She Cares?





Capítulo 1

Um ano e alguns meses depois... Aqui estou eu, deitado de barriga para cima, na escuridão aconchegante do meu quarto, encarando o teto como se fosse uma das coisas mais interessantes para se fazer numa quarta-feira a tarde.
Pela primeira vez em meses me sinto bem, sabe, feliz, como se um peso tivesse sido tirado do meu peito e o ar conseguisse entrar novamente com naturalidade, sem que eu faça esforço nenhum para respirar. Os dias estavam sendo meio difíceis, mas as coisas vêm e vão não é? É... e ela, por exemplo, se foi. E eu fiquei. Fim de história. Não quero fazer disso mais um grande martírio como vinha fazendo há algum tempo atrás.
Quando ela foi embora, durante os primeiros meses tudo que fiz foi tentar encontra-la em outras garotas.
Tentativas inúteis que acabavam apenas me levando para trás do ginásio da escola ou do almoxarifado com alguém. Saí com todas que podia sem vergonha nenhuma. Fiquei um tanto popular por isso, e claro, por também ter saído com . Virei "O cara" do dia para a noite! Embora, no começo, as pessoas tivessem me odiado...
Gostavam de apontar o dedo para mim no corredor e dizer que eu era o responsável pela ida da garota queridinha da escola.
Sim, ela era a queridinha e até os professores me olhavam feio. Certa vez até e se meteram numa briga por minha causa com um tal de Jason Ruligan, que com certeza, era um idiota para quem ela deveria ter inventado aquela historia de ser virgem e todo o seu joguinho que eu nem quero lembrar! Parece que Jason começou a perguntar em alto e bom som no meio do pátio porque teria saído com um perdedor como e outras coisas do tipo. tentou interferir, mas , , Jason e seus amigos brutamontes acabaram por ser suspensos. É, eu sei... a pergunta é: E onde você estava ? Por que também não entrou na briga? Bom, onde eu estava? Tenho que responder a essa pergunta rindo da ironia do destino, ou apenas sorrindo para o teto do meu quarto. Estava com Julie, uma garota que encontrava-se entre as amigas que estava no dia em que me chamaram de "loser" naquele pub. Estávamos no banco de trás do meu carro... fazendo... bom, digamos que suprindo as necessidades físicas um do outro. E olha, foi meio por acaso que ficamos amigos, eu quero dizer, eu e a Julie. Foi em uma das apresentações no Generation (nossa casa fixa de shows agora) que ela veio puxar assunto comigo enquanto e se agarravam com umas garotas. Sem mais nem menos começamos uma grande discussão sobre , e Julie me contou como era passar 24 horas com ela. Era como se falasse de uma celebridade que sentia muita falta, parecia realmente triste em falar do "sumiço" de .
- Amor, cinco minutos para você deixar de encarar esse teto e sonhar acordado.
- Só estou esperando você - sorri para apoiando minha cabeça sobre meus braços no travesseiro e voltando depois a encarar o teto. 'Tá aí um dos meus motivos por estar melhor. A ! Esqueçam a Julie, acabou não dando certo. Voltando a ... Deixei de farrear quando percebi que mesmo não passando sequer uma noite sozinho, nada ia adiantar, nenhuma garota ia ser igual à srta . Engraçado como um simples (não sei se posso chamar de simples, já que na verdade significou muito para mim) final de semana pode te marcar. O que nós fizemos naqueles dias, a e eu, ficou gravado na minha cabeça como um filme que não conseguia, por mais que tentasse, deixar de passar na minha mente. A risada dela... o sorriso... o jeito de andar, o jeito que de repente me abraçava e falava coisas pelas quais eu não esperava... No final das contas, agora era meio difícil lembrar de tudo, o tempo é realmente uma boa borracha, apagou coisas que eu achei que lembraria para sempre. Mesmo assim, talvez apenas por curiosidade, queria saber onde ela está nesse momento, com quem está, o que está fazendo... Nem a avó dela, que eu comecei a encontrar com freqüência um tempo depois, entrando sempre na farmácia ao lado da loja onde comprava minhas bebidas para esquecer sua querida netinha, não vi mais. Acho que não teremos mais notícias de tão cedo por aqui, mesmo que de vez em quando alguém dessa pequena cidade comente sobre a "linda garota".
E se querem saber, eu acho muito bom não termos notícias, melhor, acho ótimo! Essa garota me trouxe problemas demais, quase repeti o ano por matar aulas, fiz meus amigos entrarem em brigas, se preocuparem comigo e tudo mais. Fiquei meio atordoado...Bem que dizia que era aquele tipo de garota que fazia o cara pirar e que eu deveria tomar mais cuidado.
dizia apenas que eu tinha todo o direito de me embebedar e fumar o quanto quisesse porque nunca mais ia encontrar uma garota tão gostosa quanto ela. Ficava meio confuso, porém, ainda tinha o , que nos fazia passar noites em claro escrevendo músicas e mais músicas sobre tudo isso. Ta aí a única parte boa! ajudou o McFLY a compor! Nos inspirou! Mesmo que pouco se importe com isso ou que algum dia chegue a ouvir Broccoli, I'll Be Ok e Get Over You.

- 'To prontaaa! - exclamou de repente entrando no quarto finalmente arrumada. Estava bem bonita, os cabelos presos num rabo de cavalo e talz... Bonita, e sorrindo para mim. Ela é legal sabe, gosto bastante dela.
- 'Ta linda - elogiei sorrindo. sorriu mais e veio até mim, me dando um beijinho nos lábios.
- Você não mente muito bem - disse manhosa.
- É sério, ta linda! - Ela me irrita um pouco quando fica fazendo doce assim, esperando que eu repita milhões de vezes que esta linda.
- Ah que amor! - sentou-se ao meu lado na cama, fazendo carinho no meu rosto. Dei espaço para ela, indo para o lado e fazendo sinal para que se deitasse. Ainda estava meio longe dali, meus pensamentos custaram um pouco em deixar de lado. Fazia tempo que não pensava nela, não era mais tão freqüente como no colegial... Sei lá, o tempo passou, levou com ele algumas coisas, e outras deixou... Estou bem agora como estou, não quero mais ficar deprimido por causa de garota nenhuma. Minha vida está de volta, está bem e o McFLY... Ahh é! O McFLY vai gravar uma demo hoje no estúdio de uma gravadora famosa. Para ser mais exato, vamos gravar daqui a meia hora! É para lá que estou indo com daqui a pouco. Demais né?! Não posso nem começar a pensar que já me empolgo e sinto meu estomago dar cambalhotas! Preciso ficar calmo para tocar. Aliás, foi por isso que comecei a pensar em , estava aqui tentando desviar meus pensamentos da gravação e acabei me lembrando de um dia que ela me disse que eu ia ser famoso... Era meio maluca pelo que me lembro, mas espero que ela esteja certa.
- Deitar com você é sempre uma ótima idéia, - ela sorriu meio corada - mas todos já estão lá e me ligou agora pouco dizendo que está quase tendo um treco e que Fletch vai enforcar e logo, logo por estarem aparentemente retardados no momento para conseguir tocar alguma coisa.
Soltei uma gargalhada imaginando meus amigos. São umas figuras!
- Aposto que ainda vomita! - falei - Ele sempre faz isso quando fica nervoso! [NA: Só tem graça com Dougie ]
- Ew! - fez uma careta de nojo e deu uma risada breve - Não quero ver isso, mas precisamos ir de uma vez. Vem!
Ela me pegou pela mão e me puxou, fazendo com que eu, com um pouco de custo e com um frio enorme na barriga, levantasse.
Cara, tenho que controlar as tremedeiras das minhas pernas e o suor repentino na minha mão se não quiser que Fletch também tenha vontade de me enforcar!


(...**dois dias depois**...)


- Duuuuuuuuuuude!
- Queeeeee?
- Anda logo!
- Perdi minha passagem!
- Se vira! Temos que pegar a e a ainda!
- Puta que pariu!
Tropecei pela terceira vez no tênis de . Estávamos indo para a Califórnia. Já sei o que você tá pensando... Califórnia? Mas que loucura é essa de Califórnia? Pois é... Nos demos bem naquela demo pra gravadora! Muito bem por assim dizer. Então nos mandaram (m-a-n-d-a-r-a-m!) viajar até o que eles chamam de "central de produção" onde um tal de Finnigan vai decidir, depois de ver a gente tocar algumas músicas, se temos ou não a chance de vender alguns discos. Traduzindo: vão decidir se o McFLY vai poder começar a gravar o primeiro cd!
Fletch está quase pirando.
Na verdade, estamos todos quase pirando.
- Caramba... cadê aquele casaco? - perguntei para mim mesmo revirando meu guarda-roupa em busca do casaco que tinha usado quando recebemos nossas passagens há dois dias atrás. A merda da passagem devia estar no bolso.
Droga! Não sabia que eu tinha tanta roupa assim e nem que meu armário estava tão bagunçado! Preciso ser mais organizado. Mas eu gosto da minha bagunça. Eu me acho nela! Tá certo que no momento estou meio perdido, mas... Ahá! Vi um pedaço da manga comprida do meu casaco preso sob uma caixa branca guardada no alto de uma prateleira interna do meu guarda-roupa. A manga estava para fora, balançando vagarosamente como um pendulo, para lá e para cá. - Duuuuuuude! - voltou a chamar - É pra hoje!
- Espe...Espera aí! Acho que encontr...ei! - respondi puxando o casaco pela manga, fazendo força para desprendê-lo debaixo da caixa.
- ANDA! - foi a vez de gritar e eu dei um puxão forte na manga, arrancando o casaco com tal violência que me desequilibrei, cambaleei para trás e cai de bunda no chão. Uma bela cena para ser gravada! Mas não fui o único a cair, o casaco e a caixa caíram logo em seguida, fazendo um baque surdo e espalhando quinquilharias, que até então, estavam guardadas dentro da maldita caixa.
- Outch! - disse massageando a bunda e me levantando. - Que drog...!
Parei no meio da frase, o olhar fixo em uma saia e uma blusa.
Lá, entre os cds, dvds antigos, cadernos de anotações e fotos, estavam as roupas da . Isso mesmo, as roupas dela. Aquelas que havia deixado espalhadas por esse mesmo quarto na última vez que a vi.
Lembro-me do dia nascendo, dela saindo na ponta dos pés, meio abalada com o telefonema que recebera da mãe, usando apenas uma camisa minha e deixando as roupas dela para trás.
Sorri de canto com a lembrança. Quase havia me esquecido disso! Sequer sabia onde tinha enfiado as roupas dela. Estranho pensar agora em como quase já nem me lembro de seu rosto.
Me toquei naquele instante... Era isso, não a veria mais.
- Achei! - disse pegando do bolso do casaco a passagem - TO INDO! - avisei enfiando tudo de volta na caixa de qualquer jeito e colocando no guarda-roupa, no mesmo lugar de antes.
- Já não era em tempo! - ajeitou as mochilas nas costas assim que me juntei as eles. foi logo saindo porta a fora.
- Onde está ?
- No carro. - me respondeu e nos três saímos de casa em direção ao nosso futuro ainda incerto na Califórnia.
Na garagem do nosso apartamento, estava quase babando no volante do carro, cochilando tranquilamente. Ok, o cara não devia dar essa sopa conhecendo os amigos que tem!
Aproximamos-nos sorrindo e e eu nos entreolhamos maldosos. Fui até a janela aberta do motorista. e observando tudo, já rindo da cena que veria a seguir.
- ACOOOORDAAAA CINDERELA!! - nós três gritamos enquanto eu tocava a buzina, fazendo o eco estridente da buzina soar por todo o lugar. , com o susto, pulou do volante feito um louco e bateu com força o cocuruto da cabeça no teto baixo do carro. Depois, parecendo ainda meio atordoado com o som das nossas gargalhadas misturado com a buzina, olhou para os lados a procura dos culpados.
- Ah seus babacas! - resmungou nos olhando e em seguida desatando a rir também. Entramos no carro com as mãos nas barrigas, que doíam de tanto rir - Não se pode mais nem puxar um ronco. - ele disse agora massageando a cabeça no local da batida.
Rimos mais um pouco e então fomos buscar , a namorada do , e , que tinha dormido na casa da amiga.


(...***...)


- Quando chegamos em Los Angeles? - perguntou ajeitando a mala no bagageiro acima do seu assento no avião.
estava do meu lado, olhando ansiosa pela janela, e nos bancos da frente, e nos do lado.
- Acho que a noite estamos lá.
- Hmm.
- Vamos ficar num hotel famoso certo? Ver gente famosa! - sorriu largamente. Eita felicidade de pobre!
- É, acho que é. - confirmou - A ligação de Fletch estava meio ruim, mas pelo que entendi estamos num tal hotel chamado "Palace Star". - se esticou, enfiando a cabeça no corredor e olhando para trás. - Bem que podíamos encontrar com Michael J Fox!
- Num viaja! - eu disse rindo.
- Ah qual é, ia ser divertido! - falou animado, voltando a se sentar ao lado de , que tinha os olhos brilhando.
- Brad Pitt! - de repente se pronunciou. enfiou a cabeça na fresta entre as poltronas da frente e suspirou sorrindo para amiga. Nós quatro fizemos careta.
- Não, obrigado - eu disse - Mas então, Fletch chega lá quando?
- Domingo agora - falou bem informado - Precisa ainda resolver algumas coisas em Londres e depois vai.
- Então temos alguns dias para farrear na Califórnia! - disse sorrindo maroto. Os outros sorriram e riram. Em seguida, vi pela fresta do banco encostar a cabeça no ombro de carinhosamente. Ao mesmo tempo, o avião começou a andar e me olhou sorrindo radiante. Um segundo depois, nos beijamos.



(...***...)


Ajeitou o shorts nas pernas, desviou o olhar da praia e sob o sol poente daquele fim de tarde voltou a caminhar lentamente na calçada. O vento abafado do verão tocou seus cabelos para trás e um breve suspiro desprendeu-se dos seus lábios. "Não chora! Não chora sua burra! Não!" pensou sentindo um nó se formar em sua garganta e se esforçando para não demonstrar tal fraqueza.
Havia semanas que sentia esse aperto no peito, essa vontade de chorar... mas ela sabia que lagrimas não iam melhorar as coisas. Sempre teve para si o conceito de que chorar não resolvia nada e que era coisa para os fracos... E não! Ela não era fraca! Chorar? ? Era ridículo! "Seja forte!" era sempre o que pensava se sentindo ridiculamente covarde, quase envergonhada de si mesma por estar tendo vontade de chorar.
- !! - gritou alguém a suas costas e ela se virou para olhar.
- Hey - cumprimentou sorrindo para a amiga...
- Você não consegue me chamar apenas de né? - a amiga riu e apenas encolheu os ombros - Vamos ao Yuk Yuk's hoje a noite, certo?
- Ah, não sei...
- Ah , vamos sim! Você sabe que sair sem você não é a mesma coisa! - disse fazendo bico. revirou os olhos rindo e, como sempre fazia, esqueceu-se que momentos antes estava prestes a chorar.
- Quem vai mesmo? - perguntou.
- É aniversario da Jen!
- Jen? E nós a conhecemos?
- ! - riu mais uma vez.
- Brincadeira. - ela riu também - Ok, estou mesmo precisando encontrar John - sorriu marota. riu.
- E como fica o Travis?
- Quem? - sorriu com descaso, fingindo-se desentendida. balançou a cabeça.
- É por isso que ele é do jeito que é! Você nem liga pro cara!
- E por que eu deveria? - perguntou achando meio ridículo - Ele é um idiota de primeira!
- Isso é verdade... - ponderou - Mas que Travis não te encontre com nós no Yuk Yuk's, e muito menos com John, se não... já sabe!
deu de ombros e entrelaçou o braço no dela, andando juntas pela calçada a beira mar.
- Posso ir para sua casa? Não estou a fim de ir para minha. - ela sentiu novamente um aperto no peito, mas manteve as aparências como sempre fazia quando se sentia assim perto das outras pessoas.
- E desde quando você precisa pedir para ir lá pra casa? - sorriu - Mi casa és su casa!
As duas riram chamando atenção de uns garotos que andavam de skate do outro lado da rua e de algumas meninas que estavam com eles. empinou o nariz e rebolou mais do que o normal. revirou os olhos e continuou caminhando normalmente... nem se importava mais em chamar atenção.
E era assim. A vida dela era assim agora. Tinha varias amigas como , isso é, ricas, filhas de empresários cinematográficos, donos de grifes famosas, produtores musicais, etc. Viviam saindo para festas e essas coisas. nem sabia como acabara conhecendo tanta gente em apenas um ano e meio que estava nos Estados Unidos. As pessoas pareciam ter se aproximado dela naturalmente, sem nenhum esforço da sua parte, contudo, nenhuma delas parecia uma amiga de verdade. era a mais legal na opinião dela, adorava , a tratava como se fossem amigas há anos e isso era bom. Porém, não parecia ser do tipo que podia contar suas coisas, como seus problemas, etc. No fundo achava que , Jenny e Mary só tinham se aproximado dela porque viram nela uma ótima companhia para chamar atenção em festas famosas... o que não era mentira. Mas era triste saber que se um dia precisasse de alguém para contar tudo que estava passando e sentindo nas últimas semanas, tudo que a queria fazer chorar, não teria ninguém. Estava longe de casa e sem ninguém, nenhum amigo! Não queria que seu destino fosse assim! Não queria ter vontade de chorar por causa do que estava acontecendo do outro lado do oceano, na Inglaterra, não queria se sentir culpada...
Não! Ela não queria e não ia! Afinal, ela também pouco se importava, não é? Mesmo que pudesse falar sobre seus sentimentos com alguém, jamais o faria! Ela não era assim, do tipo que "abre o coração". Dos seus problemas cuidava ela! E no momento, estava tratando de cuidar! Estava indo a uma festa, não estava? De qualquer forma estava aproveitando a vida! Indo rir, se divertir com as amigas... ou pelo menos fingindo para si mesma que estava.



(...***...)


- Fiuuuu! - assobiou segurando as alças da mochila em suas costas e olhando ao seu redor o grande hall do hotel que entravamos. - Belo lugar!
- Fletch tá se saindo um ótimo empresário - comentou sorridente, mesmo parecendo meio cansado da viajem da Inglaterra até a Califórnia. - Se ele continuar assim vai receber uma estrelinha dourada na testa de bom comportamento.
E todos riram, indo até o balcão da recepção. Muitas pessoas ali pareciam estranhar a presença de seis jovens como nós num lugar como aquele, estavam todos bem arrumados e parecendo muito importantes...
- Pois não? - perguntou o recepcionista com uma cara fechada.
- Temos reservas, no nome de Fletch - explicou. O homem então olhou para o computador e digitou algo.
- Desculpem, sem reservas nesse nome.
Franzi a testa.
- Tente , , ou - eu disse. Mais uma digitação no computador e...
- Nada de reservas, queiram se retirar por favor - o recepcionista disse secamente, voltando seu olhar do computador para nós. bufou, já foi logo se virando para sair e eu o agarrei pela parte de trás da camiseta, fazendo com que ele parece com um tranco leve.
- Relaxa aí, cara. - disse tranqüilizando-o.
- Você tem certeza que era esse o nome do lugar, amorzinho? - perguntou baixinho no ouvido de . Vi revirar os olhos.
- É sim! - confirmou - Não é aqui "Palace Star"?
- Aqui mesmo - o recepcionista disse - Mas não seria, "Place So Far"? Muitas pessoas confundem.
- Iiih, pode ser - coçou a nuca - Não falei que a ligação do Fletch 'tava ruim?
- E onde fica isso? - perguntei.
- Na esquina da frente. Agora pela ultima vez, são ordens do hotel, queiram se retirar!
"Viado!" xinguei em pensamento.
- Só porque estamos com mochilas nas costas e não com malões caros não quer dizer que pode nos tratar assim idiota! - xingou e o puxou pela camiseta. É isso aí! Vamos rasgar a camiseta do !
- Bela fala, agora vamos nessa! - falou saindo para rua como todos nós fazíamos.
- Ok, mas parem de agarrar a minha camiseta! - reclamou e e eu rimos. parecia brava e cochichava alguma coisa com ela. olhava os nomes dos hotéis da rua...
- Ah não... - disse num muxoxo e apontou para frente - Lá está nosso glamuroso hotel!
- Quê? Ali? - perguntou e eu me irritei com o jeito dela. Tá certo, o lugar tinha um aspecto nada convidativo, parecia até uma construção meio torta, era o prédio mais feio da rua, mas oras... É a nossa primeira vez na terra dos famosos, o que ela esperava? Que fossemos parar em um hotel cinco estrelas com Nicole Kidman no quarto ao lado? Fala sério, né? Tudo bem que, cinco minutos depois, quando entramos no hotel, também desejei que Fletch tivesse pagado por um lugar melhor, mas não fiquei fazendo carinha emburrada feito !
- No nome do Fletch! - disse meio cabisbaixo com a mudança brusca de um hotel para o outro. A velha recepcionista abriu um enorme livro em cima do balcão e começou a procurar o nome.
- Nada de estrelinha dourada para o velho Fletch! - disse rindo. Ri também. Aí está o espírito da coisa! Aprenda com ele, !
- Preciso ir ao banheiro - anunciou aos quatro ventos.
- Só um minuto querido - a velhota disse ajeitando os óculos de aro de tartaruga nos olhos. Ele sorriu...
- "Querido" - repetiu - Isso que é tratamento! - murmurou para mim e . Rimos de novo. Eita nóis! Estamos risonhos! Acho que estávamos gostando mais da espelunca do que do outro. Não era nossa cara mesmo, era muito emperiquitado. E nós somos machos! Eu pelo menos sou, né...
- Ahh, aqui está! Quarto trinta e sete, terceiro andar. - a sra se virou para um molho de chaves e nos entregou uma delas.
- Mas somos em seis! Precisamos de pelo menos dois quartos! - se pronunciou.
- Mas só temos esse disponível. Têm quatro camas, podem dividir.
mordeu os lábios e olhou para . agarrou de uma vez a chave e saiu pela escada de madeira dizendo:
- Tem banheiro, não é? Então tá beleza!
encolheu os ombros e sorriu para a velhinha, seguindo até os andares de cima.
- Vamos, - disse sorrindo para e a puxando pela cintura - não vai ser tão ruim assim dormimos na mesma cama.
- Ok! Pra mim já chega! - ela se soltou depressa dos meus braços - , honey, me desculpe, mas vamos procurar um hotel melhorzinho. Vem !
sorriu de canto para e lhe deu um beijo depressa nos lábios, seguindo para fora do lugar.
- O que deu nela? - perguntei virando para .
- Deixa elas cara, são garotas! - ele disse calmo.


(...***...)


A risada escandalosa de ecoava pelo quarto, se levantava do chão com a mão nas costas, saia do banheiro depressa para ver o que acontecia e eu, ao lado de , gargalhava com as mãos na barriga.
- Cara! Essa merda tá quebrada!
- Sério? Se você não tivesse caído agorinha que nem saco de batata eu não ia imaginar! - eu disse e começou a rir.
- caiu da cama? Cai de novo pra eu ver?
- Há-ha - riu irônico - Só porque você quer!
- Ele foi... foi dei... e dái, ai...e PUUUM! - tentou explicar no meio das risadas, apenas rindo mais e me fazendo rir junto. ficou sem entender bulhufas, mas acabou rindo da tentativa de explicação do amigo.
- Justo a minha cama tinha que estar quebrada!
- Ahh que injustiça com nosso garotinho! - falei e fui abraçar .
- Me larga seu bixa! - ele disse rindo e eu o soltei.
- Liga a TV!
- Não funciona. - falou sem emoção, sentando-se na cama ao lado da janela. Luxo demais se funcionasse...
- E aí? Vamos sair? - emendou , agora parando de rir - Comemorar nosso, quem sabe, futuro cd?
- Tá um tédio aqui, não temos nada melhor para fazer mesmo dentro desse quarto capenga... - riu indo pegar suas calças, estava só de boxer. - E é sexta à noite! You know the everybody likes to party on friday night! - cantarolou em seguida. [NA: eu mudei de propósito ]
- Gostei disso! - sorriu - Podia virar uma música!
- É, quem sabe... - falou já vestido - Então? Vamos comer uma pizza? To com fome!
- Boa, zão!
- E estamos na Califórnia! - eu disse animado. Sério? - Lugar das melhores festas!
- E das melhores garotas! - piscou.
- E por falar em garotas... - disse, agora espiando pela janela atrás de sua cama - e estão atravessando a rua, vindo para cá.
Tratamos logo de colocar uma roupa e sair do quarto, deixando a chave com Judith, a velha da recepção, que nos murmurou um "bom divertimento rapazes" enquanto nos via saindo pela porta da frente. Assim vai se apaixonar por ela!


(...***...)


- Yus...Não, pera!...Uy...
- Yuk Yuk's idiota! - dei um pedala em , que tentava ler o nome do lugar onde estacionava o carro alugado. Um conversível velho, daqueles bem conversados, mas velhos... Pegamos esse porque era o mais barato que tinha na concessionária e que por algum motivo nos lembrou "De Volta Para o Futuro".
- Que nome complicado! - disse franzindo a testa e pulando para a calçada - Afinal, por que viemos aqui?
- Por que não viríamos? - perguntou .
- Sei lá.
- Me parece legal - disse e segurou minha mão enquanto caminhávamos até a entrada do lugar. - , tá chateado comigo por que não fiquei lá com vocês? - ela perguntou de repente, baixinho, para que só eu ouvisse.
- Não... quero dizer - cocei a nuca - Frescura. Mas entendo, garotas são assim.
sorriu e eu fiz o mesmo. , e entraram primeiro, nós, que estávamos logo atrás deles, entramos em seguida, ouvindo um som alto, mas nada muito exagerado. O lugar era como um pub, um pub melhorado, tudo era no tom de vermelho, preto e laranja. Nosso grupo logo se dirigiu para uns sofás vermelhos a direita do bar (um bar bonito, bem iluminado com garrafas a mostra e espelhado). Nos sentamos como em um círculo, com uma mesa preta no meio. Logo e já se beijavam enquanto , , e eu discutíamos sobre a musica do Stereophonics que tocava.
- Com licença, quer pedir alguma coisa? - perguntou um garçom com um avental preto e laranja se aproximado um tempo depois.
- Tem o que aqui? - perguntou pegando um cardápio. e pegaram um outro e começaram a ler juntas.
- Tem pizza? - foi logo perguntando, passando a mão despreocupadamente na barriga. O garçom fez que sim com a cabeça e mandou escolher um sabor qualquer.
- Tem qual cerveja? - quis saber.
- Temos todas aquelas que estão no bar - o homem apontou, dando espaço para que tivéssemos uma boa visão do bar e sua bela exposição de garrafas de todos os tamanhos, cores e formatos. Quase na mesma hora que a música trocou duas garotas se aproximaram do bar, uma com uma saia azul e uma blusa branca e a outra com um vestido roxo, que deixava um bom pedaço das suas pernas de fora. Belas pernas, aliás!
- Dois martinis, John! - pediu em voz alta a de vestido roxo, se debruçando sobre o balcão de vidro e levantando um dos pés. Olhei de esguelha para que inclinava a cabeça de leve para o lado a fim de ter uma melhor visão das pernas da garota. Ri dele e logo voltei minha atenção para a menina. de repente me cutucou nas costelas.
- Cara! Eu não disse que aqui tinham as melhores garotas - ele riu ladino e eu concordei.
- Gostosa - resumi em uma palavra ainda sem tirar o os olhos da garota, aproveitando a distração de e com o cardápio.
- A de saia ou a do vestido? - entrou na conversa, falando baixinho.
- A do vestido! - e eu dissemos juntos e concordou depressa. Unanimidade.
- MARY! - gritaram e mais duas garotas se aproximaram enquanto a de saia azul e blusa branca se virava. - Zack está te procurando.
- Vou atrás dele - A garota falou e saiu de perto, indo para onde ficava uma pequena pista de dança. Restaram três.
- JOHN! Meu Martini! - voltou a gritar a de vestido, meio rindo. Desejei de repente que ela se virasse para que eu pudesse ver seu rosto.
- Calma linda! - disse um garoto mais ou menos da minha idade, os cabelos pretos num corte moderno, se aproximando da garota. - Ta aqui.
- Obrigada - ela agradeceu novamente se debruçando no balcão e dando um beijinho no rosto do garoto, que pareceu meio abobado. As outras duas deram risinhos.
- Por conta da casa. - anunciou John em seguida, sorrindo de orelha a orelha. , e eu nos entreolhamos rindo.
- Esperta - concluiu.
- Gostei da de blusinha preta também - disse de repente apontando uma outra. Essa pegava agora no braço da de vestido roxo e saia rindo para pista. Estiquei-me na cadeira para tentar ver o rosto dela, mas...
- ! - me chamou de repente.
- Hum? - perguntei desviando o olhar depressa, segurando o riso enquanto ria descaradamente. - Que foi?
- Pedi uma batida de morango para nós, ok? - ela falou sorrindo. Batida de morango? Por que ela não pedia um Martini?
- Ok, mas acho que prefiro uma vodka - falei e o garçom anotou.
- Duas vodkas então.
- Três! - levantou a mão.
- Uma cerveja! - pediu.
- Eu bebo com você a batida então, - sorriu para a amiga que concordou. O garçom foi embora, se juntando ao tal John.
- E a pizza?! - se lembrou arregalando os olhos - Você pediu, né?!
- Pedi, mas parece que vocês estavam distraídos demais com.... Afinal, o que estavam olhando tanto? - abaixou a voz, sorrindo, olhando de esguelha para ver se e prestavam atenção. Por sorte, riam distraídas com alguma coisa.
- O que acha? - falei rindo malicioso.
- Garotas! - completou e nós rimos enquanto ainda parecia olhar ao redor a procura de algo.
- Vamos ao banheiro, gente - anunciou se levantando com .
- Olha lá hein , estou te deixando sozinho e é assim que quero te encontrar quando voltar - ela disse sorrindo e eu apenas concordei com a cabeça enquanto e faziam alguma piadinha ao meu respeito. Ah qual é?! Eu já não disse que tinha passado da fase de ficar me agarrando com garotas não disse?
- Caras, eu não sei quanto a vocês... - de repente se levantou - Mas eu vou atrás delas!
- À caça ? - perguntou rindo.
- Claro! Não vem?
pensou por um instante, e então como se o destino o chamasse, as garotas apareceram de novo perto do bar. - Vamos! - ele disse depressa, saindo com . e eu rimos vendo a garota do vestido roxo sair para o lado oposta segundos antes de eles dois chegarem.
- A melhor eles já perderam - se esparramou no sofá - Quero ver isso de camarote.
- Quem toma toco primeiro? - perguntei rindo e vendo os dois puxarem algum papo furado com as garotas.
- - apostou rindo - Ele está com fome e fica mais retardado do que o normal quando está com fome.
Nós rimos.
- Só espero que não fale sobre seu desejo de ser um caça fantasma outra vez! - eu ri mais - Não deu muito certo com aquela garota de Surrey.
E nós dois gargalhamos lembrando da cara da menina. Logo em seguida, o garçom chegou trazendo as bebidas e murmurando que logo traria as pizzas. Peguei minha garrafa de vodka e voltei a olhar e , os dois pareciam no final das contas estarem se dando bem. cochichava alguma coisa no ouvido de uma loira baixinha, não loira aguada, normal sabe? E fazia a tal garota da blusinha preta rir divertida. E a que se chamava Mary estava sobrando.


- Essa é a Jenny e...
- ! - a de blusinha preta se apresentou por conta própria, sentando-se ao lado de e sorrindo. Mary tinha ido para pista de dança pelo que parecia.
olhou para mim de esguelha como se dissesse "não é que eles conseguiram?".
falou alguma coisa para Jenny e ela sorriu, dando um breve beijo nele. e vinham em seguida, voltando do banheiro rindo felizes.
- Mas , eu não disse que te queria sozinho quando voltasse - falou meio brincando. Eu ri.
- A Jenny e a não estão comigo como pode ver - eu disse apontando e .
- e - falou praticamente, apresentando ela e a amiga, depois foi para perto de .
- Gente, já arranjamos o que fazer amanhã! - anunciou sentando-se ao meu lado. Apoiei meu braço no encosto do sofá, ficando com ele volta dela.
- Vamos à praia, uma garota que encontramos no banheiro disse que vai ter um concurso de surfe! - sorriu animada.
- Ah é! - se pronunciou sorrindo - Nós vamos estar lá amanhã também! Eu vou disputar na categoria "Iniciante"!
- Não sabia que você surfava - disse sorrindo surpreso.
- Claro que não, nos conhecemos agora. - ela riu e nós rimos também da cara que fez.
- Ah cara, não foi assim que te ensinei! - zombei ainda rindo. desviou o olhar de e de repente me olhou... Olhou de cima a baixo com um sorrisinho nada puritano. não percebeu.
- Então vamos amanhã? - perguntou.
- Por mim... - deu de ombros.
- Ok, então, amanhã... Praia! - sorriu de orelha a orelha e me abraçou. e se beijaram, e eu fizemos o mesmo depois. e começaram uma conversa sobre as praias californianas. E ...
- Hei! Cadê a pizza?! - perguntou de repente.


Capítulo 2

- Abre a janela dude! – se abanava com uma revista velha, andando de boxer pra lá e pra cá, ajeitando algumas coisas. Eram apenas onze da manhã e o dia já estava quente, nos mostrando como a Califórnia podia nos fazer sentir calor.
- Não, o cheiro de cigarro do quarto do lado entra aqui se abrirmos. – disse com uma careta e colocando sua bermuda de banho.
- Pof quses focês nãuo ligãn of arfondicisonafo? – perguntou sonolento, ainda sem tirar o travesseiro do rosto.
- Quê? – riu. Eu fui até e puxei o travesseiro do rosto dele.
- Fala.
- Por que vocês não ligam o ar condicionado? – falou sentando na cama com uma cara de sono amassada, os cabelos desgrenhados e tentando pegar de volta o travesseiro da minha mão.
- Adivinha? – disse.
- Quebrado. - e eu falamos ao mesmo tempo.
- Bingo! – riu confirmando - É por isso que é tão abafado aqui dentro, o botão travo no ar quente.
riu também e desistiu de pegar o travesseiro que eu girava para lá e para cá desviando da mão dele.
Nós terminávamos de nos arrumar para ir à praia, todos ainda meio lentos. Tínhamos ido dormir umas quatro da manhã e já estávamos em pé de novo... Meu celular tinha tocado e nos apressou para sair. e ela estavam nos esperando lá embaixo, no estacionamento.
Entramos todos no carro, eu dirigindo com meus óculos escuros, no banco ao lado, , , e no banco de trás.
foi indicando o caminho que a tal garota do banheiro tinha lhe dito. A praia não era muito longe do nosso “hotel” e logo nós estávamos descendo na areia clara e morna, caminhando um ao lado do outro.
- Nem parece que vai ter um festival, pensei que ia ter mais gente – disse olhando para os lados.
- É concurso, não festival .
- É, tanto faz.
Paramos em frente ao mar. As águas estavam calmas, as ondas estouravam com aquele barulho que dá sono, e o sol que batia sobre o mar o deixava com um tom meio azul esverdeado. Se todas as praias da Califórnia fossem assim, então eram bem bonitas. Haviam alguns guardas-sol brancos de um hotel a beira mar e alguns amarelos de um único quiosque vermelho, um quiosque particularmente bem arrumado para uma praia, diga-se de passagem. Alguns fotógrafos andavam com bonés enterrados na cabeça, talvez em busca de alguma celebridade perdida. As pessoas faziam caminhadas, nadavam e, a maior parte delas, estavam sentadas na areia sobre toalhas, cangas e camisetas tomando sol enquanto conversavam.
- Vamos ficar onde?
- Como vamos encontrar a ? –
perguntou olhando para os lados. Ah é... estava com essa paixonite besta por essa garota.
- Já tá tão interessado assim?
- Não enxe !
- É que ele não foi bem sucedido ontem a noite. – riu explicando – Nem um beijinho, nem nada!
- Sério? – perguntei – Não vai me dizer que ele falou sobre o desejo de ser caça fantasma!
- Não, ele apenas...
- HEI! – exclamou de repente, parecendo meio aborrecido – Eu ainda estou aqui, sabiam?
e deram risinhos.
- ...esqueceu o nome dela! – terminou o que ia dizer e e eu rimos. bufou e saiu de perto, pisando forte e chutando areia para tudo quando é lado. Irritadinho...
- Coitado, gente – falou com pena. – Ele estava meio bêbado, peguem leve.
- Mas nós não dissemos nada! – defendeu e e eu seguramos o riso.
- Ok, esqueçam as trapalhadas do ! – falou tirando de sua bolsa o protetor solar. – Vamos ficar aqui mesmo, certo?
- É, pode ser – concordou tirando a camiseta e sentando-se sobre ela. - Jenny disse que nos encontraria perto do quiosque vermelho.
- Ok – estendeu uma canga azul clara perto de e sentou-se, sentou ao seu lado. tirou o vestidinho amarelo, ficando só de biquíni rosa, e começou a passar protetor...
- Quer ajuda com isso? – perguntei a abraçando por trás. Ela corou.
- Ain , não... – e riu se virando para me abraçar de frente.
- E ó lá a Jenny, a e duas outras garotas! – apontou mais a frente, mas eu não olhei... estava fazendo carinho nos meus cabelos.
- Ah, aquela de shortzinho e biquíni preto é que nos falou do concurso!
- Hmm, bem bonita! – comentou sorrindo maroto. me dava leves beijinhos no lábio agora.
- Vou chamar elas! – se levantou com um pulinho e foi até as outras. Não se passou nem um minuto e, enquanto me dava um ultimo beijo e eu a puxava mais para perto, voltou. -... então, por isso você foi embora ontem?
- É claro que não, – uma voz disse e um frio invadiu meu estômago – Eu fui porque sei lá... estava com sono.
imediatamente desviou o olhar para mim, me encarando sério, desmanchou aos poucos o sorriso que estivera em seu rosto e eu não quis me virar para olhar. Não precisava... ainda lembrava daquele jeito de falar. - com sono às duas da manhã?
Era ela! Senti minhas pernas amolecerem, meu coração querer pular para fora do meu peito e finalmente me virei para olhá-la. Pronto. Ali estava ela, parada ao lado da amiga sorrindo... Aquele sorriso lindo que durante muito tempo foi tudo que quis ver na minha frente. Não olhava para mim e nem para nenhum dos meus amigos, apenas continuava conversando com .
- Gente – disse chamando a atenção para ela... ou tentando, porque eu não dei a mínima.- Essas são a Mary – e apontou a garota enquanto minha respiração começava a ficar rápida. – e !
Senti meus joelhos cederem ao meu peso novamente, minha mão ainda estava na cintura de e eu até tentei me mexer, mas não consegui. Ela desviou o olhar para e , piscou algumas vezes e franziu a testa levemente em sinal da sua surpresa. Em seguida, o olhar dela se cruzou com o meu, ela suspirou quase imperceptivelmente e nós nos encaramos. Não dissemos nada...
- Foi a que nós encontramos no banheiro e nos disse sobre o festival – falou e desviou o olhar para ela, apenas dando um sorrisinho e mordendo os lábios em seguida. Parecia nervosa. Eu estava tendo quase um ataque cardíaco.
- Concurso, corrigiu. Podia sentir os olhares preocupados de e sobre mim.
- Err... ? – chamou e eu desviei o olhar de sentindo uma tontura esquisita. – Quer ir comigo pegar uma bebida ali no quiosque?
- Ok – concordei e me soltei de , andando depressa com ele entre as pessoas. Não sei como consegui caminhar. Tremia tanto que quase já não tinha controle sobre as minhas pernas. Porra! Ela tinha surgido da onde?!
- Hei... vocês se conhecem? - escutei perguntar enquanto eu já me afastava com , que olhou para mim, no mínimo esperando que eu desse um chilique, caísse duro, ou sei lá. Continuamos andando e não ouvimos a resposta. Parece que só agora , Mary, e estavam vendo que havia algo de errado comigo... Comigo? Com ela! Com a tinha algo de errado! Não fisicamente... mas tinha algo de muito errado nela aparecer assim do nada! Não, não tinha não. Era o destino! Não... eu não acredito em destino! Que baboseira! Era... Era nada. Nem sei mais que merda eu estou falando aqui!
- O que ela está fazendo aqui? – foi o que consegui perguntar, tomando muito fôlego e mesmo assim com a voz saindo tremula.
- Não sei cara... não sei. – falou vagamente, parecendo tão sem saber o que fazer quanto eu – Como está se sentindo? – ele perguntou visivelmente preocupada comigo. Acho que estava na cara que por dentro eu estava uma confusão só. Além do mais, ele e os outros eram os únicos que realmente sabiam o que eu sentia por aquela garota e como eu ficara quando ela foi embora.
- Idiota. – eu ri nervosamente e soltou uma gargalhada breve. – Estou me sentindo um idiota.
- Ah então tá normal – ele brincou forçando um sorriso, mas ficando sério em seguida - Você vai ficar bem, cara. Vai ver como vai.
- Vou sim, claro. – disse meio rouco, querendo acreditar nas minhas próprias palavras.
- É, e daí que está a poucos metros, não é mesmo? – me abraçou de lado, me dando alguns tapinhas no ombro. Paramos então no quiosque, no balcão pedimos algumas latinhas de cerveja. Nos viramos para encarar o nosso grupo de amigos a uns poucos metros dali... De longe vimos sorrir para , e ele fazer o mesmo.
- ? – chamei ainda a olhando atentamente de longe. Ela parece agir tão naturalmente...
- Hum?
- Ela ainda é linda, não é? – virei gay. me olhou por um instante e soltou um breve suspiro antes de responder:
- Pior que é, dude.
Sorri de canto, um sorriso desses bobos, eu tenho quase certeza que foi um desses! Acho que poderia dizer também um sorriso nervoso, meio triste... Não sei, apenas sei que senti uma pontada forte no estômago e continuei a observando, assim mesmo, de longe... Droga! Logo agora que eu achava que estava indo tudo bem, lá minha vinha a complicação de novo. Complicação. me complica. Me complica porque ela é ela e eu sou eu.
Me senti de volta ao colegial.


(...***...)


Sentei-me ao lado de e ela entrelaçou os dedos nos meus, segurando minha mão. parecia ainda meio em estado de choque com a “volta de ”. A seu lado estava , que desenhava na areia seu nome, parecendo muito entediada. estava do meu outro lado, falando com Jenny e Mary sobre o motivo do concurso ter sido cancelado por causa das ondas pequenas não ajudarem os surfistas. E e riam com . É...se me contassem que assim que eu saísse da Inglaterra encontraria numa praia da Califórnia e que a veria rindo com meus amigos numa roda, eu jamais ia acreditar! Mas era verdade. Era real. Ela estava lá!
- Podíamos jogar baralho, isto é, se tivéssemos um, é claro – riu .
olhou para a amiga, sorrindo. Tinha mudado um pouco, claro que ainda tinha as feições delicadas e algo no seu jeito que lembrava uma garotinha, mas algo nela havia mudado, não sei bem o que, mas... Deus, como ela estava linda. Mais linda do que a última vez que tinha a visto. Como é mesmo que pude achar que tinha a esquecido? Era só olhar para mim e ver que lá estava eu, de novo agindo que nem um imbecil! Não conseguia dizer nada pra ela, só ficava a encarando. , vez ou outra, me cutuca discretamente na perna para que eu parasse de olhá-la tanto. Ainda não tínhamos dito nada um para o outro, mesmo que volta e meia nossos olhares se cruzassem.
- Acho que o Paul tem um baralho lá – Mary falou olhando para o quiosque.
- Tem?
- Não duvido, do jeito que o Kazanskis é. Ou passa as tardes vendo programas na tv ou jogando baralho – disse se levantando e tirando a areia do shorts jeans com batinhas. – Vou ver.
- Ah, , aproveita que a vai lá e pega uma água pra mim? – pediu com um biquinho. Ver chamando de era totalmente estranho. Se ela soubesse de pelo menos da metade, duvido que a chamaria assim. Duvido sequer que gostaria dela como parecia gostar.
e eu nos entreolhamos... Queria poder ler os pensamentos dela nessa hora. O que estaria pensando? Era simplesmente indecifrável, mas de repente, me fazendo sentir mais confuso do que já estava, ela sorriu, achando graça em alguma coisa que não entendia. Então revirou os olhos como quem estava achando aquela situação entre nós ridícula e infantil.
- Vamos? – disse sorrindo para mim e eu tive certeza que teria dificuldade em levantar. Aquele sorriso... , e se olharam de esguelha.
- Volto já – murmurei me juntando a e saindo de perto do grupo, andando ao lado dela pela areia até o quiosque. Estávamos a menos de dez metros do lugar, mas nunca me pareceu uma caminhada tão longa. Não falamos nada no caminho, andamos um ao lado do outro sem trocarmos uma palavra sequer. Estávamos desconfortáveis com a situação e acho que eu estava meio tremulo. Ela, mesmo com toda aquela pose dela, também não parecia muito calma.
- Kazanskis! (NA: saúde!) Têm baralho aí? – gritou para dentro do quiosque, se apoiando sobre o balcão e levantando uma perna. Ri... A garota do vestido roxo do bar era ela! Que ironia... Que loucura!
- Menina! Olha essa boca! – um homem com uma barba castanha, começando a ficar grisalha apareceu de repente. Ela balançou a cabeça e riu gostosamente...
- Não Kazanskis, eu não disse isso! – ela explicou sorrindo - Foi baralho. Com “b”, não com “c”!
O homem riu, ficando meio sem jeito, passou a mão pela barba e eu vi uma tatuagem meio torta no braço dele.
- Estou ficando velho e surdo. Você não poderia estar pedindo mesmo uma coisas dessas... – o homem riu roucamente.
- Não faz meu estilo – ela brincou sorrindo. E o que faz o seu estilo, ? Me beija! Oi! Me beija! Pára ! Se controla! Olha quanta idiotisse! Preciso me dar um soco mais tarde.
- Acho que tenho um desses lá trás, eu quero dizer, um baralho, é claro. – Paul continuou simpático - Mais alguma coisa?
- Eu quero uma água – pedi e ele olhou para mim.
- Ok, um baralho para pequena e uma água para o namorado dela. – falou e saiu andando para os fundos do quiosque. Namorado... Tá me tirando esse cara aí.
mordeu os lábios e riu baixinho, olhei para ela e fiquei meio sem graça. Me virei, ficando de costas para o quiosque e apoiei meus cotovelos no balcão atrás de mim. fez o mesmo que eu. Encaramos o mar, novamente em silêncio. O silêncio mais inquietante que já partilhei com alguém.
- Sabe, ele tem problemas com a família – ela disse de repente, sem olhar para mim. Que? Quem? – Está tentando consertar a vida com os dois filhos e a esposa.
- O Paul? – perguntei também sem olhá-la, vendo o vai e vem do mar. A conversa sobre o homem acho que era o único jeito de quebrar o silêncio entre agente.
- É. – respondeu com a voz calma – Ele é uma boa pessoa, mas bebia muito antes. Coitado, é meio deprimido às vezes.
- Não parece uma pessoa triste.- falei. Ok, o clima já não estava mais tão ruim assim.
- Não, – falou e eu franzi a testa, me virando para olhá-la - mas isso não quer dizer nada, apenas que ele sabe esconder bem.
Fizemos silêncio. Mas esse foi diferente. Não era tão pesado quanto o outro. Aos poucos, acho que fui me acalmando, apesar de ainda não acreditar direito em tudo que estava acontecendo... não tinha caído minha ficha.
estava ali do meu lado após um ano, após todas as minhas tentativas de esquecê-la, após tudo já estar quase num passado tão distante que não parecia real. No entanto, ela era real. A presença dela ali comigo era mais do que verdadeira e estávamos tendo uma conversa banal sobre um cara que estava deprimido? Bizarro!
- Você me odeia, não é? – ela interrompeu meus pensamentos de repente, ainda olhando o mar, me pegando desprevenido como sempre costumava fazer. Fiquei gelado da cabeça aos pés, ou pelo menos me senti assim. Se eu a odeio?
- Um pouco. – respondi sincero. De alguma forma, ela tinha quase arruinado minha vida. Senti uma dor pontuda no peito.
- Certo. – ela falou com simplicidade, parecendo não se abalar nenhum um pouco com a resposta. Pronto, estávamos caminhando para o inevitável. Para a conversa sobre nós.
- Sabe, naquele dia... passei na casa da sua avó...
- Eu sei. – finalmente me olhou e eu senti um arrepio na nuca - Minha vó me contou depois – sorriu – Ela me disse que você era um pedaço de mau caminho.
Nós rimos. É totalmente inexplicável essa nossa variação de “nervosismo” para “risadas”.
Senti uma sensação reconfortante ao escutar a minha risada misturada com a dela. Sorrimos.
- Sinto saudades dela - pareceu triste, digo, realmente triste. Desejei que pudesse abraçá-la, mas me segurei. Então ela se desencostou do balcão, voltando para a areia na praia. A segui, caminhando a seu lado na direção oposta de onde nossos amigos estavam, nos distanciando e esquecendo de Paul e o restante das coisas.
- O que está fazendo aqui, afinal? – a olhei com atenção e fiz a pergunta que não queria calar. O dia começava agora a ficar escuro, algumas nuvens encobriam o céu e as pessoas começavam a ir embora da praia por causa da ausência de sol. Verão maluco!
- O que você está fazendo aqui? – ela perguntou me olhando também. Certo. Comprovado. Ela estava tão surpresa com a minha presença ali quanto eu com a dela.
Nos encaramos em silêncio e então encolhi os ombros dizendo:
- Eu perguntei primeiro.
sorriu.
- Longa história – respondeu brevemente e eu fiquei com um pouco de raiva. Ela nunca me respondia uma pergunta descentemente! Saia sempre pela tangente.
- Você pode me contar a longa história se quiser, estou aqui com você para ouvir, não estou? – disse meio ríspido e ela mordeu os lábios, olhando para baixo.
- Não quero contar – confessou.
- Mas fácil dizer de uma vez que não quer contar então, não é? – ri irônico e percebi que tinha sido estúpido. Não me importei, por alguma razão, eu tinha mesmo um pouco de raiva dela. Tinha sim. Não me peçam para explicar. Raiva e pronto.
Ela revirou os olhos e parou de andar pela areia, fiz o mesmo.
- Por que não briga comigo de uma vez? – cruzou os braços e virou-se de frente para mim, me encarando – Vamos lá, não é como seu eu fosse chorar por isso ou algo assim. – provocou me desafiando. Estreitei os olhos e ri com descaso. Ela estava provocando a raiva enrustida em mim.
- Não acho que choraria – falei sério, a encarando também. – Mas não vou brigar com você, se é o que você quer. – não iria fazer a vontade dela. Ela bem sabia que eu tinha um tanto de raiva por ela. não era burra nem nada, sabia muito bem.
- Não é o que eu quero, mas sim o que você quer! – ela provocou de novo. E o nervosismo que eu tinha antes apenas por estar do lado dela? Nem existia mais agora!
- Eu não disse isso! – me irritei mais um pouco. Ela revirou os olhos novamente, voltou a andar, então pareceu desistir e sentou-se na areia, abraçando as pernas, parecendo um tanto cabisbaixa. Eu não a entendo! Provoca e depois se arrepende?
- Você é apenas bundão demais para me xingar – ela falou meio baixo e eu tive que rir. Bundão? Mesmo bravo eu ri. Que vocabulário era aquele? Tá vendo só porque eu falo que ela me lembra uma garotinha às vezes! Fui até ela e sentei-me a seu lado.
- Quer dizer então que sou “bundão demais”? – lá se vai a minha raiva... Não toda, mas uma boa parte dela.
- Hum hum – ela confirmou e eu tive vontade de agarrá-la. Como é que fazia isso comigo? Ela era única, cara... Ninguém mais tinha esse jeitinho! Merda, por que mesmo eu não posso agarrá-la?
- Posso saber do que está rindo, ? – perguntou, tentando fingir que não queria rir também. Desistiu de me provocar foi, ?
Involuntariamente fechei meus olhos ao escutar ela falar meu sobrenome... a velha mania! Acho que algumas coisas não tinham mudado, afinal.
- Nada. – respondi – Mas... quantos anos você tem mesmo?
Ela estranhou a pergunta e me olhou.
- Nunca te disseram que não se pergunta a idade de uma mulher? – brincou sorrindo.
- Uma mulher que fala “bundão”? Por um instante pensei que estivesse falando com uma garotinha de dez anos!
- ! – disse alto, rindo. Adoro a risada dela! Olha a gente aqui de novo sendo estranho. Raiva. Risos. Nossos extremos.
Nessa altura, o sol já tinha se escondido completamente atrás de uma grande nuvem, as águas, com o vento mais forte, ficavam mais agitas, e as pessoas... Bom, o lugar estava quase deserto, podia-se contar nos dedos as pessoas que restavam ali. Eu e éramos umas das poucas. Sentados na areia ainda quente com o céu nublado sobre nossas cabeças, parecendo apenas dois pontinhos insignificantes na extensão da praia, ouvindo as ondas estourarem.
- E como estão as coisas lá? – perguntou com um breve suspiro, voltando nossa conversa para o status “casual” – Eu quero dizer, como foi a formatura da escola e tudo mais?
- Ah, foi normal. – não me lembrava direito. – Nós tocamos... O McFLY vai indo bem, sabe, o diretor nos pediu pra tocar, disse que nós somos bons - contei a parte que lembrava, porque depois de tocar naquele baile de formatura, fiquei bêbado e sai com Julie. Mas da parte que eu me agarrava com a amiga dela, acho que não precisava contar.
- Grande novidade... – ela sorriu com sinceridade – Sempre soube que vocês mais cedo ou mais tarde iam se dar bem. Aquele dia no Generation, todo mundo já tratava vocês como rockstars e tudo mais.
Sorri ao me lembrar daquele dia e também por saber que também lembrava.
- Pois é... E é por causa do McFly que estamos aqui também - expliquei – Vamos ir a uma gravadora com Fletch e quem sabe, assinamos um contrato para gravar um cd.
olhou para mim parecendo feliz.
- Sério? – perguntou animada.
- É sim... E eu nem acredito. É como um sonho...
- Um sonho que merece virar realidade. – ela ponderou e voltou a olhar o mar. – Parabéns!
- Obrigado, mas ainda não é nada certo.
Ela achou graça em alguma coisa e sorriu.
- Mas então... Na formatura o que mais aconteceu? As pessoas fingiram-se amigas e tudo aquilo? – voltou ao assunto.
- Acho que no final todos ficaram amigos mesmo. – falei passando as mãos pelo cabelo – Disseram seu nome lá, se quer saber. Sentiam sua falta, .
Ela franziu a testa e uma chuva fininha começou a cair.
- E você? – perguntou.
- Eu o quê? – senti um frio na espinha. Ela estava mesmo perguntando o que eu achava que estava?
- Você sentiu a minha falta?
O que eu ia responder? Que quase tive um treco quando ela foi embora? Que por dias não quis sair da escuridão do meu quarto? Deus, por que ela tinha que me perguntar isso?
- Você sentiu a minha? – perguntei fazendo como ela fazia, saindo pela tangente. me encarou por alguns segundos, parecendo pensar no que ia dizer... os olhos dela fixos nos meus.
- Hm... Não. – respondeu e desviou o olhar. Não pude evitar o frio no meu estômago, mesmo que já soubesse que não iria responder “sim, meu amor!” ou coisas do tipo, fiquei desapontado. Aquele “não” pareceu tão simplório perto da complexidade de tudo que eu sentia.
- Nem eu. – menti me sentindo meio deprimido e inquieto ao mesmo tempo. Meus cabelos começavam a pingar por causa da chuva que se intensificava aos poucos.
- Melhor assim, não é?
- É. – falei começando a me irritar de novo e para valer agora – Eu quero dizer, nós não éramos amigos e foi só um final de semana insignificante, certo? Ela me olhou, levantando as sobrancelhas e se levantou de repente. Eu fiz o mesmo.
- Mais ou menos isso – respondeu meio afetada e um trovão no céu anunciou a tempestade que estava por vir. – Mas se bem me lembro, naquele “final de semana insignificante”, como você diz – ela fez aspas com os dedos - , você falou que estava apaixonado por mim.
Ela sorriu meiga e ironicamente. Pela primeira vez pude entender porque algumas pessoas a detestavam na escola. Senti meu coração acelerar e ri debochadamente para disfarçar o que realmente sentia.
me olhou profundamente e eu notei que ela foi se irritando aos poucos enquanto eu ria para provocá-la.
- Eu pensei que estava! – falei meio alto, pingos mais fortes caiam do céu agora.
- Então você mentiu? – perguntou também elevando a voz – E o que pretendia? Apenas transar comigo? Por que bem, isso você conseguiu não é? – ela deu um passo na minha direção e eu senti minhas entranhas se remoerem de ódio – Espero que tenha se gabado bastante por isso! Orgulhoso?
Bufei alto. Não acredito que ela tenha dito isso.
- Não me venha falar de mentiras! É o cumulo do cinismo exigir a verdade vindo de você! – exclamei a olhando sério agora, sentindo meu coração bater forte contra meu peito – Você veio com aquela historinha de “Oh , eu sou virgem” – fiz uma imitação malvada dela. – E eu acreditei! Orgulhosa? – rebati com as mesmas palavras dela. Claramente a vi se irritar profundamente. Pensei que me daria um tapa no rosto.
- Não era mentira! – ela falou crispando os lábios ferozmente.
- Ah é, não era – ironizei rindo brevemente. Sentia o prazer de irrita-la circular no meu sangue.
- Não seja ridículo !
- Não seja cínica !
Ela fez silêncio por um instante. Finalmente tinha aprendido a lidar com ela. Acho que foi uma das únicas vezes que a chamei pelo sobrenome.

