Ipod, café e McFly By Lauss | Betada por Juu | Revisada por kaah.jones




Viajar para Londres era tudo que ela mais queria desde que começou a ler Harry Potter, acho que até antes, mas agora com McFly, a vontade aumentava. Não aceitava ter nascido no Brasil, sempre que tinha oportunidade dizia:
- Tanto lugar para nascer, tinha que ser justo aqui? Podia ser em Petrópolis, no Rio de Janeiro, podia ser em Paris, na França e, definitivamente, podia ser em Londres, na Inglaterra, mas não, eu fui nascer nesse fim de mundo e no Brasil.
Mas a tão esperada, sonhada e desejada viagem à Londres chegou, não era exatamente como esperava que fosse, mas era. O combinado era terminar a faculdade e ir para Inglaterra, ela já se considerava velha para correr atrás de seus sonhos na Inglaterra, mas fazer o quê se havia se submetido a isso? Então estava feliz, pois era a SUA LONDRES.
Ao chegar lá, queria conhecer tudo, ir a todos os lugares, como ir ao café que a J.K. Rowling ia para escrever Harry Potter, para ver se encontrava a desgraçada lá e matava ela por ter matado Sirius e Dumbledore. Mas eram tantos lugares, e tanto tempo, que ela não se decidia por onde começar. Começou pelo começo, um passeio a Madame Tussand e outros passeios culturais que a cidade oferecia, com direito a volta na roda gigante e tudo. Acontece que seu coração ainda palpitava e tinha esperanças de encontrar os garotos do McFly por lá, sabe como é, esbarrar com eles em alguma esquina, ao ir ao mesmo pub, coisas do gênero. Mas haviam se passado alguns meses e nada de nada. Ela estava se sentindo uma idosa naquela cidade, sem amigos e só fazendo passeios nos quais se encaixavam à terceira idade, bem deprimente.
Como havia conseguido uma vaga numa universidade para fazer pós-graduação, seus passeios de terceira idade se limitaram a longas jornadas de estudos e pesquisa. Tentou trabalhar um pouco sua social que estava morta há décadas na faculdade e fez bastantes amizades, mas agora mais do que nunca, sentia falta da sua calorosa terrinha, onde fazer amigos era mais fácil que estalar os dedos. Estava exausta, sem McFly, sem Harry Potter e morrendo de saudades de tudo que havia deixado para trás, sua "irmã gêmea", sua melhor amiga, sua família tudo agora fazia um sentido maior do que quando ela estava no Brasil.
Andando cabisbaixa pelo centro de Londres ouvindo música em seu Ipod, acabou esbarrando em um rapaz, virou para o lado e apenas pediu desculpas, como era seu costume, mesmo quando não havia sido ela quem esbarrava, ela se desculpava.
- Perdão!
- Imagine, o erro foi meu! – Corrigiu o rapaz – Você está bem, moça?
Ao tropeçar, ela havia derrubado seu Ipod no chão e agora tentava fazê-lo voltar a funcionar.
- Está sim, pode ficar tranquilo.
- Não, seu Ipod não está funcionando, não é?
- O quê? – nisso ela resolver virar e ver quem era a pessoa em quem esbarrara e que inutilmente tentava puxar assunto, mesmo percebendo que aquele, para ela, não era o melhor momento. Ao olhar aqueles lindos olhos , seu coração acelerou e sua mente foi para longe. Como amava aqueles olhos, era para ele que ela olhava todo dia antes de dormir, era nele que ela sonhava se afogar e nunca mais sair. Impossível, era , o seu amor, o seu destruidor de lares, era por ele que ela estava ali, era por ele que ela havia abandonado tudo e era por ele que ela chorava todos os dias, sozinha no quarto.
- Eu disse que seu Ipod deve ter quebrado quando eu esbarrei em você e ele foi para o chão, me desculpe. Como posso reparar esse meu erro?
- Um café seria ótimo! – ela disse boba. Não controlava sua boca, nem nada em seu corpo. Segurou o braço do garoto e seguiu em direção ao café mais próximo, sem dizer uma única palavra, apenas sorria.
- Ok! Se isso te fizer melhor. Mas é por minha conta!
Ela não ligava para café nenhum, fazia meses que estava ali naquela cidade à procura dele e agora que havia totalmente desistido, a sorte batera em sua porta, no caso, foi no seu ombro e isso causou uma perda irremediável que era a do Ipod, mas valia cada centavo. Chegaram ao café.
- O que vão querer? – perguntou o garçom.
- Um café normal para mim e... – esperando ela responder e, percebendo que a resposta não viria tão cedo, disse - ... um café... – antes de terminar ela acordou de seu delírio e falou.
- Um cappuccino para mim, com chantili, por favor.
- Certo! – respondeu o garçom e saiu.
- E então, como você se chama?
- , mas pode me chamar de .
