I never loved nobody fully
(eu nunca amei ninguém por completo)
Always one foot on the ground
(sempre com o pé no chão)
And by protecting my heart truly
(e para realmente proteger meu coração)
I got lost
(eu me perdi)
In the sounds
(nos sons)


Parecia que aquela música tinha sido feita pra ela. Sempre chorava quando ouvia. Sempre ouvia. Sempre chorava. Sempre estava nos shows. E uma série de 'sempre'. Gostava da banda, gostava dos integrantes, só não tinha coragem de ir lá falar com eles. Perseguia a banda. Onde eles estivessem, ela estaria lá. Não que ela fosse uma desocupada. Muito pelo contrário, tinha emprego. Era paparazzi. Sim, paparazzi, a pessoa menos confiável para um artista. Mas ela gostava de correr atrás das pessoas com sua câmera na mão. Gostava de correr atrás do McFLY com sua câmera na mão.

I hear in my mind
(eu ouço em minha mente)
All these voices
(todas essas vozes)
I hear in my mind
(eu ouço em minha mente)
All these words
(todas essas palavras)
I hear in my mind
(eu ouço em minha mente)
All this music
(toda essa música)
And it breaks my heart
(e isso parte meu coração)


Fechava seus olhos para sentir a música. Sabia a letra toda de cór. E não só dessa música, como de todas. Já tinha seu lugar marcado. Sempre na primeira fila. Sempre na frente de seu ‘preferido’ da banda. “Sempre ”, como ela dizia. E mais outra série de ‘sempre’. Provavelmente, eles já tinham percebido que ela sempre estava lá, ou não. Seria bom se eles não soubessem de sua profissão.
Seu telefone tocava sem parar no meio do show. No meio de sua música preferida, “Too Close For Comfort”. Uma música bem sugestiva para sua filosofia de vida.
- ? - ouvia sua chefe do outro lado da linha.
- Eu! - gritava, para que sua chefe ouvisse.
- Você está no show do McFLY? – perguntou, também gritando.
- Sim!
- Ah! Que bom! Olha, acabamos de receber uma proposta de uma revista, para conseguirmos fotos dos meninos depois do show. Eu já consegui um passe para você, é só você falar com o segurança e mostrar sua identidade para ele que ele lhe dirá onde os meninos estão, e você vai fazer as fotos. Você está com sua câmera, não está?
Silêncio. Tentava absorver a informação. Queria saber se o que tinha ouvido era verdade, ou se o barulho das meninas gritando ao seu lado estava atrapalhando sua audição. Não acreditava que iria conhecer o McFLY.
- Alô? Você ainda está aí?
- Sim, eu estou com a câmera. - disse diretamente.
- Ah, ótimo! Faça boas fotos, que isso vai nos render muito, minha cara!
- É, muito... - disse sem jeito. - Vou desligar. Depois eu te mando as fotos!

Foram muitas informações de uma vez. Não sabia se já ia atrás do segurança ou se esperava o show terminar. Ou continuaria ali do jeito que estava, em estado de choque. Respirou fundo e, como isso poderia valer seu emprego, foi logo atrás do segurança.

Suppose I never ever met you
(suponho que eu nunca conheci você)


Foi até o segurança mais próximo e foi mais fácil do que ela pensava. Apenas disse seu nome e, antes de pegar sua identidade, ele já a deixou passar. Entrou no backstage e um dos produtores levou-a até onde os meninos sairiam, para ela fazer umas fotos de quando eles saíssem do palco. E orientou-a de que quando eles saíssem, já era pra ela segui-los até o camarim.
Teve a idéia de já ir tirando umas fotos durante o show. Onde ela estava era um ótimo lugar para tirar fotos. Os meninos anunciaram a última música e já foi se posicionando para quando eles saíssem. Só que, eles tocaram a última música, saíram do palco, beberam uma água rapidamente e logo voltaram para um famoso bis. Nesse pequeno espaço de tempo, só deu para tirar umas fotos que ficaram embaçadas e para esbarrar nela. Claro que depois que ele esbarrou nela, ela ficou feito estátua. Boba do jeito que era, estava impressionada por ter encostado nela.
Recompôs-se e voltou ao seu posto. Agora sim ela conseguiria fazer boas fotos. Dito e feito. Conseguiu fotos dos meninos saindo, bebendo água e indo em direção ao camarim. Estava concentrada, ou pelo menos tentava.
Entrou no camarim, apresentou-se e disse por que estava ali. Os meninos foram bem simpáticos com ela, mas antes que eles desencadeassem uma conversa com ela, ela pediu-os para que agissem normalmente, e assim fizeram.
Só tem um detalhe: ela mal conseguia olhar para . Nem tirar fotos dele. Parecia que era algum tipo de mecanismo de vergonha, ou sei-lá-o-quê.

