Escrita por: Paula
Betada por: Abby




Era uma vez... Eu. Estudo na John Adams, uma popular escola aqui da área. Ah, esqueci. Meu nome é , . Amigos? Não tenho. Por quê? Não sou a pessoa mais certa para explicar isso. Pergunte para a , para o , ou para algum dos populares em geral. Eles podem ser mesquinhos, mas pelo menos são tratados como pessoas normais. E não só como pessoas normais, como superiores, mas isso não vem ao caso. Pode até vir, é, vem sim. Se você reclama da sua vida na escola é porque ainda não viu a minha.

Flashback

- Dever de física, química, matemática, português... – Eu ia contando os inúmeros deveres que tinha pra fazer. Eu gosto de fazer dever, mas só um pouco. Ok, eu gosto de fazer dever. É a única coisa que eu tenho pra fazer. Eu sou sedentário, não tenho amigos e a minha mãe é um pé no saco. De certa forma, eu afogo minhas mágoas nas enciclopédias empoeiradas dela. Talvez seja por isso que sou tão inteligente assim, modéstia à parte.
- Ah, minhas unhas estão... Horríveis! Tenho que marcar manicure URGENTE! – Passava uma criatura na minha frente, encarando suas unhas e fazendo uma cara de quem comeu e não gostou. Como é que uma pessoa vai se preocupar com as suas unhas, enquanto vários povos passam fome ao redor do mundo? Eu simplesmente não entendo. Eu olhando para os meus livros e ela encarando suas unhas... Logo esbarramos. Mas não foi um simples esbarrão, todos os meus livros caíram. Com o impacto e a cara dela, deu pra ver que eu consegui quebrar a sua unha, ou alguma parte de seu corpo.
- Desculpa, eu ‘tava concentrado nos meus livros. – Recolhia meu material com a cabeça baixa, não quis nem encará-la para não expor minhas opiniões até então ocultas.
- DESCULPA? OLHA AQUI SEU NERD DE MEIA TIGELA, VOCÊ... VOCÊ QUEBROU A MINHA UNHA! – Ela dava o maior escândalo, como se eu tivesse quebrado... Sei lá, a coroa da rainha da Inglaterra. Garota fútil. Futilidade me irrita. – VOCÊ ACABOU DE IRRITAR , A GAROTA MAIS POPULAR DA JOHN ADAMS! VAI SE ARREPENDER DE TER NASCIDO.
- Nossa, garota, foi só uma unha. E você, que conseguiu misturar todos os meus projetos? – Bom, eu também estava distraído, mas não ia dar esse gostinho para ela, digamos, para a . Estava afim de irritá-la, mas aquele ataque de histeria já estava me vencendo.
- SÓ UMA UNHA? GAROTO, DEIXA DE SER IDIOTA! EU IA MARCAR MANICURE HOJE, QUER DIZER... EU VOU, MAS OLHA O ESTRAGO QUE VOCÊ FEZ NA MINHA UNHA! – Ela estava ajoelhada no chão que nem eu, só que, diferente de mim, estava vermelha de raiva. Então me levantei com meus livros e estendi a mão para ela, que me olhou fazendo um careta.
- É melhor se levantar, senão vai perder a sua aula. – À essa hora o sinal já havia tocado, e várias pessoas caminhavam pelo corredor sem nem repararem na obstrução causada por mim e por aquela... Patricinha.
- Não preciso da sua ajuda. – Ela se levantou ligeiramente e saiu andando sem nem olhar pra trás. Sinceramente, eu me senti um pouco rejeitado. ‘Tá certo que isso é ridículo, eu sou rejeitado sempre, mas nunca tinha presenciado uma situação dessas. Foi aí que eu conheci a .

