena dessa e não babasse, meu caro, você seria meu herói. Ou gay.
– Erm, o-oi ... – começou, sentindo as bochechas queimarem. Começou a massagear a nuca em um ato extremamente tímido e nervoso. – Desculpa, eu... eu só queria vir aqui pegar algo... sabe, o quando fica com fome...
– Uhum, sei sim – Ela respondeu secamente, mas em um leve tom de desapontamento. Não, deveria ser imaginação.
já ia se dirigindo para a porta para deixar a cozinha, mas quando passou por , ele a segurou pelo braço. Ambos pararam intactos, encarando-se nos olhos como não faziam em um bom tempo, até no dia em que brigaram. sentia uma vontade imensa de agarrá-la e beijá-la logo ali, mas sabia que não podia. A não ser que queira ganhar um tapa na cara, então, é claro, vá em frente.
– Na verdade, eu não vim aqui exatamente pra isso, sabe – Ele começou, se parabenizando mentalmente por ter conseguido falar sem gaguejar e ainda continuar olhando direto nos olhos dela. Era realmente um avanço.
– Ah não? – Ela simplesmente perguntou, também sem tirar seus olhos sobre o dele. Droga, ela ainda era melhor nessas coisas.
– Não, eu... eu vim aqui pra... pra me desculpar. – Ele começou, agora não agüentando mais encarar tanto tempo os olhos de , ainda mais para falar algo como aquilo que estava prestes a falar. Se fosse mentir, que mentisse sem encará-la diretamente. Já era difícil o suficiente ter que fazer isso olhando para o chão, de qualquer jeito. – Eu sei que você gosta do... do Don, e bem... eu não quero ser a pessoa que vai ficar no meio, certo? Quero dizer, eu realmente quero que você seja feliz, . Você... você merece.
sentiu as pernas fraquejarem e o coração parecia ter criado vida e acabado de descer garganta abaixo para socar a boca de seu estômago, mas não por causa do que havia dito. Bem, não exatamente por isso... Mas pela mania que tinha em criar uma ‘trilha sonora’ para os momentos de sua vida, e por estar ouvindo uma agora mesmo para o que estava se passando. Que droga, aquilo já era masoquismo.

Which of the bold face lies will we use?
I hope that you're happy
You really deserve it
This will be best for us both in the end


– E vai ser melhor no final das contas, certo? – Ele continuou, tentando o máximo não gaguejar, apesar de que quando se tratava das pernas, sabia que já não tinha mais controle. – Digo, você e o Don...
Mas o que ele estava dizendo? Ele era Don, e se a situação já não estava bem assim, naquele momento que ele estava sendo ele mesmo, como poderia melhorar com Don?
E, sendo ou Don, tudo o que queria era poder ter ela de volta como teve no baile ou na noite do London Eye. Apenas de estar vendo-a ali, em sua frente, já conseguia lembrar do gosto doce que seus lábios tinham, sendo beijados pelo seu verdadeiro eu ou pelo falso. Não importava. Só lembrava em como era bom e em como sentia que parecia uma greve que fazia quando não tinha seu beijo.

But your taste still lingers on my lips
Like I just placed them upon yours
And I starve, I starve for you
But this new diets liquid
And dulling to the senses
And it’s crude, but it will do


E agora você pensa: como aquilo não era patético? Tudo o que ele queria e precisava era do beijo dela, do toque dela, dela... E por mais que ela estivesse logo ali, à centímetros de seu corpo, ele não fazia nada além de mentir. Mentir em como tudo ficaria bem, mentir em como ela deveria ser feliz seja com quem fosse, mentir sobre mentir. Não, nada ficaria bem, e ela não poderia ser feliz com ninguém a não ser com ele. Por mais que egoísta que isso soasse, não ligava. Queria que ela precisasse apenas dele e mais ninguém, como ele sentia em relação à ela também.
E sabia que tudo era sua culpa. Se ele tivesse apenas dito o que sentia por ela antes, eles não estariam passando por aquilo, e estariam provavelmente juntos, aproveitando e rindo tanto quanto seus amigos. Todas as vezes em que a tratara apenas como amiga e prometia que ligaria para ela, mas acabava por falar que estivera ocupado demais, quando sabia que era apenas por medo. Quando ia se despedir dela e queria lhe beijar, apenas acenava e dizia um simples ‘te vejo logo’. Queria ter visto-a logo naquele dia.

Which of the standard lines will we use?
I've been meaning to call you
I've just been so busy
We'll catch up soon
Let’s make it a point to


– É, acho que você tem razão... – A voz dela quebrou o silêncio, fazendo o estômago de revirar mais uma vez. Apenas por sua resposta. Não queria que ela tivesse dito aquilo, e sim que tudo que o garoto falara era bobagem, que eles deveriam estar juntos. – A nossa amizade é bem mais valiosa e eu não queria te perder... como amigo, sabe. – Ela acrescentou rapidamente, e sentiu uma estranha sensação de que queria chorar. – E como você mesmo disse, eu gosto do Don... e você vai arranjar alguém bem melhor que eu, tenho certeza. Então... é, vai ser melhor assim. Eu quero que você seja feliz também, sabe . Você merece... aliás, nós merecemos.
abriu um leve sorriso e beijou a bochecha de antes de atravessar a porta da cozinha e finalmente deixá-lo sozinho. E, assim que teve certeza de que a garota estaria longe o bastante, levou a mão ao lugar que havia sido beijado por ela, perdido em pensamentos. Não era o que queria, não era do que precisava no momento, longe disso... Mas tinha que se contentar. Serviria.

But your taste still lingers on my lips
Like I just placed them upon yours
And I starve, I starve for you
But this new diets liquid
And dulling to the senses
And it’s crude, but it will do...
It will do.



Cap. 14

– Ninguém vai emboooora! – anunciou, assim que passava pela porta da cozinha e se juntava novamente aos outros na sala. O menino, assim, ganhou todos os olhares. Ele foi até a janela mais próxima e, puxando as cortinas rapidamente, deu vista aos amigos para que vissem o que se passava lá fora: o mundo parecia estar acabando. As árvores davam a impressão de que iam quebrar ao meio e cair, algumas coisas voavam tamanho a força do vento e a própria janela da casa parecia que estouraria devido à violência das gotas grossas e pesadas da chuva que batiam no vidro. – Deus resolveu castigar hoje os homens pelo que estão fazendo com o mundo com o negócio do aquecimento global, sabe, então vamos nos prevenir e ficar aqui. Digo, é Deus, certo? Ele é poderoso.
Os amigos apenas riram, e saiu correndo em um momento que e fizeram menção de fazer montinho nele. Enquanto os três corriam pelos corredores da casa, pararam de supetão ao passar pela porta da cozinha e encontrarem um cabisbaixo saindo de lá. , que aparentemente sabia o que se passava, parou de correr atrás de e puxou o amigo pelo colarinho da camiseta de volta para dentro do local, e em seguida puxando os outros dois também. Fechou a porta em um baque surdo, deixando as meninas se entreolhando, confusas.
– Ok, o que aconteceu dessa vez? – perguntou, após se certificar que havia trancado bem a porta e que não ouvia barulhos por perto da cozinha. Ué, meninas eram xeretas e fofoqueiras, vai que elas resolveram ouvir a conversa deles? Ele não duvidaria.
– Hein? – apenas perguntou, realmente sem entender o que se passava.
– Larga de ser tosco, disse irritado, abrindo a geladeira e tirando de lá quatro cervejas. agradeceu, escorregando uma das garrafas pela mesa em direção à e batendo na nuca de , uma vez que o menino comemorava com pulos e berros exagerados que iria beber uma cerveja. Os outros dois apenas ignoraram. – Olha a sua cara, parece até que estava... chorando.
e repentinamente caíram na risada, fazendo amarrar a cara e lhes lançar um olhar mortal por detrás da garrafa de cerveja que virava garganta abaixo.
– Imagina o chorando – disse entre as risadas, mas logo parou ao receber um tapa na cabeça dado por . – O que? Seria realmente engraçado. E aliás, porque ele estaria chorando?
– Por causa da disse simplesmente, ignorando o fato de ter praticamente cuspido metade da cerveja que havia ingerido naquele momento.
, seu monte de bosta! – ralhou, olhando de para e , que seguravam os risos.
– Ah, qual é – disse, sentando-se ao lado de na mesa e dando um longo gole de sua bebida antes de continuar. – Não vejo nada demais chorar por causa de uma garota, diferente desses dois machistas. O problema é que você não pode chorar pela , se é você mesmo que tá se machucando assim.
– O que você quer dizer com isso? – perguntou, ignorando os olhares dos dois outros amigos sobre ele e .
– Desde quando o virou Hitch, o conselheiro amoroso? – perguntou em um murmúrio para , mas, para sua infelicidade, havia ouvido e lançado a tampinha de sua garrafa nele.
– Hey, hey, caras – chamou de repente, olhando confuso e curioso de à . – Porque você choraria pela , de qualquer jeito? Digo, eu sei que você já gostou muito dela e ainda tem umas quedas, mas ela está com aquele Don... ou estava, né, porque foram esses dias mesmo que ela me ligou praticamente aos prantos por causa desse babaca. Eu juro que se encontro ele na rua...
Nem tampouco respondeu àquela pergunta, mas apenas se entreolharam, receosos. Bom, na verdade estava com medo; apenas lhe lançava olhares reprovadores. Não havia contado à e muito menos, nem em seus sonhos, para que ele era o verdadeiro Don. Apenas para ; sabia que ele sim era o único que entenderia aquela situação. Mas sabia que aquela era a hora, pois se não o fizesse agora, nunca mais teria a coragem. Vai que entendesse e o ajudasse?
– Que foi? – perguntou ao perceber a seriedade repentina de e .
– Ok, esse momento provavelmente chegaria, e acho que estou preparado para falar – disse de repente, balançando freneticamente a cabeça em afirmação quando encostou em seu ombro e perguntou se tinha certeza daquilo. e apenas se encaravam, segurando a risada devido aquela cena. – , por favor, tente se controlar e não me matar. Sabe, eu ainda sou muito novo para morrer, e tenho muito, mas muito medo da morte...
– O que você fez agora, ? – começou, já suspirando profundamente como se estivesse se preparando para o que iria ouvir. – Quebrou o vaso de casa? Calma, VOCÊ NÃO FEZ NADA COM O MEU FILHO, NÉ?
Sim, o filho de era seu instrumento.
– Quem me dera se fosse só isso... – disse em um suspiro, tomando toda a coragem que conseguia. Como iria contá-lo aquilo? – Eu... eu...
– Você? – repetiu, em um tom quase que entediado, rindo com .
– Eu... – olhou de esguelha para , quase que lhe suplicando por ajuda. Não conseguiria falar, não tinha coragem. E se morresse? Já imaginava até as manchetes: “Garoto de 17 anos é morto pelo amigo ciumento”. – Eu te amo. – Disse, de repente, em um sorriso extremamente forçado, enquanto ignorava os berros de indignação de e os risos exagerados e extremamente altos de .
– SAI PRA LÁ, MOLEQUE! – berrou, segurando o riso, mas ainda assim muito confuso com tudo aquilo. – Sou macho!
– Ah, mas você é um amigo tão bom – continuou, indo em direção à e lhe dando um abraço tão falso que provavelmente até havia notado algo de estranho. – Obrigada por ser assim, !
– Não, não é isso que você ia dizer, ! – berrou, empurrando para longe de .
– Cale a boca, berrou de volta, correndo e voltando a abraçar .
– Conte a verdade, , pare de ser gay!
– Mais gay que ele tá sendo? – perguntou ironicamente, ainda rindo.
– Parem vocês dois! Três. – consertou, também não contendo a risada. – Dá pra alguém explicar porque vocês dois estão tão... estranhos? Mais que normalmente.
– Muito obrigada, ! Você ajudou muito! – disse sarcasticamente, estirando o dedo para o amigo. – Puxar o saco antes é sempre bom, sabe? Aí ele não fica com tanta vontade de me matar!
– Ah, então era isso que você estava tentando fazer... – falou baixinho, em uma pose pensativa.
– Chega! – falou alto, quase em um grito, e agora parecendo um tanto sério. Olhou de à , ignorando a presença de . – Você tava querendo fazer o que? Porque quer puxar meu saco? Porque eu vou querer te matar? ME DIZ LOGO, CACETE!
– Eu te disse que iria acalmar ele, mas nãão, você tinha que se meter, né ? – sussurrou irritado para , que soltava risadinhas incomodadas. Ambos logo pularam de susto quando começou a tacar o resto das tampinhas das garrafas neles, berrando mais uma vez para começarem a se explicar. – Tudo bem, , tudo bem, eu vou te explicar, mas PELO AMOR DE DEUS ABAIXA ESSA GARRAFA! Isso, calmo... Agora, você tem que me prometer algo antes, tudo bem?
– Eu não vou te prometer nada, ! – retrucou, visivelmente irritado com a enrolação do amigo. – Desembucha logo!
– Não, você precisa me prometer algo antes! – insistiu, ignorando os comentários de , que murmurava ao seu lado coisas como: “foi bom te conhecer, cara” ou “nunca vamos achar alguém tão bom quanto você para te substituir na banda”.
– Tá bom, , que seja – finalmente disse entre um longo suspiro, que pareceu mais um bufo. – Eu prometo... anh, o que eu prometo?
– Que você NÃO vai me matar depois que eu te contar – simplesmente disse, como se pedisse algo muito normal e óbvio para o amigo. – PROMETA! – Ele insistiu, ao que viu abrir a boca para provavelmente reclamar ou lhe dizer o quão dramático ele estava sendo.
– Tá, tá, eu prometo que não vou te matar, disse entre mais um bufo impaciente, revirando os olhos.
– Pois bem – suspirou, segurando pelos ombros e o sentando de volta na cadeira. apenas continuava rindo baixinho de tudo aquilo, até que lhe deu um forte tapa na cabeça e lhe disse que aquilo era realmente grave, fazendo-o parar de sorrir como um bobo e dar toda sua atenção à conversa. – Você sabe que eu tenho, digo, tive grandes quedas pela , certo? – Ele começou, falando tudo extremamente rápido, surpreendendo-se quando viu fazer um barulho com a boca como se afirmasse que estava entendendo e o dissesse para prosseguir. – E sabe no baile, quando eu fui pegar bebida pra gente e depois sumi? E você ficou me procurando como um trouxa? Digo, como um amigo de verdade faria pelo outro? – , apesar de ter feito menção em tacar mais uma tampinha de garrafa no amigo, amarrou a cara e fez o mesmo barulho nasal para que continuasse. Este, por sua vez, suspirou profundamente, demorando no mínimo cinco minutos para prosseguir, e apenas acordou de seu pequeno transe quando ouviu um berro extremamente alto de mandando-o continuar. – Então, e lembra que minha desculpa para isso foi que eu encontrei com uma menina da minha classe e acabei... uhm, catando ela? – Dessa vez, abrira na verdade um enorme sorriso e levantava o polegar em direção à , chamando-o de garanhão. apenas desejou que nunca tivesse dito a palavra ‘catar’ naquele momento e quando contou ao amigo sobre sua mentira há algum tempo atrás, uma vez que agora ele estava para descobrir que, quem ele havia ‘catado’, era simplesmente a pessoa que considerava ser sua melhor amiga, sua irmã. – Pois bem, eu nunca... catei nenhuma menina da minha classe naquela hora, sabe...
O sorriso aprovador de murchou no mesmo instante, assim como seu polegar indicando ‘jóinha’ em direção ao amigo.
– Cara, só porque todos nós catamos alguém, não quer dizer que você precisa mentir sobre isso – disse de repente, se intrometendo e apoiando sua mão sobre o ombro de , como se quisesse consolá-lo. – A gente iria entender se você não tivesse ‘faturado’, diferente de todos nós, e...
– Cala a boca, se pronunciou, como se lesse a mente dos outros dois amigos e soubesse que eles estavam prestes a fazer o mesmo também.
– Eu só estava falando que ele não precisava ficar desapontado só porque não é bom como nós e...
, eu catei alguém lá, sim, mas não quem vocês pensam – de repente disse, revirando os olhos. Logo se arrependeu por ter falado aquilo: saberia que era a tal garota, e ter se referido à ela desse jeito apenas pioraria na quebra da promessa e em sua morte. – Quer dizer, não. Não, eu não catei ninguém!
– Você catou alguém ou não, ? – perguntou, confuso e impaciente com aquele vai-e-vem indeciso do amigo. – Decida-se.
– Eu catei, mas não exatamente CATEI, não leve pelo lado ruim da coisa – disse extremamente rápido, olhando diretamente para ao dizer aquilo. – É que eu não acho que ela seja digna de uma palavra dessas, sabe? Não gosto de dizer que eu catei ela, eu só... passei os melhores minutos da minha vida com ela. – Ele completou, sem perceber que, ao dizer aquilo, sorria como um idiota apaixonado. – Sim, prefiro me referir assim ao que tive com ela...
– Mas que coisa melosa é essa, dude? – riu, apontando para a cara que fazia. – Imagine o que a garota deve ter feito com ele ou para ele pra fazer um efeito desses no nosso querido ! – Completou, piscando marotamente para os amigos, sem perceber que corava exageradamente.
– Cala a boca, ! – ralhou, olhando assustado para , com medo de sua reação, apesar de que o via rindo com um sorriso malicioso nos lábios. Mas sabia que só fazia isso porque não fazia nem idéia de quem era a menina.
– Qual é, P.I.M.P. – brincou, falando em um modo ridiculamente estranho as letras da palavra. – Conta aí quem é a sortuda.
– Bom, é a... erm, a... cof--atchim disse entre pigarros e em uma incrível velocidade, fazendo os três amigos, até , que já sabia quem era, arregalarem os olhos e lhe encararem em expressões extremamente confusas.
– Cara, aprende a falar – disse em um murmúrio audível, encarando como se ele fosse algum tipo de aberração.
– Será que você pode repetir, ? – pediu, olhando para o amigo em um misto de confusão e desconfiança. abriu a boca, sorrindo, para repetir, mas foi logo cortado. – Devagar, dessa vez.
– Ah, certo – disse, fazendo com que o sorriso em seus lábios murchasse. Queria contar logo e acabar com toda aquela ansiedade, mas tinha medo de que o amigo pudesse lhe dar uma bela surra e mandá-lo sumir de sua vida e principalmente da vida de . Sabia como era em relação à sua ‘pequena’, como a chamava. Super-protetor e ciumento. – Ai, eu vou falar, vai... MAS LEMBRE-SE DA NOSSA PROMESSA! – Ele berrou rapidamente, enfiando o dedo indicador na face de . Viu o amigo apenas murmurando “tudo bem, tudo bem” e estender as mãos para o alto, como se dissesse que era inocente. fechou os olhos, abriu a boca e puxou todo o ar para dentro dos pulmões, na mínima esperança que ali contesse coragem, enquanto simplesmente esperava as palavras saírem automaticamente de sua boca. E para sua felicidade – ou seria infelicidade? –, elas realmente saíram, mas em um jeito desesperado, como alguém que pedia piedade. – Foi a , .
Apesar de sentir-se aliviado em revelar tamanho segredo à , a cena seguinte que presenciou fez todo aquele sentimento de alívio se esvair, dando espaço para o desespero e medo. No segundo seguinte em que voltou a abrir os olhos para ver a reação do amigo, viu tudo se passar em seus olhos em câmera lenta: levantando-se da cadeira, correndo em sua direção, levantando o punho já fechado na altura de sua face, e tentando segurá-lo, o próprio corpo sentindo um peso maior que o seu e sendo jogado para o chão, em cima de seu corpo. E, durante toda aquela sessão de ‘slow motion’, não havia movido um músculo sequer. Tudo havia se passado com tamanha lentidão que ele não conseguiu entender o que acontecia e que estava próximo da morte.
– EU TE ARREBENTOOOOO! – Ouviu a voz de muito perto de seu ouvido, e ainda tudo em câmera lenta, como naqueles filmes onde diminuíam a velocidade quando o cara ia falar: ‘nãããão’. Conseguia até ver a boca de se mover vagarosamente enquanto ele berrava.
De repente, como em um estalo, tudo voltou ao normal assim que os quatro meninos ouviram, à porta, várias batidas constantes e gritinhos de vozes agudas e finas lá fora. Eles provavelmente até haviam se esquecido que as garotas estavam na casa também. E, finalmente se tocando disso também, conseguiu – ninguém soube como – tirar sobre seu corpo e sentar-se sobre o corpo dele, tapando sua boca com sua mão. Talvez tivesse sido o desespero em pensar que poderia ter ouvido aquela conversa; aquilo provavelmente lhe dera muita força, porque normalmente, nem em sonhos conseguiria tirar sobre si mesmo. Sabia que o amigo era bem mais forte.
– SÓ ESCUTA, CACETE – berrou para , que tinha os olhos arregalados, provavelmente se perguntando se tinha perdido sua força, e se mexia freneticamente no chão para que o amigo saísse de cima de seu corpo. Quando parou um pouco de se mexer, apesar de ainda tentar chutar a pessoa sobre si, passou a sussurrar. – Eu gosto dela, tá bom, ? Sim, eu fiquei com ela no baile, e sim, eu sou o Don, mas já não basta ela me odiar, agora você também? Não, por favor, não me mata quando eu te soltar! Você já tinha prometido! E eu sei que você quer me matar, porra – Acrescentou rapidamente, quando sentiu se mover mais ainda ao ouvir pedir para não matá-lo. – Mas eu realmente gosto dela, eu... eu a amo, tá bom? Satisfeito? Agora que tal você me ajudar ao invés de querer me enforcar só porque você é protetor e ciumento até demais?
finalmente parou de mover, apesar de olhar o amigo com certa raiva. sorriu fraco, sabendo que havia ao menos o convencido um pouco. Mas, assim que abriu a boca para continuar falando, um barulho pôde ser ouvido de fora, seguido da porta da cozinha sendo escancarada em um estrondo. pulou para longe de , observando a imagem de duas meninas se formando na entrada do local, arrumando as roupas e fingindo que nada havia acontecido. Droga, como ela era linda.
– O que tá acontecendo aqui? – perguntou, corando sob o olhar penetrante de nela e desviando o olhar para , que permanecia estirado no chão. – E porque esse bobo tá no chão?
– Obrigado pela parte que me toca – ironizou, estirando a língua ao ouvir a amiga responder um “disponha”. Estirou o braço ao alto, pedindo por ajuda para se levantar, logo recebendo a mão de . – Ai, acho que quebrei uma costela.
– Porque? O que aconteceu? – perguntou, puxando para a sala e sendo guiados pelos outros amigos. – Aliás, o que você fazia no chão?
– O me derrubou – simplesmente falou, como se fosse algo comum de se fazer. Riu ao ver a amiga encarar dele à em uma expressão confusa, enquanto coçava a nuca inconfortavelmente. – Relaxa, era só aquelas lutinhas que a gente faz e vocês odeiam.
– Eu odeio essas lutinhas – finalmente disse, revirando os olhos.
– Ué, foi isso que eu disse, que vocês odeiam – falou, rindo ao ver a menina lhe estirar a língua.
– Eu não entendo porque vocês fazem isso – comentou, enquanto jogava no sofá, ria do uivo de dor que ele soltara e começava a massagear suas costas.
– Pra ganhar massagem de graça, pelo visto – comentou, rindo com os amigos e apontando para , que estirava a língua mas ainda continuava massageando as costas do amigo.
sorriu com toda aquela cena, estava tudo mais calmo. não parecia estar mais bravo, os meninos pareciam ter esquecido – muito rápido, aliás – o ocorrido na cozinha e as duas garotas pareciam não ter ouvido nada do que não deviam daquela conversa. Mas apesar disso, sabia que não era uma boa idéia permanecer na casa. provavelmente estava fingindo, para não deixar na cara e não criar perguntas das meninas, e queria deixar o amigo pensar sobre o que havia lhe contado. Ele provavelmente deveria estar em choque por ouvir que seu melhor amigo amava sua melhor amiga.
– Bom, eu já vou indo, gente – disse, ignorando as perguntas de , e e os olhares de e . – É que minha mãe queria que eu a ajudasse com... as compras, é, e ela vai ficar realmente brava se eu não for.
– Quem faz compras num tempo desses? – perguntou, indo em direção à janela e olhando através das cortinas, como se checasse que o que dissera era verdade.
– Minha mãe – respondeu em uma risada fraca, encolhendo os ombros. – Mas amanhã eu volto... acho.
– Deixa ele ir – finalmente disse, cortando a fala de . Ele encarou por alguns momentos, e após suspirar profundamente, abriu um leve sorriso afetado. – Volta amanhã sim, , eu te ligo.
sentiu-se mais aliviado, e sorrindo em resposta, fez um leve aceno de cabeça e desejou boa noite à todos, apanhando seu agasalho e desaparecendo pela tempestade logo em seguida.
– Bom, então acho melhor a gente ir também, certo ? – repentinamente perguntou, suspirando tristemente.
– Não! – respondeu em um berro, fazendo todos rirem. – Só porque o teve que ir ajudar a mamãe nas compras, não quer dizer que a gente também tenha que ir embora. Eu quero ficar, comer pipoca enquanto assistimos De Volta Para O Futuro e depois dormir aqui!
– Apoiado! – berrou, pulando logo em seguida sobre e fazendo soltar xingos por causa da dor.
Após a sessão de glicose anal de , dizendo que seria muito incômodo ficar ali e não era tão íntima de para dormir em sua casa, ela acabou finalmente cedendo ao receber almofadadas e até um montinho começado por . Os quatro rapazes foram fazer o que precisavam, enquanto as duas garotas vestiam pijamas que sempre deixava na casa do amigo para emergências.
Dez minutos depois, e todos já vestiam coisas confortáveis e se encontravam sentados nos sofás ou no chão, dividindo cobertas e travesseiros. estava em pé, enquanto brigava com o DVD para que começasse logo o filme; estava sentado no chão, sozinho, esperando pela amiga; e , e dividiam o sofá e o cobertor, tendo gritando por socorro e afirmando que estava sendo abusada ali no meio dos dois e que iria passar para baixo com e .
– Finalmeeente! – comemorou, ao ver que o aparelho havia resolvido aceitar o CD do filme inserido e já rodava os trailers.
Assim que se sentou ao lado de , se espremendo com ele por debaixo das cobertas e encostando sua cabeça em seu peito, para se esquentar, começou a tacar pipoca nos dois, chamando-os de ‘pombinhos’, batia em e mandava todos calarem a boca porque queria ver como Loyd construía a máquina do tempo, alegando que queria construir uma também.
Bastou chegar a parte em que Marty tocava guitarra que todos finalmente se calaram: os meninos dizendo que a guitarra dele era a mais maneira, e as meninas dizendo que achavam ele muito fofo, ignorando os comentários de sobre como ele dava de dez em Marty. Quando estava tudo em completo silêncio, a não ser pelas vozes de Loyd e Marty, apertou mais contra seu próprio corpo e sussurrou em seu ouvido, de modo que ninguém a não ser ela ouvisse.
, posso te perguntar uma coisa?
– Cala a boca, , vai passar a cena mais emocionante do filme – sussurrou de volta, enfiando uma pipoca na boca do amigo para garantir que ele não falaria mais, e rindo ao vê-lo se engasgar.
– Obrigado por quase me matar engasgado – Ele voltou a murmurar ironicamente, sorrindo ao ver a amiga ao seu lado abafar o riso nas cobertas. – Mas eu preciso te perguntar uma coisa, é sério!
– Tá bom, vai , pergunte.
– Você... você gosta desse Don?
congelou por alguns segundos com essa pergunta, ainda sem entendê-la. Não queria ter que responder, por mais que já soubesse a resposta. Encheu a mão de pipoca, enfiando-as em seguida na boca, e ficou por um ou dois minutos observando Marty conhecer sua mãe do passado.
– Porque pergunta? – Ela finalmente disse, sem tirar os olhos da tela. Não queria olhar diretamente nos olhos de ; sabia que ele estava a encarando.
– Porque eu preciso saber.
– Precisa, é? – perguntou, ainda sem entender. Ouviu fazer um barulho com a boca, confirmando, e voltou a se calar, apenas assistindo o filme como os outros três que se encontravam calados há um bom tempo. Enfiou mais algumas pipocas na boca e suspirou alto, rindo ao receber conseqüentemente uma almofadada na cabeça dado por . – Bom, eu... eu gosto sim, . – A voz dela pareceu de repente ficar falha. – Muito.
– Bom saber – simplesmente disse, e para a surpresa de , ele se levantou e a puxou pela mão para fazer o mesmo. Assim que o fez, olhou para os três amigos, que apesar de terem levantado não falaram nada e nem tiraram os olhos da tela, e disse: – Hey, otários, nós já voltamos.
– Certo – falou em um grunhido, cheio de pipoca na boca.
– O que ele disse, ? – perguntou, desatento, assim que e saíram da sala.
– Que iam dar uns amassos lá no banheiro e já voltavam – respondeu, sem ao certo perceber o que falava. O filme era bem mais interessante, fato. riu baixinho com isso e os três continuaram suas atenções silenciosas ao filme.
Do outro lado da sala, puxava pela mão, guiando-a por um lugar desconhecido pela menina. Assim que atravessaram o corredor inteiro, empurrou-a para dentro da cozinha, encostando a porta, sem poder trancá-la: lembrou-se que ela e haviam estragado a fechadura da porta ao fazerem força demais sobre o objeto quando foram tentar entrar ali para ver o que se passava quando os meninos brigavam.
, porque você me trouxe aqui? Eu queria ver o filme! – reclamou, mas aproveitou que estava na cozinha para pegar coca. – Meu deus, o que você pretende fazer comigo?
– Nada, sua tosca – Ele respondeu enquanto ria, bebendo um gole da coca que a amiga havia acabado de colocar em um copo e recebendo um tapa por isso. – Certo, você disse que gostava do Don, não é? Gostava muito? – perguntou, dando ênfase à última palavra.
– Erm... certo. – respondeu, um tanto incerta pelo fato de não entender onde o amigo queria chegar.
– Você diria que... o ama?
! – A menina berrou, quase cuspindo o líquido que havia ingerido.
– Você o ama ou não, ?
– Eu... – não sabia o que quiser. Sabia o que sentia por Don, sabia que era verdadeiro e que era muito parecido com amor, tinha certeza, mas não entendia o porquê de fazer drama para saber daquilo também. Aliás, ele não sempre odiou Don? – Sim, , eu o amo.
não fez nada, apenas suspirou profundamente e encarou a amiga em sua frente com carinho. Sorriu fracamente, acariciando-lhe o rosto com as costas do polegar, vendo-a fechar os olhos ao seu toque. Nem acreditava que sua pequena havia crescido tanto a ponto de amar alguém. Não, amar seu melhor amigo. E sabia que, por ser , tinha que ajudá-lo. o amava, por mais que não soubesse que era realmente ele, mas se amava o tal de Don e ele era o verdadeiro, era porque o amava também. Eles não eram tão diferentes na personalidade, e sentia o mesmo por ela, até mais. De repente, sabia o que tinha que fazer, por mais que significasse que teria que admitir que a menina que antes era, aos seus olhos, ainda uma criança e inocente, havia finalmente crescido.
– Bom, se é esse o caso... – Ele começou, suspirando mais uma vez e sentando na cadeira em sua frente, ao que fazia o mesmo. – Se esse é o caso, precisamos conversar, .