- Não estou sendo cínica – séria, me olhando perigosamente – O que eu lhe falei aquele dia era verdade!
- Sério? Ah que emoção! - gargalhei de uma forma treslouca. Estava perdendo o controle sobre mim mesmo tamanha era a minha indignação e ódio com .
- Pára . – ela pediu. Minha raiva era tanta que parecia fervilhar em meu sangue.
- Pois quer saber? – sorri ironicamente, querendo a ver perder o controle – Foi um prazer te desvirginar – fiz uma reverencia, sendo totalmente desprezível – Se quiser posso fazer de novo... Agora mesmo! Aqui mesmo! – gritei e ela apenas me olhava, prestando atenção no que eu dizia – Vamos lá, eu quero de novo poder comer a garota mais gostosa de todas!
não se mexeu. Não disse nada. Não fez nada. Apenas me encarou. Não com ódio, não com desprezo... era uma expressão estranha, talvez pena.
- Era verdade, . Você foi mesmo o primeiro, e eu queria que fosse você. – disse depois e eu soube, pela maneira calma que ela dizia, que eram totalmente sincera suas palavras. Senti uma dor latente em todo meu corpo, meu coração ia explodir a qualquer momento... Passei a mão pelo rosto desejando morrer.
- ... – foi a primeira coisa que consegui dizer – ... Me desculpa. Me desculpa! Me desculpa!
Ela mordeu os lábios, ainda me olhando atentamente enquanto eu repetia infinitas vezes “Me desculpa! Me desculpa!”. Depois de alguns segundos em que eu quis me matar nas águas revoltas do mar sob a chuva, caminhou até mim, devagar.
- Tá tudo bem... – disse para minha surpresa e espanto... E me abraçou. O corpo quente dela, contra o meu. Ambos molhados, mas ainda assim, quentes. Passou a mão nos meus cabelos, fazendo carinho neles com a ponta dos dedos, se aconchegando em mim da mesma maneira que eu me aconchegava nela.
- Tá tudo bem, – falou fechando os olhos e eu achei que estava vivendo uma realidade paralela.
- Me desculpa! Por favor, ! Me desc...
- Você precisava brigar comigo, eu entendo. – envolvi meus braços na cintura dela – Agora vai ficar tudo bem entre a gente.
Caralho! Eu queria chorar. Só agora eu entendia... Só agora eu sentia como o peso que eu parecia carregar dentro de mim durante todo esse tempo, e que parecera se acentuar quando eu a vira algumas horas atrás, só sairia de mim quando eu colocasse toda a minha frustração com a ela para fora. Estava mais leve agora. Sentia meu peito livre.
- Me desculpa? – dessa vez falei calmo.
- Hum-hum – ela sorriu e me deu um beijinho no rosto, fez um último carinho no meu cabelo e se afastou. – Quero sair dessa chuva. – falou em seguida.
- Te levo pro meu hotel. É pertinho daqui – respondi começando a caminhar. Ela concordou e depois abriu um sorrisinho que eu conheço muito bem...
- Então, eu sou a garota mais gostosa de todas? – perguntou rindo. Sério, ela não existe!
- É sim, mas não seja muito convencida – ri também.
- Vou contar para sua namorada! – disse com um ar sapeca e eu gargalhei enquanto saíamos da praia sob a forte chuva. Sério, nós não existimos.


Capítulo 3

- Atchiiin!
- Saúde.
- ‘Brigada. – sorriu para mim e eu abri a porta do quarto. Havíamos molhado todo o corredor da pousada no caminho. Judith tinha nos entregado toalhas secas e limpas quando passamos pingando pela recepção, era mesmo uma velhinha muito simpática. Se ela não fosse do , quem sabe...
- Droga, deixamos a janela aberta! – notei assim que entramos, vendo uma poça d’água no carpete do chão.
deu uma risada breve e eu fui fechar a janela.
- Você está molhando muito mais o chão que a janela, – ela falou rindo, deixando as toalhas em cima da cama de . – E eu também. Sorri para mim mesmo quando a escutei dizer “”. Olhei para ela... Parecia estar com frio, estava só de shorts e biquíni, os cabelos pingando... Linda, mas um pouco encolhida por causa da friagem.
- Vamos nos secar. Ahn,... quer tomar banho? – um frio percorreu minha espinha e os cabelos da minha nuca ficaram em pé. tomando banho num banheiro a menos de três metros de mim? No mínimo perigoso.
- Posso?
- Se o chuveiro funcionar... – brinquei rindo, ela sorriu e pegou uma toalha.
- É um quarto legal – comentou olhando ao redor e caminhando até o banheiro – Nada comparado ao Palace Star, mas tem um estilo grunge que me lembra Kurt Cobain.
- E desde quando você é fã de Kurt Cobain? – achei graça. < br> - Ah, pára! O cara morreu pelo rock’n roll! – ela disse parecendo encantada – Quer uma morte mais honrosa que essa?
- Pensei que ele tivesse apenas morrido drogado e com um tiro na cabeça. – falei sem emoção.
- Basicamente. – deu de ombros - Mas o cara era tão rock’n roll que não conseguiu ser um rockstar – e abriu a porta do banheiro – Não agüentou a fama e bom, se matou por isso. Faz algum sentindo, certo?
- Pensando por esse lado... – ponderei por um segundo. Era realmente meio maluca, mas no final, sua maluquice tinha um quê de lucidez.
- De qualquer forma, é um quarto legal – concluiu e sorriu, olhando para as quatro camas apertadas ali. Por algum motivo me lembrei de dando seu “pequeno chilique” quando chegamos.
Ainda parada na porta do banheiro ela disse:
– Só não vá pirar feito Kurt Cobain quando for famoso, ok? – ela riu brevemente. Sorri com esse pensamento.
- Espero que não, isso é, se eu for famoso algum dia...
- Vai ser.
- Você já me disse isso, – falei me lembrando que não era a primeira vez que tínhamos essa conversa. – mas eu ainda não sei como diz isso com tanta certeza.
- Não sei se tenho certeza. – ela riu parecendo meio confusa – É melhor eu ir tomar banho de uma vez. – fez um gesto com a mão como se dissesse “deixa pra lá” e fechou a porta do banheiro. Sorri para a porta fechada, parecendo um doido. Então meu olhar passou pelo buraco da fechadura e...
- Seja um bom menino ! – falei para mim mesmo e me sentei na cama, escutando a chuva cair do lado de fora e o chuveiro ser ligado. – Ah droga! – disse num muxoxo fraco e me deitei na cama, ainda com os pés no chão. Tentei não imaginar o que acontecia do outro lado daquela porta. Os hormônios não ajudam nessas horas, sabe?...


(...***...)


- Não vai rir! – ela mesma riu – Ok, eu deixo você rir.
- Não tá feio – sorri olhando a minha camiseta dos Beatles parecer uma camisola nela – Tá sexy. – falei e ela levantou as sobrancelhas - Ok, talvez menos sexy de quando você saiu do banheiro só de toalha dizendo: – a imitei de uma forma meio gay – “, me empresta uma roupa seca”?
Ela gargalhou gostosamente e eu sorri. Voltei a me olhar no pequeno espelho perto da porta e sacudi meus cabelos molhados para longe dos olhos.
- Cheirinho bom. – passou atrás mim, empinando o nariz, cheirando o ar de uma forma engraçada.
- Tomei banho, sabe? – brinquei a vendo ir se sentar na cama de e cruzar as pernas. – Se você se mexer muito vai cair. – avisei.
- Por quê?
- Cama quebrada. – disse e fui até a minha, me jogando de costas.
- Eu hein, – olhou para o colchão que estava sentada – o que vocês fizeram aqui em cima?
- Nem te conto!
- Eca! – ela pulou rapidamente da cama, ficando em pé. Eu gargalhei da cara dela.
- Brincadeira. – falei rindo e ela revirou os olhos.
- Tonto – sorriu – Mas não achei mesmo que fosse dessas que gostam da coisa meio selvagem. – comentou sentando-se novamente. Sei lá porque fiquei meio sem graça. Acho que ver dizendo o nome da assim tão naturalmente era estranho, de algum modo, queria que ela fizesse cara feia quando falasse o nome da minha namorada.
- Essa cama é do . – expliquei.
- Ah, pensei que fosse sua. – riu baixinho, mas por um segundo se eu não a conhecesse, diria que também ficou meio sem jeito. Fizemos um pouco de silêncio. Pela janela vimos o dia chuvoso ir virando noite. Como o tempo passava rápido com ela!
- ? – ela chamou meio baixinho e eu virei o rosto para olhá-la na cama ao lado.
- Hum?
- Eu ia te esperar... sabe... aquele dia. – encarou as mãos e eu senti meu coração apertar – Pensei que ia só ter mais uma briga com a minha mãe, sentar na calçada da casa da minha vó e te esperar para ir a escola, mas...
- Não precisa explicar se não quiser – falei me sentando na cama e ficando de frente para ela. – Você não me deve explicações.
- Eu sei que não – ela me olhou – Mas você também não devia estar sendo legal comigo.
- Não fui tão legal assim na praia. – contrapus sentindo um calor queimar meu rosto.
- Já disse pra esquecer isso... – ela bufou – Mas de um modo geral, ainda está sendo legal. Poderia ser muito pior se você quisesse.
- Talvez... – dei de ombros e a encarei – Mas não posso evitar.
Ela sorriu e mordeu os lábios, se levantou e sentou do meu lado.
- Eu deveria te pedir desculpas por causa daquele dia, mas sou muito orgulhosa pra isso – falou naturalmente.
- Falando desse jeito já é uma forma de pedir desculpas. – ri para esconder o nervosismo, sentindo um frio crescente na barriga.
- Não é não. – negou rindo também – Nem vem , não estou te pedindo desculpas. – disse orgulhosa. Levantei uma sobrancelha enquanto sorria a olhando...
- Então tá, se é assim, também não estou te tratando bem – disse brincando – Acho que apenas fiquei com pena porque você estava com frio e te emprestei uma camiseta.
- E me trouxe para seu quarto também! – acrescentou me lançando um olhar pelo canto do olho e depois, engatinhando pela cama, passando por trás de mim.
- É, mas foi você quem quis sair da chuva. – lembrei ainda sentando na beirada, a olhando ir de gatinhas até meu travesseiro - E você aceitou vir!
- Aceitei, é verdade, mas só porque sei que você não é nenhum maníaco.
- Quem sabe eu tenha virado um. – sorri maroto e ela gargalhou, me fazendo rir também.
- Claro que não, você não tem cara de maníaco. – disse e se deitou despreocupada, olhando o teto. Continuei sentado na ponta da cama. - Ah não? – olhei para ela e quis me deitar a seu lado. - Tenho cara de quê então?
- E de que mais teria? – levantou as sobrancelhas sorrindo divertida - De bundão!
Desatei a rir enquanto ela apenas sorria me vendo gargalhar.
- Eu ach...- comecei mas de repente se levantou, ficou de joelhos na cama e me puxou pela camiseta, voltando a se deitar e me levando junto com ela. Franzi a testa sorrindo e me vi deitado ao seu lado, sentindo o seu corpo encostado no meu. Encarávamos o teto lado a lado.
- O que foi isso? – perguntei virando o rosto e olhando o perfil dela. se virou na cama, ficando de lado e me olhou também, de frente para mim...
Nossos rostos estavam a centímetros um do outro e com o anoitecer o quarto estava cada vez mais escuro, apenas iluminado com a pouca claridade da rua que entrava pela janela. Respirei fundo ao vê-la tão próxima. O que ela estava querendo com isso?
- Você tava muito longe – murmurou rindo. Senti a respiração quente dela bater nos meus lábios. Fechei meus olhos com a sensação que estava sonhando.
- ? – chamei abrindo meus olhos e a observando.
- ... Era isso, eu ia falar o que estava sentindo. Não agüentava mais! Mais um pouco e iria explodir no meu peito!
- Durante um bom tempo, depois de tudo, o que mais quis foi...

- ...E SE ELE TIVER MORRIDO?! E SE ELE FOI SEQUESTRADO?!
- Fica calma !
– escutamos dizer impaciente do lado de fora do quarto, no corredor da pousada.
Levantei-me depressa da cama, só agora me lembrando que depois que tinha saído com até o quiosque não tinha voltado mais... Tinha esquecido completamente de e os outros na praia!
- Ela vai brigar com você? – perguntou se levantando também e ajeitando a camiseta dos Beatles para que cobrisse suas pernas.
- Talvez... estou com outra garota no quarto, não estou?
- Mas não fizemos nada – disse como se achasse ridículo.
- Eu sei, mas ela não sabe disso, sabe?...

- Ele deve estar bem , sabe se cui...SEU BIXA! – gritou assim que entrou no quarto e me viu – Da próxima vez que resolver voltar para o quarto sem nos avisar faça o favor de levar junto com você! Ela quase nos deixou loucos!
- , está aí? - espiou por cima do ombro de parado a porta - Ah ! – exclamou aliviada quando me viu e entrou no quarto com os olhos cheios de água – Fiquei com tanto medo que você tivesse desaparecido nesse país estranho! – e se jogou nos meus braços, me abraçando. Escutei rir baixinho.
- Calma , eu estou bem. – disse a abraçando enquanto via passar até e , que arregalaram os olhos para ela, surpresos de vê-la ali.
- ? O que está fazendo aqui? – perguntou parecendo também surpresa. O quarto agora ia ficando cheio...
- A tá aí também?! – exclamou a voz de em algum lugar atrás de todos, um segundo depois apareceu no quarto abrindo caminho entre eles. – Lindinha, não suma assim – disse olhando para de uma forma carinhosa e engraçada.
- Ah por que não? Foi divertido – brincou e riu.
- Que seja, vou ligar pra Jen e a Mary e dizer que já te encontrei. - pegou o celular e discou os números. me soltou e se virou para olhar ... Lá vem!
- E então? Como foi que vocês saíram para pegar um baralho e acabaram aqui? – perguntou nos olhando – E porque ela está usando sua camiseta favorita dos Beatles?
- Porque eu gosto de roubar camisetas dele – respondeu com simplicidade. Sabia que ela estava se lembrando de quando saiu da minha casa, no dia que foi embora, apenas com uma camisa minha.
, e eu queriamos rir também, mas nenhum de nós o fez.
- Mas... – começou.
- Na verdade é que eu pedi ao que viesse buscar um boné meu – interferiu e eu sorri para ele. Um bom amigo, o .
- Não ouvi você pedir nada, docinho – estranhou.
- Você estava rindo com a e o .
- nem falou comigo hoje, como podia estar rindo comigo e ele? – se pronunciou, desligando o celular e parecendo meio emburrada com .
e eu nos entreolhamos, por alguma razão queríamos rir.
- Ah é que... – tentou pensar em alguma coisa e...
- Qual é gente? Fala sério! – interrompeu e todos olharam para ele – Vocês não estão mesmo desconfiando que e estavam se pegando né? Eles são primos!
Primos?! Eu engasguei e desatou a rir. Olha a mentira deslavada ! Somos mesmo uns caras de pau!
- Como é que é? – perguntou – Mas vocês tinham nos dito que eles eram amigos da escola!
- E éramos! – se pronunciou indo para o meu lado – Quando nós estudávamos juntos na Inglaterra éramos além de primos amigos de escola, certo? – ela sorriu pra mim que apenas confirmei com a cabeça. Somos mesmo uns caras de pau! - Mas a verdade mesmo é que eu só andava com eles por causa do . – acrescentou segurando-se para não rir.
arregalou os olhos e todos olharam para ele. Ela tinha que tirar uma da cara dele! Ela tinha sim ou não seria a que eu conheço.
- Ah é! – concordou depressa sem ter realmente noção do que estava fazendo – Era por minha causa.
- E vocês namoraram? – perguntou olhando para amiga.
- Não, - disse espontaneamente. Ela definitivamente sabia mentir - me acha feia.
Fiz um barulho engraçado com a boca tentando não rir. Juro que tentei, mas a cara que fez foi impagável. Soltei uma risada alta junto com .
- Ah, não é bem assim, eu não ia me meter com a priminha do aí – disse envergonhado.
- Como se eu fosse fazer alguma coisa com você. – falei.
- Quer dizer então que se resolvesse se amassar com a você não faria nada? – provocou e deu um sorrisinho para ele e virou-se para me olhar, esperando a resposta. Cacete! De que lado você está ? Retiro o que disse sobre você ser um bom amigo.
- Ah, eu...eu... – gaguejei e olhei com mais atenção para ... Como é que alguém podia ficar tão gostosa com uma camiseta enorme dos Beatles? – Quer saber, eu sairia no braço com ele ou com qualquer! – disse sem nem ao menos pensar.
riu balançando a cabeça e mostrou o dedo do meio para mim.
- Ah que lindo! Meu bebê é super protetor com a prima! – falou me abraçando e eu desejei que ela não tivesse me chamado de “bebê” na frente de . Mais cedo ou mais tarde ela ia me zoar por causa disso, certeza!
- Onde está o ? – perguntei de repente, mudando o rumo da conversa e só notando agora a ausência dele. bufou irritada e olhou para os lados.
- Encontrou uma tal de Alyce e se mandou com ela – contou.
- Mas ué...- estranhei olhando para . - Pra mim queria ficar com...
-Que? Comigo? – me cortou meio impaciente – Acho que não, pelo que parece eu não faço o tipo dele.
- Quê? Mas...
- Ele não quis dizer isso, , tenho certeza – tentou concertar. – Ele apenas...
- É o , cara – interrompeu – Não tenta explicar.
riu.
- De qualquer forma, não me importo! – se virou indo para a porta e deixando bem claro que se importava – Vamos ? Jen e Mary estão doidas pra te ver, - foi comentando - disseram algo como precisar te contar quem perguntou por você ou uma coisa assim.
- Estavam bêbadas? – se adiantou rindo, sequer olhando para trás ou para mim. Oi, eu existo!
- Ainda não.
E as duas riram. pegou suas roupas que tinha deixado num canto e se juntou a . Quis pedir para que ela ficasse, mas não podia fazer isso na frente da minha namorada. parecia ter engolido a historia (lê-se absurda) de que era minha prima, mas também não era boba e com certeza ia ficar desconfiada se eu desse bandeira.
- Te devolvo depois, priminho – disse com um sorrisinho maroto, puxando a camiseta que eu tinha emprestado a ela. Sorri concordando com a cabeça e ela saiu do quarto, carregando suas roupas molhadas. Por um instante fiquei com medo de que ela sumisse outra vez, de que não nos encontrássemos de novo, mas...
- Vemos vocês todos de noite, certo? – falou com um pé para fora do quarto e uma das mãos segurando a maçaneta da porta.
- Claro – confirmou sorrindo e acenando.
- Ok... Mas ah! Não levem o !
- Não seja chata, vamos levar ele – falou sorrindo, a olhando.
- O é gostoso, levem ele sim! – apareceu atrás de , rindo.– Não liguem pra ela. Agora vamos!
E puxou uma meio irritada para fora do quarto, fechando a porta e finalmente indo embora. Senti uma pontada no peito quando a escutei dizer que era gostoso, mas sabia que ela estava brincando. Não gosto dessas brincadeiras. Fato.
- Sua prima é meio maluquinha né? – comentou me abraçando e eu ri agradecendo ao mundo por não ser realmente minha prima ou íamos ter sérios problemas na família.
- É, ela é sim...
- E é linda também! – falou quase sem querer e deu um tapa nele. riu.
- Mas afinal, onde vamos hoje? – perguntei olhando os outros.
- Festa na casa da explicou – Os pais dela estão fora da cidade, foram viajar.
- Legal! - sorri animado. No final das contas a Califórnia estava me saindo melhor do que tinha imaginado! Muuuito melhor!
- ... não , eu estava brincando, eu não acho a gostosa!
- Você não tinha dito gostosa , tinha dito linda!
- Ah é! - deu um tapa na testa e começou a lhe dar tapas seguidos no ombro e no peito.
e eu desatamos a rir e apenas deu um sorrisinho tímido.


Capítulo 4

Três horas depois e nós já estávamos quase indo para a festa na casa de . cantarolava “Ghostbusters” e colocava seu all star azul, tentava fazer o ar condicionado funcionar, ainda não tinha voltado da sua tal saída com a tal Alyce e eu arrumava meus cabelos. Na verdade mexia neles freneticamente por pura ansiedade. Não sabia ao certo de onde é que esse sentimento estava vindo, mas o fato é que aumentava toda vez que lembrava de me puxando pela camiseta e dizendo “Você estava muito longe”. Minha barriga dava uma cambalhota só de pensar no que teria acontecido se e os outros não tivessem chegado bem na hora. Mas pensando melhor... Acho que foi até bom, já que eu teria bancado o idiota mais uma vez na frente da e dito tudo que ainda sinto enquanto para ela eu seria apenas mais um babaca apaixonado... Daria tudo para saber por um instante o que ela estava pensando naquele momento, para entendê-la pelo menos uma vez.... É verdade que tinha mudado um pouco, embora ainda tivesse todo aquele jeitinho apaixonante de garotinha mimada e orgulhosa, agora parecia um tanto mais doce. Sei lá, alguma coisa estava acontecendo e eu acho que de duas uma, ou era a idade que tinha a amadurecido (que coisa de velho para se dizer) ou algo estava realmente mexendo com ela.

- Então... – começou de repente, desistindo de concertar o ar condicionado e me olhando – e já se agarram de novo?
riu.
- Não. – eu disse simplesmente, desejando que a resposta dessa pergunta fosse “sim”. – E não acho que vamos, para ser sincero.
- Ué? Ela não saiu daqui com só com sua camiseta dos Beatles?
- Foi. – confirmei e abri um sorriso maroto em seguida – E também tomou banho no nosso banheiro...
e arregalaram os olhos para mim.
- Como é que é?!
- ... e saiu só de toalha me pedindo uma roupa – continuei do jeito mais calmo que consegui, me lembrando nos mínimos detalhes daquela cena - Daí nós deitamos juntos, mas só deitamos.
e me olhavam com as bocas meio abertas e com os pensamentos perdidos em alguma coisa, tenho certeza, nada puritana.
- E não rolou nem uma bitoquinha? – perguntou incrédulo, fazendo um bico engraçado. “Bitoquinha?” De onde é que ele tirou essa palavra? Tive que rir.
- Nada.
- Ah não! , cara – veio até mim e colocou a mão no meu ombro me olhando sério – era a ! A garota mais foda que você já pegou na sua vida! A garota por quem você era, apaixonado! Que aconteceu? Você não virou bixa, virou?
gargalhou e mostrei o dedo do meio pra ele.
- Claro que não! – falei coçando a nuca – Mas é que não podia agarrar ela assim... não por falta de vontade, claro, porque... Nossa! Como eu tive vontade! Mas...
- E a ? – perguntou de repente.
- Eu sei – falei e olhei para meus pés. Tenho que admitir. Não é justo com a , ela é legal comigo...
- Cala a boca ! não pode pensar na nessas horas – interrompeu e nós olhamos para ele – É sério! Não que eu não goste da , a garota é gente boa, mas tá na cara que... bom... , vai me desculpar, mas tá na cara que você não gosta da do jeito que gosta da .
- Eu sei – disse de novo. Ótimo, eu sou apaixonada pela e isso tá na minha testa! Não tem nem como negar...Gostaria que pudesse fingir que não às vezes, acho que seria mais fácil.
- Mas e daí? – perguntou olhando de para mim – O que adianta gostar dela se não podemos nem dizer que se importa com ele?
- Obrigado ! Você é realmente animador! – falei com uma risada breve, sentindo meu coração apertar e minha garganta secar. De qualquer forma, tinha razão.
- Desculpa , mas alguém tem que trazer seus pés de volta ao chão – ele falou me olhando solidário. Ficamos um pouco em silêncio...
- Mas e se ela gostar? – contrapôs um minuto depois e nossas atenções se voltaram para ele – Eu quero dizer, e se gostar mesmo de ? Nunca vamos descobrir se ele não tentar ficar com ela, não é?
- É, isso é verdade. – me animei um pouco, bem pouco. Por que era tão complicado gostar da srta ?
- Só vê se você não pira de novo! – acrescentou depressa, num tom meio paternal e atípico dele, que só usava quando eu estava na pior por causa da – Como já disse, é bom manter seus pés no chão . Não vai ficar achando que... – ele deu de ombros - Enfim, não se esqueça que estamos aqui por causa da banda e não por causa do seu casinho amoroso.
- Temos uma apresentação daqui a alguns dias e você precisa estar bem – lembrou – O McFLY sem o , não é o McFLY. E eu me senti gay falando isso, mas tudo bem.
Sorri feliz enquanto e riam. Se havia uma coisa que sempre me deixava feliz era a nossa banda, não importava qual fosse a situação.
- Ah vocês sabem, o McFLY vem primeiro, antes de qualquer garota – falei sorridente.
- Esse é meu medo, – emendou com um meio sorrindo – não é qualquer garota para você.


(...***...)

dirigia e eu estava ao lado dele, no banco do passageiro. , e estavam atrás. Passávamos por casas enormes e lindas, daquelas com um gramado bem verde na frente.
- não vai vir para a festa mesmo? – perguntei tentando desviar a atenção da minha vontade de chegar logo e ver de novo.
- Não, pelo menos foi o que ele disse no telefone... - deu de ombros – Acho que está com a tal de Alyne...
- Alyce. – riu.
- Que seja! Parece que foi para a casa da tal garota e tudo mais – balançou a cabeça e sorriu ladino – Ele não presta!
- Nem o . – disse e eu gargalhei. bufou.
- É claro que agora eu não sou mais assim – me defendi e olhei para trás – Porque me concertou, não é?
Pisquei e abriu um enorme sorriso, as bochechas meio coradas. Aprendam com o mestre. Ainda sei como usar meu charme, ok?
- Por isso que te amo, bebê! – ela exclamou feliz e me deu um selinho demorado nos lábios.
- E-eu... eu... eu também. – respondi meio torto. Tá, então o charme eu ainda sei usar, mas acho que não sei usar mais é outra coisa... Era só o que me faltava! Agora não consigo mais dizer a que a amo. É verdade que eu nunca fui muito de ficar dizendo isso a ela porque... porque eu sei lá! Não a amo, oras. Mas eu conseguia mentir antes, o que estava dando em mim agora?
Tenho que me lembrar de agradecer a por isso. Culpa dela! Certeza que é!

Passamos por mais algumas ruas e as casas ficavam cada vez mais bonitas. De repente, quando virou em uma rua a direita, escutamos o som alto e logo vimos vários carros estacionados perto de uma casa branca, com um grande gramado na frente. Paramos o carro num lugar vago e descemos, andando em direção a porta, passando por toda aquela gente que já se divertia ali mesmo na grama.
- Cara, olha só pra esse lugar! – exclamou de mãos dadas com assim que entramos na casa. – É enorme e mesmo assim tem tanta gente aqui, que acho que vão sair pela janela!
e eu rimos.
- Tá muito cheio. – fez uma careta – Deve ter milhares de pessoas aqui!
Tá certo, foi um tanto exagerada no “milhares”, mas que tinha um amontoado de gente ali era verdade. Havia gente subindo no sofá e dançando, pessoas passando para lá e para cá rindo, trombando uns nos outros, alguns se agarrando num canto, subindo e descendo a escada, bebendo, cantando a alta música, conversando...
- Stripper Poker!!! – alguém gritou a direita, chamando nossa atenção. Numa mesa redonda algumas pessoas estavam sentadas e um menino de cabelos escuros embaralhava algumas cartas.
- Eu concordo, Jus! – uma menina falou sorrindo e eu vi que era Mary.
- Mas ela tem que participar! – o garoto de cabelos escuros apontou uma garota que segurava um copo...
- Se toca garoto! – disse rindo da cara dele e um outro cara, um tanto mais alto que ela, a abraçou, cumprimentando-a. Tentei desviar o olhar, mas não consegui. Meu coração bateu depressa e eu tentei fingir que não ligava.
e me olharam. Quem era o babaca que estava a abraçando, afinal?!
- Não sabia que sua prima tinha namorado – falou e eu quis mandá-la calar a boca.
- Nem eu. – disse secamente e ela me olhou franzindo a testa. Abriu a boca para dizer alguma coisa, mas...
- Ahh então os bonitinhos chegaram! – disse irrompendo do meio de pessoas, rindo e desviando minha atenção por um segundo de . – Já estava pensando que não iam vir ma... Ei! – exclamou fazendo cara feia para um cara bêbado que esbarrara em seu ombro. Desviei novamente o olhar para onde estava e... Nem sinal dela na mesa! O tal cara que tinha a abraçado também não estava mais. Só Mary e o garoto de cabelos escuros estavam lá, jogando stripper poker com um outro grupo de pessoas.
Ótimo! Que o cara aproveite bem sua noite de alegria! Que faça o serviço direito! E que depois eu os encontre se agarrando num canto escuro!
Desgraçado!
- ... e demoramos porque estávamos esperando que aparecesse – ia falando para , que assim que escutou o nome de bufou, cruzando os braços.
- Eu disse que não era para trazer ele!
- E não trouxemos – disse astuto e de repente pareceu meio decepcionada – Ele ainda está com a tal Alyne.
- É Alyce! – disseram ao mesmo tempo e . Os dois riram. permaneceu séria.
- Tenho certeza que pra mim o disse Alyne, cara. – falou confuso.
- Viu só! – gesticulou impaciente - O tonto do nem sabe o nome da garota!
- Tenho certeza que ele sabe o seu – disse sorrindo ladino, só para irritá-la. Era engraçado ver se fingindo de brava com o quando na verdade estava na cara que era só ciúmes.
- Duvido muito! – ela me olhou feio – De qualquer forma... Quero pedir uma coisa para vocês, acho que na verdade pra você xuxu! – e apontou .
- Que? – ele perguntou e os interrompeu com a pergunta fatídica:
- Onde está ? – ela pareceu animada e eu bufei baixinho. Acho que vou acabar odiando a festa e querer ir embora daqui cinco minutos se as coisas continuarem assim.
- Por aí, talvez perto da piscina lá atrás – disse naturalmente – Agora , - virou-se novamente para ele - a Jen não pode sair de casa, disse que não tem ninguém para trazê-la, então...
- Eu busco ela! – aceitou depressa, sorrindo. Mas que gracinha, um garoto prestativo do dia para a noite!
- Ótimo! – lhe deu um beijinho no rosto - Pode ir com a camionete do meu pai se quiser.
- Não, tudo bem, eu estou de...
- Deixa o carro comigo, – interrompi enquanto pegava a chave do nosso carro – Acho que aqueles salgadinhos da Judith não me fizeram muito bem e se eu quiser ir embora não quero ter que andar até o hotel. – menti.
- Certo – ele deu de ombros e me entregou a chave.
então entregou a chave da camionete do pai para , e ele murmurou um: “Já volto!” saindo da casa.
- Problema resolvido, agora eu vou indo gente, preciso encontrar alguém – ajeitou a alça da blusa – Se vocês quiserem uma bebida, tem algumas garrafas perto da pia, se quiserem usar a piscina... bom, teriam que ter trazido suas sungas pra isso, mas... que seja! E se alguém se sentir enjoado vá correndo para o jardim. Divirtam-se! Bye!
E ela saiu, trombando com algumas garotas que dançavam, e sumindo no meio das pessoas. Ficamos só nós quatro. , me abraçou de lado, e , mantiveram as mãos dadas. Meu humor já não estava muito a essa altura, variava do desanimo para festas para o receio de encontrar agarrada com outro.
- Vamos sentar? – sugeriu e apontou alguns sofás mais para o canto, onde algumas pessoas riam e comiam algo. concordou.
- Querem beber alguma coisa? – perguntei olhando para a porta da cozinha. A única coisa que me sobrara... encher a cara! , e disseram que sim e foram se sentar enquanto eu ia buscar as bebidas. Entrei na cozinha ao mesmo tempo que um grupo de garotas bêbadas saia falando alto, uma delas apertou minha bunda, outra murmurou para mim algo como “hot” e eu gargalhei. Garotas californianas podem ser bem atrevidas não?
Me virei para a pia e lá estavam as garrafas verdes de alguma cerveja americana. Peguei algumas e...
- Adivinha quem é – sussurraram no meu ouvido, tapando meus olhos por trás. Senti um frio instantâneo subir pelas minhas costas ao mesmo tempo que meu estômago se mexia incomodamente e eu não conseguia evitar um arrepio. Larguei as garrafas na pia, tentei voltar ao normal e pensar em algo para dizer.
- Não sei. Minha namorada? – perguntei só para provocar.
- Sua namorada? – ela riu gostosamente ainda sem tirar as mãos dos meus olhos – Você deveria reconhecer ao menos a voz dela. Claro que não!
- ? – fingi não ligar para a provocação dela.
- Nop.
- Então não sei. – menti e mesmo sem ver nada, soube que bufou, senti o ar quente da boca dela bater no meu pescoço. – Acho que não tem nenhuma outra garota que viria atrás de mim na cozinha.
- Não vim atrás de você!
- Não?
Ela soltou as mãos dos meus olhos e eu me virei de frente para ela, encostando-me a pia. Olhei para por um segundo... estava linda!
- Você acha mesmo que eu viria atrás de você? – perguntou levantando as sobrancelhas e me encarando. A encarei de volta e quis rir pelo jeito que ela ia perdendo a paciência comigo. Não realmente “perdendo a paciência”, mas ia falando com aquele jeitinho dela, sabe?
- Não acho. – respondi encolhendo os ombros. – Apenas quis te deixar irritada. – disse simplesmente com um sorrisinho divertido.
- Não fiquei irritada, . – negou e riu da minha cara. Mentira! Uma das poucas coisas que sei sobre ela é quando fica irritadinha. Fica assim, dando essa risada como se não ligasse quando no fundo é apenas teimosa demais para admitir que quer me bater.
- Me chama de . – pedi me virando para pegar uma garrafa de cerveja.
- Não quero. – ela falou ainda fingindo não ligar e subiu na bancada da cozinha, sentando-se ali e balançando as pernas despreocupadamente. Tentei não olhar para a barra da saia dela... Era golpe baixo!
- Como quiser, . – falei fazendo questão de chamá-la pelo sobrenome e revirou os olhos, pegando um copo que estava ali a seu lado. Eu não entendo porque a gente gosta de fazer isso, eu quero dizer, essas provações idiotas um com o outro. Não entendo mesmo, só sei que é divertido.
- Você não sabia mesmo quem era? – perguntou mansamente depois de um tempo de silêncio, fazendo uma carinha tão fofa que me fez rir.
- É claro que eu sabia que era você, ! – confessei sorrindo e bebendo um gole da minha cerveja em seguida – Acha mesmo que eu não ia reconhecer sua voz?
- Vai saber, você pode estar bêbado. – ela sorriu de volta.
- Não estou. – ri – E se eu estivesse com certeza estaríamos indo para trás do jardim agora. – sorri malicioso.
- Para trás do jardim? E por que lá? – franziu a testa rindo.
- Porque é lá que nas festas as pessoas costumam transar – eu falei quase sem querer, mas não pude evitar rir. Quer saber? O que eu tinha a perder? Tenho certeza que sabe que eu sou louco por ela! Como eu já disse, está escrito na minha testa e eu já estou cansado de fingir que não. Até tinha dito que eu devia tentar!
- ! – exclamou rindo alto e desceu do balcão com um pulinho. Congelei no lugar.
- Você disse meu primeiro nome – falei bestamente, meu coração indo a mil. fez um “aham” baixinho e parou na minha frente, não muito longe, me olhando do jeito que costumava fazer antes, como se me desse permissão de fazer o que eu quisesse. O ar começou a entrar nos meus pulmões com dificuldade e eu dei um passo para frente, olhando nos olhos dela... Ela não exitou. Minhas pernas fraquejaram. A música alta da festa aos poucos pareceu diminuir e eu respirei fundo. Nossos corpos se encostaram e eu senti o calor que seu corpo emanava. Deslizei uma das minhas mãos pela cintura dela, indo até suas costas e delicadamente a puxando para mais perto. Ela tinha as mãos no peito, parecia nervosa e calma ao mesmo tempo. Respirávamos profundamente o perfume um do outro... Passei a mão levemente em seu rosto e fechou os olhos. Olhei uma última vez para as feições delicadas em seu rosto e num impulso sereno encostei meus lábios nos dela e a beijei.
Minhas mãos e pernas tremiam. escorregou uma das mãos para minha nuca, fazendo carinho em meus cabelos enquanto eu não podia evitar os costumeiros arrepios. Que falta tinha sentido de poder sentir os lábios dela contra os meus... Não existia mais nada. Não existia festa. Não existia . Não existiam pessoas entrando na cozinha para pegar alguma coisa. Apenas nós dois, nosso beijo, nossas bocas... O mundo girava em torno de nós e só por nós. Nossas línguas pareciam necessitar uma da outra cada vez mais, como se tivessem sentido falta de se tocarem... Eu a apertava contra mim, querendo extinguir qualquer espaço que tivesse entre nós... Já tinha ficado muito tempo longe dela! Não queria ter que ficar mais, não ia agüentar. Éramos tudo que precisávamos. Éramos de novo só e eu.

- ... – ela falou baixinho entre nosso beijo.
- Que?... – murmurei sem deixar de beijá-la.
- Você sentiu minha falta? – voltou a perguntar e então partiu o beijo para me olhar, me dando mais alguns beijinhos. A encarei por um instante e vi que os olhos dela brilhavam.
- Você não tem idéia o quanto!
sorriu e mordeu os lábios.
- É estranho para mim, porque eu geralmente não costumo ser assim – ela respirou fundo e acariciou meus cabelos, me fazendo fechar os olhos – Mas quando eu te vi na praia abraçado com , pensei que você nem se lembrava de mim e eu queria que lembrasse.
Eu ri, ri porque o destino pode ser realmente irônico às vezes. Se em um daqueles dias que tudo o que eu fazia era pensar nela imaginasse que ia escutar me dizer isso... me julgaria louco!
- Se você soubesse da metade... – falei apenas a puxando para mais perto, ainda estávamos abraçados. Ela franziu a testa levemente.
- Quero saber! – disse parecendo uma garotinha curiosa.
- Um dia... quem sabe... – fingi pensar. revirou os olhos.
- Ok, mas bom, podemos sair da cozinha agora?
- Podemos ir embora?
- Para trás do jardim? - ela perguntou divertida e nós dois gargalhamos. Definitivamente naquele momento me sentia o cara mais feliz do mundo!
- Se você quiser... – sorri maroto e a beijei de novo.
- Claro que não – ela me empurrou de leve e saiu andando devagar para a porta da cozinha - Eu sou sua prima e você tem namorada!
Dei uma risada breve. Prima...
- É, mas... Cara! – exclamei de repente, só agora me lembrando – Acho que nunca demorei tanto para pegar algumas cervejas! – ri e pensei o quão inconseqüente eu tinha sido de beijar ali no meio da cozinha para quem quisesse ver. Acho que perco a capacidade de racionar quando estou com ela, não é possível... Dei sorte é que e não virem me procurar pela demora.
- Veio pegar cervejas e acabou pegando outra coisa né? – ela falou dando uma risadinha.
- Muito melhor por sinal...
- Tá de carro? – perguntou em seguida, me olhando e eu fiz que sim com a cabeça – Leva as cervejas, enrola a com alguma desculpa e eu te espero no gramado em frente à casa para sairmos daqui.
- Ok. – concordei sorrindo e me controlando para não parecer bobo de felicidade. Ela sorriu de volta e saiu da cozinha. Peguei as cervejas e precisei de alguns segundos para lembrar de como se andava.


(...***...)

- VOCÊ É MALUCO OU QUÊ CARA?! – exclamou vindo ao meu encontro que nem uma bala de canhão, o rosto vermelho.
- Que foi?
- Você ... Ah nossa! Você está mais besta que o normal! – e ele riu olhando para minha cara. – Mas como eu ia dizendo... Você é maluco? Beijar a assim no meio da cozinha?! Era algum tipo de espetáculo ou algo assim?!
- Você viu? – arregalei os olhos.
- Eu tenho olhos, não é? Qualquer um que os tenha e entrou naquela cozinha viu! Inclusive teria visto! - disse e meu estômago afundou – Mas calma, deu sorte que quem foi procurar por você fui eu ao invés dela! Passei as mãos no cabelo aliviado.
- MEUS CAMARADAS! – alguém gritou molemente atrás de nós e nós olhamos para a porta da casa. Um garoto surgiu então, cambaleando para os lados bêbado...
- ?! – exclamamos e eu juntos, indo ao encontro e o segurando antes que se estatelasse no chão.
- Foi assim que me batizaram! – ele gargalhou idiotamente.
e eu desatamos a rir e ajeitamos os braços de nos nossos ombros. Os cabelos dele estavam bagunçados e parecia, apesar de tudo, ter uma expressão meio triste.
- O que aconteceu com a Alyce? – perguntei olhando bocejar.
- Alyne! – ele corrigiu com a voz enrolada.
- Não era Alyce? – ficou confuso.
- Tanto faz! – riu do nada. – A deixei na cama lendo um livro sobre economia escocesa... Eu acho...
- Economia escocesa? – segurou uma gargalhada – Que garota é essa?!
- Não é garota, caaaara – falou meio cantando e mais uma risada – Ela tem dezessete anos a mais que nós e estava escutando um cd do Prince também!
- Não tá nem mais falando coisa com coisa – comentou achando graça.
- Credo... – falei rindo, ainda imaginando a mulher lendo sobre economia escocesa e escutando Prince.
- Mas querem saber, o que importa é a , meus queridos! – falou ficando sério e levantando o dedo indicador para o nada – Cadê a ? – perguntou em seguida olhando ao redor.
- Não sei, mas ela não tá muito feliz com você não – falou dando tapinhas nas costas dele. Não entendo qual é a de e !
- Bom, eu vou apenas te desejar sorte e me mandar de uma vez... – me apressei não querendo deixar esperando por mim. – Você ajuda o a encontrar a , ? Certo. E diz pra que eu tive que ir embora porque estava passando mal por causa dos salgadinhos da Judith e que ela não é pra ir atrás de mim?
- Pobre Judith! – disse alheio enquanto eu ia tirando o braço dele do meu ombro.
- Pode deixar! – sorriu e cambaleou um pouco junto com – Ainda não acredito que você e a ...
- A e você... DE NOVO?! – exclamou agora parecendo bem lúcido.
- É, , mas fecha essa boca!
- Claro! Caramba, não agüentaram nenhum dia! – falou voltando a rir idiotamente - Puta merda, seu bixa sortudo!
Eu ri feliz da vida e sorriu.
- Vai de uma vez, cara.
- Tem razão. Te devo uma – falei me apressando – E você vê se para de encher a cara, !
- Cala a boca tonto, você fazia isso todo o dia por causa da . – fez um bico.
- Verdade. – tive que concordar - Mas...
- ! Vai! – disse apontando a porta e eu assenti com cabeça. Depressa sai correndo para fora da casa, uma sensação engraçada no meu peito parecia querer explodir a qualquer hora... Meu coração batia descompassado e me deu uma vontade ridícula de gritar quando pisei no jardim.
-... a mulher da janela não pára de olhar pra nós!
- Onde?
- Ali!
Vi enquanto caminhava pelo gramado o tal cara que abraçara apontar agora uma janela na casa da frente, mostrando uma mulher de pijama espiar cuidadosamente pela fresta da cortina. Ela e o cara estavam sentados lado a lado numa muretinha em frente a casa de , ele fumando e ela com uma cerveja na mão, ambos de costas para a casa e o jardim, encarando os carros e as pessoas que passavam por eles na rua.
- HEY DENISE! – gritou ficando em pé na muretinha e acenando divertida para a mulher da janela, que depressa tratou de se esconder atrás da cortina. Nem notou que eu estava chegando, me deu a impressão que estava se divertindo tanto com o cara que pouco se lembrava que estava ali esperando por mim! Me senti um tanto idiota e apressei o passo. Quem era o viadinho afinal de contas?!
- ! Você é maluca?! Desce daí! – o cara riu puxando ela pela mão para que voltasse a se sentar do lado dele na muretinha. Ela gargalhou alto e voltou a sentar, derramando um pouco de cerveja na grama.
- Denise me odeia! – riu e eu parei atrás dela...- Não sei porque...O marido dela é tãão simpático comigo!
- Por que será né, princesa? - o cara falou a abraçando pelo ombro e soltando a fumaça do cigarro pelo ar.
- ! – chamei de repente e ela se assustou.
- Ahhh! – deu um gritinho e gargalhou finalmente olhando para trás – Que susto !
Ela pulou do murinho, deixou a garrafa de cerveja ali em cima e vindo na minha direção.
- Esse é o garoto? – o cara perguntou se virando para me olhar e só aí eu percebi que ele era um tanto mais velho que nós. Devia estar na beira dos 27 ou 28 anos, os cabelos já rareavam e tinha o rosto meio oval. Não me parecia mais agora uma “ameaça”, na verdade, parecia até bem simpático.
- Ah é, é ele – sorriu e olhou de mim para o amigo – , esse é o...
- Neil! – ele se apresentou por conta própria, estendendo a mão na minha direção. – Tava aqui cuidado da sua garota! – piscou sorrindo e nós nos apertamos as mãos.
- Não sou a garota dele – revirou os olhos. Neil e eu rimos. Logo em seguida uma musica alta, diferente da que estava tocando na casa, tomou conta da rua e uma camionete um tanto grande virou a esquina atraindo nossa atenção e a de todos ali no jardim.
- É o ! – disse rindo enquanto o víamos vir dirigindo com uma das mãos para fora, batucando na lataria a música que tocava alta no rádio do carro. Jen estava ao lado, no banco de passageiro cantando e havia mais algumas pessoas no banco traseiro, rindo e fazendo a maior bagunça. Logo estacionaram no gramado, perto de onde estávamos e umas cinco pessoas alem dos dois desceram.
- Pronto, era o que eu precisava para ser preso! – Neil exclamou olhando as pessoas que saíram do carro - Pivetes e música alta! Agora sim vamos ter a polícia logo, logo chegando aqui! – se lamentou vendo Jen vir correndo até . – Os vizinhos vão acordar e eu estarei na prisão em menos de uma hora!
- Relaxa tio! – sorriu e eu achei a coisa mais sexy do mundo escutar ela falando “tio”– Queremos mesmo que os vizinhos reclamem! Ah! – ela soltou um gritinho quando Jen a abraçou feliz - Me larga sua bêbada! – disse rindo junto com a amiga.
- Hey – cumprimentou chegando em seguida e rindo de e Jen.
- Queremos que os vizinhos reclamem? – Neil continuou, nem percebendo - Você fala isso porque não é a sua sobrinha maluca que está dando uma festa na casa do seu irmão!
- Você é tio da ? - perguntou franzindo a testa e já entrando na conversa.
- Infelizmente... – Neil encolheu os ombros.
- Não fala assim! – Jen soltou e foi abraçar . Desejei que me abraçasse também, mas ao invés disso ela abraçou Neil. ¬¬
- Você adora ser tio dela que eu sei! Adora encobertar nossas loucu...Hei moleque! – ela exclamou assim que um dos garotos que haviam chegado com e Jen passou por nós pegando a cerveja que tinha deixado em cima da muretinha. – Devolve isso! É meu! – ela depressa pegou de volta.
- Eu só queria uma bebida gatinha! – ele falou com um biquinho e indo para cima dela. Parecia bem mais novo que nós e bem idiota!
- Cai fora, cara! – exclamei sério dando um passo para frente. - Se você quer uma cerveja tem o bastante lá trás.
O garoto exitou...
- Não se preocupe, não tem ninguém aqui para checar se você é menor de idade. – acrescentou e o menino saiu depressa de perto, sem nem ao menos olhar para ela de novo. – Você assustou o coitadinho – ela murmurou para mim rindo baixinho e eu ri também...
- Eu deveria estar sendo mais responsável e impedindo esses garotos de se embebedarem! – Neil observou. – Aliás... De onde foi que vocês tiraram essas figuras? – perguntou a e Jen.
- O achou que estaria fazendo uma boa ação com eles se os trouxesse para se divertir um pouco. – Jen fez uma cara engraçada.
- É bem a cara do fazer papel de bom feitor! – comentei ironicamente e todos rimos. me mostrou o dedo do meio.
- Nós não estávamos saindo daqui, ? – de repente perguntou baixinho enquanto os outros conversavam ainda rindo. A olhei por um instante...
- Só estava esperando você pedir. – murmurei a abraçando pela cintura e ela deu um dos seus típicos sorrisinhos antes de me dar um beijinho de leve nos lábios.
- Opa opa opa! Que isso aí?! – exclamou nos olhando confuso.
- Você não tinha namorada ? – Jen perguntou também estranhando.
- Quem liga? – disse sorrindo e achou graça – Vamos de uma vez? – perguntei dando mais um beijo na boca dela.
fez que sim com a cabeça e nós saímos em direção ao carro. Ela na frente e eu atrás. Sempre eu atrás dela.