Fim do Flashback

Eu não sou muito chegado a ninguém, muito menos a ela. Esse infeliz episódio aconteceu na minha primeira semana de aula aqui na John Adams, a semana mais difícil para muitos aqui, mas não para mim que já sabia meu destino. Era a mesma coisa, todo dia.
- ‘Tô atrasado, ‘tô atrasado. – Olhava as horas no meu relógio. Na verdade era do meu pai, que havia falecido há poucos meses. – Vamos ver, as próximas aulas são física e literatura. – Pensava comigo mesmo enquanto abria meu armário. Reparei algumas risadas, mas não me importei, aquele dia estava relativamente bom e nada ia estragá-lo. Me enganei. – MEU MATERIAL! – Gritei, quando vi uma quantidade muito grande de cola derramada sobre meus materiais. Havia estragado tudo: Deveres, livros, cadernos... Me bateu um ódio na hora, mas resolvi me controlar, não queria me ferrar mais ainda.
- Gostou da surpresa, ? – , o garoto mais idiota, mesquinho, retardado e popular da escola ria da minha cara junto com seus amiguinhos, Jason e Jack.
- Não, não gostei. – Falei, revirando meu armário e procurando os livros das aulas seguintes naquela enorme poça de cola, enquanto escutava piadinhas das pessoas que passavam.
- Que pena, fiz especialmente pra você! – Foi aí que aquele neanderthal deu um tapa nas minhas costas. Foi tão forte que sinto a dor toda vez que me lembro.
- Sai daqui, idiota. – Não me controlei e olhei para aquele rosto com um olhar desafiador.
- Como se eu fosse te obedecer... – Se debatia de tanto rir. – Ah, aproveitando o momento, faça meu dever de física para amanhã. Melhor não se esquecer, ! – E saiu andando. As três animadoras de torcida que sempre os acompanhavam passaram por mim, entre risinhos abafados. Menos , ela me olhou com um rosto abatido, e logo depois saiu andando. Tinha alguma coisa muito estranha com ela. Na maioria das vezes, eu era zoado pelas amiguinhas dela, e ela ajudava. Quer saber? Esse relato me fez lembrar da “grande experiência” de conhecer o .

Flashback

- Passa pra mim, pra mim! – Eu gritava no meio daqueles grandalhões do time de futebol. Não sei o que estava fazendo ali pedindo pra levar porrada. Mas enfim...
- Sai da frente, idiota! – Um sujeito que, comparado a mim, era igual ao Silvester Stalone comparado ao Adam Sandler, me atingiu pelas costas. Sinceramente, nunca senti tanta dor na minha vida. Sim, doeu mais que o tapa que eu levei dele.
- Ai... – Quando me dei conta, estava deitado em algum lugar e sentia muita, muita dor. – O que aconteceu? – Perguntei, examinando ao meu redor.
- Você morreu. – Uma mulher baixinha, com um uniforme branco, cabelos ruivos e crachá com o nome ‘Megan’ falou, com uma voz tão fina, que quase me ensurdeceu.
- Sério? Droga, antes de morrer eu queria ganhar o Prêmio Nobel da Paz. – Lamentava tudo o que não tinha feito enquanto estava “vivo”.
- Não, não é sério. Você está na enfermaria da escola. Acontece que o estava tentando marcar um ponto no jogo de futebol americano e você estava no meio do caminho. Precisava ver a sua queda. Desmaiou e teve que vir pra cá carregado pelo time.
- Não precisava. Ficaria com pena de mim mesmo. – Falei, incrédulo.
- Temos que passar um anti-inflamatório nesses machucados... – Ela passava um algodãozinho nas minhas feridas.
- ‘Tá ardendo, ai, ai, ai! – Eu agüentava firmemente a dor. Afinal, não existe dor para homens fortes. Ta, cansei de bancar o durão, ‘tava doendo, muito mesmo.
- Pára, menino! ‘Tá parecendo um garotinho da segunda série! – Ela reclamava enquanto continuava passando aquele maldito algodão em mim.
- Desculpa... É que ‘tá doendo um pouquinho. – Me desculpei.
- Um pouquinho? Meu Deus, parece que estou jogando sal nos seus machucados. Se continuar reclamando assim, vão pensar que estou te machucando. – Ela disse. Bom, de certa forma, estava sim. Mas já que era para o meu bem (ou eu pelo menos achava que era), não podia ser considerado um machucado.
- Ok, me deixa sair daqui, preciso retomar às minhas aulas. – Me levantei devagar, precisava sair dali, aquela sala me dava medo.
- Quem disse que você vai? Está suspenso das aulas até que melhore. – A enfermeira disse com um sorriso de orelha a orelha. Sinceramente, não entendia o fato engraçado dessa história. Passei uma semana sem aulas, foi até legal.

Fim do Flashback

Mas como tudo que é bom dura pouco, lá estava eu, sendo zoado de novo. Aula de química, teatro... Tudo num dia só. Na educação física, parei para descansar, estava precisando urgentemente de uma folguinha. Escrevendo crônicas no meu laptop, notei a presença de alguém ao meu lado, e virei-me para olhar. Foi uma surpresa. Era a .
- Se for para me humilhar, volte depois. – Depois de avistar o rosto dela, voltei minha atenção para meu relatório.
- Não é pra te humilhar, eu vim pedir desculpas. – Ela falou pra mim e pareceu bem arrependida. Ah, como eu sou trouxa. Claro que era mais uma pegadinha, ia usar esse diálogo para me humilhar depois.
- , tenho coisa melhor pra fazer. Me deixa em paz. – Afastei-me dela rapidamente, sentando um pouco mais longe, e percebi que ela estava chateada, ou pelo menos parecia estar. Ótima atriz, começou a me convencer, mas logo caí na real. A vi saindo dali sozinha e dispensando suas amiguinhas. Nem liguei. Ta, eu liguei um pouquinho sim. Acho que ela não estava fingindo.

