Por Juliana




“Cheguei, amor.” A voz de ecoou pela casa, atingindo os ouvidos de , que em um ágil movimento, levantou-se e foi em direção a sala.

jogava as chaves encima da mesa de centro da pequena e sem muita iluminação copa do apartamento que dividia com a namorada.

“Que horas são?”, a garota apareceu com os fracos ombros encostados na porta, e perguntou quase em um sussurro enquanto coçava os olhos procurando acordá-los.

fitou-a rapidamente.
estava com o ombro direito encostado sobre o batente da porta, e com as pernas peladas cruzadas de um jeito engraçado. A samba canção recheada de deseínhos infantis do próprio , caída, deixando a mostra uma parte da barriga, no momento, praticamente transparente – devido ao frio londrino e ao fato de quase não sair de casa, apenas para ir para a loja de CD’s onde trabalhava -. E também mostrando parte de suas cochas bem torneadas. A regata branca e desgastada, bem apertada ao tronco da pequena, estava ligeiramente amassada.

Os cabelos usualmente lisos e sempre bem penteados, agora estavam desarrumados e lutavam para ver qual dos fios conseguia ficar mais arrepiado.

O rosto rosado da mesma, marcado e sonolento, condenava-a. Estava cansada. O lápis mal passado nos olhos, como um borrão e os lábios ligeiramente secos e sem cor, cooperavam para deixá-la ainda mais com um ar de estar acabada.

Um sorriso surgiu no rosto do outro. tinha o dom de ficar ainda mais bonita quando qualquer outra pessoa em seu lugar ficaria abominável.
Mas não. Ela sempre ficava adorável.

“Tarde. Eu sei.” suspirou fundo, jogando para algum canto o casaco azul marinho que até então lhe protegia do frio cortante lá fora. “Me desculpe, Katie me pediu para que repassasse alguns relatórios e eu não pude negar. O sorriso dela é encantador!” brincou com o objetivo de provocar a garota e obteve sucesso. Sentiu os olhos de uma desacreditada sobre si. Sorriu.

“Hm...” a outra apenas murmurou algo com a boca, cruzando os braços e erguendo as sobrancelhas engraçadamente. a observou e riu fraco.

“Você fica ainda mais bonita com ciúmes, sabia?” Mordeu os lábios, indo em direção a Ju, que esquivou imediatamente.

“Não é ciúmes. Nunca gostei da Katie, .” Ela fitou , séria.

, Katie é a garota que você diz fazer o melhor cookie sabor brownie que você já comeu.” riu, tentando novamente ter a menor em seus braços.
corou.

“Whatever...” disse, saindo do minúsculo abraço e indo em direção a sala de tevê, passando pela porta e apertando o botão para que a luz se acendesse.
a seguiu.

“Está com fome?” ajeitou-se no enorme sofá marrom, com duas almofadas de cada lado, juntando as pernas encima de uma delas.

“Morrendo.” se jogou ao seu lado, pegando o controle, que estava sob a mesinha de mármore logo a sua frente e ligando a tevê.

“Tem um Big Mac no microondas.” falou desinteressada, observando o outro mudar de canais rapidamente e não conseguindo desviar sua atenção dos olhos brilhantes do garoto.

“Yay! FRIENDS! comemorou dando leves soquinhos no ar. riu. Era extremamente fofo quando fazia isso. Comemorar por bobeiras como ligar a televisão e por sorte estar passando o seu programa preferido, numa quinta feira, tarde da noite.
Como se estivesse ouvindo apenas naquela hora, virou seu rosto para a garota “Hã? Ah, já vou lá pegar, obrigado amor.” Agradeceu, erguendo o polegar.

bufou. Olhou para a tevê e viu Ross discutir com Phoebe sobre Rachel. Sempre sobre Rachel. Ela insistia em dizer que Rachel era a lagosta de Ross. Lagosta? É, segundo a loira, quando lagostas almas gêmeas se encontram, se apaixonam e nunca mais se separam. Dizem que é natural. Ela diz que pode até se ver vários casais de lagostinhas idosas nadando nos aquários, com as patinhas entrelaçadas. riu sozinha. Por um instante, imaginou-se com em um aquário, exatamente como Phoebe descrevera.
Balançou a cabeça negativamente ainda rindo de como era uma boba. Uma boba apaixonada.

