Revolution
- Filha, você já recebeu alguma coisa das universidades? – Minha mãe perguntou enquanto esperávamos pelo início da formatura do meu primo.
- Não, mãe – respondi. Ninguém me deixava esquecer aquilo, era impressionante.
- O filho dos Roberts já recebeu as respostas – meu pai falou. – Entrou em Oxford e Westminster, mas Cambridge o recusou. – Por que só as minhas respostas não chegam? – Ele vai fazer direito, sabe, filha?
Começou. Eu concordei com a cabeça enquanto tentava evitar não vomitar em cima deles. Além de toda a tensão de não receber minhas respostas das universidades, ainda tenho que agüentar meus pais e toda essa história de “seguir a tradição familiar e fazer direito”.
Desde que aprendi a palavra ‘faculdade’, meu sonho era ir para Oxford e fazer jornalismo, diferente de toda a minha família de advogados/juizes/promotores há gerações.
As cartas de admissão das faculdades estavam sendo enviadas desde segunda-feira. Já era quinta e nada da minha chegar.
Já não tinha mais unhas de tanto que as roía.
Eu não estava nada confiante, pelo menos não para Oxford, que era o que realmente me interessava. Apesar de um histórico escolar que eu me matei para deixar brilhante, eu me ferrei totalmente na minha entrevista.
Quando se junta TPM, um namorado cafajeste e uma família psicótica, você tem uma crise de pânico na frente do seu entrevistador de Oxford.
Crises de pânico não são exatamente o que Oxford espera de seus alunos.
- , os Radford estão ali! – minha mãe falou, toda animada, apontando para o outro lado do auditório.
Hum. Que delícia. Era tudo o que eu precisava, encontrar os pais do meu “namorado” que não dava notícias havia quatro dias.
Aquilo já era demais. Além de tudo, aquela atmosfera de Oxford me lembrava a cada segundo que eu nunca conseguiria entra lá.
- Com licença – falei antes de sair de lá o mais rápido que pude do alto dos meus saltos.
Pois é. Para completar, eu ainda vestia um vestido de festa imbecil, que minha mãe tinha escolhido. Quando aquela mulher começa a falar, você faz qualquer coisa para mantê-la de bico fechado. Até colocar um vestido que, se eu vendesse, poderia alimentar uma cidade inteira do Camboja. Ok, ele não era feio. Era bem bonito na verdade, mas eu odeio esse tipo de roupa.
Acabei indo parar do lado de fora do prédio. Eu precisava desesperadamente de um cigarro.
Eu sei, eu sei. Fumar é detestável, mas era a única coisa que me acalmava naquela época. Além do que, eu não fumava todo dia, só no meio dessas crises.


- Você não deveria estar fumando, sabia? – Quase tive um derrame quando alguém falou isso atrás de mim. Pensei que fosse minha mãe ou meu pai e já estava pronta para contar uma desculpa sem pé nem cabeça. Mas era apenas um garoto. Deveria ter a minha idade, talvez um pouco mais velho.
- Te conheço? – perguntei a ele da maneira mais rude possível. Minha vida já estava bastante caótica do jeito que estava. Não precisava de mais ninguém se metendo.
- Ta vendo? – Ele estava levando tudo na brincadeira, mas eu não. – A nicotina deixa as pessoas rabugentas.
O cara acaba de me conhecer e já vai me insultando. Tem gente que acha que só porque é bonita, pode tudo. Ah sim, esqueci de mencionar, ele era realmente gostoso. Um pedaço de mau caminho, como minha avó fala. Enfim, isso não dá o direito de ficar enchendo o meu saco.
- Olha aqui...- Eu apontei o dedo para ele. – Eu não sou rabugenta! – Eu já estava gritando, mas ele sorria. – E eu não fumo!
- Não? – Ele me olhou como se eu fosse totalmente demente.
- Não! Eu só fumo quando eu to muito nervosa! – De uma hora para a outra, me senti cansada e meio carente.
- Você ta nervosa, então? – Ele perguntou. Ele era tão...tão... Nem sei, mas eu tinha ido com a cara dele, apesar dele ser meio inconveniente. Concordei com a cabeça enquanto acendia o terceiro cigarro dos últimos dez minutos. Eu com certeza ia ficar fedendo. – Quer conversar? – Ele perguntou.
Antes que eu pudesse mandar ele pastar, como eu faria com qualquer outra pessoa, não sei o que deu em mim, mas quando me dei conta ele já sabia toda a minha vida idiota.
Parabéns, ! Um desconhecido com o cabelo estranho sabe detalhes íntimos da sua vida.


