Nice to meet you

by Mimi

A ida para a escola nunca levava mais de cinco minutos (em pensar que um dia agradeci por morar a uma quadra do colégio); mas já fazia 15 minutos que eu estava caminhando. Afinal, para que chegar cedo?
Eu não se compliquei demais nesse percurso, tenho certeza, mas uma hora, eu olhei para um lado, olhei para o outro, e não sabia onde eu estava. Perdida a 15 minutos de casa. Só a loser aqui mesmo. Sentar na calçada e chorar sempre é a melhor solução, mas eu não chorei, só iria perder a primeira aula do primeiro dia do 3º colegial, bobagem...
Eu poderia me aproveitar da situação e ir a um posto policial, seria legal chegar à escola em um carro de polícia, talvez eu ainda pudesse ver a sirene em funcionamento, brilhando e apitando.
‘Você está bem?’ Ouvi uma voz de garoto atrás de mim.
‘Estou’ murmurei sem desencostar a cabeça dos joelhos.
‘Eu também’ o garoto se sentou ao meu lado. Eu simplesmente o encarei franzindo a testa. ‘Que foi?’
‘Nada...’ Eu cruzei os braços em cima da perna e observei a rua sem nenhum movimento. Eu devia estar bem longe da escola porque não passava nenhum aluno.
‘Conta outra...’ Ele bateu sua mochila na minha.
‘Ei! Que há de errado comigo para eu não parecer bem?’ Eu me endireitei e olhei pra ele.
‘Hm... Talvez o fato de estar andando sem rumo com uma mochila nas costas, ter se perdido e sentado aqui, na calçada, as sete da manhã.’ Ele ergueu a sobrancelha.
‘E quem disse que eu estou andando sem rumo, e perdida?’
‘Não está?’ Ele sorriu desafiador e cravou seus olhos nos meus, aquilo era golpe baixo.
‘Estou.’ Respondi contrariada, não era nada agradável admitir meus erros, ainda mais para um estranho tão charmoso.
‘O que aconteceu?’ Ele perguntou compreensivo.
‘Por que eu deveria falar sobre isso com você, um estranho?’
, mas pode me chamar de ’ Ele ergueu a mão. 'Prazer em conhecê-la'
, pode chamar de ’ Eu sorri. 'Prazer em conhecê-lo' Qual seria o problema de conversar com o antes da escola? ‘Está tão evidente assim que estive “caminhando”?’ Fiz aspas com as mãos.
‘Não, é que eu percebi lá de cima,’Ele apontou pro alto do prédio, em frente ao qual estávamos. ‘a sua mochila não é muito silenciosa...’ Ele fez sinal com a cabeça. A minha mochila bem que poderia ser discreta, se não fosse os enfeites e chaveiros que eu insistia em pendurar.
‘Desculpe’ Eu olhei pra baixo envergonhada. ‘É que eu vou começar o último ano da escola hoje, e queria adiar um pouco esse momento, não quero pensar que será o último que viverei com as minhas amigas, nem que será esse ano que terei que escolher o que fazer a vida toda...’ Contei pra ele tudo que estava pensando há uma semana, como é a terrível a pressão da minha família, da escola, disse que eu não queria ir pra faculdade, porque seria a mesma coisa que me mudar para uma escola nova e mais difícil, falei que eu queria parar no tempo um pouquinho, ele ouvia tudo com atenção, assentindo com a cabeça às vezes. ‘Ufa!’ Suspirei.
‘E ficar vagando por ai adiantaria alguma coisa?’
‘Adiantou, se não fosse por isso, eu não viria parar aqui pra falar tudo...’ Eu sorri timidamente, até ele abrir um sorriso lindo.
‘Sempre pode contar com o Dr. , o melhor psicólogo de todos os tempos.’
Ele ergueu a postura e alisou a camiseta, me fazendo rir. ‘Agora, sério... você já parou pra pensar, que vai ser nesse último ano que as coisas mais fantásticas vão acontecer, que quando você for para a faculdade vai ser um lugar em que a maioria das pessoas tem interesses semelhantes aos seus, e as suas verdadeiras amigas não ficarão distantes de verdade, só com uma mudança besta como essa?’
‘Não tinha visto por esse lado...’ Na realidade, nunca tinha visto as coisas daquela maneira, nem ninguém tinha falado assim, só diziam que eu teria que me divertir menos, estudar mais, que era o último ano, que eu tinha que pensar bem na faculdade, e que esse ou aquele não era o tipo de curso que eu deveria seguir e blá blá blá. ‘Como você sabe de tudo isso?’ Eu perguntei. ‘Não estou duvidando, eu concordo, mas...’
‘Meus pais são bem legais, eu sou bem teimoso, e irmãos mais velhos são úteis...’ Ele numerou com os dedos.
‘Você ainda não passou por isso então?’
‘Nop. Estou no ultimo ano também...’
‘Mas é aluno novo... Eu nunca o tinha visto antes...’
‘Digamos que eu adiei o último ano, passei viajando pela Europa com meu padrinho, enquanto ele avaliava como estavam seus hotéis... Quando eu voltei pra Inglaterra, meus pais tinham se mudado pra cá...’
‘Ótimo jeito de adiar’ Passar um ano viajando sempre foi meu sonho, conhecer alguém praticamente da minha idade que fez isso era incrível.
‘Não pense que eu fiquei vagabundeando...’ Ele fez voz de ofendido. ‘Meus pais só permitiram, depois de exigirem que eu enviasse periodicamente, o que eu havia aprendido sobre cada país que passávamos.’
‘Pô, assim geografia fica interessante...’
Ele riu.
‘Vem, vamos!’ Eu levantei e o puxei pela mão.
‘Onde você está me levando?’
‘Juro que é pro bom caminho...’ Eu continuei a puxá-lo e parei fazendo-o trombar comigo.
‘Que foi?’
‘Esqueci que estou perdida...’ Eu me virei pra ele sem graça.
‘Isso significa que você está nas minhas mãos?’ Ele disse maroto.
‘Bobo!’ Eu dei um tapa de leve no braço dele. ‘Eu estou procurando aquela praça que tem o lagozinho...’ Eu tentei me lembrar o nome.
‘Está em reforma, ...’ ele falou tão espontâneo para um inglês... As pessoas só em chamaram pelo apelido assim tão rápido, quando eu fui visitar minha tia na Itália.
‘Hm...’ Meus pensamentos foram interrompidos por um ronco violento do meu estômago.
‘Acho que alguém está com fome...’ brincou.
‘Nha... Esqueci de comer, na confusão toda...’
‘Vamos comer, é o melhor que fazemos.’