- Prazer, !– ele disse quando ela faz uma careta como se diz "Você não tem um nome, tipo !?"
Obviamente que ela sabia o nome dele, como sabia o sobrenome, o nome da mãe, da irmã, a idade, a comida favorita e tudo. Mas como não tinha dado na cara até agora que era uma viciada em McFly, não estragaria tudo.
- Certo, ... Então, o que faz da vida?
Inocentemente ele pensou "Ela não sabe quem sou, perfeito!"
- Bom, trabalho com negócios...
Ao ouvir a resposta, ela quase deu uma gargalhada, mas se conteve. "Ele está mentindo para mim! Que fofo! Mas por quê?"
- Com licença! – disse o garçom colocando os pedidos na mesa. Começaram a tomar o café e conversar, ele havia inventado uma história cabeluda sobre uma empresa de sabonete algo do gênero, ela nem prestava atenção, só se continha para não rir. E ela contara a ele sobre a pós que estava vendo e que pretendia ser atriz, mas que eram planos futuros e mais difíceis do que terminar a pós em Interpretação para vídeo.
- Imagine! Você deve ter talento... – ele dizia tentando entretê-la – Bom, pelo menos deve ser melhor do que eu... – ele pensou no que havia dito e tentou se corrigir, mas sua fala era afobada – Ah... Por que a gente faz comercial e tal, e como eu sou o mais novo, faço a propaganda, nada de mais.
"Uffa! - Ele pensou - ... essa foi por pouco!", mas nesse momento ela não aguentou mais e começou a rir... AQUELA gargalhada que só a sabe dar.
- O que houve? – ele perguntou curioso – Tem alguma coisa errada?
- Não, imagine, está tudo certo... Só estou achando engraçado você inventar tudo isso... , do McFly... AH espera... Ou será empresário de sabonetes ou sei lá o que for o que você inventou.
Os dois começaram a rir desenfreadamente, ele não esperava por essa, mas pensou como ela tinha sido engraçada e havia conseguido enganar ele direitinho, para uma fã até que ela era muito simpática, e na verdade muito bonita, de uma beleza diferente, era muito alta na verdade e seu cabelo tinha umas mexas rosas, com isso acabou concluindo.
- Você não é daqui, não é? – perguntou ele tentando mudar de assunto – Seu sotaque não é britânico, mas também não é americano. – ele tentava juntar as peças.
- Eu sou brasileira... – ajudou ela – Mas estou aqui para ficar... Nunca fui muito fã do Brasil, mas recentemente tenho tido saudades, mas acho que elas passaram.
- Como assim passaram? – perguntou curioso, belo sorriso bobo dela, aquilo tinha dedo de McFly e ele agora queria saber quais eram os podres dela como fã, já que ela tinha pegado ele numa mentira deslavada.
- Ah, ué... Passando! – ela ria, sabia que ele queria tirar informações preciosas dela, mas ela não abriria a boca... Não até ter certeza. – Liguei para minha mãe essa manhã! – mentira... Mas quem saberia?
- Ah, tá! – disse desanimado, havia perdido a oportunidade.
Terminaram o café e saíram dali ainda conversando, olhou no relógio e viu que estava quase atrasada para a aula. Desesperada, se despediu, e saiu correndo. Mas assim que ela saiu, percebeu que não havia pego nenhuma informação a mais da menina, isso era triste, ela era tão simpática e tão bonita.
A aula da garota havia sido maravilhosa naquele dia, só pensava em e seus esforços foram dobrados de tanta empolgação, como teria sido possível, para ela, aquela cidade estava morta e agora ela ganhara novos ares, parecia que ela havia voltado aos seus 17 anos e tinha apenas 19. Acontece que nem tudo são flores, ao acabar a aula, se deu conta que havia saído tão correndo que não anotara nenhum telefone, nem endereço, nem nada.
- Você tinha que ser tão impulsiva!? – falava para si mesma querendo se jogar na frente do primeiro carro que passasse e foi isso que fez, o único dia que tinha sido maravilhoso naquela cidade gelada, havia sido aquele e a única coisa que restara era um Ipod quebrado.
- SUA MALUCA! – gritou um cara se desviando da menina.
"Que droga, nem morrer eu tenho direito!" ela pensava enquanto voltava para casa. Chegou a seu apartamento e se desesperou, nunca mais veria . Viver sabendo que ele existia e não sabia da existência dela era uma coisa, viver sabendo que ele existia e que ele sabia que ela existia e que eles haviam passado uma tarde juntos era MUITO PIOR! "Essa porra de apartamento nem para ter uma sacada para eu pular! Que drogaaaa!"
"Por que ela tinha que sair correndo..." - se remoía - "será que se arrependeu de ter me conhecido pessoalmente? Ficou chateada por causa do Ipod? Ah, cara, que bosta!" Estava muito chateado, como havia perdido ela.