- Vamos sair daqui! – Ele falou do nada, enquanto me abraçava por eu estar chorando mais do que uma zebra manca. O que estava acontecendo comigo? Eu nunca choro em público. Nunca.
- Quê?
- É! Tenho certeza que você não quer voltar lá pra dento... – Isso era meio que verdade. – E quem sabe a gente não se diverte um pouco!
- Ta bom! – Respondi sem nem mesmo acreditar em mim mesma. Não é muito do meu feitio sair por aí com estranhos, saca? Mas eu não tinha nada a perder, tinha necessidade de sair daquele lugar e ele era simplesmente tão adorável!
Eu só esperava que ele não fosse um serial killer.
O garoto abriu um sorriso lindo e me pegou pela mão. Me senti feliz, animada e com aquele friozinho na barriga por não saber o que me esperava.
- Vamos! Meu carro ta ali na frente. – Ele apontou para vários carros estacionados.
Foi quando me dei conta que ainda não sabia o nome dele. Era bom perguntar. Imagina se eu caísse? Teria que gritar algum nome para ele me ajudar a levantar. Ou então, se uma abelha pousasse nele? Eu teria que gritar: “Fulaninho, tem uma abelha em você!”
Bom, não é preciso de desculpa nenhuma para saber o nome de uma pessoa...
- Qual o seu nome?
- , e o seu?
- !
Chegamos em um carro modelo sport, daqueles que alimentariam o Camboja inteiro, mas também era muito bonito.
Bem diferente do panaca do meu namorado, o Aaron, que tinha bombado na prova de direção e andava por aí de táxi ou com o motorista dos pais.
- Para onde você quer ir? – Ele perguntou assim que nós entramos no carro. Ele tinha aquele cheirinho indescritível de carro novo.
- Não sei. Quero ir para um lugar que eu nunca tenha ido antes!
- Acho que a gente podia ir pra um pub. Eu sei que você já deve ter ido a pubs, mas... – Nem o deixei terminar. Ia ser legal.
- Vamos parar no primeiro pub que a gente encontrar!
ligou o rádio, que começou a tocar ‘What´s My Age Again?’ do Blink. Eu amava aquela música, era quase um “clássico”.
- Eu amo essa música! – Nós falamos juntos e começamos a rir um da cara do outro.

“I took her out, it was a Friday night
I wore cologne to get the feeling right
We started making out, and she took off my pants
But then I turned on the TV
And that's about the time she walked away from me
Nobody likes you when you're 23
And are still more amused by TV shows (...)”