Cap. 15

Fazia um pouco menos de uma hora que havia deixado a casa de , encontrando-se agora deitado em sua cama e lendo a primeira revista que encontrara em sua frente. Não sabia se tratava-se de música ou filmes. Não que estivesse prestando muita atenção também, já que realmente não estava. Sua mente não poderia estar ocupada com mais nada, exceto . O pensamento em que ela poderia estar sendo convencida por tanto a amá-lo quanto a odiá-lo martelava em sua cabeça, impedindo-o então de se concentrar em qualquer outra coisa que não fosse a pergunta: “O que será que ela está pensando agora?”. Sabe, tinha razão, ele realmente estava torturando à si mesmo.
Querendo esquecer sobre tudo aquilo pelo menos por alguns minutos, atacou a revista contra a parede mais próxima e se levantou da cama, rumando em direção ao seu computador. Digitou algumas palavras, apertou alguns botões e, assim que clicou em algumas coisas, música começou a sair das caixas de som. E, prestando atenção para tentar adivinhar qual música era, não conteve uma risada ao ver como o destino era irônico: ‘Imagine me and you, I do, I think about it day and night, it’s only right, to think about the girl you love, and hold her tight, so happy together’.
!
levantou a cabeça instantaneamente, como se procurasse a voz que chamara seu nome. Percebera, então, que vinha do andar debaixo.
! – A voz voltou a chamá-lo, agora ainda mais alto.
– EEEEEEEEEUU – Ele berrou ainda mais alto, saindo do quarto e correndo até o pé da escada.
– Pra que gritar desse jeito? – Sua mãe retrucou, cutucando o ouvido como se quisesse checar se ainda conseguia ouvir. abriu a boca para se explicar, mas sua mãe fora mais rápida. – Eu vou sair com sua irmã, será que você poderia fazer o favor pra mamãe e levar o lixo pra fora?
– Mas tá a maior chuva lá fora, mãe!
– Você não pode fazer o único favor que eu te peço, ? – A mulher se esganiçou, projetando uma careta desgostosa e de poucos amigos na face enrugada. reconheceu isso como a famosa chantagem emocional.
– Tá bom, mãe, tá bom – Ele disse rapidamente entre um suspiro, evitando uma discussão. – Eu levo!
– Não faz mais que a obrigação – Retrucou, dando as costas para o filho e o deixando perplexo. Um ‘obrigada’ seria melhor. – Voltamos mais tarde. Se ficar com fome, tem comida na dispensa.
– Certo – Ele resmungou, berrando um ‘tchau’ em seguida e se fechando no quarto com uma pancada na porta. Mas antes que pudesse encostar em sua cama, ouviu sua mãe lhe berrando novamente. – Que foi agora, mãe?
– O lixo – Ela simplesmente respondeu, e, sem mais, acenou e saiu da casa.
Em um bufo, tirou do guarda-roupa o primeiro agasalho que vira e se retirou do quarto. Sabia que sua mãe apenas iria encher mais o saco se não tirasse o lixo logo para fora, e que, se não o fizesse agora, iria esquecer depois.
Assim que passou pela cozinha, avistou o saco preto enorme de lixo e amarrou suas pontas com força, se dirigindo em seguida para o hall de entrada. No mesmo instante, um raio cortou lá fora, iluminando parte da casa. Deveria existir uma lei para lixeiros não terem que recolher os lixos das casas em um temporal como aquele. Aliás, deveria era existir uma lei que proibisse mães de mandarem seus filhos fazer as tarefas de casa por elas ou só porque a empregada estava de férias. Se pelo menos ele fosse pago para isso...
Encolhendo seu corpo contra o agasalho o máximo que podia, abaixou a cabeça que era coberta pelo capuz e correu para fora de casa. Sentiu a chuva atingi-lo com força, encharcando-o. Droga, tinha acabado de tomar um banho, agora teria que tomar outro. Devido à correria, chegou ao meio fio da calçada em menos de dois segundos. Levantou a cabeça. Um corpo se movimentava por perto das casas vizinhas, no meio da chuva, e parecia andar tão serenamente como se estivesse andando sob um sol de verão. Cada louco que havia por aí... Balançou a cabeça levemente, tentando se lembrar o motivo de estar ali, e logo se lembrou ao ver o que tinha em suas mãos. Pôs o saco sobre um tipo de cesto grande e de metal, e, quando estava para se virar, levantou mais uma vez a cabeça: o corpo que antes andava a três metros de distância de onde ele se encontrava havia agora parado de se mover, estando apenas a um metro dele. Forçando a visão, com os olhos semi-cerrados, pareceu reconhecer aquela pessoa. Não sabia como, mas por algum motivo, sabia quem era. Sentiu o coração começar a bater mais rápido e o estômago afundar. Será que era mesmo? Mas... como?
Sem saber ao certo o que fazia, começou a andar em direção à pessoa parada na chuva. Tinha que saber quem era, por mais que se enganasse ao chegar mais perto. Seu sexto sentido apenas lhe dizia para ir até lá. Tudo bem que seu sexto sentido não funcionava muito bem, mas tinha de tentar.
parou então de supetão, faltando apenas nove ou dez passos para chegar aonde queria. Não conseguia acreditar do que seus olhos viam. Será que estavam embaçados demais por causa da chuva?
– Porque, ?
não sabia se sentia alívio ou desespero em saber quem era a pessoa a meio metro de distância. Como ela havia chegado até ali? E porque? E, com aquele pensamento, apenas uma coisa lhe ocorreu: ela sabia. Era a única resposta. Ela sabia da verdade agora, havia lhe contado, e a garota agora viera até ali apenas para brigar com ele e lhe dizer para nunca mais a olhar na cara.
? – Ele perguntou, logo se sentindo estúpido por fazer aquilo. Mas parecia querer ter certeza.
– Você sabia esse tempo todo, você me viu sofrendo – A voz delicada continuou, como se não houvesse tido interrupções. sentiu uma forte pancada no estômago ao perceber que os únicos barulhos que poderiam ser ouvidos eram as gotas grossas da chuva acertando o chão, árvores e outras coisas com violência e as fungadas do choro da pessoa em sua frente. – E você nunca, nunca fez menção de me contar... Agora me responde: porque?
, e-eu posso explicar – começou, sentindo a voz falhar.
– Então explica, , porque eu preciso saber! – Ela berrou, interrompendo qualquer que fosse a explicação do garoto. – Você por acaso achou legal me ver chorar? Achou que seria engraçado fazer a garota mais ‘pop’ da escola de idiota? Achou que você seria popular por isso?!
– NÃO! – Ele berrou de volta, sem acreditar no que ouvia. Como ela poderia pensar alguma coisa dessas?
– Então foi só uma daquelas apostas ridículas que vocês fazem? “Quem cata a garotinha pop da escola”? FOI ISSO? Por isso aquele idiota do Dave tentou me agarrar também? À mim e à ?! AQUILO DE ME PROTEGER FOI TUDO ENCENAÇÃO, FOI?!
– MAS É LOGICO QUE NÃO! SE VOCÊ SÓ ME DEIXASSE EXPLICAR E...
– ENTÃO EXPLICA! QUAL VAI SER A DESCULPA DESSA VEZ, HEIN?
– NÃO É DESCULPA! – Ele voltou a berrar a plenos pulmões. Pareciam competir para ver quem gritava mais alto. E, ao ver que havia aberto a boca mais uma vez para retrucar, foi mais rápido e se precipitou. Não agüentava mais ouvir aquelas coisas. – EU NÃO TE CONTEI PORQUE SABIA QUE, SE VOCÊ SOUBESSE QUEM EU REALMENTE ERA, NÃO IRIA GOSTAR MAIS DE MIM!
– ISSO É...
– VERDADE! – Ele voltou a gritar, não deixando a garota terminar de falar. Agora era a vez dele. – ISSO É A VERDADE E VOCÊ SABE DISSO! A POP E O LOSER DA ESCOLA? POR FAVOR! VOCÊ NUNCA SENTIRIA ISSO QUE SENTE PELO DON SE SOUBESSE QUE ELE ERA NA VERDADE EU!
– AH, VOCÊ ACHA QUE EU NÃO GOSTARIA DE VOCÊ ENTÃO, É? ACHA QUE SÓ PORQUE VOCÊ É O ‘LOSER’ DA ESCOLA, EU DEIXARIA DE GOSTAR DE VOCÊ? PELA SUA... FALTA DE POPULARIDADE?! – deixou soltar um bufo indignado, sem nem mesmo tentar conter as lágrimas que caíam em excesso agora. – POIS SAIBA ENTÃO, SENHOR DONO DA VERDADE, QUE ANTES MESMO DE CONHECER QUALQUER DON, EU JÁ GOSTAVA DE VOCÊ!
não fez menção alguma em retrucar aquilo. Não conseguia acreditar no que os ouvidos escutavam. Seu peito, como o de , subia e descia rapidamente, arfando devido à gritaria. Suas sobrancelhas se franziram enquanto os olhos não desgrudavam dos de , que lutava para não chorar ainda mais. Ele queria abraçá-la, queria dizer alguma coisa, mas nenhuma palavra parecia conseguir passar pela sua garganta no momento.
– Eu... ahn? – perguntou confuso, ainda absorvendo as informações que havia acabado de receber junto com a pancada no estômago que sentia ao ver a menina chorar. desviou o olhar, cruzando os braços na frente do corpo enquanto mordia o lábio inferior, impedindo que mais soluços escapassem. – ? Olha pra mim. Eu... eu não entendi o que você disse. – Ele se aproximou, tentando tocar os braços de , que afastou-os de seu toque na mesma hora.
– Foi isso mesmo que você ouviu – Disse com dificuldade, agora voltando a olhá-lo nos olhos. Não queria ter que repetir aquilo em voz alta outra vez.
– Mas eu... eu não ouvi nada – Mentiu, rindo baixinho. Riso de alegria, de alívio. Voltou a se aproximar de , agora, tocando delicadamente seu rosto. Sentiu-o gelado, se não fosse pelas gotas quentes das lágrimas. Passou as costas do polegar levemente por suas bochechas, como se tentasse enxugá-las, o que era impossível, uma vez que estava chovendo. – Você tá gelada... quer entrar?
– Não! – Ela respondeu rapidamente, virando o rosto na tentativa de se desviar do toque de . Não conseguiu completamente, mas pareceu não querer fazer muito esforço para continuar. Apesar da chuva, seu toque era quente e reconfortante. – Estou bem, não estou com frio.
Ao mesmo tempo em que dissera aquilo, estremeceu o corpo inteiro e abraçou a si mesma, na falha tentativa de se esquentar. Não usava agasalho, apenas uma calça de moletom e uma blusa que pensou ser de , por parecer uma camisola nela. E, para piorar, a blusa que era branca já estava transparente e grudava ao seu corpo. Ambos riram baixinho por isso, mas não conseguiu conter um sorriso ainda maior ao vê-la, pela primeira vez naquele dia, sorrir para ele.
Finalmente acabando com qualquer distância entre eles, passou um braço pela cintura de , enquanto a mão livre acariciava delicadamente o rosto gelado dela até seus cabelos. Ela, que passou as mãos para o peito de , fechou os olhos e mordeu o lábio inferior. , ao se aproximar seu rosto ainda mais, sorriu abertamente ao vê-la de olhos fechados, como se apenas esperasse por ele fazer o que fosse. Assim, fechou os olhos também e encostou o próprio nariz no dela, os lábios separados por uma distância de um centímetro, sentindo sua respiração falha e quente. Não iria fazer nada, queria apenas saber primeiro se ela realmente queria aquilo tanto quanto ele. E não demorou a descobrir: cansada de esperar, precipitou o rosto para frente, finalmente selando seus lábios em beijo úmido e intenso, que aqueceu todas as partes de seus corpos. a beijou como estava querendo beijar em muito tempo, como se fosse a primeira e a última vez que o faria. Ao mesmo tempo em que era algo cheio de necessidade, era calmo e gostoso. Como precisava daquilo, precisava dela...
cortou o beijo, terminando-o em um selinho. Sorriu. Não tinha como não sorrir, era humanamente impossível. Sem afastar os rostos, ele a observou continuar de olhos fechados, também sorrindo. Era tudo o que precisava.
– Quer entrar agora? – Ele perguntou em um sussurro, o nariz ainda encostado no dela.
– Agora que eu não entro mesmo! – respondeu, abrindo finalmente os olhos e aumentando o sorriso em seu rosto. Ao ver a expressão confusa no rosto de , ela simplesmente riu e pulou sobre ele, fazendo-o segurar ela um pouco acima de sua cabeça e assistindo-a abrir os braços e voltar a fechar os olhos ao toque da chuva. – Eu aaaaaaamo chuva! – Abaixou a cabeça, passando os braços pelo pescoço de e lhe dando mais um selinho. – Sabia que eu sempre sonhei em beijar na chuva?
– Sério? – Ele perguntou, observando voltar a erguer a cabeça e aproveitar as gotas de água lhe molharem ainda mais o rosto. Como ela era linda. – Bom, pelo menos um dos seus sonhos eu realizei.
– Não, – Respondeu rapidamente, voltando a abaixar a cabeça e encarar diretamente nos olhos. – Você realizou dois sonhos meu, na verdade.
– Dois?
– Yeap – Ela levantou o dedo indicador, fazendo uma pose pensativa. teve vontade de agarrá-la de novo naquela hora; ela era tão fofa fazendo aquilo. Aliás, fazendo qualquer coisa. – Um: beijo na chuva, – ela levantou o dedo do meio. – dois: conhecer meu Don Juan.
abriu um sorriso de orelha a orelha, completamente automático, assim que ouvira aquilo. Soltou um pouco os braços ao redor da cintura de , fazendo-a ‘escorregar’ para baixo e deixando seus rostos mais próximos novamente, mas ainda assim deixando-a levantada, os pés ao ar.
– Hey – Ele sussurrou, encarando dentro dos olhos. Ela, que antes tinha a cabeça levantada para deixar a chuva cair em seu rosto, abaixou e passou e observá-lo também, um sorriso sincero e meigo no rosto. sorriu ao vê-la, como se não o fizesse diariamente, como se aquela fosse uma das únicas vezes que conseguia observá-la com cuidado e carinho, como sempre quis. Beijou-a delicadamente em um selinho e, sem tirar seus lábios dos dela, de olhos fechados, voltou a sussurrar: – Eu t...
Tirilim.
– Droga, desculpe sorriu sem graça, se soltando dos braços do garoto e apanhando o objeto que vibrava na parte traseira da calça. Porque o maldito celular tinha que tocar justo agora? – Alo? Alooooooooou? AAAAAAALO!
– O que aconteceu? – finalmente perguntou, observando agora a menina em sua frente encarar o celular com irritação e chacoalhá-lo, como se fosse ajudar.
– Não tá dando sinal, merda! E eu acho que era o ...
– V-você quer usar o telefone de casa?
– Eu... – finalmente parou de chacoalhar o celular e, passando a palma da mão sobre a testa molhada para empurrar os cabelos encharcados para trás, encarou mais uma vez sem graça. – Eu posso?
– Claro – respondeu em um sorriso, pensando em como era linda daquele jeito. Sim, despenteada, encharcada e sem graça, até assim ela era perfeita. Puxou a garota pela mão, abraçou-a com cuidado e colocou sua cabeça no próprio peitoral para protegê-la da chuva, apesar de já estar extremamente molhada, levando-a em direção à porta de entrada de sua casa. – Vamos.
Correram pela chuva, ainda sendo inutilmente mas ainda assim meigamente protegida por , subiram as escadinhas de entrada e finalmente adentraram a casa. , assim que o fez, teve de fechar os olhos temporariamente, uma vez que a iluminação do local era um pouco forte, ao menos comparado com o escuro que fazia lá fora devido às nuvens cinzentas. lhe indicou uma mesinha ao canto da casa onde havia um telefone sobre e em seguida correu para a lavanderia pegar toalhas.
Assim que limpou os pés no carpete de entrada, uma tentativa completamente falha de limpá-los, correu para onde o garoto havia apontado, agora ainda mais sem graça e envergonha por estar molhando o piso tão limpinho da casa de . Apanhou o telefone, discou os números tão conhecidos e levou o aparelho ao ouvido, tremendo dos pés à cabeça enquanto esperava alguém atender.
? , é a – Falou rapidamente, assim que ouviu uma voz nervosa do outro lado da linha. – Você... erm, ligou?
– Mas é claro que liguei, sua infeliz! – A voz respondeu, berrando tão alto que até , que voltava de uma porta dos fundos com toalhas pôde ouvir. – Você me sai do nada na chuva e não me liga pra dar explicações nem pra dizer se está bem! Aliás, você tá bem? E ONDE QUE VOCÊ FOI?
– Credo, , pára de berrar que eu não sou surda – tirou momentaneamente o telefone do ouvido, cutucando-o como se checasse se ainda funcionava. apenas riu baixinho e continuou a observar a garota, completamente hipnotizado. – Eu to bem, credo. Eu vim pra... pra casa do .
Ao ouvir aquilo, sentiu os olhos arregalarem e o estômago revirar. não sabia que ela estava ali? Ótimo, era agora que ele seria perseguido por e ser morto. Ótimo. Bom, ao menos ele morreria feliz, com ao seu lado. Digo, isso se ela quisesse ficar ao seu lado quando chegasse com uma metralhadora em sua casa para matá-lo.
– Casa do ? Uhm, certo. Ok. – disse em um sussurro, de forma que apenas , que estava ao telefone, pudesse ouvir. Imagine o que estava passando na cabeça de . – Bom, fique aí então. A chuva tá muito forte, quando melhorar, eu... eu passo te pegar aí, certo?
– Sem problemas.
Após soltar mais alguns “certos”, “ok” e “não se preocupe”, finalmente se despediu de e desligou o telefone. Se virou para , que não fez menção de se mexer, por ora, e apanhou a toalha em suas mãos, enxugando sem delicadeza alguma os cabelos encharcados.
– O-o que ele disse? – finalmente conseguiu perguntar, observando se enrolar na toalha.
– Ah, nada demais, só pra eu ficar aqui até a chuva passar e então ele vem me pegar – Ela respondeu indiferente, encolhendo-se com o pedaço de pano sobre seu corpo que parecia lhe esquentar. – Digo, se não tiver problemas em ficar aqui... tem problema?
– Claro que não! – Ele respondeu rapidamente, um pouco mais aliviado. – Mas ele não... bem, não brigou com você? Sabe, por você estar aqui e tal...
– Não. Porque? Ele deveria? – Perguntou divertida, tentando não rir da expressão exasperada de enquanto o mesmo soltava vários “não, claro que não” desesperados. Aproximou-se dele e passou os braços em volta de seu pescoço. – O não manda em mim, e relaxa que ele não vai te matar. Eu não deixo. – E, com isso, selou os lábios em um selinho demorado. – Agora vem me mostrar seu quarto!
E, puxando o garoto pela mão, subiu as escadas correndo enquanto de um atrapalhado que tropeçava constantemente nos degraus e tentava, em vão, pegá-la. Os dois chegaram assim até o quarto dele.
– Uh, gostei – disse entre um sorriso, tentando se esquivar das mordidinhas e beijos que lhe dava no pescoço, assim que pararam à porta. – Me lembra o quarto do por ser tão bagunçado, mas eu gostei.
soltou um murmúrio de desgosto como se houvesse realmente se ofendido com aquilo. riu e seguiu em passos lentos ao redor do quarto, observando tudo com muita atenção. Pôsteres cobrindo todas as paredes, roupas cobrindo o chão e revistas cobrindo a escrivaninha. Será que essa bagunça era normal em quartos de meninos? Bom, não que seu próprio quarto fosse muito arrumado.
– O que é isso? – Ela perguntou, mexendo em um boneco de cabeça grande que logo começou começar a dançar e cantar: “Oh, I feel goooooood!” ao seu toque.
– Jaaaaaames! – berrou, pulando sobre sua cama e dançando ao que o boneco se movia estranhamente e continuava cantando. Assim que o objeto parou, ele se jogou de costas no colchão e chamou , que ria descontroladamente da dancinha que ele antes fazia. – É o nosso Jimmy.
– Nosso? É meu também, é? – Ela perguntou, se juntando à e pulando sobre a cama com forte impulso, fazendo o corpo do garoto ao seu lado se mexesse para cima e para baixo no colchão fofo.
– Não... digo, se você quiser, pode ser seu também – respondeu meigamente, rindo ao que lhe estirava a língua ao ouvir que o boneco não era dela. – Mas é da banda, sabe. Nossa mascote. Grande Jimmy!
– Cara, vocês são muito estranhos – Ela soltou, rindo ao ver que era a vez de lhe mostrar a língua.
Assim que parou de rir, observou o garoto lhe encarar com carinho, acariciando delicadamente sua bochecha com as costas do polegar. Sorriu. Ainda estava molhada, e aquelas roupas ainda encharcadas não iriam lhe ajudar na gripe. Mas não sentia mais frio, se sentia na verdade muito aquecida. E, assim que passou seu próprio corpo sobre o seu, fez um ótimo trabalho em aquecê-la ainda mais.
ajustou gostosamente o corpo debaixo do de , passando um braço em volta do pescoço do garoto, e a mão do braço livre lhe acariciando os cabelos úmidos, puxando-o para mais perto. Assim que os rostos estavam à apenas um centímetro de distância, eles não fizeram nada além de continuarem encarando diretamente nos olhos um do outro. Apreciar a presença um do outro; ele pelo fato de finalmente ter do jeito que queria, e ela tendo finalmente seu Don na pessoa que sempre quis.
Finalmente acabando com qualquer distância entre eles, selou os lábios nos dela em um beijo apaixonado. Uma mão segurando delicadamente o rosto dela, a outra escorregando entre sua cintura até sua coxa, tendo seu corpo ainda sobre o dela. mantinha uma de suas mãos ainda bagunçando os cabelos úmidos dele, enquanto a outra corria pelas suas costas, debaixo da camiseta.
, espera, eu... – cortou o beijo, a respiração ofegante, enquanto o garoto descia seus lábios para o pescoço. – O que... o que você queria me dizer? Antes, sabe, você... você ia me falar alguma coisa. Que você... bem, que você alguma coisa, já que você não completou a frase. – Ela riu fraco, um pouco sem graça e medindo bem as palavras. – O que você ia me dizer?
não respondeu de imediato. Se arrumou sobre o corpo dela, acariciando mais uma vez seu rosto com as costas de seu polegar enquanto a observava. Aquele olhar de carinho e meiguice que sempre fazia sorrir, como estava fazendo agora.
Ele a beijou levemente e, sem tirar os lábios dos dela, sussurrou gostosamente, fazendo o corpo inteiro de estremecer com aquilo:
– Eu te amo.


Cap. 16

Haviam se passado menos de uma semana desde o ocorrido entre e , que estavam agora – finalmente – namorando. A banda dos meninos também havia ficado popular pela escola nos últimos três dias graças às garotas. Elas comentavam com amigos que, segundo elas, faziam parte da “elite pop escolar” – riu por, no mínimo, dez minutos sem parar ao ouvir isso – e tinham seus “contatos”. fez pagar e se desculpar por cada minuto que rira, uma vez que, ao chegarem à escola em uma quinta-feira chuvosa e fria, os meninos deixaram de ser tratados como os maiores losers, como eram antes.
não ligava mais para aquela coisa de popularidade, não queria deixar aquilo estragar sua vida, ainda mais agora que estava com . Mas tinha que admitir que era até bom não ter ninguém censurando-a por namorar um dos que era considerado um “loser”. Não que ligasse também, mas as pessoas podiam ser muito chatas, intrometidas e fofoqueiras quando queriam.
, diferente de suas amigas, parecia extremamente incomodada pela companhia diária dos meninos, principalmente de . Todos, àquele momento, já sabiam o porquê, menos o próprio. Algumas vezes o grupo até se achava perdido da presença de , que ia conversar com as cheerleaders, ficando extremamente irritada ao saber que todas elas agora achavam os meninos lindos, especialmente , não acreditando que haviam taxado a querida banda McFly como perdedores. logo desistiu das cheerleaders e voltou às usuais brigas com .
Quando a sexta-feira de uma manhã extremamente gelada chegou, os oito adolescentes se encontraram sentados no banco de pedra do pátio, seguidos pelos olhares, sorrisos e “bom dia” das pessoas, exatamente como havia acontecido naquela semana.
– Cara, eu realmente não sabia que a popularidade podia ser tão doce assim – comentou, assim que ele e os amigos deixaram a sala de aula para o período livre que teriam.
– Pois é, e por favor, não se acostume. E vocês tão olhando o que? – berrou, abanando as mãos freneticamente no ar para que um grupo de patricinhas de um ano abaixo ao deles que não paravam de soltar risadinhas agudas, lançar olhares e acenar para saíssem de perto.
– Então, meninos – começou rapidamente, a tempo de interromper mais um ataque de ao que as cheerleaders passavam e piscavam para um extremamente sorridente e metido. – Como foi ontem na gravadora? Conseguiram alguma coisa?
– A gente combinou com um tal de Fletch de nos encontrar lá no pub amanhã – respondeu, batucando com as próprias mãos um ritmo qualquer nas pernas. – Ele quer nos ver tocar.
– Isso é bom, certo? – perguntou, rindo da empolgação com que parecia batucar em sua perna o ritmo da música que os dois ouviam, dividindo o iPod. – Vocês tocam bem e ele vai gostar!
– Bom, se ele realmente gostar de nós, estamos feitos, porque ele disse que iria querer fazer um contrato com a gente! – comentou, sorrindo com o que falara.
– Então vocês já estão feitos mesmo, porque eu tenho certeza que ele vai amar vocês! – logo respondeu, sorrindo com o namorado e lhe dando um breve selinho. – Quem não ama a banda que tem o mais gostoso do mundo?
– Urgh, get a room! – reclamou, projetando uma careta de poucos amigos na face e estirando a língua quando lhe deu o dedo.
– Têm crianças por perto – disse em um sussurro completamente audível, apontando indiscretamente com um aceno exagerado de cabeça para , que não viu ou pareceu estar alheio à conversa, uma vez que estava ocupado demais olhando para as pernas de uma das cheerleaders que insistia em levantar sua saia cada vez mais. parecia que iria explodir em raiva.
– Uhm, então – mais uma vez interrompeu um dos vários ataques de , falando no melhor e mais alto tom de voz que pôde, conseguindo calar a amiga novamente e fazer com que finalmente prestasse atenção na conversa dos amigos. – Que músicas vocês vão tocar?
– Provavelmente Obviously, That Girl, Five Colours In Her Hair, Broccoli, Get Over You e alguns covers... – respondeu, parecendo não prestar muita atenção no que falava, uma vez que estava ocupado demais fazendo rir enquanto batucava a música em sua perna e movia os lábios estranhamente, como se imitasse um cantor. – Ah é, e All About You.
– All About You? – perguntou, parando finalmente de rir e passando a encarar um ainda absorto pela música. – A gente nunca ouviu essa música... ou ouvimos?
– Não, ainda não – respondeu, um sorriso malicioso surgindo no canto dos lábios. – É surpresa, vocês só vão poder ouvir amanhã!
– Sem graça – resmungou, batendo no braço de e logo tirando seu sorriso do rosto.
– Ouch! Que garota violenta, credo... – reclamou, acariciando aonde havia acertado e mostrando a língua para a menina, fazendo-a rir.
– Fiquei curiosa agora – comentou, torcendo os lábios e franzindo o cenho, provavelmente imaginando como a música deveria ser ou tentando convencer algum dos meninos a contar com a cara de cachorra sem dona em que era tão boa. Ela sempre fazia isso.
– Não, nem vem – começou, balançando a cabeça em sentido negativo e fechando os olhos, impossibilitando a visão da cara que fazia, agora diretamente para ele. – Nem adianta fazer essa carinha, dessa vez eu não conto!
– E foi exatamente isso que ele disse nas outras vezes que ele contou também – comentou, parando logo de rir ao receber um murro de em seu ombro. – Qual é, sou saco de pancada agora?
– Sempre foi, disse, sorrindo meigamente para e rindo ao vê-lo estirar a língua e rir em tom completamente irônico e falso.
– Vocês podem ao menos dizer quem escreveu? – perguntou, olhando para cada menino presente, esperando uma resposta. Bom, menos ... aquele já era caso perdido.
– Todos nós – respondeu, sorrindo e piscando para a namorada antes de lhe dar um selinho.
– Até o ? – perguntou de repente, falando pela primeira vez em vários minutos. – Há, dessa eu duvido!
– Ok, essa eu ouvi – disse, finalmente tirando os olhos das pernas da cheerleader no banco à alguns metros de onde estavam e participando da conversa pela primeira vez no dia.
– Demorou... – sussurrou, mas de modo que saísse claramente para todos ouvirem, ignorando o fato de tê-la encarado com uma expressão perdida de quem dizia que não havia feito nada.
Todos na mesa, exceto por e , entreolharam-se e em seguida reviraram os olhos. Estavam já cansados de tantas brigas entre aqueles dois. E quando finalmente abriu a boca para se manifestar sobre aquilo, foi interrompida por um tipo de sirene alta e aguda. O sinal.
– A gente vai sair hoje à tarde, né? – perguntou, assim que todos se levantaram da mesa de pedra, apanhavam suas mochilas e começavam a se dirigir para o corredor da escola. – É sexta!
– A gente não pode – respondeu, parando de andar para esperar as meninas, que haviam parado para pegarem alguns livros em seus armários. – Vamos no estúdio hoje de novo, o Fletch quer nos ver.
– Sério? – perguntou animadamente, sorrindo para todos os meninos. – Ele quer falar com vocês de novo? Mas ele não ia ver vocês tocarem primeiro?
– E ele vai, mas antes eles querem que a gente já assine um contrato com... alguma coisa... acho. – começou, parecendo confuso e logo dando de ombros. – É muito complexo pra mim.
– Certo – disse, rindo do namorado e lhe dando um selinho de despedida.
– Nos vemos amanhã no pub então? – perguntou, encarando os meninos assim que fechou seu armário.
– Certo – concordou, batendo em continência.
– Certo – repetiu.
– Certo – e disseram em um uníssono.
– Certo? – riu, virando-se agora para e .
– Ceeeeeeeeeert...
– A gente sabe que você vai falar que tá certo, , agora vamos logo, retardadas! – reclamou, puxando as amigas pelos braços e levando-as para o caminho oposto dos garotos, em direção à aula.

