Too Late For Us
Por: Paloma



CAPÍTULO I

Abri a geladeira com um copo semi-cheio na mão, senti os pêlos do meu corpo arrepiarem ao sentir o ar congelante vindo de dentro dela. O chão frio fazia com que eu estremecesse a cada passo que dava, e o único som que entrava pelos meus ouvidos era o da chuva batendo rudemente nos vidros das janelas. O Sol estava quase se pondo e a casa era tomada por aquele ar gostoso de fim de tarde. Tomei em mãos uma garrafa de vodka e tratei de encher aquele copo longo até a proximidade da borda, era o terceiro (ou o quarto) e eu sabia muito bem que ao terminá-lo minha cabeça começaria a girar. Mas... Quem se importa?! A sensação de prazer que aqueles copos estavam me dando ao longo das últimas semanas era o que me salvava daquele sentimento que me tomava o corpo, sentimento de um vazio por dentro, um aperto ao pensar nesses últimos longos meses, meses esses que completaram mais de um ano de dúvidas, felicidades e mais dúvidas. No final de tudo, apenas o que sobrou foi a distância e a saudade, talvez até o arrependimento. Fechei a geladeira e me virei, vi meu reflexo no vidro de uma janela muito cheia de orvalhos, olhei naqueles olhos mortos e sem brilho, não me via fazia alguns dias; aliás, ninguém me via há alguns dias. Andei até a mesa da cozinha, sentando-me em uma das cadeiras, colocando um de meus pés encima dela e abraçando minha perna. Olhei àquele cinzeiro cheio de bicos de cigarro... Foi quando todo aquele ano passou em minha cabeça como um flash.

Lembro-me muito bem da primeira vez que senti àqueles olhos penetrarem os meus, me lembro de absolutamente tudo. Eu e estávamos na frente da casa da , esperando-a sair, quando ele chegou de bicicleta com uma blusa azul-bebê, que ressaltava seus olhos. Abriu a boca num sorriso, e senti meu estômago embrulhar. Falou com e com a (eu estava ocupada demais o olhando para notar que ela já havia saído) e quando falou um simples "Oi" pra mim, senti as conhecidas borboletas festejarem dentro de mim. O vi ir embora acompanhado do irmão mais velho da , até sumir dobrando a esquina. Passei semanas com aqueles olhos e aquele sorriso insistindo em não quererem sair da minha cabeça.

Eu estava de férias, e eu e as meninas costumávamos sair diariamente.
'Eu não vou!' Gritei rindo para , por mais que meu desejo fosse ir, eu não tinha coragem.
'Qual o seu problema?! Vamos logo, eu sei que você tá louca pra vê-lo' me puxava pelos braços e ria comigo, esperava na porta, também rindo.
'Deixa ela , ela não quer vir?! Deixa ela aí e vamos embora! O tá esperando lá na casa do e a gente precisa passar na casa da ' Disse ainda rindo daquela cena.
'A vai?!' Perguntei eu, arrumando uma desculpa pra ir.
'Vai, e você sabe. Viu ?! Ela quer ir, mas quer arrumar uma desculpa pra dizer que não quer ver o .' sorria vitoriosa e eu e a caímos na risada.
Terminei indo. Passamos na casa da , e fizemos um caminho conhecido pra mim. Era o caminho da casa do Chuck, meu antigo "caso", não que nós tenhamos tido alguma coisa séria, foi apenas um beijo, mas ele até então não largava do meu pé. Chegamos no portão da casa dele, e eu já conhecia aquela casa, não por dentro, mas por fora, nunca soube de quem era, até agora. As meninas chamaram-no e enquanto elas conversavam eu tratava de tentar tirar um galho que insistia em enrolar-se no meu cabelo, estava tão "concentrada" que não percebi que o já havia aberto o portão, a me cutucou e me virei olhando sem querer naqueles olhos novamente.
'Não quer entrar?' Ele perguntou-me dando o mesmo sorriso que ainda alugava meus pensamentos.
'Ah sim sim!' Sorri também, passando por um espaço entre ele e o portão, quando senti o perfume dele.