Nós cantávamos junto com a música e era bem afinado, pra falar a verdade.
- Ali! – Ele gritou. – Um pub!
- Eba! Vamos parar!
parou o carro em frente a esse pub meio velho e abandonado.
- Quer parar aí mesmo? – Ele me perguntou.
- Quero sim!
Hoje era o dia de fazer coisas novas e que eu geralmente não faria, certo? Beber em um pub sujo seria uma experiência nova!
Sai do carro e fiquei vendo as revistas e jornais de uma banca ali ao lado enquanto procurava por sua carteira no carro. Meu olhar parou em uma revista adolescente. Quatro garotos faziam caretas e poses engraçadas na capa. Um deles era super parecido com o !
Peguei a revista para mostrar o clone ao , mas fiquei em choque ao ler a legenda da foto: “ , , e do McFly.”
Calma.
?
Tipo assim, o meu ?
Ta bom, não era meu . Quer dizer que o carinha legal que estava sendo mais legal ainda comigo era famoso?
- Ahhhh! – Eu gritei. Uma senhora que estava na banca junto com a netinha saiu de lá assustada e com medo que eu influenciasse a menininha. O cara indiano do caixa quase infartou. veio andando até mim com uma cara um tanto desconfiada. – !!! Você ta na revista!
Ele fez uma cara tímida toda fofa.
- É...Ossos do ofício, sabe? – Ele falou, olhando para os próprios pés.
- Isso é tão legal! Me conta tudo sobre você e a sua ban... – Não consegui terminar. Fui interrompida pelo indiano recém-infartado.
- ? – Ele perguntou com um sotaque estranho. fez que sim com a cabeça. – Assina pra minha filha? – Ele estendeu a revista a que escreveu um recadinho fofo para Neela, a filha do cara.
Eu estava tendo um pequeno ataque de risos. É muito engraçado descobrir que uma pessoa que você conhece (há pouco tempo, mas e daí?) é famosa! Fora que um todo sem graça também era hilário. Além de fofo, é claro.
Enquanto entrávamos no pub, ele foi me contando sobre o McFly. Há três anos atrás (eu imaginei como ele não devia ser bonitinho três anos mais novo), ele viu o anúncio para os testes dessa nova banda. fez o teste e a próxima coisa que viu, era o McFly estourando e ele ficando famoso.
E eu com a cara nos livros esse tempo todo...
O pub estava vazio, mesmo para uma quinta à noite. Ele era escuro e as pessoas eram meio esquisitas. e eu nos sentamos em uma mesa afastada dos outros clientes. Tudo fedia a mofo.
- Duas cervejas! – Ele pediu ao garçom.
- Não, ! Odeio cerveja! – Sério, até o cheiro me deixa enjoada. O menino me olhou como se eu fosse louca. – Quero uma vodka com sprite!
- Ta bom, então! – Ele concordou comigo ainda fazendo uma cara engraçada. – Uma cerveja e uma vodka com sprite! – pediu ao garçom que parecia prestes a cuspir em nossos copos. – Que tipo de pessoa que não gosta de cerveja, ?
- Eu! E não enche, ta, ? – Eu falei brincando e ele fez biquinho se fingindo de magoado.
Nossas bebidas chegaram, acabaram, chegaram novamente... Enfim, algum tempo depois nós já estávamos bem felizinhos. Não bêbados! Apenas mais soltos.
e eu conversamos bastante. Já sabia mais sobre ele do que sobre o palhaço do Aaron, que eu conhecia desde a barriga da minha mãe praticamente, já que para a minha infelicidade, nossas famílias são amigas há gerações. Impressionante. Tudo na minha família é há gerações.
Falando em palhaço, Aaron me ligou bem quando eu contava a da vez que eu tinha pintado meu cabelo de vermelho, entrado em pânico e repintado da cor natural no mesmo dia. Ninguém nunca soube daquilo.
Enfim, quando vi o nome dele no celular não tive a mínima vontade de atender. Geralmente, ficava no céu quando ele resolvia me ligar.
- É o seu namorado? – perguntou.
- É – respondi enquanto desligava o celular e o arremessava na bolsa. Quer dizer, arremessar não é o melhor termo. Por mais que quisesse arremessá-lo, seria difícil fazer isso, já que na minha bolsa de festa mal cabia uma caixinha de fósforos.