Os outros dias prosseguiram normalmente e eu sempre notava aquela expressão no rosto de . Fingia não me importar, mas me importava. Por que estava levando aquilo tudo tão a sério? De todas as humilhações que me causou, nunca veio se desculpar. Isso era estranho.

- , eu... Eu queria pedir desculpas por ter sido frio com você aquele dia, eu pensei que você estivesse fingindo, porque você nunca me pediu desculpas... – Estava com vergonha. Ela estava triste sim, não era fingimento. Estava me sentindo um idiota.
- Tudo bem, . Acontece que... Bom, na verdade eu não sou do tipo deles. Quando cheguei aqui na John Adams, eu era excluída. Queria popularidade, muita popularidade, foi então que me envolvi com o . Namoramos por um tempinho, e eu mudei totalmente meu estilo em função desse desejo de ser contemplada. Com o tempo, eu fui me transformando, e olha aonde eu cheguei, eu sou uma víbora! As garotas me odeiam, eu tenho vergonha de mim mesma. Finjo me sentir superior, por isso menosprezo os outros. – As palavras saíam da boca dela como uma avalanche, era um desabafo daqueles, e eu escutei cada detalhe.
- Calma, ... – A acolhi com um abraço. Nossa, como ela é diferente! Nunca imaginei que ela fosse assim. Foi uma surpresa.
- Aquela turma é horrível eu não agüento mais, ! Eu não tenho amigos, nenhum amigo mesmo. – Com os lamentos ela acabou chorando, e eu a abracei mais forte. Que pena daquela garota, ela demonstrou todo o seu sofrimento naquela hora, e eu entendi perfeitamente.
- Claro que tem! Você tem a mim. – Eu sorri.
- Você não vai querer ser amigo de uma menina arrogante que nem eu...
- Vou sim, mas essa menina arrogante não deve ser uma menina arrogante de verdade. Aposto que é uma pessoa maravilhosa, só tem medo de se mostrar. Você não precisa deles, . Eles têm que gostar de você pelo que é, não pelas roupas de marca e unhas rosas. Amanhã eu te espero aqui na porta, ta? Lembre do que eu te falei. – Sorri e acenei para ela, enquanto desencadeava minha bicicleta.

No dia seguinte, lá estava eu, na porta da escola esperando a . Concentrado em meus livros, nem percebi a chegada dela.
- Adivinha quem é? – Alguém tampou meus olhos.
- Hum... A nova ? – Segurei as mãos e as tirei dos meus olhos.
- Acertou! – Me deparei com uma menina totalmente diferente. estava com a camiseta do Aerosmith, calça jeans, all-star, cabelo relativamente bagunçado e lápis nos olhos.
- , você ‘tá linda, cara.
- Valeu, ! Agora vamos, senão vamos perder a primeira aula. – Ela me puxou pela mão. Não tinha caído a ficha ainda. Eu era amigo da e ela estava ali, totalmente mudada, me puxando pela mão. Quem diria, hein, ? Conseguiu mudar uma pessoa. Acho que vou ser psicólogo.

Quando chegamos na sala, todas as atenções se voltaram para a gente. Era como se fôssemos dois aliens. Foi então que se aproximou.
- ? – Ele perguntou, a examinando por inteiro.
- Aham, sou eu mesma. – respondeu, cheia de si. No fundo, eu sabia que ela estava insegura. Para ela, isso era totalmente novo, acho que tinha consciência de que iria sofrer preconceito, mas era corajosa, isso que eu admirava nela.
- Por que ‘tá assim? E por que ‘tá andando com ele? – começou a rir, logo arrancando risadas de todos ali presentes.
- Eu não estou assim, eu sou assim. Por muito tempo banquei a patricinha, mas me fez enxergar que não sou assim. Esse é meu jeito, esse é meu estilo. O é a única pessoa que presta nessa escola. Ele não é estranho, não é um perdedor. Ele só é ele mesmo, o que muitos vocês não são, e quer saber? Eu me orgulho de andar com ele, porque ele é um amigo de verdade. Essa escola é cheia de falsidade, de inveja, mas eu ‘tô cansada, quero fugir desse mundinho. Não quero popularidade, só quero amigos. – expôs as suas opiniões, e eu fiquei ali, admirando. Era impressionante.
- Wow, que medinho de você! - zombou. Nesse momento, fiquei com tanta raiva que parti pra cima dele. Obviamente eu perdi, mas pelo menos eu tentei.
Depois de levar muitos chutes e socos, acho que fiquei inconsciente. Só sei que acordei e me deparei com a acariciando meu rosto.