“Obrigado pelo lanche, baby.” a acordou, falando de boca cheia. “Eu amo comer besteiras no jantar!” sorriu idiotamente, sentando-se no chão, com as costas encostadas no sofá.

“Eu sei. Por isso comprei.” disse.
mordeu o pão cheio de maionese.

...” chamou, olhando para frente.

“Hm...” o outro murmurou de boca cheia.

“Eu posso estar enganada... até porque venho assistindo muitos romances ultimamente, mas...” ela sentiu suas bochechas esquentarem “Todos os casais que conhecemos têm um apelido carinhoso. Sabe? Nós não.” Ela deixou seus lábios formarem um pequeno e engraçado bico.

engoliu o pedaço de lanche que ocupava sua boca e olhou para a outra, sentada no sofá.

“Bem, eu te chamo de amor, amorzinho. Isso é um apelido, não é?” ergueu as sobrancelhas, fazendo a testa enrugar-se.

“Mas não é a mesma coisa. “ mexeu-se ficando com as pernas cruzadas, como um indiozinho. “Amor é sem graça e todo mundo usa.” Fez uma pequena careta.

“Bem... quanto a isso, não posso fazer muita coisa, meu amor...” murmurou sem dar muita importância, voltando sua atenção para a tevê.

“Mas... eu queria te chamar de um jeito que só eu pudesse fazer, sabe? Um jeito que ninguém tenha igual.” Ela falava sem jeito, enquanto brincava com um dos botões de enfeite de uma das almofadas.

sem responder, sorriu para si mesmo, orgulhoso.

... você me ouviu?” o repreendeu.

“Sim.” O outro respondeu simplesmente. “Que tal... você ser o meu cheesecake com cobertura de framboesa e eu ser o seu Mac&Cheese?” perguntou, com os olhos brilhando e o mesmo sorriso bobo de sempre. gargalhou.

“Não tão exagerado, . Sem contar que eu vou demorar séculos para dizer “my macaronni and cheese!” Imagina!”
parou, montando a cena em sua cabeça e gargalhou também.

“E... como se chamam aqueles bichinhos saltitantes do jogo do Mario?” perguntou.

“Mario, ? O do vídeo-game?” falou debochadamente.

“Isso!”

“Eu... não sei o nome. Yooshis, Cogumelinhos vermelhos?” chutou, projetando uma espécie de careta em sua face rosada.

“Okay, então. Que tal ser o meu cogumelinho vermelho?” o outro sorriu alegremente.

“Cogumelo? E o que isso tem a ver com a gente?”

“Bem... É que você é baixinha, e... e esse seu corte de cabelo parece a cabeça de um cogumelo!” exclamou, fazendo gestos procurando demonstrar a semelhança de com um cogumelo. “Você me lembra eles, .”

“Você ta me chamando de cabeçuda, ?” parecia chocada.

“Não, cogumelinha linda. riu fraco. E mesmo se fosse verdade, não deixava de ser uma bela cabeçuda, se esta fosse .
Ela rolou os olhos.

“Enfim, depois a gente pensa nisso.” retornou à atenção a tevê.
emburrou e relutante, também voltou a ver televisão.

Assistiram ao programa em silêncio. Quando este acabou, permaneceram quietos.
fitava o nada, pensativo e só conseguia reclamar mentalmente em como a cor daquele apartamento era horrível. Como havia tido coragem para deixar pintar um pedaço do seu cafofo de... cor-da-pele? Eeeww.

“Hei, babe.” chamou , fazendo um gesto para que fosse até lá, e sentasse entre suas pernas. “Vem cá.” Sorriu abertamente.
apenas o fitou por alguns instantes, acordando dos seus pensamentos sobre o apartamento. E tinha como resistir?

Levantou-se lentamente e encaixou-se entre as grandes pernas de , encostando-se no peito do mesmo.
passou seus braços pela barriga da menor e posicionou seu queixo sobre o ombro esquerdo da mesma.
Ficaram ainda um tempo sem trocarem palavras, somente sentindo a presença um do outro.

“Pequenos.” sussurrou de repente, olhando sério para a parede a sua frente.