Suppose we never fell in love
(suponho que nós nunca nos apaixonamos)
Suppose I never ever let you
(suponho que eu nunca deixei você)
Kiss me so sweet
(me beijar tão docemente)
And so soft
(e tão macio)


Fez todas as fotos que podia. Desde eles chegando ao camarim, até eles se trocando para ir embora. Foi convidada pelos meninos para ir antes deles tirar fotos deles saindo do local do show, entrando no ônibus, e eles ainda dariam uma carona pro hotel dela, que não por mero acaso, era o deles também.
E assim fez. Foi antes deles, juntou-se às outras fãs, esperou eles saírem do local do show, tirou fotos deles entrando no ônibus e depois entrou também. Lá, ela guardou sua câmera e sentou ao lado de e sua namorada.
Sentiu-se meio desconfortável. Além de todos terem seus ‘pares’, menos , segurar vela não era um de seus passatempos prediletos.
Pegou sua câmera e começou a ver as fotos da noite, para tentar se esquecer da situação em que se encontrava.
Sentiu alguém sentando ao seu lado e o perfume masculino tomava seu ar.
- Eu quero ver as fotos também. - disse quando ela olhou para ele.
Sorriu envergonhada e virou um pouco a câmera para também ver.
Perdeu-se nas fotos, enquanto comentava cada uma com e, em meio de risadas, viu-se na situação em que estava. Todos os ‘casais’ se beijando, como não tivesse mais ninguém ali e praticamente em cima dela, pois tentava ver melhor as fotos. Sentiu um friozinho na barriga, respirou fundo e voltou sua atenção às fotos.
percebeu o desconforto da menina e logo se manifestou.
- Que situação, não é?
- Não é uma das melhores...
- É sempre assim. Sempre eles trazem as namoradas. Sempre eu fico segurando vela. - começou a ver que sua vida era parecida com a de . Ele também tinha uma série de ‘sempre’. - Pelo menos hoje você está aqui. – disse com um sorriso estampado no rosto - Aqui, comigo. - Disse finalizando. A cara que fazia era a mais fascinante possível. Pelo menos era para .
Como num impulso, foi se aproximando do garoto e ele fez o mesmo. Esqueceu-se de todos seus ideais e beijou o garoto como nunca havia beijado ninguém. Mas não era um daqueles beijos ardentes e quentes. Era um beijo doce, calmo e macio.

Suppose I never, ever saw you
(suponho que eu nunca vi você)
Suppose we never, ever called
(suponho que nós nunca nos ligamos)
Suppose I kept on singin' love songs
(suponho que eu continuei a cantar músicas de amor)
Just to break
(apenas para interromper)
My own fall
(minha própria queda)


Depois daquilo, era só . Sempre. Sempre se viam. Sempre se ligavam. E por algum motivo desconhecido, ou até bem conhecido, sempre cantava músicas românticas. E daquelas bem bregas, como “I’ll be there for you”, do Bon Jovi.
- I'll be there for you, these five words I swear to you! When you breathe I want to be the air for you. – cantava, interpretando a letra
(Eu estarei lá por você, essas cinco palavras eu te prometo! Quando você respira eu quero ser o ar para você)
- I’ll be there for you. - finalizava.
(eu estarei lá por você)

Mas sempre é assim. E esse sempre é generalizado, pois isso acontece com todos. No começo, é tudo um mar de rosas, porém o tempo vai abrindo seus olhos.
era uma pessoa inconsequente, como já sabia, afinal, era ela que tirava as fotos das bobeiras que ele fazia. Falando nisso, esse ‘rolo’ também não ajudava nem um pouco em seu emprego. Começou a perder seu emprego para as pessoas que conseguiam fotos dos dois juntos. Afinal, quem tinha que estar tirando fotos dos ‘rolos’ de era ela e não ela ser o ‘rolo’ de .
Estava cansada. Sabia que não podia ter relações sérias, muito menos com alguém famoso. Por quê? Simplesmente porque ela é o tipo de pessoa que se cansa de tudo. Sempre. Impressionava-se com como nunca se cansava de McFLY. Talvez fosse por isso que ela nunca se aproximava deles. Quando a gente descobre que eles são pessoas também, ou o encanto aumenta, ou diminui. No caso dela, diminuiu. Preferia ser apenas a menina que tirava fotos deles da primeira fileira.