Capítulo 5

- Para onde estamos indo mesmo? – perguntou com a voz suave.
O carro estava sem a capota e ela sentia o vento bater sobre seus cabelos e rosto. A cabeça se encontrava inclinada para trás no banco, olhando as estrelas no céu ir passando rápido sob a velocidade do carro.
dirigia para qualquer lugar que ela pouco se importava... Importante mesmo era sentir o que estava sentindo. Engraçado como o destino fizera os dois se reencontrarem numa hora em que achava-se um tanto perdida, precisando de alguém... Mas não queria pensar nisso agora! Era melhor deixar os problemas pra lá, se esquecer e apenas respirar profundamente o ar da noite.
- Quer ir para meu quarto no hotel?- sugeriu sorrindo com segundas intenções. Adorava quando ele sorria assim... Era um sorriso maroto mais que ainda assim parecia doce.
- E vamos fazer o que lá? – falou se fazendo de boba, gostava de fazer isso com .
- Não sei, você pode vestir uma camiseta minha – ele brincou.
- Ok, e depois eu posso apenas dormir? - ela riu.
- Se você quiser... mas eu não estou com sono ainda. Então teria que ficar te vendo dormir - falou carinhoso e ela sentiu um frio na barriga. Não esperava uma resposta como essa. Esperava algo como “ah não, podemos fazer algo muito melhor”, mas sempre vinha com uma dessas e a pegava de surpresa, a fazendo sentir um frio no estômago como uma garotinha. Odiava quando ele a fazia se sentir assim! Não sabia como lidar com isso! Não estava acostumada, não era de seu feitio sentir esse tipo de coisa por causa de garotos!
- Que chato – disfarçou controlando-se para não sorrir idiotamente com a resposta dele.
- Não acho. Não me importo. – disse com simplicidade e achou que essa era a coisa mais fofa que um garoto já havia lhe dito.
Não adiantava, de algum modo, mesmo que não admitisse para si mesma, ele a fazia se sentir diferente.



(...***...)

Deixei de olhar por um segundo a rua em que estava dirigindo e a olhei. Seu pescoço estava todo a vista enquanto ela olhava o céu... Uma música que eu não conhecia começou a tocar no rádio e soltou um suspiro breve antes de cantar despreocupadamente. Senti um arrepio quando entre uma palavra e outra da música, ela abriu um sorrisinho no canto dos lábios para mim. Quis parar o carro em qualquer lugar, ali no meio da rua mesmo! Precisava beijá-la e precisava agora! Mas me contive... Apenas mordi os lábios e sorri de volta antes de prestar atenção novamente no caminho.

Parei o carro no estacionamento do hotel e desci. Olhei para e ela ainda estava sentada. Estranhei e fui até ela...
- Que foi? – perguntei calmo e vi olhando para o celular que estava em sua mão.
- Nada... – ela respondeu num tom de voz baixo e atípico dela, sem levantar o olhar para mim. Franzi a testa...
- Tem certeza? Está tudo bem?
- Sério, não é nada – finalmente me olhou, descendo do carro e sorrindo de um jeito que eu pude ver ser forçado – Está tudo bem, , não me olhe assim!
Ela se aproximou me dando um demorado e delicado beijo nos lábios. A boca dela me pareceu um tanto tremula e logo em seguida ela acariciou meu rosto de leve, carinhosamente. A abracei e aos poucos desfiz minha cara preocupada e sorri, sorri mesmo sabendo que algo estava errado. É, eu pude sentir que havia algo estranho, não sei bem como, mas eu soube. Desejei que me contasse, mas não iria insistir, se ela não queria, não iria forçá-la. Apenas acho que ela poderia confiar em mim, sei lá, me contar qualquer coisa que quisesse. Eu estava ali pra ela, queria que soubesse disso, queria que uma vez na vida baixasse a guarda e me mostrasse o que estava sentindo.
- Vamos? – ela perguntou pegando na minha mão e se virando para entrar no hotel. Eu, porém, a segurei e a puxei devagar de volta.
- Se você quiser eu...- comecei a olhando nos olhos, sério, mas ela colocou os dedos na minha boca me impedindo de terminar a frase.
- Não estrague a nossa noite, – ela falou me olhando nos olhos também – Não diga nada.
Concordei com a cabeça e nós dois seguimos de mãos dadas até o hotel.
sabe o que está fazendo...” foi o que pensei enquanto passávamos pela recepção, onde Judith desta vez não se encontrava. O lugar estava silencioso àquela hora da noite, parecia que todos já estavam dormindo. No terceiro andar, peguei a chave do meu bolso e abri a porta do nosso quarto com cuidado. Assim que entrou a tranquei, não queria que ninguém nos atrapalhasse e ainda tinha uma namorada em algum lugar por aí para me preocupar. Ri sozinho com esse pensamento.
- Rindo de que? – ela perguntou sorrindo e eu fui ligar a luz. Nada... Tentei de novo e nada. Porcaria! A lâmpada devia ter queimado.
- Deixa assim – disse e sentou-se na pontinha da minha cama, meio encolhida. A pude ver sorrir para mim através da luz fraca da lua que entrava pela janela. Senti uma sensação esquisita no peito ao vê-la ali, algo que até então não tinha sentido, ou melhor, não tinha sentido desse jeito. Não sei explicar exatamente o que era.
Fui até ela e sentei-me a seu lado, minha mãos estavam frias e meu coração estava batendo forte. Estava nervoso, acho que com medo de tocá-la ou sei lá o que. Não sei de onde isso tinha vindo de repente, já que até cinco minutos atrás tudo que queria era exatamente a ter ali comigo. Odeio sentir essa confusão de sentimentos, essa mistura de sensações...
- O que está acontecendo? – perguntou com a voz fraca, parecendo sentir o mesmo clima estranho que eu – Nós não deveríamos estar nos agarrando ou coisa assim?
- É... – respondi encarando meus pés. Que porcaria era essa agora?! Como é que eu estava como medo de tocá-la? O que é que estava dando em mim?! Era a que estava ali e... E esse era o problema. Era a , e não qualquer outra garota. Ela tinha parecido tão triste alguns minutos atrás no estacionamento que talvez fosse injusto eu fazer agora o que tanto desejava fazer. Não queria parecer um daqueles caras que se aproveitam da situação quando a garota está triste. Não com a pelo menos.
- Você não gosta mais de mim? – ela perguntou baixo, mordendo os lábios.
- Não diga besteiras, – sorri ao vê-la parecer preocupada com tal bobeira.
- Então porque está aí parado? – me olhou – Está pensando na ?
- Em quem? – perguntei rindo, me fazendo de desentendido e me virando para ela – Você acha mesmo que com você aqui eu pensaria em outra? Poderia explodir uma bomba atômica do lado de fora e eu pouco me importaria.
Ela riu e aproximou o rosto do meu.
-Bobo... – falou baixinho, roçando carinhosamente a pontinha do seu nariz no meu. Gelei.
-Boba... – retruquei rindo e colocando a minha mão nas suas costas, a puxando para mais perto. – Você tem certeza que está tudo bem, ? – perguntei ainda preocupado. Ela me lançou um olhar do tipo “já disse que estou” e eu fiquei quieto. Meu coração estava querendo sair pela boca e minha respiração se confundia com a dela. Era só a gente se aproximar e já me sentia como se tivesse bebido sozinho uma garrafa inteira de absinto...
- ... – ela chamou encostando devagar seus lábios nos meus – Eu gosto de você. Sabe, eu realmente gosto.
Engoli em seco e me afastei um pouco. Meu coração, por incrível que pareça, conseguiu ficar mais descompassado ainda e eu senti que poderia ter um ataque cardíaco devido a sua rapidez.
- Você quer dizer que...- comecei nervosamente.
- Que eu não sei – interrompeu com a voz em pequenos sussurros involuntários – Não posso te dizer exatamente o que eu estou sentindo, porque eu nunca... eu... sei lá! Não me faça ser melosa!
Eu ri baixinho, olhando para ela parecer confusa.
- Não ria de mim! – ela me deu um tapinha no braço, parecendo envergonhada. Envergonhada?! Meu Deus, pára o mundo!
- Eu não estou rindo de você! – falei ainda rindo – Eu apenas... eu...- depositei cuidadosamente minhas mãos no rosto delicado dela, uma em cada lado – Eu apenas acho que...
- ? – interrompeu fechando os olhos e mordendo os lábios – Apenas me beije de uma vez.
Sorri idiotamente e a obedeci! Coloquei meus lábios nos dela e a beijei com vontade, com paixão. Os nossos lábios se pressionaram tão fortemente um contra o outro que eu cheguei a sentir dores. Aos poucos a boca dela foi se abrindo, permitindo que nossas línguas se encontrassem, se entrelaçassem em movimentos que se alternavam do lento para o rápido. Os dedos dela deslizaram das minhas costas para meus cabelos, os bagunçando. Eu depositei uma mão nas costas dela, com a outra continuei acariciando seu rosto e com o peso do meu peito a fiz ir deitando devagar e cuidadosamente na cama. Não descolamos nossas bocas nem por um segundo, precisávamos ficar assim, precisávamos sentir o gosto um do outro. Nossas mãos brincaram por um longo tempo no corpo um do outro. Alterando-se dos lugares mais inocentes, para os mais proibidos. Minha ansiedade de vê-la sem as roupas não era pouca, mas eu, como bom garoto que sou, respeitei o tempo dela.
O celular de vibrou em algum lugar embaixo de nós e amaldiçoei o desgraçado que estava ligando. Pensei que ela fosse atender, mas ao contrário, pouco se importou e por algum motivo só intensificou mais o nosso beijo, mordendo de leve o meu lábio inferior e dando um sorrisinho quando sentiu meu corpo reagir.
- Tá rindo por quê? – perguntei rindo também, sem parar de beijá-la por um segundo – Não sou de ferro!
riu mais e passou a ponta da língua de leve sobre meus lábios.
- Não teria graça nenhuma se fosse – ela disse maliciosa e eu não pensei duas vezes, passei minhas mãos por debaixo da blusa dela, acariciando com os dedos sua pele macia. soltou um gemido baixinho e contraiu um pouco a barriga quando sentiu meu toque. Nossas respirações começaram a ficar mais pesadas e eu me arrepiei quando ela puxou a barra da minha camiseta para cima. Parei de beijá-la só nesse instante e fiquei só de calças, fazendo o mesmo com ela, puxando sua blusa enquanto levantava os braços para facilitar meu serviço. Olhei para o corpo dela por um instante... Estava apenas sob a luz azulada da lua, e sorria docemente para mim, a boca vermelha pela intensidade dos nossos beijos... Perfeita!... Minhas pernas fraquejaram com essa visão e eu tive que me livrar logo das minhas calças porque já estavam começando a ficar apertadas demais para mim.
- Você ainda tem aquela tatuagem, certo? – perguntei me lembrando e sorrindo malicioso enquanto beijava o pescoço dela. Não me esqueceria tão cedo daquilo. riu divertida e fez que sim com a cabeça. De uma forma meio embriagada olhei na barra da calcinha os dizeres tatuados em letras finas: “La bella vita”. se arrepiou quando passei a ponta do meu dedo indicador sob a tatuagem, refazendo o escrito com o dedo carinhosamente.
- Volta aqui pra cima, – ela chamou sorrindo e rindo depois... Dei uma risada meio treslouca e voltamos a nos beijar com desejo e paixão. Paixão, porque estávamos apaixonados.
Apaixonados. No plural!


(...***...) 4:30 am.

Sob o fino lençol meu corpo ainda estava meio suado e quente. O dela, também coberto e ao meu lado, estava do mesmo jeito. Os cabelos de estavam esparramados no travesseiro e eu sentia seu cheiro gostoso. Me lembrava o colegial, a época eu que costumava sentar perto dela nas aulas de química... Me lembrava chocolate. Por que chocolate? Nem eu sei.
- Uma música! – ela falou de repente. E eu a olhei sem entender, procurando escutar alguma música, mas estava tudo silencioso.
encarava o teto com as bochechas rosadas. Estava quente ali e a culpa não era do ar condicionado quebrado.
- O que? – perguntei sem entender.
- Precisamos de uma música! – disse como se fosse óbvio e se virou de lado para mim, colocando uma mão sobre meu peito e com a outra segurando o lençol sobre os seios. Roubei um beijo dela. Roubei? Não, eu podia beijá-la!
- Você quer dizer uma música para nós? – perguntei.
- É, uma coisa bem clichê, mas eu quero ser piegas nesse momento. – sorriu e eu ri – Qual música?
- Eu sei lá, isso é coisa de garotas! – disse rindo e ela fez uma carinha indignada que... Ai nossa! Só Deus sabe a vontade que tive de recomeçar tudo que a gente tinha acabado de fazer.
- Não é coisa de garotas ! – lá vem ela com essa de ! – Anda, liga aí o rádio e a música que estiver tocando será nossa música, pronto.
- Isso é se o rádio estiver funcionando, né? – eu ri dela e revirou os olhos. Tirei meu braço debaixo do lençol e estiquei para o criado mudo que ficava entre a cama do e a minha, onde um radiozinho tosco se encontrava...
- Não! Espera! – disse se debruçando sobre meu peito e me impedindo de o ligar – Antes jure pra mim que você, não importa onde esteja, com quem esteja ou o que esteja fazendo, toda vez que escutar a música que vai tocar no rádio, vai se lembrar de mim...de nós.
- Sério, quem é você e o que fez com a minha ? – perguntei sorrindo e rindo em seguida. Ela estreitou os olhos e me lançou um dos seus famosos olhares.
- Isso é meio ridículo né? – perguntou depois, ainda sobre mim, o peso dela contra meu peito.
- Um pouco. – disse colocando uma mexa do cabelo dela atrás da orelha – Mas não me importo de ser ridículo às vezes, principalmente com você.
Ela riu alto e eu sorri.
- Ok, então vamos ser ridículos juntos – falou com um brilho diferente nos olhos – Agora jure que vai lembrar da gente quando escutar a música que vai tocar no rádio.
Nos olhamos durante alguns segundos... Sorri e a beijei calmamente, a segurando pela nuca e acariciando suas costas nuas.
- Eu juro. – disse partindo o beijo e ela sorriu de volta, saindo de cima do meu peito e voltando a se deitar do meu lado, fazendo sinal com a mão para que eu ligasse o radinho meio boca em cima do criado mudo. Foi o que eu fiz, apertei o botão e...
- …can't reach to your heart, when you say, I want it that way…- a voz meio fina de um cara cantou e nós nos olhamos franzindo a testa, um segundo depois desatamos a rir. A gargalhar alto enquanto o refrão da música começava a ser cantado pela voz de cinco caras.
- Tell me why, ain't nothin' but a heartache, tell me why, ain't nothin' but a mistake
- ‘I want it that way’ dos Backstreet Boys será nossa música? – eu perguntei rindo com as vozes fininhas. me olhou e...
- Am I, your fire? Your one, desire? – cantou entre gargalhadas gostosas. Eu ri junto e balançou a cabeça para lá e para cá no ritmo da música.
- ‘I want it that way’ dos Backstreet Boys não pode ser nossa música ! – eu falei sorrindo e ela abriu a boca irônica.
- Como não?! Quer mais clichê que isso? – ela sorriu me dando um beijinho estalado na bochecha – Quando eu era pequena dançava essa música por horas em frente ao espelho. Parecia uma doida com xuxinhas e passos estranhos.
Eu gargalhei mais, imaginando a cena de uma linda garotinha de xuxinhas.
- Aqueles cinco deviam fazer xuxinhas naqueles cabelos estranhos. – ela comentou alheia, rindo do próprio comentário.
- Você devia ficar sexy de xuxinhas – brinquei e ela me olhou enquanto na rádio voltava a tocar o refrão tosco da música.
- Ah é, uma garota de 12 anos e de xuxinhas é super sexy! – disse irônica, sorrindo.
- Ué e por que não? Você já era aos 13 quando entrou na escola! – me lembrei do primeiro dia que a vi chegar do Brasil e se sentar na primeira carteira da sala. Daquele dia pra frente ir para escola pra mim significava ver Lautert.
- Eu era? – ela sorriu, mordendo os lábios – Você ainda se lembra de mim naquela época?
- Lembro. Lembro ainda do seu primeiro dia na escola – sorri de volta e dei um beijo em sua testa antes de voltar a olhar o teto – disse que estava sendo hipnotizado por você e quis lhe dar uma flor. – ela achou graça e a música chegou ao fim, desliguei o rádio - deu um tapa na cabeça de cada um deles e avisou que você já era dele.
- Me lembre de zuar por isso ok? – riu mais. – Mas e você?
- Eu? – sorri de canto – Eu trombei com você e derrubei todos os seus livros no chão.
- Mesmo? – sorriu e se apoiou no meu peito, repousando a cabeça ali – Não me lembro. – disse naturalmente.
- Não achei que lembraria – fui sincero. Certo, momentos como esses me trazem de volta a velha sensação de que ela pouco se importa comigo. Tudo bem que lembrar de uma coisa de mais ou menos 9 anos atrás é pedir demais, mas é que eu não esqueci. Lembro-me de como ela sorriu para mim e pegou o livro de ciências da minha mão dizendo com esse jeitinho típico dela: “Da próxima vez derrube o livro de matemática para que eu possa ter uma boa desculpa para não ter feito a lição.”
- Do que me lembro bem é de um dia, quando eu cheguei na garupa da moto do meu pai, você, , e estavam sentados no meio fio, me olhando – ela sorriu, mas pareceu um tanto triste – Eu tinha acabado de fazer minha tatuagem, meu pai tinha me dado como presente de 14 anos.
- Seu pai te deu de presente uma tatuagem com apenas 14 anos?! - me admirei sorrindo. Quero um pai desses pra mim!
- Meu pai sempre foi bem liberal – suspirou e acariciou o meu peito sem me olhar – Mas isso foi antes dele começar a beber e... – ela fez por um segundo um silêncio sentido – Foi antes das coisas ficarem ruins entre ele e minha mãe.
Senti um aperto no peito e acaricie os cabelos dela. .
- Todos nós temos problemas na família, – falei carinhoso e ela não respondeu.
- Um dia ele me bateu – disse depois de um tempo, a voz fraquejando... – Mas eu sabia que não era o meu pai que estava fazendo aquilo. Estava muito bêbado, sabe... Não tinha muita consciência das coisas.
- E sua mãe? – perguntei a olhando sério. Novamente não respondeu e eu entendi que ela ainda tinha raiva de sua mãe.
- Depois ele me pediu desculpas, disse que não tinha feito por mal e que me amava – sorriu com essa última palavra – Eu o perdoei, mas daquele dia pra frente eu prometi pra mim mesma que nunca mais nenhum homem levantaria a mão pra mim de novo. Foi por isso que bati no Colin! – ela gargalhou meio treslouca. Riu alto, achando muita graça em alguma coisa que eu não entendi. Eu sinceramente não a entendo.
devia vir com instruções sabe? Muitas garotas estariam prestes a chorar se contassem uma hístoria dessas, eu mesmo estava me sentindo triste por ela. Mas não, estava ali rindo, gargalhando de algo que não era nada engraçado...
- Qual é a graça? – perguntei dando voz aos meus pensamentos.
- Colin ficou dizendo: - disse em meio as risadas e então imitou uma voz fininha – Eu apanhei de uma garota! Eu apanhei de uma garota!
Eu ri de leve, ri porque ela estava rindo, não porque achei engraçado. Apesar de que, se eu tivesse visto a cena, com certeza acharia graça e o chamaria de viado. No entanto, como não vi...
- Você é maluca, primeiro conta essa historia horrível do seu pai e depois desata a rir feito doida! – falei sem sorrir.
- E o que queria que eu fizesse? – me olhou levantando as sobrancelhas – Chorasse? – debochou, parando de rir na mesma hora.
- Bem, seria o normal. – falei calmamente.
- O normal para os fracos – ela revirou os olhos parecendo muito ofendida – Eu não aprendi a ser assim.
- Quer dizer então que você não chora? – desdenhei a olhando sério. Qual é? Garotas são choronas! Corta essa!
- Não – negou retirando a cabeça do meu peito e se sentando, segurando o lençol contra os seios, as costas nuas a vista agora, e olhando para mim – Ok, eu chorava quando era pequena, mas isso faz muito tempo – bufou impaciente – A ultima vez que chorei foi quando meu pai me bateu, depois disso fiquei com tanta raiva e com tanta vergonha que... – ela parou de falar e me olhou por cima do ombro, a testa franzida – Quer saber e o que você tem a ver com isso ?!
Ok, eu a irritei e não sei nem por que. Que maluca, cara!
- Nada. – falei olhando feio para ela. O que foi mesmo que eu fiz a ela para de repente ser seca assim comigo? Alguém me explica?
- Então não fique fazendo perguntas idiotas!
- Que perguntas idiotas? – perguntei a encarando – Eu nem...
- “Quer dizer então que você não chora?” – me imitou de um jeito infantil – Que idiota!
- Não me venha falar de idiotices! – bufei raivoso - É você quem acha que chorar é “coisa de fracos”! – me irritei, e apoiei os cotovelos no colchão, me levantando para sentar.
- Hum – ela fez irritada, voltando a olhar para frente, desviando o olhar de mim.
- É normal chorar, coisa de fraco é não admitir isso. – sentenciei e ela novamente me olhou, me fuzilando com os olhos. Nos encaramos bravamente...
- Aposto que você chorou um monte quando eu sumi! – ela se atreveu a falar isso, dando uma risadinha provocativa. Quase nem acreditei no que tinha ouvido. Fiquei por um segundo sem reação, meu sangue ferveu nas minhas veias. Não tinha chorado porra nenhuma! Ok, talvez algumas lágrimas tivessem escorrido involuntariamente dos meus olhos na primeira semana sem ela, mas.... Ah quer saber?!...
- Vai se fuder !
- Vai você !
se levantou da cama irritada, arrastando o lençol com ela, como um vestido comprido. Depressa peguei minha boxer do chão e a coloquei, a vendo fazer a mesma coisa com sua lingerie. Ela fazia questão de tomar cuidado para que o lençol não descobrisse nenhuma parte do seu corpo que ainda não estava vestida. Eu ri com a cena.
- Que foi? Já vi tudo que está aí embaixo! – a provoquei com um sorriso malicioso, só porque ainda estava com raiva.
- Não te perguntei nada! – sacudiu os cabelos para longe do rosto. Tenho que admitir, ela ficava extremamente sexy quando estava assim bravinha.
foi pegar a saia do chão e um bom pedaço do lençol escorregou de sua mão, mostrando sua calcinha. Gargalhei alto com isso.
- Devia tomar mais cui...
- Que saber?! – ajeitou novamente o lençol como vestido em volta do corpo e desistiu de terminar de se vestir – Eu vou assim mesmo, ! – ela sorriu cinicamente e caminhou depressa até a porta. Eu arregalei os olhos, parando de rir na mesma hora e num pulo me levantei correndo da cama, indo até ela. Parei na sua frente, impedindo que abrisse a porta.
- Espera aí! Não vai sair assim não! – falei sério. Ah não vai mesmo! Só com um lençol cobrindo a lingerie, desfilando com esse corpinho por aí? Não mesmo!
- Ah é? E quem é você para me dizer o que fazer? – me olhou desafiadora.
- Não sai e pronto! Não vou deixar – cruzei os braços.
- Sai da frente !
- Não! – exclamei – Não vai sair por aí rebolando só de calcinha e sutiã! – bufei - Se o que você quer é me provocar, tudo bem, mas não vai sair assim não!
riu, sorriu vitoriosa e me olhou. Porcaria! Por que eu sempre tenho que cair na dela?! Ela conseguiu de novo o que queria, me ver irritado e com ciúmes! Ótimo ! Continuei assim e você vai pirar!
- Tá, chega – disse num muxoxo enquanto ela ria – Já conseguiu o que queria, pare de rir. Não tem graça.
- Tem sim – sorriu e se aproximou, soltando o lençol e colocando os braços em volta do meu pescoço. A vi só de lingerie e mordi os lábios. A puxei pela cintura e nossos corpos se colaram. A barriga nua dela, contra a minha, que permanecia só de boxer. A noite ia ficando mais clara na janela, o dia ia chegando aos poucos. roçou os lábios quentes nos meus e a abracei com mais força, a beijando logo em seguida. Novamente sentindo o gosto dela na minha boca. Ficamos assim por alguns minutos e então quando nossas respirações estavam começando a se alterar...
- Vou tomar banho – cortou o beijo de repente, me dando um selinho rápido e se virando para ir ao banheiro. Soltei um gemido de desgosto baixo e peguei de leve no braço dela...
- Posso ir com você? – perguntei a abraçando por trás, com as mãos na sua barriga e dando pequenos beijos no seu pescoço e ombro.
- O banheiro é pequeno – disse com a voz descompassada.
- Por isso mesmo – sussurrei maroto no ouvido dela e ela soltou uma risada breve. – Eu me comporto direitinho...
- Duvido. – se virou de frente para mim, me beijou e aos beijos, entramos juntos no banheiro.
Melhor banho da minha vida.


(...***...)

- Anda ! Mais depressa! – dizia andando rápido.
- To indo... to indo! – disse a seguindo do jeito que pude. – É cedo de mais e eu estou cansado. – ri. Cansado? Por que será em sr ?
- Que horas são? – ela perguntou.
- Cinco e meia.
- Ah, vamos perder!
- Mas você nem queria ver o por do sol no início! – falei virando uma rua junto com ela e sentindo a brisa do mar bater em nós. Mas alguns passos e estaríamos na praia.
- Mas agora eu quero! Anda!
Deixamos o hotel assim que a camareira havia batido na porta para a limpeza da manhã, tinha esqueci de colocar na porta o aviso de não perturbe. Entregamos a chave a Judith e fomos comer numa cafeteria ali perto. , conforme tinha me dito, precisava de cafeína pela manhã. Então, depois, tentamos pensar para onde iríamos uma vez que para o quarto não poderíamos voltar, já que logo, logo os caras deviam estar voltando da festa na casa da . É isso aí, até agora não tinham nem dado sinal de vida! Pelo visto, a festa tinha sido realmente muito boa... Bom, de qualquer forma, melhor mesmo tinha sido a minha noite!
Chegamos à praia e dessa vez não havia ninguém ali. Claro, era muito cedo e ninguém seria louco de ir para a praia tão cedo. Exceto talvez os surfistas, que se preparavam para o concurso que fora cancelado no dia anterior, um tal de e e Paul Kazanskis, que abria seu quiosque.
- Kazanskis está bêbado – comentou olhando o amigo de longe.
- Como você sabe? Ele me parece normal – falei me sentando num banquinho na calçada, um daqueles que ficam de frente para a praia por toda sua extensão de calçada, sabe, estilo banco de praça. se sentou ao meu lado e eu a abracei pelo ombro. O sol vinha surgindo no horizonte...
- Eu conheço um bêbado quando vejo um – ela falou entendida. Me lembrei sobre o que ela tinha me contado mais cedo sobre o pai e achei melhor ficar quieto.
- Me chama de – me limitei a dizer. Ela revirou os olhos.
- Que seja – disse e eu ri. Adoro esse jeitinho dela.
- No final deu tempo de vermos o sol nascer – falei indicando com a cabeça o sol ir ficando mais forte sobre o mar.
- Nem queria ver – falou e eu a olhei como quem diz “Mas já mudou de idéia de novo?”. Ela riu da minha cara e me deu um selinho demorado.
Ficamos assim por um bom tempo, rindo, conversando sobre nada e sobre tudo entre alguns beijos breves e outros demorados. Aos poucos, quando o sol já tinha nascido por completo, as ruas foram ficando mais movimentadas conforme as pessoas iam acordado e saindo de suas casas. Mais surfistas chegaram, lotando a praia com suas pranchas. Não entendo porque os coitados têm que acordar tão cedo. As ondas mudam depois de um certo horário? Não sei... Mas estava legal os ver se equilibrarem sobre as ondas e criticar suas performances junto com . Mais tarde quem sabe poderíamos ser um dos juizes do concurso de surf.
Um casal de velhinhos, algum tempo depois, passou por nós e comentou algo como “quem me dera poder ter essa idade de novo”. sorriu com isso e me aproximei para beijá-la. Nos beijamos por alguns segundos e quando estávamos começando a realmente a aprofundar o beijo, ela começou de repente a rir baixinho.
- Qual é a graça?
- Lembrei daquele vez – ela vez uma pausa para rir antes de continuar - que um casal de velhinhos entrou no elevador e nós estávamos... bom...
- Nos agarrando – completei rindo também, me lembrando – Os velhinhos cismam com nós!
- Mas vê só, – começou – os velhinhos da Califórnia são mais legais, aqueles lá na Inglaterra só faltaram nos xingar!
Soltei uma risada alta.
- Mas ele nos pegar numa hora mais indecente que esses – contrapus e encolheu os ombros.
- Mesmo assim, prefiro os velhinhos daqui! – ela falou de uma forma graciosa.
- Não sente saudades dos velhinhos de lá? – perguntei a abraçando e sorrindo – Se bem me lembro, você deixou uma avó gente boa na Inglaterra. de repente me olhou de uma forma estranha e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.
- É claro que sinto saudade da minha avó! – disse séria.
- Não disse que não sentia – falei franzindo a testa levemente, estranhando o comportamento dela – Escuta , o que está acontecendo?
- Ué, nada – ela negou e desviou o olhar para o mar. Ok, a muralha dela de novo entre nós.
- Se você diz... – falei e coloquei minha mão no rosto dela, fazendo ela se virar para me olhar – Mas se você quiser contar, eu...
- Não tem nada pra contar – ela sorriu e beijou a pontinha do meu nariz – Agora... – e se levantou do banco com um pulinho, mudando totalmente a expressão que fizera antes, voltando a ser a velha , a espontânea – Eu preciso ir, você falando da minha avó me fez lembrar que faz tempo que não vou para casa.
- Onde você mora? Perto da ? – perguntei me levantando também, pensando pela primeira vez que me sentia curioso para conhecer a casa dela. – Quero ir até sua casa.
Ela riu e eu vi que pareceu meio nervosa.
- Não, eu moro um pouco longe da falou e começou a andar pela calçada.
- Eu te levo então – disse andando ao lado dela – Pego o carro lá no hotel e te deixo lá.
- Não precisa. – sorriu e agora sim tive certeza que estava nervosa – Eu te vejo depois, – e parou na minha frente, me dando um beijinho estalado nos lábios e logo se virando para voltar a andar... - Hei! Pera aí! – segurei a mão dela – Não vai assim. Eu te levo.
- Eu quero ir sozinha ok? – ela falou de um jeito doce e meio triste.
- Não quer que eu entre na sua casa? Tudo bem, eu te deixo lá e vou embora! – encolhi os ombros, sentindo uma pontada no peito com esse pensamento. - Não é isso, não faz essa carinha! – deu um risinho e me beijou – Eu apenas... Já sei, vamos fazer assim. – ela sorriu, dessa vez de verdade – Você passa na casa da hoje as quatro da tarde e me pega...
- Dessa vez vou encontrar você lá né? – interrompi a abraçando no meio da calçada e das pessoas que passavam por nós - Por que da ultima vez que você me disse isso, você sabe muito bem o que aconteceu – eu ri, mas não achava graça.
- Vou estar, tonto! Vou passar em casa apenas pra trocar de roupa. – falou rindo e eu senti que estava falando a verdade – Então você passa lá na e vamos a algum lugar.
- Onde?
- Não sei - ela falou e eu vi que pouco se importava com o lugar.
- Onde fica Hollywood? – perguntei sorrindo com a minha idéia. Hollywood é legal cara!
- A uma hora daqui. – sorriu também.
- Ótimo! – a abracei mais, trazendo-a mais perto de mim – Te pego as quatro?
- As quatro!
- Ok. – sorri e então me aproximei para beijá-la, mas...
- Te vejo depois! – ela riu, se soltando de repente dos meus braços e saindo depressa de perto. Fiquei ali, a meio caminho da boca dela...
- ! Não faz isso! – gemi ficando na vontade. Ela riu ao longe e acenou...
- Tchau ! – ela gritou atravessando a rua, já a alguns metros de mim.
- Me chama de ! – ri me controlando para não correr até ela e agarrá-la. Senti meu peito apertar um pouco por deixá-la ir. É idiota, mas quando gostamos mesmo de alguém, eu quero dizer, quando somos apaixonados, porque eu sou apaixonado por ela (Ah qual é?! Você já sabia disso!¬¬), não conseguimos ficar longe nem por um segundo da pessoa que gostamos.
Me senti leve como há tempos não sentia, respirei fundo a brisa do mar, sentindo o cheiro da maresia... Enfiei as mãos no bolso da calça e refiz o pequeno caminho de volta ao hotel. Estava feliz e dali a algumas horas estaria feliz e indo para Hollywood.
Capítulo 6

- Shiiiu! Fala baixo cara! – reclamou, saindo do banheiro com uma bolsa de água quente na cabeça assim que eu entrei no quarto cantarolando a maldita música dos Backstreet Boys que não saia da minha cabeça.
Ri com cena que me deparei... Judith bem que tinha me avisado quando passei por ela na recepção que meus amigos estavam todos com caras de doido quando chegaram. estava atirado na sua cama perto da janela com uma careta e estava deitado na sua com o travesseiro tapando os olhos.
- Merda de cortina! – reclamou ele com a voz abafada pelo travesseiro – Fecha aí !
- Tá fechada idiota! – foi carinhoso. Eu ri. sentou-se numa poltrona de couro velho perto da televisão, ajeitando com cuidado a bolsa de água quente na cabeça.
- Que bom, - disse tirando o travesseiro devagar de frente dos olhos – melhor assim porque... Ahhhh! – exclamou alto em seguida, voltando a tapar os olhos depressa quando a luz da janela voltou a incomodá-lo.
- Se você gritar assim de novo estouro sua cara quando eu estiver bom! – ameaçou e eu me sentei na minha cama, tirando o tênis.
- Eu não teria gritado e nem meus olhos ardido se a porra do tivesse fechado a...
- A cortina tá fechada babaca! – exclamou alto e resmungou um “eu desisto!” – Não tenho culpa se essa porcaria está cheia de buracos que deixam o sol ferir seus lindos olhinhos de bixa de ressaca !
Gargalhei. O é sempre tão carinhoso depois de um porre! tacou o travesseiro nele e depois se arrependeu por causa do sol. também começou a rir.
- Briga de mulher! – disse rindo.
- Só não vão se beijar no final – falou parecendo repentinamente melhor. mandou o dedo do meio para ele.
- Não vou beijar ninguém! Vou seguir seu exemplo! – zombou pegando pesado e fechou a cara na hora. riu.
- Que aconteceu? – perguntei querendo entender o súbito mau-humor/tristeza de , que afundou na poltrona.
- tacou uma latinha de cerveja na minha cabeça quando tentei beijá-la – ele respondeu. Eu segurei o riso, mas e não.
- Ah parem de rir! – pediu cabisbaixo e eles pararam.
- Tudo bem cara, é meio nervosinha mesmo – arriscou, abrindo de leve os olhos com uma careta.
- Não é ela, sou eu – de repente disse a frase clichê – Não sei bem como lidar com ela, sabe... Simplesmente não sei como passar por isso. – e apontou o lado esquerdo do peito com uma careta, como se algo doesse ali.
- Ahh que gracinha! – brincou fazendo um biquinho e juntando as mãos na sua melhor imitação feminina.
- É sério, !
- Ok, parei! – deu uma última risada breve e depois viu que era sério mesmo – Tenta conversar com ela. – acrescentou.
- Eu tentei, mas...
- Tenta fazer isso sóbrio, ! – falei imaginado ele ir falar com no estado bêbado que tinha o encontrado chegar assim que estava saindo da festa com .
- Verdade, é um bom começo – ele ponderou rindo. – Mas eu nunca... não sei o que ela vai me dizer se...
- Apenas tente, cara – interrompi me lembrando quando me disse a mesma coisa em relação a . Por algum motivo, fizemos silêncio. Cada um se perdendo em seus próprios pensamentos. Olhei para , e olhando assim para ele, não era muito difícil de imaginar no que estava pensando. No mínimo o rosto de ia e vinha em sua cabeça enquanto tentava desesperadamente entender o que diabos estava fazendo de errado. Não que a expressão vagamente triste no rosto dele fosse assim tão fácil de se interpretar, mas é que só o tínhamos visto com essa mesma cara de bobo perdido quando dera para gostar dessa garota estranha que tinha entrado no colégio no primeiro ano e que usava roupas tão esquisitas quanto às cinco cores que tinha no cabelo. A menina era legal, mas sei lá! Eu não conseguia prestar muito atenção as coisas que ela falava, acabava sempre fixado bizarramente naquele piercing que ela tinha nos lábios. Nem posso me lembrar daquela festa na casa do que ele a convidou. Depois ela pirou e pintou o cabelo de castanho, daí fico igual todo mundo e a esqueceu. Mas bem, a cara de bobo que ele estava sentado ali na poltrona, era a mesma que fazia quando estava apaixonado pela garota das cinco cores no cabelo. Fato.
- Ahmm... mas então, ! Caaara! – falou de repente me olhando e interrompendo o silêncio finalmente. – Você devia ter ficado na festa! Aconteceu de tudo que você possa imaginar!
- Estava bom aqui também – falei rindo e me lembrando da minha noite.
- pegou uma das garotas no fundo da piscina! – riu. - Mas e a Jenny? – perguntei rindo também enquanto fazia cara de pegador.
- Ela não se importou, disse que não somos namorados... – ele deu de ombros – No final da noite fiquei com ela de novo e daí tudo certo!
- Teve até policia! – disse parecendo empolgando e esquecendo momentaneamente de qualquer outra coisa que estivera pensando – Foi emocionante! Não sabemos como a confusão ficou tão grande, mas...
- Neil pirou nessa hora! – interrompeu.
- Conheceram o Neil? – perguntei para e .
- O tio doidão da ? Puta cara legal! – comentou. – Até tentou livrar a cara da sobrinha quando ligaram para os pais dela, mas vai ficar de castigo por uns tempos, embora Neil tenha assegurado que nada que um sorriso e uma conversinha com o pai não resolvam a situação.
- Os pais dela voltaram? – perguntei por perguntar.
- Não, voltam só daqui há quatro dias, eu acho...
- E Fletch chega hoje à tarde! – lembrou. Lembrou mesmo porque eu já tinha me esquecido completamente de Fletch e o porquê de estarmos ali na Califórnia. Por alguns momentos achei que estivesse lá porque estava e pronto.
Senti uma ansiedade engraçada na barriga ao pensar na gravadora e nas chances do McFLY.
- Vamos começar a ensaiar hoje a noite então? – perguntei e confirmou.
- E amanhã cedo temos outro ensaio – lembrou – E terça-feira precisamos estar na gravadora a sete horas da manhã.
- Porcaria! Por que tão cedo? – reclamei me desanimando só de pensar.
- Coisas do Fletch! – falou sem emoção.
- Puuuutz! – exclamou de repente outra vez e nós olhamos para ele. – Falando em Fletch e panz, tive uma idéia!
- Ah não. – e eu “lamentamos” ao mesmo tempo. Nós rimos e fingiu não ligar...
- A noite de ontem foi histórica, caras! Nós podíamos fazer uma musica sobre isso... tipo sobre a festa e tal!
o olhou empolgado e fez uma careta.
- Não é que eu gostei da idéia, grande ?! – sorriu.
- To com preguiça! – foi sincero. Achei que ele estava parecendo engraçadamente uma velha com aquela bolsa d’água na cabeça, mas... não vem ao caso!
- You know that everybody likes to party on Saturday night! – cantarolei toscamente, me lembrando do que dissera no nosso primeiro dia ali. Nem sei bem porque, mas também tinha gostado da idéia... Uma música sobre uma das melhores noites da minha vida? É claro que ia gostar!
e sorriram para mim.
, parecendo vencido, e agora um tanto animadinho, tacou a bolsa de água para longe e pegou um caderninho surrado no meio de suas coisas.
- Pronto, vamos lá... – anunciou retirando a caneta presa na espiral do caderno e pronto para começar a escrever.
Silêncio.
Nos entreolhamos esperando que alguém soltasse milagrosamente a primeira frase da musica...
Ok, aquilo ia levar algum tempo, afinal.


(...***...)

Depois de algumas horas rachando a cabeça para fazer a letra e a melodia da música sair, finalmente conseguimos terminar. Claro que no meio de toda a coisa tivemos que fazer uma pause para a hora do sono. Estávamos todos com cara de zumbi e não podíamos passar o dia assim.
- Porque mesmo vocês colocaram a música em primeira pessoa? – perguntou algumas horas depois, assim que terminou de ler a letra para ela naquela tarde. Todos nós, inclusive e , estávamos no quarto repassando a música e volta e meia mudando uma palavra aqui, outra ali.
- Porque, convenhamos, seria muito mais legal nossos futuros fãs acharem que foi na nossa casa que a festa rolou – explicou. riu e apoiou a cabeça no meu ombro. Porque ela sempre fazia isso? Merda! Não sou encosto!
Estávamos sentados lado a lado no carpete do chão. , e na nossa frente, na poltrona ao lado da tv, quase babando, dormindo profundamente.
- E essa parte aí no meio que fala das pessoas transando atrás do jardim? – perguntou parecendo horrorizada com o pedaço da letra que dizia “... get behind the garden shed thats where everybody goes to get laid” – É mesmo verdade? – fez uma cara enjoada. Qual é o problema dela? O que tem demais as pessoas transarem no jardim?... Ela estava me irritando! Nem sei por que, mas não estava com paciência para suas frescuras hoje. Aliás, eu nunca tive paciência, hoje muito menos!
- E se tivesse? Não tem nada demais – eu respondi olhando no relógio e vendo que era três e meia da tarde. Daqui a pouco tinha que dar uma desculpa para sair dali e ir me encontrar com .
- Ai que grosseria! – bufou impaciente e eu sequer tinha começado a ser grosso com ela ainda – Está todo estranho! – tá isso era verdade.
- Pega leve, cara – interferiu e me olhou significativamente. Ele, e já sabiam o que tinha acontecido ali naquele quarto com , tinha contado a eles enquanto escrevíamos Saturday Night. Mas não contei tudo, né? Apesar de eles quererem saber, não vou sair por aí contando “daí e eu fizemos um...” Até parece!
Dei de ombros, pouco me importando se ficaria brava comigo ou não. Não era ela que eu queria mesmo.
- Estou cansado, saí ontem da festa não muito bem e acho que ainda não melhorei – menti por mentir, usando a desculpa que tinha dado a ela ontem á noite para escapar da festa.
- Ooh, tadinho do meu bebê! – ela veio para me beijar fazendo dengo.
- Não me chama de bebê ! – eu disse impaciente desviando do beijo dela - É idiota! – e aqui vem a verdadeira grosseria de .
- Ah , que droga! – ela se afastou, levantando irritada e indo para a porta – Quando você resolver tratar sua namorada direito me avise, vou estar no meu quarto lá no Independence!
- Tá – encolhi os ombros indiferente! Ela bufou, abrindo a porta e a batendo com força logo em seguida. Pouco me importei. acordou com o barulho.
- Ah não precisava ser assim grosso com ela – falou com pena da amiga. , que estava a abraçado por trás, me lançou um olhar como quem quer dizer “Você sabe que ela está certa!”.
- Ela supera. – disse sem emoção e achando a brecha perfeita para ir embora – Estou indo agora, vou dar uma volta pra... sei lá, esfriar a cabeça.
- Vou junto! – exclamou sorrindo. Estava no plano deixar ele na casa da para que tentasse se acertar com ela enquanto e eu íamos até Hollywood. Wow! Falei isso tão naturalmente que parece a mesma coisa que dizer “...enquanto íamos a padaria.”
Hollywood! Demais, não é?! Melhor ainda se eu for com a !
“Melhor ainda se for com a , isso soou tão cadelinha no cio.
- Ok. – disse me levantando do chão enquanto pegava as chaves e abria a porta. – A gente vê vocês depois! – me despedi pegando meu casaco em cima da cama. Tinha esfriado um pouco. Não muito, um pouco.

(...***...)