Ficamos sentados em um banco perto da piscina, conversando. era um amigo próximo do e estava há alguns tempos ficando com a , formavam um casal legal. O Sol fazia-me transpirar e batia nas minhas costas nuas; meu suor incomodava, fazendo com que eu começasse a coçá-las. Como minhas unhas estavam grandes, minhas arranhadas começavam a ferir e a (esperta demais pro meu gosto) pediu para que o passasse água nas minhas costas. Ele guiou-me até a cozinha e pegou uma garrafa de água gelada. Timidamente fez uma pergunta:
'Er... Como é que a gente vai fazer isso?' Ele parecia querer derramar a água da garrafa direto nas minhas costas. Obviamente isso faria com que eu me molhasse toda.
'Acho que você vai ter que passar com a mão' Respondi com simplicidade.
'Tá! Então vem aqui' Pediu ele simpático, andando para dentro da casa, chegando no quarto dele. Era bastante bagunçado. A cama estava desfeita e cheia de roupas pelos cantos. Havia um computador no canto esquerdo do quarto, a cama ficava no meio. Ele coçou a cabeça rindo sem graça, no que eu sorri também.
'Desculpa pela bagunça' Falou ele, e ficamos um tempo nos encarando, até eu ficar com vergonha e desviar o olhar. Ele sugeriu que eu sentasse na cadeira do computador, começou a molhar a própria mão e passar tímida e cuidadosamente nas minhas costas. Era como se a cada toque que ele desse, meu coração desse um passo na minha garganta, prestes a sair pela boca. Sentia minha barriga vazia e não conseguia mexer um músculo. Ouvi a voz escandalosa de tomar conta do quarto.
'Ah! Achei que vocês estivessem se pegando e vim aqui atrapalhar!' Brincou ela, no que todos os outros riram. Eu sorri envergonhada juntamente com ele e fui me sentar na cama. Ele sentou-se também, mas um pouco distante. e perguntaram se podiam usar o computador dele e ele assentiu. estava sentada numa bancada que ficava na mesma parede que a porta, com entre suas pernas, se beijavam. Eu não fiquei muito tempo olhando àquilo. Por mais que eu quisesse olhar pra , eu não conseguia, olhava apenas para as meninas em frente à tela do computador, por vezes dando risadas de alguma coisa engraçada. Elas estavam conversando e rindo, mas era como se um silêncio tivesse penetrado o quarto. Eu não conseguia pensar em muita coisa, ou melhor, eu não conseguia pensar em outra coisa. Não lembro como aconteceu, só sei que foi bastante rápido. A partir de um comentário feito por ('Bem que esses dois podiam ficar né?!') e a intromissão de , que agora estava sentada do outro lado de , empurrando-o para o meu lado, senti a superfície da cama próxima de mim afundar com o peso dele, e o hálito quente desconhecido tocar minha boca. Foi quando eu senti aqueles lábios macios tocarem os meus pela primeira vez. Aquele foi o primeiro de muitos primeiros beijos nossos, a sensação era sempre a mesma, o nervosismo, os sentimentos, as borboletas (que eu começava a pensar que eram ursos, tamanho era o "estrago" que faziam). Não lembro de muitos outros detalhes desse dia, apenas do convite para ir com a no dia seguinte e dos beijos dele. Sinto falta daquele beijo, daquele toque, daquele hálito. Os dias seguintes correram inesquecíveis, todos os dias daquela semana eu e a íamos para a casa do para que os ursos fizessem a festa dentro de mim (e acho que dela também).
No fim da semana (mais precisamente no sábado) viajei com minha mãe para outra cidade, para visitar parte da família. Quando já estava na casa de minha tia, senti o celular vibrar no bolso de trás da minha calça, peguei-o e ao ver aquele nome na bina meu coração disparou, era ele. Abri o flip do celular e entrou pelo meu ouvido aquela voz conhecida.
'Oi ! Tudo bom?' Passei algum tempo pra processar aquela pergunta.
'Ah! Sim sim, e você?' Acordei do transe respondendo meio desengonçada, o que ele percebeu e deu um riso abafado. Se estivesse ali naquele momento, sem dúvidas iria zoar com a cara que eu provavelmente havia feito.
'Tudo normal. Mas, onde você tá?! Tá em casa? Posso ir aí te buscar se você quiser' Aquela oferta era bastante tentadora, mas nem que ele quisesse vir me buscar onde eu estava. Minha tia morava a exatas cinco horas de onde eu moro.
'Er...' Eu não sabia como dizer aquilo. Minha vontade naquela hora era sair voando de algum jeito para casa, pra que ele pudesse ir me buscar e passássemos mais um daqueles dias, quais eu nunca vou esquecer.