- Ai... – Reclamava de dor.
- Até que enfim você acordou, ! – Ela me abraçou, parecia bem feliz.
- Cadê o ? Eu acabei com ele, né? – Eu sorri vitorioso.
- Não exatamente... Na verdade, ele te bateu até você desmaiar. – lamentou, acho que não queria que eu soubesse. – Mas isso não importa, eu achei lindo o que você fez por mim.
- Eu não ia deixar aquele idiota zombar de você. – Me gabei. Eu realmente não tinha motivos para me gabar, afinal tinha sido massacrado pelo e sou um fracote menosprezado.
- Obrigada, . – Ela deu um sorriso de canto. – Acho que não merecia isso.
- Merecia sim, claro que merecia. – Retribui seu sorriso. – Agora vamos, quero sair daqui. – Levantei-me da maca e a puxei pelo braço.

Alguns dias se passaram e a impressão era de que eu e estávamos cada vez mais unidos, e descobrindo segredos um do outro. Foi quando, na saída da aula, paramos no portão e nos entreolhamos.

- Você... Você mora aqui perto? – Cocei a cabeça. Eu faço isso quando estou com vergonha. Na verdade, nem sei porque estava com vergonha.
- Moro sim, na rua 27. – Ela notou a minha insegurança e riu da situação.
- Eu também... – Contei para ela. Era o máximo morarmos na mesma rua, podíamos nos encontrar, estudar juntos... Ah, por que estou pensando isso? Não importa. – Então, vamos juntos? – Sugeri.
- Claro! – E fomos andando.

O caminho foi longo, e íamos conversando sobre assuntos diversos. Engraçado que, toda vez que o assunto fugia, eu ficava com vergonha. Provavelmente estava um pimentão, mas não importa também.

- Então... Está entregue. – Sorri de canto. Aquele sorriso galanteador, sabe? Faço qualquer garota se derreter por mim. Pára, , que saco.
- Obrigada. – Ela beijou minha bochecha. – A manhã foi ótima...
- É mesmo.
Ficamos nos entreolhando por um tempo, e logo estávamos envergonhados.
- É... É melhor eu ir. – apontou para a porta.
- Eu também... – Apontei para o portão.
- Tchau!
- Tchau!

O caminho até a minha casa (na verdade eram só oito lotes) foi longo. Pensei nas coisas que aconteceram, na , no meu cachorro, na minha mãe... Pensei em tudo que podia pensar, mas isso NÃO importa. ‘Tô cansado de falar coisas idiotas, parei de filosofar. Não, não posso parar, senão a história acaba. Mas enfim...

- Ufa. – Deitei na minha cama, fitando o teto. O que eu estranhava era que nesse tempo que passou, consegui descobrir algumas coisas sobre , e era como se nós nos conhecêssemos há anos. Quando estava com ela, meu coração dava pulos estranhos, mas eu não ligava, devia ter problema cardíaco, e se não tinha morrido ainda, não havia problema algum.

A tarde foi longa. Na verdade, pra mim, todas as tardes são longas. Mergulhado naqueles pensamentos todos, acabei dormindo, o que fez com que o tempo passasse mais rápido. Quando acordei, não hesitei em ligar para a .

- Er... ?
- Hey, matador, como vai? – me chamava de matador desde aquela briga com o . Para ser sincero, estava muito longe de ser um matador, e sim um derrotado. Mas se ela gostava de me chamar assim... Eu não me importava.
- Vou bem, e você, pitoquinha? – Está aí o apelido que dei para ela. Pitoquinha. Não sei ao certo porquê, só sei que me veio a cabeça e resolvi chamá-la assim.
- Estou ótima.
- Que bom. Então... ‘Tá livre?
- Agora? ‘Tô sim, eu acho.
- Ok, onde você ‘tá?
- Na Starbucks.
- Certo, não se mova nem um centímetro, estou indo.
- Er... , é que...
- Tchau, !

Peguei meu carro e fui até lá. Estacionei e entrei na lanchonete sorridente. Meu sorriso foi para o ralo quando vi aquela cena. Aquele filho da égua do dando o maior beijo na ! Estavam tão entretidos que nem notaram a minha presença. Não ia deixar isso passar em branco. Na verdade, eu não sabia porque estava com tanta raiva dos dois. Quando via a se agarrando com ele no campo, nem ligava. Mas agora era diferente. Andei até a mesa onde os dois estavam e fiquei assistindo à cena.