Parei o carro em frente a casa de e vi Neil e ela limpando o gramado da frente. Estava uma bagunça só depois da festa. Um segundo depois, os dois nos avistaram e...
- O que ele está fazendo aqui?! – exclamou brava, olhando sentado no banco do passageiro do carro. Ele baixou a cabeça meio triste com a reação da garota.
- Não sei e não seja histérica! – Neil reclamou com uma careta.
- Manda ele embora tio!
- Ah tá bom! – Neil riu irônico - Agora que a vai embora com o não vou arrumar tudo isso sozinho com você ! – e ele caminhou até o carro com uma enorme sacola de lixo na mão, cheia de latinhas e garrafas – , meu querido! Seja bem vindo a limpeza da casa após a festa!
Neil sorriu fazendo sinal para que ele descesse do carro e os ajudasse. o olhou incrédulo.
- Ah não, Neil! Eu só vim falar com a...
- Anda logo! Depressa, temos muito serviço aqui! – Neil abriu a porta do carro e agarrou pelo braço, o puxando para fora - Você fala com a enquanto varre a sala! Tá um horror! disse que não limpa nem morta.
Eu ri.
- Mas eu... – começou inutilmente.
- Oi ! Como vai? – Neil me cumprimentou o ignorando.
- Hey Neil! – falei rindo ao ver ir a contragosto pegar uma vassoura que estendia para ele em frente a porta de entrada com uma cara de pouco amigos – Eu até ajudaria vocês se...
- Se não tivesse que ir dar uns amassos com a princesinha, não é? – ele falou sorrindo. E eu sorri mais ainda. Era meu dever dar uns amassos nela hoje!
- Pois é, trabalho duro! – brinquei coçando a nuca. – Cadê ela?
- A ultima vez que a vi tava xingando o desgraçado que deixou uma camisinha flutuando na piscina. – Neil falou com uma cara de nojo e eu me lembrei de – Pera aí que vou chamar a e... Ah não, lá vem ela!
Neil então apontou saindo rindo de casa. Escutei alguma coisa que me pareceu o grito da e a voz de , mas não prestei realmente atenção no que diziam, fiquei momentaneamente hipnotizado pela garota que vinha caminhando até o carro. Ela estava perfeita! Os cabelos semi presos num coque mal feito, no mínimo as pressas para não me deixar esperando... Adorável! ... Um vestidinho claro que lhe batia acima dos joelhos, mangas meia estação e sapatos combinando. Simples, mas perfeita. Ela não precisava de muito para ficar bonita, era por natureza!
- é realmente bonita não é? – Neil comentou sorrindo. Em outros casos eu teria ficado com ciúmes, mas ele parecia ter dito de uma forma meio paternal que só o que senti foi orgulho por estar indo buscar uma garota daquelas para sair comigo.
- Eu sei que demorei – falou chegando até nós – mas não reclamem! Garotas são patéticas quando têm que se arrumar!
- Está se chamando de patética? – perguntei sorrindo enquanto ela abraçava Neil em despedida.
- É claro que não! – ela negou, jogando a bolsa para o banco de trás e sentando-se ao meu lado – Estou me chamando de garota!
Neil e eu rimos e eu liguei o carro.
- Se cuidem! – Neil falou com uma piscadela brincalhona.
- Até depois titio! - lhe jogou um beijinho e deu um sorrisinho. Neil gargalhou gostosamente e eu agora sim fiquei com ciúmes! Também não é assim né?... Ela nunca me jogou um beijinho!
- Tchau Neil! – acenei e engatei a primeira, saindo da rua com ...
Fizemos silêncio enquanto passávamos em algumas ruas. Novamente eu e ela estávamos ali no carro com o vento batendo sobre nossos cabelos.
- Então é assim? – ela perguntou de repente me olhando – Você me vê, e não da nem um beijo como forma de oi?
Eu sorri involuntariamente. Franzi a testa de leve e a olhei.
- Você que não me beijou.
- Eu? – falou meio rindo - Esperei que você me beijasse primeiro.
- Ok – falei rindo do jeito dela e sem mais nem menos virei o carro, estacionando perto da guia da calçada. Me virei no banco do motorista, ficando de frente pra ela e me olhou, franzindo a testa sem entender.
- O que vo...? – ela começou, mas eu a calei logo pressionei meus lábios contra os dela, lhe beijando. pareceu um pouco surpresa no começo, mas depois correspondeu a altura. Um segundo mais tarde não agüentou e começou a rir entre o nosso beijo.
- Que foi agora? – perguntei parando de a beijar, mas ainda sem descolar a boca da dela. Abri os olhos devagar.
- Não sei, me deu vontade de rir – respondeu dando risinhos. Revirei os olhos, mas ri também.
- Meu beijo por acaso é engraçado? – perguntei sorrindo, ainda com o rosto a milímetros dela.
- Nop. É razoavelmente bom – ela riu mais e me deu um beijinho rápido na boca.
- Razoavelmente? – ri debochado – E de quem seria melhor? Do seu namorado?
Ela não achou graça. Franziu a testa por um breve momento e me olhou.
- Não tenho namorado, bobo – respondeu segundos depois, me segurando pela nuca – E o meu beijo é melhor que o seu. – sorriu.
- Mesmo? – sorri de volta, um ar malicioso no sorriso.
- É sim. – confirmou segura de si, acariciando os cabelos da minha nuca com a ponta dos dedos. Adorava quando ela fazia! Me dava arrepios...
- Então... – aproximei nossas bocas - Pára de falar um pouco e me beija.
Ela levantou as sobrancelhas e me encarou, um pequeno sorriso no canto dos lábios. Nos beijamos, esquecendo completamente do mundo como sempre fazíamos quando estávamos juntos. Apenas nos lembrávamos de prestar atenção nas nossas bocas e nos movimentos que nossas línguas faziam. Naquele momento e em todos que passava com ela, não havia mais nada alem de nós. É totalmente patético me ver falando assim de alguém, de mim mesmo, mas não posso mentir, era desse jeito que me sentia.
Não tínhamos nem nos distanciado 70m da casa de e já estávamos parados em algum lugar nos agarrando. E não estou reclamando, vejam bem, mas se a viajem até Hollywood continuar assim, vamos demorar muito para chegar lá!

(...30 minutos de viajem...)

- Pera aí! – ela olhava o mapa em sua mão enquanto lutava bravamente para ele não sair voando por causa do vento - Não dá pra entende nada aqui! Esse mapa é do tempo do ‘uepá’ hein?!
- Tempo do ‘uepá’?! – eu soltei uma gargalhada rouca- Da onde você tirou essa gíria ?
- Ah cala a boca, ! – ela riu também e de repente amansou o mapa que estava em sua mão. – Gírias antigas são cool! – e ela sorriu, levantando a mão e jogando o mapa fora na estrada.
- Ficou louca?! – exclamei e olhei pelo retrovisor o carro detrás passar por cima do papel - E agora como vamos saber o caminho?!
- Vamos seguir sem rumo! – ela falou jogando os cabelos para trás e escorregando folgadamente no banco.
- Ah é? Sem rumo? – levantei uma sobrancelha dando um meio sorriso - Daqui a pouco você vai estar falando: “, seu bundão! Nós estamos perdidos!” – falei imitando uma voz fininha e parecendo meio gay. abriu a boca irônica e me deu um tapa no ombro me fazendo gargalhar da cara dela.
- Eu não falo assim!
- Fala sim!
- Pára de rir !
- Não paro!
- Vou fugir com o primeiro caminhoneiro barbudo que passar!
- Parei.
Ela gargalhou vitoriosa...
- Olha ali , na placa diz que você tem que... Vira aqui! Vira aqui! VIRA! – gritou rindo e eu quase bati num carro quando sai pela bifurcação do Km 14 da estrada – Aeee! – ela riu mais - Viu só! Nem precisamos do mapa!

(...1 hora e pouco depois...)

- Não chega nunca? To ficando com sono já!
- Já chegamos, . – ri.
- Já?
- Se você abrisse os olhos quem sabe seria mais fácil de você notar isso!
abriu um olho e sorriu, abrindo os dois e se sentando direito no banco do carro.
- Não é que chegamos mesmo! – ela riu de leve e eu sorri.

Já estava anoitecendo quando chegamos em Bervely Hills. Era um fim de tarde daqueles que o sol deixa o dia avermelhado e aos poucos vai ficando azulado até finalmente escurecer.
Descemos do carro, o deixando estacionado em algum lugar perto de umas lojas, restaurantes, bares movimentados e fomos caminhando sem rumo pela calçada. Tudo ali era bem decorado e arrumado com mínimos detalhes. Chegava a parecer um cenário de um filme caro. As pessoas que andavam para lá e para cá desfilavam com sacolas de marcas caras como Dior, Chanel, Gucci, Armani, D&G, Prada e assim por diante. Havia ainda um clima engraçado no ar que lhe dava a impressão de que logo, logo ia-se dar de cara com uma grande celebridade.
, que dava a impressão de nem se importar com todo aquele lugar suntuoso, caminhava como se andasse por ali todos os dias, olhando ávida uma maquina de sorvetes mais a frente. Eu ri com isso e ela me olhou.
- Que foi? – ela perguntou sorrindo.
- Nada, tanta coisa pra se olhar e você fica aí encarando a maquina de sorvete como se fosse a coisa mais interessante do mundo.
- To com fome – fez uma carinha e eu tive vontade aperta-la.
- Vamos comer então – disse sorrindo e a abraçando de lado.
- Mas eu não quero comer, estou com fome de sorvete – riu e me deu um beijo na bochecha, me arrastando com ela até a tal máquina. Um velhinho com óculos fundo de garrafa (que lembravam uma lente de aumento de tão grande que seus olhos ficavam) serviu o sorvete de chocolate para depois de dizer como ela era “uma garotinha adorável!”.
Velho safado!
Mentira, ‘to exagerando, o velhinho era gente boa.
- Tá, agora que estamos aqui, o que foi mesmo que a gente veio fazer? – perguntou sentando-se num banco ali perto, com o nome da Marlyn Monroe gravado no encosto.
- Sei lá, a gente veio... ficar juntos? – falei a olhando tomar sorvete e sentando ao lado dela.
- Mas agente podia ficar juntos lá, nã...
- Olha! – interrompi - Não é aquela mulherzinha que apresenta o “E news”? – reconhecia a mulher que saia de dentro de uma loja de grife.
- Sei lá! – pouco se importou e olhou para o outro lado. Por alguns minutos continuei olhando a tal mulher, parecia esquisita vendo assim de perto. Um nariz maior do que o normal, pálida e mais magra que na TV. sempre me dissera que a TV engorda, mas eu nunca acreditei porque...
- ? – perguntei me virando para e percebendo que ela nem estava mais lá! Levantei do banco e o velhinho sorveteiro se assustou. Olhei ao redor e, para meu alivio, ela estava apenas em uma vitrine mais a frente, olhando alguns biquínis enquanto lambia seu sorvete. Balancei a cabeça, pensando que talvez estivesse meio traumatizado, sei lá, era bom ela não sumir mais assim do nada! Alguns caras a olhavam atentamente perto de uma Ferrari amarela. Fechei a cara na hora, mas esperei calmamente que voltasse logo até onde eu estava. Não podia dar uma de louco apenas por ela ter se afastado para ver uns biquínis, certo?
- Tenho certeza que você ia ficar linda em um desses! – um cara com jeito de filhinho de papai se aproximou dela e eu dei, involuntariamente, um passo para frente. Desisti depois, resolvi ver o que ela ia fazer.
- Mesmo? – virou-se da vitrine para ele e sorriu, dando depois uma lambida no seu sorvete. – Em qual deles?
Engoli em seco. Ok, fato, não estava gostando nem um pouco daquilo! Mas precisava ver até onde ela ia! Preciso confiar nela! Mas se ela continuar a dar lambidinhas naquele sorvete, vai ficar difícil.
- Não sei, quem sabe... – o cara se aproximou da vitrine e olhou um biquíni rosa – ...esse ali. – apontou. fez uma cara de pensativa e olhou para o biquíni. Hei! Eu ainda estou aqui ok?! Eu ainda existo ! ¬¬ Caralho viu!
- Não gosto de rosa – falou simplesmente, com indiferença. Vibrei por dentro pela cara que o babaca fez.
- Te pago qualquer outro então, te compro a loja toda se você quiser – o filhinho de papai disse e eu senti uma pontada no peito de ciúmes e inveja, os dois ao mesmo tempo. Eu queria poder pagar pra ela aquela loja se ela quisesse! EU! Não o idiota aí!
- A loja toda é? – falou com um sorrisinho que só ai eu percebi que queria dizer outra coisa. Entendi na hora o que ela estava tentando fazer. Não sei bem quando é que foi que comecei a entender as atitudes de , só sei que ela é esperta e sempre foi.
Senti um alivio percorrer meu corpo e comecei a rir baixinho de onde eu estava. seu idiota, a garota que você gosta está dando sorrisinhos para outro e você ri? Pois é... eu rio!
- É isso aí! – o cara se animou e veio na direção dela. Eu me sentei de novo no banco da Marlyn Monroe e fiquei tranqüilo assistindo de longe a cena. Ia ser divertido.
- Pera aí – jogou a casquinha do sorvete fora e parou o garoto com uma mão no ombro dele – Antes de você conseguir o que quer, quero só ver se você não é mais um pé rapado tentando se fazer de mauricinho.
- Então quer que eu compre mesmo todos os biquínis da loja? – o garoto gargalhou arrogantemente e fez que sim com a cabeça – Ok. Volto já gatinha!
- Estou te esperando aqui. – ela deu uma piscadela e o babaca caiu na dela, entrando na loja. B-a-b-a-c-a! Mas, tá certo, quem não cairia na dela, não é mesmo?
colocou a mão na boca quando viu o garoto sumir para dentro da loja e desatou a rir, se divertindo com sua própria maldade. Maldade? Ela com certeza preferiria “brincadeira”.Em seguida olhou para mim, como se soubesse o tempo todo que eu a estava observando de longe. Ri para ela balançando a cabeça divertido. Ela sorriu de volta e depois se virou para os amigos do garoto que ainda estavam ali parados ao lado da Ferraria amarela e falou:
– Diz para seu amigo que meu namorado tá me esperando ali e que eu desisti dos biquínis ok?
Eu gargalhei alto, alto mesmo, fazendo questão de ser odiado por aquele idiotas. Me levantei do banco e fui indo na direção dela enquanto ela vinha na minha. - Você não presta – eu disse quando veio me abraçar ali na calçada. Adorei fazer aquilo sob os olhares raivosos dos outros caras.
- Nem você – retrucou com um sorrisinho típico dela, ainda meio rindo e me beijando delicadamente.
- Sua boca tá fria – comentei sorrindo ladino e a beijando com mais vontade.
- Claro, eu estava tomando sorvete – ela riu baixinho, roçando os lábios no meu e provocando todas aquelas sensações que só garotos podem entender.
- Então, somos dois imprestáveis – ri e mordi a boca dela de leve, e ela apertou minha nuca, rindo do meu comentário.
- Você é mais do que eu, mas eu gosto disso. – sorriu e se afastou, pegando na minha mão – Vamos sair daqui agora, quero ir a uma festa em algum lugar.
- Ok, mas... quer dizer então que eu sou seu namorado? – perguntei fazendo o caminho de volta para o carro e sentindo um frio engraçado na barriga ao lembrar do que ela tinha dito antes aos babacas da Ferrari.
- Não. – deu de ombros - Você ainda não pediu para namorar comigo. – deu de ombros.
- E eu preciso pedir? – perguntei pensando que isso era tão obvio que não precisa dizer nada.
- Lógico!
- você quer...
- Ah não! Não pede não, - fez uma careta - é muito ridículo!
- Ok srta anti-romantismo. – eu ri e ela beliscou meu braço, apenas me fazendo rir mais ainda.

(...***...)

Já estava completamente escuro agora, passava das nove e meia, mas nós sequer olhávamos no relógio. O celular de tinha tocado algumas vezes, mas ela tinha feito questão de ignorar e o meu tinha acabado a bateria. Agradeci por isso, não queria me aborrecendo perguntando onde eu estava e porque tinha sido tão grosso com ela hoje cedo. Que se dane! Pra falar a verdade, estava muito entretido com que nem me lembrava de nada.
- ...cigarros de cereja!
- Que gay! – fiz uma careta e ela achou graça.
- Menta?
- Melhor.
- Pega as bebidas?
- Pego.
saiu para perto do caixa, onde os cigarros ficavam e eu fui até o freezer perto das prateleiras de chocolates. Tínhamos parado para abastecer o carro e agora estávamos na loja de conveniência do posto de gasolina. Íamos para uma festa num lugar que chamava Summer Love e que de acordo com Will, um cara muito gente boa que conhecemos a pouco, ficava perto da calçada da fama. Pegamos o endereço, Will disse que nos encontrava lá e se mandou no carro “humilde” dele... Todo mundo é rico aqui, cara! É impressionante!
- Cinco tá bom? – perguntei me juntando a no caixa com cinco garrafinhas de vodka com soda na mão.
- Três pra mim e duas pra você? – ela perguntou empurrando dois maços de cigarro para a caixa. Um de menta e outro de cereja.
- Duas pra mim e duas pra você, a outra agente divide – disse e ela concordou. – Vai fumar um maço inteiro? Desde quando fuma tanto?
- Eu quero de cereja e você de menta, então pronto. – falou enquanto eu pagava as coisas - E eu nem fumo na verdade, só algumas vezes...E você? Também não fumava antes, fumava?
Engoli em seco. O que eu ia responder? Que comecei a fumar porque ela tinha ido embora e era com isso e com vodka que eu curava minha nostalgia?
- Deu vontade – dei de ombros disfarçando e peguei a sacola da mão da caixa, voltando com até o carro, que dessa vez estava com a capota.
- O que vamos fazer agora? – ela perguntou entrando no carro e batendo a porta, eu fiz o mesmo ao lado dela.
- Ficar bêbados? Era o plano original não era? – entreguei para ela uma das garrafas e peguei outra pra mim.
- Nunca ficamos bêbados juntos – comentou sorrindo e fazendo força para abri a garrafa. – Vai ser divertido... Que horas é a festa que o Will falou?
- As dez e pouco, sei lá – dei de ombros e bebi um gole da minha vodka – Enquanto isso agente podia parar o carro num lugar escuro e... – sorri com segundas intenções e riu.
- Por mim... – ela encolheu os ombros, ainda tentando abrir a garrafa, peguei da mão dela e abri com facilidade.
pegou da minha mão, bebeu um gole e eu ri dela enquanto dava a partida no carro.
Se eu achava que o lugar era movimentado quando chegamos mais cedo, a noite então... Para um domingo a noite a circulação de pessoas era incrível! Perto de restaurantes e boates a coisa ficava realmente feia, era carro e gente gritando e rindo pra todo o lado. Duas vezes passamos por lugares onde milhares de flashes de papparazzis eram tão intensos que parecia uma iluminação própria da boate. disse que viu um cara que fazia um seriado, mas eu não vi mais do que uma cover da Britney Spears e a tal mulher apresentadora.
No final das contas já era onze horas e nós não tínhamos achado nenhum lugar para parar o carro, desistimos e resolvemos que devíamos ir de uma vez pra a tal festa do Will. Sem muita dificuldade achamos o caminho... Na verdade a dificuldade mesmo só começou quando chegamos lá. Tive que andar muito devagar para não atropelar nenhuma das tantas pessoas que andavam por ali e, alem de tudo, para não subir em cima de nenhuma calçada devido a minha visão meio fora de foco por causa das garrafas de vodka que tínhamos bebido. Logo encontramos o lugar intitulado: Summer Love e que ficava exatamente a uns 5m da calçada da fama. Estava lotado e eu estacionei por ali.
- ... – chamei ainda dentro do carro.
- Ahn?
- Você tá bem? – perguntei olhando para ela e rindo idiotamente. Que culpa tenho eu? Nenhuma. Culpa do álcool!
- Eu não estou com câncer ou algo assim não é? Então estou bem! – gargalhou e eu também. Câncer? Que louca!
- Consegue andar em linha reta?
- Consegue me beijar? – ela perguntou me olhando nos olhos e mordendo os lábios. A olhei por um segundo e sem pensar duas vezes a puxei para mais perto... segurou com firmeza os cabelos da minha nuca e nos beijamos de um jeito meio desesperado... Foi engraçado! Ri no meio do beijo e ela me olhou feio.
- Porque tá me olhando brava? – perguntei ainda rindo alcoolizado. – Você também riu no meio do nosso beijo antes!
- Não to brava – ela falou calma e coçou o olho como se estivesse com sono – Eu esqueci seu nome, to tentando lembrar.
- !
- Que? – foi a vez dela rir e eu fiquei sério.
- Como é que você esque... – comecei, mas ela tapou minha boca, pulando do banco do passageiro para o meu colo, sentando-se de lado com as costas para a minha janela.
- Eu só não lembro seu nome, mas eu sei quem você é... porque eu gosto de você! – me abraçou e começou a beijar meu pescoço – Eu sei que você foi o primeiro... primeiro garoto que me viu sem nada e que eu deixei me tocar...– ela mordeu carinhosamente um pedaço perto da minha orelha e eu fiquei estático, parecendo mais bêbado do que já estava, entorpecido –... O garoto que me beijou de um jeito diferente e que eu morro de ciúmes quando penso que está com outra...
- Cala boca – pedi molemente, não querendo pensar na – Eu sou louco por você, ! – e passei minhas mãos por debaixo do vestido, as deslizando pelas pernas dela... ainda distribuía beijos no meu pescoço.
- E é o idiota que me faz... me faz pensar coisas bobas porque... – com o próprio rosto acariciou o meu e roçou nossos narizes me encarando – porque mesmo que eu não admita, eu sou apaixonada por você .
Eu fechei os olhos, tentando ter certeza que o álcool no meu sangue não estava afetando meu cérebro, me fazendo delirar e ouvir coisas. Meu coração na mesma hora pareceu querer explodir no meu peito e eu retirei minhas mãos da perna dela, subindo uma para cada lado do rosto. Eu estava flutuando no ar. Quando abri os olhos, estava com os dela fechados, a testa encostada na minha e respirava rápido com o peito subindo e descendo num ritmo compassado meio nervoso. Era um dos momentos mais marcantes da minha vida, eu sabia que era... tive vontade de gritar de felicidade. Cara, eu tive e não tenho vergonha de dizer isso. Minha boca secou e eu respirei fundo. Sabia que ela estava bêbada, que estava tão alcoolizada quanto eu estava, mas não me importei, finalmente eu tinha escutado o que tanto queria escutar daquela boca que eu tanto amava beijar.
- Fala alguma coisa, – ela pediu baixinho, quase como uma suplica. Eu? Falar? Eu não sei se consigo.
- Eu te amo. – disse por fim, resumindo todos os meus sentimentos em três palavras. Não esperei a resposta dela,
não iria responder, eu sabia que não. Já tinha sido esforço demais para ela dizer o que tinha dito, mostrar o que estava sentindo. A beijei devagar, calmo, com cuidado e pela primeira vez com um sentimento que eu sabia que era recíproco. Senti-me completo, parte dela assim como ela estava sendo parte de mim. Nosso beijo estava sendo diferente dos outros, não estávamos nos tocando em outros lugares que não era o rosto, pescoço e nuca. Nossas línguas não estavam querendo provocar segundas intenções, estavam apenas acariciando uma a outra, sedosas de desejo e paixão. Iria gravar aquele momento para sempre na minha cabeça.
- Acha que vamos ficar juntos? – perguntei parando de beijá-la aos poucos. Queria poder lembrar disso junto com ela.
- Vamos – respondeu mordendo o lábio e me dando um último selinho antes de sair do meu colo, voltando para o banco do passageiro. Pegou seu celular na bolsa e depois a deixou no banco de trás, abrindo a porta do carro em seguida. Sorri debilmente para o nada e percebi só agora que estávamos no meio de uma confusão de pessoas que entrava no Summer Love.
- Hei! Me espera, ! – exclamei de repente quando a vi sair do carro e dar a volta nele. Ela parou, me esperando do lado de fora e eu desci, trancando o carro.
- Pensando melhor ... – começou olhando a multidão de pessoas que entravam – Não sei mais se vamos ficar juntos, no meio dessa gente toda aí vai ser fácil, fácil nos perdemos um do outro.
Eu ri, sentindo o efeito do álcool nas minhas pernas ir passando vagarosamente.
- Vamos dar um jeito – e eu olhei uma garota de cabelos curtos e loiros passar vestindo uma roupa estrambólica.
- Tarado! – me xingou e me deu um tapa forte no ombro, saindo depressa na frente. Eu gargalhei e a segui, tentando explicar que estava apenas olhando a garota porque a roupa dela era estranha e não porque estava a achando bonita. Todas ali eram feias perto da ! Fato confirmado por pelo menos dez secadas que ela recebia a cada dois passos que dava.
- , não rebola tanto pra andar!
- Você não é meu dono!
- Mas sou o cara por quem você é apaixonada! – provoquei.
- Idiota!
- Linda.



Capítulo 7

O lugar não estava tão cheio quanto o lado de fora. Na verdade acho que os três seguranças enormes não deixavam metade das pessoas la fora entrar. Como entramos? Eu estou com a ! Ninguém barra garotas gostosas! Ah qual é cara? Ela é gostosa! Só porque tivemos aquele momento mela cueca no carro eu não posso mais achar ela gostosa?
O som era alto, uma musica eletrônica com algumas batidas de um DJ. A pista de dança ficava a direita, uma bar gigantesco do lado oposto, e mais a frente o banheiro e uma sala VIP. e eu, que estávamos no bar (ela tomando uma tequila e eu fumando o meu cigarro de menta), observávamos as pessoas animadas da festa. Estávamos agora um pouco cansados depois de ter dançando por mais ou menos meia hora e depois ainda ter ido nos agarrar perto do banheiro feminino, num cantinho escuro. Encontramos Will com uns amigos e ele nos disse que se quiséssemos entrar na área VIP podíamos porque ele ia colocar nossos nomes na lista. Mas estávamos bem onde estávamos, preferimos ficar ali mesmo. Alias, engraçado como muitas pessoas que passavam no bar olhavam para nós, parecia nem ver isso e eu não me importava.
- Por que tem tantas pessoas olhando pra gente, ? – perguntei apenas por curiosidade.
- Por que você é o cara mais bonito aqui – respondeu terminando sua tequila e me beijando brevemente. – Olha só em volta, os mauricinhos de Bervely Hills e os cortes de cabelos todos iguais. E você aí, apoiado todo exibido no balcão do bar e com esse cabelo sexy. – ela passou a mão nos meus cabelos, o bagunçando com os dedos.
Eu ri e a puxei para perto, pela cintura, a abraçando por trás e soltando a fumaça do cigarro para o lado.
- Tá dizendo que eles tão olhando pra gente por minha causa? – perguntei beijando o pescoço dela e sua pele se arrepiou. Gostei disso.
- Estou sim.
- Você já se olhou no espelho, ? Já viu as pernas que tem?
- ! – ela riu alto e eu a apertei mais contra o meu corpo.
- Quer mais alguma coisa? – perguntou vendo o barman se aproximar para tirar o copo dela.
- Sei lá, pede aí.
- Traz mais uma tequila – pedi para o barman e ele disse que já trazia o pedido.
- Quer me deixar bêbada? – virou-se de frente para mim, e eu a abracei de novo.
- Você já está. – ri e ela roubou o cigarro da minha mão e o apagou num cinzeiro próximo. Hei! Era o meu cigarro!
- E você também. – ela sorriu. – Somos bêbados! – exclamou rindo, abrindo os braços e me abraçando mais forte em seguida.
- Somos gostosos também.
- Ah é, mas é claro que somos! - ela concordou – Se um dia ficarmos pobres podemos ficar ricos virando strippers!
- Naah, não quero você tirando a roupa por aí.
- Eu quero você tirando a roupa por aí!
- Quer que eu tire agora? – falei gargalhando junto com ela e chamando mais atenção do que já chamamos. Um casal gostoso, bêbado e dando risada chama atenção sabia? Pois é... chama sim!
- Se você tirar eu tam... Droga! – exclamou de repente quando o celular dela tocou no meu bolso de trás mais vez. Aquele troço tocava toda hora! Até eu já estava me irritando! Tudo bem que ela tinha as amigas (não vou dizer amigos, nem vem!) dela, mas ligar toda hora?! Ah não! Ela não podia fazer tanta falta assim? Podia? Nos deixem em paz! Ela é minha essa noite!
- Atende , está tocando direto desde que chegamos aqui – eu disse tirando o celular do bolso de trás da minha calça e entregando o aparelho para ela. jogou a cabeça pra trás e soltou um gemido de desgosto.
- Vou atender vai – ela falou sem ter saída. Me deu um beijinho e saiu de perto, indo para o banheiro. Podia ter atendido ali, não é? Que foi? Ela não queria que eu escutasse?... Ah, acho que estava muito barulho, a pista de dança era bem pertinho dali. Pensei em acender outro cigarro, mas desisti e fui para onde a tinha visto ir.


(...***...)


respirou fundo, não queria ter que atender! Não queria! Mas já tinha visto no visor pelo menos umas 11 chamadas não atendidas e se sentia culpada sendo tão egoísta. Não queria estragar o dia que estava tendo com . Mas e se alguma coisa séria tivesse acontecido? Não se perdoaria nunca!
- Alo? – atendeu com a voz apreensiva. Ainda tinha muito barulho da pista ali, mas dava para entender. – Alo?! – ela repetiu sentindo um aperto no peito. – Fala alguma coisa caramba! Por que você fica me ligando se não fala nada? Então não me liga! Eu não ligo mais para saber das coisas aí e você me esquece! – a voz dela começou a sair com dificuldade – Vou desligar! Tch...
- – uma voz rouca do outro lado da linha falou e gelou – Onde você está? Numa festa? Eu não acredito! Estamos passando por tudo isso e você aí! Numa festa se divertido?! - Não! Num é assim! Eu...
- Sempre egoísta! – interrompeu impaciente a pessoa do outro lado da linha - Apenas querendo se divertir e não ligando pra nada e nem ninguém! Foi ótimo você ter sumido! Assim eu não preciso fingir que me preocupo com você!
- Eu não preciso que você se preocupe comigo! – vociferou apertando fortemente o celular. – Eu não me importo, mãe!
- Não me chame de mãe! Eu não tenho mais filha!
- Não, você tem sim, sou eu quem não tenho mais mãe! Alias acho que nunca tive! – quis chorar, seus olhos encheram de água mais ela lutou bravamente para não chorar, engoliu em seco por muitas vezes, apenas se controlando para não ceder... Era isso que sua mãe queria! Queria a ver fraca! Chorando e com medo!
- Nunca teve mesmo! – a mãe de gritou e ela respirou fundo – Me recuso a dizer que tive uma filha como você!
- Certo, eu não te chamo mais de mãe, - ela tentou se acalmar, não podia deixar que seu ódio por sua mãe a fizesse esquecer porque tantas vezes ligava para a Inglaterra nos últimos dias - mas, por favor, por favor, apenas me diga como...
- Não vou te dizer nada! Não finja que se importa! E não vou mais atender seus telefonemas também!
- Mas...
- Tchau !
passou as mãos pelo cabelo e sentiu um aperto no peito, como se facas atravessassem seu coração e suas pernas não agüentassem seu peso. Respirou fundo varias vezes, tentando se acalmar e esquecer de tudo... Precisava ser forte! Encarar a vida de frente! Mas no momento ela apenas queria esquecer! Esquecer de tudo! Fingir que a vida era uma maravilha com ela!
Virou-se para voltar ao bar, ainda sem derramar uma lagrima e...
- ! – exclamou, vendo que ele estivera parado atrás dela. Tinha uma expressão estranha no rosto, algo que misturava preocupação com indignação.



(...***...)


- Está tudo bem? – perguntei vendo que a expressão no rosto dela era de nervosismo e de tristeza ao mesmo tempo. Por que não tinha me contando que ainda estava brigando com a mãe? Eu me preocupava com ela, queria poder ajudar, poder a consolar se ela precisasse. Queria cuidar dela. Era só o que eu queria. Mas pelo visto eu era apenas o garoto com quem saia para ficar bêbada e se divertir não é? Por que confiar em mim e me dizer o que estava acontecendo? Pra que isso, não é? Que eu ficasse pensando que estava tudo bem e que o celular dela estava tocando por suas amiguinhas estavam precisando dela para alguma coisa idiota!
- Está tudo bem – respondeu sorrindo. Sorriso falso. Fiquei sério.
- Não parecia estar... – a encarei e ela desviou o olhar - Eu ouvi você gritando com sua mãe.
- Não era minha mãe, ri fingidamente, mentindo – Era a querendo sa...
- Não mente ! Eu ouvi! – exclamei e ela me olhou, franzindo a testa. Nos encaramos por um tempo.
- Esquece isso , por favor – me pediu e eu vi claramente que ela não estava bem, que sua voz fraquejava... Ela ia chorar? Não, não ia. Ia?
- Você pode me contar se quiser, – me aproximei dela devagar - Eu não...
- Eu não quero contar! Eu só quero esquecer! – falou alto e algumas pessoas nos olharam – Quero poder ficar com você sem pensar em nada! Agora se você começar a insistir nisso, eu acho que não vamos acabar ficando juntos! Saco, !
Ela passou de novo a mão nos cabelos e saiu andando depressa para de volta ao bar. Corri atrás dela...
- Tá bom, tá bom! – disse a segurando pelo braço e a virando de frente para mim - Eu não falo mais nada, fico mudo se você quiser! – estava meio bravo, mas não queria brigar com ela.
- Não quero que você fique mudo, . – ela revirou os olhos e me deu um sorrisinho.
- Ok. Desculpa então, linda? – perguntei a olhando nos olhos e colocando um mexa do seu cabelo para trás da orelha.
deu um sorriso fraco e segurou minha mão que ajeitava seu cabelo, e me deu um beijo carinhoso na palma, perto do dedão. Sorri de lado e a abracei como se quisesse a proteger das pessoas ao redor. Senti que o coração dela batia forte e que ela tremia ligeiramente. Fiquei realmente preocupado, sabia que sua família mexia com ela de um jeito que mais nada mexia. Era o ponto fraco de .
- Me leva embora? – ela perguntou, parecendo mais feliz agora. Me acalmei um pouco, tentei pensar que ela sabia cuidar de si.
- Levo. Vou só a banheiro e já volto – segurei o rosto dela com as duas mãos e pressionei meus lábios contra os dela num selinho demorado – Não apronta nada! Me espera aqui e... eu te amo! – olhei nos olhos dela e sorriu, assentindo com a cabeça.
Não, você está enganado, eu não esperava que ela respondesse de volta “Também te amo”.


(...***...)


E a sensação esquisita em seu estomago fez ela se odiar. “Eu te amo”? não era o tipo de garoto que estava acostumada. Ele era estranho. Não estranho... mas era... Ela não sabia como o definir, apenas sabia que era apaixonada por ele. E era uma merda estar apaixonada! Ainda mais pela primeira vez! Ah era um saco! Odiava não saber como agir ou o que falar. Como é que ela fora se meter nisso?
viu andando até o banheiro e muitas garotas olhando para ele... Era mesmo um cara lindo! Ela riu com o próprio pensamento e voltou até o bar, agradecendo por ter pelo menos ele ali com ela. Se toda vez que sua mãe a irritasse estivesse com junto, seria realmente muito bom. Pegou a dose de tequila que tinha pedido para ela antes e tomou, num gole só, sentindo o liquido raspar na sua garganta e a deixar meio mole.
- ! – uma voz atrás dela falou de repente, fazendo seu coração díspar pelo susto e em seguida, ao ver quem era, querer lhe saltar pela boca. Desejou que estivesse imaginado coisas por causa do álcool...


(...***...)


-... já estamos indo Will, mas valeu! – sorri e sai do banheiro junto com Will e um cara de boné vermelho.
- Ok. Agente se fala depois! – ele falou – Cuida da sua garota direito hein cara!
- Pode deixar – respondi rindo e acenei para os dois amigos que foram em direção a área VIP. Caminhei até o bar, procurando e a vi, olhando feio para três caras que estavam a rodeando. Caramba! Nunca vi uma garota dar tanto trabalho!
Apressei o passo.
- O que você está fazendo aqui, belezinha? – o cara mais corpulento perguntou tocando no rosto dela.
- Tira a mão de mim, Dalton! - exclamou intolerante, desviando o rosto da mão dele. O tal Dalton e os outros dois riram. Fechei os punhos involuntariamente...
- O que você está fazendo aqui, ? – voltou a perguntar o cara parando de rir e segurando o braço dela com firmeza.
- Ela já não mandou você tirar a mão dela, cara?! – perguntei chegando ao bar e encarando Dalton ferozmente.
me olhou apreensiva.
- E aí? Quem é o bonitinho? – falou irônico um outro, me olhando treslouco. Fiz menção de falar, mas...
- Ninguém! – disse depressa, me impedindo de responder. Ninguém? Que? Qual é a dela?!
- Ninguém? Seu amiguinho não tem nome não? – Dalton me olhou com desdém e depois se virou para . A olhei de esguelha e ela não me olhava de volta.
- Tenho sim, - falei - mas não acho que você precise saber meu nome – o encarei provocando.
- Ah então você ainda é folgado?
- Cala a boca, Bass! – mandou apontando o dedo para o que tinha falado.
- Quem é você para falar assim comigo, hein garotinha? – Bass deu um passo para frente e Dalton o impediu.
- Não encosta nela idiota! – Dalton falou para Bass. Eu não estava entendendo nada. Quem era aqueles caras? Como é que conheciam a ? Por que ela estava agindo daquele jeito estranho?
- Você não era para estar em casa a uma hora dessas, querida?
- Não devo explicações a você Dalton – respondeu com um sorrisinho irônico. – Vamos !
E ela saiu andando depressa para a saída do lugar. Os três caras ficaram me encarnado e eu, ainda raivoso, não movi um pé do lugar... Queria meter a mão na cara de cada um deles.
- Tá olhando o que hein babaca?
- Sua cara de viado! – retruquei a Dalton dando um sorriso cínico. Ele apertou os olhos com ódio e deu um passo para frente, já me preparei para enterrar um soco na cara dele. Estava loquinho para brigar...
- ! Pára! Vem! – exclamou alto, me chamado de longe, um tom preocupado na sua voz. Não liguei.
- Vai bater em nós três sozinho? – perguntou Dalton debochado e o cara que ainda não tinha falado nada deu uma gargalhada alta que me irritou completamente. Algumas pessoas agora começavam a se aproximar de nós. Um barman nos olhava receoso.
- Podem escolher por qual dos três patetas eu começo! – fiquei louco! Eu já tinha brigado varias vezes na escola, mas nunca numa desvantagem de três para um. Mas que se foda! Eu me garanto, e como eu já disse... Estava louquinho pra brigar!
Dalton então veio mesmo pra cima e...
- , não seja idiota! É isso que eles querem, vem! – voltou se colocando na minha frente, me encarando e Dalton parou, visivelmente não querendo machuca-la. me puxou pelo braço e eu bufei irritado, já pronto para dizer a ela que não iria sair dali antes de socar a cara de pelo menos um deles, porém, mais adiante, vi dois seguranças se aproximando devagar, com olhares feios para cima de nós. Por fim achei melhor ir com ela antes que acabasse dando tudo errado e eu nos metesse numa grande confusão. Caminhei aos poucos para longe e...
- É, se manda pivetinho! É melhor assim, nós íamos te socar tanto que você não ia mais conseguir comer a nossa linda ! – Bass provocou e eu senti meu sangue borbulhar... Me soltei de como num impulso e depressa, antes que Bass pudesse pensar em se defender, meti um soco no meio da cara dele, fazendo seu nariz jorrar sangue e minha mão latejar fortemente.
- Pra você aprender a falar dela direito! – berrei apontando o dedo na cara dele e Dalton e o outro vieram para cima de mim. No mesmo instante senti uma mão me puxando com força para o lado e nem vi para onde estava sendo arrastado. Estava momentaneamente louco! Eram três, e os três maiores que eu! Que merda eu tinha na cabeça?! Droga, eu ia me ferrar se continuasse ali.
- Vem! Depressa! Vamos pelos fundos! – exclamou me arrastando pelas portas do fundo enquanto uma aglomeração de pessoas gritavam e começavam a fazer um grande estardalhaço por todo o bar. Havia tanta gente em volta de Bass e os amigos que eles mal puderam ver para onde e eu tínhamos ido. Escapamos dos seguranças passando por uma porta pequena e escura atrás do bar, atravessando um deposito de caixas de bebidas e saindo pela porta dos fundos.
- Onde estamos? – perguntei olhando para a rua onde saímos, olhando para os dois lados. Havia bastantes pessoas andando por ali e muitas lojas abertas. Ainda sentia minha mão direita latejar...
- Sei lá! Numa rua 24horas ou algo assim? – disse nervosa e parecendo querer rir – Estamos atrás da rua onde deixamos o carro, eu acho. Droga , porque você tinha que...?
Ela parou de falar e me olhou segurando o riso assim que escutamos os berros de ódio de Bass e Dalton ir se aproximando pela porta que tínhamos acabado de sair do clube.
- Merda! – eu ri... Ri porque sei lá! A também estava rindo.
- Vem! Ali! Na cabine de fotos! – me puxou pela mão correndo entre as pessoas pela calçada. Havia, mais a frente, uma daquelas cabines de fotos instantâneas. Depressa entramos, fechamos a cortina e sentamos no banco, fazendo silencio. Meu coração estava batendo muito rápido e tinha a respiração ofegante. Nos olhamos meio preocupados, apreensivos e... Sem mais nem menos começamos a rir. Tivemos um ataque de riso pela adrenalina em nosso corpo e pela situação em que nos encontrávamos. Nos controlamos para que nossas gargalhadas fossem silenciosas, não omitissem nenhum som alto e chamassem atenção de quem estava na rua.
- O bom é que... com toda essa coisa de briga eu já nem... pareço mais bêbado – comentei ainda rindo, parando aos poucos.
- Adrenalina , é assim que se cura os drogados e bêbados!
Rimos mais.
- Olha por debaixo da cortina – cochichei para ela depois, me recuperando do ataque de riso e se inclinou para ver a rua pela fresta que tinha entre a cortina da cabine e o chão.
- Bass está andando aqui em frente com o nariz inchado – falou baixinho segurando-se para não começar a rir tudo de novo. – A propósito, belo soco!
- Obrigado – eu ri mais um pouco, orgulhoso. Ótima sensação socar um babaca daqueles!
-... Ah caramba! Dalton está vindo para cá... Ah, ufa! Córner o chamou apontando alguma coisa.
- Quem são eles?
- Babacas!
- Novidade. Quem são, ?
- Eles são amigos de um ex-namorado meu daqui – se endireitou, deixando de espiar a rua pela fresta da cortina. – E eles acham que eu sou propriedade do Travis.
Fiz cara feia. Odeio pensar que ela teve namorados por aí, mas era “ex” então não tinha motivos para sentir ciúmes... Embora o sentisse do mesmo jeito.
- Idiotas. – murmurei e sorriu. – Você é minha.
- Ninguém é de ninguém me olhou nos olhos – Eu quero dizer, se você quiser amanha ficar com outra, eu não posso fazer nada... Ah não ser te socar, é claro!
Eu ri e ela arregalou os olhos.
- Shiuuu! – ela fez colocando a mão na minha boca. – Se eles te escutam rir...
- En ão vau ficom ovra manhã – disse ainda com a mão dela na minha boca.
- Que? – ela tirou, rindo baixinho.
- Eu não vou ficar com outra amanha, – repeti sorrindo e beijei a boca dela.
- Mentiroso, você tem a – ela falou baixinho meio brava. Senti meu estomago despencar alguns metros. Tinha me esquecido completamente da !
- Vou ficar com você amanha, o dia inteiro! – disse voltando a beijá-la. Ela colocou a minha mão na cintura dela e se aproximou.
- O dia inteiro? Promete? – perguntou mordendo minha boca e depois voltando a me beijar, apenas me deixando responder com um “aham” abafado.


Depois de bem uns quinze minutos na cabine de fotos, resolvemos que já que estávamos ali e não tínhamos nada melhor para fazer enquanto os três amigos do ex namorado de não deixavam a rua livre, começamos a tirar fotos. Colocamos algumas moedas e fizemos todos os tipos de poses possíveis. Caretas das mais variadas. Mostrando a língua, ficando com os olhos vesgos, narizes de porco, e claro, as fotos clichês! Nos beijando, sorrindo, etc. Entre as minhas preferidas, já quando saímos da cabine sem mais nem sinal de Dalton e os outros na rua, era a que aparecia gargalhando de alguma besteira que eu tinha dito e outra em que ela estava mordendo minha bochecha enquanto eu ria.
Voltamos ao carro e guardou as fotos na bolsa. Já era uma hora da manha e nós ainda tínhamos uma viajem de uma hora de volta até o hotel de Judith e a casa da , onde ia ficar por não querer voltar para sua própria casa. A noite não tinha sido das melhores, mas tínhamos mesmo assim nos divertido bastante. Sempre acabava sendo bom passar o tempo com , mesmo que às vezes ocorressem algumas surpresas desagraveis, se é que se pode chamar assim os dois ocorridos da noite. Isso é, a ligação da mãe dela e os caras doidões.
- Já vamos voltar? – perguntou quando eu ia pegando a estrada de volta para deixar Bervely Hills.
- Quer ficar mais?
- Não, mas...
- Quer ia agora para aquele lugar escuro?
- Não é uma má idéia – ela deu um sorrisinho e pareceu meio sem graça. Sorri... Era raro ficar corada, mas estava ocorrendo com mais freqüência agora. Pois é as pessoas mudam, não é mesmo? Tudo bem que tinha mudado só um pouco, afinal, ainda tinha as manias antigas, como de vez em quando me chamar de e oscilar de humor, mas mesmo assim, havia mudado. Eu não saberia explicar exatamente o que é que estava diferente, mas algo estava. Fato.
Apesar de tudo, o que me preocupava no momento não era o que estava diferente em , mas sim sua velha briga com a mãe e os problemas que lutava desesperadamente para mascar com sorrisos que muitas vezes não eram de todo verdadeiros. Tinha muitas coisas nela que eu ainda não entendia, mas podia ver quando um sorriso era verdadeiro ou não. Era claro para mim, que ela mascarava suas tristeza achando que assim seria mais fácil vence-las. No fundo de , eu sabia tão bem quanto ela que o problema com sua família a machucava tão profundamente que apenas era difícil demais para ela admitir.


(...***...)


-... ? – chamei vendo o vidro do carro embaçado. Não tínhamos feito nada demais, apenas nos beijado e algumas coisas normais de acordo com nossos hormônios, mas nada demais. Estávamos de roupa e “bem comportadinhos” no banco detrás do carro, estava sentada no meu colo, de frente para mim com uma perna de cada lado do meu corpo e eu tinha meus braços em volta da cintura dela. Tínhamos parado em um lugar alto e vazio, algo como um mirante onde víamos pelo vidro da frente a cidade se estender lá embaixo, com algumas luzes ligadas.
- ... – ela respondeu de volta.
- Você se lembrou de mim? Eu quero dizer, - cocei a nuca - quando foi embora, depois daquele dia, você lembrou de mim?
- Você quer dizer, se eu pensei em você? – perguntou e eu confirmei – Ahn...muitas vezes – revirou os olhos – Foi patético no inicio.
Sorri e a puxei para mais perto, sua barriga então colou na minha.
- Patético porque você não viu como eu fiquei! – ri lembrando. Quem diria que eu iria rir daquilo um dia?! Acho que nem agora eu achava engraçado.
- Serio? Tá vendo só, por isso que é uma grande besteira se apaixonar – pensou – Você fica bobo!
- É, isso é... mas se não tivéssemos sidos patéticos antes, não estaríamos aqui agora, não é?
- É... – ela mordeu os lábios pensativa. – O que você fazia? Eu quero dizer, o que pensava sobre mim?
- Coisas... – respondi vagamente e ela me encarou esperando uma resposta mais esclarecedora. – Ah, sei lá! Que você nem se lembrava de mim, que não ligava e que eu tinha sido apenas mais um idiota que tinha me apaixonado por você. – falei sendo tão sincero que não acreditei em mim mesmo. Geralmente eu teria omitido alguns pedaços...
- Como é que você podia pensar isso? – riu e eu não gostei. – Não foi a toa que eu o chamei para ir à casa da minha vó e lhe disse sinceramente que era virgem porque ainda não tinha me apaixonado por ninguém.
- É, mas isso não significou muito quando você foi embora sem dizer pelo menos um “até logo”. – falei sério. – Fiquei sem saber o que pensar.
- Não significou? Mas eu quis que você fosse o primeiro !
- Eu pensei, depois de tudo, que você tinha mentido sobre isso. – disse desviando olhar dela para a janela, lembrando da nossa briga na praia - Que contava essa historia para qualquer um apenas para ter o que você queria.
- ! – exclamou indignada e eu a olhei – Eu não faria uma coisa dessas! Não seja grosseiro!
- Estou sendo sincero.
- Grosso!
- Ah pára, não quero brigar. – disse num muxoxo a segurando pela cintura quando ela fez menção de sair do meu colo. – Você sabe que eu sou idiota, mas você também é. Podia ter demonstrado de um jeito mais claro que gostava de mim.
- Não sou boa nisso. – comentou ainda meio ofendida.
- Está começando a ficar. Por exemplo, hoje você finalmente admitiu que é apaixonada por mim – me aproximei para a beijar, mas ela desviou o rosto e eu bufei impaciente. – Que é agora? Não posso mais te beijar?
- Não.
- Que cú doce! – falei me irritando - Depois vai vir toda toda me beijar e vai ser eu que vou falar não.
Ela abriu a boca para falar alguma coisa, mas apenas me olhou brava e saiu do meu colo, sentando do meu lado e cruzando os braços. Eu revirei os olhos e olhei para o outro lado, pela janela. Ficamos alguns minutos em silencio... Que porcaria! Cú doce do caramba! se irritava do nada e me irritava junto!
- ? – chamou minutos depois, cortando o silencio. Não respondi, continuei olhando pela janela como se ela não tivesse dito nada.
- ... – ela repetiu com aquela voz mole e eu a senti vir se aproximando no banco – Fala comigo.
Pronto! Lá vinha ela toda mansinha... Filha da mãe!
- Falar o que? – perguntei seco e passou os meus braços em volta da cintura dela.
- Qualquer coisa. – ela falou dócil e começou a dar pequenos beijinhos no meu pescoço. Minhas mãos, quase involuntariamente, apertaram a cintura dela. Caramba! Assim não era justo!
- Não vale assim, ... – disse a fazendo voltar ao meu colo e deu um risinho satisfeito. Parou então de beijar meu pescoço e me olhou daquele jeito que só ela sabia fazer, mordeu os lábios e não agüentei mais e a beijei! soltou uma exclamação que foi abafada pela minha boca e eu senti como o corpo dela estava quente, quente num todo... As mãos que estavam por debaixo da minha blusa, as pernas em volta do meu corpo e os lábios junto aos meus.
Um tempo depois, paramos de nos beijar meio ofegantes antes que talvez não agüentássemos mais e cedêssemos a paixão e o desejo do momento. Não podíamos ser tão pervertidos de fazer o que queríamos fazer ali no carro. ajeitou o vestido nas pernas e eu tive que respirar fundo para meu corpo voltar ao normal. Ela riu de mim quando me viu fazendo isso e pulou do meu colo indo para o banco da frente.
- Já são duas horas, avisou me olhando no banco de trás – Vamos logo.
- Você não quer voltar aqui pra trás não? – perguntei respirando calmamente. – Só mais um pouquinho...
- Não, – ela deu um sorrisinho – Temos que ir agora.
- Ahh – eu gemi desgostoso, queria ficar ali pra sempre!
- Vamos de uma vez. – me puxou pela mão, sorrindo.
- Tá tá... mas espera, não posso levantar agora – eu ri e ela corou, mas também acabou rindo.


(...***...)


Uma hora e pouco depois, quando disse que estava com fome e eu senti meu estomago protestar, passamos num fast food 24 horas já perto da casa da . No drive true pedimos duas batatas fritas grandes, coca colas, um cheese-burguer para mim e um hambúrguer com salada para . E ah! Um sorvete de creme com cobertura de chocolate para a criança chamada . Nunca vi gostar tanto de soverte!
- Esqueci minha coca na cozinha, pega pra mim? – perguntou sentando no sofá em frente a tv na casa da e eu dei meia volta, voltando para a cozinha. Peguei a coca e entreguei a ela.
Nos sentamos no sofá, lado a lado, comendo nossos lanches. não estava em casa e de acordo com o bilhetinho na porta da geladeira, não voltaria hoje. Tinha saído com o para algum lugar chamado “Time”, que de acordo com era um dos night clubs melhores para se ir com o namorado. Fiquei durante um tempo imaginando o que poderia ter lá e quando minha curiosidade não agüentou mais, perguntei a ela. Foi inútil. não me respondeu e deu um risinho que eu conhecia bem... Na hora fiquei mais curioso ainda, e depois pensei em como é que ela conhecia o lugar. Com quem ela tinha ido lá? Quem tinha sido o babaca que tinha a levado no tal “Time”? Por que nós ainda não tínhamos ido lá?...