'Eu não estou em casa , estou na casa da minha tia, há cinco horas daí' Ouvi um suspiro vindo pelo outro lado da linha.
'Ah, tudo bem então. Quando você volta?' Aquele interesse dele estava começando a me deixar feliz. Começando?! A quem eu estou querendo enganar?!
'Não sei. Antes do aniversário da , sem dúvida alguma!' E ri abafado, ele fez o mesmo. Houve um breve silêncio.
'Hmm. Tudo bem. Quando você chegar a gente se vê então' Sugeriu ele.
'Ok'
'Então... Tchau, beijo' Despediu-se timidamente. Aquela última palavrinha ecoava na minha cabeça e eu, abobalhada, passei alguns segundos com o celular no ouvido, escutando aquele "tu tu tu" avisando que ele já havia desligado.

CAPÍTULO II

Cheguei dois dias antes do aniversário da . Ela pretendia fazer uma festa no salão (que ficava perto da piscina) do condomínio que morávamos, e pelo que comentavam, o aniversário dela iria "bombar". O salão não tinha muitas paredes e era bastante arejado. No espaço onde geralmente as pessoas estacionavam carros e os deixavam com as malas abertas, saindo de dentro das caixas de sons traseiras, barulhos (eu realmente não chamo aquilo de música) para ouvir da piscina, ficaria um DJ e luzes de variadas cores espalhadas. Mais para a esquerda, onde havia uma grande mesa com únicos dois bancos enormes nas laterais, ficariam as comidas. Nesse salão, ainda havia uma mini-cozinha, contendo um freezer e uma pia, lá ficariam as bebidas, e alguém para assegurar que ninguém roubasse ou algo do gênero. Ainda mais para a esquerda, ficariam mesas e mais mesas, onde me recordo, sentei.
Lembro-me muito bem desse dia. Cheguei cinco horas antes de a festa começar, já que havia me pedido ajuda para fazer as últimas organizações. Havia umas cinco meninas na casa dela, algumas conhecidas. Recordo-me de ter visto a Zoey, a Al... E a Lillah, que eu não via há uns anos. Ela havia mudado bastante, e quando eu digo bastante é porque mudou muito mesmo! Lembro muito bem daquela menina que me fazia rir e que parecia mais um moleque que só queria saber de brincar e se sujar; agora me deparei com uma garota de sotaque e fala vulgar, de cabelos tingidos e roupas combinando com seu modo de falar (igualmente vulgar). Tinha uma conversa animada demais, se é que você me entende. Engatamos uma conversa na sala, enquanto as outras garotas ajudavam a se vestir. não viria para a festa, teve que viajar com seu pai (e ele não aceitou um "não" como resposta).
'Você tá aqui há quanto tempo?' Perguntei simpática. Ela passou alguns segundos pensando e logo respondeu.
'Hmm. Desde sábado. Fui lá à casa do com a ' Aquele jeito de falar que ela havia aderido começava a me irritar, e o modo íntimo de como ela falou isso me irritou profundamente.
'Ah, legal' Gostaria muito de ter o dom de esconder meu desgosto.
'Vocês não têm nada muito sério, não é mesmo?!' O interesse dela começava a me fazer pensar coisas que eu não queria pensar.
'Bem... Realmente não. Estamos apenas ficando há alguns tempos' Respondi com sinceridade, foi aí que veio a bomba.
'Pois bem, porque eu fiquei com ele no domingo' Eu não sei onde meu coração foi parar naquele momento. Não sabia se ele estava prestes a sair da minha boca, se ele havia parado... Eu simplesmente não o sentia mais. Não sei qual foi minha expressão naquele momento, nem sei como ela me olhava. Minha vontade era de sumir dali e nunca mais ter que olhar na cara daquela loira tingida novamente. Não lembro de muita coisa depois daquilo, não lembro de como terminou aquela conversa. Daquele dia eu só me recordo mesmo da festa.