- Que bonitinho vocês dois! – Dei um sorriso sarcástico. A fez aquela cara de novela mexicana, de arrependimento, quando o marido descobre que foi chifrado com um motoboy, ou algo parecido. Era assim que eu me sentia. Sei que não tinha nada com a , mas a minha raiva só aumentava naquele momento.
- , eu... – Ela se levantou, mas eu fui mais rápido, saí correndo e entrei no carro.
- EI, GATA, E A CONTA? – gritou. Eu ri da situação da , que o respondeu com um “Vai se ferrar!”, mas estava mal. Pensei que ela gostasse de mim, e que tinha parado de se envolver com esses ridículos, mas parece que vai continuar a mesma. Vai voltar a usar seus tubinhos rosas e suas sandálias de plataforma de 10cm. Que se dane também. Prefiro ser rejeitado sozinho do que ser rejeitado com uma amiga falsa.

Acelerei, queria sair dali o mais rápido possível e talvez nunca mais olhar na cara da . Estava revoltado com todo mundo. Dei uma parada na praia, precisava descansar. Deitei na areia e olhei o céu. Estava anoitecendo, algumas estrelas já estavam no céu. Fiquei ali muito tempo, e acabei dormindo, ouvindo aquele barulho das ondas, que era relaxante. Dormi muito, quando acordei já estava amanhecendo, deviam ser umas 6 da manhã. Não estava afim de ir para a escola e encontrar , então resolvi ir para casa. Chegando lá, fiquei vendo a maratona de CSI que estava passando, até que a campainha tocou. Quase me rastejando, fui atender. Olhei pelo olho mágico, tive vontade de comer ração de cachorro. ‘Comer ração de cachorro’ é uma expressão que eu uso quando eu to com raiva. Pra não ser mal-educado, atendi.

- Fala.
- ? – Era , na maior cara de pau.
- Ele não ‘tá. – Ia fechando a porta, mas ela segurou.
- Claro que ‘tá, foi ele que falou. Acha que eu sou otária, é?
- Acho.
- Matador, eu sei que você ‘tá com raiva de mim, mas...
- NÃO ME CHAMA ASSIM!
- Ta, olha, , eu tentei te avisar, desculpa, você é meu melhor amigo, ver tudo desmoronar não é uma das situações mais agradáveis.
- Bom, ver você beijando ele nem foi nada... – Tossi. Droga, tinha entregado o jogo! Burro, Burro, Burro, , sua anta! – O problema foi... O ! Você sabe que ele só gosta de você pelo que tem e pela beleza!
- , eu sei, foi um momento de fraqueza, só isso! – Ela tentava se explicar, mas não estava funcionando. Então vamos lá... Eu tenho um momento de fraqueza e pego a vizinha? Isso é um momento de fraqueza. Já sei, acho que nasci com OTÁRIO escrito na testa.
- Momento de fraqueza? , me deixa sozinho, por favor. – E já ia fechando a porta, quando ela abriu e encostou os lábios dela nos meus! Caraca, vou ligar aqui o meu processador, eu estava beijando a ! Ela puxava meus cabelos e enroscava sua língua na minha. Opa, ‘tava ficando quente! A gente se deitou no sofá e ela mordeu meu lábio. Aí, foi a minha vez. A gente ‘tava naquele amasso, não queria que parasse! Eu, aproveitando o momento, passei a mão na bunda dela, e tipo, ela deixou! , você é O cara. Minha mãozinha ingênua ficou lá, enquanto o beijo se tornava mais intenso. Ela arranhava minhas costas e beijava meu pescoço. A beijava bem, cara. ‘Tava no céu. Acho que morri na hora.

- ... – Ela disse ofegante.
- ... – Eu respondi, sem reação.
- Tenho que ir embora. – Ela me deu um selinho.
- Ok, te vejo amanhã na escola. – Eu disse. afirmou com a cabeça, saiu de cima de mim e caminhou até a porta, a abrindo, piscando pra mim e saindo.

Nisso, eu fiquei horas abobado, não acreditava naquilo. Então eu, , peguei a garota mais gata da escola, é isso? Hum, acho que sim. No dia seguinte, estava eu, esperando no portão.

- Hey, docinho. – E me deu um selinho. Eu estava em transe mesmo...
- Oi, ... – Sorri para ela, que me retribuiu. Resolvi arriscar, e segurei a mão dela. Ela respondeu bem, não se soltou e ficamos andando de mãos dadas por todo o colégio, atraindo olhares por onde passávamos.

O sinal tocou e fomos para a nossa sala, que por coincidência, era a mesma. Sentamos lado a lado e trocávamos olhares o tempo todo. Eu estava muito feliz, não acreditava que era eu, ali.
A aula estava tão chata... Eu estava afim de agarrar a de novo, ela estava sexy naquela roupa. Não, , pára! Parei, parei. Mas eu ‘tava falando a verdade...