-...hmm, deixa eu ver... um filme! – gritou do banheiro do quarto.
- Ah, tem muitos. – dei de ombros me jogando na cama de costas, os pés para fora do colchão por causa dos tênis. Olhei para as roupas dela penduras na cadeira da penteadeira... minha camiseta dos Beatles estava ali entre elas. Sorri sozinho. Escutei o barulho da água da torneira da pia do banheiro sendo ligada e depois sendo desligada.
- Fala um só. – ela falou saindo banheiro com seu pijama curto de gatinhos pretos e a escova na mão, penteando os cabelos.
- Sei lá, é...– perguntei a olhando com cuidado.- De volta para o futuro?
mordeu os lábios, sorriu e deixou o pente em cima da penteadeira. Caminhou na minha direção e eu me sentei na cama enquanto ela fazia o mesmo ao meu lado.
- Foi o filme que agente assistiu quando ficamos pela primeira vez. – ela falou sorrindo meigamente. Eu sorri também...
- Pensei que você não se lembrasse disso – disse olhando meus dedos da mão.
- Eu lembro. - mexeu nos cabelos e eu a olhei fazer um coque meio frouxo. Fizemos silencio. Durante tanto tempo achei que não se lembrasse de nada sobre nós e agora ela me dizia que lembrava até do filme que tínhamos visto juntos. A olhei mais uma vez... estava encarando o chão, os pensamentos longe. Logo em seguida soltou um longo bocejo.
- Acho melhor eu ir indo, – levantei de vagar da cama. – Já são quase quatro horas e eu não dor...
- Fica aqui comigo? – interrompeu vindo na minha direção lentamente e parando na minha frente – Está ficando frio e eu não gosto de dormir sozinha quando está frio.
- Quer dizer então que sempre que está frio você arranja alguém para dormir junto com você? – brinquei levantando uma sobrancelha e sorrindo.
- Não besta, quero dizer apenas que essa foi a melhor desculpa que arranjei para você passar a noite aqui – ela falou séria, olhando nos meus olhos e senti um calor confortável no peito. Fiquei por um momento sério, a encarando, coloquei a mexinha de cabelo que se desprendia do seu coque atrás da orelha e depois acariciei seu rosto. fechou os olhos e soltou um suspiro longo e silencioso. Meu coração estava a mil.
- Fica? – perguntou num sussurro, ainda de olhos fechado. Me aproximei mais dela e encostei nossos lábios um no outro. Não a beijei, apenas encostei nossas bocas de leve. O cheiro do perfume do corpo dela me invadiu, me embriagando como se tivesse bebido litros de álcool. Separei nossas bocas e a empurrei um pouco para trás, fazendo as costas dela grudarem no guarda-roupas. Nos encaramos por um tempo... apenas isso.
- Fico. – respondi por fim e puxei o rosto dela para mais perto, a beijando. Beijando de verdade agora. No começo nos beijávamos calmamente, aos poucos, o beijo foi se intensificando, misturando os gostos das nossas línguas. desceu as mãos pelas minhas costas e parou uma delas no cós da minha calça. A beijei mais forte e delicadamente a virei para cama, a conduzindo até lá sem separar nossas bocas. Ela caiu na cama me puxando junto pela camiseta, tomei cuidado para não a machucar e cai por cima dela. parou então por um instante de me beijar e roçou o nariz de leve sobre o meu, depois, como uma espécie de carinho, fez o mesmo no meu queixo e bochecha.
- ... – ela murmurou no meu ouvido.
- Que foi? – perguntei respirando fundo.
- Meu coração tá batendo tão rápido que chega a doer. – sorriu e eu vi claramente que ela estava nervosa. Apertei meu corpo mais forte contra o dela...
- Você está tremendo. – falei sentindo o corpo dela e um frio enorme crescer no meu estomago. Ela riu baixinho, de um jeito diferente do que eu sempre tinha a visto fazer. Então levantou um pouco o corpo, puxando a blusa do pijama para cima, a tirando e depois voltou a deitar a cabeça no travesseiro. A encarei só daquele jeito...
- Eu te amo. – disse baixinho e mordeu os lábios. Tirei minha camiseta depressa, quase desesperadamente e a beijei fortemente, com toda a paixão que eu sentia comprimir meu peito. Minhas mãos correram por todo seu corpo e eu puxei o shorts do pijama dela, respirando pesadamente e em seguida tirando as minhas calças. E lá estava a tatuagem na barra da calcinha. Só de boxers eu pressionei mais o meu corpo contra o dela, a fazendo gemer constantemente enquanto meu corpo respondia aos meus instintos. As pernas dela em volta da minha cintura...
- ? – chamou de novo, a voz abafada e ofegante por causa do nosso beijo.
- Ahn? – respondi descendo minhas mãos e tirando a calcinha dela, apertou com mais força as pernas contra meu corpo e jogou a cabeça para trás.
- Diz de novo.
- O que? – falei beijando a pele do seu pescoço.
- Que me ama. – ela sussurrou.
- Eu te amo. – murmurei no seu ouvido. Ela respirou fundo, seu peito subiu e desceu, arfando.
- Eu acho que eu também... quase te amo – disse por fim e eu achei que tinha escutado errado. Me afastei, levantando um pouco e encarando o rosto dela. - O que disse? – perguntei respirando rápido.
- Disse que eu quase te amo, . – falou corada e eu sorri debilmente, me sentindo meio tonto enquanto ela me puxava pela nuca e voltávamos a nos beijar com paixão.


Capítulo 8

De acordo com o despertador ao lado da cama eram dez horas da manha. O dia estava nublado lá fora e eu não via muita coisa através das grossas e pesadas cortinas escuras do quarto. Encarava a porta do banheiro a frente, pensando se ia tomar banho e deixava dormindo ou ficava ali com ela, aproveitando cada segundo. A chuva fininha que caia do lado de fora da casa de dava uma preguiça gostosa, daquelas que te dá vontade de dormir mais e mais. Decidi por fim ficar na cama, estava realmente esfriando e ali embaixo das cobertas estava quentinho.
O celular da tocou na mesinha ao lado da cabeceira. Ela resmungou baixinho, ainda dormindo e se mexeu ligeiramente... Tomei a liberdade de pegar o telefone e ver quem era. Olhei o visor esperando ver algum numero da Inglaterra em sinal que sua mãe estava ligando outra vez, mas o prefixo era dali mesmo, da California. Franzi a testa. Quem estaria ligando para ela assim tão cedo? ? Jen? Mary? Ela novamente gemeu baixinho e eu desliguei antes que a acordasse, colocando celular de volta na mesinha. A abracei por trás e com uma mão toquei sobre a barriga nua dela, movendo o dedão para cima e para baixo, fazendo carinho. encolheu de leve a barriga...

- Ainda sonhando comigo? – sussurrei no ouvido dela e beijei seu ombro de leve. sorriu.
- Você sempre acorda primeiro que eu. – disse ainda com a voz sonolenta e eu ri. Era verdade, mas não que eu planejasse isso, apenas acontecia. dormia muito, acho que era tão elétrica quando estava acordada que quando finalmente conseguia dormir precisa de muitas horas para recuperar a energia. E alem do mais, não me incomodava nada vê-la dormindo.
- Que horas são? – perguntou se virando na cama sob o edredom, ficando de frente para mim, as pontas dos nossos narizes quase se encostando.
- Não sei e nem quero saber. – a beijei de leve e apertei meus braços em volta dela. encaixou uma das pernas no meio das minhas, colocou uma das mãos embaixo do travesseiro e com a começou a brincar com as pontas do meu cabelo.
- Bom dia, . – ela sorriu docemente.
- Bom dia, . – sorri de volta.
Naquele instante desejei poder acordar todos os dias daquela maneira.
- Adoro chuva – ela comentou segundos depois, escutando o barulho das gotas caírem do lado de fora. Sorri brevemente e voltei a pensar em como era bom acordar com ela. Um segundo depois e uma coisa me ocorreu...
- , posso te fazer uma perguntar? – disse baixinho a olhando.
- Já perguntou – ela deu um risinho – Claro que pode, .
Suspirei discretamente e me aconcheguei melhor no travesseiro.
- Sabe, eu estava aqui pensando em como é bom estar aqui com você – comecei e ela sorriu, me dando em seguida um beijo rápido na pontinha do nariz – e... sei lá, - continuei sem jeito - fiquei me perguntando... Quantas vezes você já acordou assim com alguém? – perguntei meio apreensivo e ela me olhou atentamente. Não era novidade nenhuma para mim que não era do tipo de ficar contando coisas sobre ela ou respondendo perguntas sobre sua vida, mas ela não me pareceu ofendida nem nada, apenas meio confusa. Como se tentasse entender o porquê de alguém querer saber uma coisa dessas, como se fosse uma besteira.
- Hmmm – ela fez depois de algum tempo - Você está querendo saber com quantos caras eu já dormi? – perguntou sendo mais especifica. “Sim e não” seria a resposta certa.
- É... – respondi simplificando as coisas, rezando para que eu não parecesse tão idiota quanto me sentia.
- Três. – ela respondeu de súbito, sem rodeios. Por alguma razão senti uma raivazinha repentina dela.
- Contando comigo? – perguntei esperando ouvir em resposta: “Sim, contando com você, querido”.
- Não. – ponderou simplesmente.
- Certo.- desviei o olhar dela.
Fiquei um pouco quieto, encarando o teto e soltou um suspiro longo ao meu lado. Me lembrei daquele ridícula coisa sobre a regra do 3. Sabe? Aquela em que os homens aumentam três vezes o numero de pessoas com que dormiram e as mulheres diminuem três. Me recuso a acreditar nisso, eu nunca precisei aumentar o numero de garotas com quem dormi... E se fosse verdade, então teria dormido com seis caras ao invés de três! Me recuso.
- E você? – perguntou ao acaso, como se na verdade nem importasse com a resposta. Senti um frio na barriga ao me lembrar de um dos meus jeitos prediletos de curar a ausência dela... Não seria muito legal contar isso a ela.
- Ahn...Você quer dizer com quantas dormi ou com quantas acordei? – perguntei dando o meu melhor sorriso, tentando arranjar um jeito de mudar o assunto.
- Como assim? – ela arregalou ligeiramente os olhos e um sorrisinho surgiu aos poucos nos seus lábios.
- Bom, - cocei os cabelos da nuca - digamos que eu dormi com algumas, acordei com poucas.
- Tipo... você ia embora antes da garota acordar?! – ela abriu a boca.
- Ia. – fui sincero.
- ! – ela falou alto e me bateu de leve no peito, segurando o riso. Eu ri dela.
- Não ia ficar esperando que elas acordassem, – dei de ombros. - tinha preguiça.
- Judd! – exclamou e eu recebi agora um tapa forte.
- Outch ! – reclamei passando a mão no local onde ela tinha me batido – O que você queria? Que eu ficasse do ladinho delas a noite toda?
- Não, mas...
- Então pronto! – encolhi os ombros e ri de leve. estreitou os olhos e me encarou impetuosamente. Sorri ladino, lhe roubei um beijo do canto dos lábios, a fazendo finalmente sorrir.
- Você realmente não presta garoto. – sentenciou balançando a cabeça.
- Eu presto sim, eu quero dizer, pra você eu presto – brinquei soltando uma risada alta e a fazendo rir também. – Mas então, e os três caras que você dormiu? Quem eram? Namorados? – voltei ao assunto como quem não quer nada.
- Não. – ela respondeu com indiferença, deitando a cabeça sobre meu peito - Joshua foi o cara de uma noite só, Justin apenas de duas semanas e Travis foi o primeiro logo depois de você. – enumerou como se contasse laranjas – Nós namoramos por um tempo, mas terminamos depois de três meses.
- Travis é o amigo daqueles caras de ontem, certo? – perguntei meio incomodado.
- Esse mesmo.
- Faz tempo? – continuei - Vocês nunca mais voltaram a sair?
Ela levantou as sobrancelhas para mim e me encarou.
- Qual é hein ? Pra que você quer saber disso? Não quero falar dessas coisas, é tão irrelevante! – disse um tanto irritada e eu percebi que estava começando ir longe demais com as perguntas.- Eu estou aqui com você agora e é isso que importa, certo?
- É, tem razão. Me desculpa, . – sorri de canto.
- Não precisa pedir desculpas, , apenas vamos mudar de assunto, ok? – ela me abraçou e passou a mão no meio peito, onde tinha me batido antes – Doeu? – perguntou visivelmente achando engraçado.
- Aham – fiz cara de coitado e fez um biquinho me olhando...
- Que bom, adoro bater em garotos. – disse sorrindo daquele jeito dela, meio malicioso e divertido.
- Mesmo? – perguntei a puxando para mais perto – Então da próxima vez que quiser me bater quem sabe você possa usar uma daquelas roupas de couro. – zombei gargalhando e a fazendo rir gostosamente junto comigo.


(...***...)


O cheiro doce havia se espalhado por toda a casa e invadia meu nariz de uma forma enjoativa. A chuva agora estava caindo torrencialmente lá fora e da janela da cozinha, atrás do balcão da pia, eu vi as gotas d’água encharcarem o gramado em volta da piscina. mexia a calda de chocolate na panela, com os cabelos ainda meio molhados do banho. Eu estava sentado à mesa, o cotovelo apoiando ao lado do prato de waffles quentinhos, uma das mãos segurando a cabeça enquanto a olhava de costas para mim.
- Acho que tá bom... – disse desligando o fogo, se virando para mim com a colher de pau suja de chocolate e a panela fumegante. – Quer provar? Cuidado que tá quente.
- Não teria sido mais simples comermos waffles com aqueles chocolates prontos? – perguntei passando o dedo pela colher e provando o chocolate. – Hmmm, tá bom!
sorriu satisfeita e derramou a calda de chocolate sobre os waffles no prato. Meu estomago roncou alto.
- Não queria “aqueles chocolates prontos”. – ela falou fazendo aspas e se sentando a minha frente para comer – Sei lá, fiquei com vontade de comer assim, com calda quentinha.
- Já com desejos? – brinquei olhando para a barriga dela e riu revirando os olhos. Peguei um dos waffles e o coloquei no prato, começando a comê-lo em seguida.
- Não estou grávida, bobo.
- Ainda não.
- !
- Ok, brincadeira. – eu gargalhei e ela balançou a cabeça sorrindo – Mas vai ficar um dia.
- Não mesmo. – falou firmemente – Não vou ter filhos.
- Vai sim. Precisamos de filhos! – falei no plural, sem pensar. franziu a testa levemente, uma expressão nova no rosto... Uma mistura de antipatia e surpresa, talvez.
- Não vou ter filhos. – repetiu fatídica, mexendo no waffle em seu prato.
- E por que não? – fiquei meio sem graça – Eu quero dizer, não precisa ser comigo nem nada, mas...
- Não vou ter com ninguém – ela me encarou e uma coisa horrível passou pela minha cabeça. Será que não podia ter filhos?!
- Você não vai ter porque não quer ou porque... – não sabia como perguntar uma coisa dessas. – Porque não...
- Eu posso ter filhos, deu uma risadinha, me olhando docemente. Senti um alivio no peito e ela comeu um pedaço do seu waffle.
- Então é porque não quer? Toda garota quer!
- Todas não. Eu não quero – ela voltou com a expressão esquisita de antes - Que conversa chata... – acrescentou meio aborrecida.
- Eu quero ter quatro...pra começar! – sorri nem escutando direito o que ela tinha dito. levantou as sobrancelhas e me olhou com um interesse vago. Vaguissimo.
- Mesmo? – perguntou sem parecer se importar.
- É, sabe, um cara tem que ter filhos! – ri com meus pensamentos, pouco prestando atenção em como ela parecia incomodada com aquela conversa. – É sinal de fertilidade! – continuei.
- Que besteira. – fez careta.
- Mas não é só por isso que quero – prossegui enquanto volta e meia arrancava um pedaço do meu waffle e jogava na boca distraidamente. – Quero ter uma família grande, entende? Levá-los para passar o verão na praia. Talvez ensinar um deles a surfar.
- Que seja – disse num tom arrogante. A olhei por um instante e ela sorriu ironicamente, mordiscando um pedaço do seu waffle com chocolate.
- Que foi? – perguntei a estranhando - Acha que não vou conseguir ensinar nenhum deles a surfar? – fui inocente o bastante para não entender o que realmente a estava incomodando.
- Não, acho que eles vão surfar muito bem – falou rindo com pouco-caso.
- Então porque está agindo assim? – perguntei franzindo a testa para ela.
- Nada – sorriu – Apenas continue me contando sobre sua família perfeita.
A encarei por mais alguns segundos... Tinha algo de estranho no modo como ela havia dito “família perfeita”.
-Hmm, vejamos então... No inverno vamos até o Norte da França – voltei a falar, ainda meio confuso com o modo que ela me olhava – e vamos pescar no gelo. Você já pescou no gelo?
- Não – ela respondeu sem emoção.
- Nunca?
- Não – voltou a dizer – E você, já esqueceu do aniversario de alguém? – perguntou em seguida.
- Que? – ri sem entender o porquê da pergunta – Se eu já esqueci...? Eu acho que sim, do uma vez. Mas o que tem a ver?
- Você já prometeu algo uma vez a alguém e depois simplesmente não cumpriu? – ficou de repente séria.
- Não... não que eu me lembre – respondi ficando cada vez mais confuso.
- Já passou um Natal sozinho? – ela perguntou desviando o olhar para o lado – Aposto que não, certo? – me olhou estreitando os olhos. Já não conseguia mais saber se ela estava irritada, entediada ou triste. Quem sabe os três ao mesmo tempo...
- Não, nunca – disse a olhando se levantar da mesa sem terminar de comer.
- Pois então – se aproximou de mim, ainda me encarando – Você quer saber o porque de eu não querer ter filhos? Esse é o porque. – a voz dela fraquejou por um momento – Porque não quero que ninguém tenha que se sentir do jeito que me senti quando não recebi sequer um único parabéns pelos meus dezesseis anos sendo que meu pai havia me prometido passar o dia todo comigo, ou quando preferi passar o Natal sentada num banco de rua invés de ficar em casa com a pirada da minha mãe. – ela olhou mais fundo nos meus olhos – Então não venha dar uma de idiota e me encher com suas historinhas bonitinhas sobre sua família perfeita! Vê se cresce, !
- Me desculpe, ok? – sorri de lado, realmente me sentindo culpado, mas me irritando com o jeito que falava - Mas eu não falei aquilo pra te ofender e tão pouco disse que teria uma família perfeita – empurrei o prato de waffles para o longe. – Não ponha palavras na minha boca! E não me chame de idiota! – a encarei bravo e ela sustentou o olhar, sem desviar nem por um segundo.
- Então não haja como tal – falou segundos depois, num tom calmo, mas afetado – dizendo besteiras como se fosse completamente normal.
- Foi mal se estou sendo tão chato pra você – disse ironicamente educado.
- Não seja ridículo ! – ela falou ficando visivelmente aborrecida com meu tom de voz.
- Ridícula é o que você está sendo – eu falei perdendo a paciência – Me desculpe se você não consegue imaginar um futuro legal pra você.
- Imaginar um futuro é uma coisa, achar que vai ficar com os filhinhos brincando na praia e se casar com algum tipo de esposa perfeita é ser idiota! – provocou, fazendo questão de enfatizar a ultima palavra. Depois levantou minimamente as sobrancelhas, de um modo irritado, analisando minha reação. Naquele instante entendi porque tantas garotas a detestavam quando estávamos na escola...
- Quer saber de uma coisa? – perguntei sem paciência alguma para continuar aquela discussão, me levantei e fui até a frente dela – Você tem razão! Eu não posso ter uma família como essa, – a encarei no fundo dos olhos, o sangue correndo depressa nas minhas veias – não se eu continuar saindo com esse tipinho de garotas que venho saído ultimamente! E veja só, não estou falando da , porque ela sim vale a pena. – a olhei de cima a baixo e o sorrisinho irônico que estivera presente nos lábios dela aos poucos foi sumindo até desaparecer por completo.
ficou ali, parada na minha frente, sem dizer ou fazer nada por alguns minutos. Pelo modo que me olhava, parecia ofendida e surpresa ao mesmo. Eu achei que fosse levar logo logo um tapa, e se levasse, eu saberia que teria merecido. Mas não importava, a minha raiva era muito maior que qualquer coisa naquele momento, e alem do mais, estava sempre se irritando com essas coisas bobas e eu nunca dizia nada.
- Vai ficar aí calada? – perguntei a olhando. franziu imperceptivelmente a testa, abriu a boca para falar algo, depois desistiu. Aproximou-se mais um pouco e finalmente falou, pausadamente, olhando direto nos meus olhos e apontando o dedo direto para o meu peito:
- Some-da-minha-vida!
E então saiu depressa da cozinha, me deixando sozinho.
- Não vou sumir da sua vida! – gritei irritado por cima, me virando e indo atrás dela. Fiquei realmente assustado pelo jeito sério que ela tinha falado e desejei não ter pegado tão pesado. E se agora quisesse mesmo que saísse da vida dela? Não ia dar... Não ia. Escutei o som da televisão sendo ligada na sala e fui até lá.
- Eu já mandei você sumir! – ela falou do mesmo jeito sério e irritado, se sentando no sofá com a cara emburrada.
- E eu já disse que não vou! – exclamei alto e se levantou pronta para sair da sala e me deixar sozinho de novo – Que porcaria, ! Eu não quis realmente dizer aquilo!
- Ah não? – ela levantou as sobrancelhas – Então além de ter me chamado de um “tipinho de garota” que não vale a pena, está me chamando de surda?
- Não torne isso uma discussão infantil, !
- Tem razão, não vou perder meu tempo – caminhou até mim e parou na minha frente – Apenas suma de uma vez da minha vida, !
E saiu em largas passadas para o banheiro do corredor, me olhando uma ultima vez no olhos. Por um instante pude jurar ter visto uma lagrima escorrer pelo seu rosto. Meu coração veio parar na garganta e eu me senti um retardado completo, um inútil que apenas conseguia estragar as coisas por completo! Nem sequer havia pensando no quão idiota eu realmente estava sendo falando tudo aquilo sobre família para alguém que odiava a mãe e tinha sérios problemas com o pai. E como se não bastasse, depois de baboseira, ainda tinha que meter no meio! Um imbecil de primeira!
- ! - chamei indo atrás dela pelo corredor. – ? – perguntei parando em frente a porta do banheiro.
- Me deixa em paz! – ela respondeu trancada lá de dentro.
- , eu não queria...
- ME DEIXE EM PAZ! – ela gritou dessa vez – PELA ULTIMA VEZ, SOME DA MINHA VIDA! – disse com raiva. Logo em seguida escutei barulho de algo sendo revirado por dentro do banheiro.
- Cacete! Não grita comigo! - exclamei olhando para a porta e segurando a maçaneta – Agora, abre essa porta, – pedi tentando manter a calma, não gostava da idéia de nervosa trancada sozinha – Você me escutou? Eu to falando pra você abrir essa porta!
- E eu to mandando você sair da minha vida! – ela falou e houve um baque seco de algo caindo no chão. Talvez um shampoo.
- O que você está fazendo aí dentro? – perguntei ignorando sua ultima fala. – Hein, ?
- Não interessa! – respondeu áspera. – E alem do mais, eu nem gosto de você ! – disse do nada.
- Mentira, você gosta sim – eu disse meio rindo. Eu sabia que ela gostava, que estava dizendo aquilo só porque estava querendo me magoar da mesma forma que estava magoada. Incrível como ela era totalmente infantil às vezes!
- Merda! – a escutei falar bem baixinho do outro lado e logo em seguida um barulho de vidro se espatifando. – Ai!
- , você está bem?- perguntei preocupado e começando a bater na porta - Abre , por favor.
- Não. – ela respondeu e pela voz dela eu percebi que estava sentindo dor. – Me deixa aqui!
- ! Abre!
- Pra que? Pra você continuar me irritando? – exclamou e logo em seguida soltou um muxoxo de dor e outro “ai”.
- Droga! Pára de ser boba , eu já disse que não quis dizer aquilo – tentei manter a calma enquanto eu a escutava gemer baixinho – Se eu realmente achasse que vale mais a pena que você eu teria passado a noite com ela e não aqui com você – deu algumas batidinhas na porta – Agora sério , eu to pedindo, abre essa porta, por favor! – pedi cada vez mais preocupado com o barulho de vidro de vidro se quebrando que tinha escutado. Houve silencio por um minuto. Depois ouvi alguns barulhos em sinal que estava se mexendo e um “click” na maçaneta.
- Quebrei sem querer o perfume da – ela disse assim que abriu a porta, como se me pedisse desculpas por isso. Olhei para o chão e me deparei com cacos de vidro para todos os lados.
- E cortei minha mão. – acrescentou simplesmente. – Tá ardendo.
- Sua idiota – disse entrando no banheiro, pegando a mão dela e vendo um corte fundo na palma – Como é que você fez isso? Coloca embaixo da água pra lavar – abri a torneira da pia e segurei a mão dela embaixo da água corrente enquanto fazia caretas de dor. – Da próxima vez que você se trancar no banheiro ou em qualquer lugar eu derrubo a porta a ponta-pés! – falei a olhando sério e ela riu. Ela RIU! Como é que ela conseguia rir depois de tudo? Era como se nada tivesse acontecido e nunca tivesse estado realmente brava.
- Não me olha assim – falou enquanto eu queria, se eu pudesse, bater nela. Me fazia ficar irritado e depois ria! O que ela queria? Que eu risse?
- É serio, se você fizer isso mais uma vez, eu te bato – falei e ela puxou a mão, tirando debaixo da água. Pensei que ela fosse sair dali de novo e começar a brigar comigo outra vez, mas não, apenas olhou por um instante o corte fundo na palma de sua mão e mexeu os dedos, como se quisesse ter certeza que ainda “funcionavam”.
- Tá doendo – disse por fim parecendo uma garotinha que olhava para o corte no joelho depois de ter caído da balança.
- Deixa embaixo da água. – falei simplesmente e ela não me obedeceu. Novidade!
- ... – lá vem ela! Devagar, como se tivesse medo que eu brigasse com ela, se aproximou de mim e encostou a boca na minha levemente. Colocou uma das mãos no meu rosto e movimentou os lábios, me beijando docemente. Senti meu coração, que estivera tão acelerado por causa de tudo, ir se acalmando aos poucos. Posei uma das minhas mãos na sua cintura e com a outra segurei o pulso da mão que ainda sangrava e a estiquei até a pia ao nosso lado. Senti contrair quase imperceptivelmente os lábios quando a água voltou a bater no corte. Mesmo assim, sentindo dor, não parou de me beijar. Ficamos daquele jeito por alguns minutos. Era quase como se fosse um beijo de desculpas, por parte dela e minha também. Naqueles minutos nossa briga pareceu tão idiota...
- Desculpa por ter dito pra você sumir da minha vida – falou parecendo realmente muito triste. Nunca a tinha visto assim, sequer tinha a visto pedir desculpas para alguém alguma vez.
- Desculpa por ter falado aquelas coisas idiotas lá na cozinha – falei de volta, passando a mão no seu rosto. – Não queria que você se sentisse triste por causa do seus pais ou por causa da...
- ? – ela completou meio rindo – Fala sério, nem liguei para ela. Não era como se eu estivesse com ciúmes ou coisa assim.
- Não? – fiquei confuso.
- Não, só estava realmente pensando na minha família, entende... – ela olhou a água escorrer pelo machucado em sua mão – Você falou igualzinha minha mãe quando ela me dizia que eu era o tipo de garota que não valia a pena. Foi como se por um instante ela estivesse parada ali na minha frente, como um fantasma agourento.
- Credo – disse olhando suspirar pesadamente – Me desculpe.
- Tudo bem, eu também não precisava ter agido feito doida – ela revirou os olhos e ficou sem graça. Ficou mesmo sem graça! As bochechas rosadinhas e tudo o mais.
- Pára de ser boba – disse achando a coisa mais linda do mundo a ver daquele jeito – Agora chega de brigas, ok? – sorri para ela e sorriu de volta – E me diz aí onde tem esses troços de fazer curativos? Foi um corte realmente feio.
- Na primeira gaveta – ela falou apontando a primeira gaveta do armário sob a pia enquanto eu fechava a torneira e ela tirava a mão debaixo d’água. Peguei uma caixinha branca com um fecho prateado e fomos para a sala. se sentou no sofá, ainda olhando o corte vermelho na palma da sua mãe. Já tinha parado de sangrar como antes, mas ainda assim sangrava um pouquinho. Enrolei a palma da mão dela numa bandagem, tomando cuidado para deixar todos os dedos da mão livre.
- Pronto. – falei sorrindo e fechando a caixinha branca.
- ‘Brigada – ela me olhou parecendo desconcertada. Não entendi. Depois baixou o olhar e encarou as mãos. Ficamos em silencio. Fiquei a observando, tentando imaginar o que se passava na cabeça dela. Não parecia nem um pouco feliz, parecia estar distante dali, os pensamentos em alguma coisa que a deixava com o olhar vago. Tinha alguma coisa muito errada a perturbando e eu tinha certeza que não tinha nada a ver com nós.
- Que foi agora? – perguntei olhando uma mexa de cabelo cobrir um pedaço do seu rosto.
- Não consigo parar de pensar, sabe? – disse com a voz fraca, ainda sem me encarar. – Eu só quero chorar um pouco... – e respirou fundo, mantendo o controle sobre si. Parecia estar anunciando algo horrível quando disse a palavra “chorar”.
Fiquei sem reação por breves instantes, as palavras dela ecoando pela minha cabeça como algum tipo de realidade inexistente. Era uma frase tão simples, mas vindo dela, parecia algo totalmente complexo
. - Então chore – falei depois me aproximando dela, encolhendo os ombros.
- Mas eu não posso – respondeu com a voz embargada – Não vai mudar absolutamente nada, vai ser apenas tão ridículo!
- É normal sentir vontade chorar, – quis a abraçar, mas por algum motivo não soube se podia. Ela parecia brava consigo mesma.
- Eu não quero que você sinta pena de mim. – ela respirou fundo e olhou para o lado, vi os olhos dela cheios d’água – E eu tenho vergonha. Não quero que você ria de mim.
- , eu não vou rir de você – suspirei sentindo meu coração ficar pequeno – Não diga besteiras. Você pode chorar quantas vezes quiser. – peguei a mão que não estava machucado e segurei os dedos dela entre os meus. Ela ficou quieta por alguns instantes, podia ver que estava lutando bravamente consigo mesma para não chorar, para que as lagrimas nos seus olhos não caíssem pelo seu rosto. Depois se encolheu no sofá, abraçando as pernas embaixo do queixo e escondendo o rosto entre elas. Mordeu os lábios e suspirou...
- Eu to com tanto medo – disse por fim, parecendo realmente aterrorizada. Em seguida escutei um soluço baixinho e a vi se encolher mais ainda. Naquela hora, mesmo sem poder ver seu rosto, eu soube que estava chorando.
- Vem cá – falei a puxando devagar pelo braço. Devagar ela soltou as pernas e deixou que eu a abraçasse, começando a soluçar alto, se entregando por completo ao choro que estivera prendendo. A abracei o mais forte que podia enquanto ela aconchegava o rosto no meu peito, o escondendo ali e molhando minha camiseta com as lagrimas quentes que escorriam de seus olhos.
Parecia tão frágil naquele momento. Talvez fizesse anos que não chorava. Era um choro sentido, tão intenso que chegava a doer em mim. Sua respiração estava tão descompassada quanto o meu coração.
- É a minha avó – disse entre um soluço e outro, a cabeça ainda no meu peito – Acho que ela vai morrer.
Suspirei pesadamente. Então era isso.
- O que ela tem? – perguntei lembrando das vezes que encontrava a vó de saindo da farmácia.
- Não sei – ela respondeu e chorou mais ainda, se é que era possível – Eu estou ligando... eu... eu tento saber, mas toda vez que ligo para minha mãe ela não me fala – falou entre os soluços – Ela apenas me diz que sou egoísta demais por não estar lá enquanto a única pessoa que eu parecia me importar está morrendo!
- Isso não é verdade – eu falei acariciando seus cabelos – Você sabe que não é assim, ! Não é egoísta.
- Sou sim! Mas só porque eu sei que não posso ficar assistindo minha vó ir morrendo aos poucos! – disse e eu a vi fechar com força a mão do machucado, como se quisesse sentir a dor do corte – Não quero que ela morra! Se ao menos eu pudesse saber o que ela tem...
- Ela não vai morrer – falei, mas não podia ter realmente certeza disso – E se você quiser agente dá um jeito de descobrir o que sua avó tem.
- Ela está internada faz duas semanas já, não consegue mais respirar direito, é a única coisa que sei. Sei porque minha mãe jogou a culpa disso em mim.
- Isso é patético! Como você pode ter culpa?
- Eu a deixei sem nem dizer adeus! Fui embora e deixei um bilhete apenas! Apenas isso! E ela se preocupava tanto comigo... era a única!
- Sua vó sabia que você a amava, ela nunca te culparia pelo que está acontecendo – disse me lembrando do jeito que avó de tinha me falado sobre ela. Qualquer um poderia ver que ela tinha certeza que a neta a amava.
pareceu se acalmar um pouco e suspirou, levantando a cabeça do meu peito, as lagrimas ainda escorrendo pelo seu rosto.
- Eu só queria saber como ela está – disse com a voz ainda fraca.
- Já tentou falar com seu pai? – perguntei tomando cuidado com as palavras. – Já que sua mãe se recusa a dizer algo...
- Ele está sempre bêbado, não sei se devo. – respondeu insegura.
- Tentar não custa nada. – encorajei pegando o meu celular do bolso e lhe estendendo. me olhou séria, depois olhou para o celular na minha mão pensando no que faria.
- Não sei se devo... faz tanto tempo que não falo com ele...
- Liga! – disse firmemente e coloquei o celular na mão dela. limpou as lagrimas dos olhos, apertou os lábios apreensivamente e começou a discar o numero.


Capítulo 9.

O coração de batia tão rápido que ela pensou que não ia conseguir dizer sequer uma palavra quando a voz de seu pai falasse do outro lado da linha. Fazia tanto tempo que não falava com ele que se lembrava direito de sua voz... Nunca cogitava a idéia de ligar para o pai, achava que ele sequer se lembrava que tinha uma filha.
- Alô? – uma voz rouca atendeu e olhou imediatamente para , sua expressão de apreensão refletindo a ansiedade dele.
- Alô? – o homem do outro lado pareceu impaciente - Hei, tem alguém aí?
sentiu um frio horrível na barriga e, ainda olhando para , balançou a cabeça, dizendo que não conseguiria fazer aquilo... Era melhor desligar! Que idéia idiota tinha sido ligar para ele!
- Fala alguma coisa – incentivou, falando baixinho. – Anda! – exclamou controlando a voz. assentiu com a cabeça, seu coração acelerou e finalmente tomou coragem de responder:
- Pai?- ela chamou e a simples menção da palavra fez seus olhos se encheram de lagrimas. sorriu fracamente, aliviado e satisfeito.
- ? – a voz do homem parecia surpresa. – Minha ?
- Sou eu – respondeu tentando conseguir falar direito, sem que parecesse estar prestes a chorar.
- Meu deus! Minha filha! – exclamou com a voz enrolada – É a minha filha! – comemorou feliz em seguida, falando provavelmente com alguém que estava junto com ele. sentiu vontade de sorrir, mas não conseguiu – Onde você está?! Está bem? Pelo amor de Deus! Cadê você?!
Ela desatou a chorar de novo, soluçando baixinho no telefone, mas dessa vez com um traço de sorriso formando-se em seus lábios.
- Estou na California, a terra dos magrelos! – disse rindo, lembrando quando era menor e costumavam fazer piadinhas sobre isso com o pai. A risada alta do homem invadiu seu ouvido e teve a sensação que tinha voltado a ter dez anos.
- California! Minha nossa! – ele falou parando de rir - O que você está fazendo aí? Está bem?
- Estou sim – respondeu e fez silencio por um segundo – Sinto saudades. – admitiu lutando contra a verdade.
- Oh, eu também, é claro. – o pai respondeu com voz mais rouca que o normal – Não volta para Inglaterra?Eu quero dizer, não te culpo por ter fugido daqui... de nós, mas...
- Eu queria saber da vovó – fugiu do assunto, o interrompendo antes que acabasse apavorada demais com o rumo que a conversa estava tomando – Como ela está? Eu tenho tentado saber, mas mamãe não quer me dizer.
- Sua mãe é uma louca! – explodiu o pai, visivelmente raivoso – Saí de casa há um mês e acho que agora não volto nunca mais! Não agüento mais ela!
- Parou de beber? – quis saber, seu rosto ficando rígido. lhe lançou um olhar de censura.
- Não cobre isso dele agora – cochichou para a garota, mas foi ignorado.
- Estou tentando, - o pai exitou. - não é tão fácil assim, querida.
- Tudo bem – ela foi um tanto arrogante – Mas e a vovó? Você ainda não me disse. – seu tom ficando preocupado - Por favor, me diga como ela está.
- É, veja, ela tem esse problema no sangue – ele suspirou do outro lado da linha – Você sabe, é como leucemia eu acho, é algo com os glóbulos brancos... Não sei direito. Tenho que entrar naquele hospital sempre abaixo dos gritos da sua mãe! Fica impossível as vezes! – soltou impaciente - Mas sua vó sempre foi legal comigo, vale o esforço...
- Mas ela vai ficar bem? Vai se recuperar?
- Eu acho que não, mal consegue falar. Eu sinto muito, – e ele realmente parecia sentir – eu sei o quanto ela significa para você. Mas Renée, se é que isso serve de consolo, é como você, durona na queda, diz que chegou sua hora e pronto.
- Ela tá brava comigo, não tá? – quis saber, sua voz escapando num muxoxo - Por eu não estar aí e tudo o mais...
- Sente sua falta, mas não está brava. Sabe como é, diz que queria te ver uma ultima vez – a voz de seu pai ficou baixa – Eu também queria te ver, . Estou tentando mudar, de verdade. – ele pareceu um tanto envergonhado - Preciso conversar com você... lhe pedir desculpas por...
- Não seja bobo, papai! – interrompeu outra vez, a voz calma e magoada escapando do seu controle de emoções. – Não quero desculpas.
A raiva e o amor que sentia pelo pai duelavam bravamente dentro de si, queimando seu peito. Não podia se deixar acreditar em nada, acreditar na possibilidade que ele estaria recuperado de suas bebedeiras e novamente ser apunhalada pelas costas quando percebesse que nada tinha mudado.
Uma mão quente de repente deslizou pela suas bochechas, limpando as lagrimas que ela já nem mais se dava conta de estar derramando.
sorriu para .
- Preciso desligar, querida. – o pai falou a contra gosto - Estou indo ver sua vó daqui uma hora... Quer que eu diga alguma coisa a ela
? - Diga apenas que... hmm... eu a amo e que vou tentar voltar para Inglaterra para vê-la – falou, decidindo de uma hora para outra, enquanto olhava , que talvez estivesse pronta para voltar.
sorriu de orelha a orelha na sua frente, não podendo esconder a felicidade crescente em seu peito. -- Ok, te ligo mais tarde para te dar noticias, está bem?
- Certo, mas não ligue nesse numero, esse é o celular do meu namorado.
riu. passou o seu próprio numero para o pai e desligando logo em seguida. Sentiu-se leve como uma pluma depois, como se tivesse tirado um grande peso de seus ombros.
- Vou voltar com você para a Inglaterra. – anunciou depois com um sorriso...



(...***...)

Eu ri, sorri e ri de novo. Nem sabia como agir. Ela ainda chorava, mas agora era um choro sereno. Chorava porque acho que fazia tanto tempo que não conseguia que quando descobriu que ainda podia, todas as lagrimas presas por anos brotavam em seus olhos.
- Está tudo bem com ela? – perguntei querendo saber de sua avó.
- Não, mas vai ficar – ela respondeu e me abraçou, sorrindo. – Obrigada, de verdade, . – falou me olhando nos olhos e depois me beijando, me puxando pela nuca. Eu quis responder algo de volta, mas não queria parar de beijá-la.
As lagrimas dela molharam meu rosto.
por alguns minutos continuou com seu choro cálido. Aos poucos, quase como involuntariamente, ela foi se deitando no meu colo, com a cabeça sobre minhas pernas e as pernas encolhidas como uma bolinha no sofá. Por um bom tempo ficamos assim, juntos e em silencio. Depois ligamos a televisão da sala de e começamos a assistir um desses desenhos antigos que são muito melhores do que os 3D de hoje em dia.
- Hum – fez um barulhinho de repente, bem baixinho, quase impossível de escutar. Inclinei minha cabeça para olhar o rosto dela apoiado nas minhas pernas e vi que seus olhos fechados.
- Dormindo? – perguntei ainda brincando com algumas mexas do seu cabelo, como vinha fazendo desde que assistíamos televisão.
- Ainda não – respondeu com a respiração uniforme. – Mas se você continuar mexendo no meu cabelo...
- Ah, desculpe. Quer que eu pare?
- Quer que eu te bata?
Eu ri de leve.
- Pode dormir então. Eu vou ficar quietinho aqui, sendo um bom menino – eu brinquei e ela fez mais um daqueles barulhinhos sonolentos que eu interpretei com uma risada.
- Boa noite, – desejou depois, com a voz mole.
- Ainda é de dia.
- Mas está chovendo.
- E o que tem a ver? – franzi a testa.
- Nada. Estou falando bobagens por estar com sono.


já estava dormindo fazia bem uns quarenta minutos e minhas pernas já estavam dormentes por causa do seu peso sobre elas. Olhando assim, dormindo e com o rosto ainda com vestígios de seu choro, ela parecia realmente frágil, tão apenas garota. Era uma sensação diferente pensar nela assim.
Um jornal chato passava agora na TV e dava a previsão do tempo: uma frente fria fora de época e mais chuva para os próximos dias. Grande coisa, eu mesmo poderia prever isso só olhando o tempo nublado do lado de fora.
- “...e haverá ventos fortes em Malibu e em toda a região do lês...”
- ! – exclamou de repente uma voz e eu quase acordei com o pulo que dei no sofá. Me virei para olhar o portal que separava a sala do hall e e estavam parados lá, olhando de para mim. Os cabelos e as roupas de ambos úmidos pela água da chuva .
- Eu falei que eles deviam estar aqui! – sorriu, tirando o casaco molhado e o pendurando no encosto de uma poltrona, onde se sentou em seguida. revirou os olhos e entrou na sala vindo direto na minha direção.
- Outch!
- Anta! – ele xingou depois de me dar um tapa forte na cabeça. Depois olhou para adormecida com a cabeça no meu colo e baixou a voz – Por que razão você não atendeu a porcaria do seu celular?
- Eu sei lá! Acho que acabou a bateria – eu fiz uma careta massageando a cabeça – Por que razão você me deu um tapa? – o olhei feio e riu baixinho, assistindo a cena.
- Vejamos... – ele fingiu pensar - Por acaso assim, se lembra por que nós estamos aqui na California, ? – bufou, sua voz se elevando aos poucos. riu de novo. Por algum motivo era realmente engraçado quando ele ficava bravo, dava vontade mesmo vontade de rir. – Hein, ?! – ele intensificou o tom de bronca quando viu que eu segurava o riso.
- ! Ela está dormindo! – o repreendeu, olhando para a amiga.
- Desculpa. – ele lamentou sem jeito, depois, controlando a voz, se voltou novamente para mim – Estávamos procurando vocês por toda a parte desde hoje cedo!
- E que desespero todo era esse para encon...? Ah não! – eu era um completo idiota! - Ah cara, não! Me diz que eu não esqueci o ensaio!
- Pois é. – ele confirmou - Fletch quer te matar! – acrescentou.
- Não exagera, . – disse e eu quis bater minha cabeça na parede! Provavelmente teria batido se não estivesse no meu colo me impedindo de levantar.
- Droga! Fletch já está aqui? Caramba, mal chegou e eu já estou o fazendo se irritar. – eu bufei comigo mesmo - O quão bravo eles estão comigo? Eu quero dizer, , ... – voltei a olhar .
- Não tanto quanto deveriam – ele respondeu suspirando e ficando de repente mais calmo – Na verdade, nós só ficamos bem preocupados com você . então... Mas bravos não. Bom, de qualquer forma, acho melhor ligar e avisar que você está a salvo.
- Que porcaria! – a vontade de bater minha cabeça na parede só aumentando. encolheu os ombros como quem quer dizer “agora já foi” e saiu para o hall com o celular na mão. me encarou por um tempo...
- Não precisa ficar assim, – ela tentou me acalmar. Com certeza a expressão de desespero estava clara em meu rosto.
- Eu nunca esqueci um ensaio, .
- Pois então, foi só dessa vez. Nada de mais.
- Hum – eu fiz, tentando evitar a decepção comigo mesmo. falava rápido lá no hall, eu podia o ouvir comentando no celular algo banal e realmente não parecia que ele estava tentando acalmar alguém bravo.
- Viu só? e eu finalmente nos acertamos – começou uma conversa, provavelmente cansada do meu silencio decepcionado.
- Isso é bom – falei sincero – Acho que ele está mesmo gostando de você.
- É, eu sei – ela sorriu feliz – Eu também gosto muito dele. – parou por um segundo, esperando eu responder alguma coisa. Eu não disse nada, então ela decidiu voltou a falar - O que aconteceu com a mão da pequena doida? – ela perguntou olhando a mão enfaixada de .
- Ahn... – eu pensei por um minuto - ela se cortou, quebrou sem querer seu perfume lá no banheiro.
- De novo? – suspirou – Compro outro. – deu de ombros rindo - Mas bem, ela me parece meio... doente. Resfriada talvez?
- Acho que sim, pegamos chuva outro dia – menti sabendo que na verdade era porque tinha chorado que achava que ela estava doente. A pontinha do nariz dela ainda estava meio avermelha e seus lábios ainda pareciam mais vermelhos que o normal.
- te xingou – anunciou de repente, desligando o celular e voltando para a sala – Fletch gritou com ele por isso e depois disse que todos estão num restaurante aqui perto pedindo o almoço. Acho melhor agente encontrar com eles lá.
- Eu cuido da ! – se ofereceu, sorrindo prestativa. Ah não, não queria ir. Mas eu precisava... Precisava mesmo! Com a mancada que eu tinha dado não tinha nem como cogitar a idéia de ficar ali com .
- Melhor nós irmos então. – falei me levantando de vagar, cuidando para não acordar . Ela se mexeu um pouco incomoda, mas continuou a dormir.
- Certo – sorriu e abraçou , cochichando alguma coisa no ouvido dela.
- Explica pra o que aconteceu, ? – eu perguntei passando por ela enquanto seguia com para fora da casa.
- Pode deixar. Até mais tarde – ela acenou para nós e fechou a porta


(...***...)

- ! – gritou rindo e vindo me abraçar assim que eu entrei no restaurante em que eles estavam comendo. riu.
- Tá bêbado? – perguntei o abraçando com alguns tapinhas nas costas.
- Não, isso é só o almoço – ele sorriu maroto - Ficamos realmente preocupados – acrescentou depois, me fazendo sentir uma pontada de culpa doer em meu peito.
- Foi mal – me limitei a dizer enquanto íamos caminhando até a mesa onde todos estavam. veio me dar um beijo no rosto e disse apenas “É melhor não fazer isso de novo.” Com certeza ele estava meio bravo, alem de preocupado. Não pude deixar de dar razão pra isso, sabia que tinha medo que eu esquecesse da banda por causa de . Obviamente isso era um absurdo, mas por hoje eu ia deixar passar.
- Seu moleque retardado! – Fletch exclamou fazendo todos rirem enquanto sentava ao lado de – Como é que esqueceu assim do ensaio?
- Esqueci – falei simplesmente encolhendo os ombros e vendo sorrir fracamente para a única pessoa que não viera falar comigo.
mexia cabisbaixa num guardanapo, sem me olhar. Novamente aquela pontada de culpa queimou em meu peito. A ultima vez que tinha a visto tinha sido tão grosso com ela... Coitada. Tudo bem você não gostar mais de alguém, mas também não precisa agir como um idiota com essa pessoa, isso não era justo, tinha sempre sido tão legal comigo, nunca me fez nada de ruim, ao contrario, sempre queria apenas me ver feliz. Era sim injusto eu não lhe pedir desculpas.
- Posso falar com você? – perguntei indo até ela e todos me olharam. levantou a cabeça e falou meio baixo:
- Pode.
Fomos até um canto do restaurante onde da mesa os outros não poderiam nos ver ou ouvir. não me encarava, olhava para o lado.
- Queria te pedir desculpa, sabe? – eu comecei escolhendo as palavras com cuidado - Pelo jeito que falei com você aquele dia no hotel – coloquei as mãos nos bolsos da calça. Ela ficou quieta por um momento.
- Onde você estava? – perguntou depois, me olhando. Não parecia estar cobrando a informação, parecia apenas triste e preocupada – No começo achei que você estivesse apenas nervoso comigo e que tinha saído para dar um volta, mas se passaram horas e você não voltou. – ela suspirou e olhou para baixo - Não pode ter ficado assim tão bravo comigo para sumir durante todo esse tempo – sua voz fraquejou – Eu nem sei o que te fiz.
- Não estava bravo com você... Não estou – eu disse vendo os olhos dela encheram de lagrimas. Não queria que ela chorasse.
- Me desculpa se sou fresca. – ela levantou a cabeça para me olhar - Eu deveria ter ficado com você naquele hotel idiota!
- Não seja boba, – ri fracamente – Você é legal do jeito que é.
- Você vai terminar comigo, não vai? – perguntou de repente, começando a chorar em seguida. Meu estomago deu uma cambalhota. Limpei as lagrimas do rosto dela e ela se aproximou de mim... Não me mexi, apenas tentei dizer alguma coisa que a parasse.
- Espere , eu... - Inútil. Um segundo depois e os lábios dela já me beijavam.
Era, ahn, bem diferente beija-la. Apenas algo mecânico e sem gosto, mas mesmo assim, naquele instante, eu acabei a beijando de volta. Não queria magoá-la mais do que ela já parecia estar. Não queria que se sentisse rejeitada.
Fui um completo banana!
- Prometo que não vou mais te chamar de bebe – ela falou parando de me beijar e sorrindo. – Ah , não sei o que faria se você terminasse assim comigo! – ela desabafou, jogando seus braços ao redor do meu pescoço. Eu sabia que eu deveria responder alguma coisa, lhe dizer que realmente tínhamos que terminar, mas de novo fui tomado pela compaixão de não magoa-la.
- Tudo bem – foi o que eu, acovardado, respondi. Logo em seguida sorri e a abracei pelo ombro, voltando para a mesa.
Era claro para mim que mais cedo ou mais tarde eu ia ter que botar um ponto final nas coisas com , e na verdade, era isso que queria fazer, só que... bem... ficava mais difícil na pratica. De qualquer forma não era uma coisa da qual eu poderia escapar, teria que terminar o nosso namoro, magoa-la, se fosse necessário. Não podia ficar com duas garotas ao mesmo, porque afinal de contas, eu amava apenas uma e ela não se chamava .
Todos nos olharam voltar juntos para a mesa. sorriu de orelha a orelha, Fletch pouco se importou, mas , e me censuraram com o olhar.
- Já que perderam o ensaio de hoje de manha – Fletch começou praticamente – Eu consegui re-agendar outro para agora a tarde.
- Ótimo, – falei sentando ao lado de – assim não perdemos o dia. – suspirei.


(...***...)