estava bastante bonita naquele noite, usava um short prateado e uma bata lilás, matinha os cabelos soltos e calçava uma sandália baixa. Eu estava simples, meu corpo coberto por um vestido tomara-que-caia verde até as coxas, cabelos soltos e uma sandália baixa. Lembro da roupa "quero-dar-pra-alguém-esta-noite" que Lillah vestia. A blusa de costas nua e a calça praticamente dentro de sua bunda, não chamava mais atenção do que eu (ainda bem!). Sentei-me numa mesa com ela (acho engraçado como algumas vezes eu consigo ser extremamente falsa) e vi quando e chegaram. Passam pela minha cabeça, apenas alguns momentos daquela festa. Lembro de ter sido extremamente rude com e de ter conversado bastante com , lembro também das insinuações que Lillah fazia e do jeito com o qual ela se jogava encima dele. não saía de perto de mim e parecia não entender muito bem minha atitude naquela noite, foi quando saiu e Lillah foi atrás dele que ele sentou-se na minha frente.
'Vem mais pra cá' Pediu ele, puxando minha cadeira para mais perto dele.
'Estou perto o suficiente para lhe ouvir' Essa não foi a primeira, nem a última patada daquela noite. A expressão que a face dele havia ganhado foi no mínimo engraçada.
'Nossa! O que foi que eu fiz pra você estar agindo assim?!' Se eu realmente não estivesse com raiva dele, ficaria com pena da cara que ele fez e o agarraria sem pensar duas vezes.
'Você deve saber, afinal, foi você quem fez. Talvez domingo tenha sido bastante divertido. Lillah que o diga' Hoje eu me arrependo bastante do modo que agi naquele dia. A história contada por Lillah poderia ter sido apenas uma tática para tentar separar-nos (afinal, eu não era a primeira garota que havia ficado, e havia zilhões de meninas que brigavam por ele. Aliás, eu era um dos "rolos" dele que estava durando mais), enfim...
'Não to entendendo' E ele parecia realmente não entender. Não houve mais conversa, e Lillah haviam chegado a mesa, foi quando eu saí para ir ao banheiro. Caminhei normalmente até o banheiro da piscina, quando terminei e abri a porta, o vi na minha frente. Desviei tentando sair, mas ele me impediu.
'Porque você tá agindo assim?!' Eu não respondi, e nem lembro muito que aconteceu, mas sei muito bem que senti os lábios deles nos meus e saí dali rápido. Não era pra aquilo ter acontecido, pelo menos era isso que eu havia pensado naquela hora.
A festa acabou e não houve nenhuma aproximação minha com além daquele rápido beijo no banheiro. No dia seguinte, pedi para ir comigo na casa dele, já que precisava pegar um dvd que havia emprestado a ele. Ela conversava animadamente com , enquanto eu e conversamos também, mas não na mesma animação, nem mesmo lugar que eles.
'Você ainda não me falou porque está agindo assim comigo' Ele tinha um olhar meio triste, e eu não sabia como conversar com ele. 'Eu sei que ontem eu não te dei tanta atenção quanto você merece, mas acho que isso realmente não foi o motivo, não é?!' não estava bravo, e eu não sabia como ele se sentia naquele momento.
'Não, não foi. Domingo foi o motivo' Não sei com que expressão e com que tom de voz eu falei aquilo, só lembro que falei.
'Como assim?' Ele parecia não entender, mas eu sabia muito bem que ele sabia do que eu estava falando (ou não).
'Você e a Lillah. Não se faça de idiota! Eu sei que nós não temos nada e tudo mais, mas o que mais me irrita é você se fazer de bobo e não assumir logo de uma vez' Lembro de ter falado isso calmamente, por incrível que possa parecer.
'Eu não fiquei com ela!' Ele parecia pasmo e continuamos "discutindo" por algum tempo. Ele sempre desmentindo e eu sempre dizendo a mesma coisa. 'Você é muito cabeça dura! Não acredita em nada que eu falo' Foi aí que terminou a discussão. não havia proferido estas palavras com um tom grosso ou algo generalizado, apenas disse.
'Sou mesmo! E não acredito' Falei com simplicidade. Eu não estava chateada, muito menos ele. Realmente não parecia que tínhamos acabado de "discutir relação". Pedi um copo d'água e ele guiou-me pelo conhecido caminho da cozinha.