- Vamos dançar, ! – Eu falei quando vi uma jukebox no fundo do pub. Minhas pernas estavam formigando. Eu precisava me mexer.
- Quê? Não! Eu não danço!
- Eu também não, mas nós dois já estamos bêbados o suficiente para dançar!
Eu levantei e o puxei pela mão. Nenhum dos dois estava bêbado, na verdade.
Chegamos na jukebox e ficamos encarando nossas opções. Eu estava prestes a sugerir ‘Twist and Shout’, dos Beatles, mas foi mais rápido e a sugeriu primeiro. Ele estava empolgado agora.
Começamos a dançar daquele jeito meio ridículo, meio anos 50 que se dança aquela música. Eu odeio dançar, mas aquilo estava divertido. estava tão perto de mim e ele cheirava tão bem!
Eu queria...Eu queria...Nem sabia o que queria. Ta bom, eu sabia o que queria, mas uma menina com namorado, por mais inútil que ele seja, não deve querer essas coisas. Eu queria beijar . Desesperadamente. Porém, ele estava empolgado demais dançando para me beijar.
Ele ficava mais adorável ainda dançando. ainda vestia terno, mas a camisa já estava para fora da calça, a gravata tinha sumido fazia tempo e o all star deixava ele totalmente estiloso.
Dançamos até que um gordo bêbado tirou nossa música e colocou Shanya Twain para tocar. Nos sentamos no banco estofado encostado na parede. Ambos meio ofegantes e cansados de tanto dançar. Ta bom, só eu estava ofegante. Fico ofegante só de subir escadas. Meu pulmão não é dos melhores. Acho que é por causa dos cigarros.
Fiquei encarando . Ele era tão bonito e doce. Acho que algum espírito se apoderou de mim ou coisa do tipo, mas eu soltei:
- , você não vai me beijar?
Eu não estava tão bêbada assim! Estava totalmente consciente! Como que eu falo um negócio daqueles? Meu estômago se revirou. parecia surpreso e eu tive certeza que ele ia levantar e ir embora. Mas não! Ele simplesmente sorriu e me puxou para perto dele.
Senti um arrepio na nuca quando seus lábios encostaram nos meus. Parecia coisa de filme. Quando o mocinho e a mocinha se beijam e aparecem fogos de artifício atrás deles, os passarinhos cantam...
Foi perfeito e nós não conseguíamos nos desgrudar. Só nos afastamos quando aquele garçom super ‘fofuxo’ praticamente nos expulsou porque o pub estava fechando.


e eu saímos de mãos dadas do pub. Fazia tempo que eu não ficava tão feliz quanto estava naquela hora.
Olhei para e não pude deixar de sorrir. Sua boca estava vermelha e meio inchada.
- Você ta com a boca vermelha, . – Ele falou acariciando meu rosto e depois me dando um selinho. Agora ele lia meus pensamentos também.
- De quem é a culpa, heim?
- Minha! – Ele falou todo orgulhoso de si mesmo e me abraçando.
Ficamos daquele jeito por alguns minutos. Deu vontade de ficar ali para sempre, o que me lembrou que eu tinha que voltar para casa. Aliás, para o hotel. Eu moro em Londres, só estava em Oxford por causa da formatura. também morava em Londres. Não queria voltar para o hotel e dar de cara com meus pais e também não queria ficar longe de .
- Não quero voltar para o hotel. – Falei baixinho, respirando o cheiro de roupa limpa da camisa dele.
- Também não quero. – respondeu e beijou minha cabeça. – A gente não precisa voltar, sabia?
- Não?
- Vamos pegar um quarto para nós dois num hotel! O que você acha?
O que eu achava?
Brilhante, genial, perfeito.
Eu estava meio entorpecida. Palavras como ‘conseqüência’ e ‘futuro’ não existiam. É demais estar entorpecida!!!