- One, two, three, four!
Todos começaram a tocar Saturday Night pela primeira vez. e conversavam do lado de fora do estúdio, volta e meia nos lançando olhares aprovando o nosso desempenho. Estávamos numa escola de musica que Fletch tinha alugado o estúdio para os nossos ensaios. Não era um lugar muito grande, mas era bom o bastante para nós, sem frescuras e essas coisas.
Voltando a musica... Saturday Night tinha ficado realmente muito legal. Fletch tinha se empolgado tanto que apostou que ela seria facilmente um dos nossos hits, isso é, claro, depois que assinássemos com o Sr. Finnigan da gravadora. Ele tinha tanta certeza que seriamos contratados que a excitação era clara em rosto, como se já nos visse subindo em grandes palcos e tocando para grandes multidões. Eu preferia não acreditar nisso tão plenamente, uma vez que, quanto mais alto o sonho, mas alto a queda. Acho que , e pensavam da mesma forma, apesar de que nenhum de nós conseguia evitar a agitação e o nervosismo que essa possibilidade trazia para nossas mentes.
A nova versão de “Surfer Babe” também era ótima! Tinha ficado a cara de e sua paixonite por . Os dois eram mesmo um para o outro, ou pelo menos era o que eu achava enquanto tocava.
Por fim tocamos aquelas musicas que tínhamos feito quando havia sumido e foi muito esquisito ver as cantando alegremente. Quando estávamos no meio do refrão de Broccoli meu celular tocou e soltou um palavrão. Ele levava muito a serio nossos ensaios! Eu também, mas não como ele.
- Desliga isso, cara!
- Já vou, desculpa – falei tirando o celular do bolso de trás da calça e vendo a mensagem:

“Preciso de você. Quero pegar as minhas coisas lá em casa, ajeitar tudo, já que pretendo mesmo ir para a Inglaterra daqui a alguns dias. ;) Bjos do seu picho papão.”

Ri sozinho olhando a tela, me perguntando quem além de poderia se chamar de bicho papão e parecer totalmente adorável.
- Anda ! – apressou me encarando.
bufou e bocejou.
- Pronto – disse desligando o celular e continuando a tocar


- Mas vamos tomar sorvete, ! – protestou com um biquinho assim que saímos da escola de musica, do estúdio – Onde você vai?
- Preciso dormir – menti me achando o pior cara do mundo enquanto chutava o meio fio para não precisar encara-la – Fiquei perambulando de noite e não dormi nada. Desculpa.
- Fica com agente cara – pediu me olhando significativamente – Depois você vai dormir.
Eu lancei um olhar impaciente para ele. Já estava sendo difícil me livrar de sem que de repente virasse a casaca. Qual era a dele? Ele sabia que eu estava indo ver a .
me encarou de volta e já estava no carro me esperando. Ele ia ver a também. e Fletch conversavam mais a frente.
- Você sabe que fico um saco quando estou com sono . – falei e me olhou de esguelha.
- Temos que estar na gravadora amanha de manhã – lembrou como se eu sempre me esquecesse das coisas. Que porcaria! Era um complô agora? Eu não era um irresponsável! Não com as coisas da banda... Só tinha dada uma mancada e não pretendia repetir isso.
- Não vou esquecer da gravadora, ok?- eu disse ficando um tanto nervoso de repente. O dia seguinte passou na minha cabeça como um flash e eu pude ver nós quatro tocando desajeitadamente na frente de um cara engravato enquanto ele nos avaliava criticamente, pronto para apontar qualquer erro.
Por um breve segundo me vi totalmente apavorado com essa idéia.
– Não vou ter como esquecer – eu acrescentei depois, as imagens aterrorizantes na minha cabeça.
- Certo então – me lançou mais um dos seus olhares e aí eu senti vontade de gritar com ele. – E é melhor estar lá uma hora antes das oito, precisamos combinar o setlist primeiro, antes do tal Finnigan chegar.
- Mais alguma coisa? – eu perguntei sorrindo ironicamente. fez menção de dizer algo, mas...
- Tudo bem, vai dormir interferiu não querendo me ver nervoso, me senti pior ainda – Depois passo lá pra te ver.
- Acho que ainda vou estar dormindo.
- Ah... então... ok – olhou para os pés, ela também não era burra nem nada, sabia que tinha alguma coisa errada comigo que não era sono. – Te vejo amanhã?
- Isso, amanha – concordei e olhei feio para e Amanha quando eu aparecer na gravadora! – enfatizei cada palavra. bufou e saiu andando depressa para longe. apenas sorriu meio sem graça.
- Vamos ! É pra hoje! – me chamou lá do carro e eu me apressei, dando um beijo rápido em e saindo de perto.


Era umas seis horas da tarde agora e uma chuva fininha e chata tinha voltado a cair. O vento estava realmente frio agora.
- ! Nossos homens chegaram! – gritou rindo por cima do ombro assim que abriu a porta e deu de cara comigo e parados ali. Ela estava bonita, bem arrumada.
Entramos na casa e fomos para sala.
- To com fome! – reclamou passando a mão na barriga – Que tem aí pra come’?
- Eu! – disse e nós gargalhamos.
Me joguei no sofá e vi que elas assistiam um filme antigo com James Dean. Idéia da isso, aposto!
- To com fome de comida, não de você - falou totalmente sem tato, sentando-se do meu lado. pareceu nem se importar, acho que já tinha acostumado com o jeito avoado dele.
- Tem pizza da e gelatina light minha – ela respondeu. Gelatina light? Que orgulho da pizza da !
- Falando na ... Cadê ela?
- Lá em cima – e foi até – Vem, vamos arranjar alguma coisa pra você comer! – o puxou pela mão e os dois saíram da sala enquanto eu subia até o segundo andar.
Passei pela porta do quarto de e depois por um banheiro até chegar no final do corredor.
- Posso entrar? – bati na porta que estava semi aberta e espiei pra dentro.
- Pode – a voz de respondeu de algum canto por ali.
- Que tá fazendo? – perguntei entrando no quarto e a vendo sentada no parapeito da janela, de costas para a porta, as pernas balançando para fora da casa e o vento tocando seus cabelos para trás.
- Pensando... – respondeu vagamente e eu fui até ela, me sentando do seu lado, com as pernas pra fora também. Encaramos por alguns minutos a rua e as casas vizinhas abaixo de nós. Uma menininha e um menino brincavam com uma bola colorida enquanto suas mães conversavam na esquina mais a frente.
- ? – eu sussurrei um tempo depois – O que está pensando?
Ela mordeu o lábio e me olhando por um instante antes de voltar a olhar a rua sob nossos pés.
- Eu... sei lá – encolheu os ombros – Voltar para a Inglaterra é estranho.
- Ah. – eu suspirei devagar - Você quer ficar? – perguntei com o coração apertado. Queria que ela voltasse. Como é que eu iria embora e deixar ela ali? Não ia conseguir, mas se ela quisesse...
- Não. – interrompeu meus pensamentos - Eu preciso voltar por causa da vovó – ela entrelaçou o braço dela no meu e acrescentou – E por você também, é claro.
Sorri feliz e segurei a mão dela. sorriu de volta e deitou a cabeça no meu ombro.
Ao longe, no horizonte, o sol ia sumindo e a noite ia ficando mais escura.
- Seu pai ligou? – perguntei agora vendo que ela segurava o celular na outra mão, na que estava machucada com o corte na palma.
- Não, ainda não. Mas ele vai ligar, eu sei que vai.
- Vai sim – desejei que ele ligasse mesmo, caso contrario ficaria arrasada. – Quero só ver a cara de todo mundo quando virem que você voltou. – emendei tentando anima-la e não podendo deixar de pensar naquela cidadezinha fofoqueira da Inglaterra.
- Eu não – disse meio rindo – Vai ser chato.
- Não vai não, eu vou estar com você.
- Por isso mesmo – ela falou brincando e eu ri, depois pensei que talvez ela estivesse falando sério. “O loser com a !” era o que todos diziam e eu já estava vendo todos começarem com as acusações de novo. Cidadezinha idiota!
- O e a se acertaram finalmente né? – mudou de assunto.
- Quem?
- O e a – ela riu de mim.
- Ah é... Ele até reescreveu uma musica nossa pra ela – comentei rindo – “Surfer Babe”.
- Eu lembro dessa, vocês tocaram ela naquele dia no Generation. Era bem animada.
- Essa mesmo. a reescreveu pensando em . Melhorou bastante.
- Isso é muito legal da parte dele. – levantou a cabeça do meu ombro e me olhou sorrindo.
- Pois é – respondi pensando se algum diria arranjaria coragem para contar que o McFly tinha pelo menos três musicas sobre ela. – Agente gosta de escrever sobre garotas. – levantou as sobrancelhas – Mas não só sobre isso – concertei achando divertindo a ver com ciúmes – Por exemplo, sabe aquele sábado... Aquele que você dormiu comigo lá no hotel?
- Que saímos da festa aqui?
- Esse mesmo. Então, escrevemos “Saturday Night”.
- Sério? – ela riu parecendo animada e saiu da janela, voltando para dentro do quarto – Preciso ouvir isso!
Adoro o jeito que fica empolgada com as coisas da banda!
Sai da janela também, a vendo pegar sua bota estilo cawboy no canto do quarto e se sentar na cama para vestir.
- Amanha agente tem aquele troço da gravadora – eu disse sentindo meu estomago afundar nervosamente só de lembrar – Você pode ir assistir.
- Mesmo? Pode ter certeza que eu vou – terminou de colocar as botas e, ao mesmo tempo em que ia dizer mais alguma coisa, seu celular tocou em cima da penteadeira.
- Deve ser seu pai – eu disse pegando o celular e estendendo a ela. pulou da cama e pegou da minha mão, sorrindo, um segundo depois, quando olhou o numero no visor parou de sorrir.
- Não é ele – disse friamente, desligando o celular sem nem ao menos atender.
- Quem era? – perguntei estranhando.
- Ninguém importante.
Levantei as sobrancelhas desconfiado, ela pouco se importou com isso e passou por mim pegando sua bolsa.
- Vamos? – chamou já saindo do quarto.
- Onde?
- Pegar minhas coisas lá em casa – voltou e me puxou pelo braço para fora – Preciso fazer as malas e tudo o mais.
- Ah é – falei a seguindo pelo corredor e vendo e saírem rindo do banheiro – Alias, por que “bicho papão?” – ri lembrando da mensagem. gargalhou daquele jeito dela que faz qualquer um rir e não respondeu. Acho que ela não tinha uma resposta muito coerente para isso.
- Saindo amores? – perguntou nos vendo descer as escadas rindo.
- Vamos lá em casa pegar minhas coisas – explicou e franziu a testa estranhando.
- E vai com o lá? – perguntou nos seguindo até o andar de baixo. logo atrás dela.
- E o que tem? – perguntou despreocupada. É, e o que tem eu ir junto?
- Nada... – encolheu os ombros, mas pareceu apreensiva – Bom, de qualquer forma eu e o estamos saindo também. – paramos todos no hall. pegou um sobretudo creme que estivera pendurado ali perto e colocou por cima do seu vestido curto, deixando só as botas de cawboy de fora.
- Vamos no Times! – anunciou parecendo bem animado. corou.
- O que diabos tem nesse Times, hein? – perguntei curioso e os três riram. , e ... Até o ! Até tu Brutus meu filho!
- Vai com o xarango, falou jogando a chave do carro alugado para mim – Vamos com a caminhonete do pai da .
- Certo – peguei a chave no ar e fui me encaminhando para a porta junto com .
- Vamos voltar tarde de novo – falou e sumiu para a sala – Meus pais voltam amanha a noite, então aproveitem hoje que é o ultimo dia que terão a casa livre.
- Ok – sorriu – Até depois. Tchau ! – gritou e respondeu lá da sala um “Asté la vista!” bem humorado.


Aparentemente morava bem longe de . Pegamos uma estrada durante uns dez minutos e depois saímos de frente para uma praia bem maior do que a que ficava perto do hotel de Judith. Parecia mais movimentada também, e ao contrario da outra, tinha varias quiosques a beira mar. O celular de voltou a tocar mais uma vez depois que saímos, mas novamente ela não atendeu, e eu, não voltei a perguntar quem era.
- Agora vira aqui nessa rua e depois naquela ali – indicou apontando com o dedo. A segui e entramos numa rua com casas enormes, umas chegavam a pegar um quarteirão inteiro. Achei meio estranho ela morar num lugar como aquele.
- Essa é sua rua? – perguntei a olhando.
- É sim, e aquela casa ali é minha casa – falou e paramos em frente ao numero 12. Uma casa com o jardim iluminando e com um desses carros esportivos parado na garagem.
- Essa é sua casa? Mas co...?
- Não vou demorar – ela me interrompeu – Não tenho muita coisa para pegar, é só as roupas mesmo.
- Quer ajuda?
- Não, não precisa entrar, pode ficar aqui mesmo.
- Mas...
- Já volto, ok ? – me interrompeu de novo. Depois puxou minha nuca e me beijou de repente. Um segundo depois e ela já estava abrindo a porta do carro e correndo sob a chuva para a porta da frente. Fiquei ali tentando entender como é que tinha uma casa tão grande e que parecia tão luxuosa como aquela. Pelo que eu tinha entendido, ela não tinha saído da Inglaterra com uma fortuna no bolso. E aquele carro? Não poderia ser dela... Poderia?
As luzes da casa se acenderam quando a vi passar pela porta, fiquei parado ali, na escuridão do carro, esperando ela voltar. Liguei o radio e ri com a musica que estava tocando. Beverly Hills, do Weezer. Pensei no dia em que e eu passamos em Beverly Hills e me lembrei com um sorriso das fotos que tínhamos tirado juntos naquela cabine, quando nos escondíamos dos amigos do ex-namorado dela. Olhei para o banco de trás e vi que a bolsa dela estava lá. (Sei que não se deve mexer na bolsa de garotas, mas eu só queria pegar as fotos.) Tirei o envelope em que elas estavam guardadas e na mesma hora o celular de começou a tocar.
- Droga! – xinguei enfiando o envelope de fotos de qualquer jeito no porta-luvas do carro e pegando o celular dela. Olhei no visor e notei que o numero era da Inglaterra. Droga de novo! Devia ser o pai dela dessa vez! Buzinei para que ela saísse e atendesse a ligação. A porta da frente não se abriu. O celular continuou a vibrar e tocar na minha mão e eu voltei a buzinar. precisava atender, ia ficar muito brava se depois soubesse que seu pai havia ligado e ela não estava para falar com ele.
Buzinei uma ultima vez e nada.
Então era isso, era melhor entrar. Sai correndo do carro com o celular e abri a porta da frente devagar...



Capítulo 10.

Era uma bela casa! Maior que a de e com a decoração bem melhor.
- Me... - eu ia chama-la, mas em seguida escutei vozes em algum cômodo mais a frente e fiquei quieto. O celular no mesmo instante parou de tocar e eu o guardei no bolso, apurando meus ouvidos para discussão que ocorria em algum cômodo mais a frente.
- De quem foi essa buzina, ? – uma voz masculina perguntou e eu engoli em seco, a saliva raspando na minha garganta como uma faca.
- Eu sei lá! – exclamou impaciente – Como é que quer que eu saiba Travis?
Minhas pernas fraquejarem e meu coração bateu forte contra meu peito. Travis não era o ex-namorado dela?
- Não brinca comigo, ! – vociferou Travis. Então eles ainda namoravam e moravam juntos?
Minhas veias começaram a pulsar de nervoso.
- Não-encosta-em-mim!
- Eu encosto em você a hora que eu quiser! Você é minha namorada!
Talvez fosse melhor eu ir embora...
- O que aconteceu com sua mão? – Travis quis saber depois de um pequeno silencio. Quase sem querer minha mente começou a formar imagens dos dois abraçados, andando de pijamas pela casa...
- Não te interessa – continuou no mesmo tom hostil e houve um baque de algo pesado sendo colocado no chão. – Estou indo embora, nada mais me interessa aqui.
- Estou indo embora? – ele riu com pouco-caso, depois vociferou raivoso - Você não vai a lugar nenhum!
- Eu vou sim – falou decidida. Travis urrou alto, um estrondo tão grande de ódio que me fez dar passos involuntários em direção as vozes. Ele não ia gritar com ela daquele jeito!
- É aquele cara, não é? A buzina lá fora... – não respondeu - Eu não acredito que você o trouxe até aqui!
- Quem?
- Não finja que não sabe! – Travis parecia descontrolado agora. - Dalton e os caras viram vocês juntos em uma boate em Beverly Hills!
- Então você mandou aqueles idiotas atrás de mim de novo?! – pela primeira vez a voz dela parecia realmente furiosa. – Eu não sou sua propriedade!
- Não mandei ninguém atrás de você dessa vez, mas pelo visto eu deveria ter mandado – Travis provocou, esbravejando - Se ao menos você respondesse meus telefonemas!...
- Estava ocupada demais com , desculpe. – respondeu friamente. Se eu não estivesse tão nervoso quanto o tal Travis, eu teria me sentindo feliz por ter escutado o meu nome.
Continuei ali no hall ouvindo, me controlando para não entrar no meio da briga.
- ? O inglês? E o que diabos ele está fazendo aqui na California?
Então Travis me conhecia? Como...?
- Ele mesmo. – se apressou – Agora, acho melhor eu não o deixar mais muito tempo esperando por mim lá fora, está frio sabe... – ela falou sendo totalmente malvada – Tchau Trav...
- Sua... VOCÊ NÃO VAI A LUGAR NENHUM! – ele começou a gritar treslouco de repente, perdendo totalmente o controle.
- Me larga!
- VOCÊ NÃO VAI SAIR DAQUI PRA FICAR COM AQUELE INGLÊS NOJENTO!
Quando eu dei por mim já estava disparando pelo corredor ao lado da escada, sem pensar em mais nada a não ser tirar o mais rápido possível dali e acabar com Travis! Fui o mais rápido que pude em direção aos gritos e me deparei com uma sala enorme, com sofás caros e moveis modernos. No meio dela estavam eles... tentava se livrar de Travis, enquanto ele segurava seu braço com força, a puxando para mais perto do seu peito sem se importar com as exclamações dela.
Por um segundo eu fiquei imóvel, sem reação...
- É ele?! – Travis perguntou de repente, desviando o olhar de e me vendo parado ali há uma pequena distancia.
- Sou eu – eu confirmei furioso. olhou para mim, a expressão assustada e surpresa que estava em seu rosto me fez agir por puro impulso. Avancei na direção de Travis como uma bala enquanto ele fazia o mesmo vindo até mim. O rosto dele estava lívido de ódio, parecendo totalmente descontrolado.... Eu não me importei...
- Não!... – foi a única coisa que consegui escutar antes de sentir um forte baque me atingir no canto esquerdo do rosto. Meus olhos viraram nas órbitas e eu cambaleei para o lado, fazendo com que meu corpo fosse contra uma mesa cheia de cristais que se espatifaram no chão com o maior estardalhaço. Minhas costelas protestaram de dor enquanto a sala inteira começou a girar ao meu redor.
- ENTÃO VOCÊ É O DESGRAÇADO?! – gritou Travis meio rindo enquanto eu tentava me recuperar e levantar. Ele era muito maior que eu, eu podia notar agora...
- Pára Travis! – implorou vindo até onde estávamos. Eu tentei olhar para ela, mas sem mais nem menos, senti outra forte pancada me atingir em cheio no canto da boca. De novo eu cambaleei para trás e minhas costas foram contra uma estante de livros atrás de me mim. Cai novamente, tossindo sangue. – PÁRA! – a voz dela gritou tremula. Eu não queria que ela estivesse vendo aquilo.
- E você vai me trocar por isso? – Travis provocou debochado enquanto minha cabeça latejava fortemente e eu tentava focalizar a sala na minha visão embaçada. – Ele é só um moleque, não sabe nem brigar, como pode ter uma garota como você?
- Você é um estúpido! – gritou e eu consegui a ver empurrando inutilmente o peito de Travis. Ele riu e a puxou para o lado, a sentando no sofá a contra gosto.
- Não faça isso querida, não quero te machucar – ele respondeu sorrindo enquanto o encarava com nojo. Logo em seguida segurou o rosto dela com as mãos e a beijou a força, pressionando seus lábios contra os dela...
- Pá...ra... – eu gaguejei baixo, tentando falar. Ele parou de beijá-la.
- Você disse alguma coisa, idiota? – ele perguntou, olhando para mim pelo canto do olho - Qual é o problema, não é assim que ela te beija? – e outra vez grudou com forçou a boca contra a dela, me desafiando a fazer algo. Num instante eu já estava em pé. A frustração tomando conta de cada célula do meu corpo, fazendo desaparecer a dor, a tontura e o gosto de sangue. De repente mais nada importava a não ser o ódio que explodia no meu peito como uma grande bola de fogo. Todas as coisas estavam em foco novamente. Eu caminhei capenga e silenciosamente até Travis e , ele não percebeu quando parei atrás dele, estava ocupado demais...
- Ei, Travis! - cutuquei de leve seu ombro.
Ele se virou e imediatamente com toda a força que eu pude encontrar em mim, fechei o punho e o acertei no nariz. Minha mão começou a latejar de dor na mesma hora. Escutei um estalo alto e pensei que tivesse sido os ossos dela se despedaçando, um segundo depois e percebi que na verdade era o nariz de Travis quebrando.
- ! – exclamou alto, pulando do sofá e me abraçando forte enquanto Travis caia, as duas mãos sobre o nariz que pingava sangue e manchava o tapete claro e caro.
A raiva dentro de mim ainda era tão grande, um ódio tão estranho e descontrolado que até o abraço de me pareceu ruim. Segurei os braços dela e os tirei do meu pescoço delicadamente. Me voltei para Travis uma ultima vez e, sem pensar que isso poderia parecer horrível para , chutei o estomago dele com a força que me restava. Ele se contorceu de dor mais uma vez e soltou um gemido rouco, raivoso e derrotado.
- Ela vai mesmo te trocar por isso – disse entre dentes, apontando para mim. Obviamente Travis não respondeu e eu me virei para , suas mãos estavam na boca enquanto me olhava séria. – Cadê sua mala? – perguntei impaciente e ela apenas apontou. Sai em largas passadas, pegando a mala e carregando para fora da casa enquanto vinha atrás de mim, quieta.
Joguei a mala dela de qualquer jeito no porta-malas e entrei no carro, batendo com força a porta.
- Quer que eu dirija? – ela se ofereceu apreensiva, sentando-se no banco do passageiro. Não respondi, apenas pisei fundo no acelerador, saindo depressa para longe daquela rua e casa. Meu coração ainda estava frenético e a raiva ainda gritava dentro de mim. Eu poderia esmurrar o volante, o painel...
Chegamos na casa de em menos de dez minutos, eu nem vi o caminho. O lado esquerdo da minha cabeça parecia querer explodir agora, o gosto de sangue na minha boca havia voltado e na mão que tinha atingido Travis havia belos arranhões que ardiam horrivelmente.
Descemos do carro e se adiantou para pegar a mala, fui até ela e a tirei de sua mão. Ela era uma garota idiota.
Larguei a mala no hall. Fui até o sofá da sala e me sentei fazendo uma careta de dor por causa das minhas costas que também voltavam a doer. sumiu para algum lugar que não vi.
- ! – chamei com raiva. Já não bastava viver me metendo em confusões, agora ainda tinha que sumir e me deixar ali sozinho e com dor!
Limpei o sangue da minha boca com a manga da blusa e o corte ardeu, me fazendo ficar com mais raiva.
- Estou aqui. – ela apareceu com a caixinha de primeiros socorros na mão. Bufei alto.
- Vai querer dar uma de enfermeira agora? – debochei enquanto ela se sentava ao meu lado – Porque sabe, seria melhor se você apenas não tivesse feito com que eu me machucasse.
- Não fui eu quem te bati – falou baixinho, calma.
- Não diretamente, mas a culpa foi sua! – eu disparei. Se ao menos ela parecesse de ter segredinhos, de mentir.... Se tivesse me contado que tinha um namorado e que morava com ele!... Se eu soubesse que ele era maluco!
- Desculpa. – pediu tirando de dentro da caixa um pedaço de algodão e o molhando num liquido de um vidrinho.
- Que seja! – falei impaciente e olhando o algodão. – Não vai colocar isso em mim não! Vai arder!
- Mas pode inflamar. – disse analisando o corte na minha boca. Olhei para a dela quase sem querer.
- Me dá isso aqui! – puxei da mão dela o algodão e eu mesmo coloquei sobre o corte... – Outch! – reclamei o jogando longe e fechado mais a cara. ficou parada, apenas me olhando. Parecia não saber o que fazer. Era obvio que eu estava bravo com ela.
Por que simplesmente não tinha me contando que durante o tempo todo que estávamos juntos ela tinha um namorado? sabia sobre desde o primeiro momento, não sabia? O que custava ser sincera uma vez na vida e me dizer que também tinha outra pessoa? Seria muito melhor saber pela boca dela do que descobrir por conta própria... Ainda mais do jeito que tinha descoberto! Caramba, ela morava com cara! Porque tinha que morar com ele?! Ela nunca tinha morado comigo! Eu não morava com !... Estava me matando pensar em Travis dormindo todos os dias com ela, tomando café da manha juntos, vendo TV naquela sala cara... O namoro deles parecia tão mais sério que o meu com . Talvez no final das contas eu fosse apenas um casinho dela.
- Você me ama? – eu perguntei de repente, sem pensar. Apenas precisava saber e precisa agora. Houve um longo silencio enquanto eu esperava por uma resposta, enquanto meu coração acelerava loucamente. Era simples! Sim ou não.
- O que? – foi a resposta hesitante dela. O jeito de evitar dizer “não”.
- Obrigado pela resposta.
Pra mim bastava! Estava finalmente cansado daquilo tudo. Não queria mais saber dos problemas, as mudanças de humor repentina, os segredos, as mentiras... Eu estava desistindo de tudo, desistindo dela!
- Quer ficar sozinho? – perguntou quase como se lesse meus pensamentos. Olhei de esguelha pra ela.
- Seria bom. – respondi simplesmente. Ela assentiu com a cabeça e se levantou do sofá indo em direção ao hall da casa.
- Se você quiser ir embora, a porta ta aberta – ela parou e me olhou – Se quiser ir... eu vou entender.
- É claro que vai – respondi a olhando. Ela piscou algumas vezes e depois se virou, indo embora. A escutei pegar a mala e subir as escadas, depois o barulho da porta de seu quarto.
Suspirei e olhei ao redor. A sala estava escura, a casa e a rua silenciosa e do meu lado ainda a caixa de primeiros socorros.
Era demais pra mim. Realmente não dava mais. Numa relação as pessoas precisam demonstrar uma para a outra que se gostam, mas nesse caso eu era o único que estava fazendo isso. Não dava mais para ser assim.
Me levantei do sofá e fiz mais uma careta de dor por causa das minhas costas. Tirei do bolso o celular dela e deixei em cima do sofá junto com a caixinha branca. Caminhei até a porta da frente e girei a maçaneta...
- Você volta? – perguntou de repente a voz dela atrás de mim. Me virei e a vi sentada no ultimo degrau da escada, no escuro, segurando as pernas e me olhando lá de cima.
- Acho que não. – respondi sentindo meu coração apertar, mas mesmo assim impassível.
- Hum. – foi tudo que ela disse.
- Tchau – me despedi, forçando minha voz a sair. Ela não disse nada e eu abri a porta...
- Eu ia contar – disparou de súbito, sua voz fraca deixando claro ela queria chorar.
- Você não ia, chega de mentir, .
- Eu... – ela começou a chorar, escutei os soluços baixinhos dela lá de cima. Fechei a porta atrás de mim e enfiei as mãos no bolso, parando ali no hall a escutando. Ia ser mais difícil do que eu pensava... Mas dessa vez não faria nada para impedir seu choro, não diria nenhuma palavra de conforto. Se ela quisesse chorar, muito que bem, então que chorasse.
- Eu sei que eu deveria ter contado – ponderou com a voz tremula, dando o maximo de si para não chorar mais – Eu sei que eu deveria .
Eu continuei impassível. A raiva já tinha passado, mas eu não sabia se ela estava sendo sincera.
- Se sabia por que não o fez? – eu perguntei.
- Porque eu... eu sei lá – voltou a chorar e eu vi o contorno dela no escuro se levantar e começar a descer as escadas – Eu sabia que você ia ficar bravo, com ciúmes... – desejei que ela não se aproximasse muito, eu não ia conseguir assim – Me desculpa?
Eu respirei fundo, aquele tom de voz dela era tão...injusto.
- O problema não é só isso, – suspirei abatido, a vendo parar na minha frente, a luz fraca da rua iluminando apenas metade de nós – O problema é você. Não é só o fato de não ter me contando sobre Travis - desviei o olhar dela – É tudo. É você não me contar sobre seu namorado, é seu jeito indiferente, é você se sentir triste e com medo por causa dos seus pais e sua vó e sequer confiar em mim. – voltei a olha-la - É eu estar demonstrando que te amo o tempo todo e você... nada. Simplesmente, nada.
- Mas eu gosto de você ! – contrapôs chorando e soltou um soluço sem querer – E eu tenho medo de gostar tanto assim de alguém.
Revirei os olhos. A velha historinha do “medo de gostar”...
- Você não era pra ter medo de nada! – exclamei a encarando e dando um passo pra frente – Não se você já tinha plena certeza de que eu te amava.
- Amava?
A olhei por um segundo, tentando entender o porquê da expressão surpresa em seu rosto.
- Cansei – falei simplesmente, voltando a me afastar dela - Cansei de te amar – disse por fim a olhando uma ultima vez antes de sair depressa da casa.
A chuva forte do lado de fora me molhou inteirinho no segundo em que pisei no gramado do jardim. Meu coração parecia estar batendo tão forte que eu tinha a impressão que as pessoas poderiam ouvir. Que porcaria eu estava fazendo? Aquilo era certo? No que eu estava pensando quando disse amava? Era passado desde quando? Não estava fazendo sentido algum, não com o meu coração batendo tão rápido.
Antes que eu pudesse entender algo ou chegar ao carro, escutei a porta da casa se abrir e minhas pernas amoleceram. Olhei para trás e ela vinha correndo na minha direção.
- Não! Espera! Você não pode ir assim! – chorava muito agora, descontrolada, suas lagrimas se misturavam à água da chuva – Não é certo, ! Eu sou horrível sem você ... – parou na minha frente, seu peito ofegando – Você não poderia saber, mas eu sou horrível sem você! – ela riu nervosamente – Eu preciso te ter aqui, não posso simplesmente desistir, deixar você ir - olhou para cima, como se quisesse que a chuva lavasse as lagrimas de seu rosto, depois voltou a olhar para mim – , por favor, não me force a ficar longe. O que você quer que eu faça? Eu farei qualquer coisa que queira se você prometer ficar!
- Eu... – eu não fazia a mínima idéia do dizer, a expressão no rosto dela parecia medo. – não quero que você faça nada, apenas...
- Eu amo você – confessou de repente, baixo, com urgência. Eu achei ter escutado errado, achei que talvez fosse minha mente pregando peças em mim, me fazendo escutar coisas... Eu a encarei incrédulo e ela mordeu o lábio, nervosa.
– Me desculpe não ter dito antes, eu sou uma idiota, mas eu realmente amo você! Eu posso repetir isso quantas vezes você quiser ouvir. Eu te amo, !
As palavras dela resvalaram no meu cérebro como um eco estranho. Por algum tempo eu fiquei zonzo sob a chuva, talvez tenha até parado de respirar... comecei a tremer dos pés a cabeça, meu corpo inteiro ficou frio e minhas pernas amoleceram como se eu fosse desmaiar, apenas meu coração parecia ainda bem vivo e aquecido. respirava fundo na minha frente, ofegante e com uma expressão de dor no rosto. Os cabelos pingavam por causa da chuva, seu vestido estava inteirinho colado no corpo, e seus pés estavam descasos na grama. Parecia estar congelando, sua boca estava mais avermelhada que o normal e agora se abraçava tentando se esquentar.
Eu queria dizer algo... ela estava esperando eu responder alguma coisa...
- Eu vou entrar – avisou desistindo de esperar por uma reação minha e se virando para voltar para casa, ainda abraçada a si mesma. Eu forcei minha cabeça a voltar a funcionar.
- ... – chamei com a voz fraca, fechando os olhos involuntariamente, sentindo a chuva descer por todo o meu corpo. Ela não escutou. - ! – consegui gritar e ela parou, um dos pés no primeiro degrau da escada em frente à porta. Virou-se para me olhar e eu andei depressa até ela. Parei na sua frente, meu corpo rígido... Sorri nervosamente e coloquei uma mão no seu rosto, sentindo sua pele macia. fechou os olhos e pousou a mão dela sobre a minha. Aproximei-me sentindo meu coração ir se acalmando... A respiração quente dela bateu sobre meus lábios e naquele momento eu soube que teria feito a maior besteira do mundo se tivesse indo embora. Uma corrente elétrica passou por mim e eu encostei nossos narizes, depois nossas bocas. Foi a melhor sensação do mundo, como se eu jamais tivesse a beijado antes, como se aquela fosse à primeira vez. Minhas mãos formigavam, e eu sentia o coração de bater fortemente contra o meu. Aos poucos ela abriu a boca permitindo que nossas línguas se tocassem. Minhas pernas fraquejaram. Nossos lábios estavam tão frios quanto o resto do nosso corpo, mas logo começaram a ficar quentes.
Coloquei uma mão nas costas dela e a puxei ainda para mais perto. soltou um gemido abafado e eu sorri. Nós sorrimos bobamente entre nosso beijo, completamente extasiados. A chuva ainda caindo forte sobre nós.
A mão dela tocou as minhas costas por debaixo da blusa e me arrepiei, pressionando com mais força meus lábios contra os dela. Nossas respirações começaram a ficar descompassadas, nosso beijo ficou mais intenso e meu coração voltou a acelerar desesperadamente. Ela mordeu de leve o meu lábio inferior e eu desci uma das minhas mãos para a barra do vestido dela, parando em sua perna...
- Estamos no jardim... – ela lembrou rindo, ofegante entre nosso beijo.
- Eu não me importo, você me ama – eu falei sem fazer sentindo algum, ela corou – Alem do mais, podemos fazer um showzinho para os vizinhos – brinquei com um sorriso malicioso e me olhou surpresa – Estou só brincando. – expliquei rindo dela e eu a senti beliscar minha barriga por debaixo da blusa.
- Vamos ficar nus na chuva! – ela se afastou sem mais nem menos, começando a andar pelo jardim como se gostasse de sentir as gotas de água caírem sobre si. Por alguma razão, eu senti vontade de gargalhar, mas o barulho da chuva batendo sobre os telhados das casas vizinhas era tão alto que minha risada foi abafada.
- Você não vai ficar nua em lugar nenhum – eu falei antes de sorrir ladino – Ah não ser lá em cima comigo. Agora volta aqui, vai – pedi num muxoxo, fazendo quase sem quer um bico. Ela riu, é claro.
- Tá frio – eu reclamei fazendo uma careta - e eu te amo.
Minha vez de rir. Ela parecia drogada.
- Sim, está frio e eu também te amo. Agora volta aqui cacete!
Ela riu mais, gargalhou na verdade.
- Parece que você bebeu. – eu gargalhei junto com ela. Não tinha como resistir a risada dela... Olhei ao redor e notei que havia algumas pessoas nas janelas das casas vizinhas, nos observando incrédulos.
- Boa noite senhoras e senhores! – eu brinquei, falando alto o bastante para que me ouvissem sob o barulho da chuva, depois fiz uma reverencia exagerada para uma mulher da casa da frente. riu de mim, depois deu um tchauzinho para as outras pessoas.
- Não se importem conosco, estamos apenas drogados! – anunciou vindo finalmente até mim e gargalhei mais uma vez.
- Daqui a cinco minutos estaremos nus também! – disse a abraçando por trás e beijando seu pescoço. A pele dela se arrepiou e eu gostei disso.
- É divertido chocar os outros não é? – cochichou para mim, se virando para que eu a abraçasse de frente.
- É sim – respondi a beijando nos lábios e pouco me importando com o olhar de espanto dos vizinhos – Mas tem outra coisa que é muito mais divertida que isso...
Ela abriu um sorrisinho me olhando nos olhos e eu sorri malicioso de volta. Deixamos o jardim depressa e entramos em casa molhando todo o chão com as nossas roupas encharcadas. Em poucos instantes nós já estávamos com as respirações ofegantes, meu corpo prensando o dela contra a parede do hall.
- Não tá doendo? – perguntou de repente, cortando nosso beijo, o peito subindo e descendo rapidamente com a respiração descompassada. – Sua boca, seu olho... – disse passando as pontinhas dos dedos sobre os machucados que tinham sobrado da briga com Travis.
- Um pouco – respondi só notando agora que ainda doíam.
- Não quer passar alguma coisa nisso?
- Depois... – respondi rápido e voltei a beijá-la. empurrou meu peito...
- Tem certeza? Pode infla...
- , quer calar a boca por um segundo? – interrompi e ela riu, concordando com a cabeça. Voltamos a nos beijar. Senti a respiração falhar quando a língua dela encostou-se à minha. Era a sensação mais gostosa do mundo. lambeu de leve os meus lábios, e eu tremi por isso. A mão dela ainda estava dentro da minha blusa molhada e eu a envolvia com os dois braços.
Mordi de leve o lábio de e a escutei gemer baixinho quando puxei seu corpo mais para perto. Esperei que nossas línguas se encontrassem de novo e grudei minha boca repentinamente nos seus lábios. Senti ficar quase sem fôlego ao começar a beijá-la com força. Apertei suas costas, a puxando para tão perto que ela ficou sem ar e gemeu alto. Sorri.
- É melhor agente subir – disse fazendo um grande esforço para falar. Ela levantou um das pernas na altura da minha cintura, eu a segurei firme e depois fiz o mesmo com a outra. Ainda sem separar nossas bocas subi as escadas com no colo. Aquilo me lembrava nossa primeira vez, a primeira vez dela, quando fizemos quase o mesmo na casa de sua vó.
A levei para o seu quarto no final do corredor enquanto voltava a beijá-la com tanta força que o corte na minha boca começou a latejar. também já deveria estar com os lábios doloridos.
A deitei na cama e ela se ajeitou sobre o travesseiro enquanto eu jogava minha camiseta molhada para o lado. Ela sorriu, olhando para meu peito descoberto. Como se nunca tivesse visto antes... Depois se levantou um pouco, me puxando pela nuca e me fazendo deitar sobre seu corpo. Senti o tecido molhado do vestido dela contra meu peito e me arrepiei, descendo minha mão para os lados da perna dela em seguida. Com uma das mãos segurei firme a barra do vestido e começou a distribuir beijinhos por todo o meu pescoço...
- A meia . – lembrou com um risinho quando já estava só de lingerie e eu só de boxer.
- Ahn? – perguntei distraído com outras coisas, baixando a alça do seu sutiã e beijando seu ombro nu.
- Você ainda está de meias, – ela riu e eu corei. Do jeito mais rápido que pude tirei as meias e em seguida o que ainda restava de roupas, minhas e dela.



______

Capítulo 11.


Suspirei alto e fechou os olhos, mordendo os lábios. Dei um beijo carinhoso na sua testa, apoiei por um segundo a cabeça em seu ombro e em seguida cai folgadamente a seu lado. Ofegávamos pesadamente, nossos corpos ainda um tanto úmidos por causa da água da chuva e, agora também, pelo suor.
- Suas bochechas estão vermelhas – notei a olhando pelo canto do olho e não podendo evitar um sorrisinho malicioso.
- To cansada – respondeu com um sorrisinho parecido com o meu e encarando o teto.- Meus pés estão dormentes.
Ri baixo e ela fez o mesmo, depois ficamos sérios e encaramos o teto do quarto... Por alguma razão me senti nostálgico, com os pensamentos voando para longe daquele quarto e imaginando coisas clichês. parecia sentir a mesma coisa ao meu lado.
Era uma sensação gostosa, uma das melhores, devo dizer. Não havia exatamente palavras que pudessem descrever aquele momento ou a sensação que ele trazia. Nossa nostalgia era gostosa ao mesmo que, por alguma razão, era triste. Era agradável e incomoda, tudo ao mesmo tempo.
- Acho que eu preciso de um cigarro – ponderei olhando para ao meu lado. Ela estava de olhos fechados, murmurando alguma coisa para si mesma, completamente alheia a qualquer coisa em volta. Prestei atenção nela por alguns instantes. Mesmo no escuro, o perfil de seu rosto era perfeito. Sua respiração calma e seu peito subindo e descendo calmamente sob o lençol poderia dar impressão a qualquer um que ela estava apenas falando enquanto dormia.
- “This heart, it beats, beats for only you...” – a escutei cantar bem baixinho, como uma canção de ninar para si mesma. Me apoiei sobre os cotovelos e aproximei nossos rostos.
- “...my heart is yours. ” – cochichei bem perto do ouvido dela, reconhecendo a musica. sorriu docemente, ainda de olhos fechados, depois os abriu bem devagar e me olhou de um jeito que não me lembro ter a visto fazer antes, como se esquadrinhasse cada pedacinho do meu rosto, admirando cada detalhe.
- O que você fez comigo? – perguntou olhando nos meus olhos e fazendo carinho com uma das mãos no meu cabelo. Senti um calafrio subir pela minha coluna e arrepiar os cabelos da minha nuca. – Sabe , eu poderia morrer agora.
- Não fala assim – sussurrei fechando os olhos involuntariamente.
- Mas eu sinto como se pudesse. – murmurou calmamente – É como se esse fosse o momento perfeito onde a historia termina. O silencio, o escuro, a cama quentinha, você... Eu não preciso de mais nada alem disso, nem mesmo respirar.
- ... – chamei rouco, abrindo os olhos – Pára com isso. – pedi, mas internamente sentindo o mesmo. Dava medo sentir-se daquele jeito, mas de algum modo era reconfortante. Meus olhos arderam.
- ...
- ...
Nós rimos.
- Isso é tão estranho... – eu disse mordendo o lábio.
- ...mas é tão bom. – ela completou encostando a cabeça no meu peito. Eu pus os braços em volta dela e apertei meu rosto contra seus cabelos, sentindo o cheiro gostoso vindo deles. Eu me perguntei se estava tão sem vontade de se mexer quanto eu.
- Acho melhor agente dormir.
- Verdade, amanhã cedo tenho que estar na gravadora – lembrei com um pensamento nervoso crescendo dentro de mim. Aquilo ia ficar pior pela manhã seguinte.
- Seu coração tá batendo rápido. – observou, levantando ligeiramente a cabeça para me olhar - É gostoso escutar o “tum tum” dele. – sorriu, voltando a se deitar no meu peito.
- “O ‘tum tum’ dele...” – repeti achando aquilo adorável. Esse jeito... Eu simplesmente amava quando falava assim.



(...***...)


Graças a Deus, tinha um maço de cigarro dentro da gaveta do criado mudo... Graças a Deus, era rica... Graças a Deus também aquele quarto era grande o bastante para eu andar para lá e para cá enquanto fumava o que deveria ser o sétimo cigarro em pouco menos de quinze minutos em que estava acordado.
Meus pensamentos estavam frenéticos sobre a gravadora.
E se desse tudo errado? E se o tal Finnigan achasse que o McFLY era um lixo? E se nossa vinda até os Estados Unidos não valesse de nada para a banda? E se ficássemos tão decepcionados com o “não” e nunca mais conseguíssemos compor musicas?
Fletch ia ficar arrasado! Seria o fim do McFLY sem nem ao menos uma chance de começo!
Traguei quase metade do cigarro de uma vez com esse pensamento. Queria tanto que aquele CD fosse gravado que estava surtando madrugada adentro, tendo insônia enquanto ainda dormia calmamente na cama. Minhas entranhas pareciam querer explodir de nervosismo. Meus pés faziam o mesmo caminho no carpete do quarto a horas e o gesto de tragar e soltar a fumaça parecia agora tão automático... Se eu continuasse assim, uma pilha de nervosos esfumaçante meu organismo não ia agüentar chegar aos trinta.
Fui até a mesinha ao lado da cama onde estava o cinzeiro e apaguei o cigarro depressa, então me virei para continuar a minha caminhada sem fim e sem querer bati com a canela no pé da cama. , resmungou algo.
- Cacete! – xinguei baixinho, dando pulos de um pé só pelo quarto com uma careta de dor. Ótimo! Isso era o que eu precisava para terminar minha soma de dores pelo corpo. Agora além das dores nas costas, na minha mão e os cortes na minha boca e sobrancelha (descobri esse há pouco tempo) meu pé estava latejando fortemente!
Que se danasse meu organismo, eu precisava fumar de novo!
- Hm... ? – a voz sonolenta de chamou de repente, enquanto eu acendia o oitavo cigarro da noite.
- Que? – perguntei um tanto seco, não que ela tivesse culpa, mas saiu sem querer. – Desculpa se te acordei – concertei em seguida, soltando a fumaça para o alto. se apoiou sobre os cotovelos e levantou um pouco a cabeça do travesseiro, coçando os olhos com as costas da mão num gesto sonolento.
- O que está fazendo acordado? – perguntou com a voz mole, me olhando andar para lá e para cá. – São quatro da manhã ainda. – falou depois de olhar no relógio ao lado da cama.
- Eu sei – disse entre uma tragada e outra – Mas não consigo dormir.
- Não consegue... – ela repetiu bobamente, visivelmente zonza de sono - Fala sério, bufou e voltou a se deitar – Vem deitar e apaga esse cigarro!
- Não. – respondi simplesmente e ela depressa voltou a se apoiar sobre os cotovelos. Mesmo na penumbra do quarto eu pude sentir os olhos dela me fuzilarem.
- Qual é o problema afinal? – perguntou calmamente, se sentando na cama e lutando contra o sono. Me surpreendi com a calma, já estava preparado para começar uma de nossas briguinhas idiotas.
- Eu sei lá... – respondi num muxoxo, indo até ela e me sentando na beira da cama. – Eu escutei a e o chegando há algumas horas atrás e acordei com o barulho, daí lembrei da gravadora, comecei a pensar milhões de coisas sobre a banda e o cd e agora não consigo mais dormir.
- Tá tão nervoso assim? – perguntou dando uma risadinha e eu a encarei, a fazendo parar de rir na mesma hora – Desculpa, é que achei bonitinho.
Desviei o olhar dela e fiz menção de dar mais uma tragada no cigarro, mas...
- Apaga isso – falou puxando o cigarro da minha mão e se esticando por cima de mim para apagá-lo no cinzeiro ali perto.
- , era o meu cigarro!
- Na verdade, ele era meu – ela disse e eu emburrei – Olha só o quanto você já fumou, – apontou as bitucas no cinzeiro – Olha o cheiro que esse quarto está...
- Mas eu abri a janela – contrapus me sentindo um menininho que levava bronca.
- Não ajudou muito. Agora escuta, - me olhou, aproximando o rosto do meu – eu entendo você estar nervoso, entendo que quer muito que amanha dê tudo certo, - eu a olhava nos olhos – mas você precisa dormir, descansar . Não vai adiantar nada ficar fumando feito um louco, ou passar a noite em claro, só vai piorar, amanhã você precisa estar bem...
- E se der tudo errado? – perguntei a interrompendo, estava tão nervoso que não conseguia parar de brincar com a pontinha do lençol – Se o tal Finnigan nos disser um “não”? – olhei para ela prestando muita atenção em mim - Vai ser como uma facada a sangue frio no peito de cada um de nós. Talvez agente se desanime tanto que o McFly acabe! Eu não quero que o McFly acabe, ! Eu adoro tocar com eles, adoro escrever musicas, ensaiar... Eu preciso da banda, entende? E a banda precisa que amanha isso dê certo!
mordeu o lábio, me olhando séria. Suspirei pesadamente e coloquei as mãos no rosto, depois as passei pelo cabelo e soltei mais um suspiro angustiado. - , escute – segurou minhas mãos e eu a olhei nos olhos – Eu prometo que vai dar certo, ok? Eu prometo que o McFLY vai voltar para a Inglaterra com um contrato assinado para gravar o primeiro cd!
- Você não pode prometer isso, .
- Posso – ela falou com firmeza – Lembra das vezes em que eu te disse que sabia que você ia ser famoso?
- Lembro.
- E você lembra também que me perguntou como eu poderia ter tanta certeza disso?
- Lembro – senti uma sensação estranha comprimir meu peito e meus olhos arderem.
- Pois é isso, com a mesma certeza que falei que você ia ser famoso eu estou dizendo agora: – olhou bem no fundo dos meus olhos e apertou minhas mãos, senti o corte fundo na palma de uma delas – O McFly vai voltar para a Inglaterra com um contrato assinado para gravar o primeiro cd, eu prometo.
Fechei os olhos e respirei fundo, meu coração começou a voltar a bater normalmente e eu senti os lábios quentes de encostar-se aos meus. Senti meu corpo relaxar com o toque da boca dela, meus ombros pareceram livres de um peso que estiveram carregando e eu deslizei o corpo pelo colchão macio, me deitando na cama.
- Vai comigo amanha? – eu perguntei.
- Se você quiser...
- Eu quero.
- Eu também.
- Ótimo.
- Consegue dormir agora? – ela se cobriu e me abraçou na altura do peito.
- Sim senhorita – respondi beijando sua testa. – Obrigado.
- Eu te amo – disse sorrindo, me pegando totalmente desprevenido. Ainda não tinha acostumado com ela dizendo essas três palavras.
- Eu também, pra sempre – respondi de volta, fechando os olhos.



(...***...)