- Turma, temos um aluno novo na classe, e gostaria de apresentá-lo a vocês! – Sra. Harrison falou, com aquela voz animada, às vezes dava raiva. Parecia que a mulher tinha ganhado na loteria todo dia! – Entre, . – Puxou um menino pelo braço. Ele era alto, tinha os cabelos castanhos e bagunçados, uma camisa de gola listrada, uma calça jeans e um sapato social. Bem formal, eu pensei. – Pessoal, esse é , o novo aluno. – deu um sorriso amarelo, que despertou piscadelas, risadinhas e cochichos das meninas. Menos . Ela olhava abobada para , como se tivesse um rei ali. ‘Tá certo que ele era mais bonito que eu, mas... E o que tinha rolado antes? Eu gostava da .

- Sr. , sente-se ao lado da Srta. , por favor. – A professora apontou para o lugar vago ao lado de , o que me fez olhar para ela com os olhos cerrados. - Algum problema, Sr. ? – Ela perguntou, em tom debochado.
- Nenhum, professora. – Fingi um sorriso.

sentou ao lado de e os dois ficaram entretidos numa longa conversa durante a aula toda. Quando o sinal bateu, ela foi até minha carteira puxando pelo braço.

- , esse aqui é o . – Ela sorriu, olhando para o menino.
- Eu sei. – Eu disse, arrumando meu material sem nem voltar a minha atenção para os dois.
- Er... Oi, . – sorriu sem graça para mim, que olhei sério.
- Oi, . Vamos, ? – Dei um selinho nela, o que o deixou extremamente envergonhado.
- Amor, me desculpa, mas eu vou acompanhar o até em casa, ok?
- ‘Tá, tudo bem. – Aquela hora, eu acho que fiquei roxo de tanta raiva. Então quer dizer que é só um novato filhinho-de-papai chegar que a já fica toda caidinha? HAHA. Eu devo ser idiota mesmo. Com o meu ciúme atacando, resolvi seguir os dois. Fui me escondendo em arbustos, atrás de muros... Estava nervoso, mas tinha que descobrir se a tinha me usado, e agora ia ficar com o .

- HAHA! , você é uma figura! – ria sem parar. Que diabos o ‘tava contando pra ela? Eu nunca vi aquela guria daquela cor.
- Eu sei, gatinha, eu sei. – Ele deu um sorriso galanteador, que a deixou sem graça.
- Então... Acho que a sua casa é aqui, né? – Eles pararam em frente a uma mansão com os portões dourados e um imenso jardim. Ele pegou um controle no bolso, apertou um botão e as portas se abriram.
- Quer entrar? – piscou para ela. Que canalha! Tive vontade de voar em cima dele, mas me controlei.
- Não, não precisa, eu vou encontrar o e... – gaguejou, vendo que se aproximava.
- E...? – sugeriu, sorrindo maroto.
- Deixa pra lá. – Eles se beijaram e foi AQUELE amasso, quase que os dois faziam intimidades no meio da rua. Meu Deus, vou matar os dois! Quem aquele filho da puta pensa que é pra beijar a minha ? Eu só me fodo, impressionante. Eu sei que não tinha nada com a , mas ontem mesmo a gente estava se amassando no sofá, e agora é só chegar um novato que ela já parte pra cima? Essa menina... Atravessei a rua na maior tranqüilidade e passei pelos dois discretamente. Quando vi a cena, fingi surpresa e tossi, fazendo e me olharem.

- Desculpa, não queria atrapalhar! Podem continuar que já estou indo. – Fui sarcástico. Queria que a visse a merda que ela fez.
- , volta aqui! – Ela deixou no vácuo, enquanto corria e gritava atrás de mim, sem resposta. Chamei um táxi e fui embora.

Cheguei em casa arrasado, de novo. Eu estava com vontade de ME matar e de matar todo mundo. Por que a fez isso comigo? Dessa vez ela não bateu na porta. Acho que ela ficou com tanta vergonha que não quis me ver e pedir desculpa. Tive uma idéia. Ia fazer se arrepender por cada gota de saliva que tinha trocado com e .
No dia seguinte, peguei a minha calça e a minha blusa preta, coloquei uma jaqueta de couro, baguncei o cabelo, pus óculos escuros e fui para a escola. Ao chegar, todos os olhares se voltaram para mim. Reparei que um grupo de meninas me olhava e cheguei perto.

- Oi, gatinhas. Como vão?
- Melhor agora! – Uma delas respondeu, se pendurando no meu pescoço. – Meu nome é Rebecca, Rebecca Madison, mas pode me chamar de Becca.
- Prazer, eu sou , mas pode me chamar de , gata. Quer dar um rolé? – Perguntei, levantando os óculos e dando uma piscadela para Rebecca.
- Claro, gato! – Ela me deu a mão e fomos andando pelo colégio, atraindo olhares. Pra mim, só me exibir não bastava. Quando vi e entrando no corredor, encostei Rebecca no meu armário e comecei a beijá-la, que nem os dois fizeram no dia anterior.
- Oi, ... – apareceu com um sorriso, que logo se desfez quando viu o amasso que estava dando em Rebecca.
- Oi... – Parei o beijo, ofegante, respondi para ela e retomei com Becca, até o sinal tocar. Pedi para a garota me esperar na saída que a levaria em casa, e ela concordou, me dando um selinho demorado.