‘Eu viraria na rua errada se estivesse sozinha, juro.’ Eu comentava enquanto comia o meu terceiro bolinho. ‘Isso é bom...’
‘Você não quer um brownie?’ Ele terminou o quarto muffin.
‘Lógico...’ Eu concordei com a cabeça, era impressionante o poder relaxante do chocolate no cérebro.
Depois de dois brownies, e duas canecas de cappuccino, já havia contado metade de minha vida, eu já estava sabendo que ele tinha uma banda com os amigos, que amava música desde pequeno por influência do pai, além de várias histórias da viagem. Eu só ficava ouvindo, com o queixo apoiado na mão, prestando atenção em cada coisa que ele falava, enquanto observa como ele gesticulava quando estava empolgado, e como ficava vermelho e mexia no cabelo ao contar uma história embaraçosa.
‘Ah... Cansei de falar.’ Ele pôs as duas mãos sobre a mesa, encostando na cadeira. ‘sua vez...’
‘Ih, tudo que importa, já despejei lá na calçada...’ Eu abanei o ar. ‘Acho que agora já consigo ir a escola...’ Eu me levantei, peguei dinheiro e a mochila.
, espera...’ Ele se levantou assustado.
‘Vamos... Agora, não me perco mais...’ Eu brinquei e fui pagar.
Ele me seguiu e se pôs na frente, pagando antes que eu falasse qualquer coisa.
‘Obrigada, não precisava...’
‘Agora deixa eu falar...’ Ele falava apressado já do lado de fora do café.
‘Vai falando para conseguimos pegar a segunda aula...’ Eu continuei andando.
!’ ele segurou minha mão e parou de andar.
‘Fala...’
‘Hoje é domingo.’
‘QUE?’ Eu não podia acreditar.
‘É... Hoje não tem aula, é amanhã...’
‘Mas... Mas... você tá de mochila...’ Eu gaguejei.
‘Estou... Mas foi porque acordei assustado, e vi você pela janela, indo pra escola, achei que tinha esquecido, me troquei rápido e só no elevador me dei conta do erro, mas decidi falar com você... Achei que você tinha percebido... Não há ninguém na rua...’ Ele apontou ao redor.
‘Que atrapalhada que eu sou...’ Eu sacudi a cabeça negativamente. Mas que droga, acordar cedo num domingo.
‘Não, você só estava ansiosa pelas aulas...’ Ele ergueu meu queixo, estava mais próximo do que de costume.
‘Bah... Que ansiosa o que...’ Eu revirei os olhos.
‘Vai dizer que amanhã não vai querer chegar na primeira aula...’ Ele chegou ainda mais perto, eu poderia identificar o perfume que ele usava, se eu fosse especialista nisso, como não sou, só posso dizer que era bom, agradável demais.
‘Hm...’ Eu fingi pensar, me aproximando também, mas não precisei fazer muito, porque ele já envolvia minha cintura com os braços. ‘Meu psicólogo me disse que esse ano só acontecerá coisas fantásticas comigo...’ Eu sorri de lado.
‘É?’ Ele falou baixo no meu ouvido, encostando a bochecha na minha.
‘É... Eu comecei bem, não?’ Eu pisquei devagar quando ele beijou minha bochecha.
‘Eu achei um ótimo jeito de acordar cedo num domingo.’ Ele sorriu e encostou os lábios no meu.

No dia seguinte, eu ouvi a campainha tocar as sete em ponto, peguei minha mochila e corri pra porta.
‘Você é pontual, hein...’ Abri a porta e dei de cara com um ainda mais bonito do que no dia anterior.
‘Bom dia!’
‘Nem prendi meu cabelo.’ Tranquei a porta.
‘Está linda assim...’ Ele passou a mão na minha cabeça. ‘Vamos?’ Ele segurou a minha mão.
‘Claro!’ Seguimos pra escola.
O caminho podia ser mais longo, para eu poder segurar sua mão por ainda mais tempo, mas o que eu podia reclamar? Aquele ano prometia!

Fim

N.a.: Fic para todas aquelas que estão começando o “terrível ano”. Vai ser bom, gente.
Fic curta, sem grandes acontecimentos, mas eu precisava escrever sobre isso.
Comentem, por favor.


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E-mail: camilinha10@hotmail.com
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