xx

– Vai logo, !
Fazia meia hora que estava batendo na porta, uma vez que fazia mais de meia hora que estava enrolando ali no banheiro do camarim onde a banda deles faria o show naquela noite.
Todos já estavam prontos: e estavam testando os microfones e instrumentos e as meninas já estavam lá fora, pegando algumas bebidas para antes do show e guardando bons lugares bem em frente ao palco. O pub em que iriam tocar não era imenso, nenhum tipo de show muito grande como aqueles concertos de rock em que os meninos iam para ver seus ídolos, mas era algo. As meninas lembravam toda hora que sim, era algo, e algo muito bom e grande, já que era o primeiro show de verdade da banda e, segundo elas, muita gente viria; mas para os garotos, o que realmente importava era a presença de Fletch ali: ele que poderia ou não mudar o destino da vida deles. Dramático, eu sei, mas verdade.
! – berrou, esmurrando a porta pela vigésima quinta vez, se ele não houvesse perdido a conta.
– Pronto, pronto – começou, enquanto abria a porta vagarosamente e saía de lá com calma, as mãos para o alto, como se estivesse se entregando ou pedindo para que não o batesse.
– Aleluia! O que você tava fazendo lá? – perguntou irritado, entrando já ao banheiro e antes que fechasse a porta na cara de , completando: – Se masturbando com a foto da ?
Ao que bateu com força e trancou rapidamente a porta, pôde ouvir de dentro daquele cubículo o acesso de raiva/vergonha de por ter ouvido o amigo dizer tal coisa. Imaginava até a cor em que ele se encontrava, e com isso, começou a rir descontroladamente.
Envergonhado demais para ficar ali, se retirou do banheiro e caminhou para fora do camarim – se aquilo pudesse ser chamado de camarim. Desceu as escadas, passeando os olhos pelo palco de tamanho médio, onde todos os instrumentos, microfones, amplificadores, pedaleiras e derivados já estavam prontos, apesar de e ainda se encontrarem ali, conversando sobre algo enquanto pareciam ajustar seus respectivos instrumentos. Fez menção de se juntar à eles, mas a necessidade de uma cerveja era maior. Caminhou pela multidão e logo estava ao bar, junto às meninas.
– Fala cumprimentou o garoto, levantando a mão no ar, esperando pelo “toque secreto” que tinham, mas nada aconteceu. – Xi, que foi?
– O tem merda na cabeça – simplesmente disse, descendo uma grande quantidade de cerveja, assim em que o barman colocou a garrafa sobre a mesa, em sua frente.
– Agora que você percebeu? – perguntou ironicamente, mas parecendo arrependida do que disse em seguida, uma vez que parou repentinamente de rir e começou a beber sua cerveja em silêncio.
– Porque os meninos também não descem aqui, ? – perguntou, rindo de e logo voltando a encarar o palco, onde e ainda conversavam. – A gente nem falou com vocês desde que vocês foram pro estúdio assinar o tal do contrato lá...
– É, falando nisso, como foi lá? – perguntou, sentando-se ao lado de e desistindo de chamar a atenção de seu namorado para que ele se juntasse à elas também.
– Ah, foi... – começou, mas logo hesitou e parou de falar. Ele parecia de certo modo assustado e... triste. Em seguida, deu mais um longo gole de sua cerveja e voltou a falar. – Foi legal.
As quatro meninas não disseram nada, apenas se entreolharam curiosas, até mesmo , que parecia querer estar alheia à conversa.
– Nossa, você realmente me pareceu... – começou, ainda trocando olhares com as amigas. – Super animado.
– Não é nada, eu só to um pouco desanimado mesmo – disse rapidamente, e após tomar mais um longo gole de sua bebida, bateu a garrafa na mesa como se avisasse que havia acabado e se levantou da cadeira. – Eu vou checar o som lá com eles, vejo vocês depois.
– Ok – concordou, ainda confusa e desconfiada. Assistiu o amigo se distanciar, mas antes que ele estivesse longe demais, berrou, fazendo-o virar. – , pede pro descer aqui, por favor!
– Anh... certo.
Em seguida, o corpo de sumiu por entre a aglomeração de pessoas. Nenhuma das garotas disse nada, e apenas acompanhou com o olhar o amigo subir as escadas para o palco e falar alguma coisa para . Um sorriso surgiu em seu rosto, mas logo desapareceu ao ver o namorado a olhar do outro lado do local, abrir um sorriso triste, abaixar a cabeça e voltar a conversar com e agora , como se ela não estivesse mais lá.
– Ok, isso foi estranho até mesmo pro comentou, também sem tirar o olhar dos meninos sobre o palco.
– Quem fica desanimado quando tá tocando num pub pra várias pessoas e até já assinou um contrato com um estúdio e gravadora? – perguntou, como se estivesse pensando alto.
Nenhuma das outras duas disse nada para complementar; apenas observou pelo canto dos olhos , sorrindo tristemente para ela, apesar de ter sido ignorada. A única coisa que ela poderia pensar agora era no que quis dizer quando praticamente a ignorou daquele jeito.
Vinte minutos passados, um homem subiu ao palco e finalmente anunciou a banda dos meninos. Apesar de ainda estarem confusas sobre o ‘mistério’ deles, as quatro garotas rumaram para a frente do palco e se animaram; estavam ali para se divertir e apoiar a banda dos amigos.
– Boa noite! – Tom começou, berrando ao microfone. Por mais que ainda estivessem estranhos, era impossível esconder a felicidade em estar no palco, tocando. – Queríamos agradecer à vocês todos por virem, significa muito pra gente, e espero que vocês gostem! One, two, three, four!
Assim que a contagem foi rapidamente feita, um som animado saiu da guitarra e as quatro garotas logo berraram: That Girl estava começando.
Começaram a dançar, tirar fotos e observar a platéia, que estava tão animada quanto elas. Os meninos pareciam ter esquecido de qualquer coisa que antes os atormentavam, apesar de que, quando olhou melhor para , pôde jurar que viu um olhar triste. Não sabia e nem entendia o porquê: tudo que ele sempre quis estava acontecendo; Fletch estava sentado perto do bar, sorrindo e claramente gostando das músicas, eles estavam fazendo um grande show, lotaram o pub e ela e estavam finalmente namorando. Não era o que ele havia lhe dito que sempre sonhara? E, mesmo assim, não vira o garoto abrir um único sorriso a noite inteira. Nem mesmo para ela.
Os garotos, após quase uma hora, já haviam tocado todas as músicas do repertório que as meninas conheciam, até mesmo os covers, e agora não tinham nem idéia do que estava por vir. Eles já haviam parado o show para conversar com a platéia – as garotas nunca haviam visto eles tocando para público, e se surpreenderam quando viram o quão animados e simpáticos eram, fazendo piadas e animando todos cada vez mais –, Harry já havia feito um pequeno solo de bateria e eles inventaram uma música na hora apenas por diversão. Ninguém achou que eles ainda teriam algo a mais para fazer – parecia não restar mais nada além de se despedir e encerrar o show –, até que Tom se aproximou do microfone, arfando e extremamente suado, e anunciou o que as meninas antes estavam ansiosas para saber.
– A gente quer agradecer novamente à todos vocês, foi a melhor noite de todas! – Tom berrou, sorrindo ao ver a platéia gritar e bater palmas. – Mas infelizmente essa vai ser nossa última música, nós escrevemos recentemente e esperamos que vocês gostem. Nós queremos dedicá-la às quatro melhores garotas que a gente já conheceu – Ele continuou, e de todos os berros vindos da platéia, os das quatro meninas da frente conseguiram superar todo o barulho. – Essa é All About You!
Tom, já com o violão em mãos, acompanhou Danny em um ritmo calmo e gostoso.

It's all about you (it's all about you)
It's all about you, baby
It's all about you (it's all about you)
It's all about you

Yesterday you asked me something I thought you knew
So I told you with a smile, it's all about you
Then you whispered in my ear and you told me too
Said you'd make my life worthwhile, it's all about you


A platéia, ao ritmo da música, levantou os braços e começaram a balançar calmamente de um lado ao outro. As meninas faziam o mesmo, sorrisos imensos plantados em seus rostos. soltava berrinhos em intervalos de segundos e não parava de acenar freneticamente para ; , que parecia ter esquecido de todas suas brigas com ou de seu mau humor anterior, gritava para qualquer um ouvir: “essa música é dedicada pra gen-te! NÓS AQUI!”; dançava calmamente no lugar enquanto assoviava para os meninos, gritando coisas como: “gostooosos!” ou “quero um autógrafo depois!”, fazendo-os rir; e simplesmente não tirava os olhos de enquanto seus olhos brilhavam e todos os dentes apareciam devido ao tamanho do sorriso: ele estava finalmente sorrindo, sorrindo sinceramente e de modo feliz, sorrindo para ela.

And I would answer all of your wishes
If you ask me to
But if you deny me one of your kisses
Don't know what I'd do
So hold me close and say three words like you used to do
Dancing on the kitchen tiles, it's all about you, yeah!

And I would answer all of your wishes
If you ask me to
But if you deny me one of your kisses
Don't know what I'd do
So hold me close and say three words like you used to do
Dancing on the kitchen tiles
Yes you make my life worthwhile
So I told you with a smile
It's all about you

It's all about you (it's all about you)
It's all about you, baby
It's all about you (it's all about you)
It's all about you


Assim que a música acabou, o local foi dominado pelas palmas, berros e assovios da platéia, principalmente das meninas. olhou, junto de , para Fletch perto do bar, e os sorrisos dos dois cresceram ainda mais quando o viram levantar de seu assento apenas para bater palmas, alegre, e levantar o polegar em ‘jóia’ em direção à banda. Os olhares dos dois amigos se encontraram em seguida, rindo e se comunicando um com o outro através de leitura labial. Os meninos então agradeceram mais uma vez e deixaram o palco.
Quando , e saíram aos berros em direção ao camarim, anunciando que deveriam ir imediatamente parabenizar os meninos, com direito até a montinho, avisou-as o que havia a dito – ela surpreendentemente conseguiu ler os lábios dele – sobre Fletch ir ao camarim deles, e os meninos precisarem de um momento à sós com o empresário antes. Então, enquanto esperavam, as meninas se dirigiram ao bar e pegaram o máximo de bebidas que conseguiram.
Dez minutos depois, as quatro viram Fletch sair do camarim com um sorriso no rosto. Assim que ele passou por elas, cumprimentou-as com um aceno de cabeça e uma piscadela, e, com isso, saíram correndo o mais rápido que puderam em direção ao camarim.
– AAAAAAAH! FOI PERFEITO! VOCÊS ARRASARAAAAAM! – chegou berrando, e antes que qualquer um dos garotos pudesse responder, ela já estava pulando sobre e fazendo-o cair sobre o sofá minúsculo no canto. Ninguém entendeu como aquilo não desmontou na hora.
, você super tá me sufocando – disse com dificuldade, tentando sair do abraço apertado da menina, mas sem sucesso. Bom, ele nem estava tentando tanto assim... – Oi, posso respirar?
– Ah, desculpa, hein – riu, já corada e levantando de cima de .
– Cara, foi provavelmente o melhor show que eu já vi! – berrou, sorrindo abertamente enquanto entregava as bebidas para os garotos.
– Sério? – perguntou, incrédulo e feliz ao mesmo tempo.
– Bom, não – respondeu, fazendo todos rirem. – Mas só porque a gente foi no show do Busted ano passado, senão seria!
– Vocês realmente foram muito bem – concordou. – Eu tenho que admitir que até mesmo você foi... legalzinho, .
– Legalzinho? – perguntou, parecendo avaliar a palavra. Bebeu um gole da cerveja e deu de ombros, sorrindo. – Vindo de você, já tá bom demais!
, fingindo estar extremamente ofendida, deu um tapa no braço de , fazendo-os rir.
– E eu não ganho recompensa por isso, não? – voltou a perguntar, sorrindo maliciosamente e fechando os olhos enquanto fazia ‘biquinho’, como se esperasse que fosse beijá-lo. Ao invés, a garota apenas desviou e beijou sua bochecha, corando em seguida. – Já é um começo...
Todos riram e continuaram a conversar.
, que apenas havia entrelaçado suas mãos com as de e não havia dito nada desde o começo, aproveitou que os amigos estavam ocupados demais rindo e se divertindo e puxou o garoto para um canto. Quando pararam, de costas para todos, passou seus braços ao redor do pescoço de , enquanto ele abraçava sua cintura, e o beijou. Beijou como, na verdade, não fazia em um bom tempo, talvez desde o dia em que ele havia se revelado e declarado para ela. Não importava se antes ele estava ou não triste, tudo o que ela queria naquele momento era ele.
Quando o beijo foi quebrado, nenhum deles se separou, apenas continuaram do mesmo modo, mas com as testas encostadas uma a outra, olhando nos olhos um do outro. sorriu ao vê-lo perto, mas não fez nada, apenas passou o polegar carinhosamente pelo rosto da namorada, fazendo-a fechar os olhos ao seu toque.
– Hey, pombinhos – chamou, fazendo com que os dois se separassem e voltassem a se juntar aos amigos, caminhando de mãos dadas. – Desculpa atrapalhar o super momento de vocês, mas a gente tem que ir, .
– Ah é, nosso ensaio... – disse, bufando em seguida.
– Que ensaio? – perguntou, olhando da namorada para .
– Do nosso balé – respondeu, dando de ombros. – Faz anos que a nossa treinadora dá essa coreografia pra gente, é muito difícil, credo.
– Verdade, eu esqueci que vocês faziam balé – comentou, sorrindo para a namorada e em seguida sussurrando em seu ouvido, apesar de todos terem ouvido: – Foi isso que te deixou com essas pernas?
, por mais que estivesse rindo com os amigos, corou e bateu de leve no namorado, fingindo estar ofendida.
– She has the nicest legs I've ever seeeeeeeeeen! – cantou, alegre de tantas cervejas que já havia tomado.
– Música linda, , garanto que um dia vai virar um hit – ironizou, berrando ao ouvido de e tentando desviar de seu abraço. – Agora vamos, por favor, porque eu sei o quão chata você fica pra acordar de manhã?
– Ok, estresse, ok – concordou, e aproveitando que as amigas estavam se despedindo dos outros meninos, virou-se para . – Você vai ficar por aqui mesmo?
– Eu tenho, né... arrumar as coisas, ajudar o idiota do respondeu, rindo ao ver tentar beijar na boca quando ela foi se despedir dele.
– Certo – concordou, rindo também da cena. – Me liga amanhã? – concordou com um aceno de cabeça e beijou a namorada. – E ah, ... porque você tava estranho? Sabe, antes do show...
– Não é nada – respondeu rapidamente, dando de ombros. – Acho que era só nervosismo pro show.
Por mais que não estivesse convencida, preferiu não insistir. Beijou o namorado mais uma vez e após se despedir de todos os outros e parabenizá-los pela última vez, seguiu em direção à saída com as amigas.
– Você não vai contar à ela? – perguntou, surgindo atrás de , observando, assim como ele, as meninas andarem pela multidão, enquanto e estavam ocupados demais falando besteiras.
– Não... – respondeu, seu olhar ainda fixo exatamente em , até que ela finalmente desapareceu pela aglomeração. – Ainda não.


Cap. 17

O dia seguinte amanheceu completamente cinzento e frio, raios se precipitando pelo céu como em um aviso que choveria. Para , porém, aquilo apenas ajudava em seu bom humor: adorava frio, chuva e tempos como aquele, portanto não foi nem um pouco difícil acordar às 7:30 da manhã em pleno sábado para seu ensaio do balé. , por outro lado, demorou no mínimo meia hora apenas para levantar. Enquanto já estava em pé, roncava e babava, dormindo abraçada à seu ursinho de pelúcia; quando finalmente acordou, já estava no banho e, quando finalmente resolveu que estava um pouco mais acordada e um banho lhe faria melhor, já se trocava.
Vestiu as meias calças, o collant e a saia do balé, guardou as sapatilhas na mochila – não poderia sair na rua com aqueles sapatos, fora que iria estragá-los –, colocou seu tênis grande, preto com estrelas rosas, velho e lindo da Adio e, por causa do tempo, vestiu um casaco cinza com capuz e zíper aberto. Enquanto tirava uma barrinha de cereal da mochila – odiava comer muito antes de dançar –, colocando-a nas costas em seguida, sentou na cama e esperou por . Algumas vezes, lembrava das cenas da noite passada, de , em como ele estava estranho... e, automaticamente, apanhou o celular da mochila e encarou a tela esperançosa. Não tinha nada ali, além da foto dela com suas amigas que era o papel de parede do fundo de tela do celular. não estaria acordado àquela hora, nem que sua casa estivesse pegando fogo. E, por mais que soubesse que ele não a ligaria, pelo menos não naquele momento, continuou mexendo em seu celular como se estivesse ainda esperando por sua ligação. Entrou na galeria de fotos que tinha, vendo uma por uma... e ali, sem saber, achou uma foto de . Ele parecia segurar a câmera com a mão direita, enquanto fazia sinal de ‘jóia’ com a mão esquerda e fazia uma careta. Quando ele havia tirado aquela foto? E ela nem havia visto. sorriu e, apertando rapidamente alguns dos botões do celular, voltou à tela do aparelho, que agora aparecia a mesma foto de que havia visto. Sem perceber, passou pelo menos dois minutos sem parar encarando aquela imagem, rindo sozinha.
– Eu me odeio nesses collants, sério, eu pareço uma criancinha! – apareceu à porta do banheiro, o cabelo pingando e molhando sua roupa e o chão do quarto, uma fumaça quente saindo do local. – Do que você tá rindo, troxona?
– Nada – disse rapidamente, fechando o celular e encarando a amiga. – E você só parece uma criancinha porque você é baixinha, . Agora vamos logo.
– Ah, obrigada pela parte que me toca – A garota ironizou, estirando o dedo para a amiga enquanto apanhava sua mochila já pronta do chão. – E porque você fica super fofa e eu pareço uma... retardada que quer tentar dançar balé? Eu to com vergonha de andar assim na rua!
– Você fica super linda, amiga – começou, rolando os olhos enquanto ria e empurrava a amiga para fora do quarto. – E a gente só vai pegar o táxi e pronto, estamos lá. Ninguém vai te ver. VAI!
– Não, magina, ninguém vai me ver, apenas milhões de pessoas que são loucas e trabalham em pleno sábado em pleno centro de Londres! – reclamou, fazendo gestos exagerados com as mãos, quase acertando com sua mochila, enquanto deixava-se ser arrastada. – Ai cara, porque você fica tão bonitinha com essa roupa? E sua meia calça rosa até combina com o Adio!
?
– Você não quer tirar seu tênis pra ver se fica bom em mim também? Aí a gente troca...
?
– Porque imagina se eu encontro alguém conhecido na rua! Que mico, pelo amor de deus!
!
– AH, que foi?
– CALA A BOCA E ANDA!
, sem esperar, entrou no elevador e apertou o botão, segurando a risada. havia parado para encarar a amiga como se realmente estivesse ofendida, e só saiu do ‘transe’ quando viu a porta do elevador se fechando e saiu correndo para que pudesse entrar.
– Alguém já te disse que você é extremamente temperamentalista e grossa? – perguntou incrédula, assim que, após uma corrida ridícula enquanto tentava ao mesmo tempo alcançar o elevador e equilibrar a mochila em apenas um ombro, conseguiu parar arfando ao lado de .
– Alguém já te disse que você parece uma pata correndo?
fechou a cara e cruzou os braços, emburrada demais para continuar falando, e abafou o riso quando viu o elevador parar e alguns adultos entrarem. Minutos depois, um pequeno barulhinho seguido de uma luzinha avisou que eles haviam finalmente chegado ao térreo e, quando todos saíram, seguiu a pequena multidão de adultos depois de sussurrar para :
– Vamos logo, não é como se você fosse encontrar o por aqui à essa hora!
virou a tempo de conseguir ver o rosto de transformar-se tão rosa quanto seu collant do balé, mas não viu a amiga a seguindo para fora do elevador.
– Ah , pára com isso e vamos logo! – reclamou, puxando o braço da menina para fora e rindo enquanto voltava a empurrá-la para fora do apartamento.

xx

, você precisa contar à ela logo! – disse pelo que sentiu ser a décima segunda vez no dia.
e ele haviam pedido quinze minutos de ‘folga’ do estúdio e ido buscar café para eles e os outros que continuavam lá, discutindo músicas e as gravações. se sentiu extremamente aliviado quando, em um momento em que nada que não se relacionava à não entrava em sua cabeça, pareceu perceber e o chamou para acompanhá-lo ao Starbucks. Gostava de saber que poderia contar com para aquele tipo de coisa, pois iria ficar tão feliz em saber daquilo quanto ficou quando soube que havia sido o cara que beijara no baile.
– Eu sei que eu tenho, eu só não sei como – repetiu ao amigo, ocupado demais encarando cabisbaixo o caminho por onde andava para perceber o olhar de pena que havia lhe lançado.
– Olha cara, eu sei que é difícil, mas ela vai preferir ouvir isso de você – continuou, apertando o casaco cinza contra o corpo numa tentativa falha de evitar o vento e a garoa gelada. – Você realmente acha que o não vai querer contar à ela? Eles são como irmãos. Até mesmo eu pensei em contar à quando recebemos aquela notícia do Fletch, mas aí... bem, tem você, né.
– Como assim, “tem eu”? – perguntou, levantando a cabeça pela primeira vez em toda a conversa.
, por mais que ela tenha à mim e ao como melhores amigos para contá-la tudo, você acha que ela vai preferir ouvir isso de mim, do ou do próprio namorado dela? – concluiu, lançando mais uma vez o olhar de pena à , fazendo-o se arrepender de ter levantando a cabeça.
Por mais que soubesse que estava certo, que tudo que ele havia dito era verdade, não concordou ou disse nada para acrescentar. Haviam chegado à esquina da Abbey Road e logo adentraram o Starbucks, agradecendo por não estar tão cheio quanto normalmente.
– Café, certo? – perguntou, vendo concordar com a cabeça e virando-se para encarar agora o atendente. – Me vê um Latte, moço, e... o que você quer, ?
– Um Mocha – respondeu rapidamente, observando enquanto repetia o que ele havia dito segundos antes. – Hey , espera... quando nós vamos ver as meninas hoje?
– Eu disse pra vir nos ver no estúdio ainda hoje – respondeu sem tirar os olhos do dinheiro em que contava para pagar os cafés. – Por quê?
– A vai também?
– Provavelmente.
– Certo – concordou, apreensivo, sem tirar os olhos da tela do celular. – Anh, ?
– Sim?
– Pede mais um Caramel Macchiato e um muffin de blueberry, por favor? – pediu, levantando o olhar da foto que antes encarava no celular e encontrando o olhar confuso do amigo. – Favorito da ... – Completou, sorrindo fraco e dando de ombros ao que riu.
– Se for assim, me vê um cookie gigante de chocolate e um Vanilla Latte, por favor – pediu ao atendente, rindo com e também dando de ombros. – Favorito da ...
Após pagarem, apanharem as sacolinhas de comida e as bebidas, saírem do estabelecimento e em seguida terem que voltar por terem esquecido os cafés dos outros no estúdio, e estavam finalmente caminhando pelas ruas geladas de Londres de volta para a Abbey Road.
, você já... – começou, hesitando quando viu o olhar de o mirar. – Você já contou pra sobre... você sabe...
– Não – respondeu em um sorriso triste, enquanto brincava com o papel da sacolinha de comidas que levava. – Eu também to pensando em como contar, sabe... digo, não que eu precise contar, entende? – Continuou, fingindo não se importar e corando por fingir tão mal. – Ela só é minha amiga, não é como se eu tivesse que contar à ela ou nada do tipo, e...
– Claro que não, , claro que não – concordou ironicamente, rindo da cara que fazia e em seguida recebendo um leve soco no braço do mesmo por tê-lo feito corar ainda mais. – Mas você... você gosta dela, não gosta?
não respondeu a pergunta por imediato, e apenas quando alcançaram a porta do estúdio, ele parou em frente à e suspirou, a fumaça nevoada causada pelo frio saindo de sua boca.
– Eu gosto dela, sabe , eu realmente gosto, e... você sabe como eu sempre tive uma queda por ela, mesmo quando ela ainda era metida, e agora que eu tenho minha chance... eu sei que é injusto, deve ser principalmente pra você também, mas eu... eu vou esperar por ela, sabe? E eu só... eu espero que ela faça o mesmo também.
não sabia se era por causa do frio ou pelas palavras, mas observou o rosto de se tornar cada vez mais rosado enquanto ele lhe lançava um olhar triste, concordava vagarosamente com a cabeça e finalmente se virava para adentrar o estúdio, deixando sozinho no frio, pensando.

I guess the most that I can do is make a call and tell you the truth
Sing the words in melody and hope that you'll believe me
Here’s another song for you, so this one, this one makes two
Still don't know where to begin, I’ll just leave it at this


enfiou a mão no bolso fundo da calça jeans e tirou de lá seu celular. Encarou, pela centésima vez apenas naquele dia, a foto do fundo de tela. Ela que havia tirado, ele lembrava perfeitamente bem desse dia. Não que fosse há muito tempo atrás, mas parecia que qualquer e todo momento que passava com ela era registrado em sua memória de modo diferente e mais especial comparado em como as outras lembranças eram.

I’m sure you always feel my eyes on you
but I hope that you will never feel unwanted
Wait for me to move out west
It’s ok if you don't
I hope you know you’re my favorite thing about the west coast
I wish I stayed, I hope you wait
So here I am
Counting down the days ‘til California comes


Era ainda no começo do namoro, segundo dia, na verdade, e ela havia roubado o celular do bolso dele, começando então uma ‘guerrinha’ pela grama na tentativa de conseguir seu aparelho de volta. Ele fazia cócegas e ela ria, ria sem parar, e fazia ele sorrir sem parar também. E então ela parou de rir, ficou de repente séria, e instantaneamente parou de lhe fazer cócegas. Os dois ficaram se encarando, um nos olhos dos outros, como se dissessem tudo por ali sem nem precisar de palavras. E então ela o beijou, o agarrou pelo pescoço e o beijou. E, quando ela parou de beijá-lo, começou a rir novamente, e foi naquele momento em que havia tirado a foto. Ela estava rindo gostosamente, enquanto ele apenas sorria e lhe beijava a bochecha ao mesmo tempo, sem saber que daquela cena sairia uma das fotos mais bonitas que já vira na vida.

This is the least that I can do
You know I’m bad at calling you
The best way I can accept the lonely words I miss you
I’ll say it but I’m sure you knew
You’re what I look most forward to
Coming back to where I’ve been, I’ll just leave it at this


E, quase que sem pensar, digitou os números que seus dedos mais conheciam.
– Alô?
Era a voz dela.
? – Ele chamou, incerto sobre o que iria dizer agora.
– Oi ! – Ela respondeu, parecendo feliz e ainda assim cansada.
– Você ta bem?
– Ah, to sim, é que eu acabei de sair do ensaio do balé – Ela continuou, sem esperar para que ele respondesse. – Você e os meninos tão no estúdio, né? Eu e a vamos passar aí daqui a pouco, eu só preciso de um banho. Credo, odeio ficar suada!
ouviu-a rindo e não conteve uma risada baixinha também, apesar de triste.
– Aconteceu alguma coisa, amor? – Ela perguntou, obviamente percebendo o silêncio do namorado.
Mas continuou sem responder, apenas sorriu. Ela nunca havia o chamado de amor. Aliás, nunca ninguém havia o chamado de amor a não ser por sua mãe, e, acredite, não era a mesma coisa.
– Não, eu só queria ouvir sua voz – Ele respondeu rapidamente, sorrindo quando ouviu a namorada rir com alguém que berrava ao fundo: “aw, que meigo, gente!” – Quem ta aí?
– A idiota da – Ela respondeu, fazendo rir ao que as duas meninas começaram uma pequena ‘discussão’ do outro lado da linha.
– Amor, eu tenho que ir, o idiota do ta me sinalizando aqui ou seja lá o que ele ta fazendo pra eu entrar – finalmente disse, assim que percebeu um pulando e mexendo os braços de dentro do estúdio, pelo vidro, para que ele visse.
– Falando da idiota fêmea, chega o idiota macho – Ela comentou baixinho, fazendo rir ainda mais quando ela começou a berrar e reclamar que havia sido violentada. – Não me bate, ! É o que curte um masoquismo, não eu! – E, após mais risadas, berros, barulhos de pessoas correndo e em seguida uma porta batendo, pôde ouvir a voz da namorada novamente. – Desculpa amor, eu tive que me trancar no banheiro pra não me perseguir e me bater.
– Certo – concordou, ainda rindo enquanto imaginava a situação.
– Bom, não vou te segurar mais porque senão o vai resolver ficar igual à , o que eu não duvido, e querer te bater também. Nos vemos daqui alguns minutos?
– Como se você tomasse banho em alguns minutos, né ?
– Hey, você quer ser o próximo a apanhar também?
– Desculpe.
– Acho bom!
Os dois riram e ficaram alguns minutos em silêncio.
– Bom, então até daqui a pouco, amor.
– Até.
Os dois ficaram novamente em silêncio, como se não quisessem desligar, e antes que ela pudesse mesmo o fazer, berrou ao telefone.
!
– OOOOOOPAAAAAA, OI?
– Eu... te amo.
– Eu também te amo, .

I’m sure you always feel my eyes on you
but I hope that you will never feel unwanted
if you feel unwanted...
Wait for me to move out west
It’s ok if you don't
I hope you know you’re my favorite thing about the west coast
I wish I stayed, I hope you wait
So here I am
Counting down the days ‘til California comes...