- Bom dia, amor! – exclamou e o colchão do meu lado afundou quando ela pulou nele. Abri devagar os olhos e senti uma dor horrível na cabeça quando a luz da janela atingiu minhas íris.
- Amor? – perguntei meio rindo, a dor era mais forte que a vontade de rir – Desde quando você me chama de amor?
- Desde quando eu quero – ela respondeu dando um beijinho no canto da minha boca – Dessa vez acordei primeiro que você. Dormiu bem?
- Bem. – respondi apenas. Maldita dor! – , tem uma aspirina aí? Parece que minha...min....m... – espirrei.
- Saúde! – ela riu – Acho que alguém tá resfriado. Sabe, não devíamos mais brigar quando está chovendo.
- Ah não... – resmunguei cobrindo o rosto com o lençol, como se aquilo fosse ajudar – Tem algum remédio aí?
- Vai me deixar “dar uma de enfermeira agora”? – alfinetou levantando-se da cama.
- Vou. – respondi ainda embaixo dos lençóis - E se você puder trazer aquela caixa de primeiros socorros, eu também vou agradecer. Tá tudo dolorido.
- Ain pobrezinho – ela gargalhou ironicamente e saiu do quarto. Não sei por que, mas quando ela agia “ironicamente”, me fazia sentir tão idiota.
Alguns minutos depois, enquanto eu ainda me lamentava pelo meu lindo corpinho parecer ter sido atropelado por um trator, voltou com a caixinha de primeiros socorros, uma tabela de comprimidos e um copo de suco.
- Bebe isso – me entregou um dos comprimidos e o copo. Terminei de vestir a camiseta dos Beatles que tinha emprestado para ela alguns dias atrás e engoli o comprimido, bebendo um grande gole do suco de laranja logo em seguida.
- Podia ter me trazido apenas água, .
- Vitamina C, – ela revirou os olhos e me empurrou pelo peito de volta até a cama, me fazendo sentar.
- O que vai fazer? – perguntei não podendo evitar um sorriso malicioso quando ela se sentou no meu colo, uma perna de cada lado do meu corpo, de frente para mim.
- Dar um jeito nos seus machucados.
- Ah.– ri desconsolado - Pensei que fosse outra coisa - ela balançou a cabeça rindo.
- Agora fica quieto - disse jogando os cabelos para trás, pegando um pedaço de algodão e colocando delicadamente sobre o corte no canto da minha boca.
- Tá ardendo – reclamei com uma careta involuntária de dor.
- Seja homem!
Eu gargalhei.
- Vai ver só o homem se continuar no meu colo por muito tempo.
- ! Fica quieto!
- Ei! Esses machucados são por sua culpa! – falei e ela parou com o algodão a meio caminho do corte da minha boca. – Ah , desculpa, não foi o que eu quis dizer, estava só brincando. Você está brava?
- Não, tudo bem, eu entendi – disse, mas pareceu meio triste. Se eu ao menos pensasse antes de falar...
- Floooor! – a voz de chamou de repente do corredor, e ela entrou no quarto um segundo com um sorriso de orelha a orelha – Opa! – disse em seguida olhando para no meu colo e corando - Não sabia que vocês estavam num desses momentos.
Nós rimos dela e me deu um selinho, saindo do meu colo e murmurando um “pronto”.
- Obrigado – agradeci e me virei para - Não estamos em nenhum “desses momentos”, .
- Menos mal, não queria ter interrompido – suspirou aliviada e caminhou até a amiga que entrava no banheiro – , encontrei seu celular lá no sofá da sala. – disse enquanto colocava um de seus vestidinhos.
- Ah é! – interrompi as duas, me lembrando imediatamente enquanto vestia minhas calças – Esqueci completamente de te avisar, seu pai ligou ontem. - e se viraram para me olhar na mesma hora, como se eu tivesse dito algum tipo de piada horrível. – Desculpa, eu esqueci completamente de te dizer.
- Que horas ele ligou? – ela perguntou deixando de pentear os cabelos e pegando o celular da mão de . Saiu do banheiro e começou a andar pelo quarto atrás de sua bolsa.
- Desde quando você e seu pai estão se falando? – perguntou desinformada. Ninguém respondeu a ela.
- Não sei bem a hora , mas foi quando você estava pegando suas coisas na casa do Travis – respondi desejando que parasse de me olhar boquiaberta – Foi por isso que entrei lá em primeiro lugar.
- , você entr...?
- Depois ligo de volta pra ele – interrompeu , fingindo indiferença – Agora acho que agente precisa ir pra gravadora, não é?
- É – respondi encolhendo os ombros e passando as mãos no cabelo para ajeita-lo – Descul... pa. – eu espirrei de novo.
- Saúde! – desejou e eu agradeci.
- Deixa pra lá – tentou camuflar a repentina inquietação, talvez apenas para não brigar comigo. Fiquei grato por isso.
- Gravadora? Mas ué... – começou com um leve tom de intriga, nos seguindo para fora do quarto – O saiu já faz uns quarenta minutos.
- Que?! – olhei incrédulo para , finalmente dando atenção a ela. – Como assim ele saiu há quarenta minutos? Que horas são?! - meu coração começou a acelerar loucamente.
- Dez para as oito.
- Cacete! Droga! Corre ! – exclamei descendo as escadas pulando dois degraus de cada vez. pareceu não entender nada, mas me seguiu o mais rápido que pode.
- Te vejo mais tarde! – ela se despediu da amiga saindo depressa pela porta da frente.
- , tenta ligar para o celular de algum dos caras e avisa que agente ta chegando, ok? – pedi entrando no carro e já dando a partida.
- Ok – ela confirmou com a cabeça e pegou depressa seu celular dentro da bolsa, começando a discar algum numero enquanto eu acelerava feito louco, deixando a casa de para trás.




- Eles vão me matar, eles vão! – falava desconsolado enquanto caminhava depressa por um corredor da gravadora que a recepcionista tinha indicado.
estava quieta, acho que se sentia meio culpada pelo meu atrasado. Ainda me lembrava de ter falado para e que ia aparecer na hora certa, uma hora antes, para combinar o setlist. Que idiota! Eles iam me matar.
- Acho que é aqui – falou de repente quando eu passei direto por uma porta vermelha. – É aqui, não é?
Não respondi, apenas entrei, respirando fundo antes de ver , e sentados num confortável sofá preto. Fletch estava de pé, as mãos na cintura, o rosto pálido, suando. Um cara alto, negro e com um terno que parecia muito caro estava parado mais ao lado, falando ao celular freneticamente enquanto dois homens magricelas o ladeavam com pranchetas de anotações na mão. e estavam sentadas em dois banquinhos improvisados, conversando bem baixinho.
- Ele chegou! – exclamou Fletch tão alto que levou um susto, soltando um gritinho. me lançou um olhar extremamente raivoso, se levantou e eu achei que ele fosse me bater.
- Vamos acabar logo com isso – disse secamente, entrando numa portinha preta ao lado, onde agora eu via através de um vidro grande, como uma janela, o estúdio com nossos instrumentos.
- Assim que o sr Finnigan terminar de falar, vocês começam. – um dos homens magricelas avisou, apontando o cara negro no celular. confirmou com a cabeça e sequer olhou para mim, passou reto, como uma bala de canhão.
- E você ainda disse que ia aparecer - murmurou bravo, passando por mim com um olhar que só não era pior do que o de . Olhei para e ela baixou o olhar, não querendo me encarar, depois para , e ela encarava , provavelmente se perguntando o que ela estava fazendo ali.
- Anda, ! – Fletch exclamou me dando um empurrãozinho no ombro para que eu entrasse no estúdio junto com os outros. Dei uma ultima olhada na sala e vi Finnigan ainda falando no celular.
- Vai – me encorajou bem baixinho e eu suspirei pesadamente, tendo a impressão que aquele seria o pior dia da minha vida... Entrei no estúdio e encarei meus três melhores amigos me olharem feio. Estava tudo perdido!
- O que aconteceu com você?! – veio logo perguntando, deixando seu instrumento de lado e caminhando até mim – Tá todo ferrado! A cara toda machucada e ainda parece doente!
- Estou resfriado – foi a única coisa que consegui dizer, um segundo depois desejei que tivesse ficado quieto.
- Resfriado!? – exclamou raivoso e apontou a grande janela de vidro a nossa frente, aonde Finnigan e os outros iriam nos observar tocar – Como acha que vai conseguir fazer alguma coisa direito estando resfriado? – ele baixou um pouco a voz e veio para cima de mim, pronto para me deixar com mais machucados. se colocou rapidamente na frente, o impedindo de continuar.
- Calma cara.
- Calma? – riu debochado – Esse idiota vai ferrar tudo!
- Pára ! – reclamou e eu fiquei ali inerte, esperando que largasse e deixasse ele me espancar. Eu merecia! Merecia muito mais!
- Espero que tenha aproveitado suas noites com !
- Não mete ela no meio – falei baixo, meio rouco, sem encará-lo.
- Tem razão, ela não tem culpa – me encarou – A culpa é toda sua!
Não disse nada, nem teria o que dizer. Ele estava certo e eu errado. A culpa era mesma toda minha! Me sentia um lixo, o pior dos piores.
- Chega agora – falou encarando – As coisas já estão bem horríveis sem que vocês dois discutissem – e ele olhou através da janela Finnigan desligar o celular – Chega! – disse por fim, soltando e o empurrando até o seu lugar no estúdio.
- “Vamos lá garotos!” – uma voz invadiu o estúdio por uma caixinha de som no alto – “Tempo é dinheiro, e o senhor Finnigan já não está muito feliz com o atraso do amiguinho de vocês.” – um dos cara magrelos falou num microfone na sala em frente a nós. pigarreou fortemente, e eu olhei para ele. “Feliz?” foi o que ele perguntou e só conseguindo me fazer sentir pior e ainda mais nervoso.
- Vamos começar com Surfer Babe, comunicou depressa – Depois Broccoli, Down By The Lake e por ultimo Saturday Night, ok?
- Certo – acenei com a cabeça.
- Consegue se lembrar da seqüência? – perguntou preocupado, indo para seu lugar.
- Cons... con...– espirrei de novo - Consigo. – falei indo para meu instrumento.
- Ele não consegue nem completar uma frase cara, como vai conseguir fazer alguma coisa certa? – escutei cochichar aflito para , que encolheu os ombros.
- Vou bater nele quando sairmos daqui! – se intrometeu e e fingiram não ouvir.
- “Quando vocês estiverem prontos, rapazes” – escutei a voz de Fletch na caixinha de som. Olhei em seguida pela grande janela a nossa frente. Fletch, , , os dois homens magricelas e Finnigan estavam lá, prestando atenção em nós... não estava. Não a vi sair, mas agora não podia também pensar nela, nem onde estava ou porque tinha saído, precisava me concentrar nas musicas, nos meus amigos, no meu instrumento. Era o futuro do McFLY que estava prestes a ser decidido ali.
- One, two... One, two, three, four!
Começamos a tocar...




Capítulo 12

“Se escondendo no banheiro, ? Patético. Quem diria, quem diria... Fugindo do que? Do olhar feiozinho de e ? Ou da expressão arrasada de Fletch? Não, nada disso, não é? É só a culpa de ter estragado tudo te deixando louca. O que? Você não estragou nada? Há-há! Você sempre estraga, é o seu dom. Pobre , todos o olharam como se ele fosse o culpado...”
- Pára – choramingou tapando os ouvidos com força, se espremendo num canto do banheiro da gravadora. A voz debochada em sua mente ainda soava horrivelmente alta.
- ... vocês sabem de quem é a culpa disso não é? – de repente uma voz real vinda do corredor ao lado invadiu o banheiro.
- se acalma – reconheceu a voz de pedir. Depressa correu para dentro de um dos boxes e trancou a porta. Fechou a tampa do vaso sanitário e se sentou encolhida sobre ela, tirando os pés do chão para que os quatro garotos não os vissem pelo vão da porta. Houve passos apressados para dentro do banheiro e em seguida a voz de soou abatida em algum lugar bem próximo ao box onde estava:
- Eu sei que não tenho como me desculpar, mas...
- Cala a boca, ! – quase gritou. – Desculpas não vão trazer de volta nossa chance perdida! Desculpas não vão trazer de volta o “não” que o Finnigan deu para o McFLY!
Todos fizeram silencio. segurou a respiração.
- E se nós tentássemos explicar o que aconteceu para o Finnigan? – sugeriu mansamente.
- Há – fez debochado.
- Talvez ele entendesse... – continuou com descrença.
- Entender o que? Que nosso querido amigo debochou mais uma vez - chegou atrasado, doente, machucado, todo fodido porque está comendo a garota mais complicada que existe na California?
- Dá um desconto, , nem sabia o setlist e não errou nada – contrapôs tentando ser compreensivo. – Tocamos tudo certo.
- E daí?! Isso não mudou o fato de Finnigan ter nos chamado de irresponsáveis por culpa dele! – a voz de parecia muito brava agora - Nem muda o fato que estamos voltando para a Inglaterra do mesmo jeito que viemos! Sem dinheiro algum, sem chance nenhuma e sendo uma bandinha de bosta!
- Ei, cara, qual é! Nunca fomos uma bandinha de bosta! – contrapôs firmemente – Tudo bem você estar com raiva de mim, mas não insulte o McFLY inteiro, não esqueça que e também são parte da banda.
- Verdade, me desculpem – disse e conseguiu espiar pela fechadura da porta ele se virar para com o dedo apontado em riste em seu nariz – Mas você ainda continua sendo um bosta!
Então tudo aconteceu muito rápido, fechou o punho e acertou em cheio o lado esquerdo de . se apressou em agarrá-lo e puxá-lo para longe enquanto empurrava para a parede oposta do banheiro, mantendo uma distancia razoável entre os dois. mordeu os lábios com tanta força para não gritar que eles queimaram de dor imediatamente.
- Você ficou louco?! – esbravejou para , que agora olhava para incrédulo. – Ele é seu amigo, idiota!
- Eu... – tentou dizer algo, mas em seguida desistiu. Ele parecia um tanto arrependido, mas não o suficiente para desfazer a expressão de ódio.
- Você está bem? – perguntou para , ainda segurando .
- Me solta , eu não vou revidar, – respondeu com uma pequena careta de dor e o amigo o soltou – está certo, eu mereço isso.
Houve um silencio horrível. colocou a mão na boca e se controlou para não chorar. não merecia nada! A culpa nem era dele, a culpa de tudo era dela! Se não fosse por ela, nunca teria se atrasado, não teria se metido naquela chuva da noite passada e ficado resfriado e com certeza não estaria todo machucado por culpa de Travis... Se tinha alguém ali que merecia aquele soco de era ela e somente ela.
- Bom, você tem sido meio idiota mesmo – concordou cortando o silencio. tapou os ouvidos na tentativa de não ouvir mais nada e se afastou da fechadura da porta. Se encolheu mais ainda dentro do box do banheiro e abraçou as pernas desejando que eles parassem de brigar. Nunca os tinha visto brigarem, nem mesmo no tempo da escola.
- Ok, tá idiota mesmo, mas não precisava ter partido pra violência – comentou.
- Ele mesmo disse que mereceu. – teimou.
- Verdade – falou triste – E eu não disse isso para tentar me fazer de coitadinho, ou de vitima, apenas sei que ferrei com tudo. – ele suspirou - Eu acabei com o McFly.
- Não fala besteira, cara! – bufou – Você sabe que não é assim. O McFly não vai acabar por isso.
não se agüentou e começou a chorar. Chorar silenciosamente para que não fosse ouvida. Não se perdoaria pelo que estava acontecendo. Era tão injusto! Se o McFLY acabasse ela seria a única culpada! No entanto, , e com certeza culpariam ... não podia deixar isso acontecer, tinha que fazer alguma coisa... Mas o que? Chegou a ter uma idéia, mas não teve muita certeza se daria certo.
- Você não acabou com nada . – começou calmamente – Sabe, não vai ser sempre fácil, agente pode brigar muito ainda...
- ... ou encontrar muitas garotas que nos façam pirar! – alfinetou desgostoso. segurou um soluço alto. Então era isso?Ela era a garota que tinha feito pirar? Não queria isso. Queria apenas ser a garota de , a garota com que ele ficaria depois de tudo...
- Já chega né, ? – cortou – Não adianta querer crucificar o ! Já era, já nos negaram o contrato.
- Mas por culp...
- Cala a boca cara! – interrompeu – Fica aí só resmungando. – bufou impaciente. – O já entendeu que deu mancada, agora chega! Ao invés de ficarmos aqui discutindo devíamos começar a pensar em como vamos fazer pra arranjar outra oportunidade com uma gravadora.
Houve mais alguns minutos de silencio. passou as mãos no cabelo e voltou a pensar na sua idéia de antes. Se ela era a culpada de toda essa confusão então ela também teria que ser a responsável por concertar as coisas!
- Tá certo – finalmente concordou enquanto voltava a espiá-los pela fechadura – Eu perdi um pouco a cabeça...
- Um pouco?- cochichou para .
- Fica quieto.
- ... e eu não devia ter socado o ...
e quiseram rir. os olhou feio.
–... mas sabe, nós demos duro para conseguir essa chance. – parou e suspirou fundo, depois encarou totalmente sem jeito – Bom, de qualquer forma, foi mal cara. Me desculpa?
- Gay, gay, gay...! – e começaram em coro, já desatando a rir descaradamente.
- Sem problemas – respondeu olhando e mostrando o dedo do meio para os outros dois.
- Agora, dêem um abraço! - se adiantou batendo nas costas de e .
- Qual é, ! – estufou o peito. – Vamos só dar o fora daqui.
- Não! Ninguém sai sem antes dar o abraço! – insistiu sorrindo de orelha a orelha. entrou num ataque sério de riso e e se entreolharam por um segundo...
- Quer saber? Foda-se! – disse rindo e agarrando . Um segundo depois e o banheiro se encheu de gargalhadas altas. se sentiu mais boba do que nunca, mas apenas por escutar as risadas dos quatro teve vontade de chorar mais ainda.
- Aeee! – comemorando batendo palmas quando finalmente e se soltaram.
- Desculpa mesmo, gente. Se eu fizer isso de novo...
- Daí sim eu te mato! – interrompeu sério e por um momento todos o olharam sem reação, depois desataram a rir novamente.
- Combinado – concordou sorrindo. – Agora vamos para o hotel, precisamos fazer as malas.
- Não vai atrás da sua donzela?
- De quem? Da ? – ele riu e sentiu o estômago congelar. – Ela sumiu daqui não é? Então deve estar ocupada por aí com alguma amiga ou coisa assim. Depois falo com ela.
- Certo. Agora eu tenho uma coisa pra dizer – começou animado ao mesmo tempo que escutava as vozes deles ir ficando longe enquanto deixavam o banheiro – andei pensando, acho que deveríamos escrever um musica sobre aquele nosso quarto tosco no hotel e...
A voz dos quatro morreu ao longe e a única coisa que escutou, ou achou ter escutado, foi seu coração palpitando forte contra seu peito. Levantou-se sentindo as pernas moles e limpando as lagrimas do rosto. Saiu do box do banheiro e se olhou no espelho em cima da pia - ponta de seu nariz estava vermelha por causa do choro - respirou fundo e ajeitou os cabelos. Na sua melhor imitação da velha , saiu do banheiro, pisando firme pelo corredor para fora da gravadora. Tinha uma idéia para concertar as coisas. Sentia que precisava desesperadamente concertar tudo. Estava decidida. Não poderia tirar a culpa que , e tinham colocado em cima de por o McFly não ter assinado com a gravadora, isso era verdade, mas pelo menos não os deixaria voltar para a Inglaterra sem dinheiro nenhum e sem chance alguma como dissera. Talvez sua idéia nem desse certo, mas não custava nada tentar. Tinha prometido a que eles sairiam da Califórnia com um contrato assinado para o seu primeiro cd e não podia quebrar uma promessa. Essa era uma das poucas coisas que sua mãe tinha lhe ensinado: a ter palavra. E tinha e ia dar um jeito de cumprir com ela.
- Hey Neil, eu preciso falar com você – falou no celular, saindo para a rua e acenando para um táxi – É meio urgente, preciso de um favor, acho que você pode me ajudar. Certo. Te vejo daqui cinco minutos então! Tchau - e ela se virou para o motorista fechando a porta do carro – Para UMG, por favor.



(...***...)

Por mais deprimidos que estivéssemos, nós quatro saímos da gravadora rindo. Em frente ao nosso conversível lata velha estacionado ali do outro lado da rua, estavam e , parecendo bem tristes e quietas. No fundo, estávamos como elas. Tristes e quietos. Por fora, estamos rindo e animados. É uma coisa nossa, digo, do McFLY. Agente sempre tenta enxergar o lado bom, até mesmo quando sabemos que a coisa está preta.
- Animo belezuras! – foi logo falando quando nos juntamos a e . Eu podia jurar que aquelas palavras não eram apenas para as duas, mas também para ele. Elas o olharam estranhando – A batalha está perdida, mas não a guerra! – ele filosofou sorridente.
- Ah meu Deus – balançou a cabeça desconsolado – não se empolgue demais, ainda estamos pé rapados.
- Mas temos uns aos outros não é mesmo? – ele abriu os braços em sinal de que agora queria um abraço em grupo e em publico. , e eu pulamos um para cada lado, fugindo.
- Pára com isso cara – falei com uma careta e fazendo os outros rirem.
- Onde o Fletch se meteu? – perguntou depois, entrando no carro.
- Sei lá, ele disse que precisava arejar as idéias – fez uma careta engraçada – Daqui a pouco ele nos liga para brigar com , depois pra pedir desculpas pela grosseria e mais uma vez pra dizer que tem novos planos nós.
Nós rimos de novo. Fletch era bem assim mesmo. Primeiro ficava p*** da vida com o mundo, daí sumia, voltava irritado e depois...
- , sai da rua! – o grito de interrompeu meus pensando. Olhei para ela e ela estava arregalando os olhos para a amiga. pareceu não ter escutado, continuava parada quase no meio da rua conversando com enquanto um táxi vinha depressa pela avenida.
- HEI! !! – chamei a puxando pelo braço de qualquer jeito, e ela trombou comigo, caindo sobre meu peito numa espécie de abraço desajeitado. – SEU MALUCO! OLHA POR ONDE ANDA! – gritei segundos depois, quando o táxi passou por nós correndo – Você está bem? – me virei para , a olhando parecer bem assustada enquanto a segurava nos meus braços.
- Estou sim, obrigada – ela agradeceu sem graça – Não vi o carro.
- Tudo bem. – falei e senti novamente aquela sensação horrível que toda vez tomava conta do meu peito quando olhava para ela. se recompôs, saindo do nosso abraço desajeitado e arrumando os cabelos. Todos nos olhavam, parecendo esperar a próxima cena do filme que assistiam.
- Agente precisa conversar outra vez, não é? – ela falou sem mais nem menos, apenas notando no meu jeito que havia algo sobre nós me incomodando.
- É, acho que sim. – confirmei colocando as mãos no bolso da calça – Mas será que pode ser depois? Dessa vez, acho que nossa conversa vai realmente demorar.
- Certo – concordou e me deu um beijinho no rosto. Não foi na boca. Ela já tinha entendido.



-“… the cheap nylon curtains…nylon curtains…Nylons curtains o que hein? – perguntou ajeitando a caneta atrás da orelha e parecendo um desses nerds malucos. – Empacamos na cortina de nylon! – ele anunciou levantando os olhos do mesmo caderninho surrado onde tinhamos escrito Saturday Night.
- Serio ? Estamos nisso a mais de duas horas e se você não tivesse dito agora eu não teria imaginado! – ironizou, tentando se concentrar novamente na letra. – Não temos mais nada para colocar aí. Já foi tudo! – concluiu desanimado.
- Vejamos... – começou lembrando-se – A minha cama quebrada já foi – e bateu no colchão onde estava sentando – O cheiro de cigarro do quarto ao lado, também. O ar condicionado quebrado, o hospede reclamão do andar de cima, a chuva... Ahh já sei! – exclamou de repente e todos olharam para ele ansiosos - Já foi a historia de quando nos enganamos de hotel?
- “Room on the third floor. Not what we asked for…” – eu cantarolei deitado na cama, arremessando uma bolinha de papel na parede oposta, bem em cima da cabeça de – É a primeira frase da musica.
- Ah, tinha esquecido – falou recebendo um olhar engraçado de . – Então não sei! Até as pornografias do já estão aí!
- Que pornografias minha? – perguntei me sentando e arremessando sem querer a bolinha na testa de . – Foi mal, cara. – me desculpei.
- Quando você acordou aqui com a sendo expulso pela camareira. – lembrou rindo junto com da cara de .
- Ah isso – sorri bobamente – Foi divertido, mas não pornográfico.
- Aposto que foi – comentou desviando o olhar de e me olhando – Digo, aposto que foi divertido, não pornográfico. – nós rimos. - E por falar na garota que mais aparece nas nossas musicas... Preciso falar com você depois .
- Que foi que eu fiz agora? – resmunguei desviando da tentativa de vingança de e segurando a bolinha no ar – Eu sei que preciso terminar com a ! Vou me encontrar com ela na praia daqui três horas.
- Não é isso idiota! – falou e riu – Eu apenas... bom, apenas quero falar com você.
- Ok – concordei estranhando. e se entreolharam.
Depois de mais algum tempo, após varias tentativas de sair do nosso repentino bloqueio criativo, decidimos deixar para lá. A única coisa que podíamos dizer que era realmente fixo na musica era o seu nome “Room on the 3rd Floor”. Terminaríamos a letra depois.
e resolveram sair com e para espairecer as idéias enquanto eu saia para terminar meu namoro de alguns meses. Enquanto ia até a padaria ao lado comprar rosquinhas açucaradas eu fiquei pensando e repensando em um jeito de começar a contar a que estava a traindo desde quase o primeiro momento que havíamos pisado na Califórnia. Não havia um jeito muito sutil de isso ser feito, é claro.


(...***...)

atravessou a rua, olhando para sua caixa de rosquinhas e pensando em como ia começar aquela conversa com . Estava tão distraído em seus pensamentos que ao menos, antes de entrar no hotel e voltar para o quarto, notou andando depressa do outro lado da rua. Ela tão pouco o vira. A cabeça estava ocupada demais trabalhando nas suas idéias...
- Ai caramba! – exclamou tirando de dentro do bolso da calça o celular que vibrava enquanto ia andando pela calçada apressada – Fala Neil! – atendeu sorrindo.
- Quem mandou você ir embora assim correndo, garotinha? – Neil brincou rindo do outro lado da linha – Eu disse para você esperar eu falar com Andie Zager!
- Você disse que já tinha conseguido, então eu não me agüentei e tive que sair correndo pra contar pro – ela riu, se sentindo meio idiota, mas não se importando. Não se importava mais em se sentir idiotamente apaixonada por , no final das contas era realmente bom.
- Eu disse que eu tinha quase certeza que ia conseguir.
- Que seja, Neil. Você conseguiu não é? – mordeu o lábio nervosa, cruzou os dedos torcendo e olhou para cima, para a janela do terceiro andar do hotel de Judith.
- É, consegui! – Neil falou feliz. soltou um gritinho de felicidade e no mesmo instante viu o vulto de fechar o vidro da janela.
- Você é demais Neil! Nem sei o que falar – ela sorriu radiante e voltou a fazer o seu caminho – Acabei de descobrir que está no hotel, vou contar para ele agora mesmo. Muito obrigada! Nem sei como agradecer.
- Meu trabalho nessa gravadora tinha que servir para alguma coisa além de carregar instrumentos, certo?- Neil riu.
- Claro! – falou cheia de alegria e entrando no simplório hall do hotel – Agora vou desligar, te vejo mais tarde na , ok? Beijo!
- Beijo.
se virou para a senhora na recepção enquanto guardava de volta o celular no bolso.
- Hey Judith - ela cumprimentou – Lembra de mim, daquele outro dia?
- Ahn... – Judith a olhou por um instante - Saindo cedinho com o garoto , não foi? – perguntou se lembrando e sorrindo – Depois que a camareira foi...
- Limpar o quarto. Isso. – completou rindo brevemente – Então, será que posso subir para falar com o ?
- Ah claro querida, pode ir.
- Obrigada.
subiu as escadas de madeira sorrindo de orelha a orelha. Estava tão feliz que achava que seu peito iria explodir. Poderia até rir para as paredes...
De repente tudo estava começando a ir tão bem em sua vida que nem parecia verdade. Não conseguiria acreditar se alguém lhe contasse que há apenas uma semana atrás sua vida se resumia em fugir do namorado possessivo com quem morava, dar sorrisos falsos em festas malucas que ia com as amigas e tentar inutilmente se sentir feliz enquanto não tinha nenhuma noticia de sua avó doente. De jeito nenhum acreditaria que hoje estaria ali, aos sorrisos e pulos de felicidade.
Era como se fossem duas vidas paralelas. A horrível antes de e a perfeita depois dele.
Era uma felicidade que nunca tinha sentindo antes. Algo que a completava, que dominava seu peito. Teria que agradecer todos os dias por ter aparecido, por não a odiar como ela achou que ele faria e por a amar. Nunca ninguém tinha a feito se sentir realmente amada, mas fazia. Ele a fazia feliz, inteira, sem metades desfalcadas de si mesma como sempre havia sido. Talvez ficasse meio boba as vezes, meio ridícula com aquelas malditas tais borboletas no estomago, mas mesmo assim, estava feliz. o amava também, era obvio para qualquer um que a conhecesse antes e a visse agora, sorrindo para o corredor, ansiando bater na porta com o numero 37 e dar-lhe a grande noticia...
Ela estava finalmente apaixonada.



(...***...)

Assim que entrou no quarto com suas rosquinhas, eu já estava de saída para meu encontro com .
- Já to indo cara! Tch...
- Ah não ! Pera aí! – ele me interrompeu soltando a caixa de rosquinhas em cima da televisão e fechando a porta do quarto. Parei a meio caminho de sair, e o olhei franzindo a testa. Parecia que o assunto ia ser realmente sério.
- Eu to um pouco atrasado. Não quero deixar a esperando. – falei me sentando na cama e olhando para o visor do celular em minha mão. Havia uma chamada perdida da .
- , escuta... – começou e eu levantei o olhar para ele. – Eu sei que eu vou parecer totalmente chato, mas eu preciso abrir seus olhos.
Eu ri e franzi a testa.
- Que? – perguntei sem entender – Está falando igual meu pai. Abrir meus olhos com o que?
- Com a falou sendo direto, me olhando nos olhos – Você sabe... Eu, e estávamos conversando e bom, achamos que um de nós deveria conversar com você. – ele caminhou até sua cama e sentou-se a minha frente. Soube pelo olhar de que aquela conversa ia ser longa.


(...***...)

ficou com a mão a meio caminho de bater na porta do quarto de . Escutou a voz séria de dizer seu nome e achou melhor esperar... Fosse o que fosse que viria a seguir tinha a ver com ela e achou que isso lhe dava todo o direito de escutar a conversa. Encostou-se à parede ao lado da porta e enfiou as mãos no bolso. As paredes finas e desgastadas do hotel de Judith a ajudariam a ouvir os dois lá dentro. Tocou no papel em seu bolso e, mesmo desejando mais do que tudo entrar naquela quarto e dizer de uma vez a que Neil e ela tinham conseguido os encaixar de ultima hora num festival bandas novas que uma gravadora promoveria amanha a noite em South Beach, resolveu ficar ali mesmo, com os ouvidos atentos.
- ... eu estive pensando em como começar essa conversa enquanto caminhava agora pouco pela rua, mas acho que não tem outro jeito melhor do que ir direto ao ponto – escutou a voz pesarosa de dizer.

_



Capítulo 13.

- Credo , fala de uma vez! – disse desconfiado.
- Vou falar. – respirou fundo e apoiou as mãos nos joelhos – Bom, a coisa é: Agente acha que você precisa pensar se vale mesmo a pena terminar com e ficar com a .
Fiz por um breve segundo silencio e não me encarou.
- Que? – perguntei depois, rindo, achando que ele só podia estar brincando - É claro que vale a pena! Estamos falando da aqui, certo?
- Certo, mas...
- Então está resolvido! – disse firmemente, já me levantando para sair. suspirou pesadamente e passou as mãos pelo rosto. Pelo visto ele ainda não tinha acabado. Resolvi me sentar novamente.
- Posso terminar ? – perguntou parecendo desconfortável.
- Ok, mas já vou avisando, se vocês andaram programando algum tipo de discurso para me fazer desistir da , nem vem, não vai funcionar – disse cruzando os braços e olhando novamente para a chamada perdida no meu celular.
- Nós não programamos nada pareceu ofendido. – Nós gostamos da também, eu quero dizer, além de tudo, ela é uma garota legal, engraçada... Não é apenas bonita.
- Então qual é o problema? – perguntei. – Desculpa , mas essa conversa está sendo um pouco retardada.
Não era por nada, mas só queria sair logo dali, não sei, algo me dizia que as coisas não iam acabar bem se eu continuasse escutando .
- Sei lá, cara – ele continuou – Sabe, tem algo nela que não é certo – eu comecei a ficar confuso. – Algo em vocês dois que não é certo.
- Explique.
- Hmm... é... – ficou desconcertado por um momento, olhou para o lado e depois bufou meio impaciente - O que eu estou querendo dizer é que... a é maluca! Pronto, é isso! – desabafou de uma vez, se levantou e começou a andar pelo quarto – E você acaba ficando maluco perto de alguém como ela! Você nunca esqueceu um ensaio ! – ele me encarou – Nunca. Eles sempre foram sagrados pra você, sempre chegava na hora, era o primeiro a estar lá. E agora, com a ... Eu chego a não te reconhecer. – fiquei quieto enquanto voltava a caminhar para lá e para cá – Tá certo que nem , e eu estamos mais bravos com você por causa do lance da gravadora, mas cara, como é que você pôde chegar atrasado daquela maneira!
- Eu juro que estava pronto na hora! - interferi ainda me sentindo mal com aquilo – Mas a culpa nem foi minha, eu...
- É, a culpa não foi sua e esse é realmente o problema – interrompeu outra vez – Porque se fosse por você eu tenho certeza que teria chegado na hora, mas não, a culpa foi dela, da . Eu não sei bem, mas ela tem algum tipo de poder sobre você que não faz sentindo.
Abri e fechei a boca muitas vezes tentando responder, mas nenhuma resposta pareceu boa o suficiente. parou de andar e enfiou as mãos nos bolsos, olhou pela janela e fizemos silêncio por alguns minutos.
- Eu não quero que você termine com a , cara – ele de repente cortou o silencio – Mas é que não vejo outro jeito de tudo voltar ao normal. Não vejo outro jeito de você voltar ao normal sem ser sem ela.
Olhei para os meus pés, não conseguia encarar , ele estava certo e eu tinha que admitir. Era ótimo, maravilhoso ficar com a , era tudo que eu queria na minha vida, mas talvez eu gostasse tanto dela que estivesse começando a me perder... Já tinha pensando nisso algumas vezes nos últimos dias, mas no final acabava apenas me convencendo que era besteira da minha cabeça.
- Não me peça pra terminar com ela, – falei sentindo meus olhos queimarem. Eu ia chorar?
- Não estou te pedindo isso. Estou apenas te pedindo que encontre um jeito de ajeitar as coisas – caminhou até mim e colocou a mão no meu ombro amigavelmente – Chega a me assustar a maneira como você é apaixonado por essa garota, .
Me assustava também, era como se fosse algo exagerado... como se fosse demais para ser saudável.
-Eu realmente espero que dê tudo certo entre vocês, apenas não deixe que uma paixão adolescente estrague as coisas. – prosseguiu.
- Eu não vou conseguir terminar com a , cara – disse com a voz embargada ainda pensando que de certa forma era isso que ele estava me pedindo para fazer.
- Então não termine, só tente manter as coisas no controle. Você mais do ninguém conhece a e sabe como ela pode ser imprevisível, - ele caminhou até a televisão - uma hora te ama e na outra parece que se esqueceu da sua existência. Não a vejo perdendo o controle da coisa, se deixando levar por sentimentos como é obvio que está acontecendo com você. Isso pode ser perigoso. – indicou o meu rosto, me lembrando que ainda havia alguns hematomas da briga que eu tivera com o tal ex-namorada dela - Não quero meu amigo outra vez trancado num quarto escuro, bebendo e fumando por causa de uma garota.
Mais um pouco de silencio entre nós... Não sabia o que responder, me perdia nos meus próprios pensamentos confusos.
- Eu a amo. – falei por fim, me controlando para não perder as estribeiras com aquela conversa.
- Mas e ela? Te ama? – deixou escapar um tom de desprezo.
- Ela me disse que sim.
pegou a caixa de rosquinhas açucaradas e olhou pra mim como se sentisse pena. Senti-me estranhamente inferior a ele, como um grande tolo. Fiquei um tanto irritado com isso.
- Sério! – disse o encarando e desejando que ele parasse de agir daquela maneira – Sabe, ela e eu brigamos ontem e eu ameacei ir embora e não voltar mais, terminar tudo! Daí a me disse, olhando nos meus olhos, que me amava!
- Você ameaçou ir embora e só aí ela resolveu dizer que te ama? – levantou as sobrancelhas. Fiquei sem jeito...
- É...
- , não seja burro, é obvio que a nunca foi deixada por nenhum cara e que você ia ser o primeiro a fazer isso. – rolou os olhos e eu cada vez me sentia mais tolo – Se ela só te diz que te ama sobre pressão, quando você ameaça a deixar, então é claro que é medo de “ser deixada” ao invés de “deixar”.
- Não acho que seja isso, - engoli em seco - acho que ela realmente gosta de mim – meu peito doía.
- Às vezes eu também acho, mas só às vezes! Não temos como ter certeza, não é como a , ela sim eu posso te dizer que te ama.
- Pro inferno com a ! – exclamei impaciente e fechou a cara – Ela me ama, mas eu não a amo. Para de tentar me jogar pra cima dela!
- Não estou tentando nada, só estou dizendo o que acho. – ele deu uma mordida violenta na sua rosquinha – Ela pelo menos nunca deixou você se atrasar para um compromisso da banda. – falou baixinho, de boca cheia. Bufei e ele me encarou.
- Não quero ficar com a ! – respirei fundo. – Entendeu ou quer que eu desenhe? Não quero!
- Tá , que seja! – exclamou com raiva - Só não deixa seu namorico adolescente acabar com o McFly!
- Qual é? – ri irônico - Só falta você me dizer agora para eu escolher entre a e vocês! – debochei e ficou visivelmente irritado com meu tom de voz – Não seja idiota!
- Quem está sendo idiota é você, , só que ainda não percebeu – jogou a metade da rosquinha pela janela e me encarou – E seria realmente uma boa te dizer para escolher entre nós e ela, quem sabe assim você percebesse que a é uma namorada muito melhor que a !
Aquilo já era demais! Levantei-me da cama e parei na frente dele, o encarando.
- Você já beijou a ? Já beijou a ? – provoquei. não respondeu, pela sua expressão raivosa talvez estivesse programando me dar outro soco – Então a única pessoa que pode dizer que uma é melhor que a outra sou eu!
Nós nos encaramos por mais alguns minutos...
- Tem razão, - disse depois, se afastando e começando a vestir seu casaco de qualquer jeito – e quer saber, eu tentei te ajudar. Tentei dizer que é melhor você fazer as escolhas certas antes que perca seus amigos. – ele ameaçou - Mas se você não quer ouvir, não quer entender, apenas olhe só para nós dois, nós nunca brigamos desse jeito ! – de repente um tom triste se misturou com seu tom de voz raivoso. - Nunca tivemos tantas brigas em tão pouco tempo. Agora se você acha que a vale tudo isso. Vale o McFly, , e eu...Vá em frente e seja feliz sendo o cachorrinho dela!


(...***...)

sentiu mil facas entrarem em seu peito, como se seu coração estivesse sendo comprimido e faltasse ar nos seus pulmões. Escutou passos rápidos até a porta em sinal que alguém iria sair e correu depressa para um corredor ao lado. Um segundo depois espiou com cuidado sair do quarto...
- Não sou o cachorrinho dela! – a voz de exclamou raivosa.
- Mas parece muito – deu de ombros – E quer saber? Eu preferia você quando namorava a ! – ele bateu a porta e saiu em largas passadas para a escada até o hall, passando pelo corredor onde estava sem a ver. Sem pensar, se apressou em sair do hotel...
- Judith – respirava com dificuldade quando chegou a recepção - Será que você pode entregar isso para um dos meninos? – emperrou um papel sobre o tampo de madeira do balcão.
- O que é isso querida? - Judith perguntou docemente.
- É uma ficha de inscrição pro festival de bandas da South Beach – ela explicou o mais rápido que pode, queria ir embora antes que alguém a visse ali – Não diga que eu estive aqui ok? E nem que fui eu quem te entregou isso. Apenas os avise que alguém deixou isso e que eles devem entregar a ficha até hoje às nove horas da noite pro pessoal da UMG que está organizando as coisas na praia, certo?
- Tudo bem, mas...
- Obrigada – ela agradeceu já correndo para fora do hotel, a vontade de chorar explodindo em seu peito. Apertou os olhos e respirou fundo, caminhando depressa pela calçada. Não ia chorar! Não ia! Ela precisava voltar a ser quem era, precisava parar de chorar por pouca coisa... Pouca coisa? era tudo para ela! Era tudo o que tinha, se o perdesse não restaria nada... Mas estava certo. sabia que ele estava e isso era o que estava a matando por dentro. Queria tanto naquele momento ser egoísta e dizer para si mesma que não ia fazer o que sabia muito bem que precisava fazer para o bem de . Queria nem ligar para nada, só se importar com sua felicidade de ter para si...
- ! – alguém gritou seu nome e ela quis abrir um buraco no chão para se esconder. – ! – uma buzina se juntou ao grito.
- Me deixa em paz Travis! Agora não! – sua voz saiu fraca e aumentou o passo enquanto Travis ia a ladeando com o carro na rua.
- Você está chorando? – ele perguntou com uma voz meio incrédula e debochada.
- Eu tenho cara de quem anda por aí chorando?! – exclamou parando de andar e o encarando. Engoliu o choro como sempre fizera em toda sua vida. Era boa em fingir indiferença quando queria.
- Não, nem um pouco – Travis deu um sorriso malicioso. – O que é uma das coisas que te deixa tão sexy.
rolou os olhos e deu um sorrisinho falso, voltando a andar. Travis novamente voltar a segui-la com o carro.
- Então, já largou o pé rapado?
- Não. – respondeu seca.
- E quando vai fazer isso? – Travis deu uma risadinha irritante – Porque eu te conheço e logo vai fazer e voltar correndo para onde lhe é mais conveniente. Quero dizer, para mim, é claro.
fez um minuto de silencio. Por um segundo achou que estava escutando aquelas palavras de sua mãe, porque era geralmente o que ela costumava lhe dizer, lhe jogar na cara.
- Eu não sou mais assim – falou por fim, tentando acreditar nas próprias palavras – Eu nunca fui.
- Você sempre foi. – Travis gargalhou – E sempre será.
Ela prendeu a respiração por breves segundos. Uma parte dela gritava dizendo que Travis tinha razão, outra protesta, dizendo que não.
- Anda, entra no carro que eu te perdoou por tudo. – Travis continuou.
- Eu não vou en... – começou, mas de repente parou e pensou duas vezes. Se entrasse naquele carro e voltasse para a casa de Travis seria uma forma simples de se livrar de e de todas as coisas ruins que vinha causando na vida dele. Por outro lado, sentia nojo só de olhar para o ex-namorado, sem contar que fugir não era a coisa mais nobre. Não queria sumir outra vez sem mais nem menos da vida de ...
- Anda, agente pode jantar num lugar legal hoje – Travis sorriu convidativo – Você chama suas amigas, eu chamo os meus... Você pode dançar a noite toda como gosta de fazer, podemos beber e depois voltamos para casa.
- Eu não sei Travis, eu... – passou as mãos no cabelo, mordeu o lábio nervosamente. Não queria ir com ele! Queria ! Não queria voltar a sua vidinha fútil de antes... Mas precisa deixar ir, seguir em frente sem ela...
- Vem logo !
- Me dê dois dias – respondeu de súbito, ainda confusa com todos os pensamentos – Dois dias e talvez eu te ligue Travis.
- Teimosa! – ele riu como se risse de uma criança que fazia doce – Mas mesmo que não me ligue em dois dias mais cedo ou mais tarde você vai acabar voltando pra mim e quando isso acontecer, quando quiser parar de se divertir com o pé rapado, apenas me avise e eu sei onde te encontrar. – sorriu - Até amor!
Ele acenou e mandou um beijo para . Ela fechou a cara e lhe mostrou o dedo do meio, Travis achou divertido e acelerou o carro, se afastando enquanto ria no volante.



(...***...)