deixou seu carro com o manobrista de um hotel chique e moderninho e depois pedimos um quarto para a recepcionista com pinta de modelo.
O quarto era grande e tinha a decoração chique e moderninha, combinando com o hotel.
Não prestei mais atenção na decoração do quarto quando senti os lábios de em meu pescoço. Aquilo me causou arrepios em todo o corpo, o que causou um sorriso malicioso e doce (se é que isso é possível) em .
- No pescoço arrepia. – Eu falei, mas ele não tirou sua boca de lá. Já estava vendo a hora que aquele monte de arrepios me causaria um piripaque, não que eu não estivesse gostando daquilo, devo ser clara!
Eu não tive um piripaque.
e eu começamos a nos beijar e caímos na cama assim que a achamos. Agora, palavras como ‘razão’, ‘juízo’ e ‘Aaron’ não significavam absolutamente nada.
As mãos de passeavam por todo o meu corpo. Não era estranho nem nojento como quando Aaron ficava tentando abrir meu soutien. Era simplesmente tão bom e, sei lá, natural, que nem passava pela minha cabeça pará-lo.
Além do que, se eu o mandasse parar, eu também teria que parar. Minhas mãos passavam pelas costas dele. Ta bom, na bunda também, mas só de vez em quando.
Quando me dei conta, estava apenas de calcinha e soutien e apenas de boxers.
Me afastei dele e me sentei na cama. Fiquei nervosa e com medo de uma hora para a outra.
- Você nunca fez isso, né, ? – perguntou atrás de mim com aquele jeito meigo dele. Eu concordei.
Eu e Aaron namorávamos há dois anos, mas toda vez que resolvíamos transar (aliás, eu resolvia. Ele estava sempre à disposição), ele aprontava alguma coisa e eu não conseguia nem olhar para a cara dele.
Acendi um cigarro, mas o tirou da minha mão.
- Você não precisa ficar nervosa, . Se você quiser fazer isso, eu vou ser o cara mais feliz e sortudo do mundo, mas se você não quiser, eu já fico bem feliz só de ficar te olhando a noite inteira.
Estava de costas para , mas tinha certeza que ele estava sentado na cama abraçando as próprias pernas.
Ele era tão melhor do que o Aaron ou qualquer outro cara que eu já tivesse conhecido. era doce, tratava-me bem, e parecia que eu me sentia mais viva quando estava perto dele.
Tirei o meu soutien, o joguei no chão e me virei para . Eu tinha certeza absoluta do que estava fazendo, porém isso não me impedia de estar envergonhada e um pouquinho apavorada. Muito apavorada.
estava exatamente do jeito que eu o tinha imaginado e eu tive mais certeza ainda.
- Você tem certeza, ? – Ele perguntou olhando nos meus olhos.
- Tenho, .
Ele se aproximou de mim tão devagar e me beijou tão gentilmente que eu me senti como uma daquelas bonecas de porcelana.
Aaron fazia com que eu me sentisse como um bacon tamanho família.
Era legal ser tratada como uma boneca.
Nós nos beijamos em todos os lugares “beijáveis”. Nem precisei pedir que fosse devagar ou coisa parecida. Ele sabia exatamente o que estava fazendo, e por incrível que pareça, eu também.
Estava acontecendo. Parecia que nem toda a proximidade do mundo nos satisfaria, nós queríamos ser um só.


- Sabe o que eu acho que você deveria fazer? – me perguntou quando eu quase adormecia no peito dele.
- O quê?
- Larga tudo e fica comigo pra sempre! Você podia conhecer o mundo viajando comigo e com a banda! – Ele falou sorrindo, enquanto eu praticamente babava de felicidade.
Ele era tão perfeito! Devia ser algum tipo de pegadinha. Ashton Kutcher apareceria a qualquer momento gritando: “You got punk’d”
O Ashton não apareceu, mas eu fiquei imaginando como seria ótimo largar tudo para ficar com o . Seria uma loucura, mas seria maravilhoso.


me abraçava apertado quando eu acordei na manhã seguinte, mas eu só tinha uma coisa na cabeça: dar um jeito na minha vida.
Eu tinha que terminar com Aaron (não há espaço para ele na vida pós-) e ver se tinha recebido alguma coisa de Oxford.
Tentei sair da cama devagarinho para não acordar , mas seu braço me segurou.
- Onde você pensa que vai?
- Só no banheiro, já volto. – Menti e o beijei na testa.
murmurou qualquer coisa e voltou a dormir.
Me vesti, apesar de ter demorado um bom tempo procurando pelas minhas roupas, escrevi um bilhete com o meu telefone para e o deixei na mesinha de cabeceira.
Ainda o fiquei encarando por algum tempo antes de sair. Ele era tão bonito. Era muito para o meu caminhãozinho. Sério mesmo.
Aaron também era bonito. Sei disso muito bem, pois ainda lembro dos olhares de ódio que recebia das biscates quando saía com ele. Mas Aaron é um babaca retardado.
o deixava no chinelo. Adorei as tatuagens dele. Eram totalmente a sua cara.
Parei de babar no cara e fui até a estação pegar um trem para Londres.


Meu apartamento estava silencioso e parecia impecavelmente limpo e arrumado. Meus pais ainda estavam em Oxford.
Meus olhos pararam na mesinha do hall. Uma pilha de cartas se amontoava nela. Fui até lá com as mãos suando.
Havia uns doze envelopes lá, porém apenas cinco me interessavam. Um vinha da minha loja favorita e avisava sobre uma promoção. Promoções são sempre bem vindas! Os outros quatro eram respectivamente, de Oxford, Cambridge, Westminster e Yale.
Sim, Yale.
No meio de uma das minhas crises de querer me afastar de tudo e de todos, matriculei-me numa universidade do outro lado do oceano.
Aqueles envelopes pareciam me provocar e eu tinha vontade de esmigalhá-los. Queria que estivesse ali para me ajudar a abri-los.
Daqueles quatro envelopes, apenas um realmente me importava.
Peguei o envelope de Oxford e num impulso de coragem o abri.