Cap. 18

– Ai cara, eu to nervoso.
– Mas é claro que você ta nervoso, você vai dizer à sua namorada que você...
– Oi?
– Nada.
– O que vocês tão aprontando, cara?
, sério, o que faz... Não, , se você preza por sua vida, não encoste nisso!
– Ah , qual é? Tem mensagem da sua namoradinha aqui, é?
– Deve ser da .
– Calem a boca, seus gays!
– Gente?
and , sitting in a tree, K-I-S-S-I-N-G.
– O que você ta falando, seu lésbico? E você e a , hein, hein?
– Ah, cala a boca você!
, você não quer vir aqui continuar me aj...
– E o que você ta falando, ? Sua namoradinha odeia você!
– A nem é minha namorada!
– Então você assume que é a mesmo?
– E que ela te odeia?
– Calem a boca.
– GEEENT...?
– E você quer que a gente comece com você também, ?
– Mas o que... o que eu fiz?
– É , você namora minha irmã!
– Ela nem é sua irmã de verdade, .
– Ninguém te chamou na conversa, !
– Mas peraí, o que é que tem o namorar sua irmãzinha?
– Como o que é que tem? Você ainda pergunta?
– É , o que tem o namorar sua... irmãzinha?
Os quatro meninos, ao mesmo tempo, pararam rapidamente com a discussão e se calaram. , que estava de costas, não havia percebido da onde aquela voz feminina havia vindo, por isso perguntando qual dos meninos estava resfriado o suficiente para soar como uma gazela falando. Quando cutucou e apontou em direção à porta, o garoto parou subitamente de rir do próprio comentário que havia feito.
– Voz de gazela, ? – A voz voltou a falar, e ao que se virava lentamente pelo medo, pôde ver a imagem de uma menina de calça jeans, moletom largo e cinza e batendo o pé calçado por um addidas branco e largo freneticamente no chão.
, amor da minha vida – riu sem graça, indo em direção à menina e a abraçando. – Eu tava brincando, eu sabia que era você...
– Claro que sabia, , claro que sabia – respondeu, rindo também do amigo, lhe dando um beijo na bochecha e seguindo abraçada à sua cintura em direção aos outros meninos.
sorriu assim que a viu rindo e caminhando até eles. Era incrível como ela conseguia ficar linda até com a roupa mais básica e um casaco maior que ela mesma, jeito em que muitas meninas ficariam horríveis. Assim que ela e se aproximaram, já dava um passo à frente, fechava os olhos e fazia biquinho, obviamente para receber seu beijinho de bom dia.
– Nem ouse, disse, ao que apanhava o primeiro CD que viu sobre a mesinha ao seu lado e colocava em frente ao rosto de , fazendo então ele beijar a capa do objeto.
– Ah cara, o beijou meu CD dos Beatles – reclamou, enquanto apanhava o CD das mãos de , ignorando o fato de fazer cara de nojo enquanto limpava sua boca.
– Hehe, o beijou o Ringo – disse, rindo de modo idiota. – Ele é o mais feio!
– Sério? – perguntou, enquanto limpava a capa de seu CD com a manga da blusa de . – Eu sempre achei que o George era o mais feio...
– Ah, também – deu de ombros, sem perceber que o amigo usava sua blusa como toalha. – Mas aqui, você tem que concordar que o Paul é o mais bonito!
– Uh, verdade, nisso eu tenho que concordar – concluiu, balançando a cabeça em afirmação.
e apenas observavam a conversa, não acreditando da onde aquilo havia começado e muito menos porque estava continuando, até que soltou:
– Nossa gente, vocês preferem o Paul ao Lennon?
e pareceram parar para pensar, entreolhando-se depois e concordando juntos com a cabeça.
– Nossa, eu me surpreendo cada dia mais com a conversa de vocês – Uma sexta voz disse ao fundo, e ao que todos viraram a cabeça, viram se aproximando deles. – Tirando você, é claro – Ela continuou, apontando para . – Eu já me acostumei com as suas conversas...
apenas fingiu uma risadinha irônica enquanto passou, aproveitando para mostrar-lhe a língua quando ela estava ocupada demais cumprimentando os meninos para ver.
– Então você não deu o bolo na gente! – disse, enquanto cumprimentava a menina com um sorriso que não havia dado o dia todo. Porque será?
– “Deu o bolo”, ? – repetiu, rindo exageradamente da cara de e . – Que coisa da época de quando minha vó ainda era um brotinho!
, o que você anda fazendo com a minha amiga? – perguntou ironicamente, sem conter um riso quando viu ficar roxa de tanto rir e não conseguir mais respirar, tendo então que se apoiar no corpo de . – Pára de rir, sua monga! Nem foi tão engraçado assim!
– Tão engraçado assim? Isso não teve graça nenhuma – respondeu, vendo que, assim como , começava a rir exageradamente. – Porque vocês tão rindo tanto? Parem de rir! PAREM!
– Ok, eu desisto – finalmente disse, levantando os braços como se estivesse se rendendo e se desfazendo do semi-abraço com . – Alguém quer pizza?
Os três outros garotos, ao ouvirem isso, levantaram a mão rapidamente em concordância e se distanciaram das meninas, sentando no sofá enquanto esperavam que a crise de riso sem motivo delas passasse.
Demorou em torno de cinco minutos, mas e finalmente conseguiram se recompor. Limpando as lágrimas por causa de tanta risada, as duas se juntaram aos meninos no sofá; xeretando tudo ao seu alcance e se jogando ao lado do namorado. E, ao fazer, apenas manteve seu olhar sobre ela, sorrindo tristemente. Era incrível o modo em que a namorada ria por pouco, do modo em que era alegre e cheia de vida, otimista para tudo... queria ele ser assim. Mas sabia que era até impossível na situação em que estava. E pior, sabia que faria o amor de sua vida perder essa magia feliz que tinha apenas por sua causa, e talvez fosse essa a resposta da pergunta que tanto martelava sua cabeça: porque estava demorando tanto para contar à o que deveria?
– Você ta bem, ? – chamou, fazendo sair de seu pequeno transe. Ela provavelmente havia percebido seu olhar triste, hipnotizado sobre ela, assim como também havia notado. – Você ta quieto...
– Ah, eu só to um pouco com sono – mentiu, fingindo um bocejo exagerado e tentando ao máximo ignorar o olhar reprovador que lhe lançava do outro sofá em frente ao deles. – Você sabe que eu não sou acostumado a acordar cedo.
– Mas precisa começar a aprender, né? – Ela disse, torcendo o nariz do modo, pensou, que apenas ela conseguia fazer e parecer a criancinha mais linda do mundo que pedia doce. Ele então, não resistindo, apenas riu baixinho e lhe deu um selinho. – Você vai virar um rockstar e vai precisar acordar cedo para os shows, as sessões de fotos e autógrafos... e coitadas daquelas groupies nojentas se elas ousarem em apenas olhar pra você. – Ela acrescentou, agora franzindo o cenho como se quisesse parecer brava, mas apenas imaginou a mesma criancinha fofa ainda insistindo pelo seu doce.
Apesar da pequena distância entre um sofá e o outro, pôde sentir o olhar de sobre ele, sabendo o que ele queria dizer, agora que havia tocado no assunto. E, com isso, sentiu que precisava trocar olhares com , rezando para que ele entendesse aquilo como um pedido de ajuda. E provavelmente nunca se sentiu tão feliz em ter alguém como , porque o amigo pareceu realmente ter entendido o recado.
– AAAH, esquecemos de uma coisa – berrou repentinamente, levantando-se do sofá e caminhando em direção a onde os dois namorados se encontravam, puxando pela mão sem nem explicar nada. Em seguida, puxou , fazendo a menina, que estava completamente absorta em brincar com e e o aparelho de som, levar um susto e tropeçar com o ‘delicado’ puxão de . Fizeram-nas então parar em frente à uma mesa bagunçada e suja por caixas vazias de pizza, garrafas vazias de cerveja e duas sacolinhas. – Compramos o café da manhã de vocês!
apenas levantou a tampa de algumas das caixas vazias de pizza e permaneceu calada, pensando.
– Azeitonas, restos de borda de pizza e... – Ela afastou algumas das outras caixas, apanhando então as garrafas vazias de cerveja e analisando-as. – Nada para beber? Meu café da manhã preferido, ! Como você adivinhou?
– Não, sua besta humana – riu, logo parando ao receber o olhar mortal de . – Hehe, querida , meu amor, não é isso. A gente comprou no Starbucks, é aquela sacolinha ali.
– AAAAAAAAAAH, STARBUCKS! AAAAAAH, CARAMEL MACCHIATO, MEU FAVORITO! E... MUFFIN DE BLUEBERRY? – berrou, pulando ao pescoço de e o abraçando. – Te amo, !
– É, eu sei, eu sou foda – Ele concordou, sorrindo de modo completamente convencido.
– Se toca, , você só vai ser foda se acertar no que eu gosto – disse, abrindo uma das sacolinhas enquanto ria da cara que havia feito para seu comentário. – Vejamos, café de... MEU DEUS, VANILLA LATTE E UM COOKIE GIGANTE DE CHOCOLATE? Eu te amo, !
– Eu sou realmente foda – repetiu, agora sorrindo de orelha a orelha do modo mais convencido que conseguiu, até que lhe agradeceu com um beijo na bochecha, fazendo seu sorriso idiota sumir e as bochechas corarem.
– Hey, fui eu que escolhi pra você, amor – se manifestou, estirando o dedo a e sorrindo à namorada que voltava a se sentar ao seu lado no sofá.
– Ah é? – perguntou, olhando para como se estivesse ofendida. – , você não é mais foda e eu não te amo mais – Ela estirou a língua, em seguida voltando-se ao namorado e lhe dando um selinho estalado. – Obrigada amor, você que é foda e é você quem eu amo.
– Estraga-prazeres – murmurou, mostrando a língua ao que continuava a fingir que estava brava e virava a cara para ele.
– Só falta você me dizer que o que também escolheu o meu, reclamou, a boca cheia de cookie.
– Não, o seu fui eu que escolhi, ! – respondeu, sorrindo orgulhoso de si mesmo.
– Ok, você pode continuar sendo foda então – Ela completou, cuspindo metade do cookie ainda não mastigado em sua boca e fazendo sinal de ‘jóinha’ para , fazendo todos rirem.
– Porca – disse, fazendo careta para enquanto tomava seu café. – E o é bem mais foda que o .
– Nem – respondeu, ainda soltando farelos da comida pela boca. – O é mais.
, ao ouvir isso, sorriu ainda mais, estufando o peito em orgulho. então enfiou a mão no rosto do menino, tirando o sorriso bobo de e surgindo de repente na conversa.
– Não precisam discutir sobre isso, meninas – Ele começou, entrando na frente de , roubando sua ‘cena’ e também estufando o peito. – Eu sei que eu sou o mais foda.
– Há, essa piadinha foi ótima, comentou, também se intrometendo na conversa. De onde surgia tanta idiotice? – Todo mundo sabe que eu sou o mais foda.
– Ok começou, cortando todos os protestos que e estavam prestes a fazer sobre ter-se declarado o mais foda. – Acho que o pode ser o mais foda. Esses três são muito retardados para serem fodas.
– Obrigada, respondeu, rindo da namorada que sorria orgulhosa por ele enquanto apontava o dedo para as caras desanimadas dos outros três e berrava a eles: “HÁ, LOOOOOSERS!”

Após engatarem uma conversa séria sobre quem seria o mais foda do grupo, os meninos finalmente resolveram tocar as músicas já escritas para a gravação – não que realmente quisessem, mas tiveram assim que Fletch encontrou-os rindo com e no sofá sem fazerem o que ele havia mandado anteriormente – enquanto as meninas assistiam.
Os meninos entraram na sala de gravação, sendo observados pelos produtores e pelas garotas pelo vidro enquanto começavam a tocar o começo de Broccoli. Alguns dos homens que sentavam à frente de um enorme painel de controle de som – não parava de comentar perplexa sobre a quantidade de botões que continham ali – soltavam às vezes comentários como “eles são realmente muito bons” enquanto balançavam a cabeça em afirmação e, uma vez ou outra, mexiam as pernas e batucavam com os dedos no painel ao ritmo da música, fazendo com que sorrisse abertamente e levantasse os polegares em direção aos meninos, que levavam aquilo como um bom sinal em relação aos produtores.
– Que droga, eu queria ouvir eles – comentou em um sussurro mal-humorado ao ouvido de . – Porque a gente não pode ouvir eles?
– Porque só quem tem esses fones pode – respondeu no mesmo sussurro para a amiga, apontando em direção aos megafones que os produtores usavam aos ouvidos. – A gente só consegue ouvir se o cara apertar aquele botãozinho ali... – Ela agora apontou para uma luz que, diferente dos outros botões, não piscava constantemente, apenas permanecia vermelho o tempo inteiro. – Acho que quando ele ficar verde, quer dizer que a gente pode ouvir o que os meninos tão fazendo lá dentro.
– Eu quero apertar esse botão pra ele ficar verde – voltou a comentar, encarando atentamente o botão, como se, apenas com a força da mente, ele pudesse ficar verde. apenas balançou a cabeça em sentido negativo e bateu na cabeça da amiga, fazendo-a acordar de seu pequeno transe.
Após alguns minutos, os meninos já haviam tocado duas músicas e terminavam a terceira. Quando Tom e Danny tocaram o último acorde de Get Over You, os produtores que ouviam pelos fones bateram palmas animadamente, fazendo tanto os meninos como as meninas sorrirem.
– Muito bom, meninos – Um dos homens anunciou ao microfone, enquanto segurava um botão e olhava diretamente para as figuras dos garotos pelo vidro. – Nós vamos discutir algumas coisas com o Fletch e já voltamos. Enquanto isso, Danny, trabalhe no solo de That Girl.
Danny bateu continência, abrindo um de seus maiores sorrisos, mostrando todos os dentes em perfeito estado, fazendo com que e cutucassem uma a outra e soltassem risadinhas. Ninguém resistia ao sorriso de Danny Jones.
O produtor sorriu e, após apertar alguns botões do painel de som, arrancou os megafones dos ouvidos e se levantou. Todos observaram enquanto um grupo de homens se reunia ao canto da sala e discutiam algo animadamente. As meninas então passaram sua atenção para os quatro meninos ainda dentro da sala de gravação, e os seis adolescentes sorriram uns aos outros quando os olhares se cruzaram. aproveitou o momento e parou seu olhar em . Ele ainda sorria como nunca, tinha um certo brilho nos olhos, dando ainda mais intensidade àquela cor que lhe lembrava o oceano. Observou o garoto mexer os lábios, formando claramente as palavras “eu te amo”, e sentiu seu coração e estômago saltarem e se encontrarem dentro do próprio corpo. Era incrível o que ele a fazia sentir. E também sorrindo como nunca, abriu a boca para respondê-lo, mas parou no mesmo instante. O sorriso que antes tinha foi desaparecendo aos poucos, fazendo com que o brilho que seus olhos antes tinham se transformasse em algo triste. sentiu o próprio sorriso murchar, enquanto observava puxar seu namorado para um canto e começar a conversar seriamente com ele. e pareciam alheios à qualquer outra coisa agora, e discutiam sobre as músicas.
– O que será que os dois tão conversando? – de repente perguntou, provavelmente tão atenta aos dois quanto , que tentava até uma leitura labial no momento. – Se o e o não falassem tão alto, daria até pra ouvir a conversa deles...
então se aproximou silenciosamente do painel de controle de som, olhando para os lados para ter certeza de que nenhum dos produtores estivesse por perto, e começou a mexer em um dos botões.
! – chamou, tentando ao máximo gritar em um sussurro, o que era bem difícil. Não queria chamar a atenção de ninguém. – , pare de mexer! Você vai estragar o painel e...
logo se calou ao que as vozes dos meninos, de dentro da sala de gravação, se tornaram de repente mais altas para as pessoas de fora, que os observavam. Olhou rapidamente para o canto em que os produtores conversavam ainda com Fletch, e suspirou aliviada quando viu que nenhum deles pareceu ter notado ou ouvido nada ‘a mais’. Assim que se virou novamente para , viu que a amiga também havia se virado para os homens ao canto da sala, e logo ao perceber a mesma coisa que , sorriu e voltou sua atenção novamente para o painel. Com cuidado, ela levou o dedo a um dos botões logo ao lado da luz verde. A mesma luz que antes era vermelha. Com isso, as vozes dos meninos foram, aos poucos, aumentando cuidadosamente, ainda sem muita diferença em como estava antes. Bom, sem muita diferença para quem estava longe, uma vez que e , que estavam perto do vidro e das caixas de som, conseguiam agora ouvir claramente a conversa da banda.
até ia perguntar como que a amiga sabia onde controlar o volume, mas não precisou: percebeu que, bem ali ao lado da luz verde e logo acima do botão, lia-se “volume para a sala de gravação”. E não teve nem o tempo de perguntar também: a voz de fez com que as duas garotas, agora com seus ouvidos colados à caixa de som, se calassem rapidamente e prestassem toda sua atenção na conversa.
– Cara, quando você pretende contar à ?
, no mesmo instante em que ouviu aquilo, virou rapidamente sua cabeça em direção à , ainda sem tirar o ouvido da caixa de som. Viu a amiga fazer o mesmo, e em seguida a observou mexer os lábios enquanto perguntava “TE CONTAR O QUE?” de uma maneira extremamente exagerada para que entendesse. Ela, por sua vez, apenas deu de ombros e voltou sua atenção à conversa.
– Eu já disse, , eu não sei! – respondeu de uma maneira ríspida e ao mesmo tempo triste.
, ao lado de fora, sentiu seu coração bater rapidamente em sua garganta.
, eu vi o modo como você tava olhando pra ela – continuou, olhando fundo nos olhos. – E eu sei que é difícil, mas você precisa falar pra ela logo!
– Ah, sério? Eu não sabia, obrigado por me lembrar, cara – ironizou, semi-cerrando os olhos em raiva, mas logo abaixando o olhar para o chão. Odiava quando lhe encarava daquela forma, mas ele próprio não estava ajudando em nada.
– Cara, porque você tá descontando isso em mim? – perguntou nervoso em um sussurro alterado, uma vez que não poderia gritar. – Não é minha culpa se você não tem a coragem suficiente pra contar a verdade pra sua própria namorada, ok? Eu só estou sendo um bom amigo e te lembrando de algo que você TEM que fazer, por mais que não queira.
observou de olhos cerrados, tamanha era sua atenção, ao que suspirava alto e profundamente e finalmente erguia a cabeça, voltando a encarar a face do amigo à sua frente com extrema tristeza. , que antes tinha as bochechas um tanto rosadas pela pequena raiva que sentia de , fez com que sua expressão ‘murchasse’ até se transformar em um sorriso triste e um olhar de pena que lançava ao menino.
Naquele momento, tinha quase certeza de que seu coração não batia mais, apesar de continuar entalado na garganta. Sentia que poderia vomitá-lo a qualquer minuto.
, eu sei que eu fico realmente muito chato te perguntando toda hora quando você vai contar à ela, mas é porque a é minha melhor amiga também e eu temo que você acabe não contando por medo – finalmente continuou, após um pequeno intervalo de silêncio entre os dois. – E eu entendo seu medo, eu realmente entendo, mas... ela precisa saber. Você sabe disso.
, mais uma vez, virou a cabeça para encarar , e ao que fez, viu que a amiga já havia o feito e já a observava com um misto de curiosidade e pena nos olhos. Sentiu seu coração, ainda na garganta, voltar a bater, mas agora mais veloz do que jamais havia batido em sua vida. Mas que merda que tinha medo de contá-la?
– É lógico que eu sei, concordou, sentindo a voz falhar e sair de um modo choroso. – Mas me responde, como que eu devo fazer isso? Agora que eu finalmente tenho ela, como que poderia me ocorrer um modo de contar à ela uma coisa dessas? Como? Porque se você souber de algum jeito, qualquer jeito... eu estou aberto à sugestões.
– Eu... – pareceu parar um momento para pensar, mas logo suspirou profundamente e fechou os olhos, visivelmente derrotado pela pergunta. – Eu não sei.
– E sabe o que é o pior? – voltou a falar rapidamente, como se não houvesse respondido nada à sua pergunta. – Saber que não existe modo de contar, então eu, obviamente por medo, não conto, e acabo deixando ela triste e preocupada por me ver nesse estado, infeliz, pensando e tentando a todo minuto achar um jeito de falar, de explicar pra ela o que vai acontecer. Porque não há nenhuma maneira de eu fazer isso, , simplesmente não há!
– Claro que existe maneiras de você fazer isso, respondeu, tentando de alguma força incentivar o amigo. Sabia que era difícil, mas era também necessário.
– Desculpe te desapontar, mas não, não existe uma única maneira boa de contar, rebateu, deixando-se levar pela frustração e até por uma certa raiva. – Como que existe um jeito bom de contar à sua própria namorada que você está indo embora do país, hein? “Hey babe, tenho que me mudar da Inglaterra por alguns vários meses, tchau”. Que tal? Assim é bom o suficiente?
...
Qualquer que seria o resto da frase de , ninguém pôde descobrir, uma vez que fora cortada por um barulho estranho vindo de fora da sala de gravação. Os quatro garotos ali dentro viraram as cabeças no mesmo instante para ver que o tal barulho havia sido causado por , que havia acidentalmente derrubado a caixa de som que segurava contra o ouvido. Mas não fora a cena do aparelho caindo que fez as atenções serem voltadas apenas para ela, e sim pelo fato de que a menina encarava, pelo vidro, diretamente nos olhos de , sem vergonha de chorar abertamente para quem quisesse ver.
– Não... – sussurrou automaticamente para si mesmo ao observar a cena. Sentiu seu coração despencar, caindo até que encontrasse seu estômago. Ela havia ouvido. – Não, ...
Antes que pudesse dizer ou fazer qualquer outra coisa, observou a imagem por detrás do vidro de sua namorada sair correndo estúdio a fora. Sem precisar pensar, ele logo saiu do estúdio na velocidade mais rápida em que suas pernas agüentavam, deixando seu cérebro guiá-lo – por mais que o mesmo não estivesse funcionando muito bem no momento. A figura de chorando enquanto lhe encarava fundo nos olhos parecia remoer em sua cabeça a cada milésimo de segundo, não o ajudando a conseguir pensar direito, e também em seu peito, fazendo com que sentisse seu coração bater rápido e apertado, bombeando o sangue com rapidez extrema para o corpo e, conseqüentemente, fazendo com que a ponta de seus dedos começassem a formigar estranhamente. Se não fosse essa a explicação, a única coisa que conseguia imaginar que fosse era pela necessidade em estar, naquele exato momento, segurando sua namorada e lhe dizendo que tudo estaria bem, que ele nunca a abandonaria.
Parando de correr por alguns instantes, permitiu-se curvar, apoiando as mãos nos joelhos, sentindo o peito subir e descer tamanha era sua dificuldade em respirar. Seus olhos percorreram toda aquela rua deserta, imaginando como que ele mesmo havia ido parar ali. E, então, percebeu que não havia sido seu cérebro que o guiara, e sim seu coração: aquele lugar, exatamente sobre as gramíneas verdes e molhadas pela chuva do parque St. James, onde semanas antes havia passado o começo do namoro com , encontrava-se a mesma sentada no banco mais afastado do local. sentiu seu peito encher-se com uma mínima esperança, e deixou seus pés lhe levarem até onde sua namorada encontrava-se curvada, abraçando as próprias pernas contra o peito, que se movimentava constantemente devido ao choro.
começou, sem saber ao certo o que dizer. Sentou-se vagarosamente ao lado da namorada no banco, encostando delicadamente uma de suas mãos em seu ombro e a outra em seus cabelos.
– Por quê, ? – Ela perguntou, permanecendo com a cabeça afundada entre seus joelhos e, portanto, fazendo com que sua voz saísse abafada. Aquilo pareceu fazer com que o aperto no peito de doesse ainda mais. – Por quê?
– Desculpa – Ele respondeu, ainda sem palavras. Observou levantar lentamente a cabeça, encarando-lhe com aqueles olhos verdes marejados e vermelhos e o rosto inchado e extremamente corado. Aquilo definitivamente fez parecer com que tudo estivesse desmoronando. Automaticamente, segurou a menina pela cintura, puxando-a para si e a abraçando o mais forte que conseguiu. – Me desculpa, me desculpa, por favor.
, ao sentir os braços de seu namorado a apertando de modo carinhoso e desesperado, passou os braços ao redor de seu pescoço e enfiou a cabeça em seu pescoço, chorando ali mesmo enquanto sentia seu perfume. Não era possível que a única coisa que lhe fazia bem, a única coisa que finalmente dera certo em sua vida estava indo embora. Não podia ser possível.
Após um tempo em que deixou-se chorar ali abraçada a , finalmente conseguiu controlar os soluços e foi se desfazendo do abraço. Permaneceu com os braços ao redor do pescoço dele, mas seu rosto estava agora a apenas mínimos centímetros de distância do dele. Aproveitou para encarar aqueles azuis em seus olhos que tanto amava, mas que no momento apenas esboçavam um brilho extremamente triste. Ainda encarando-o diretamente nos olhos e acariciando delicadamente seu rosto com os dedos, tentou achar alguma coisa para falar, mas nada no momento parecia importar além de ficar ali, prestando atenção a cada feição e traço de .
– Vocês vão ficar quanto tempo fora? – Ela finalmente conseguiu perguntar, esforçando-se para controlar um soluço que tentou escapar com aquela pergunta.
– Em torno de... – pausou, parecendo não querer continuar. Encarou o fundo dos olhos da namorada, sentindo uma imensa pontada aguda e dolorida em seu peito. – De um ano.
– UM ANO? – berrou, não conseguindo conter a surpresa e até certo desespero.
– Eu sei que parece muito, mas a gravação do CD mais a promo... demora um tempo, sabe? – Ele continuou, tentando achar as palavras certas, por mais que nada que dissesse parecesse certo. Abandonar sua namorada não parecia certo. E não era. – E os produtores querem que saia tudo perfeito, porque, segundo eles, nós vamos fazer muito sucesso.
– Vocês vão, é claro que vão – concordou, balançando a cabeça freneticamente em afirmação, como se obrigasse a si mesma a acreditar naquilo. – E... e pra onde vocês vão?
– Dublin – respondeu em um suspiro pesado.
– Dublin tipo em Dublin na Irlanda? – perguntou, mais uma vez não conseguindo conter a surpresa e alterando o tom de voz. não respondeu nada, apenas concordou com um leve e vagaroso aceno de cabeça. Ela, novamente como se quisesse obrigar-se a acreditar naquilo, fechou os olhos por alguns instantes e balançou a cabeça freneticamente. – Certo, tudo bem, é pra carreira de vocês, e vocês vão conseguir. Era isso o que você queria, certo? Aliás, o que todos nós queríamos... fazer com que a banda ficasse famosa. Certo? – Ela então abriu os olhos e encarou aqueles azuis de , como se procurasse ali afirmação na própria pergunta. O namorado, mais uma vez, não respondeu, mas dessa vez também nem mesmo concordou; apenas continuou encarando-a com o mesmo brilho triste no olhar. – Certo, ? Diga que eu estou certa, por favor.
– Você... – Ele finalmente disse, pausando para continuar encarando aquela imensidão verde triste que eram os olhos de sua namorada. – Você está certa, amor. Você está certa.
– Eu estou certa, bom – concordou, não contendo mais alguns soluços e mais pesadas lágrimas que agora lhe corriam pelo rosto, enquanto continuava a encarar a expressão triste do garoto em sua frente. – Isso é bom.
, ao ver a namorada chorando mais uma vez, voltou a abraçá-la com força, colocando a cabeça dela em seu próprio ombro. , por sua vez, não reencostou ali e permaneceu chorando, mas apenas segurou o choro e apoiou o queixo no ombro dele, como se admirasse algo que não conseguisse ver.
– A gente – Uma voz atrás de começou, parando para apanhar ar. – A gente estava procurando vocês.
, que parecia já estar observando a fonte da voz, levantou-se do banco quando a ouviu se pronunciar, e pôde girar o corpo no assento para observar as figuras dos outros amigos ali no parque. Observou quando sua namorada correu até eles e pulou sobre , o abraçando forte e pondo-se a chorar em seu ombro como havia feito em há instantes atrás.
– Desculpa pequena, por favor – pediu, acariciando os cabelos de , enquanto a suspendia no ar pelo seu abraço. – Eu ia te contar, eu só achei que o quisesse fazer isso primeiro, porque acho que ele tem mais direito, e eu... eu... eu não te contei, me desculpa.
– Cala a boca, – A garota sussurrou em seu ouvido, apertando o pescoço de seu amigo com os braços tanto para que não caísse do abraço, como também pelo simples fato de querer abraçá-lo o máximo que podia enquanto tinha a oportunidade. – Eu não preciso te perdoar de nada e você não tem do que pedir desculpas.
– Tenho sim – insistiu, aproveitando que estava suspendendo a menina no ar para que encaixasse sua cabeça no ombro dela também. – Você é minha irmã, porra, eu tinha que ter te contado.
– Todos nós tínhamos, interrompeu, sorrindo tristemente de e até , que havia se levantado do banco para observar a cena.
, no mesmo instante, passou um braço pela cintura de , enquanto o mesmo passava seu braço ao redor dos ombros dela. Ela aproveitou para encostar a cabeça em seu peito e continuou a observar e . , que não havia dito nada e também apenas observava, abaixou a cabeça e caminhou em passos lentos até , abraçando o amigo e apoiando também sua cabeça no peito dele.
, você...? – começou, sem saber se deveria abraçar de volta. Por via das dúvidas, deu leves tapinhas em seu ombro, como que para consolá-lo. – Você também está chorando?
– Eu não sou bom para despedidas, cara – finalmente disse, levantando a cabeça e mostrando aos amigos as duas lágrimas que rolavam de cada olho.
Todos riram do comentário, observando uns aos outros. e ainda encontravam-se abraçados; havia cruzado os braços ao redor do pescoço de , abraçando-a por trás, enquanto a mesma limpava as lágrimas e não sabia ao certo se ria ou continuava a chorar; limpava as supostas lágrimas enquanto ainda era consolado por , que continuava com os leves tapinhas em seu ombro.
– Hey, que tal se a gente fosse lá pra casa, assistíssemos De Volta Para O Futuro e comêssemos muito brigadeiro? – sugeriu em meio de um silêncio que só era interrompido por soluços e fungadas dos choros.
– Como nos velhos tempos? – perguntou, fazendo com que seus olhos brilhassem de maneira infantil e idiota.
– Que velhos tempos, ? – rebateu, rindo mais uma vez com os amigos de . – Nós fazemos isso praticamente todo dia!
– Mas não é como se fôssemos continuar fazendo – comentou baixinho, franzindo os lábios de maneira triste quando soltou um “outch” e os amigos abaixaram os olhares.
– Credo, vocês poderiam parar de ser emos? – pediu, arrancando mais risadas dos amigos. – Nós ainda temos tempo, não precisamos chorar tudo antecipadamente!
– Concordo – berrou, levantando o braço livre para o alto e fazendo os amigos rirem ainda mais. – Vamos aproveitar o tempo que nos resta ao invés de desperdiçarmos ele com choros. Isso a gente pode fazer quando formos realmente embora! E existe telefone pra quê, certo? Tecnologia está aí pra isso, minha gente.
– Falou bonito, meu caro concordou, andando em direção a e , enfiando-se no meio do abraço dos dois e passando seus braços em volta de cada um, de modo que os abraçasse. – Quem liga pra ?
Todos apenas riram mais uma vez, ouvindo concordar e dizer que ligaria, fazendo com que lhe roubasse um beijo na bochecha e em seguida saísse correndo de um enciumado. , percebendo o que deveria fazer, beijou o topo da cabeça de , sussurrou algo em seu ouvido e seguiu os três amigos, berrando algo como “ligar” e “”.
– Hey – sussurrou, aproximando-se da namorada que já mantinha as mãos estendidas no ar para que ele as apanhasse. Assim que ele o fez, lhe deu um beijo demorado e, ao que se separou, encostou a própria testa na testa dele, fazendo com que os narizes roçassem. – Você vai me esperar, não vai?
– E você ainda pergunta, seu demente? – Ela sussurrou de volta, fazendo-o rir baixinho. Os dois então, que antes mantinham os olhos fechados, passaram a observar as faces tão próximas. passou os braços ao redor do pescoço de , enquanto ele abraçava sua cintura. – Por quanto tempo precisar.
– Te prometo que não vai ser muito, minha Cinderella.