“O quê?” virou seu rosto para olhar o , ficando com sua bochecha colada na do outro.

“Pequeno e pequena.” Ele sorriu “Nosso apelido carinhoso.”

“Pequenos?” perguntou procurando entender.

“É. Você é a minha pequena. E eu, sou o seu pequeno. É simples, meigo e combina. Você é portátil, .” sorriu, olhando nos olhos incrivelmente belos e profundos da garota em seus braços.

“Pequeno...” disse mais para si mesma do que para . Lembrou-se do episodio que havia assistido mais cedo.
Rachel era a lagosta de Ross. era seu... pequeno. Seu pequeno anjo, seu pequeno bebê, seu pequeno monguinho, sua pequena lagosta. Seu pequeno.
Sorriu abertamente agradecendo mentalmente o namorado por assistir coisas que prestassem de vez em quando.
Se aconchegou no peito do maior, apertando-o contra si.

?” o chamou depois de mais alguns minutos em silencio.

“Hm?” o outro murmurou em interrogação.

“Me fala algo bonito... eu gosto de ouvir sua voz, ainda mais me dizendo coisas românticas.” Disse baixinho, escondendo-se no maior.

riu.

“Algo bonito... como o quê? Eu uso toda a minha criatividade e o meu romantismo nas musicas, .” Acariciou as costas da menina, fazendo movimentos circulares com as mãos.

“Qualquer coisa... já sei!” exclamou, inclinando a cabeça para trás, sorrindo de leve e olhando nos olhos de , que fazia o mesmo. Voltou a se afogar no peito do namorado, envergonhada. “Diz pra mim... que os pequenos são pra sempre.” Pediu, com a voz embargada, lembrando-se dos ensinamentos de Phoebe Buffay.

riu novamente, inclinando a cabeça para o alto. “Mas você acabou de dizer, pra que dizer de novo?”

“Ah... não sei. Só... repete. Você sabe... Porque quando você diz, eu me sinto segura. As palavras parecem ter mais sentido quando soam na sua voz, ... você sabe disso. Você sabe o quanto parece ter o poder de... fazer tudo parecer... certo.” ela quase vomitou essas palavras, sentindo-se esquentar e apertou a barriga de , num ato de timidez.
abriu um novo sorriso, com aquele sentimento familiar e inexplicável lhe invadindo o estômago toda vez que lhe tocava. Ou lhe dirigia a palavra. Ou... simplesmente quando estava por perto. Respirou profundamente.

Virou-se e num gentil gesto, ergueu a cabeça de , segurando-a pelo queixo e fazendo-o olhar diretamente em seus olhos.

“Hei...” ele sussurrou sorrindo com os lábios. “Os pequenos são para sempre.” Disse carinhosamente, acariciando o queixo da menor que lhe lançou um olhar brilhante e sinceramente encantado.
Ela sorriu e permaneceu a fitar a imensidão dos olhos de por alguns segundos, eternamente satisfeita.
Depois, acomodou-se novamente no colo de , que o apertou ainda mais contra-si.

“Eu... te amo, .” Ela disse as três palavrinhas mágicas com os olhos embaçados e um enorme e inevitável sorriso no rosto.

sorriu quase que imediatamente.

“Eu também te amo minha pequena.” Ele inclinou-se, afagando com as mãos os cabelos da namorada, e alcançando o topo de sua cabeça com os lábios, lhe dando um leve, mas longo beijo. “Muito.”

sentiu as palavras de , fechando os olhos e ajeitando-se novamente no mesmo, como se este fosse seu travesseiro.

Pequeno. É, ela tinha gostado... de alguma forma, combinava. Não sabia a razão exata, mas realmente combinava com eles. A única coisa que não fazia jus ao apelido era o amor dela pelo namorado. O amor de pelo seu pequeno era grande, vasto, enorme, eterno. Tudo. Menos pequeno.


The End


Se você quiser me dizer o que achou da fic, elogiar, xingar, me mandar pra puta que pariu... enfim, quiser informar-me algo, me manda um email ou deixa um comentário na caixinha aí embaixo!
Lembrando que são os comentários e a opinião dos leitores que deixam as autoras entusiasmadas com a fic!

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