All my friends say
(todos meus amigos dizem)
That of course
(que é claro)
It's gonna get better
(que isso vai melhorar)


Sabia que tinha que terminar com tudo. E por isso terminou. E do melhor jeito possível, para ela. Pelo telefone. Ligou para , disse tudo em apenas um fôlego e no final acrescentou “Eu acho que cansei, sabe?”. Do outro lado da linha, apenas pôde ouvir um “Se é assim que você quer...”, disse tchau, não mandou beijos e desligou.
Conseguiu seu emprego de volta e as palavras de sua chefe:
- É por isso que nós só tiramos fotos dos famosos e não nos relacionamos com eles.
- Já sei disso. E por experiência própria. – dizia sem querer se lembrar de sua história.
- Não precisa ficar assim, você irá melhorar... – disse, antes de falar para seu próximo dever como paparazzi.

Os dias foram passando e sua vida “de sempre” voltou ao normal. Nada de emoções fortes, por causa daquele cara. Apenas emoções fortes por causa daquele cara, que pegou aquela mulher que não usa roupas de baixo. A vida de mudou tanto que não existia mais o “sempre”. Ao invés disso, existia “apenas”. Apenas um dia de trabalho. Apenas um show. Apenas um dinheiro. “Apenas uma vida miserável”, pensava sem parar. Sentia falta das borboletas no estômago, dos beijos e até das decepções. Não existia decepção maior do que uma vida sem emoção.

Um dia, estava andando pelas ruas de Londres com um grupo de paparazzis. Não tinha nada de “especial” para fazer, então resolveu apenas andar pela cidade com uns amigos, à procura de artistas desavisados. Pode ouvir alguns de seus amigos cochicharem e apontarem para algum lugar com suas câmeras. Devia ser mais alguma mulher sem calcinha. pegou sua câmera e virou na mesma direção de seus amigos. Foi quando entendeu o que eles estavam falando.
- Aquele nunca arruma namorada. – Um disse, tentando procurar alguém perto do menino.
- Talvez ele seja gay. – O outro disse procurando, por sua vez, um homem perto de .
- Não é! Já esqueceram que ele pegou a nossa amiga aqui? – Outro disse, apontando para , que não se movia.
- , você está bem? – O primeiro estalava os dedos na cara de . Ela “acordou” de uma transe.
- Estou bem... – Disse, chacoalhando sua cabeça como se estivesse tirando pensamentos de lá.
- Você ainda não superou, não é?
- Você tem dúvidas disso? – Ela disse friamente.
- Sinceramente, não tenho. Só queria confirmar. – Disse, voltando a apontar sua câmera para o . – Bem, com certeza vão ter que nos dar algum dinheiro por fotos de indo à floricultura.
- Hey, caras! – Um falou. – Floricultura lembra o quê?
- Oh! Ele vai comprar flores para uma mulher! – Um deles falou como se tivesse descoberto a América.
- Oh, não. – sentiu como se alguém tivesse dado um soco em seu estômago. Preferia borboletas dando uma festa lá do que se sentir socada.
- Ah, . Sinto muito – Um deles disse com piedade. – Mas é a vida! Aconteceria com qualquer um, inclusive com alguém não-famoso.
- É, eu sei... Gente, eu não estou me sentindo bem. Aproveitem as fotos do . – A menina disse, saindo de perto dos outros. Queria ir para casa, sentar e chorar.

Chegou em casa. Jogou suas coisas no sofá e foi para a cama. Não existe melhor amigo do que o travesseiro nessas horas. Deitou-se, enfiou sua cabeça no travesseiro e começou a chorar. “Tudo bem, um dia ele iria conhecer outra mulher”, pensava, “Alguém melhor do que eu. Alguém tão inconsequente quanto ele”, pensava e chorava mais ainda, “E se eu nunca tivesse terminado? Ele poderia ainda estar comigo” um pensamento egoísta veio à sua cabeça.
Ouviu a campainha tocar e foi ver quem era o infeliz que estaria estragando seu momento de infelicidade.
Abriu a porta com a cara toda inchada de tanto chorar e se deparou com um homem com um buquê de flores. Por um segundo, achou que as lágrimas teriam prejudicado sua visão. Era segurando as flores.
- Você pode ter cansado... – Ele disse, entregando as flores para . – Mas eu não me cansei.
- E o que você quer dizer com isso?
- Que eu vou te ter de volta. – Ele disse decidido.
Surpreendeu com um beijo inesperado por ela e, enquanto a beijava, entrava no apartamento da garota. , que não iria romper o beijo, deixou o menino entrar.
Era tudo o que os dois mais queriam no momento. Ter um ao outro.

Fim!


N/A
Olá :) Espero que você goste da fiction, eu fiz ela já faz um tempo... Foi inspirada na música Fidelity, da Regina Spektor, vale a pena baixar e ouvir :D
Obrigada por ler e, qualquer dúvida, comentário, xingamento ou ameaça de morte é só mandar um e-mail pra mim que eu responderei com certeza! :)
xx
Tathy

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