Cap. 19

– VAMOOOOOS! – berrou do pé da escada; uma de suas mãos segurava o celular para checar de cinco em cinco segundos o horário, enquanto a outra era entrelaçada com a de .
– Estou indo, estou indo! – berrou de volta, ainda em seu quarto.
Era uma noite de sábado e os sete adolescentes que se encontravam na sala de estar da casa de já estavam prontos para sair, apenas esperando por , que, não era novidade, ainda se trocava.
Era a última noite de todos juntos, uma vez que os meninos partiriam para Dublin no dia seguinte com o empresário para a gravação do primeiro CD da banda. Era quase inacreditável como tudo parecera passar tão rápido, o que significava que eles teriam de deixar as meninas para trás.
Com todo aquele clima de despedida, os adolescentes resolveram achar que não havia mais razão para segredos, o que fez com que admitisse na frente de todos que ele e haviam ficado três noites atrás – resolveu até fazer uma festa no dia seguinte, dizendo que eles tinham que comemorar o fato de ter finalmente deixado de ser lerdo –, e, por isso, confessou ter pedido em namoro assim que os meninos ouviram sobre a notícia da viagem. Os únicos que pareciam ainda continuar ‘na mesma’ eram e , mas não por opção de , diga-se de passagem.
– Então quer dizer que você já sabia de tudo? – perguntou para ao que se sentava no sofá ao lado de , que jogava videogame com .
– Bem, o me contou assim que o Fletch avisou os meninos... – respondeu quase em um sussurro, olhando com certo remorso para a amiga. Ela havia sido a primeira menina a saber sobre a viagem deles, e ainda se sentia mal por não ter contado antes para .
– Eu não acredito que você não me contou, sério! – A outra retrucou em um misto de frustração e tristeza. Ela contava tudo para , e ela ter escondido algo tão sério daquele tipo não a agradava.
– Eu sei, , mas o que tinha que te contar. – continuou naquele mesmo tom de arrependimento, olhando da amiga para o namorado dela, que se encaminhava de volta à sala de estar.
– É, eu sei... – suspirou, assistindo se sentar ao seu lado no sofá. – Seu gay.
– Eu também te amo, amor. – ironizou, sorrindo meigamente para a namorada.
– Mas vem cá, me explica uma coisa só – interrompeu, pausando o jogo e acertando a cabeça de com um tapa ao ouvi-lo reclamar. – Se vocês só começaram a namorar essa semana, vocês já ficavam antes ou o simplesmente... pediu pra te namorar?
– A gente já ficava antes. – respondeu rapidamente, apanhando o controle de sem que ele visse para recomeçar o jogo.
– Quanto tempo? – se intrometeu ao que voltava da cozinha com algumas cervejas.
– Erm... – hesitou, olhando de para . – Há algum tempo?
Quanto tempo? – insistiu, semicerrando os olhos em direção à amiga, que claramente não queria responder àquela pergunta.
– Bom, lembra quando você e a foram pela primeira vez no nosso ensaio? – perguntou, desistindo de brigar com e voltando-se para a conversa, querendo ajudar a nova namorada.
– Sim...?
– E lembra quando vocês perguntaram o que eu ia fazer?
– Sim...?
– E eu te contei do meu encontro?
Sim...?
– Bom, esse tal encontro era com a . – concluiu, sendo sua vez de parecer incerto sobre ter falado sobre isso e ao mesmo tempo arrependido por não ter contado antes para .
– O QUE? – A garota berrou, seus olhos, antes semicerrados, agora arregalados. – Você e a acabaram de entrar para a minha lista negra!
– Porra, isso é muito tempo! – comentou, falando pela primeira vez nos últimos longos minutos e mostrando-se surpresa, mas ainda não tanto quanto .
– Eu não acredito que vocês não me contaram nada! – A menina continuou, cruzando os braços e as pernas e amarrando a cara. – É tão legal assim esconder as coisas de mim?
– Sinto que isso foi uma pequena indireta para a minha pessoa também. – brincou, rindo baixinho enquanto observava a expressão infantil da namorada ao seu lado. Ele então se inclinou para lhe dar um selinho, surpreendendo-se ao ver desviar o rosto. – Ah , qual é! Eu achei que você já tinha me perdoado por isso. E é nosso último dia, você realmente quer gastar ele brigando?
pareceu ter parado para pensar por alguns instantes, sem deixar de estar emburrada. Orgulhosa demais para admitir que estava certo, a menina apenas levantou-se, dando um selinho rápido no namorado e então dirigindo-se até a escada para berrar: “é pra hoje, ?”

Após mais vinte minutos de “estou indo” vindos de , os oito adolescentes finalmente dirigiam-se para a boate mais badalada de Londres com direito a tratamento VIP, luxo de Fletch para a última noite deles. , e foram no carro de , enquanto , e foram com o de , encontrando-se em frente ao local combinado para entrarem juntos.
Mais alguns minutos e todos já se encontravam com bebidas em mãos, alguns sentados à mesa e conversando entre risos, enquanto outros se direcionavam à pista de dança completamente lotada. Todos, de alguma forma, pareciam estar se divertindo, menos . Desde que saíra de casa com , a garota havia aberto a boca apenas para soltar algumas palavras sem ânimo, e havia passado maior parte dos últimos dias sem rir ou falar as besteiras usuais que sempre falava. As meninas tiveram que arrastá-la para aquela festa, já que ela parecia não estar com vontade nem de se levantar para ir ao banheiro. É claro que ela ainda conversava normalmente, mas era, de certo modo, triste.
Sendo uma das pessoas sentadas à mesa, junto de , e e dançavam juntos entre a aglomeração de pessoas já alteradas e perambulava por aí, também alterado e provavelmente à procura de uma garota para passar sua última noite na Inglaterra –, percebeu que começara a se sentir incomodada ao redor de casais e voltara à sua anormal tristeza. Pedindo licença aos dois garotos presentes para ir ao banheiro, puxou e para irem com ela, deixando confuso sobre o porquê de sua namorada também precisar acompanhá-la.
– Hei, pra onde você tá me levando? – perguntou ao que era arrastada por e também , que havia entendido o repentino ‘puxão’ da amiga.
– Ok, aqui tá bom. – disse assim que as três alcançaram a sacada do segundo andar e viu que não estava tão lotado quanto os outros lugares da boate. – O que tá acontecendo com você?
– Que?
– Ah , não se faz de desentendida! – insistiu, cruzando os braços em direção à amiga enquanto a encarava seriamente dentro dos olhos.
– Não está acontecendo nada! – mentiu, desviando o olhar do de . – Vocês estão loucas. Eu vou voltar pra lá, com licença.
– Ah, mas não vai mesmo! – retrucou, puxando a menina pelo braço antes que ela pudesse dar seu primeiro passo. – Você não vai me esconder as coisas também, ouviu bem, ? Já não basta todo mundo “omitindo” os segredinhos de mim, mas você não! Qual é, nós somos melhores amigas desde que eu me lembro, nós sempre nos contamos tudo! O que é?
Como se só esperasse ouvir isso para finalmente ‘liberar’ tudo o que escondia, começou a soluçar fortemente, deixando pesadas lágrimas correrem de seu rosto já corado. e , obviamente pegas de surpresa, não conseguiram pensar em mais nada além de abraçá-la.
! – chamou em uma voz chorosa, sentindo-se mal por ter gritado com a amiga e tê-la feito chorar. – Desculpa, eu não queria ser tão grossa assim, mas-
– Não, eu não to chorando por isso. – respondeu com dificuldade, tentando amenizar o choro mas não tendo muito sucesso.
– Porque então? – perguntou, trocando olhares preocupados com .
– Eu... eu... – A menina tentou, soluçando quase que exageradamente, uma vez que ainda tentava segurar as lágrimas e soluços constantes. – Eu gosto deleeee! – Ela finalmente soltou em um choro longo, voltando a abraçar as amigas e pondo-se a soluçar ainda mais.
– Gosta de quem? – perguntou confusa, mas ao olhar para , viu que era a única, já que a outra já sorria enquanto acariciava os cabelos de .
– Do ! – Ela finalmente explicou, vendo também começar a sorrir. – Você gosta do , não é, ?
apenas levantou a cabeça e a acenou vagamente, passando a mão pelo rosto na tentativa de secar as lágrimas incessantes e também de esconder as bochechas ainda mais coradas.
– Awww, que meigo! Nossa pequenina tá apaixonadaaa! – praticamente berrou, levando as mãos à boca ao receber um tapa da amiga. – Desculpa, mas é que é tão fofo!
– Cala a boca, sua tosca! – sussurrou, rindo de leve enquanto ainda forçava os dedos bruscamente contra os olhos.
– E você tá esperando o que? – perguntou repentinamente, sorrindo de orelha a orelha e ignorando os olhares confusos de ambas as amigas. – O é caidinho por você também, !
– É nada. – A garota respondeu, sentindo o rosto queimar ainda mais. – E ele tá indo embora de qualquer jeito, o que adianta?
– É por isso mesmo que você tem que fazer algo logo, sua jumenta! – incentivou, rindo com as amigas pela maneira delicada com que havia o feito. – Ele tá indo embora e essa é sua última oportunidade, você realmente quer desperdiçá-la? O se joga do vigésimo nono andar por você!
– Exagerada. – rolou os olhos, ainda rindo de leve.
– E você sabe o quão lerdo ele é, então quer fazer o favor de parar de chorar e mexer a bunda logo e fazer algo a respeito? – exigiu, batendo palmas e berrando animadamente junto de , como se comemorassem, deixando ainda mais envergonhada. – Vamos logo!
Puxando a amiga de volta, e seguiram para a mesa onde antes estavam tendo uma ainda mais vermelha atrás delas berrando: “vamos logo pra onde?” de maneira desesperada. Assim que se aproximavam de onde antes estavam, abriu um sorriso vendo quem se encontrava ali.
– E falando na lesma, aparece o caramujo! – Ela comentou sorridente, parando em frente a e empurrando uma agora roxa para cima dele.
– Como é que é? – perguntou em meio a risos, juntando-se à amiga, que abanava a mão em sua direção como se dissesse que aquilo era muito complexo para ela entender.
– O que ela quis dizer com “lesma” e “caramujo”? – sussurrou para , olhando de esguelha para , que ria com e espalhava selinhos pelo rosto de . Assim que se virou para a menina em sua frente, ele avistou que o rosto dela se encontrava inchado e extremamente vermelho, como também molhado. – Você tá bem?
– Estou. – respondeu em um sussurro nervoso e tímido, olhando para qualquer lugar menos para aquele par de olhos em sua frente. – Erm... ?
– Seus olhos tão vermelhos! – continuou, sem prestar atenção ao chamado da menina. – E seu rosto tá... , você tava chorando?
!
– Meu Deus, , você tá bem?! O que aconteceu? Me conta que eu soco o otário, quem é? Quem é?
Em um impulso provavelmente não pensado, se inclinou rapidamente para frente, parando nas pontas dos pés e segurando o rosto de , beijando-o rapidamente antes que qualquer um dos dois soubesse o que realmente estava acontecendo. Ela sabia que se tivesse parado para pensar no que estava fazendo, nunca o teria feito – era tímida demais. E, ao fazê-lo, percebeu que não fazia questão alguma em recuar, apenas dando permissão para o beijo aumentar de intensidade.
Atrás deles, os dois casais começaram a assoviar alto em comemoração, e teve que quebrar o beijo para rir ao ouvir berrar um “finalmenteee!”.
Wow. – sussurrou, ainda muito próximo do rosto da garota e sorrindo de orelha a orelha em descrença. – O que foi isso?
– Isso foi um beijo, seu lerdo. – brincou, rindo tanto com o amigo quanto dele mesmo.
– E que beijo! – disse provavelmente também sem pensar, rindo baixinho ao ver as bochechas de voltarem a aderir a cor rosa. Ele então passou os dedos delicadamente pelo rosto dela, olhando-a nos olhos, ainda sorrindo exageradamente. – Você demorou, hein?
– Cara de pau! – riu, batendo de leve no ombro do garoto, fazendo-o rir também. – Você que demorou, isso é trabalho dos homens, e eu que tive que fazê-lo porque você é lerdo demais e... – Antes que pudesse terminar sua frase, ela foi pega de surpresa pelos lábios de . Ao que eles mais uma vez se separaram, ela permaneceu de olhos fechados, sem saber o que falar exatamente e por isso tropeçando nas palavras. – E... é... você é... muito... lerdo.
apenas riu baixinho e abraçou a menina pela cintura, guiando-a para onde os amigos ainda comemoravam, desenhando coraçõezinhos no ar e fazendo piadinhas sobre eles.
– Qual a graça? – perguntou assim que se aproximava da mesa de mãos entrelaçadas com .
– O e a acabaram de se pegar! – anunciou, apontando para o mais novo casal.
– É, cara, eles tavam no maior amasso ali! – completou a idéia, abraçando a si mesmo e virando-se de costas no banco, como se imitasse um casal se beijando, fazendo todos rirem e corar exageradamente.
– SÉRIO? – berrou, saindo de perto de para correr em direção às amigas, fazendo com que o garoto lhe estirasse a língua e amarrasse a cara. – Ah, você sobrevive sem uns minutos de amassos, .
– É, cara... essa última noite promete! – comentou sorridente, passando o braço ao redor dos ombros de e lhe dando um selinho.
Todos na mesa gritaram “awww” em uníssono. então chamou as meninas, fazendo contar os detalhes, enquanto os garotos conversavam animadamente sobre algo provavelmente não muito importante.
, em meio à conversa, puxou a mão de , olhando-a nos olhos enquanto acariciava com extrema delicadeza seu rosto, sussurrando então um “promete mesmo” antes de beijá-la carinhosamente.
É. Realmente prometia.

xx

Já eram quatro horas da manhã quando nosso carro parou à entrada da casa de . Eu havia agradecido mentalmente à por estar em um estado mais sóbrio do que o restante de nós, assim eu não precisava temer tanto pela minha vida no caminho de volta. Quando ela estacionou e então desligou o carro, soltara o último ronco e acordara assustado, girando a cabeça em todas as direções para tentar enxergar o lugar em que havíamos parado. Eu ri embriagado, sentindo minhas pálpebras pesadas. , estirada pelo banco do carro com a cabeça descansada em meu colo, se movimentou delicadamente, ainda sem acordar.
– Amor? – Eu tentei chamá-la, mas meu sussurro não foi o suficiente. Não queria acordá-la. Ela dormia tão serenamente que eu poderia observá-la assim por horas. – Hei, amor. Nós chegamos.
Se eu tentava ser discreto e silencioso, me fez o favor de estragar o plano. Aparecendo com um praticamente inconsciente e apoiado sobre seu corpo, ele esmurrou o vidro da janela do carro, assustando e fazendo-a acordar em um pulo.
– Retardado – eu disse a ele ainda de dentro do carro, estirando o dedo do meio e colando-o na janela para que ele pudesse ver. Ele retribuiu o gesto e continuou arrastando pela garagem. – Desculpa amor, foi o idiota do . Eu não queria te acordar.
– Tudo bem. – Ela bocejou longa e exageradamente, sentando-se no banco e espreguiçando-se. – Credo, você acertou minha cabeça com um martelo?
– Não – eu ri. – Ressaca?
– Não – ela respondeu ao que massageava as têmporas. – A terceira Guerra Mundial.
Eu ri mais uma vez e automaticamente a abracei, puxando seu corpo mais próximo ao meu. Ela acariciou meu rosto delicadamente antes de me beijar.
– Hei! – Agora fora a vez de em esmurrar o vidro do carro, interrompendo nosso momento. – Chega de amassos, vamos logo!
– Credo! – arregalou os olhos, observando a amiga de expressão sonolenta, face pálida e grandes olheiras. – Eu to assim também?
– Não. – Eu lhe dei um rápido selinho. – Você é linda.
– Uhm, por isso que eu te amo – ela me disse e me beijou novamente.
Nós finalmente saímos do carro e passamos pela porta já aberta. Ao entrarmos na casa, vimos , e jogados espalhafatosamente no sofá, meio acordados, meio dormindo, enquanto encontrava-se estirado pelo chão.
– Gente, ele... ele tá morto? – perguntou, observando o corpo inerte de no carpete.
– Talvez – murmurou com a voz embargada. – Muito provavelmente.
– Cutuca ele pra checar – sugeriu.
Eu me aproximei com cautela e, com a ponta do sapato, cutuquei a lateral do corpo do meu amigo. Para meu alívio, ele apenas soltou um ronco alto e se virou de lado no chão.
– Vivo – eu informei.
– Graças a Deus – disse, ainda observando de maneira assustada. – Imagina o trabalho que a gente teria pra esconder o corpo!
– Alguém quer café? Comida? Aspirina? – surgiu da cozinha, arrastando os pés no chão em nossa direção. Pareceu só acordar ao avistar . – AI MEU DEUS, ELE TÁ MORTO?
– Não, o já cutucou ele – lhe disse. – Agora, onde estão aquelas aspirinas mencionadas?
apareceu logo em seguida. Ela parou de frente à sala, imóvel, arregalando os olhos para a figura de .
– Não, ele não está morto – a tranqüilizou.
Ela assentiu quase que imperceptivelmente com a cabeça e voltou a caminhar, pulando o corpo de e arrastando-se até o sofá para que pudesse se jogar ao lado de .
– Ô zumbis, vocês vão ficar vegetando aí? – Eu perguntei, não contendo a risada com a cena em minha frente.
A única resposta que recebi foi vários gemidos em uníssono.
– Certo, continuem morrendo aí enquanto eu e o vamos pro quarto – disse, puxando-me pela mão em direção à escada.
– Pelo amor de Deus, , são quase cinco da manhã! – retrucou. – O que vocês são, animais?
– O que? Não! – Ela balançou a cabeça freneticamente enquanto eu ria alto. – Nós vamos pro quarto dormir, sua doente pervertida!
Nós nos arrastamos completamente sonolentos pelos degraus em direção ao primeiro quarto que nossos pés alcançaram. Assim que eu abri a porta do quarto, arremessou os sapatos que segurava para qualquer canto e se jogou na cama. Eu logo a segui, abraçando-a quando me atirei no colchão ao seu lado.
– Eu não acho que vou conseguir acordar amanhã pra pegar o avião – eu sussurrei com a voz fraca.
– Ótimo – ela me disse.
Eu abri os olhos para encontrar os seus já me encarando. Meus dedos passearam por seu rosto e então, quando ela juntou nossos lábios com certa urgência, eles se emaranharam em seus cabelos; eu senti seu corpo escalar sobre o meu, sua língua procurar pela minha, suas mãos levantarem a barra da minha camisa. Quando nos separamos, ofegando pela falta de ar, ela encostou seu nariz ao meu e acariciou minhas bochechas com as pontas dos dedos enquanto me encarava fundo nos olhos.
– Eu vou sentir tanto sua falta.
Meu coração afundou ao som de seu sussurro. Eu controlei um grito dentro do meu peito, fechando os olhos com força e procurando mais uma vez exasperado pelos seus lábios.


O dia seguinte amanheceu chuvoso, e foi o barulho das gotas contra a janela do quarto que havia me despertado. Eu abri os olhos lentamente para ver que ainda dormia abraçada a mim e aninhada em meu peito, e um sorriso sereno se formou automaticamente em meu rosto. Beijando-lhe a testa e tomando cuidado para não acordá-la, eu me distanciei com cautela até me levantar da cama. Fechei as cortinas para que a luz do dia não a incomodasse e vesti minhas roupas jogadas ao chão antes de sair em passos silenciosos do quarto.
Assim que alcancei o primeiro andar, eu avistei ainda praticamente inconsciente ao chão, esparramado em um dos sofás e no outro logo ao lado. , e haviam provavelmente ocupado os outros dois quartos livres da casa.
Eu caminhei até a cozinha. Liguei a cafeteira e, enquanto esperava, abri a geladeira e os armários à procura de qualquer coisa comestível naquele lugar. Achei algumas torradas, a sobra da manteiga e uma caixa de cookies na despensa e os coloquei na bandeja sobre o balcão. Quando o café já estava pronto, eu enchi duas canecas, colocando-as junto dos outros alimentos e programei a cafeteira novamente para que o primeiro ser vivo naquela casa que conseguisse acordar pudesse ter algo para forrar o estômago. Apanhei a bandeja e voltei a seguir em passos cautelosos pela escada, de volta ao quarto. A porta rangeu à minha entrada, e eu vi se mexer confortavelmente na cama.
? – Ela chamou com a voz rouca.
– Bom dia. – Eu apoiei a bandeja ao pé da cama, sentando-me ao seu lado para beijar-lhe a testa.
– O que é isso? – Ela se levantou com dificuldade, passando as mãos pelo rosto amassado. Olhou para mim até a bandeja e de volta para mim, sorrindo. – Você me trouxe café na cama?
– Eu tentei. – Torci o nariz para o pobre café-da-manhã que eu havia lhe preparado. – É difícil achar alguma comida nessa casa que não seja pizza ou que não tenha passado da data de validade.
Ela se esticou para que pudesse me dar um rápido selinho antes de apanhar as canecas de café e me entregar uma delas.
– Essa manteiga me parece meio duvidosa – ela disse, analisando as sobras no potinho. – Eu vou ficar só com os cookies mesmo.
– E, enquanto isso, eu vou tomar um banho. – Eu apoiei a caneca de volta na bandeja e me levantei, despindo a camisa e rindo quando assoviou para mim.
– Sua mala já tá aqui? – Ela me perguntou ao que me observava caminhar até o banheiro.
– Uhum. A gente trouxe tudo pra cá à tarde.
Ela não disse mais nada. Eu sabia que o fato de eu e os outros três estarmos indo ainda hoje para a Irlanda para passar um ano inteiro ainda a incomodava, como se não tivesse ou conseguisse se acostumar com aquela idéia. E eu a entedia completamente. Tudo parecia ainda tão normal que era como se nós não fôssemos ficar distantes por tanto tempo. Como se negássemos isso.
Eu liguei o chuveiro e ouvi o barulho da televisão vindo do quarto. Enquanto sentia a água quente atingir meu rosto, lembrei da imagem de deitada na cama. O que eu iria fazer exatamente sem ela por um ano? Eu queria ir para a Irlanda, gravar o CD e me dedicar à banda, mas, ao mesmo tempo, eu não queria. Eu queria, eu precisava ficar aqui com ela. Mas e se eu realmente ficasse? McFly sem um integrante? Eu faria de minha namorada a Yoko, e eu seria o Lennon que largou a própria banda? Eu não queria isso. Minha banda, nossa música era importante demais para isso, mas eu temia o que poderia acontecer depois que eu partisse. E se ela cansasse de me esperar? Um ano era muito tempo.
Sentindo-me como uma garota melodramática, eu tentei afastar aqueles pensamentos. Nada iria acontecer. Eu iria para a Irlanda e, um ano depois, eu voltaria para vê-la novamente e então nunca mais precisar soltá-la.
Eu terminei o banho com um estranho peso em meu peito. Enrolei a toalha em volta da minha cintura e caminhei de volta ao quarto, observando ao que rabiscava alguma coisa em um pedaço de papel.
– O que você tá fazendo?
– Ah, nada. – Ela levantou o olhar para mim e rapidamente escondeu o papel nas mãos. – Tava tentando desenhar o Stewie, do Family Guy. Não saiu muito bom.
Ela riu desconcertada e enfiou o papel debaixo da perna, sobre o colchão da cama. Eu apenas franzi o cenho, não entendendo.
– Que horas é o seu vôo? – Ela mudou de assunto.
– Uma hora – eu disse ao que passeava pelo quarto à procura da minha mala. – Hei, você viu onde eu... ah, tá lá embaixo.
– O que tá lá embaixo?
– Minha mala.
– Mas eu to bem aqui, amor – ela brincou, fazendo uma expressão infantil e sorrindo-me do jeito mais doce possível. Eu ri e obedeci ao pedido que ela me fizera para lhe beijar.
– Você não quer pegar pra mim? – Eu tentei imitar sua expressão infantil, mas duvidei que houvesse sucedido tanto quanto ela.
– Por quê? – Ela me perguntou inocentemente. – Você fica tão melhor assim.
– Assim como? Sem roupa?
Ela não me respondeu, apenas encolheu os ombros e bebericou o café com um sorriso malicioso nos lábios.
– Meu Deus, eu vou sentir a sua falta! – Eu soltei em uma risada.
– Eu sei – ela riu junto e me estirou a língua ao se levantar e passar por mim. – Eu vou lá pegar suas coisas.
Eu a observei sair do quarto, e assim que a porta se fechou atrás dela, eu me joguei na cama e apanhei o controle remoto, procurando por algum programa bom pelos canais. Em questão de apenas alguns minutos, retornou ao quarto e jogou uma muda de roupas sobre o meu corpo.
– Eu espero que você não se importe, mas eu escolhi sua roupa – ela me disse, voltando a sorrir naquele modo infantil e doce. – Ah, e talvez você queira se trocar rápido.
– Por quê? – Eu perguntei, observando-a se aninhar em meu peito.
– Porque já são onze horas e o disse que o Fletch vai passar aqui em meia hora.
Eu pulei da cama com o susto, apanhando minhas roupas e jogando minha toalha pelo chão no caminho ao banheiro. Ainda na cama, eu ouvi rir alto e assoviar mais uma vez para mim, e acreditei que era por ela ter visto minha parte traseira nua.
– Eu não sabia que você era tão bundudo assim, – ela berrou em meio a risos para que eu pudesse ouvir.
– Por que o Fletch vai passar aqui tão cedo? – E tentei ignorar seu comentário, saltitando pela porta do banheiro em uma perna só, enquanto tentava enfiar a outra pelo buraco da calça.
– Bom, vocês precisam estar uma hora antes no aeroporto – ela me explicou, prendendo o riso ao me assistir quase perder o equilíbrio. – O Fletch vai estar aqui em meia hora, e até vocês chegaram ao Gatwick, já é mais meia hora. Se você fizer as contas, vai ver que estarão lá meio dia, exatamente uma hora antes do vôo.
– Eu tenho tanta sorte em ter uma namorada inteligente – eu brinquei. Ela apenas suspirou um “eu sei” e continuou rindo da minha luta contra minhas roupas. – Você não vai se trocar não?
– Ah é. – Ela se levantou apressada, mas logo parou com as mãos na cintura e o nariz franzido. – Uhm, eu acho que vou ter que usar as roupas de ontem à noite.
– Qual o problema?
– Nada, eu só queria poder tomar um banho e colocar roupas novas. – Ela encolheu os ombros.
– Bom, se ajuda, eu acho que você estava linda ontem e fica linda de qualquer jeito – eu lhe disse, caminhando até ela para que pudesse beijá-la.
– Você é tão condescendente. – Ela riu baixinho e voltou a me beijar. – Mas eu gosto.
Já pronto, eu apenas tive que esperá-la tomar um rápido banho antes de se vestir. Nós arrumamos o quarto, fechamos as cortinas e as janelas e descemos as escadas para encontrar , , e também já prontos e esparramados pelo sofá, mas não inteiramente acordados.
– Cadê a e a ? – perguntou assim que se jogou ao lado de .
– Ainda se trocando – respondeu com a voz arrastada.
– E que horas o Fletch chega? – Eu também perguntei e me sentei ao lado de minha namorada.
– Daqui alguns minutos. – consultou o horário no celular, deixou escapar um pesado suspiro e se virou para ao que procurava algo no bolso de sua calça jeans. – Eu vou deixar as chaves de casa e do meu carro com você. Vê se não abusa, ouviu? Não quero nenhuma festinha secreta enquanto eu estiver fora e nada de graças com o meu bebê também.
– Seu bebê? – repetiu.
– O carro dele – explicou enquanto eu e concordávamos com acenos vagarosos de cabeça. rolou os olhos e riu. – Pode deixar, , eu não vou fazer nada que não deveria. Ou nada que você não faria.
– Bom, se for assim, então você está basicamente permitida a fazer quase tudo – riu.
– Não, não, não. – balançou a cabeça em sentido negativo freneticamente. – Eu não quero chegar aqui e ver meu carro amassado e minha casa destruída.
– Quem você acha que eu sou, ? Você? – retrucou, tomando as chaves das mãos de . – E você só volta daqui um ano mesmo.
Todos nós tornamo-nos de repente tensos. parecia ter se arrependido profundamente de ter dito aquilo, e eu apertei sua mão quase como em um consolo; pigarreou alto e voltou a se recostar no sofá em silêncio; e franziram os lábios e passaram a observar os próprios sapatos. apenas roncou mais alto do que o normal.
– Ele ainda tá inconsciente de ontem? – brincou, tentando aliviar a tensão no clima, mas falhou ao perceber que sua voz havia subido uma oitava e soado repentinamente rouca.
– Credo, quem morreu aqui? – surgiu do quarto de hóspedes do primeiro andar com em seu encalce.
Ninguém fez menção de respondê-la, e, felizmente, ninguém precisou. A buzina vinda do lado de fora da casa interrompeu nosso silêncio desconfortável, e todos pareceram querer levantar ao mesmo tempo com certa pressa e constrangimento para apanhar as bagagens ao meio da sala – exceto por , que poderia ter continuado dormindo se não fosse por ter de chacoalhar seu corpo inerte por algumas várias vezes até que ele finalmente despertasse.
O carro que nos esperava lá fora era uma imensa Range Rover preta, com Fletch no banco de passageiro e o motorista ao volante. e ajudaram e a guardarem suas coisas no porta-malas para que pudessem entrar e se acomodar no veículo, enquanto e ajudavam e eu a colocarem nossas bagagens no carro de . Nós havíamos combinado em irmos em carros separados – uma vez que claramente não caberíamos todos juntos em apenas um – e dirigiria o carro do melhor amigo com as meninas de volta à sua casa.
Durante a maior parte da viagem até o aeroporto Gatwick, nenhum de nós realmente começou um assunto muito animado. Quando falávamos, normalmente era para pedir que mudasse de estação da rádio ou então fazer comentários aleatórios sobre ontem à noite. Era como se estivéssemos finalmente percebendo que aqueles eram nossos últimos minutos juntos e que dentro de apenas meia hora, teríamos que nos despedir uns dos outros. E, como esperado, ninguém parecia contente com aquilo.
Eu e estávamos sentados no banco de trás e passamos toda a parte daquele tempo em silêncio; nossas mãos entrelaçavam-se firmemente, e ela manteve sua cabeça apoiada em meu ombro, nunca levantando seu olhar para mim. Eu descansei meu rosto em seus cabelos, observando seus dedos passearam carinhosamente de minha mão entrelaçada à dela até meu antebraço, e alguma vez ou outra eu a sentia suspirar com pesar e tristeza.
Cerca de trinta minutos de quietude, os carros finalmente pararam no estacionamento do aeroporto. Nós recolhemos nossas bagagens e seguimos até o terminal em que nosso avião partiria. Mesmo nos reencontrando com , , e , nosso grupo permaneceu em silêncio pelo caminho que fazíamos nos corredores movimentados, e as únicas vozes vinham de Fletch dando algumas ordens ao motorista ou então falando incansavelmente ao celular. consultava seu relógio de pulso de cinco em cinco segundos, e eu sabia exatamente o porquê – nós havíamos chegado atrasados e tínhamos, no máximo, apenas mais alguns vinte minutos para nos despedirmos antes de precisarmos seguir para sala de embarque, onde as garotas não poderiam entrar.
Nós deixamos nossas malas no check-in para que Fletch pudesse cuidar de tudo. Demos nossos documentos necessários a ele e então nos distanciamos, em direção a um coffee shop ali por perto.
Quando paramos um de frente ao outro, no entanto, ninguém parecia saber ao certo o que dizer.
– Então... – começou, balançando o corpo para frente e para trás com as mãos guardadas nos bolsos da calça. Todos ainda continuaram calados. – Qual é, o “então...” é sempre um bom início de conversa!
– Não é não. – franziu o cenho e atingiu a cabeça do amigo com um tapa, arrancando risos de nós. – O que alguém deveria dizer depois de “então...”? Esse é o pior começo de conversa. É pra gente que não tem mais do que falar. Tipo quando o assunto é o tempo. “Então... chovendo hoje, não é mesmo?”
– Pelo menos eu tomei alguma iniciativa – ele retrucou e cruzou os braços, carrancudo.
Nós rimos novamente e voltamos a entrar naquele silêncio constrangedor.
– Então... – repetiu, imitando ao enfiar as mãos nos bolsos e balançar o corpo para frente e para trás. – Chovendo hoje, não é mesmo?
– Ai, como você é ridícula – lhe disse, rindo alto.
– E vocês estão sendo dramáticos – retrucou ao que apoiava o braço ao redor dos ombros de . – Existe telefone e internet, a gente ainda vai se falar!
– É, mas não vai ser a mesma coisa – murmurou tristemente.
– E um ano é bastante tempo – completou.
Nós entramos mais uma vez em silêncio. O único barulho entre nós vinha dos profundos e constantes suspiros a cada dez segundos.
– Certo, certo, eu vou primeiro. – se afastou de para se colocar ao meio de nossa pequena roda. – Eu tenho quase certeza que eu vou me emocionar, então não liguem se algumas gotas escaparem, está bem? – Nós rimos ao que ele fingiu enxugar as supostas lágrimas. – Não, sério, eu-
– Sério? – riu. – Você, sério?
– Você vai me deixar falar ou quer ir antes? – Ele perguntou, fazendo-se de ofendido pela interrupção. Eu e acertamos a cabeça de com outro tapa enquanto as meninas riam, e então finalmente prosseguiu. – Eu só queria dizer que... ah, eu gostei desse último ano mais do que os outros. E não só por causa de tudo que aconteceu com a banda, mas principalmente por causa de... vocês. – Ele completou, passeando seu olhar pelas garotas e parando em , que corou exageradamente.
– Awww! – escondeu o rosto nas mãos. – Eu já vou começar a chorar, não é justo!
Nós rimos ao que e fizeram questão em abraçá-la, como se a consolassem.
– Eu quero falar uma coisa também! – anunciou, e todos nós viramos nossas atenções em sua direção. Ela pigarreou baixinho e envergonhada, e continuou já com as bochechas coradas. – Eu também gostei mais desse ano do que de qualquer outro, e acho que apesar de vocês quatro serem extremamente idiotas... – Ela foi interrompida por vaias vindas de mim, , e . – Deixa eu terminar! Apesar de vocês serem extremamente idiotas, eu... eu acho que devo muito a vocês. Porque talvez, mas assim, só talvez eu fosse um pouquinho superficial demais, e vocês me ajudaram a perceber que tem muito além das aparências, e eu realmente não deveria ter julgado vocês antecipadamente, porque vocês... ah, vocês são os quatro caras mais legais que eu já conheci, pronto, eu disse!
Desta vez, todos nós berramos altos “awww”, como havia feito anteriormente, e nos juntamos para que pudéssemos esmagar em um abraço grupal.
– Eu totalmente me senti no seriado Beauty and the geek com esse seu discurso, mas foi lindo! – brincou.
– Eu acho que todos nós aprendemos muito uns com os outros esse ano – comentou assim que nós saímos de nosso abraço.
dando uma de Dr. Phil, que profundo! – riu antes de levar um soco do amigo. – Cara, vocês tiraram o dia pra me bater hoje ou o que?
– Não, o e a têm razão – disse em um fraco sorriso. – Nós tínhamos uma opinião formada sobre vocês, e vocês de nós, mas nós todos estávamos errados. Então eu realmente acho que... não sei, isso pode soar meio exagerado, mas... eu acho que vocês meio que mudaram toda nossa perspectiva, sabe?
– E eu acho que todo esse papo tá ficando deprimente demais. – franziu os lábios, abraçando-me e apoiando sua cabeça em meu peito. Eu a abracei de volta, sentindo as batidas de meu coração acelerarem erraticamente, e apenas concordei com um aceno silencioso.
– Vocês vão fazer muita falta aqui – sussurrou tristemente após alguns longos minutos em que havíamos nos calado.
Ninguém voltou a dizer mais nada. Enquanto eu ainda permanecia abraçado à , à , à e à , nós nos entreolhamos em silêncio e tristeza. Apesar dos discursos de despedida, nenhum de nós parecia querer dizer a palavra oficial que nos separaria – o “adeus”.
– Garotos, as coisas já estão todas prontas – Fletch informou assim que surgiu do balcão em que fazia o check-in. Ele nos observou com um sorriso ligeiramente triste, desculpando-se pela interrupção. – Eu já estou indo pra sala de embarque. Encontro vocês lá em alguns minutos.
Ele se despediu brevemente das meninas antes de se virar e se distanciar em direção à entrada do terminal. Nós voltamos a nos entreolhar em silêncio.
– Acho que é isso – suspirou.
– Hei, um ano passa rapidinho, vocês vão ver! – tentou incentivar.
– Só prometam que vocês não vão nos esquecer ou muito menos nos trocar por algumas irlandesas quaisquer – pediu em um sorriso tristonho.
– Jamais – lhe assegurou.
– Impossível – complementou. – Mas também não vão nos trocar por esses inglesinhos daqui!
– Nunca! – sorriu para ele.
Os garotos começaram a puxar cada uma das meninas para se despedirem. Eu aproveitei para levar até um canto mais distante para que pudesse fazer o mesmo, apesar de ainda relutante com a idéia.
– Você vai ficar de saco cheio de tanto que eu vou te ligar – ela me disse, querendo quebrar o clima pesado e quase lúgubre.
– Você que vai, porque eu vou te ligar pra saber onde você tá e o que você tá fazendo a cada minuto – eu ri.
– Ótimo, acho bom que você faça isso mesmo. – Ela abaixou a cabeça, como se quisesse evitar nosso contato visual, e passou a brincar com a barra da minha camiseta. – Porque eu vou sentir saudades.
– Eu também – eu sussurrei ao que abraçava sua cintura.
Assim que finalmente levantou o olhar em minha direção, eu pude ver que seus olhos já se encontravam extremamente marejados pelas lágrimas presas. Automaticamente, eu segurei seu rosto para que pudesse beijá-la demorada e carinhosamente. Meu único problema agora era conseguir soltá-la.
– Hei – ela me chamou assim que se distanciou de mim, ainda mantendo sua testa encostada à minha e os olhos fechados. – Eu escrevi uma coisinha pra você e coloquei na sua mochila. É meio idiota, mas... é só pra você se lembrar de mim. – Ela sorriu sincera e abertamente.
– Escreveu? – Eu rapidamente abri os olhos, sorrindo ainda mais ao ver seu sorriso tão perto do meu. – Quando? Eu nem-
– Eu coloquei nas suas coisas quando você me pediu pra pegar suas roupas hoje de manhã.
– Eu... não... – Eu suspirei em meio à minha luta para achar as palavras certas. – Peraí. Era isso que você tava fazendo quando eu saí do banho? – Ela encolheu os ombros. – Você disse que tava desenhando o Stewie!
– E eu não sei como você acreditou nisso. Você sabe que minha coordenação motora é horrível! – Ela riu e mordeu o lábio inferior. Como se realmente fosse algo automático em mim, eu não consegui me conter e segurei seu rosto novamente para lhe beijar.
– Obrigado – eu murmurei com os lábios ainda colados aos dela.
– Hei, gente? – Nós ouvimos nos chamar e rapidamente nos separamos. – Desculpa interromper, mas... – Ele se virou para mim com um meio sorriso triste. – Nós realmente precisamos ir.
Antes de o seguirmos, eu parei para que pudesse beijá-la não só mais uma vez como também pela última.
– Eu te amo. – Minha voz tremeu no sussurro em seu ouvido.
– Eu também – ela soluçou e rapidamente jogou seus braços ao redor de meu pescoço para que eu pudesse segurá-la no ar em um forte e nostálgico abraço. – Muito mesmo.
Mesmo contra a nossa vontade de nos separarmos, nós seguimos de mãos entrelaçadas até o nosso grupo. Todas as três garotas enxugavam os rostos molhados e inchados pelas lágrimas, e até mesmo passava as mãos nos olhos vermelhos sem delicadeza alguma.
Eu esperei para que pudesse se despedir de e , e então mais demoradamente de . , e decidiram me rodear para um abraço grupal, e rapidamente se juntou a nós. o seguiu, e e , após se separarem, também resolveram participar. Nós permanecemos naquela posição por alguns minutos, atraindo as atenções das pessoas que passavam por ali, até que fomos aos poucos nos distanciando. Acenando tristemente uns para os outros, eu e os garotos começamos caminhar em passos lentos em direção ao terminal.
– Espera! – Eu ouvi gritar. Rapidamente me virei para trás para vê-la correr até nós e então pular sobre mim. – Eu esqueci de te dizer que te amo – ela sussurrou em meu ouvido assim que seu corpo colidiu contra o meu e eu a carreguei.
– Mas você já disse isso – eu respondi sem entender, mas aproveitando o momento para poder abraçá-la novamente.
– Eu sei – ela me disse, e assim que terminou de me beijar, completou: – Mas é só pra você não se esquecer.
Relutantes, ela pulou para longe de meus braços e eu a observei recuar alguns passos até as amigas, caminhando de costas a elas para que pudesse me observar partir.
Eu nunca achei que seria tão difícil ou doloroso assim. Assim que sua imagem foi se tornado menor a cada passo que eu dava na direção oposta à dela, eu senti meus amigos me puxarem pela camiseta para que eu me virasse de frente e pudesse prestar atenção à funcionária do aeroporto que pedia pelo meu passaporte e minha passagem.
Já dentro da sala de embarque, eu joguei minha mochila ao chão e me sentei distante de onde os outros três e Fletch estavam, tentando lutar contra a urgência de correr de volta até ela e nunca mais largá-la. Faltavam apenas dez minutos para que fôssemos chamados para adentrar o avião e eu ainda não sabia do que mais me arrependeria: se não voltasse para ela ou se não pegasse aquele vôo.
Com certo desespero e pressa, eu me lembrei do bilhete que ela dissera ter me escrito e rapidamente procurei por ele, bagunçando tudo em minha mochila e não me importando. Quando meus dedos encontraram o pedaço de papel junto do pequeno urso de pelúcia que ela havia me comprado de presente de despedida, eu o puxei para tentar ler, apesar da minha visão turva. Assim que eu finalmente compreendi o conteúdo da carta, mesmo sem precisar terminar a leitura, meus dedos procuraram por meus olhos para apertá-los com força e enxugar as lágrimas não controladas.