Passado vários meses e todas as tentativas de se matar haviam sido falhas, resolveu colocar um ponto final naquilo e desistiu de procurar por ele. E com ele havia sido o mesmo, não a parte de tentar se matar, mas resolveu desistir de achá-la na cidade. "Nem para ela falar onde estuda!"
Por motivo de força maior, teve que comprar outro Ipod, viver sem e sem música era impossível, estava andando no centro e, como sempre, olhando para os pés, cantando a música o mais baixo que podia, mesmo seu baixo sendo alto, quando de repente esbarrou em alguém, seu coração foi para boca, só podia ser.
- Me desculpa! – falou olhando rapidamente para a pessoa.
- Imagine... – dizia um rapaz que continuou a andar e sumiu na esquina.
"Aff! Que idiota achar que iria me encontrar com ele novamente...", quando deu seu primeiro passo ouviu uma risada, a reconhecia, mas como estava com fone achou ser da música e continuou andando e cantando.
- Vocêdeviaolharporondeanda! – ela ouviu alguma coisa falando com ela, tirou o fone e virou para ver quem segurava seu ombro.
- Você devia olhar por onde anda... Senão vai quebrar outro Ipod... – dizia rindo – Ou você é muito desastrada, ou você é um perigo para qualquer pedestre e Ipod – brincando, tirou o Ipod da mão da garota e continuou – Amiguinho, eu te protejo dessa maluca que fica cantando no meio da rua e tropeçando nos outros só para eles convidarem ela para ir tomar um café e tadinho, você sempre é a cobaia que vai para o chão, né, não chora eu te entendo!
- Você! – dizia ela feliz – Como? O que você ta falando... Tá maluco? – entrando na brincadeira, pegou o Ipod de volta e falou – Ele não bate bem, acha que você pode escutar ele, pobre coitado.
- Bonitinha! – ele falou com um sorriso meio bobo, o que deixou roxa de vergonha, queria sumir, mas dessa vez se fosse fazer isso iria pedir o telefone. – Você não tem idéia de como te procurei pela cidade, você se esconde menina...
"O quê? procurou pela minha pessoa? SONHO!" pensava ela enquanto vegetava.
- Bonitinha, você está me ouvindo? – ele estava falando e ela não tava nem mais aqui. – Eu achei que você sendo assim alta... Com esse cabelo rosa, seria fácil de achar, até parece.
- Bom, nada tema querido, seu anjo da guarda está aqui novamente... – dizia ela rindo e dando uma piscadinha para ele. "Cara, da onde saiu essa menina, só pode ser um anjo" pensava , enquanto pensava "Se controla, , se você falar mais uma abobrinha dessas hoje, eu te mato... ah, pera!".
- Que maravilha... Porque eu senti falta dele... – ele ia dizendo isso e se aproximando, o coração de ia sair pela boca, sua barriga dava golpes de karatê de felicidade, mas temia aquela aproximação, na verdade ela o desejava tanto que temia não ser correspondida aquele ponto, então, afastando, falou:
- E aí, rola um cafezinho? Tomar ele sem a sua companhia não tem graça... – ela estava com vergonha e ele sem graça por ter sido cortado num momento tão "quase lá". "Será que ela não gosta de mim? Mas ela disse aquilo, mas..." ele estava perdido em pensamentos quando, reparando na situação, corrigiu seu erro e aproximando-se dele, o beijou.
- Meu Deus, eu aqui achando que você não queria nada e você aí guardando o jogo... Sua safada! – ele ria e voltava para beijá-la novamente. Dessa vez ela não iria fugir, só ele conseguia a fazer voltar no tempo se sentir criança e se sentir feliz, se sentir quente no meio daquela neve, se sentir amada naquele país solitário. – Acho que o café agora não seria um bom lugar para gente... Só se for pra tomar algo gelado, porque quente já está... – continuava , que envergonhava ainda mais e com isso a beijava mais. "Como ela é linda envergonhada!"
- Bom eu acho que milk-shake seria ótimo, mas eu tenho que ir para aula... - então os dois, ao mesmo tempo, falaram:
- Qual o seu telefone? – e riram novamente, eles não queriam se perder novamente, achar a segunda vez já foi sorte, a terceira seria impossível.
- Na verdade... – disse – Hoje eu estou livre, posso te acompanhar a essa aula?
- Claro! – sorria cheia de felicidade – Mas você não se importa de esperar lá?
- Imagine, minha linda, por você eu espero para sempre, eu esperei mais de anos para te achar uma vez, mais de meses para te achar a segunda, realmente não quero te perder tão cedo... Mas vamos, você vai se atrasar. – segurando em sua mão e entrelaçando seus dedos, foram andando até a faculdade de , aquela noite prometia muito, aquela cidade prometia muito, aquele garoto prometia muito, SERIA UM SONHO?!

comments powered by Disqus