'Espera, vou aqui e já volto. Tenho uma coisa pra você' Sorriu e foi, aparentemente, para o quarto. Bebi minha água e quando coloquei o copo encima da pia, vi do meu lado com um dos braços esticados segurando uma camisa. 'Pra você. Um monte de gente queria essa camisa, mas eu nunca dei pra ninguém' Peguei-a e estiquei-a em minha frente para poder vê-la. Era num tom de rosa claro, na frente havia o nome "kisses" e atrás o nome dele encima do número 08, abaixo ainda, o nome do colégio onde ele costumava estudar. Senti o corpo dele me abraçar por trás, as mãos dele entrelaçarem-se envolta do meu corpo, e um beijo quente em meu pescoço. Não tinha como sair dali, mas por mais que eu quisesse ficar, me distanciei e voltei para onde estávamos conversando anteriormente. Ficamos sentados ali, ambos sem se encarar, em silêncio por alguns longos (ou curtos) minutos. Foi quando sem pensar eu falei:
'Acabou' Ele olhou pra mim surpreso (pra falar a verdade, até eu fiquei surpresa).
'Como assim?' Agora parecia estar assustado.
'Acabou!'
'Entre nós?!' Ele ainda me olhava com a mesma expressão, e eu agora não conseguia olhar para a cara dele de jeito algum.
'É' Falei ainda mirando a blusa que acabara de ganhar.
Também não lembro como aquele dia terminou, mas passei quase um mês sem vê-lo. A saudade era enorme, o arrependimento nem se fala. Não ouvi mais aquela voz, não senti mais aquele cheiro, aquela pele, muito menos aquele beijo. Hoje eu sei que agi por puro medo de me envolver, de terminar gostando de verdade dele, e de no final, quebrar a cara. Só não percebi que o que eu estava fazendo era muito pior.

CAPÍTULO III

Era um sábado, e fazia três dias que ele havia feito aniversário. Eu já estava de volta às aulas e não tinha tido muito tempo de ver as meninas. Lillah já havia voltado para sua casa, numa cidade longe daqui (graças a Deus). Como eu já disse, havia passado pouco menos de um mês sem vê-lo, escuta-lo e muito menos tocá-lo. Liguei pra ele com a intenção de dar-lhe um "feliz aniversário", mas meu coração terminou agindo por mim.
(...) 'Então, se você quiser, pode vir pra cá' Logo após ter dito isso, percebi que o havia feito sem sequer pensar.
'Ok então! Vou tomar banho e passo aí' Nos despedimos e eu vi a besteira (ou não) que tinha cometido. Tudo bem, nem era uma besteira tão grande assim.
É duro dizer isso, mas esperei ansiosamente a chegada dele por mais ou menos meia hora, quando ouvi meu celular tocar e a voz dele avisando que estava no portão do condomínio. Andei até lá olhando pra ele, fazia algum tempo que eu não o via, mas foi a mesma coisa de sempre... Os ursos pulavam, rugiam e faziam a rave dentro de mim, eu conseguia sentir o sangue pulsar no meu pescoço. Ele não havia mudado absolutamente nada (eu sei que foi menos de um mês, mas pareceu terem sido quase anos), com o mesmo cabelo, o mesmo jeito de se vestir e o mesmo sorriso. Os olhos escondidos por uns óculos escuros que, diga-se de passagem, o caiam muito bem. Andamos até a metade do caminho para o salão (o mesmo lugar onde tinha sido a festa da ) quando senti o peso do braço dele nos meus ombros e aquele perfume perto demais. Não o tirei do lugar, não sorri, não o olhei, apenas continuei caminhando. Sentamos em frente àquela mesa (onde, na festa de , encontravam-se as comidas), um de frente para o outro. O diálogo foi longo, tanto que durou até o anoitecer. Só lembro de algumas partes da conversa, onde ele continuava a (des)mentir que não tinha ficado com Lillah e outros pequenos intervalos de tempo.
'Minha mãe me perguntou pra onde eu estava indo' Ele começou e após dizer isso, fez uma pausa, como se esperasse algum comentário meu, coisa que não veio. 'E eu disse que estava indo pra casa da minha namorada' Eu ri, talvez debochadamente, talvez feliz.
'Até parece' Vindo de , era realmente difícil de acreditar. Mas hoje eu vejo que aquilo realmente poderia ter sido verdade, já que nunca ia até alguma garota, elas que iam até ele. Acho que era fácil demais de acreditar, de tão fácil, veio a ser difícil. Eita cabeça confusa!