Close your eyes and I’ll kiss you, tomorrow I’ll miss you; remember I’ll always be true. And then while I’m away, I’ll write home every day, and I’ll send all my loving to you.
I’ll pretend that I’m kissing the lips I am missing, and hope that my dreams will come true. Te amo pra sempre, meu Don.



Cap. 20 – Três anos depois...

So, tell me, what happens next? It’s out of my hands, I guess. I just don’t know what to believe. Why don’t you tell me to believe? Why did you let me leave? It’s not the way it’s gotta be. What’s wrong with me? Is that the way this has to be? But it’s just another one of those days. The way you made it all feel so right, the way you fit into my arms at night – I’ll remember that feeling for the rest of my life.” – Cinderella Story, Plain White T’s.


– Vai, , nós vamos chegar atrasadas!
– Já vai, , já vai!
Retoquei minha maquiagem, passando mais uma camada de lápis preto debaixo dos olhos para realçá-los, e arrumei meus cílios com o rímel. Não sabia por que, mas apenas com o pensamento de que iria revê-lo, após todo esse tempo, meu estômago parecia desaparecer do interior de meu corpo e meu coração passava a palpitar rapidamente em minha garganta. Não queria ficar bonita para ele, mas, ao mesmo tempo, queria apresentar-me perfeita.


Haviam se passado três anos desde a última vez que eu havia o visto. Dois anos, nove meses, quatro semanas e cinco dias, para ser mais exata. Só não me pergunte as horas, não sou tão bitolada assim. Acho. Espero.
Desde que ele havia ido viajar para Dublin, na Irlanda, para a gravação de seu primeiro CD com a banda, eu nunca havia considerado a possibilidade de passar ainda mais tempo sem vê-lo. Achei que, no momento em que ele e os garotos colocassem os pés em território inglês, eu estaria lá, de braços abertos, pronta para pular no colo da única pessoa que eu amei tão intensamente em toda a minha vida e que passara um ano inteiro sem poder tocar, olhar nos olhos, dizer tudo que deveria antes de deixá-lo partir.
E, bem, eu estava.
Eles voltaram exatamente no dia treze de Novembro, às nove da noite. Eu lembro que nevava como nunca, e, mesmo tremendo como se sofresse de mal de Parkinson, eu ainda estava lá, no aeroporto Gatwick, em meio a uma imensa multidão que rolava carrinhos de bagagem para todos os lados, apenas esperando para que seus rostos aparecerem. e me faziam companhia, é claro; a única que não estava presente era . Ela havia sido oferecida um cargo na Escócia e se mudara para lá, alguns meses depois que os meninos partiram para a Irlanda. Na época eu me lembro que me sentia como se todos ao meu redor estivessem me abandonando. Eu havia arrumado meu próprio apartamento, e, portanto, mal via meus pais também. passara a trabalhar na televisão – foi extremamente emocionante quando eu, ela e nos juntamos em sua casa, com ao telefone, para assistir o primeiro comercial em que ela aparecera – e parecia sempre ocupada. A trabalha num escritório, e até hoje eu não sei muito bem o que ela faz, mas sei que é mais pelo dinheiro. E eu... bem, eu havia começado a trabalhar também. Havia entrado na faculdade de Jornalismo e conseguira um emprego de estagiária na BBC Inglesa, o que me deixara extremamente empolgada. Mas bem, tudo isso foi, no mínimo, quatro meses após a partida dos garotos. Antes disso, tudo parecia tão... sem graça.
Eu lembro que passava a maioria dos dias trancada no quarto observando minhas fotos com ele. Sentia-me até um pouco emo, mas acho que faz parte do processo, né? Mas ao menos ele me ligava todas as noites. Ficávamos horas conversando pelo telefone, e, na noite seguinte, que ele obviamente me ligava novamente, me contava como o empresário da banda brigava por ele gastar tanto com a conta de telefone. Mas ele dizia que não estava nem aí, que preferia levar xingo a não ouvir minha voz. E eu sempre tentava me segurar o máximo que podia para não começar a chorar na linha com ele.
Ficamos assim pelos primeiros três meses. Ele acordava cedo, me mandava mensagem no celular, passava o dia inteiro gravando as músicas no estúdio, e quando voltava para a casa alugada lá, tarde da noite, sabia que eu sempre estaria acordada pra atender suas ligações. E eu só ia dormir lá pelas três, quase quatro da manhã. Acordava um bagaço no dia seguinte para a faculdade, mas quem se importava? Eu certamente não.
Mas, aí, foi como se o cansaço fosse nos usando. A partir desse terceiro mês, eu havia conseguido o emprego de estagiária na BBC – eu lembro que ele havia ficado tão animado por mim –, então ficava um pouco mais difícil de nos comunicarmos tão constantemente. Ele então passou a ligar dia sim, dia não. Eu sentia falta, mas a faculdade e o trabalho estavam me consumindo tanto que às vezes eu nem conseguia lembrar muito bem da saudade, sabe? Isso me faz parecer a pior namorada do mundo, eu sei, mas você ficaria assim também se estivesse no meu lugar. É tanta coisa em sua mente que você mal consegue lembrar do próprio nome. Só quando eu chegava em casa, cansada, morrendo de dor de cabeça e nas costas, tirava meus sapatos e me jogava na cama na tentativa de relaxar os músculos, que meu coração apertava e descia até encontrar meu estômago. As saudades pareciam voltar com a velocidade da luz ao meu corpo, e eu me sentia pior do que já estava, do que já aparentava. Porque, como se já não bastasse tudo isso, as pessoas ainda me faziam o favor de me avisarem o quão acabada eu parecia. “Tire férias, você precisa.” Como se me consolasse, sabe? Mas férias... havia acabado de começar a trabalhar e já precisava de férias? Nada. Precisava dele, e só.


– Você tá fazendo uma plástica aí em cima, por acaso, ? – voltou a me gritar lá debaixo, claramente apressada.
– Eu só estou checando se não me esqueci de nada, já desço! – Menti.


A partir do quarto, quase quinto mês, nós tínhamos que fazer um grande esforço para conseguirmos nos comunicar. Quando nos falávamos, ele me explicava o quão corrido as coisas estavam ficando, que estava começando a chegar na casa até depois das três da manhã. Eu dizia que não teria problema se ele me ligasse nesse horário, mas ele insistia em dizer que não queria me acordar tão tarde, visto que ambos precisávamos trabalhar no dia seguinte, logo cedo. Em partes, eu concordava com ele; mas então eu me lembrava de como ele costumava dizer que era melhor do que ficar sem ouvir minha voz. Mas resolvi deixar. Imaginava o quão cansado ele também deveria estar.
A única coisa estranha sobre tudo isso, no entanto, era que eu ainda me comunicava com os outros garotos. Alguns deles, às vezes, até me ligavam ao redor da uma da manhã, e, quando eu perguntava sobre aquele que eu mais sentia falta, me diziam que ele estava, na verdade, saindo por aí. Bebendo em um bar local, ouvi uma vez de um deles.
No sexto mês, nós mal nos ligávamos mais. Vez ou outra eu recebia sua mensagem no celular, dizendo que sentia minha falta. O problema é que, a partir da sua primeira mentira, passei mais a não acreditar.
Quando o sétimo mês chegou, era como se nós houvéssemos nos afastado completamente. Eu já havia deixado de ser estagiária a partir daí, pois meu chefe dizia que havia visto um potencial que não poderia ser escondido em busca de cafezinhos e bagels com manteiga. No oitavo mês, fiz um curso pós-graduação na faculdade – acelerando quase o meu curso inteiro – e me comprometi totalmente ao trabalho. Ele me consumiu, obviamente, o que foi até bom, visto que ficara tão ocupada que não tinha nem mesmo tempo algum para pensar se o cara que eu achava que nunca mentiria para mim poderia estar, naquele exato momento, me traindo ou não.
Quando o nono mês estava quase ao fim, eu recebi uma ligação inesperada dele em um sábado tedioso. Meu chefe havia me liberado mais cedo, então eu passei na locadora e aluguei cerca de cinco filmes. Todos comédias, é claro. Odeio filmes romântico-melosos – e, na minha situação, nem mesmo poderia me dar ao luxo de assisti-los –, e não assisto os de terror sozinha nem a pau. Filmes de comédia sempre são a saída para uma noite de sábado solitária. Então comprei duas caixas do melhor chocolate inglês, Maltesers, alguns M&M’s de amendoim, um saco de Twix, uma garrafa de Coca-Cola e uma de Dr. Pepper. Estourei um pacotinho de pipoca no microondas e fui para a sala, me sentindo a garota mais obesa de tanta comida que levava – apesar de que, ultimamente, com tanto trabalho, eu havia praticamente parado de comer e emagrecido, sem querer, cinco quilos –, e foi quando, no ápice do filme, o telefone começou a tocar. Eu obviamente já havia marcado o número da casa dele na Irlanda, então foi uma grande surpresa ver seu nome na bina. O pensamento de não atender até passou por minha cabeça, mas acho que não consegui. Desejava ter conseguido, porque, quando atendi, ouvi sua voz completamente enrolada e embriagada pela linha. Era até como se conseguisse sentir seu hálito da minha sala de estar, e era claro que estava bêbado. Ele me disse coisas que mal pude entender, e, do pouco que consegui, a maioria nem ao menos fazia muito nexo. “Vejo seu rosto em todo lugar que vou”, “me desculpe” e “sinto sua falta” foram algumas das coisas que entendi. Ele também disse algo como “gostaria de não ter feito aquilo com você”, mas essa parte, por puro medo, preferi ignorar. Mas, naqueles momentos, eu senti meu coração afundar. Aquele não era o cara por quem eu havia me apaixonado, e era provavelmente isso o que mais me doía.
Acho que não preciso nem dizer que desliguei o telefone, aos prantos, e liguei para o trabalho na segunda dizendo que estava contagiosamente doente.
No décimo mês, passei dias seguidos conversando com meus amigos, também da banda. Com todos, menos com ele. Os garotos me diziam que, com esse meu proposital afastamento, ele começara a freqüentar o bar local sempre que saíam do estúdio. Que estava magoado demais e precisava de um incentivo para ir dormir à noite. Naquela hora, a única coisa que eu desejava ter era um jatinho particular para voar até a Irlanda e espatifar minha mão naquela cara de pau dele.
No décimo primeiro mês, eu decidi que era hora de começar a administrar minha vida. Minhas amigas já reclamavam a algum tempo que eu mal tinha tempo para elas, e que até , com todos os comerciais de televisão, saía mais do que eu. Em uma sexta-feira, pedi ao meu chefe uma folga no dia seguinte, e, com sua permissão, apanhei o carro e rumei com e até Manchester para ver o próprio Manchester United jogar. Eu e sempre gostamos de futebol, mas a só havia concordado por causa do Cristiano Ronaldo. E, ao que voltávamos para Londres, a rádio ligada em alto e bom som, ouvimos o locutor anunciar nada mais, nada menos do que a banda de nossos amigos. Foi tão emocionante ouvir a música que já ouvimos tantas vezes em seus próprios ensaios, que apanhei o celular e disquei o número da casa deles na Irlanda, torcendo para que eles não estivessem no estúdio. Como se atendessem nossas preces, a voz de um de nossos amigos atendeu ao telefone, e ficamos nós quatro – ele, eu, e – berrando e aproximando o aparelho da rádio para que eles ouvissem. Todos os garotos, naquele ponto, haviam se reunido e comemoravam, claramente felizes. Foi quando ouvi sua voz. Ele havia pedido para seu amigo, que segurava o telefone, que o deixasse falar comigo. Foi como se o medo tivesse tomado conta de mim. Sem mesmo falar qualquer coisa, sem dar uma sequer explicação, desliguei. Minhas amigas me olharam em confusão e preocupação, e, não me agüentando, permiti-me chorar perto delas.


Era provavelmente a décima segunda vez que eu me olhava no espelho. Estava simples, mas ainda bonita. Daquele jeito que eu sabia que poderia impressioná-lo. Não sabia por que queria causar isso, mas só sabia que precisava. Queria parecer bem, sã ao vê-lo. Como se não sentisse sua falta, por mais que tudo que eu havia feito nas últimas semanas era pensar nele. Mal sabia como ele estaria... diferente, ou com a mesma doce aparência de sempre?
Ter essa chance de revê-lo foi quase como uma brincadeira do destino. Fazia menos de três meses que havia ganhado aquele cargo na empresa, e a primeira banda que entrevistaria seria justamente a banda dele. Era quase maldade.


Quando doze meses haviam se completado, meu estômago pareceu querer fazer uma greve contra mim. Sentia fortes pontadas e dores agudas de ansiedade desde que meus amigos haviam me ligado, anunciando sua vinda de volta à Inglaterra. Eu até havia pensado em não ir; sabia que vê-lo após passar quase sete meses sem falar com ele só iria me fazer mal. Mas pensei ingenuamente que poderia consertar as coisas. Poderia fazer tudo voltar ao que era antes. Era, obviamente, o amor falando mais alto. Porque é claro que eu nunca havia o esquecido; nunca, por um mísero segundo, havia deixado de amá-lo. Então resolvi ir.
, ainda na Escócia, pediu que ligássemos quando os visse, pois não poderia deixar o trabalho para voltar para cá para vê-los. Eu, e então dirigimos até o terminal do aeroporto Gatwick, e esperamos ao redor de duas horas por eles. Tomamos cerca de quatro copos de café cada, na tentativa de nos aquecermos, pois mesmo dentro do local, ainda sentíamos frio. Mas não sairíamos dali.
Durante todo aquele tempo que esperávamos por eles, eu sentei em uma daquelas cadeirinhas e pensei. Pensei em tudo que deveria e até no que não deveria até sentir dores de cabeça. Pensei no que dizer a ele, pensei em não dizer nada, pensei em apenas abrir meus braços e correr até ele, pensei em beijá-lo e não me importar com nada do que havíamos passado nesse último ano, pensei em como só queria estar com ele, pensei em apenas seguir meu coração, e sabia que meu coração me dizia para fazer tudo isso. Eu precisava dele, eu o queria e eu o amava, e não podia ignorar sentimentos tão fortes. Não podia enganar a mim mesma.
Foi quando soltou um berro tão alto que atraiu praticamente todo o aeroporto.
Lá estavam eles. Empurravam suas bagagens em seus carrinhos, e, surpreendentemente, um grupo de meninas, grudadas à grade, puxaram suas câmeras digitais para tirar suas fotos. Nós sorrimos como três mães orgulhosas ao ver aquela cena. Eles haviam parado para darem autógrafos e tirar fotos com aquelas garotas. Era tudo tão excitante e ainda estranho. Mas um bom tipo de estranho. Novo. Era incrível.
Observei-o tirar foto com uma das meninas. Ele não havia mudado nada. A única diferença era que, agora, ele havia conseguido crescer um indício de barba. Até ri ao pensar nisso. E, ainda assistindo-o, comecei a repensar em tudo. Simplesmente repensei, e não sei bem o porquê. Senti meu coração pesar exageradamente, quase como se ele não pertencesse ali.
Os garotos então finalmente vieram em nossa direção. Todos usavam os maiores sorrisos em seus rostos e brilhos em seus olhares. E eu de repente comecei a perder o tato das coisas, o equilíbrio de minhas pernas, até mesmo todo o ar de meus pulmões...
Não sabia por que, mas precisava sair dali.
veio primeiro. praticamente se jogou sobre ele, abraçando-o e então o beijando apaixonadamente. Meus olhos começaram a queimar.
veio logo em seguida, abraçando e levantando-a no ar. Eles não se beijaram, mas era claro que não haviam perdido nada do que tinham. Ela havia me contado que, após tanto tempo, iria tentar a amizade novamente para então tentar algo mais, por mais que se gostassem e que tivessem passado pouco tempo anteriormente. Queria fazer dar certo.
Minha boca começou a tremer, ressecar.
então correu até mim. Eu o abracei, mas antes o vi de relance. Eu o vi, e acho que perdi todos os sentidos de vez. Eu o vi e meus olhos rapidamente lacrimejaram.
Ele.


Maldade, sim. O que eu poderia dizer a ele? Que sentia sua falta? Que nunca consegui parar de pensar nele, e, desde que soube que iria entrevistar sua banda, agora mundialmente famosa, aqueles pensamentos só passaram a crescer com mais intensidade?
O que você diz a uma pessoa que já foi e ainda é apaixonada e não vê por três anos?


Não quis olhar. Não quis e não olhei. Afundei minha face no ombro de e me pus a chorar como uma criança que se perdeu da mãe no meio de uma cidade desconhecida. Era desesperado, suplicante.
Ele me observou em silêncio, e no único momento em que levantei o olhar, vi de relance aquele par de olhos brilharem em contraste com a luz, marejados.
– Vai ficar tudo bem, pequena. – Ouvi sussurrar em meu ouvido ao que afagava meus cabelos. Ao som da palavra “pequena”, eu não consegui evitar e desmoronei ainda mais.
Ele então se aproximou em passos lentos. Posicionou-se logo atrás de , encostando o queixo em seu ombro para que pudesse ficar mais perto de meu rosto. Ele também afagou meus cabelos, da maneira mais delicada possível, como se, apenas pelo seu toque, demonstrasse as saudades que sentira. Tentei me esquivar de seus dedos, mas era como se estivesse praticamente paralisada. Não queria olhar para ele, não queria falar com ele.
“Gostaria de não ter feito aquilo com você.”


Já senti meus olhos lacrimejarem. Era incrível o modo como ele conseguia me sensibilizar só de pensar nele. Conseguia, e, mesmo depois de tanto tempo, ainda consegue. As borboletas, larvas, urubus, gaivotas e todos os animais possíveis ainda habitavam meu estômago, em meio a uma explosão incessante de fogos de artifício. Tudo isso para um pleonasmo em relação ao tamanho da minha ansiedade, quase medo em revê-lo.
Tentei me recompor rapidamente, visto que teria que sair dali em pouco tempo. Em torno de duas horas, três, no máximo, eu estaria cara a cara com ele. Como será que eu iria reagir?
Ou melhor: como será que ele vai reagir?


– Me tira daqui, por favor. – Tentei dizer em meio a soluços para ; minha voz, já embargada por causa do choro, saía ainda mais abafada por estar tentando esconder minha face de todos no ombro de meu amigo.
, sem precisar me responder, me puxou pela mão para a porta mais próxima. Percebi que e tentaram nos seguir, mas acho que pediu que não o fizessem.
Chegamos lá fora e, automaticamente, vi-me enregelar por inteira devido ao frio. A neve caía delicadamente sobre nós; eu conseguia sentir minha pele se tornar quase arroxeada, e o sangue pareceu parar de circular nas extremidades de meu corpo.
– Eu não posso. – Solucei exageradamente, falando de maneira quase pausada. – Não consigo. Eu quero ir embora, . Quero ir-
. – me chamava de um modo um tanto desesperado. – , se acalma, por favor.
– Ele me traiu, não traiu? – Deixei escapar quase que automaticamente.
– O-o que?
– Não mente, . Não pra mim.
, ele-
– Por todos nossos anos de amizade, , não mente pra mim.
-
– Ele me traiu, ? Me diz, ele me traiu?
Foi a pior sensação que já tive na minha vida. Se fosse mentira, ele teria dito logo. O pior é o silêncio.
– Ele-
, agora não é a hora de-
– Meu Deus.
As lágrimas escorreram livremente pelo meu rosto, aquecendo-o. Talvez eu não achasse que fosse mesmo verdade. Talvez eu apenas dissesse a mim mesma que era, para sentir o alívio ao ouvir me mandando acordar, que era uma óbvia mentira.
Mas não era, era?
-
– Se você não me olhar nos olhos e me disser a verdade agora mesmo, eu juro por tudo nesse mundo que nunca mais dirijo uma palavra a você, .
– Eu...
O pior é o silêncio.
– Me diz logo a verdade, . Ele me traiu, não é?
Porque quem cala, consente.
, por favor...
– Traiu.


Em torno de um ano atrás, eu ouvira falar que ele escrevera uma música para mim. havia me contado, na verdade. Acho que ele quis que me contasse. Eu não soube o que responder sobre isso. Não sabia se pedia a para agradecê-lo, ou se o mandava tomar no cu de uma vez por todas. Acho que não tive coragem de fazer nenhum dos dois.
, estou falando sério, se você não estiver pronta, eu juro que-
Virei de frente à porta no mesmo instante em que adentrou meu quarto. Ela viu meus olhos marejados, obviamente, pois me olhou naquela típica expressão doce, preocupada e que já dizia, como se estivesse estampado em seus olhos as exatas palavras: “aw amiga, eu estou aqui pra você.”
Ri baixinho e rolei os olhos, como sempre fazia quando tentava não chorar.
– Você tá linda. – Ela me disse em um sorriso meigo, mudando de assunto para tentar me fazer descontrair de qualquer coisa que poderia estar na minha cabeça (e ela sabia muito bem o que era). – E já tá pronta, né? Porque já são sete e meia!
– Sim, eu já estou pronta, sua pentelha. – Disse rindo pelo fato de ela ter estirado a língua para mim na expressão mais infantil e doce do universo.
– Então vai, vamos logo! A vai passar aqui daqui a pouquinho, e você sabe que ela odeia esperar.
– Ela odeia esperar os outros, mas quando é pra gente esperar a boneca, tudo bem, né.
– É, mas você sabe, amigos são que nem família: nós não os escolhemos, então temos que viver com o fardo de agüentá-los.
Eu ri novamente, agora mais alto. Essas frases sem nexo da !
– Preparada? – Ela me perguntou em um suspiro.
– Não. – Respondi em um sorriso ironicamente feliz e calmo. Ela então me lançou um olhar repreensivo e ainda preocupado. – Mas a gente vive com o fardo e agüenta.
Nós rimos e, após apanharmos nossas coisas, nos dirigimos para fora de meu apartamento.