“Cara Srta. Rangel,
O escritório de admissão lamenta informar que sua inscrição foi analisada e não podemos lhe oferecer uma vaga na Universidade de Oxford.”

Eu não tinha entrado. Eu meio que já sabia daquilo, mas quando ficou oficial foi bem mais difícil do que eu imaginava. Nada mais importava. Eu tinha perdido Oxford.
Ainda tinha aqueles outros três detestáveis envelopes.

“ Prezada Srta. Rangel,
Obrigado por sua solicitação de destaque. A Universidade de Cambridge tem o prazer de lhe oferecer uma vaga.”

“Cara Srta. Rangel,
O escritório de admissão da Universidade de Westminster tem o prazer de lhe oferecer uma vaga.”

“Cara Srta. Rangel,
Obrigado por sua solicitação de ingresso à Universidade de Yale. Temos o grande prazer de convidá-la a se matricular.”

Sabia que deveria ficar feliz. Afinal, três de quatro é um bom número, certo? Mas eu não estava feliz. Não sentia nada, na verdade, apenas indiferença.
Corri para o meu quarto, mas só conseguia pensar em como eu era uma total perdedora e em como eu era a maior sortuda. Perdedora por não ter entrado em Oxford, sortuda porque eu tinha acabado de perder a minha virgindade com o cara mais perfeito do continente.


Os prazos de inscrições para as universidade já estavam acabado e eu ainda não tinha me decidido para onde eu iria.
Não queria ir para nenhum daqueles lugares, só queria conhecer o mundo viajando com uma banda.
Mas isso já era impossível, desde que eu não ouvia de há uma semana. Pois é, o cara perfeito se mostrou apenas mais um babaca. Eu não estava magoada nem nada por toda a história de “dormi com você e você sumiu”. Estava apenas frustrada. No fundo, eu achava que ele ainda ligaria, que ele apenas tinha tido um problema que o impediu de ligar. Eu não conseguia odiá-lo. Isso fazia com que eu me odiasse.
Nem preciso comentar que eu parecia um cigarro ambulante.
Terminei com Aaron logo que depois que cheguei a Londres. Ele não encarou tão bem quanto eu imaginava que ele encararia. Apesar de me chifrar, ser o pior namorado do mundo e etc, ele realmente gostava de mim.
Ele já tinha ido chorar como os meus pais (que aliás, estavam tão arrasados quanto ele), já tinha me mandado milhares de flores (que eu distribuía para os mendigos que achava pelas ruas), já tinha me mandado um macaco branco da Tailândia (pois é, um macaco, que eu doei para o zoológico de Londres) e de vez em quando aparecia desesperado no meu quarto.


Mais uma semana tinha se passado e agora eu estava sentada numa cadeira desconfortável de aeroporto esperando pelo meu vôo até Hartford, nos Estados Unidos.
Eu ia para Yale.
Por maior que essa decisão poderia parecer, não foi tão difícil assim tomá-la. Nada mais me prendia a Londres. Não tinha mais o panaca do Aaron, desde os 10 anos de idade sonhava em me livrar dos meus pais e o panaca II (mais conhecido como ) tinha realmente sumido.
Eu não conseguia tirá-lo da minha cabeça.
O outro lado do oceano com certeza me faria bem! Ficaria longe de tudo o que queria esquecer, conheceria novas pessoas, novos lugares...Eu estava super animada!
Não, na verdade não estava não. Eu só queria morrer um pouquinho.