Entrei na sala e sentei-me bem longe dos dois. Várias garotas davam mole para mim, e eu apenas as tentava. Ao ver a cara de , eu me sentia um pouco mal, mas logo essa culpa passava. Queria que ela se arrependesse. No almoço, me enturmei com uns garotos do time de futebol, principalmente que era meu inimigo mortal, agora estava falando comigo como se nos conhecêssemos há anos. Rebecca sentou no meu colo, e ficamos nos paparicando, enquanto olhava tudo de longe cochichando algo com , que fazia cara de tédio. Fitando a mesa dos dois, fez um sinal para que eu fosse até lá. No momento que a me viu respondendo o sinal de , saiu da mesa às pressas.

- Vou ser direto, . Pára com isso, deixa de ser crianção! Já conseguiu o que queria, a ‘tá puta da vida, agora vê se volta a ser o que era antes e conta logo pra ela os seus sentimentos! - falou, bufando.
- Er... Como você... – Caramba, tinha levado moral, o me deixou com medo. Mas tipo, como ele sabia? Nunca contei a ninguém.
- Como eu sei? – Ele me interrompeu. – , você não esconde nada. – Deu uma risada e foi embora, me deixando lá, intrigado. Poxa, será que eu conto? E se ela me der um fora? Ah, melhor esquecer isso, acho que não vale a pena.

Fui para casa e me tranquei no quarto, vendo Bob Esponja e comendo salgadinhos o dia todo. Os minutos se arrastavam como horas, e de tanto tédio acabei dormindo. Acordei seis horas da tarde, e não estava nem aí. Dormi, acordei, dormi, acordei... Quando vi as horas... MEIA-NOITE! Não se escutava nenhum barulho em casa, e resolvi ficar por lá mesmo. Até que as imagens das coisas que tinham acontecido naqueles últimos dias começaram a passar pela minha cabeça. Não consegui dormir de jeito nenhum. Não só pelo fato de estar pensando demais NELA, mas por ter dormido a tarde toda também. Sem mais nem menos, me levantei, coloquei uma roupa qualquer, peguei meu violão e saí, rumo à casa de . Liguei para o e pedi (para ser mais exato, mandei) ele me encontrar na porta da casa dela. Chegando lá, me encontrei com ele, como combinado.

- Ai, cara, você ficou louco de vez, é? São três da manhã! – olhava no relógio freneticamente.
- Cala a boca e me ajuda, . É o seguinte: Eu compus essa música, consegue tocá-la? – Entreguei o papel pra ele, com os acordes.
- Eu... Acho que sim. – Ele sorriu de canto. Desde o início ele sabia que eu gostava de . Foi realmente estranho aquele beijo dos dois, mas eu o entendi, mesmo assim.
- Ok, vou ligar para ela. No já a gente começa. – Falei para . Minhas mãos suavam, eu estava muito nervoso, mas era agora ou nunca. Disquei o número dela.

- Alô?
- Alô. – respondeu, sonolenta.
- , é o .
- Ah... Tchau.
- Não, não, espera! Olha pela janela.
- , deixa de loucura! Quer que eu olhe pela janela só pra zombar com a minha cara, pois saiba que...
- Já, ! – Fiz o sinal pra ele, e começamos a música.
- Que música é essa? – se encostou no parapeito da janela, e comecei a cantar.
- I'm calling you at 3am and I’m standing here outside your door, and I don’t think that my heart can take much more. I’m scared of cracking up again, I just, want it to be like it was before, cos’ I don’t think that my heart can take much more. – Esqueci que eu estava lá. Era como se… Se eu estivesse sozinho, cantando no meu quarto. – Olha, desculpa, eu sei que fui um idiota, na verdade eu sou um idiota, eu me fingi de garanhão só para te fazer ciúme, a verdade é que eu gosto de você, e sempre gostei. , por favor, me desculpa.

Então ela entrou no seu quarto. Foi aí que meu coração bateu mais forte. Ela poderia descer e falar comigo, voltar a dormir, tacar alguma coisa em mim, chamar a polícia, soltar o cachorro dela, chamar os pais dela, mandar eu me ferrar, ferir meus sentimentos, falar que me odeia, beijar o na minha frente, falar que vai me matar, falar que me ama... olhou pra mim com uma expressão boa. Cara, aquele garoto era vidente, ou alguma coisa parecida? Sacanagem eu não ter o dom que ele tem para adivinhar as coisas. abriu a porta da casa lentamente e me abraçou. Certamente, foi o abraço mais gostoso de todos que já me deram.