Eu não sabia exatamente o que responder. Muito menos o que fazer. Apenas continuei sentada ali, as lágrimas ainda escorrendo de meus olhos, extremamente congelada, e dessa vez não por causa do frio. Sentia-me a pessoa mais melodramática do mundo, mas eu tinha esse direito. Naquele dia, eu tinha o direito de ser a garota mais emo, mais triste, mais irritada, mais dramática, mais... descrente.
?
Eu continuei sem dizer nada. me chamou ainda mais uma vez, mas, agora, tudo o que fiz foi balançar a cabeça para a esquerda e para a direita de maneira extremamente lenta em sentido negativo. Em negação. Negando o que havia ouvido. Negando o fato de ele ter feito aquilo comigo. Negando acreditar naquilo. Eu me negava a acreditar.
, eu... eu não... me desculpe.
Olhei para . Ele realmente parecia se sentir culpado. Aquilo me fez pensar se ele sabia por todo aquele tempo e, após todas as conversas ao telefone, havia se recusado a me contar. Não que fosse sua culpa; talvez ele estivesse tentando proteger o amigo também, ou tentando, ainda, proteger a si mesmo. Talvez não tivesse tido coragem de me contar.
– Você viu?
– Como?
– Você viu? – Repeti de maneira fria, seca. – Você o viu quando ele me traiu?
– Não. – Ele disse, e então parou e pensou por alguns segundos. – Bem, eu vi a garota... ele estava bêbado, é claro. Disse que parecia você. Eu tentei falar com ele, mas eu... bem, não posso dizer que estava em meu melhor estado também. – Notei que , naquele ponto, mal conseguia olhar nos meus olhos. Provavelmente se culpava porque achava que poderia ter feito o amigo evitar aquilo. – Mas ele ficava falando umas coisas sem noção, que aquela garota era você... aí ele... bem... eu não sei o que aconteceu exatamente. Eu só lembro que, no dia seguinte, ele bebeu de novo e ligou pra você. Acho que foi num sábado. Eu tentei te ligar depois, perguntar se você tava bem, mas acho que você viu o mesmo número da casa, pensou que era ele e não me atendeu.
Lembrei desse dia quase que imediatamente. E eu estava certa. “Gostaria de não ter feito aquilo com você”...


– Olha que sorte a minha, – ia dizendo assim que parou o carro na calçada do meu prédio e abaixava a janela para poder falar comigo e com – achei duas gatinhas no meio da rua!
– Como você é extremamente tosca, amiga. – brincou, rindo da falsa indignação de ao ouvir aquilo. – Vamos logo senão vamos chegar atrasadas, vai, vai.
– Você não acredita na pressa que ela tá! – Eu disse à ao que me sentava no banco traseiro e aproveitava para arrumar minhas coisas que iria precisar usar para a entrevista. – Ficou repetindo isso pra mim por uma hora inteira.
– Claro, você é uma noiva! – rebateu.
– Relaxa , é o amor. – disse, piscando os olhos e soltando suspiros várias vezes na tentativa de imitar uma garotinha apaixonada. – Tá doidinha pra ver o , essa aí!
– Ai, cale a boca e dirija logo, vai ! – retrucou, corando levemente.
riu e zoou nossa amiga por ter se tornado rubra à menção do nome de , mas eu apenas me encolhi no banco de trás sem ser vista pelas outras duas à frente. Havia me lembrado, quase que imediatamente, dele.
Às vezes parecia que essas coisas que me faziam lembrar dele gostavam de me perseguir.


Não entendia o porquê. O que eu havia feito de errado? Por acaso havia sido uma namorada horrível, e pior ainda à distância? As palavras dele, de um ano atrás, não haviam significado nada? Havia sido da boca pra fora? “Eu vou esperar por você o tempo que precisar, Cinderela.” Só agora eu percebia o quão ridículo tudo isso havia sido.
O quão ridículo ele havia sido.
– Eu fui tão cega assim? – Perguntei repentinamente. – Era óbvio que ele ia fazer isso comigo e ninguém quis me avisar ou, sei lá... ele simplesmente não agüentou ficar sem transar? Precisou comer alguma garota já que eu não tava por perto?
! É-é claro que não! – respondeu em extrema surpresa com minhas perguntas. Claramente não esperava por algo assim vindo de mim.
– O que, era porque eu não dava pra ele? Ele tava necessitado e então aproveitou que tava na Irlanda, longe de mim, e comeu todas que apareceram pela frente?
– Pára !
– Não, , me diz, o que eu fiz de errado? Me diz, porque eu preciso saber!
– Nada, você não fez nada de errado!
– Nada? Não é possível! Se eu não fiz nada de errado, porque ele iria precisar me trair?
– Ele sentia sua falta, , e-
– Aaah, agora eu entendi! Eu acho que não devo ter sentido a falta dele então, porque, olha que estranho, eu não dei pra nenhum carinha enquanto ele estava lá na Irlanda!
– Não, eu não quis dizer isso, eu quis dizer que-
– O que? Ah, já sei! Ele achou que era eu, certo? Claro! Ele transou com outra menina, mas enquanto comia ela, ele tava pensando em mim, não é? Ah sim, então ele está perdoado!
, pára com-
– Ah, se eu ao menos soubesse disso! Teria dado pra todos os ingleses possíveis, juro! Mas pensando nele, é claro. É que eu senti tanto a falta dele!
, PÁRA!
– NÃO, , EU NÃO PARO, E SABE POR QUÊ? PORQUE AQUELE FILHO DA PUTA ME TRAIU! ELE ME TRAIU, E NADA QUE VOCÊ FALE JUSTIFICA O QUE ELE FEZ! NADA!


Paramos em um cruzamento perto da Oxford Street. O engarrafamento estava quase que exagerado, com carros buzinando para lá e para cá a toda hora.
aproveitara a parada para retocar a maquiagem. , claramente estressada com o trânsito, bufou alto e, para tirar a mente do congestionamento, ligou a rádio.
It’s been the longest winter without you; I didn’t know where to turn to. See, somehow I can’t forget you, after all that we’ve been through.
Ai, Jesus, eu mereço.
– Anh, , você se importa em mudar de estação? – Pedi educadamente.
– Aaaaah nãão, eu amo essa música! – pediu na expressão mais infantil possível.
– É, , essa música é tão fofa! – ainda disse, fazendo “bico”.
Elas então aumentaram o volume e, para ajudar, começaram a cantar junto.
Thought I couldn’t live without you, it’s gonna hurt when it heals too; it’ll get better in time. And even though I really love you, I’m gonna smile ‘cause I deserve to; it’ll get better in time.
– Olha, o carro andou! – Eu disse praticamente aos berros para conseguir fazê-las me ouvirem, uma vez que ambas cantavam a plenos pulmões. – Vaaaaaaai , anda, anda!
– To indo, to indo! – Ela acelerou com o carro, e finalmente começamos a nos mover com mais facilidade. – Tá que nem a , é? Com pressinha?
– Lógico! – Respondi rapidamente. – Qualquer coisa a ficar no carro com vocês duas cantando música de corno!
Ambas riram e então finalmente desistiram, mudando de estação. Eu apenas me recostei no banco de couro e suspirei, tentando afastar qualquer e todo pensamento de minha cabeça.


me acolheu em seus braços e me fez deitar a cabeça em seu peito. Cobri minha face com minhas mãos e fiz o que ele pedia, permitindo-me voltar a chorar. Agora, aquelas lágrimas não eram mais de tristeza, e sim de frustração. Frustração, indignação... raiva. Mágoa por ter me feito amá-lo para depois fazer isso comigo. Ódio por ter feito o que fez e não ter sido homem suficiente para admitir.
, me desculpa... – sussurrou em meus ouvidos. – Eu queria estar bem naquele momento, porque eu juro que, se estivesse, não teria o deixado fazer aquilo. Iria encher aquele pirralho de socos e... e você não precisaria estar chorando agora. Eu... eu...
Levantei a cabeça lentamente. Vi-me no reflexo dos olhos de meu amigo, que pareciam brilhar em um arrependimento intenso, tornando-os ainda mais profundos. Meu rosto se encontrava inchado e, muito provavelmente, de um tom de cor rosado. Meus próprios olhos, já verdes, estavam ainda mais claros, e eram inundados pelas lágrimas em excesso.
– Você não deveria ter feito nada, . – Eu lhe disse, e poderia jurar que seus olhos estavam marejados. – Nada disso foi sua culpa. Se alguém tiver de ser culpado, essa pessoa sou eu.
– Você? – Ele me perguntou em indignação. – Você não tem culpa alguma! Aquele retardado que não deveria ter feito algo assim com você, ... você é melhor garota que qualquer cara, principalmente ele, pode ter a sorte de conseguir! Ele não tem idéia alguma do que iria perder quando fez aquilo. E eu deveria ter dito algo. Ele me ouve, deveria ter repreendido, e... e talvez nada disso estaria acontecendo.
– Pára .
– Não , eu sei que grande parte disso tudo é também minha culpa!
– É lógico que não, , pare de falar merda!
– Merda é o que eu e aquele tapado temos na cabeça. Eu deveria ter feito algo... eu... eu quero pegar aquele garoto pela camisa e enchê-lo de porrada-
– Você não vai fazer nada com ele, tá me ouvindo?
– Você ainda quer protegê-lo?
– Não estou protegendo ele, ! Só não quero mais saber disso. Não quero mais saber dele! E você deveria fazer o mesmo, porque isso não se diz respeito a você!
– Eu estava lá! Eu deveria ter dito algo, porque ele... ele não tem direito algum de fazer o que fez com você!
– E VOCÊ ACHA QUE EU NÃO SEI DISSO, ?
Naquele ponto, senti todos os olhares das pessoas que andavam ali por perto se virarem para mim. Mas não me importava. Eu precisava gritar, precisava colocar toda aquela raiva para fora do meu peito, e estava me dando a abertura perfeita para o fazer. Senti-me mal, é claro, pois ele realmente não tinha culpa alguma naquela história. A pessoa com quem eu desejava mesmo estar berrando era ele, o causador daquilo tudo, mas, com sua ausência, eu parecia me satisfazer em estar liberando, praticamente vomitando todo aquele sentimento para fora. Garanto que se não estivesse ali, e, em seu lugar, um mendigo se aproximasse para pedir esmola, eu também começaria a berrar com ele.
– ELE NÃO TINHA DIREITO ALGUM MESMO DE FAZER ISSO COMIGO, MAS ELE FEZ, E QUER SABER? FICO FELIZ DE ELE TER O FEITO! PORQUE EU NÃO AGÜENTARIA FICAR COM UMA PESSOA ASSIM, ENTÃO TALVEZ SEJA PARA O MELHOR. E A CULPA É TODA DELE! NÃO SUA, NÃO MINHA. DELE! ELE É UM PROBLEMÁTICO, BIPOLAR, QUE NÃO SABE O QUE SENTE, O QUE PENSA, NÃO SABE O QUE PERDEU! NÃO SABE MUITO MENOS O QUE FAZ, E AINDA VAI SE FODER POR CAUSA DISSO. E QUERO QUE ELE SE FODA MESMO, E MUITO! QUERO QUE ELE E TODAS AS MERDAS QUE ELE ME DISSE SOBRE ME AMAR, ME ESPERAR, TODAS SUAS MENTIRAS SE FODAM!
Ao que terminei, meu peito subia e descia. O estranho era que, apesar de ter cuspido todas aquelas palavras, meu coração não se sentia nem um pouco mais leve; estava, na verdade, muito mais pesado. Acho que foi por isso – e também pelo fato de ter dito tudo aquilo com extrema velocidade, sem pausas – que arfava intensa, exagerada e rapidamente. Arfava para receber ar nos pulmões, arfava por causa do desespero, arfava por causa do frio, arfava para não deixar as lágrimas escorrerem ainda mais. E teria até conseguido, se não houvesse me virado para trás ao notar o olhar de e ver que, parado logo a poucos metros de minhas costas, encontrava-se ninguém mais, ninguém menos que ele.
Observei seus olhos marejarem, brilhando em tristeza. Logo mais ao fundo, , , e observavam a cena em silêncio, todos com expressões receosas, quase como se sentissem pena de mim. Odiava aquilo. Odiava também o fato de ele não tirar seus olhos protuberantes e depressivos sobre mim. Odiava tanto que voltei a chorar.
Ele então foi se aproximando em passos lentos em minha direção, sem dizer uma palavra sequer. Ah, não. Não, não dessa vez.
– Sai. – Eu disse, apontando para ele e dando alguns passos para trás. Tentei soar fria, mas o desespero em minha voz não me permitiu. – Sai de perto de mim. Eu não quero mais saber de você, não quero mais falar com você, não quero mais te ver na minha frente. Você morreu pra mim, ouviu? Morreu!
Senti a pontada mais forte possível em meu coração ao dizer aquilo. É claro que era mentira, mas eu iria fazer ser verdade, por mais difícil, por mais impossível que fosse.
Vi uma lágrima escorrer de seus olhos e mal pude acreditar. Eu nunca havia o visto chorar. Sabia que ele já havia o feito, pois me contava. Era sempre com que ele se abria, que ele desabafava, que ele recorria em procura de ajuda; ficava até surpresa com as histórias que meu amigo havia me contado, sentia-me triste só de ouvir, principalmente quando ouvi falar sobre os problemas que ele tivera há poucos anos atrás com a família. Mas nunca, em minha vida, havia o visto derramar uma lágrima na frente de outras pessoas que não fosse o . Aquilo me chocou tanto que passei a chorar ainda mais vorazmente.
– Não ouse chorar. – Eu lhe disse firmemente. – Você sabia que não deveria ter feito aquilo, sabia que ia se arrepender, então porque fez? Você já é bem grandinho pra saber das conseqüências de seus atos, então não me venha dizer que não sabia o que tava fazendo, que só estava bêbado! E você sabia... – Solucei alto. – Você sabia que eu entendo tudo e qualquer coisa, mas não traição... não mentiras. Você sabia!
Ele continuou se aproximando, e, quando me dei por mim, já estávamos nos encarando fundo nos olhos, extremamente próximos.
– Você sabia e, ainda assim, você fez!
Aquela cena me lembrou dolorosamente da noite em que eu descobri que ele era o “Don”. Tudo o que eu fazia era berrar em meio àquela chuva, e ele simplesmente havia me beijado. Acho que ele pensou que dessa vez poderia ser o mesmo, porque ele se aproximou ainda mais, segurou meus braços, já que eu tentava, mesmo sem forças, atingir seu peito com socos, tamanho o meu ódio, e tentou me abraçar. Quase que automaticamente, como em um intuito, eu o empurrei para longe e, sem mesmo perceber, sem mesmo saber o que fazia, atingi-lhe o rosto com um forte tapa fragoroso, estridente.
Instantaneamente, cobri minha boca semi-aberta com as mãos e arregalei levemente os olhos, mal acreditando no que havia feito. E então, dando senso e razão ao meu ato, abaixei os braços e passei a encará-lo com firmeza, mostrando-lhe o quanto ele merecia aquilo.
– Você sabia que a única coisa que eu não admito é o que você fez comigo. – Continuei, surpreendendo a mim mesma ao ver o quão controlada minha voz havia soado, apesar das lágrimas ainda correrem livremente pelo meu rosto. – Mas você fez, então agora o problema é seu, porque vai ter de arcar com as conseqüências. Tudo o que eu menos preciso é de alguém na minha vida que só me fala mentiras e me magoa.
Eu acho que o que mais me doeu naquele momento foi o silêncio dele. Não retrucou, não tentou fazer com que eu entendesse os seus atos – apesar de que, mesmo que tentasse, eu não faria esforço algum para entender –, não disse nada, não se moveu. Não tentou. Não lutou. Fosse para se explicar ou fosse por mim. Ele simplesmente não lutou.
Aquilo realmente me fez pensar que ele desejava intimamente a nossa separação. Traiu-me porque não sentia mais nada por mim, e me deixou brigar com ele porque era a solução, a saída mais fácil, assim não precisaria se dar ao trabalho de terminar comigo.
Com isso, dei as costas a ele e a todos e saí dali o mais rápido que meus pés conseguiram correr.


Meu estômago encontrou o chão do estacionamento VIP no momento em que parou o carro e nós descemos para adentrar os fundos do local do show. Minhas mãos, já exageradamente trêmulas, seguravam a máquina profissional que eu levava pendurada em volta de meu pescoço, e meus olhos corriam para todos os lados, atentos para qualquer sinal dele. Eu podia até mesmo sentir o gosto do meu coração em minha boca.
– Imprensa? – O segurança parado à porta me perguntou, abaixando os olhos para o crachá que eu usava.
Balancei minha cabeça lentamente em afirmação, mas sem prestar atenção no que eu fazia exatamente.
– Nós estamos também na lista da banda. – disse de maneira empolgada, pulando na minha frente e observando ao que o segurança apanhava sua prancheta e parecia procurar por algo. – Olha nossos nomes aqui! – Ela apontou para a folha.
Após mostrarmos nossos documentos e sermos revistadas, o segurança nos deixou passar e nos indicou o caminho para o palco e para os camarins. Como já reclamava que, por causa de meu atraso, a banda de abertura já até começara a tocar, resolvemos seguir direto para onde assistiríamos ao show. e , por não serem da imprensa, iam para o camarote VIP, onde apenas os amigos e familiares da banda poderiam ficar, com direito a bar e cadeiras para se sentarem; eu até poderia ir para lá, mas como estava aqui por causa do trabalho, tinha de me juntar às outras pessoas da imprensa na pista VIP, que era grudada com o palco e separada da pista normal – onde os fãs se matavam – por uma grade.
Fui levada por um segurança para a pista VIP e, assim que me juntei aos outros jornalistas, passei a tirar algumas fotos da banda de abertura e da platéia. Durante aquela uma hora em que esperei pela entrada da banda de meus amigos, me senti a pessoa mais hiperativa naquele local – até mesmo mais do que os próprios fãs, que não paravam de se mover, empurrando uns aos outros, e de berrar os nomes dos garotos que esperavam. Comecei também a sentir o mesmo desespero que sentira na noite em que fora no aeroporto vê-los quando voltaram da Irlanda. Queria ver aquele menino que tanto tocou minha vida, queria poder senti-lo próximo novamente, queria que tudo estivesse bem, e, ao mesmo tempo, tudo o que mais queria era fugir, evitar mais uma mágoa. E o desespero só parecia crescer ainda mais, sabendo que eu simplesmente não poderia sair dali: não só eles eram meus amigos, como meu emprego estava dependendo daquela matéria.
Então resolvi que mudar de lado deveria bastar – ou era o que eu esperava. Andei até a outra extremidade da pista, o lado do palco onde eu sabia que não era o dele, e acomodei-me ali, esperando por eles. Algumas vezes até recebia o aceno ou um sorriso do produtor da banda, uma vez que eu e minhas amigas havíamos o conhecido antes da viagem.
Dentro de mais alguns minutos, as luzes foram completamente apagadas e os gritos dos fãs se intensificaram de um modo que eu realmente começava a acreditar na possibilidade de sair dali com sérios problemas auditivos. Em seguida, um tipo de cartaz imenso com o nome da banda foi lentamente descendo, posicionado ao fundo do cenário, e quando alguns holofotes iluminaram o palco, três garotos entraram com seus respectivos instrumentos, enquanto o quarto deles dirigia-se com suas baquetas até a bateria. Eu vi ao que algumas meninas logo atrás de mim se esmagaram impiedosamente, esticando seus braços e berrando pelos nomes dos quatro, que acenavam ali de cima para a platéia com imensos sorrisos. Harry foi quem iniciou a contagem para o começo da primeira música da noite, batendo as baquetas uma contra a outra, e os três à frente rapidamente o seguiram.
Ao som de I’ve Got You, os fãs dançaram e cantaram junto da banda. Eu me contentei em tirar algumas fotos e então também cantar a letra da música, sorrindo de certo modo orgulhosa por meus amigos. Meu campo de visão foi limitado em apenas observar , e . Eu ainda não havia reunido coragem o suficiente para arriscar uma única olhadela sequer no quarto membro do grupo, mesmo sabendo que, dentro de uma hora, eu não teria outra opção.


Fazia mais de cinco meses desde o ocorrido no aeroporto. Eu tentava não pensar naquele dia, mas em muitas ocasiões as imagens pareciam querer me perseguir e assombrar. Quando eu dormia, eu apenas sonhava com ele. Às vezes eram sonhos calmos, como uma longa seqüência de flashbacks de quando ainda estávamos juntos e os tempos eram tão mais simples; em outras, eram como pesadelos, como a imagem dele com outra garota ou então a cena em que ele me dizia com raiva nos olhos que não me amava mais. De qualquer jeito, eu achava aquilo extremamente perturbador.
No final do sexto mês após a volta dos garotos, eu resolvi que poderia usar umas férias. Pedi licença no trabalho, arrumei minhas coisas e parti para a Escócia por duas semanas inteiras. e insistiam em me acompanhar, não querendo me deixar sozinha, mas eu sabia o quanto elas iriam querer levar e junto, e o que eu menos precisava no momento era a presença de homens. Acabei convencendo-as que não se preocupassem, que não ficaria sozinha, uma vez que havia combinado com de me encontrar lá – ela havia conseguido uma licença de seu trabalho também, mas ficaria comigo apenas por uma semana. Para mim já era mais do que suficiente. Eu podia usar muito bem um tempo a sós comigo mesma, visto que eu estava sempre rodeada por não só minhas amigas como também meus amigos, , e , e os três me lembravam dolorosamente do quarto integrante.
me mostrou quase todos os pontos turísticos da Escócia, e durante aquela uma semana, ela não só me apresentou aos seus novos amigos como também me levou para as principais cidades do país – Edimburgo, Glasgow, Aberdeen e até mesmo Highland para ver o Lago Ness –, e ainda me ensinou a falar algumas palavras em gaélico escocês. Em sua última noite comigo, nós fomos a um pub local com seus amigos, e por mais que tivesse deixado claro que aquela viagem era restritamente para diversão e para obviamente matar as saudades de minha amiga, insistiu em me apresentar um de seus colegas de trabalho. Eu não estava interessada – acreditava que havia tido más experiências com garotos por tempo de uma vida inteira –, até ver quem ele era. Os cabelos eram negros e os olhos de um verde tão claro que chegava a ser intimidador; os dentes brancos e perfeitos formavam um sorriso de tirar o fôlego, e o corpo era muito bem definido. Eu não era nenhuma perfeccionista ou superficial em relação à beleza, mas mesmo com toda sua perfeição, eu consegui notar um defeito: suas feições faziam-no aparentar alguém de, no mínimo, vinte e cinco anos. Não que isso fosse algo realmente ruim, mas eu sabia que preferia mil vezes um rosto mais infantil e delicado. Aquele pensamento fez lembrar-me da cena do baile, com o bartender, Pete. Conseqüentemente, lembrei de todo o resto daquela noite, mas logo forcei a imagem para fora de minha mente. Doloroso demais, eu reconheci.
, esse é o Tyler. – havia nos apresentado com um imenso sorriso no rosto, percebendo, como todos os outros presentes, o quão surpresa eu ficara com a beleza do rapaz. – Tyler, essa é a amiga que eu comentei com você.
, certo? – Ele me perguntara naquele sorriso impecavelmente perfeito. Eu balancei a cabeça em afirmação com lentidão, mas sem saber ao certo como eu havia conseguido me movimentar. Tyler riu da expressão abobada em minha face e delicadamente puxou minha mão para beijá-la. – Prazer em finalmente conhecê-la. A me disse muitas coisas ao seu respeito.
Eu não consegui responder de imediato, e , notando que eu iria parecer mais estúpida do que já parecia, inventou alguma desculpa sobre irmos pegar bebidas e me puxou em direção ao balcão do pub.
– Ele é lindo, eu sei. – Ela me disse após pedir ao bartender por duas cervejas Heineken. – Mas sabe, se você quiser parar de babar e na verdade falar alguma coisa, sua situação melhoraria ainda mais.
– Quantos anos ele tem? – Eu soltei sem pensar em como aquela pergunta soaria. Provavelmente não muito bem, uma vez que franziu o cenho, estranhando.
– Vinte e um. Por quê?
– Nada.
– Você não gostou dele? – Ela pareceu chocada com aquela suposição.
– Não, não, claro que gostei! – Eu tentei consertar. – Ele é... lindo! E parece ser muito educado.
– Que bom, porque eu já meio que arranjei você pra ele.


A noite parecia correr bem, ao menos até aquele momento. Eu ainda me recusava a olhar diretamente para a imagem do no palco, e tentava me distrair através das fotos e com as músicas. Os garotos foram como sempre muito simpáticos com a platéia, soltando alguns comentários engraçados, fazendo piadas e arrancando risadas e sorrisos de cada fã presente. Na terceira música da noite, olhara para baixo de modo que conseguisse me ver tirando uma foto sua, fazendo-me rir ao vê-lo estirar a língua para fora.
E foi naquele momento em que meu plano em ignorar apenas um dos integrantes falhou.
Ao acenar e sorrir em minha direção após eu ter tirado sua foto, não notara que havia atraído a atenção de . Ele ainda não havia notado minha presença, ou então fingira não notar. Mas ao tentar procurar o alvo da brincadeira e distração momentânea de , finalmente me enxergou. Meu corpo pareceu entrar em um estado de congelamento completo: uma dor gélida percorreu meu estômago, e meus braços e pernas paralisaram na posição em que estavam, incapazes de movimentos. Meu olhar também parecia congelado e fixado na reação em que eu veria vinda dele, mas eu percebi que ele parecia se encontrar na mesma condição que eu. Suas mãos não se moviam, apoiadas em sua cintura, e seus olhos, apesar de demonstrarem choque, nunca deixavam meu rosto.
Eu senti o gosto de meu coração palpitando forte e rapidamente em minha boca. Então essa era nossa reação ao nos reencontrarmos.
– Certo. Nossa próxima música é muito especial, então vocês têm que cantar junto. – anunciou no microfone, causando mais e mais gritos vindos dos fãs. Aquilo pareceu despertar tanto eu quanto de nossos transes inertes. – Essa é Unsaid Things.
Se os membros de meu corpo já estavam antes paralisados, naquele momento eu senti que até meus órgãos haviam aderido àquele estado. Unsaid Things, eu lembro de ter me dito, era a música que escrevera para mim. Um terrível e repentino mal-estar se materializou em meu interior.
Uma calma melodia tomou início com o som de alguns violinos, e eu entrei em um ligeiro desespero. Eu nunca havia ouvido aquela música apenas pelo fato de que ele que a escrevera, e não tinha muita certeza se gostaria de ouvi-la agora. No entanto, alguma força maior que eu – e seja lá o que fosse, eu a odiava – fez com que meus pés não fossem capaz de se moverem, forçando-me a ficar naquele mesmo lugar para ouvir aquela música.
Logo, os sons das guitarras, do baixo e da bateria se juntaram, e Tom iniciou o primeiro verso.
This girl that moved just up the road from me, she had the nicest legs I’ve ever seen. Back then, she wrote me letters just to say she loved me, but now her face is just a memory.
Cada batida do meu coração parecia um murro contra meu peito, aparentemente querendo seguir o ritmo daquela música. Por mais que eu tentasse desviar, meus olhos ainda eram vidrados em , e eu podia claramente ver que os dele também eram fixados em mim.
Now that seven years have gone, and I’ve grown up but she’s moved on, and somehow I’m still holding onto her.
I’ve still got so many unsaid things that I wanna say, and I just can’t wait another day; I wish she knew. I still wait up wondering if she will remember me, but there’s no way for me to know.

Eu não sabia ao certo o que sentir ao ouvir a letra daquela canção, e, se realmente estava sentindo algo, eu não conseguia distinguir o que. Uma parte de mim achava que era até felicidade, sabendo que ele ainda se lembrava de mim tanto quanto eu me lembrava dele, mas eu tentava árdua e constantemente convencer essa parte que o frio na barriga e as fortes palpitações em meu peito não significavam alegria.
Now she’s got pregnant with a baby; it feels like she’s slipping away from me. Now that she’s getting married, I’m in misery, ‘cause her fiancé’s so much bigger than me.
‘Cause he works out a lot, and there’s not much that he ain’t got, and right now I’m losing the plot along with her.

Mas talvez eu estivesse errada e aquela parte de mim que acreditava estar feliz estivesse certa. A risada não-contida que eu abri àquela parte da música talvez demonstrasse isso, e o sorriso ao assistir sorrir de volta a mim em seguida apenas confirmasse.
But I still got so many unsaid things that I wanna say, and I just can’t wait another day; I wish she knew that I still wait up wondering if she will remember me, but there’s no way for me to know.
And I want her to know, before she’s married and has her baby, that I need her.

Meu sorriso rapidamente desapareceu de meu rosto. Eu não poderia estar sorrindo para ele e ele não poderia estar sorrindo para mim. Eu não poderia me permitir apaixonar por ele mais uma vez, ou ainda mais profundamente do que já estava e sempre estaria. Eu havia me prometido há muito tempo atrás que iria esquecê-lo, por mais difícil, por mais impossível que fosse. E eu tinha alguém na minha vida agora. Alguém que me ajudava nessa tarefa de esquecer .
Sentindo meus olhos queimarem, eu não consegui pensar em outra coisa além de me retirar dali. Passei pelo corredor de imprensa, empurrando alguns dos jornalistas, e caminhei para fora até o estacionamento VIP em que havia deixado o carro, sentindo seu olhar em minhas costas durante o caminho.
I’ve still got so many unsaid things that I wanna say, and I just can’t wait another day; I wish she knew. I still wait up wondering if she will remember me, but there’s no way for me to know.
Eu ainda ouvia a música ali de fora, apesar de abafada. Felizmente, os instrumentos pararam e a voz de voltou a anunciar algo que eu não entendi no microfone.
Eu olhei pela garagem aberta, tentando me concentrar em qualquer outra coisa enquanto observava a chuva calma descer do céu com insistência, acompanhada dos trovões ocasionais. O que eu faria agora? Eu tinha de enfrentá-lo, meu emprego dependia disso. Minha primeira entrevista e eu já estava desistindo tão rapidamente? Eu teria que lidar com aquilo dentro de meia hora e ainda controlar a urgência de gritar, chorar e, principalmente, de pular diretamente em seus braços para beijar-lhe.


Eu não havia realmente gostado da idéia ou da intenção em que me dera como motivo para me apresentar Tyler. Eu já havia lhe dito e ainda insistia que eu não estava lá para conhecer outros caras, muito menos para ser parte de um “encontro às escuras”. Mas nada parecera sair como eu planejara.
Quando voltou ao trabalho, mal tendo tempo para sair comigo, eu ainda estava hospedada no Express By Holiday Inn, em Edimburgo, cidade em ela e os amigos moravam e trabalhavam. Mesmo sozinha, eu fazia questão de sair para tentar me divertir e tirar minha mente de coisas em que eu andava evitando. Na terceira noite da minha última semana, eu fui até o pub perto do trabalho de , o The Burgh. Eu sabia que minha amiga provavelmente não iria poder me encontrar, mas eu ainda assim mandei uma mensagem em seu celular avisando-a que eu estaria ali.
Mal haviam se passado meia hora desde que eu entrara no bar quando avistei um rosto familiar. Eu sabia que aquilo era obra de , afinal, quais eram as chances de Tyler resolver beber no mesmo pub que eu?
? – Ele me chamou, curvando-se para provavelmente ver se era eu mesma sentada ali.
– Oi! – Eu o cumprimentei. Não iria ser mal-educada apenas pelo fato de minha amiga ser intrometida em relação à minha vida amorosa. – Tyler, certo?
– Isso. – Ele concordou com seu imenso e perfeito sorriso na face. – O que você faz aqui sozinha?
– A tá trabalhando, então eu resolvi vir por minha conta mesmo. – Eu encolhi os ombros. Ele assentiu com um aceno de cabeça e nós ficamos alguns segundos em silêncio. – Uhm, você veio sozinho também?
– Ninguém quis me acompanhar, mas eu vim mesmo assim. – Ele riu do modo mais simpático possível. – Você quer se sentar comigo? Eu odeio beber sozinho.
– Bom, eu já peguei essa mesa, então que tal se você se sentasse comigo ao invés de eu ir me sentar com você? – Eu perguntei de uma maneira extremamente idiota. Ele pareceu ter achado o mesmo, porque riu da minha pergunta logo em seguida.
– Se você não se importar, eu gostaria sim de me sentar com você. – Ele disse em mais uma risada.
Nós conversamos durante a noite inteira, e eu me surpreendi ao ver que nossa conversa conseguia fluir facilmente, sem esforços ou momentos embaraçosos de silêncio. Eu descobri que ele havia feito faculdade para Publicidade e Propaganda, tivera apenas uma namorada realmente séria em um relacionamento de três anos, tinha uma irmã, que seu pai falecera cerca de um ano atrás e que amava animais. Eu lhe contei tudo que podia sobre mim mesma também, principalmente as coisas que tínhamos em comum, mas não tive coragem em abrir a boca para falar sobre relacionamentos, muito menos sobre ex-namorados.
Na única vez em que eu olhei para meu relógio de pulso, percebi que havíamos conversado mais do que realmente deveríamos, uma vez que os ponteiros indicavam três horas e dezoito minutos da madrugada. Eu me despedi – e me surpreendi mais uma vez ao notar que fizera aquilo a contragosto – e concordei quando ele me perguntou se eu gostaria de ir a um restaurante novo que havia aberto na cidade. Em seguida, ele ainda insistiu em me dar uma carona até o hotel.
Ao que eu adentrava o quarto em que me hospedava, eu percebi que aquela era provavelmente a primeira vez em que eu sorria genuína e abertamente em quase um ano inteiro.