Peguei meu moletom e o vesti, o vento frio lá fora assobiava sobre a fresta da janela. Estava mais de dez minutos atrasado para meu encontro com . Apesar da conversa com e de saber que tudo que ele havia falado era verdade, já tinha tomado minha decisão e não iria mudar. Era com que eu queria estar e era com ela que eu ia ficar. Ponto final. As conseqüências que viriam com isso para mim tanto fazia, sabia que sem ela tudo poderia ser muito pior. Estava disposto a arriscar.
Na saída do hotel Judith tentou me dizer algo, mas estava com tanta pressa que fingi não a escutar. Um sentimento de culpa em meu peito me fazia sentir como se eu carregasse o mundo nos ombros. Não só por causa da chance do McFly que eu tinha arruinado, mas também por causa de . Não estava sendo justo com ela, e se eu tinha aprendido alguma coisa com toda essa historia da , era: “Não faça com os outros o que não quer que façam com você”. É, pois é, eu costumava ser horrível com as garotas que eu saia, costumava só sair com elas por uma noite e depois sumir... Depois da e todas as coisas pelas quais passei quando ela sumiu, nunca mais fiz isso com ninguém. Trair com a tinha sido realmente muito bom, não vou negar, mas mesmo assim errado. Eu tenho consciência disso, sou um bom garoto no final das contas.
Cheguei até a praia, no quiosque do Paul, onde tinha marcado de encontrar com e vi que ela acabava de chegar também. Agradeci mentalmente por não ter que lhe pedir desculpa por a fazer esperar. Respirei fundo e fui até a mesa onde ela ajeitava a bolsa na cadeira ao lado.
- Esperando alguém? – brinquei sorrindo e levou um pequeno susto. Rimos. Ela sorriu fracamente e fez para que eu sentasse na cadeira a frente dela.
- Eu gosto dessa sua blusa – ela disse apontando. – Você usou no nosso primeiro encontro.
- Mesmo? – sorri me sentando – Não me lembro, eu quero dizer, de estar usando essa blusa, não do nosso primeiro encontro.
- Eu entendi. – falou seria, sem me encarar.
- Do nosso encontro eu lembro, claro – ri de leve – Na casa da , o filme e tudo mais. Você estava com o cabelo preso e fazendo pipoca na cozinha quando eu cheguei com os caras – lembrei sorrindo – E quando eu entrei na cozinha, você não viu quem era e foi logo me perguntando algo sobre um vestido achando que era a . Não foi bem um encontro, mas foi a primeira vez que nos vimos não foi?
- Foi. – ela suspirou pesadamente. – E eu fiquei morrendo de vergonha de você a noite toda por causa daquilo.
- E eu fiquei te zoando. – ri e soltou um soluço baixo...
- , apenas diga de uma vez ok? – ela disse começando a chorar – Vai ser mais fácil.
- Desculpa, eu não percebi que... eu não... – balancei a cabeça e a olhei – Eu não queria te fazer chorar .
- Apenas diga de uma vez.
não me encarava, olhava para a toalha da mesa enquanto as lagrimas grossas escorriam pelo seu rosto em silencio. Me senti triste por ela, mas sabia que o que estava fazendo era o certo. Eu podia estar triste agora, mas era uma tristeza que eu sabia que ia passar no momento em que eu visse a .
- Bom, eu acho que você já sabe o porque de nós estarmos aqui, não é? – falei tentando arranjar um jeito de começar – Eu quero que você saiba que eu gosto de você – ela soltou um soluço nessa hora - , mas não mais do jeito que eu gostava. Eu quero dizer, você é uma garota legal .
- Então... então por que? – ela perguntou com a voz alterada por causa do choro. – A aposta que é outra garota. Me diz que não é . E se for, que não seja ela!
Meu estomago deu um cambalhota, despencou como seu eu tivesse pulado os degraus de uma grande escada todos de uma vez.
- Ela quem? – perguntei receoso.
- Aquela menina que você fingiu ser sua prima – tentou inutilmente limpar as lagrimas dos olhos. – Aquela tal de .
- Escuta , eu...
- Ah meu Deus, é ela? – ela tapou por um segundo os olhos e começou a chorar mais. – Eu sabia que tinha alguma coisa errada com aquela garota! No momento que eu vi o jeito que você a olhou na praia naquele dia, eu sabia que havia algo!
- Eu sei que eu devia ter contado –tentei amenizar a situação. – Eu deveria ter falado que ela era a garota por quem eu fui apaixonado no colegial...
- Ela é a menina que você me contava as historias antes de nós namorarmos? A sua “grande paixão adolescente”? – fez aspas com os dedos e deixou escapar um tom arrogante e ofendido.
- É. E ela não é só uma paixão adolescente – disse tendo certeza que era muito mais que isso. balançou a cabeça como quem não estava acreditando, olhou para os lados e depois olhou para mim.
- Durante todos esses dias, todas as vezes que você sumia, ou dava uma desculpa para sair ou ficar sozinho, você estava com ela? – ela olhava direto nos meus olhos.
- Estava – respondi sem desviar o olhar.
- Esses machucados na sua boca e na sobrancelha, têm a ver com ela também?
- Tem. Briguei com o ex-namorado da . – desviei o olhar, não conseguia mais a encarar. me olhava de um jeito que só me fazia sentir pior e mais culpado.
- Você a ama? – deixou as lagrimas escorrerem dos olhos livremente.
- Não me pensa pra responde isso... – tentei arranjar um jeito de sair dessa.
- Responde! – ela exclamou brava, chateada e chorando.
- Amo. – respondi firmemente – Eu a amo.
Um silencio horrível caiu sobre nós. A única coisa que eu escutava eram os soluços baixo de , Paul conversando com algum cara e o barulho das ondas do mar se quebrando mais a frente na praia.
- E como.... como... vocês vão fazer para ficar juntos? – fez um grande esforço para falar entre o choro contínuo – Você vai ficar aqui ou...?
- Ela vai pra Inglaterra comigo.
- Vocês vão... – começou me olhando, mas um segundo depois parou, desviou o olhar para o balcão do quiosque as minhas costas, onde Paul ficava e sua respiração ficou rápida.
- Hey! Olha só quem resolveu aparecer! – escutei a voz de Paul perguntar animado e meu coração veio parar na boca. Não precisava olhar para trás para saber quem havia acabado de chegar. - O que vai ser dessa vez, pequena?
- Nada. Não estou muito bem, só vim aqui porque sei lá... gosto de conversar com você – escutei rir com aquele jeitinho dela. ficou sem reação, o olhar fixo no balcão as minhas costas. Não virei o rosto. Desejei, pela primeira vez, que fosse embora, que não estivesse ali.
- , escuta, você quer ir a outro lugar? – perguntei depressa. – Acho melh...
- Sabe quem esteve aqui te procurando mais cedo? Travis. – Paul falou e eu fiquei quieto na mesma hora. me olhou, observando a minha reação.
- É? – a voz de pareceu distraída – Eu encontrei com ele agora também. Me chamou para sair... Agente termino, entende?
- Entendo. Ele parecia mesmo te entediar.
- É, mas não sei, eu apenas...
- Apenas resolveu tomar o namorado de outra! – se pronunciou de repente e eu arregalei os olhos. Coloquei a mão no rosto e ela se levantou indo até . Fui atrás dela na mesma hora, meio desesperado com a situação. Sabia que aquilo ia acabar dando merda! Olhei para , parada enfrente ao balcão junto com Paul. No rosto de ambos era claro que haviam sido pegos de surpresa. , no entanto, além de surpresa parecia muito abatida com algo. Nunca a tinha visto assim.
- Eu deveria saber no momento em que vi você naquele banheiro do bar! – parou na frente de – Devia saber que era uma...
- ! – exclamei a interrompendo – Pára.
estava parada, sem fazer nada e parecendo, apesar de tudo, muito tranqüila, como se nem estivessem falando com ela.
- Tem razão, ela não vale a pena – provocou olhando de cima a baixo – Só tenho pena que prefira ela ao invés de mim.
Fiquei quieto. Paul ficou sem entender, bufava de ódio e apenas revirou os olhos.
- Quem é você afinal? – Paul perguntou não sendo muito simpático com . riu baixinho.
- Deixa pra lá! – bufou – A nossa conversa já acabou ? – perguntou se virando para mim.
- Eu...
- Agente se vê mais tarde – me interrompeu sem esperar minha resposta e saiu em largas passadas do quiosque. a olhou, depois sorriu para mim e Paul dizendo:
- Ela ta no lugar certo, a Califórnia é o melhor lugar para atrizes.
Paul riu e eu fiquei sério. Não sei bem, mas não tive vontade nenhuma de rir. então me olhou com mais atenção, ficando séria também.
- Você quer ir atrás dela? – ela perguntou ainda me olhando. Eu a fitei por alguns instantes, algo no jeito que ela me olhava não estava certo. Eu a conhecia bem o suficiente agora para saber que alguma coisa tinha acontecido nesse meio tempo de horas que ficamos sem nos ver.
- Não, vai ficar bem – respondi, dando um passo para frente, na direção dela. – Você está bem? – quis saber.
- Hum – fez dando de ombros – Vem aqui – disse depois com a voz fraca, me chamando com o dedo e um sorrisinho meigo. Eu ri brevemente e fui até ela.
- Que foi? – perguntei enquanto ela envolvia os braços em volta de mim e me apertava forte – , o que aconteceu?
- Nada – murmurou aconchegando sua cabeça em meu ombro – Eu só quero poder estar com você – sua voz tremeu.
- Bom, você está comigo – falei encostando meus lábios perto de seu ouvido. – E agora não existe mais nada nem ninguém que possa te tirar de mim.
- Você terminou com , não é?
- Aham.
Ela suspirou longamente, ainda com sua cabeça aninhada no meu ombro. Paul, que agora limpava alguns copos sujos, virou para nos olhar e sorriu.
- Ela ama você – disse sem emitir som algum com os lábios e piscou. que estava de costas para ele não notou e eu sorri de volta pra ele.
- Vamos sair daqui – ela disse se soltando dos meus braços e segurando minha mão – Quero ficar sozinha com você.
- Parece divertido – beijei seus lábios brevemente. E ela riu docemente.
- Te vejo depois, Paul! – acenou para ele e eu fiz o mesmo. Começamos a caminhar pela calçada que ladeava a praia de mãos dadas, indo na direção oposto ao que fluxo de pessoas ia, para o lado contrario do quiosque de Paul.
- Onde você esteve hoje? – eu perguntei um tempo depois, fazendo carinho na mão dela com meu polegar. Ela parecia gostar.
- Ah é – sorriu para mim – Não me desculpei por ter desaparecido sem mais nem menos da gravadora – me deu beijo na bochecha – Desculpe por aquilo. Como foi lá? – quis saber depois. Por algum motivo não parecia realmente curiosa em saber.
- Não muito bem – amenizei não querendo dizer “nos rejeitaram e eu tomei um soco de ”. – Não conseguimos o contrato.
- Na verdade, eu já sabia – confessou e eu a olhei sem entender – Eu estava lá quando Finnigan começou a dizer no meio dá apresentação de vocês que o McFLY não servia. – ela revirou os olhos – Ele é um estúpido! Não entende nada. Vocês são ótimos!
Eu suspirei fundo, queria mudar de assunto, mas ao mesmo tempo gostava de escutá-la falando com tal carinho sobre a banda.
- Obrigado – aproximei meus lábios e beijei sua testa, abraçando-a de lado em seguida. - E então, para onde foi quando sumiu da gravadora?
abriu a boca em sinal que ia dizer alguma coisa, mas depois pareceu pensar direito e desistiu.
- me ligou, ela tinha essa emergência com Mary e as outras garotas.
- Que tipo de emergência? – perguntei franzindo a testa.
- Besteira delas que na hora pensei ser sério – soltou uma risadinha – Agora me diga, , e estão bem? Eu quero dizer, com esse negocio da gravadora e tal.
- Eles estão bem, não felizes, mas bem – me lembrei de e nossa briga. Senti uma pontada de tristeza no peito.
- Vocês vão ficar bem – falou sem mais nem menos, olhando para nada. Eu poderia apostar que sua cabeça agora estava longe dali – Vão acabar conseguindo.
Eu não entendi o que ela quis dizer, mas também não fiquei pensando sobre isso. Eu estava mais interessado em pensar sobre nós, sobre como era gostoso andar abraçado a ela. Depois disso fizemos silencio. Não falamos mais nada, apenas olhamos as pessoas passarem por nós na calçada e sentimentos o vento frio bater sobre nossos rostos. Estava ficando realmente gelado, mas eu não sentia nenhum um pouco de frio, acho que tão pouco , eu podia sentir sua pele quentinha.
- Onde estamos indo exatamente? – quis saber algum tempo depois e puxou minha mão para o lado.
- Aqui – disse caminhando para a praia e pisando na areia. – Um pouco mais a frente na verdade.
E nós fomos até a ponta da praia, onde as ondas estouravam em alto e bom som contra as rochas escuras e havia um farol de barcos iluminando o horizonte ao longe. Estava completamente deserto, talvez estivesse frio demais para as pessoas estarem ali, ou escuro demais... O céu estava coberto por nuvens pesadas e não podíamos ver a lua ou as estrelas nele.
- Se fosse de dia você poderia ver South Beach, bem ao lado daquela montanha – apontou sombras altas no horizonte.
- Hmm – eu não consegui ver nada – E o que tem em South Beach?
- Eu odeio – ela respondeu suspirando enquanto seus olhos se perdiam na escuridão das ondas. Outra vez fiquei sem entender, mas era cheia dessas.
- Amanha vamos comprar nossas passagens para a Inglaterra – eu me lembrei enquanto a via se sentar na areia. Agachei-me e sentei ao lado dela.
- Isso é bom – disse fazendo desenhos na areia com a pontinha do dedo.
- Quando chegarmos lá... Você vai querer ir ver sua avó? – perguntei tomando cuidado com as palavras. Ela imediatamente olhou para o outro lado e eu não pude ver seu rosto quando disse.
- Se ela ainda estiver viva...
- Não diga isso. – eu a puxei para abraçá-la e ela encostou a cabeça no meu ombro enquanto nós dois olhávamos o nada na escuridão do mar a nossa frente. Ficamos em silencio por um longo tempo. Eu não poderia dizer exatamente por quantos minutos, mas foi o tempo suficiente para minha cabeça começar a criar cenas. Imaginava o momento em que eu entraria no avião de volta para a Inglaterra junto com . já estaria rindo com nós dois, sabendo que éramos destinado a ficar juntos, já teria esquecido toda aquela besteira que e eu não servíamos um para o outro. Então ela e eu sentaríamos lado a lado na poltrona, faria uma piada imbecil e tentaria manter entretida com algo. estaria sentada sem sorrir, mas logo se cansaria de ficar emburrada. E depois de nove horas desembarcaríamos em Londres e pegaríamos um taxi. dormiria na nossa casa na nossa velha cidadezinha idiota e pela manhã estaríamos indo a algum lugar tomar café enquanto os outros ainda dormiam.
Abraçado a ela naquela praia escura, eu poderia imaginar meu futuro inteirinho. Poderia continuar por horas a fio sentando naquela areia vendo e revendo as nossas cenas futuras... Teríamos um final feliz depois de tudo.
- e – ela falou de repente e eu a olhei escrever nosso nome junto na areia. – Não combina muito, combina?
- Claro que sim – eu disse assinando meu próprio nome embaixo do dela – É como Romeu e Julieta – brinquei e ela soltou uma risada alta.
- Romeu era gay, com certeza!
Minha vez de rir alto.
- Ele não era gay, era só romântico - falei e ela fez uma careta totalmente infantil. - Você é linda – falei a beijando de leve nos lábios e depois roçando nossos narizes.
- Nós somos lindos - Ela me olhou no fundo dos olhos e me beijou de verdade, deixando nossos lábios se movimentarem um contra o outro e nossas línguas fazerem movimentos circulares juntas enquanto sentiam o gosto uma da outra.
O gosto de era melhor do que qualquer garota poderia sonhar em ter.
- Te amo – falei quando paramos de nos beijar. Nossas testas estavam juntas e podíamos ver cada detalhezinho dos nossos rostos.
- Ama? – perguntou mordendo o lábio. – Tipo, pra sempre? Não importa o que aconteça?
Sorri de lado e franzi levemente a testa. Ela nunca tinha me perguntando coisas desse tipo.
- Pra todo o sempre – respondi roçando meus lábios de leve nos dela – e depois disso também. Não importa o aconteça.
Ela sorriu de olhos fechados e em seguida beijou a pontinha do meu nariz.
- Eu também. – disse baixinho - Você é o garoto da minha vida, .
Meu coração pulo contra meu peito. Isso era único.. Não haveria definitivamente dois momentos em que diria uma coisa dessas. A olhei com mais atenção, se é que era possível, e fechei os olhos, tentando guardar aquela fala, o jeito que ela me olhava e modo como estavam abraçados juntinhos. Eu teria que me lembrar daquilo para sempre.
- Isso foi totalmente romântico, senhorita anti-romantismo – falei um tempo depois, sorrindo maroto e a beijando mais uma vez. Ela riu entre o nosso beijo.
- Pois é, talvez nós pudéssemos ser Romeu e Julieta no final das contas.
- Não – eu disse rindo também – nós somos atrapalhados demais para isso. Quem sabe pudéssemos ser uma parodia, tipo Julieu e Romieta. – brinquei e então nós nos olhamos fazendo exatamente a mesma careta. Logo em seguida não agüentamos e duas gargalhadas foram ouvidas na praia. afastou os lábios dos meus e jogou a cabeça para trás rindo muito.
Aproveitei a chance e beijei seu pescoço enquanto também ria feliz.
- Isso foi muito bobo! – ela disse.
- Você que é boba – retruquei brincando e distribuindo beijos por todo o seu pescoço. revirou os olhos e bagunçou meus cabelos. Eu adoro quando ela mexe nos meus cabelos!
Mordi o lábio e continuei meu caminho de beijos, passando minhas mãos por debaixo da blusa dela. Eu senti seu corpo ficar tenso com o toque dos meus dedos... Isso nunca tinha acontecido.
- Você está bem? – murmurei preocupado perto de seu ouvido.
- Estou – respondeu no mesmo tom – É só que... eu nunca fiz isso na praia – falou dando um sorrisinho e me puxando para mais perto.
- Existe tantos lugares que nós nunca fizemos... – disse beijando seu queixo e subindo até seus lábios. – Mas não precisamos fazer isso aqui se você não quiser.
- Não, eu quero – sua voz era calma e intensa ao mesmo tempo. Então eu a beijei e ela me beijou de volta, com mais vontade do que o normal. Suas mãos passaram pelas minhas costas e eu a deitei sobre areia delicadamente, ficando por cima dela. Nós nos beijamos lentamente, muito lentamente. Nunca tínhamos feitos isso antes. Foi maravilhoso. Eu podia sentir cada movimento da língua dela, cada suspiro, cada toque dos seus lábios sobre os meus como um carinho maliciosamente inebriante. Deslizei minhas duas mãos até seu pescoço e a puxei para mim.
Meu coração acelerou quando senti as mãos de percorrer minha barriga e pararem no fecho da minha calça. Notei, ou achei ter notado, suas mãos trêmulas...
- Eu vou sentir saudade – sussurrou no meu ouvido entre um suspiro inebriado.
- O que? – fiquei confuso e a olhei por um instante.
- Vou sentir saudade... da Califórnia – explicou com um sorriso nervoso.
- Você está mesmo pensando nisso agora? – perguntei rindo de leve e voltando a beijá-la. não me respondeu, colou depressa seus lábios nos meus e me calou da melhor maneira possível. Continuamos nos beijando por um longo tempo. Eu levantei sua blusa, descobrindo sua barriga e tocando em cada pedacinho dela. Nossas respirações começaram a ficar aceleradas, as mãos dela abriram o botão da minha calça. Não podíamos mais esperar, precisamos de um contato direto, de pele sobre pele e...
- Ah não – eu gemi baixinho, beijando a pele macia de seu pescoço, quando meu celular tocou no meu bolso de trás. fechou os olhos e mordeu os lábios.
- Vê quem é – falou num tom de voz estranho e ofegante. Pro inferno com quem diabos fosse!
Eu dei de ombros e voltei a beijá-la, não ligando a mínima para o toque do telefone. A pessoa que estivesse ligando poderia ser o papa, mas teria que esperar.
, atende. – me empurrou levemente para longe. Eu soltei um muxoxo, ainda olhando os lábios perfeitos dela.
- Não quero atender – reclamei fazendo um biquinho involuntário, tentei voltar a beijá-la, mas virou o rosto. – Qual é, ?– reclamei de novo.
- Atende.
Bufei desgosto e, sem saída, peguei o celular no bolso de trás da calça.
- É só o ! – avisei já querendo guardar o celular. Ela segurou minha mão.
- Vê o que ele quer. Pode ser importante, você não vai querer perder algum outro ensaio ou coisa assim, vai? – ela disse e eu pensei duas vezes. Era nisso que tinha razão hoje mais cedo quando veio conversar comigo no hotel. Eu ficava totalmente irresponsável quando estava com ! Esqueci de tudo completamente e só me lembrava dela! Até mesmo já estava notando isso agora...
Suspirei brevemente e apertei o botão aceitando a chamada.
- Que ? – perguntei ainda sem vontade nenhuma de falar com ele e me sentando novamente sobre a areia. fez o mesmo a meu lado. Eu só esperava que ele tivesse algo realmente importante para me dizer e interromper aquele momento.
- ! ! ! – ele gritou no meu ouvido e eu pude ouvir a risada de ao fundo – Você não vai acreditar nisso cara! – ele parecia excitado. Franzi a testa e olhei de esguelha para . Ela estava abraçando as pernas agora, o olhar perdido no nada e se balança quase imperceptivelmente para frente e para trás.
- Que aconteceu, ?
- Você não vai acreditar! – ele repetiu alegremente – Eu... Ah cara! – gargalhou bestamente.
- Ótimo, você está bêbado! – eu exclamei não podendo deixar de rir.
- Não, não é isso! – ele apressou-se a dizer – Ok, vou falar. Nós temos outra chance – sua voz agora estava nervosa – É, é isso. nós temos outra chance em uma gravadora! – terminou gritando no meu ouvido tamanha era sua alegria.
Eu demorei um segundo para entender o que tinha acabado de escutar.
Era isso, pensou assim que escutou a voz de exclamar feliz do outro lado da linha, agora receberia a noticia e ela teria que dizer “até logo” enquanto sabia que na verdade deveria estar dizer “adeus”. Voltou a se balançar para frente e para trás, rezando para que não percebesse sua agonia crescente.
- Calma, como assim? – eu tentei me manter calmo, mas meu coração estava querendo pular pela garganta – Outra chance? Finnigan...
- Que Finnigan nada! – riu feliz – Quem precisa de Finnigan quando se tem a UMG querendo que sua banda participe de um festival que pode lhe dar um contratado milionário!
Eu levei à mão a boca e soltei uma grande quantidade de ar dos meus pulmões. Logo em seguida gargalhei alto e fiquei em pé imediatamente. Eu queria idiotamente sair pulando pela praia. se levantou ao meu lado e me olhou atentamente, obviamente não entendendo nada.
- Explique direito – eu pedi sorrindo bobamente para . Ela apenas me deu um sorrisinho.
- Amanhã vai fazer esse festival de bandas novas que, aparentemente, a UMG organiza a cada dois ou três anos em South Beach - ele começou e eu olhei para alem das sombras negras no horizonte que tinha apontado antes – Eles vão começar com as apresentações as sete horas da noite e terminam as nove. São, acho eu, que somente seis bandas disputando, mas esse ano serão sete! O McFLY é a sétima! – ele exclamou não podendo se conter – Não sabemos como, cara, nem Fletch sabe, mas eles abriram uma exceção para nós, para nossa banda! – e soltaram exclamações altas em algum perto dele – Teremos que dar nosso melhor em quinze minutos e depois, se vencermos... Vamos assinar o contrato na mesma noite com a gravadora e PUM! Gravar um Cd!
Eu escutei cada palavra de sem acreditar que realmente estava escutando. Parecia bom demais para ser verdade, bom demais para ser comigo, para ser com nós do McFLY!
Meu peito quis explodir e eu passei as mãos pelos cabelos nervosamente, começando a andar de um lado para o outro sobre a areia.
- Então... – eu tentei falar, mas fui logo cortado.
- Então não me importa onde você esteja, você precisa vir para o hotel agora! – mandou depressa – Temos essa ficha que Judith nos deu e temos que entregá-la para os caras da gravadora em South Beach em meia hora. Você precisa preencher seus dados, assinar e...
- Já estou indo! Te vejo daqui a pouco, cara! – as palavras começaram a se atropelaram de tanta ansiedade – Tchau! – me despedi desligando sem esperar uma resposta.
Eu precisava correr!
Olhei parada na minha frente... - Amor! – eu exclamei sorrindo alegremente e postando minhas duas mãos em sua cintura – Você não vai acreditar! – a abracei forte e levantei do chão, a girando no ar. – Finalmente um pouco de sorte! – falei colando meus lábios nos dela com um selinho demorado. – Nós vamos tocar amanha num festival de bandas da UMG e...
- Se ganharem vão assinar um contrato. – completou se afastando do meu abraço. Eu franzi a testa, sorrindo para ela.
- Como você sabe? Pensei que...
- Eu moro na Califórnia há algum tempo, – me interrompeu – E você me conhece. Festas, festivais... qualquer coisa por diversão – ela disse sem emoção. Eu continuei sorrindo.
- disse que nós fomos incluídos como uma exceção! Que por acaso, de alguma forma... Sei lá! Não é incrível? – eu estava tão animado que chegava ser retardado.
- É demais! – sorriu de volta para mim – Eu sabia que vocês iam acabar se dando bem – ela piscou e foi a coisa mais fofa que eu já tinha visto. Ela se achou nojentamente dissimulada. Sorrindo por fora, querendo se afogar em lagrimas por dentro. Eu cheguei mais perto, para beijá-la uma ultima vez antes de ir até o hotel. fechou os olhos, suspirando pesadamente quando meus lábios quase tocaram os dela.
- Eu vou precisar ir – eu disse dando pequenos beijinhos em seus lábios - Preciso preencher uma ficha e acho que vamos querer combinar as coisas para amanhã. Você não se importa de voltar sozinha até a casa da ?
Eu a esperei responder por um longo tempo. Cheguei até a achar que ela não tinha me escutado. Continuava de olhos fechados, retribuindo da mesma forma meus beijinhos em seus lábios. Sua respiração estava por algum motivo descompassada e rápida demais para ser normal, mas sua expressão, por outro lado, era tranqüila. Talvez tivesse programado algo para nós dois aquela noite e eu estava desfazendo seus planos com a noticia que precisaria ficar no hotel com os caras. Me senti mal por isso.
- Desculpa – eu disse imaginando que ela deveria estar triste – Mas podemos fazer algo juntos amanhã depois do festival, que tal?
- Hum-hum – concordou finalmente abrindo os olhos. Suas mãos tocaram minhas bochechas e depois deslizaram até meu pescoço.
- Eu queria poder ficar com você – disse baixinho. Os olhos dela percorriam todos os detalhes do meu rosto.
- Não pense nisso – ela mordeu o lábio – Você sabe que tem que ir. , e estão te esperando. – lembrou. E lá estava ele outra vez, querendo enfiar os pés pelas mãos e acabar, quem sabe, arranjando uma nova briga com os amigos. a cada segundo só tinha mais certeza do que o que estava planejando era o certo para os dois. - Quando chegarmos à Inglaterra vamos passar todos os dias juntos, eu prometo – eu a abracei mais forte – Vamos ir falar com seu pai, ir ver sua avó... Podemos até ir morar juntos, só nós dois e...
- Morar juntos? – ela riu de leve, de repente sua voz estava tremula.
- É, - eu desejei não corar – eu estive pensando nisso, sabe? Nós dormindo todos os dias no mesmo quarto, tomando banho no mesmo banheiro...
colocou o dedo sobre meus lábios.
- Apenas me beije, – ela murmurou tão baixinho que eu quase não a ouvi. Nossos lábios se colaram, se uniram como um só e algo naquele beijo foi “mais” do que os outros. Não foi um beijo qualquer. me abraçava com força, me puxava para si como se não quisesse nunca mais me soltar. Pela primeira vez eu senti, literalmente senti, o coração dela batendo acelerado contra o peito. Aquele momento era mais um que seria único, eu podia sentir pelo modo com os lábios dela procuravam o meu, talvez houvesse um pouco de desespero e/ou desejo demais. De algum modo eu soube que aquilo não voltaria a acontecer. Esse seria um daqueles beijos que nós lembraríamos para sempre. e eu. Como aquele primeiro na casa de sua avó, há anos atrás, o depois daquele, quando acordamos pela primeira vez juntos na cama e o nosso primeiro beijo quando nos reencontramos ali na Califórnia...
- Então... – ela separou nossos lábios e eu a olhei nos olhos. Tentando ter uma explicação para aquilo. – É melhor você ir.
tinha que fazer aquilo rápido. Tinha que o mandar embora depressa antes que não conseguisse mais. Ela já podia sentir a velha nascendo de novo dentro dela... Assim que lhe desse as costas naquele momento na praia, estaria dizendo adeus não somente para ele, mas também para toda aquela historinha de poder chorar, ‘eu te amo’ e paixonites. Seu peito doía e seus olhos queimavam horrivelmente em sinal das lagrimas presas com tanto esforço na sua encenação de ‘te vejo amanhã”. Ela o veria amanha, não seria uma completa mentira, mas o veria não para lhe beijar e abraçar, mas sim para lhe fazer desistir de uma vez por todas da pessoa que estava só estragando sua vida. Como dissera, estaria melhor com , ou com qualquer outra garota... Sentia como se estivesse morrendo, como se fosse lhe arrancar a vida quando voltasse para o hotel. Era trágico demais, mas era o que estava sentindo e ela não podia negar que por mais que fosse tentar aparentar indiferença e frieza no dia seguinte, quando começasse seu discurso falso, ela estaria querendo gritar de dor.
- Eu tenho que me apressar – eu disse a olhando sorrir meigamente para mim. – Desculpa não poder te levar até a casa da...
- Apenas vá, me abraçou rápido demais – Te vejo amanha?
- Te ligo. – confirmei caminhando de costas enquanto me afastava devagar, ainda a olhando.
- Não precisa, te encontro em South Beach – sorriu docemente e acenou para mim enquanto eu sorria feliz de volta, agradecendo ao mundo por tudo estar tão perfeito em minha vida.


Capítulo 14.

O sol ia nascer dali meia hora e ela estava na janela do quarto de hospedes da casa de . A fumaça do cigarro ia e vinha do seu pulmão enquanto sentia cada pedacinho do seu corpo negar-se a ir até a praia em South Beach e encontrar . Por sorte não era seu corpo ou seu coração que mandava e sim ela e sua cabeça. Nada do que ia dizer hoje para tinha sido decidido escutando seu coração que teimava em dizer que o amor iria dar um jeito de fazer as coisas ficarem certas. Obviamente, seu coração estava errado, estava apaixonado e cego demais para poder enxergar que ela estava estragando as coisas na vida de . O fazendo esquecer do McFLY, discutir com as pessoas, com , que sempre fora seu melhor amigo. Fazendo com que e se magoassem. O fazendo brigar em gravadoras e com caras idiotas como Travis, perder oportunidades, brigar em bares em Beverly Hills... E tudo isso por quê? Por amor? Que se danasse o amor se ele era para ser assim! Se amor era para ser auto-destrutivo então iria fazer viver sem amá-la e ela... Bom, ela poderia o amar. O amaria sem esperar nada em troca. já tinha feito muito. Já a tinha feito uma pessoa melhor, capaz de se apaixonar, de amar, de se deixar amar, de enxergar o outro antes de si... com certeza o amaria para o resto da sua vida, doeria no começo lembrar-se de tudo que tinham tido juntos, mas apenas no começo. Depois iria entender que se as coisas não tivessem sido assim, possivelmente no futuro continuaria cometendo os mesmo erros por culpa dela. Então quem sabe os dois estariam juntos, mas depois de , e desistirem de por não o agüentarem mais, ele se tornaria uma pessoa amargurada e raivosa e veria nele e nela o exato mesmo fim de seus pais.
- Ugh – ela fez engolindo em seco a repentina vontade de vomitar que aqueles pensamentos trouxeram. Não podia pensar em nada pior do que acabar como seus pais.
O sol já tinha nascido e ela sequer notara. Deu o ultimo trago no cigarro e saiu da janela. Precisava de café agora. Certificou-se que de que seu celular em cima da cama estava desligado para que não precisasse atender e desceu as escadas da casa de . Quando entrou na cozinha encontrou o Sr sentado a mesa comendo um grande sanduíche natural. Os pais da amiga tinham voltado no dia anterior.
- Querida, acordada tão cedo?- ele perguntou enquanto se encaminhava até a cafeteira.
- Às vezes gosto de acordar para ver o por do sol – ela respondeu servindo café em uma xícara amarela. O Sr fez sinal para que sentasse a sua frente.
- Então você e resolveram dar uma festinha aqui em casa enquanto não estávamos, não é mesmo? – perguntou a olhando por cima do sanduíche que comia. deu seu melhor sorriso “sou inocente”.
- Neil não consegue calar a boca, certo? – disse espontânea.
- Não estou realmente bravo – continuou – Mas acho que a historia da policia vai fazer ficar de castigo por algum tempo e, alias, se você for morar aqui conosco por uns tempos, vai ficar de castigo também.
- O que? – a voz dela saiu meio risonha – Eu nunca fiquei de castigo.
encolheu os ombros e sorriu.
- Nós gostamos de você, – ele a olhou – Nós sabemos que seus pais na Inglaterra eram liberais, mas aqui não vai ser bem assim.
“Liberais” era essa a palavra que usava quando alguém lhe perguntava sobre seus pais.
- Fazer o que né – sorriu fracamente. Ela gostava dos , eles eram muito legais com ela, não queria faltar com respeito. E apesar, sua janela do quarto não era tão alta assim. - Mais café? – perguntou depois indo até a cafeteira.
- Sim, por favor. – entregou sua xícara – Você e a Sra fizeram boa viajem? – ela perguntou sendo perfeitamente educada – Espero que não tenham trabalhado muito.
- Ah querida, nós sempre trabalhamos – ele voltou para a mesa e lhe devolveu a xícara cheia de café – Acordávamos todos os dias mais cedo do que você possa pensar e...
fingiu prestar atenção em toda a historia do pai de . Não estava realmente interessada quando perguntou, mas sabia fingir. Às vezes, enquanto ele ia falando de quão atarefados ele e a mulher, que ainda dormia no andar de cima como , estavam nos últimos dias, ela imaginava . Imaginava se dali a algum tempo, depois que o McFLY assinasse com a gravadora hoje a noite – porque ela sabia de alguma que eles iriam vencer o festival - ele iria aparentar ser tão ocupado com as coisas da banda como o Sr parecia ser com suas empresas de cinema e som.



(...***...)


Nós quatro, ou melhor, cinco, contando com Fletch, estávamos uma pilha de nervosos. Havíamos terminado Room on the Thrid Floor e decidido tocá-la a noite no festival. Fletch tinha saído cedinho para comprar nossas passagens de volta para Londres e e tinham ido com ele. Pedi que comprassem a passagem de também e achei que fosse comprar a sua para outro horário para que não precisasse ficar olhando e eu juntos, mas não. Ela resolveu ficar por causa do festival, achou que já que estava lá com nós deveria ficar até o ultimo momento. Ela é legal. Estava falando comigo normalmente, como se fossemos amigos, às vezes eu a apegava me encarando bobamente, com os olhos perdidos em algum movimento do meu cabelo ou das minhas mãos, mas alem disso nada demais. às vezes cochichava alguma coisa para ela e eu sabia que era algo a ver com , algo maldoso. Mas eu não ligava, não ligaria, na verdade não daria a mínima. Ela era demais!
- Eu vou ter um treco, cara! – disse me abraçando pelo ombro. Nós já estávamos numa boa, éramos realmente idiotas. Nós brigávamos e depois ficávamos como dois tontos dizendo: “desculpa”.
- Eu quero tocar Broccoli! – falei andando abraçado com ele pela rua até o carro.
- Podemos tocar, ué – ele falou sorrindo. e já estavam nos esperando no carro para irmos até South Beach e fazer a passagem de som para a nossa apresentação dali há algumas horas.
- Então vamos tocar Broccoli – anunciei pulando para dentro do carro.
- “And I just wanted her to let me know she cares...” – cantou de repente, rindo da minha cara.
- “ I know she cares, she cares! Yeah, she cares!” – eu cantei de volta e todos gargalharam felizes de nada e de tudo. deu a partida no carro e se ajeitou no banco de trás ao meu lado.
Aquele ia ser o melhor dia de nossas vidas, eu podia sentir em mim que seria.


(...***...)


Eram quatro horas da tarde e tagarelava andando de calcinha pelo quarto enquanto ficava indecisa qual roupa deveria usar para ir ao tal festival. estava deitada em sua cama, lendo um livro sobre a vida de Marilyn Monroe.
- me ligou avisando que eles já estão na praia passando o som e que me quer lá o mais cedo possível! – ela falou cheirando a manga de uma blusa preta para se certificar que estava limpa – Não falou com hoje?
- Ela era maluca! – com fingiu não escutar a pergunta e abaixou o livro, encarando – Sabe, Marilyn Monroe chegou um dia a ficar quatro horas em frente a um espelho procurando sinais de velhice... Que loucura!
- ! – bufou indo até a amiga e puxando o livro de sua mão – Você pode, por favor, ao menos prestar atenção no que eu estou te dizendo? Faz horas que estou te pedindo uma opinião com as roupas e você...
- Seu celular – com anunciou sorrindo meigamente quando o telefone começou a tocar. Salva pelo gongo!
- Boba – mostrou a língua para ela e pegou o celular em cima da penteadeira o atendendo. voltou sua atenção para o livro. – ! Amor eu... Ah, - ela de repente riu – desculpe, pensei que você o . Hmm, não sei, mas só um pouquinho, ela está aqui me ignorando! – disse olhando feio para , ela sentiu como se seu coração tivesse parado de bater – Vou passar pra ela. Até daqui a pouco! – virou-se para a amiga na cama e estendeu o celular – Toma, é o .
balançou a cabeça para , fazendo sinal para que ela dissesse que não estava, mas já era tarde demais, ele já sabia que ela estava ali.
- Alô? – disse ficando pálida. a olhou incrédula, sem entender nada e sentou-se na ponta da cama, prestando atenção.
- com ! Eu tentei te ligar, deixar varias mensagens e ...
- Eu estou ocupada agora, depois agente se fala. Tchau! – e desligou o mais depressa. arregalou os olhos.
- O que foi isso? – perguntou. – Eu pensei que vocês estavam juntos pra valer, não que era mais um como Travis.
fitou o celular ainda em sua mão, não acreditando no que acabara de fazer. Suas mãos começaram a tremer e talvez ela desmaiasse. Rezou para que o celular tocasse outra vez... Se ele tocasse, ela desistiria de tudo! Ia fingir que nunca tinha pensando em terminar com e que se danasse! Ela só queria ! Só ele!
O celular não voltou a tocar.
- Ah meu Deus – por um momento não soube o que fazer quando viu a amiga chorar pela primeira vez em dois anos que se conheciam. – , o que foi?... – ela a abraçou forte, afagando os cabelos da amiga. Pela primeira vez se sentiu verdadeiramente amiga de . Não que antes não fossem, mas é que apesar de sempre estarem juntas, nunca tinham sido sinceramente intimas, pelo menos não .
- Eu não sei o que fazer, – ela confessou tentando controlar as lagrimas – Eu preciso que você me ajude.
- Calma, – respondeu olhando a amiga – Eu vou ajudar, apenas não chore assim. O que está acontecendo?
limpou as lagrimas e respirou fundo, então começou a falar tudo...Contar exatamente tudo o que ia fazer com e porque faria.




(...***...)


Eram cinco horas e o sol estava se pondo na praia de South Beach. A área onde o festival ia acontecer estava cercada na areia. Havia um palco não muito grande, mas bom o suficiente para todas as bandas tocarem. Ao lado do palco estava montada uma bancada de jurados, com cadeiras brancas de plástico. Pessoas já andavam para lá e para cá, inclusive os membros das outras bandas, o pessoal da UMG e Paul Kazanskis, que por sinal, parecia muito bêbado. e agora terminavam de passar o som dos seus instrumentos e eu estava sentado sobre um amplificador, pensando em... adivinha? .
- ! – escutei exclamar animado passando por mim depressa enquanto descia do palco até a areia. estava lá, parecendo meio abatida com algo, o esperando. Eles teriam que se despedir amanha no aeroporto quando voltássemos a Inglaterra. Coitados, era visível que estavam começando a se apaixonar de verdade. Eu não queria estar no lugar de ou de , dizer adeus nunca é fácil e...
!
Ela também estava lá, só agora eu notava, mas estava mais ao longe na extensão da praia, me encarando. Pulei de cima do amplificador sorrindo e desci do palco quase correndo até ela.
Eu não vou conseguir. Não vou. Eu pensei que poderia fazer, mas não posso” pensava enquanto via vindo em sua direção. Podia ver sentada junto com num canto ao lado do palco, pronta para consolar assim que ela quebrasse seu coração. Pela primeira vez em toda sua vida teve vontade de socar a cara de uma garota, de lhe arrancar os cabelos e afogá-la no mar.
a olhou de longe, dos braços de e sorriu fraquinho como se quisesse encorajá-la. Pelo menos teria ela quando começasse a odiar. No final das contas as duas ficariam sozinhas e juntas. não teria e ela não teria .
- ! – ele exclamou assim que parou a sua frente, já vindo a abraçar. Ela se encolheu como se tivesse medo do que o toque dele pudesse provocar e se afastou, fugindo de seus braços.
- – ela forçou o sobrenome dele a sair. Sua voz estava firme e ela poderia o fazer acreditar plenamente numa gargalhada inteiramente falsa se quisesse.

Franzi a testa a olhando. Fazia tanto tempo agora que ela não me chamava pelo sobrenome que soava totalmente estranho.
- O que você tem? – perguntei a olhando desviar o olhar para o mar ao nosso lado.
- Estou cansada – respondeu sem emoção, ainda sem me olhar.
- Hmm – fiz analisando a expressão em seu rosto. Parecia meio chateada em estar ali. – Sabe o que nós compramos hoje? – eu falei me lembrando – Nossas passagens para Londres! Estão na minha mochila. – sorri animado. Ela não respondeu.
- Eu não sei como dizer isso – começou de repente, finalmente me encarando -, mas eu não vou para a Inglaterra com você.
O sorriso no meu rosto aos poucos foi desaparecendo. Eu pisquei algumas vezes, a olhando com a testa franzida. Eu não podia ter entendido direito.
- Me desculpe, – outra vez usou meu sobrenome – Eu pensei que você perceberia mais cedo ou mais tarde, mas não, você apenas continuava acreditando em tudo.
- Acreditando em tudo? – minha voz confusa.
- Mas não se preocupe você vai ficar bem – sorriu espontânea – Você não precisa de mim.
Eu balancei a cabeça, como se estivesse ficando louco. Eu não estava entendo nada, estava escutando coisas...
- O que exatamente você está tentando me dizer, ? – perguntei chegando mais perto dela – Que nós... – eu não ia conseguir terminar aquela frase. Ela me olhava como se sentisse pena de mim, apenas pena e nada mais.
- Não existe nós suspirou – Nunca existiu. É o que estou tentando te dizer – sua voz era calma e sua expressão ilegível - Eu gostava de estar com você porque era divertido, e é isso que eu sei fazer, me divertir. Mas você não parecia estar apenas se divertido, você parecia estar indo fundo demais em algo que eu não sentia.
- Você disse que me amava – eu adverti com uma dor crescente no peito, me recusando a acreditar que eu estava mesmo ouvido tudo aquilo – Pare de dizer besteiras, se eu estava indo fundo demais você estava indo junto comigo! – meus olhos arderam e eu senti tontura.
- Não, eu fiz você acreditar que eu estava indo junto, – ela revirou os olhos – Não seja tão inocente! De outro jeito eu não teria como ter me livrado de Travis...
- Você não pode estar falando sério – eu desacreditei rindo de nervoso – Ninguém seria tão friamente interesseiro!
- Bom, eu fui – encolheu os ombros indiferente.
- Não pode ser! – neguei querendo parecer furioso, mas apenas soando como uma suplica tola - E quando eu falei que iria embora e você correu atrás de mim, me implorando para que ficasse e disse que me amava? – perguntei me lembrando da cena de apenas dois dias atrás – Você disse aquilo olhando nos meus olhos e chorando, ! E ontem a noite toda aquela cena na praia e...
- Eu seria uma boa atriz, não é? – ! interrompeu sorrindo altiva. – Sabe, eu posso dizer quantas vezes quiser que eu te amo, e fazer você acreditar de novo e de novo sem ao menos pensar que estou mentindo. Eu poderia te dizer agora...
- Não! – eu a segurei pelos braços, a fazendo me encarar – Você não estava mentindo!
- Eu estava! – ela tentou se soltar, mas eu a segurei mais firme. – Me solta!
- Não! - eu podia sentir a respiração dela batendo em lábios – Se você estava sempre mentindo, então agora eu quero escutar a verdade! Diga, , olhando para mim que você não me ama!
- , eu... – ela hesitou.
- Eu quero escutar! – a balancei de leve pelos ombros - Vamos, diga!
Nossos olhos ficaram presos um no outro por algum tempo. A respiração de ficou rápida de repente e seus lábios se flexionaram um contra o outro como se estivesse engolindo em seco.
- Você não consegue, não é? – eu cortei o silencio e aproximei meus lábios dos dela – Você pode tentar, mas não vai conseg...
- Eu não te amo – me interrompeu. Sua voz estava firme e seus olhos fixos diretamente nos meus – Eu não te amo, . – repetiu enfatizando com cuidado cada palavra. Ela não parecia insegura e tão pouco estar mentido. Eu tentei procurar no fundo de seus olhos algo que mostrasse a falsidade aqui, algum tipo de hesitação, mas não havia nada, era como olhar por um vidro muito claro e não ver paisagem nenhuma através.
Soltei seus braços achando que meus pés não iam agüentar o peso do meu corpo. De repente eu não podia sentir nada, estava entorpecido. As palavras dela giravam na minha cabeça, na minha garganta havia algo me sufocando. Tudo ao redor estava lentamente começando a parecer distante. deu alguns passos para trás se afastando de mim enquanto respirava depressa.
- Eu não queria ter que dizer isso assim – lamentou, sem nenhum remorso, segundos depois. – Você...
- Está tudo bem, ? – estava lá de repente, bem atrás de mim. vinha vindo ao longe. Eu olhei por um instante, ela estava séria e sua expressão era pacifica.
- O que está acontecendo? – chegou perguntando. – Cara, você está pálido...
- Boa sorte com o festival – desejou começando a se virar para ir embora.
- ! – eu gritei exasperado o nome dela. Ou achei ter gritado, eu podia sentir agora claramente a coisa em minha garganta me tirando o ar – Você sabe que se sair dessa praia agora, no momento que der as costas para mim, - minha voz era só um sussurro enquanto eu tomava a real consciência do que estava acontecendo ali - eu vou te odiar para o resto da minha vida, não é?
tomou um segundo para responder, depois com a expressão indiferente, como se tivessem dito algo banal a ela, respondeu com a voz tranqüila:
- Eu não me importo. Adeus.
E então tudo pareceu acontecer em câmera lenta. Eu a vi dar as costas a mim, caminhar pela areia se afastando e afastando. Seus cabelos balançando em suas costas e suas mãos dentro do bolso. Ela estava indo embora sem olhar para trás, caminhando decidida para longe. O ar me faltou completamente, meus olhos arderam e eu senti as lágrimas correrem dos meus olhos enquanto e seguravam em meus braços para que eu não caísse de joelhos na areia. Eu não tinha mais força nas pernas ou em qualquer parte do corpo, meu peito doía com o esforço de chorar e minha garganta ardia seca.
- vamos levá-lo de volta para o hotel – a voz de era urgente e distante. Olhei para frente a procurando, mas não estava mais lá. Ela já tinha ido embora.
- ! – gritou enquanto passavam meus braços moles em volta dos seus ombros – !! Corre aqui!!
Eu deveria parecer ridículo. Deveria parecer bêbedo demais para caminhar, mas eu não poderia dar um passo sequer sem cair de cara na areia. Minhas pernas tremiam e minha pressão sangüínea deveria estar muito baixa porque eu sabia que poderia desmaiar a qualquer momento. Meus olhos estavam sendo lavados pelas lagrimas e eu podia sentir o gosto salgado delas na minha boca. Nunca achei que poderia chorar tanto na minha vida. Minha respiração saia em soluções altos e desesperados e muitas pessoas olhavam para mim penalizadas. Uma delas chegou a dizer que achava que alguém da minha família deveria ter morrido tamanha era a minha agonia em chorar.
Bom, alguém tinha mesmo morrido para mim naquela hora.
- Meu Deus! O que aconteceu com ele? – a voz de soou realmente desesperada. Um segundo depois e meus pés foram arrastados por e pela areia. – Ele está quase desmaiando! Nós deveríamos o levar a um hospital...
Em seguida tudo pareceu longe, como um se eu estivesse vivendo um sonho meio acordado. Eu estava de volta ao nosso carro e depois de volta ao nosso quarto no hotel sem a mínima consciência de como isso acontecera. Minhas costas bateram com força contra o colchão da cama e os rostos aflitos de , e foram a ultima coisa que vi.



(..***...)


O celular de tocou e ela o pegou tremendo mais do que nunca. Seus olhos estavam inchados de tanto chorar e já tinha vomitado três vezes desde que chegara da praia.
- Alô? – atendeu não se importando nem um pouco com os soluços chorosos que se misturavam a sua voz.
- Filha? – a voz de seu pai respondeu e soluços altos escaparem de sua garganta..
- Pai, por favor, pai – ela estava descontrolada, jogada no chão frio do banheiro, esperando a próxima vez que iria ter que vomitar – Eu preciso de você aqui, preciso que venha me buscar!
- Deus, filha, o que aconteceu? – a voz do homem estava agora atemorizada. Qualquer um ficaria aterrorizado se a pudesse ver naquele estado.
- Eu não quero falar nisso... Apenas preciso de você aqui. Não posso mais ficar sozinha, eu preciso de você pai!
- , eu... eu não posso ir – a voz dele tremeu – Não tenho como deixar a Inglaterra agora, não tenho dinheiro. Me desculpe.
- Não! Dê um jeito, eu sinto como se fosse morrer... – se sentia morta na verdade. Tinha morrido no momento em que havia visto pela ultima vez em sua vida.
- O que quer que seja que tenha acontecido, você é forte, vai ficar bem...
- Não dessa vez! Não dessa vez!
- , escuta – de repente sua voz ficou impassível – Eu não posso ir, mesmo que pudesse... Bem, tenho que te dar essa péssima noticia antes de qualquer coisa. – e ele ficou cuidadoso - Sua avó...
- Não! - desligou depressa o telefone e o jogou contra a parede. O aparelho caiu espatifado no chão, um pedaço para cada lado. Não ia agüentar escutar aquilo, não agora, não sem para ajudá-la... Outra vez sentiu a náusea em sua garganta e posicionou a cabeça perto da privada, esperando mais uma vez para colocar tudo para fora. Se fosse num outro momento, poderia achar que estava grávida, mas seu corpo tinha lhe dito horas atrás que seu ciclo ainda continuava normal. Então talvez estivesse doente, talvez a mesma coisa que sua avó. Talvez fosse morrer! Isso! Morrer! Era isso que ela queria! Iria sumir do mundo e a achariam gelada e pálida no chão do banheiro.
Depois de vomitar pela quarta vez, se levantou cambaleando do chão. Assim que abriu a porta do banheiro e olhou para sua cama, viu . Ela estava lá, agachadinha e chorando também...
- Oh graças a Deus, ! – ela correu da cama para abraçá-la - Eu pensei que você fosse fazer alguma besteira aí dentro.
- Eu queria ter feito – respondeu chorando nos braços da amiga – Alias , - ela a olhou de súbito – você pode ligar para aquele cara por mim? Pedir alguns daqueles comprimidos...
mordeu o lábio e apertou o abraço.
- Você não precisa daquilo, . Não faça isso.
- Você os toma às vezes, por que eu não posso? – soluçou alto. suspirou.
- vai embora amanha também... – ela ponderou por um segundo, a dor tomou conta de seu rosto e ela tremeu um pouco - É melhor ligarmos, isso vai nos manter alegres – ela respondeu e ajudou a deitar-se na cama. A ultima coisa que viu foi pegando o telefone sem fio do criado mudo e discando os números.




- Final:


Não sonhei com nada, apenas apaguei na cama do hotel e mais nada. Quando acordei , e ainda estavam lá, zelando meu sono, sentados todos juntos no escuro na cama ao lado da minha. Meu peito ainda doía e meus olhos estavam queimando.
- Que horas são? – perguntei respirando com dificuldade.
- Dez pras oito da noite – respondeu – Não se preocupe com o festival, nós daremos um jeito em conseguir alguma outra coisa.
O festival!
- Não – eu me sentei num pulo – Nós temos que ir até lá! Temos que voltar para tocar!
- , está tudo bem. – se apressou a dizer – Nós não nos importamos em...
- Não, ! – eu o interrompi – Eu já estraguei nossa chance uma vez por causa... dela – eu não queria dizer aquele nome - não vou deixar isso acontecer de novo!
- Você está bem? – se adiantou até mim quando me levantei e cambaleei para o lado – Você tem certeza que quer tocar? Você consegue?
- Eu vou ficar bem – respondi respirando fundo – Vou lavar o rosto e nós vamos conseguir aquele contrato hoje à noite!
Os três me olharam entrar no pequeno banheiro e sorriam para mim. Meu coração estava feito em mil, meu corpo estava quebrado, meus olhos inchados, mas não me importava, dessa vez eu ia fazer diferente. não significaria mais nada para mim dentro de algum tempo, eu sabia que não. Eu podia sentir aquilo em mim, uma voz me dizendo para seguir em frente sem ela. Meu coração poderia estar em pedaços agora, mas eu os remendaria da melhor maneira possível, de um jeito que ele não voltaria a quebrar-se nunca mais. Enquanto isso eu tinha o McFLY para cuidar e era isso que ia fazer naquele momento.



Chegamos no exato instante em que nós estávamos marcados para tocar. Seriamos os últimos da noite. Eu corri para o meu lugar no palco enquanto os outros faziam o mesmo. Começamos com Room On The 3rd Floor e terminamos com Saturday Night. Todos que estavam na platéia foram à loucura quando terminamos. Gritaram, aplaudiram, gritaram mais um pouco, alguém até chegou a jogar o sutiã. E bom, o que eu posso dizer? Aquele foi o primeiro sutiã em toda a historia que jogaram no palco do McFLY.
No dia seguinte fomos embora bem cedinho. O contrato estava assinado e o resto das coisas resolveríamos na Island Records, responsável pela UMG na Inglaterra. Deixar a Califórnia foi a melhor coisa. nunca voltou para dizer adeus a , sequer apareceu no festival, mas ligou quando estávamos no aeroporto. Parecia bêbada, de acordo com ele, risonha demais e ao mesmo tempo abatida. Disse a que os dois poderiam ter sido namorados, que poderiam ter ficado juntos e mais algumas coisas malucas. pareceu triste quando desligou e nos disse que se pudesse gostaria de voltar algum dia a vê-la. Eu duvido muito que isso aconteça, mas nunca se sabe, não é?
e eu sentamos lado a lado na poltrona do avião. e sentaram-se juntas e e . Fletch sentou-se sozinho e depois de meia hora que o avião já estava no ar se virou para mim dizendo:
- Encontrei isso no porta-luvas do carro que alugamos – me entregou um envelope – Acho que é seu, .
Eu não precisava abrir para saber o que era, eu ainda me lembrava. me olhou de esguelha, esperando uma reação que eu não teria. As fotos ali dentro que e eu tínhamos tirado juntos naquela cabine fotográfica quando fugíamos dos amigos do ex-namorado dela, não me trariam nada mais do que raiva de mim mesmo e dela. Não eram boas lembranças que eu deveria guardar, eram apenas pedaços de papel de algo que nunca existiu.
- Pode jogar no lixo – eu respondi devolvendo para Fletch – Eu não me importo mais com isso.




__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ NA: Acabou! Outro final do nada? Bom, talvez. Essa fic não era para ser tão cumprida assim. Ela era pra ser postada logo de cara como “finalizada”, mas ela ficou giant, percebam o tamanho dos capítulos. Quando eu começo a escrever, não paro tão cedo. São muitos detalhes na minha cabeça, eu não consigo os deixar de fora. Talvez isso canse vocês, não é? Desculpem por isso! ): Não quero parecer tão horrivelmente detalhista como J. R.R Tolkien. Se vocês tiverem duvidas, sugestões, xingamentos ou qualquer outra coisa mandem um email para mim. Quero pedir desculpa se algum dia no Orkut, na tag, no msn, ou onde quer que seja vocês tenham falado comigo e eu tenha parecido... hã... indiferente (isso soou muito³ ruim³, eu sei), mas eu sou assim mesmo, não indiferente, mas tonta. E olha só, eu estou dizendo isso porque sei que deixei de responder pra alguém no Orkut porque esqueci, e pq um dia alguém venho falar comigo toda feliz e eu simplesmente falei “brigada”. Foi péssimo! Me desculpem meeesmo! Deixando de falar mim... Vocês são lindas! Sim *-* eu queria poder conhecer cada uma de vocês e agradecer pessoalmente por tudo. Pelos comentários, pelas historias engraçadas, pelas vezes que quiseram me matar, por terem votado em “SC” no FFAwards, por perderem seu tempo lendo minha fanfic, por recomendarem ela por aí... enfim, por tudo! Agora uma perguntinha: “She Cares Parte III”? (; Não, isso não é o fim na minha cabeça. O verdadeiro fim vai além disso aí. Mas como eu já disse, se vocês estiverem cansadas... eu não me importo realmente! Hshaushaushua Desculpem, mas eu não me importo se vocês não quiserem, eu vou escrever do mesmo jeito. Mas vou ter que fazer isso antes de outubro, é claro. Porque assim que eu conhecer o Harry e ele se apaixonar perdidamente por mim, vou definitivamente parar de escrever fics! haushuashuah *roll eyes* Agora vocês decidem se posto a parte III no FFADD ou não. Ela será em andamento, com certeza. Pelo amor, eu não quero me despedir de vocês, mas ta né, vou lá me lamentar pelo final de Breaking Dawn. Shiit! Eu quero o Edward! *esperneia* Alias, alguém quer me indicar uma beta ou ser ela? *-* Eu preciso de uma pra minha outra fic. Beejo amores! Email: rafaelaa__@hotmail.com (isso não é meu msn gente, não tentem adicionar) – rafaela o//.


comments powered by Disqus