Estava concentrada lendo sobre Freud e a interpretação dos sonhos quando uma barulheira me distraiu. Na porta da sala de embarque alguns seguranças tentavam deter algum cara louco que tentava entrar. Não conseguia ver nada direito, apenas aqueles caras fortões tendo dificuldade em conter um cara que pelo pouco que eu tinha visto, era bem menor que eles.
Ele estava gritando, mas só depois de algum tempo consegui entendê-lo: - !!!!! ! – Não, eu só podia estar delirando. O cara doido não estava me chamando. Não estava! – Você só precisa chamar ela! Ela ta aí dentro, com a camiseta preta!
Olhei para a minha própria roupa e congelei. Eu estava usando uma camiseta preta. Prestei atenção no cara doido, e foi ai que eu realmente tive dores físicas (sério, meu estômago parecia ter sido congelado), era o !
Senti um misto de susto, felicidade e vontade de socá-lo. Tudo junto. Corri para toda aquela bagunça. Ai, meu Deus, o que fazia ali?
- ? – Eu falei me aproximando e todos olharam para mim. Quando eu falo todos, são todos mesmo: , os seguranças e o que parecia serem todos os passageiros do aeroporto. – O que você ta fazendo? – Por que eu sentia aquelas borboletas idiotas no estômago só por chegar perto dele?
- !!! – Ele tentou se aproximar de mim, mas os seguranças não deixaram. – Ainda bem que você ainda não saiu! A gente precisa conversar! Você não pode ir embora!
Isso é hora de conversar? Ele tinha tido duas semanas para conversar. Por que ele queria conversar bem quando eu estava prestas a embarcar para bem longe de tudo aquilo? “Você não pode ir embora!”? Palhaço!
Os seguranças e ele olhavam para mim, esperando pela minha resposta. Eu não devia conversar com ele, não devia nem olhar na cara dele, mas acho que aquelas borboletas do mal se apoderaram de mim e eu concordei.
Saí da sala de embarque e lá estava eu, em frente a . Ele parecia meio agitado e nervoso, ao mesmo tempo que feliz. Obviamente, continuava lindo de morrer. Minhas pernas estavam moles.
- Desculpa, . – Ele falou pegando nas minhas mãos e olhando nos meus olhos. – Desculpa, desculpa, desculpa!
- Eu espero que você tenha uma desculpa muito boa, . Quando eu falo boa, eu me refiro à morte, tragédias e desastres naturais.
- Eu pensei que você tivesse voltado com o seu namorado imbecil!
- Quê? Por que você ia acha isso, ?
- Eu te liguei! Te liguei na sexta, logo que eu acordei e vi o seu bilhete, mas aí me falaram que você tinha saído com o seu namorado! Eu pensei que vocês estavam juntos de novo!
- Eu tinha saído com ele sim, mas foi para terminar com ele!
- Eu passei essas duas semanas sem saber o que eu fazia! Eu queria tanto falar com você, mas eu não queria estragar tudo entre você e o imbecil! Eu achava que você gostava dele apesar de que imaginar você com ele me matava...
Como algum dia eu pude ter raiva dele? Como? Como?
- Eu achei que você nem lembrasse mais de mim.
sorriu e balanço a cabeça negativamente.
- Nem lembrasse de você? Eu achei que tivesse ficando louco, eu só pensava em você!
Sério, eu que sou a maior panaca da história por ter duvidado dele.
Eu sorri, ele colocou as mãos em meu rosto e deu um beijo na minha boca.
- Você não pode ir para Yale! – Ele falou.
- Como você sabe que eu vou para Yale? Aliás, como você me achou aqui?
- Eu criei coragem de te ligar, aí sua empregada me contou tudo e eu vim pra cá correndo. Você vai ficar, não vai?
- Não.
- Não? Você... Eu não...
- Você esqueceu que eu tenho uma tour para acompanhar, ? – Eu falei em seu ouvido, colocando meus braços em seu pescoço.
sorriu e aproximou nossos corpos e bocas. Eu tinha esperado tanto para sentir o gosto dele de novo, já achava que nunca mais sentiria, mas ele era tão bom quanto eu me lembrava.
Eu podia até escutar os fogos de artifício, os passarinhos e aquela música que toca no final dos filmes, quando o mocinho e a mocinha finalmente vivem felizes para sempre!

Dúvidas, sugestões, críticas e angústias... Comentem ou mandem e-mail (ali.broccoli@hotmail.com)! <3

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