Eu respirava mais freqüente e rapidamente do que o necessário, tomando o máximo de ar que meus pulmões conseguissem suportar. Ao olhar no relógio, eu vi que todo aquele esforço havia sido inútil: meu coração despencou de encontro ao meu estômago e o ar antes inspirado tão insistentemente parecera ter se esvaído quando eu notei faltar exatos quinze minutos para a minha entrevista com a banda.
Antes mesmo que eu pudesse me desesperar, eu senti o bolso traseiro da minha calça jeans vibrar com insistência. Meu coração afundou um pouco mais com o nome que aparecia na ID de chamada.
– Ty? – Eu chamei, receosa.
– Oi, amor?
– Tyler, aonde você tá? – Eu voltei a chamar, tentando ignorar a sensação que me vinha toda vez que ele me chamava de amor. Eu só havia chamado uma pessoa assim, e acho que não conseguiria usar a mesma palavra para qualquer outro garoto.
– Desculpa, a ligação está péssima! – Ele me disse. – Como é o nome do lugar mesmo?
– Wembley Arena. – Eu lhe informei. – É na Arena Square, em Middlesex. É só parar pra perguntar, qualquer um vai saber onde é.
– Certo, eu acho que não devo estar longe. Eu te ligo quando chegar, okay? Amo você.
Eu me senti extremamente mal por fazer aquilo, mas covarde do jeito que era, acabei desligando antes de respondê-lo. Eu apenas esperava que ele houvesse pensado ser algum problema na ligação para que não ficasse chateado pela minha incrível falta de coragem e ainda maior falta de consideração.
Eu mal havia guardado o celular de volta no bolso quando o mesmo voltou a vibrar.
, aonde você tá? – A voz de berrou do outro lado da linha.
– Uhm, no estacionamento.
– Estacionamento? – Ela repetiu visivelmente confusa. Ouvi a voz de repetir a mesma coisa ao fundo. – O que você tá fazendo aí?
– Eu vim... – Me esconder do e tentar fugir do nosso futuro reencontro. – Tomar um ar?
– Larga de ser besta e vem pra cá logo! – Ela ordenou. – Eles já saíram do palco e você tem que entrar no camarim, lembra?
Eu fechei os olhos por alguns instantes, sentindo meu coração voltar a palpitar erraticamente e a sensação gelada soprar em meu estômago. Eu tinha que estar preparada para aquilo.
?
Eu ainda não a respondi. Passeei meus olhos ao meu redor e vi que havia uma entrada logo ali ao lado que dava acesso direto aos camarins.
– Eu estou indo pra lá agora, . – Eu lhe disse. – Te encontro em alguns minutos, okay?
Ela concordou e eu rapidamente desliguei. Procurei em minha bolsa por tudo que eu precisaria usar e já os deixei em mãos: câmera, gravador e meu bloquinho de notas. Mais uma vez eu voltei a inspirar e expirar exageradamente, tentando fazer com que o ar entrasse de maneira mais uniforme em meus pulmões e controlasse os socos de meu coração contra meu peito. E, finalmente, me dirigi até a porta.
O corredor até os camarins era longo, então eu tive tempo o suficiente para tentar me acalmar e convencer a mim mesma que eu estava apenas sendo dramática até demais. Mesmo sendo a primeira vez em três anos que eu realmente ficaria frente a frente a ele, olhando em seus olhos e provavelmente sendo inundada por um flashback de antigas emoções e sensações que ele costumava me causar, eu tinha de me relembrar que aquilo era restritamente profissional. Com isso, ao parar em frente à porta com os dizeres “McFly”, eu tentei me convencer que era apenas uma jornalista e ele, apenas uma celebridade qualquer que eu estaria entrevistando. E então eu bati à madeira com dedos trêmulos.
– PEQUENA! – foi o primeiro a me saudar, tendo aberto a porta e me abraçado assim que me viu parada em sua frente. – QUE SAUDADE!
, eu... anh, ? – Eu tentei chamá-lo em meio àquela esmagação. – , eu não consigo-
– Ah, certo, desculpe. – Ele sorriu divertido e me pôs de volta no chão. – Entra aí, senhorita jornalista!
Eu rolei os olhos e ri de seu comentário infeliz. Em passos lentos, me permiti adentrar o camarim, observando os sofás de couro posicionados contra a parede, os espelhos sobre os balcões repletos de objetos inúteis – desde escovas de cabelo até embalagens de comida e cabides de roupa – e a mesinha de centro, que continha, no mínimo, cinco tipos diferentes de porcarias – chocolates, cervejas, pizzas.
– Vocês comem pizza até antes de entrarem no palco? – Eu perguntei sem conter a risada. Eles realmente não haviam mudado em nada.
– Depois. – respondeu, surgindo de uma porta ao fundo que eu achei ser o banheiro. – Se a gente comer antes pode dar dor de barriga, aí já viu, né... Oh, olá!
– Vocês são péssimos. – Eu lhe disse, rindo ainda mais alto. Ele me acompanhou e logo me puxou para um abraço tão esmagador quanto o primeiro.
– Fica à vontade aí, pequena. – me disse após beijar o topo da minha cabeça. – Sinta-se em casa.
– Com toda essa nojeira, eu acho bem difícil.
Eu empurrei algumas das embalagens vazias que se espalhavam pelo sofá, abrindo um espaço para que pudesse me sentar. entregou-me uma cerveja e se jogou ao meu lado.
– Uhm, cadê... os outros? – Eu tentei generalizar para evitar dizer o nome de , e me senti ridícula por isso.
mal havia tido tempo de me responder quando mais três figuras surgiram pela porta de entrada do camarim. vinha primeiro, carregando duas sacolas nas mãos que continham uma exagerada quantidade de garrafas de cerveja. Os outros dois que o seguiram, no entanto, fizeram meu estômago revirar em um mal-estar que eu jamais sentira na vida.


No meu último dia na Escócia, havia me levado ao aeroporto de Gatwick para o meu vôo, e, nos acompanhando, Tyler. Eu havia ficado surpresa quando ele me perguntara se também poderia ir para se despedir de mim, mas também me senti ligeiramente contente. Nós havíamos passado aquela minha última semana em Edimburgo juntos; ele me levava para todos os outros lugares da cidade que não tivera tempo de me mostrar, e insistia em me convidar para restaurantes chiques e românticos, nunca me deixando pagar uma única libra pela conta. Eu começara a ficar cada vez mais confortável ao seu redor, e resolvi parar de tentar compará-lo com após perceber que isso parecia me deixar estranhamente triste e até decepcionada. Eu resolvi que iria me permitir aproveitar, para variar.
Alguns minutos antes de eu ter que embarcar, anunciou com extrema indiscrição que precisava ir ao banheiro, deixando-nos sozinhos. Eu não sabia muito bem o que dizer naquele momento, e apenas senti uma incrível vontade de seguir minha amiga para matá-la. Tyler, por outro lado, parecia saber as palavras certas para me tirar do constrangimento. Ou não exatamente palavras. E, ao invés de constrangida, eu passei a ficar exageradamente envergonhada, mas ainda assim me sentia feliz. Ele havia segurado minha mão com delicadeza, entrelaçando nossos dedos, e dado alguns passos para frente em uma aproximação perigosa. Eu, obviamente, ainda permaneci calada e imóvel, sentindo as maçãs de meu rosto em chamas. E então, mesmo com as claras e óbvias indiretas, eu me vi pega de surpresa ao que seus lábios tocaram os meus em um beijo calmo e ainda gostoso. Não tendo mais o controle de minha própria mente naquele momento, a imagem de surgiu em meus pensamentos, e eu me lembrei do nosso próprio beijo. Eu apertei minhas pálpebras uma contra a outra, tentando afastar aquela memória não mais bem-vinda, e fui a primeira a me distanciar dele com cautela. Ele olhou dentro dos meus olhos, e, para não parecer que eu não havia apreciado sua atitude ou para que não notasse minha repentina perturbação, sorri.


– Eu subi no bar pra pegar mais cerveja porque as nossas tavam... – ia dizendo até parar para levantar o olhar e abrir um imenso sorriso ao me ver sentada ali. – PEQUEEEEENA!
– Hei, desde quando você a chama de pequena? – berrou, observando a figura de correr em minha direção e pular no sofá sobre mim e . – Pode parando de chamar ela assim, ouviu?
Eu estava paralisada demais para corresponder à felicidade de meu amigo, e ainda tinha quase certeza de que eu me tornara tão pálida que parecia estar passando tão mal quanto eu me sentia.
havia parado imóvel à porta, provavelmente se sentindo do mesmo modo que eu – ao menos era o que pareceu, já que eu via seu rosto perder a cor normal. Seu braço, antes envolvido na cintura da menina que o acompanhava, foi retirado bruscamente e posicionado ao lado de seu corpo, como se quisesse disfarçar a cena que eu havia visto.
? – Eu ouvi a voz de me chamar de algum lugar distante em minha mente.
– Licença.
Eu empurrei o corpo de com delicadeza – não proposital, mas pelo fato de estar sem forças – para o lado e me levantei do sofá, passando pelo casal ainda parado à porta e acidentalmente esbarrando na garota em minha saída apressada. Eu andei em passos rápidos pelo corredor, mas mal consegui alcançar a saída antes de precisar parar e me apoiar na parede para respirar.
– Cara, o que ela tá fazendo aqui? – Eu ouvi a voz de ainda do camarim.
– Nada, . – respondeu com rispidez.
– Como nada? – Ele insistiu. Eu arrisquei olhar para trás para ver metade do corpo de parado na porta; seu braço era puxado pelo que eu achei ser a mão de . – Primeiro eu vejo ela na platéia e agora ela tá aqui no camarim? Por que você não me avisou que ela vinha, ?
– Amor, o que tá acontecendo? – A garota ao lado de perguntou. Eu senti mais uma pontada dolorosa na boca do estômago à menção da palavra amor.
– Uhm, nada não, Hannah. – Ele a respondeu. – Olha, você se importaria de ir com o procurar a ? Ele tava querendo ajuda pra achar ela.
Ninguém disse nada, mas eu vi ao que a garota passou por e , e, antes de se retirar, se inclinou para beijar nos lábios. Ela então seguiu um aparentemente desesperado.
, por que você não me avisou que ela vinha? – repetiu, e eu pude sentir uma ligeira mudança no tom de sua voz. – Você sabe que eu iria querer saber, eu iria querer falar com ela e-
– Exatamente por isso, . – rebateu mais uma vez seco. – Eu não quero que você fale com ela de novo, eu não quero que você a magoe de novo, e eu nem quero você perto dela.
não respondeu, parecendo estar completamente sem palavras.
– Você é um dos meus melhores amigos, cara, mas eu nunca vou te perdoar pelo que você fez com ela.
lançou um último olhar significativo a e rapidamente lhe deu as costas. Antes que pudesse virar para algum dos lados do corredor, ele conseguiu me enxergar ali, apoiada na parede, prestando atenção em sua conversa.
Ele correu em minha direção, esticando ambos os braços para me segurar. Eu apenas levantei a mão e o parei. Eu não estava e não era fraca para que ele precisasse me consolar daquele modo, por mais que apreciasse sua preocupação. Ele me encarou com olhos suplicantes e entrelaçou sua mão à minha, e eu avisei que estava bem apenas por movimentos labiais. Ao fundo, eu vi quando deu um passo também em minha direção, e, automaticamente, eu dei um passo para trás.
! – Eu ouvi a voz de atrás de mim. Agradeci-a mentalmente, pois rapidamente recuou.
– O que tá acontecendo? – perguntou, já se posicionando às minhas costas e intercalando seu olhar entre eu, e então parando em .
– Nada. – Eu lhe disse sem muita convicção em minha voz. Girei os tornozelos para que pudesse encará-las de frente, e me surpreendi ao ver que Tyler estava ali, encarando-me com preocupação nos olhos.
– A gente achou ele perdido lá fora. – explicou em um tom divertido.
À menção de sua presença, ele abriu um imenso sorriso e correu para envolver seus braços em mim.
– Você tá bem? – Ele me olhou mais uma vez preocupado e beijou minha testa. – Você parece meio pálida.
– É o meu bronzeado natural. – Eu tentei brincar, sorrindo-lhe fracamente. – Você teve algum problema pra achar aqui?
– Não muito. Eu fiz o que você pediu e parei pra perguntar, e, bem, todo mundo realmente sabe onde a Wembley Arena fica. Depois foi fácil pra achar.
Tyler sorriu mais uma vez e então me beijou delicadamente nos lábios. Em seguida, parecendo notar as outras presenças ao nosso redor, ele levantou o olhar e esticou a mão, cumprimentando , ao lado.
– E aí, cara. Foi bem de viagem?
– Sossegado. Eu dormi a maior parte do tempo desde que o avião saiu de Edimburgo.
Eu senti que aquela conversa tão casual não parecia combinar com o clima relativamente estranho que havia se postado ali desde minha saída teatral do camarim, mas ninguém além de , e eu mesma pareceu notar aquilo.


Eu achei que nunca mais iria ver Tyler de novo. Não que eu precisasse, mas eu tinha de admitir a mim mesma que ele me fizera bem, como eu não me sentia há um bom tempo. Dois meses passados, no entanto, eu também começava a admitir que fora apenas um “caso de verão”, por mais clichê que soasse.
Uma semana e meia antes do meu aniversário, chegara em Londres, e eu e as garotas havíamos ido buscá-la no aeroporto. Ela me disse, no caminho para casa, que meu presente iria chegar na manhã do dia em que eu faria vinte anos, e, mesmo não entendendo, eu agradeci. Às dez e trinta e sete daquela manhã que ela mencionara, eu entendi o que quisera dizer.
– Tyler?
– Uhm, surpresa? – Ele tentou, sorrindo de lado de maneira envergonhada.
Eu não havia entendido o porquê de me dar aquele tipo de “presente” – talvez ela tivesse adivinhado o quanto Tyler havia me feito bem depois de , ou então eu mesma deixara aquilo bem exposto –, mas eu realmente a agradeci. Ele havia sido uma grande ajuda e distração quando, na noite da minha festa, eu vi , e passarem pela porta do meu apartamento desejando-me feliz aniversário, mas não avistei um indício de . Nem mesmo um cartão ou qualquer recado entregue por um de nossos amigos. Talvez alguma parte de mim ainda acreditava que ele se importava o bastante para aparecer em meu aniversário, mesmo sabendo que poderia levar xingo. Ou talvez eu apenas quisesse que ele fosse a pessoa mais superior entre nós dois, e aparecesse porque simplesmente sentia minha falta. Qualquer que fosse, eu sabia que estava errada e ainda dolorosamente desapontada.
Naquela noite, eu e Tyler ficamos novamente. Não que eu pudesse chamar um beijo de despedida de “ficar”, mas acho que havia significado algo. Quando todo mundo já havia ido embora, ele insistira em ficar para me ajudar a arrumar as coisas, junto de meus amigos.
– Hei, vem cá. – Ele me chamou, e eu parei de varrer o canto da sala para me encontrar com ele. – Eu queria te contar uma coisa. – Eu estranhei o mistério e esperei em silêncio, mas ele apenas acariciou a pele da minha bochecha com as costas de sua mão. – Bem, eu... eu meio que recebi essa proposta no trabalho, e eu tava pensando em aceitar.
– O que é? – Eu perguntei, não agüentando a enrolação que ele fazia.
– Eu acho que fui promovido, sabe.
– Você acha? – Eu ri.
– Não, eu fui promovido. – Ele assentiu firmemente, arrancando mais uma risada de meus lábios. – A empresa quer que eu me mude aqui pra Londres.
Em uma resposta automática, meus olhos se arregalaram e minha boca congelou em um meio sorriso.
– Isso é... ótimo!
– Bom, meu salário realmente ficou maior. – Ele brincou, mas desta vez eu não consegui rir. – E eu gosto daqui. Não é tão frio quanto Edimburgo. E, bem... eu ficaria mais perto de você.
– Isso é... ótimo! – Eu repeti ainda mais uma vez, sentindo-me a pessoa mais idiota do planeta.
– Eu não quero forçar nada, , sério. – Ele tentou me tranqüilizar, percebendo que eu realmente não havia achado outras palavras além de “isso é ótimo.” – Quero dizer, a gente não se conhece há tanto tempo, mas... não sei, eu gosto de você. E eu queria te conhecer melhor, sabe? Passar mais tempo junto.
Eu estava prestes a responder “Isso é... ótimo!” pela terceira vez, mas algo em sua voz me fez parar para pensar. Ele realmente demonstrava gostar de mim; era carinhoso, divertido e me fazia bem, além de ser extremamente bonito. E, naquele momento, ele realmente estava sendo sincero.
– Tyler, eu não posso decidir isso por você. Se você acha que deve aceitar o emprego, então aceite. – Eu lhe disse, medindo com cuidado minhas palavras. – Mas... – Naquele exato segundo, eu o vi abaixar a cabeça e suspirar pesadamente, e percebi o quanto suas palavras de antes haviam sido verdadeiras. Eu levantei seu queixo e sorri antes de continuar. – Mas eu iria adorar se você pudesse mesmo morar aqui.
– Sério? – Ele me perguntou descrente, sorrindo de orelha a orelha.
– Sério!


já havia retornado ao camarim assim que ligou em seu celular para lhe avisar que e estavam conosco, e a garota que havia o acompanhado também estava de volta. Eu havia me sentado com Tyler e minhas amigas no sofá, e vi as duas entreolharem-se em choque quando a loira se postou ao lado de e lhe beijou mais uma vez os lábios. Eu mantive meu olhar em meus sapatos pela maior parte do tempo, tentando ignorar a cena, e apenas levantava a cabeça para me comunicar com o resto do grupo.
Mesmo sentindo o clima ainda pesado e estranho, eu resolvi prosseguir com a entrevista. e levaram Tyler e a tal Hannah, namorada ou ficante – eu fingia que aquilo pouco me importava – para o bar no andar de cima, enquanto os quatro garotos se sentaram em minha frente. Eu deixei a câmera sobre a mesa de centro, liguei o gravador e apoiei meu caderninho sobre meu colo, segurando a caneta com uma mão trêmula. Eu então lhes fiz as perguntas já escritas, e durante a maior parte da entrevista, , e soltavam alguma piada ou resposta engraçada na tentativa de amenizar o clima, mas eu mal ria de nenhum delas. manteve-se calado o tempo inteiro, e só respondia em murmúrios apenas quando os garotos chamavam sua atenção ou mencionavam seu nome.
Eu finalizei a entrevista com a mesma falta de ânimo que começara, mas me senti aliviada simplesmente por ter conseguido a matéria que precisava. Assim que guardei minhas coisas, ligou para as meninas para que elas, Tyler e Hannah nos encontrassem de volta no camarim; e sentaram-se ao meu lado, oferecendo-me uma garrafa de cerveja; e se acomodou a um canto do cômodo, escrevendo algo em um pedaço de papel. Nenhum dos meninos se preocupou em perguntar-lhe o que ele fazia, e ele já parecia ter acabado em tempo de sua namorada/ficante voltar.
– Então, o que vocês querem fazer? – foi a primeira a quebrar o silêncio da sala. – Vamos sair?
– Por mim... – encolheu os ombros ao que brincava com os dedos de , entrelaçados aos seus.
– Uau, calma, gente! Empolgação demais! – ironizou.
– A gente podia ir naquela boate que inaugurou. – sugeriu. – É aqui perto.
– Vamos! – concordou, o único na verdade empolgado. – Vamos sair e encher a cara, como nos velhos tempos!
A maioria do grupo riu – com a óbvia exceção de e eu mesma – e logo se levantaram, apanhando suas coisas e discutindo quem iria no carro de quem. Eu continuei sentada, ainda encarando o chão, e não fiz menção alguma de me juntar à idéia de meus amigos.
– Hei. – Tyler me chamou em um sussurro, de modo que só eu pudesse ouvi-lo. – Tá desanimada?
– Um pouco. – Menti. – Mais cansada.
– Quer ir pra casa? – Ele me perguntou, acariciando minha mão com as pontas dos dedos.
– Não, eu vou na boate se você tiver a fim de ir.
– Por mim, tanto faz, contanto que eu esteja com você. – Ele piscou para mim, rindo. – Vamos, a gente pode passar alugar algum filme e ficar comendo pipoca em casa mesmo.
Eu sorri em agradecimento e me levantei junto dele. Joguei a bolsa de qualquer jeito no ombro e esperei meus amigos terminarem a discussão, sabendo que levaria sermão por não acompanhá-los.
– Combinado então! – anunciou quando eles finalmente haviam decidido quem dirigiria. Ela se virou para mim e sorriu animada. – Vamos?
– Erm, então, sobre isso... – Eu comecei, observando o sorriso em seu rosto murchar aos poucos. – Eu e o Tyler vamos pra casa mesmo. Eu to meio cansada e nem um pouco a fim de sair.
– Velha. – bufou em meu ouvido.
rapidamente o acertou com um tapa na cabeça e em seguida sorriu daquela mesma maneira doce e preocupada. Ela então me abraçou e sussurrou “fique bem” em meu ouvido, fazendo-me sentir a pessoa mais vulnerável e patética do quarto. a copiou, abraçando-me ainda mais forte, e assim que me soltou, seguiu as duas primeiras, esmagando-me em seus braços.
– Eu também quero! – berrou, empurrando do caminho e também me abraçando. Eu o agradeci mentalmente por ter conseguido me fazer rir.
– Ah, já que é assim... – fez o mesmo que os outros quatro, arrancando mais risadas ao redor.
– Tá bom, chega de abraços. – Eu empurrei , que já vinha de braços abertos para me abraçar mais uma vez. – Me liguem amanhã caso vocês forem fazer alguma coisa, certo?
Eles concordaram em uníssono, e assim que Tyler terminou de se despedir – fez questão em também lhe dar um abraço –, nós deixamos o camarim e passamos a caminhar pelo corredor em silêncio. Eu não só estava desanimada como também absorta em pensamentos, e Tyler, provavelmente percebendo isso e querendo respeitar minha falta de vontade em conversar, apenas entrelaçou sua mão à minha e continuou andando ao meu lado.
Quando nós alcançamos a saída que levava ao estacionamento, eu ouvi meu nome ser chamado, e, ao me virar, avistei a última pessoa que eu esperava correndo para tentar me alcançar.
! – insistiu.
Eu paralisei no lugar, e minha mão automaticamente apertou a de Tyler com mais força.
– Será... uhm, que eu... poderia falar com você um instante?
Tyler levantou o olhar para mim, apesar de eu continuar congelada na mesma posição. Quando meus sentidos foram aos poucos retornando, eu retribuí seu olhar e apenas assenti com um aceno de cabeça.
– Tudo bem. – Eu lhe disse. – Você pode me esperar no carro?
Eu o vi concordar meio a contragosto, e em seguida me beijou os lábios antes de seguir em direção à vaga que havia estacionado. Eu esperei até que ele estivesse fora de vista para me dirigir a .
– O que foi? – Perguntei em um sussurro fraco e baixo.
– Seu namorado?
– E isso por acaso te interessa?
– Interessa. – Ele abaixou o olhar para o chão, e ao seguir seu movimento, percebi que ele segurava em uma das mãos um pedaço de papel dobrado. – Eu preciso saber se ele te faz feliz.
– Você precisa saber?
– Preciso.
Eu não o respondi de imediato. Não entendia o motivo de sua atitude e muito menos de sua pergunta.
– Bom, vejamos... – Eu fingi pensar, tentando achar as piores palavras para magoá-lo, mesmo sabendo que me sentiria mal depois. – Ele se mudou pra cá basicamente por minha causa e quando voltou pra Escócia nas férias pra visitar a família, não me chifrou. Então é, eu acho que ele me faz bem feliz.
Se eu realmente desejara magoá-lo, naquele momento eu percebi que havia conseguido. E, como esperado, o sentimento de culpa me tomou logo em seguida.
– Bom, é isso que importa. – Ele disse no mesmo sussurro fraco e sem vida que o meu há minutos atrás.
– O que importa?
– Que você esteja feliz.
– Por que você tá fazendo isso, ? – Eu perguntei após algum tempo em silêncio onde eu tentava entender aonde ele queria chegar com aquela conversa. Minha voz falhou mais do que eu esperava, e eu senti meus olhos queimarem por causa das lágrimas. – O que você quer de mim?
Ele deu alguns passos para frente até que nossos corpos estivessem próximos o bastante para que eu pudesse sentir sua respiração fraca e desuniforme. Com a visão tão próxima de seus olhos, eu me encontrei mais uma vez imóvel, e quando meu cérebro me mandou recuar, eu não consegui obedecê-lo.
– Isso. – Ele sussurrou em uma proximidade perigosa, e antes que eu conseguisse entender o que estava acontecendo, ele selou seus lábios com os meus.
Depois de tanto tempo, eu percebi que sentir o seu gosto era o que eu realmente havia necessitado. Eu imaginei que se eu houvesse cedido no aeroporto, três anos atrás, e o beijado quando o vi atravessar os portões, eu provavelmente nunca teria tido a coragem de dizer o que disse e terminar tudo. Nós provavelmente estaríamos juntos naquele exato dia, e eu nunca teria de passar por tudo que passei. Porque estando ali agora, beijando-o pelo que pareceu a primeira e a última vez, eu percebi que ele era tudo o que eu mais precisei. Por todo esse tempo, era sempre ele, e sempre seria.
Eu permiti que as lágrimas escorressem livremente de meus olhos, fazendo o caminho pela minha face e juntando ao gosto doce que os lábios de possuíam. Minhas mãos seguraram seu rosto com certo desespero, procurando prendê-lo ali junto a mim para sempre. Eu senti seus braços envolverem minha cintura com violência, forçando nossos corpos a praticamente se fundirem em um só. Tudo ao meu redor desapareceu, e as únicas pessoas que existiam em todo planeta era eu e ele.
Quando o ar começou a nos faltar, nós nos distanciamos alguns míseros centímetros e eu automaticamente solucei alto. Ele me segurou com mais força, como se não quisesse me deixar escapar, e encostou sua testa à minha, mantendo os olhos fechados.
– Eu te amo. – Ele sussurrou com a voz falha e embargada. – Sempre amei e sempre vou amar.
Meu soluço foi ainda mais forte, e eu cobri minha boca com a mão na tentativa de me controlar e reprimir os futuros soluços.
– Eu só quero que você seja feliz. – Ele completou, finalmente abrindo os olhos e permitindo-me ver suas lágrimas presas ali. Ele então estendeu sua mão para mim, e eu pude ver novamente o papel que ele segurava. Eu o encarei sem entender. – Prometa que vai ler quando estiver sozinha.
Eu assenti com vários acenos frenéticos de cabeça, e ele selou nossos lábios em mais um beijo, dessa vez mais rapidamente. Quando nos separamos, ele pressionou os dedos com violência contra os olhos, e eu percebi que ele havia se permitido chorar. Em passos lentos e a contragosto, ele se distanciou de mim.
Eu escorreguei pela parede assim que ele havia sumido de meu campo de visão, sentando-me no chão e pondo-me a chorar com mais vigor. Afundei o rosto nas mãos e desejei mais do que qualquer outra coisa que ele voltasse, mas não havia barulho algum além do meu próprio choro desesperado. Tentei então me controlar e observei o bilhete que ele havia me entregado. Abri-o com pressa e tentei ler as palavras escritas através dos meus olhos extremamente marejados.

I’ll pretend that I’m kissing the lips I am missing, and hope that my dreams will come true.
And I’ll send all my loving to you.

Forever, my Cinderella.







N/A: NÃO ME MATEM!
Eu sei que quase ninguém esperava um fim desses pra essa fic, mas... não sei, sabe quando você acha que o tão costumeiro “happily ever after” é clichê demais? Sei lá. Acho que as poucas pessoas que lerem isso daqui vão me odiar mais do que já odeiam pela minha demora em att a fic a partir do capítulo 19. Mas eu realmente espero que não. E como minha Poynter beta linda disse, eu posso até pensar em escrever uma continuação pra ACS. Mas só se vocês realmente quiserem, o que eu duvido muito. Então até caso contrário, eu vou me concentrar em outras fics, e já to meio que trabalhando em uma nova, mas só não sei quando vou postar porque como eu to na faculdade agora, tá tudo meio corrido e tal. Por isso eu demorei um pouco mais do que eu tinha prometido pra atualizar, aliás.
Anyways, eu peguei duas fotos de um ator de 90210, que é exatamente como eu imaginei o Tyler, caso vocês queiram ver.
Foto 1 | Foto 2

Então, como eu disse anteriormente, logo eu pretendo postar outras fics também, e a próxima mais possível provavelmente se chamará "Endlessly", just a heads-up! :) Todas elas vão estar pelo nome “Jay”, aliás, caso vocês estejam interessadas. E eu realmente espero que vocês leiam e me digam o que acham! Apesar das minhas antigas mancadas com a ACS, eu amo escrever e amo saber a opinião de vocês. Porque também não adianta escrever e postar sendo que as histórias e a escrita são ruins, certo? So let me know what you think, please. :)

Anyways, só queria agradecer de novo por tudo. Pela atenção e pelo carinho que vocês deram à essa fic desde o começo, isso realmente significou muito pra mim (por mais que agora, falando assim, soe bem meloso e tosco.)
Desculpem-me por qualquer coisa e... well, that’s it. You guys rock pretty hard.
E AH, feliz aniversário pro FFAD! Tudo de bom pras meninas que atualizam o site porque, let's admit it, they do a pretty rocking job! :)

PS: eu mal posso acreditar que essa fic finalmente acabou. Hm. Weird feeling.


“but I’ll be fine, cuz when I die, then I’ll die loving you.”

N/B Ainda não te perdooei por esse final não, sua vaca. Apesar de que ele ficou lindo.__. Vai ver só dia 28 de maio se não vai receber um chute bem dado na bunda! Mas enfim, sabe que eu ainda te amo, né? '-' Vou ali no cantinho chorar sem o Doug, tchau.



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