Gafanhoto Estragado
por Ingrid


-AAAHHH! - um grito foi ouvido do segundo andar daquela típica casa londrina.
-Dougie, o que foi? - perguntou Harry entrando no quarto do garoto, sendo seguido por Tom e Danny.
-O Zukie, ele está estranho, olha - disse Dougie segurando o lagarto - Ele está com um verde diferente.
-Como é que você sabe dude? - perguntou Danny olhando Zukie de perto. Não notava nenhuma diferença.
-Danny, ele é meu filhote, você acha que eu não iria notar? - perguntou Dougie que não parava de se mexer desesperado.
- OK, vamos levá-lo ao veterinário - disse Tom - Vem Dougie.

E assim o fizeram. Dougie e Tom foram a caminho do veterinário.
Chegando lá observaram os outros animais. Havia dois gatos olhando desejosos para um papagaio e uma aranha em uma caixa com furinhos, mas pareciam normais.
Dougie e Tom se aproximaram do balcão onde uma atendente digitava alguma coisa no computador.

-Oi, eu preciso que vocês atendam meu lagarto - disse Dougie colocando Zukie no balcão - Ele está doente.
-Sim, agora mesmo, o que ele tem? - perguntou a atendente pegando o telefone e discando uns números.
-Acho que ele comeu um gafanhoto estragado - disse o baixista.
-Gafanhoto estragado? - perguntaram Tom e a atendente ao mesmo tempo.
Dougie apenas concordou com a cabeça.
A atendente falou alguma coisa no telefone e depois continuou.
- Sim, Dra. , um lagarto - disse - De nome...
-Zukie. - Dougie sussurrou para ela o nome.
-... Zukie está com sintomas de, bem, gafanhoto estragado.
Uns segundos depois ela desligou o telefone e se levantou abrindo uma porta branca ao lado do balcão.
- Pode entrar, ela vai te atender.
Dougie entrou e Tom resolveu ficar esperando na sala.
- Hum, Doutora? - perguntou Dougie perto da porta.
- Sim, pode entrar, estou aqui. - disse uma voz mais ao fundo da sala, Dougie entrou cauteloso.
Esperava encontrar uma mulher gorda e, bem, mais velha, mas o que encontrou o surpreendeu. Ela não era a mulher que poderia ganhar o prêmio de Miss Universo, mas com certeza se sentiu atraído por ela.
Vestia jeans por baixo do jaleco branco e uma camiseta escrita “Répteis? Impossível não gostar!", seus cabelos estava presos frouxamente com um palito de madeira.
-Hum, olá. - disse Dougie se aproximando. Ela estava com a cabeça baixa em frente a uma mesa de metal com alguns instrumentos - Dra. ?
Ela levantou a cabeça com um grande sorriso.
-Me chame de - disse - Pode entrar, hum...
-Dougie. - Ele estava envergonhado com a beleza da veterinária, mas tinha que manter uma conversa, pelo bem do Zukie.
-Dougie, venha cá, deixe-me ver o Zukie. - ela disse e ele colocou o réptil na mesa - Gafanhoto estragado, heim?
-É, ele ficou assim depois que o Harry o alimentou hoje de manhã – ele explicou.
-Harry? - ela perguntou enquanto observava os olhos de Zukie.
- É, Harry é o meu amigo que dá comida ao Zukie, eu tenho pena dos gafanhotos.
- Sei - ela disse e apertou os lados da boca de Zukie fazendo ele abrir a mesma.
-Então, Dout... , o que ele tem?
-Realmente acho que foi um gafanhoto, mas não estragado, doente - disse ela colocando luvas descartáveis.
-E ele vai precisar de algum medicamento? - ele perguntou preocupado.
-Sim, eu vou - e nisso ela se aproximou de Dougie e falou sussurrando - Dar uma injeção.
-Certo - ele respondeu - Mas porque estamos sussurrando?
-Para o Zukie não ouvir, sabe, a maioria dos animais tem medo de injeção - ela explicou e voltou-se para um armário de onde tirou uma seringa descartável e preparou a injeção - Muito bem, Zukie, seja um bom garoto, não vai doer, é só uma picadinha de nada, OK?
Dougie estava acariciando a cauda do lagarto e ficou observando abobalhado aquela médica falando com seu lagarto do mesmo jeito que ele fazia.
"Ela tem olhos tão lindos" ele pensou "Hei, para com isso, ela é médica do seu lagarto, é antiético"
- Vamos lá, é agora, Zukie - ela disse e aplicou a injeção entre a perna e a coluna - Prontinho, viu, rapidinho.
Dougie acariciou a cabeça do lagarto e viu a veterinária virar-se, tirar as luvas e jogar a seringa no lixo. Ela também abriu um pote e tirou de lá um torrão marrom avermelhado que ele não sabia o que ela e colocou na frente de Zukie que comeu prontamente.
-O que é isso? - ele perguntou.
-É uma ração especial para répteis - ela respondeu.
Ele concordou, mas continuou na sala.
-Ele é castrado? - ela perguntou.
-Hum? Não - respondeu seu dono com um meio sorriso - Estamos procurando uma parceira. Não é, amigão?
- Que legal! - ela disse enquanto Dougie o colocava no ombro - Também estou procurando um parceiro.
Dougie ficou confuso.
-Hãn? - ele perguntou.
-Meu lagarto fêmea - explicou a veterinária rindo - Malina.
-Você tem um lagarto? Que legal! - disse Dougie empolgado.
A veterinária virou-se para a pia e anotou alguma coisa num papel.
- Aqui é o endereço da loja onde vende essa ração - disse e entregou para Dougie - E esse é o telefone da Malina - e colocou o papel na frente de Zukie que abocanhou - Dougie, você vai ver que o Zukie vai voltar à cor normal em uma hora, qualquer problema pode voltar aqui.
- Certo - ele disse meio abobalhado andando de costas até a porta - Obrigado.
- De nada - ela disse sorrindo - Tchau Dougie, Tchau Zukie.
Ele bateu as costas na porta, mas depois se virou e achou a maçaneta, saiu deixando um último sorriso bobo.
Encontrou Tom sentado ao lado da aranha, olhando para todos os lados, com certeza não estava nada confortável.
O guitarrista levantou-se imediatamente ao ver o amigo sair da sala. Dougie deixou 10 libras em cima do balcão e saiu porta a fora, Tom em seus calcanhares.
-Dougie, que sorriso bobo é esse? - perguntou o loiro, já no carro de volta para casa.
-Hum? Ah, não é nada – disse.
-Que papel é esse na boca do Zukie?
-Esse? É o telefone da Malina - disse pegando o papel.
-Hum, o telefone da veterinária, heim? - perguntou Tom com um sorriso maroto.
-Não, esse é o telefone da lagarta dela.
Tom ficou sem entender, mas, afinal, quem poderia entender duas pessoas que se conheciam por intermédio do acasalamento de seus lagartos?
- Bendito gafanhoto estragado - sussurrou Dougie para Zukie que mostrou a língua em um bocejo.

FIM

Agradeço a Pati por ter betado, valeu mesmo, não sei o que eu faria sem você!

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