- Ah, que bonitinho! – Lá estava , dando o seu ataque marica.
- Cala a boca, ! – Falamos os dois em coro.
- Wow, depois dessa vou até embora, hein? – Saiu rindo, com seu violão embaixo do braço.

Eu e ficamos nos entreolhando por um tempo.

- Então quer dizer que você gostava de mim esse tempo todo? – Ela perguntou, sorrindo de canto. – Por que nunca me contou, ?
- Ah, e isso ia fazer diferença? – Perguntei, já imaginando a resposta. Claro que não faria, afinal... Ela não gostava de mim. Ops, engano.
- Claro que ia, porque eu também gosto de você, . – E colou os lábios nos meus. Foi um beijo comportado, mas intenso. Nossas línguas roçavam uma na outra, ela alisava minhas costas e eu apertava sua cintura. Prolongamos o beijo, mas como estávamos praticamente no meio da rua, resolvemos parar por ali.
- Melhor assim. – Eu disse, sorrindo e dando à ela um anel que eu havia comprado antes de entrar na escola, mas que ainda não tinha tido coragem de lhe entregar. – , aceita namorar comigo? – Acho que meu coração acelerou tanto naquela hora que parecia que eu estava correndo uma maratona.
- , eu não posso fazer isso com você. Vou me mudar amanhã para Nova York, e vamos ficar longe demais. Não quero te perder. Você foi a melhor coisa que me aconteceu aqui. – À essa hora, os olhos dela já se enchiam de lágrimas, e eu a confortei nos meus braços.
- E por que você não me falou nada antes? - Parecia que eu via o mundo desmoronar na minha frente. era tudo o que eu tinha.
- Não queria adiar a despedida. – Ela disse com um sorriso triste.
- , eu não quero que você vá, eu te amo, e eu fui muito tolo por não ter dito isso antes. – Ao dizer isso, dei um selinho nela. Logo depois, ambos estávamos chorando. Coloquei o anel no dedo dela delicadamente e limpei minhas lágrimas. – , leve sempre contigo esse anel como sinal do meu amor. Nossa, parece que eu estou casando! – Ela deu uma pequena risada.
- E, , leve esse prendedor de cabelo como sinal de meu amor... E eu nos declaro... – fungou.
- Apaixonados para sempre! – Sorri e acariciei o rosto dela.
- Para sempre, promete?
- Prometo. – Abaixei a cabeça. – Agora vá dormir, amanhã você tem que se mudar.
- Tchau. – beijou meus lábios carinhosamente.
- Tchau. – A abracei e saí andando até a minha casa. O trajeto era curto, mas parecia que estava andando a cidade toda. Estava sem rumo, estava sem razão, não sabia se ria ou chorava.

Amanheceu, e eu corri para a casa de , encontrando se despedindo dela. Assim que me viu, começou a chorar. A abracei com força, como se nunca mais fosse largá-la.
- Eu te amo, pra sempre.
- Eu também te amo. Vai estar sempre aqui, ó. – Ela colocou a mão no peito, para indicar o coração. Dei um beijo demorado nela, e partimos ele assim que ouvimos a mãe dela chamar.
- Vamos, filha! ‘Tá na hora! – A Sra. chamou de dentro do carro.

abaixou a cabeça e entrou no carro. Acenou lá de dentro, tristemente. O carro foi andando até o final da rua, quando virou a esquina. Nesse momento, eu me senti fraco, sem ninguém, um inútil. Abaixei e comecei a chorar que nem um bebê. estava do meu lado e fez com que eu me levantasse, para me acolher num abraço amigo.
- Calma, , você acha outra.
- Não acho, . Lá se vai a minha vida, dentro daquele carro.

Nos viramos e fomos para as nossas respectivas casas. As folhas que caíam das árvores, naquele outono perderam a cor. Nada mais existia, só eu, , o maior perdedor da sociedade.

FIM



Nota da autora: Caramba, tô muito feliz, minha primeira fic! Gostaram? Quero agradecer as pessoas que fizeram isso acontecer. Primeiramente à minha amiga Nicoli (Nikih) que me ajudou dando idéias e betando minha fic. Valeu, Nikih! Depois à Mari, por ser a minha melhor amiga, por me acompanhar nesse sonho [q] e por aturar minhas idiotices. Valeu, Mari! E por último, mas não menos importante: A MIM! Por ter gastado meus lindos dedinhos escrevendo essa fic e por ser criativa (eu acho). Beijos para todos e obrigada por ter lido! :*

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