'Hmm. Você deve ter tido alguma decepção muito grande. Não acredita em nada que eu falo. É uma cabecinha dura mesmo... E eu ainda vou te provar que não fiquei com Lillah' Era incrível, por mais que eu fosse irritante, ele nunca se aborrecia. Eu bufei debochado. Quando anoiteceu, ele foi embora e eu fiquei com o coração na mão, talvez (TALVEZ?!) até arrependida. Não houve qualquer aproximação, qualquer toque, não houve absolutamente nada.

CAPÍTULO IV

Passei novamente um longo tempo sem vê-lo. Por mais que eu tentasse não pensar, ele insistia em permanecer na minha cabeça. Eu não saia muito de casa, mas costumava ver , e constantemente. mudou-se para outra cidade por conta do estágio na faculdade, e viviam aqui em casa. Agora mais do que nunca, já que colocou uma idéia maluca na cabeça de fazer uma festa para comemorar mais um fim de período na faculdade. Todos os amigos foram convidados, inclusive e . Seria uma festa parecida com o aniversário e , até o DJ seria o mesmo. Tudo correu muito rápido, e quando notei, já era o dia da festa. Era início de inverno e o clima gritava chuva, mas isso não impediu que a festa acontecesse. Deixei minha timidez de lado e falei com todos que iam chegando, até com Chuck (que, diga-se de passagem, olhou-me guloso). Quando quase todos haviam chegado, avistei no portão, chegando com dois amigos, o e o . Eu, e fomos cumprimentá-los e percebi de cara o interesse de no (que era muito bonito por sinal). sentiu falta de e tratou logo de perguntar se ele viria ou não. não poderia vir. Algum tempo depois, podia-se ver a e o se agarrando num canto, e conversando animadamente e... Bem, meus olhos correram atrás daquela face pelo salão todo, até que vi que ele estava perto de mim, a esquerda, perto da mini-cozinha. Meus nervos brigavam para ficar no lugar e a raiva (ok, era o ciúme) tomou conta do meu corpo ao ver aquela cena. Alguma menina muito da atiradinha soltava gracinhas pro e ele parecia aceitar tudo isso numa boa. Ela parecia estar alterada alcoolicamente e ele estar gostando de toda aquela atenção. Não percebi a presença de , mas não foi por muito tempo.
'Vou aqui' Avisei e saí em direção à mini-cozinha, passei ao lado de ambos e notei olhares me acompanharem, peguei uma garrafa de alguma bebida e saí de lá, não fui muito longe, pois fui parada por Chuck. Este começou a querer uma conversa muito íntima e eu percebi que aqueles olhares ainda não haviam parado de me acompanhar. Passei pouco tempo papeando com Chuck e voltei para onde estava sentada anteriormente, ainda não tinha levantado e continuava (obviamente) sentada no mesmo lugar, aparentemente havia observado toda aquela cena. Quando menos esperei, ela estava conversando aos cochichos com . Voltou pouco tempo depois.
'Ele disse que você não quer mais nada com ele e eu insisti, dizendo que ele deveria tentar de novo' Falou ela, com uma simplicidade irritante.
'Como assim?!' Não lembro se alterei muito a voz, mas não havia mudado de posição, nem de expressão, muito menos desviou o olhar.
'Eu vi aquela cena toda, e não venha dizer nada. Aliás, eu já vou indo que o tá chegando' Um segundo depois, estava na minha frente, me chamando pra dançar. Eu nunca dançava, não na frente deles. Hesitei um pouco e por fim terminei aceitando. Tocava uma black music e as pessoas dançavam vulgares e sexys demais. Senti o corpo de colar com o meu, e os idiotas e costumeiros ursos rugirem dentro de mim. O perfume conhecido dele entrou pelas minhas narinas e os pêlos da minha nuca se arrepiaram ao sentir a pele dele encostar-me o pescoço. Ele envolveu as mãos a minha cintura e eu coloquei meus braços entrelaçando-lhe o pescoço, ficamos fazendo alguns movimentos dançantes e quando menos percebi, já sentia a língua dele pedir passagem para brincar com a minha. Era engraçado o poder que ele tinha sobre mim (e ainda tem). Pouco tempo depois, estávamos só nós dois, encostados na parede do lado de fora do salão. Sentia o cheiro do álcool vindo do hálito dele e misturando-se com o meu. sempre teve medo de avançar, mas aquela noite ele parecia querer tirar todo o atraso. Sentia todas as partes do corpo dele tocarem-me. Ele passava as mãos pela minha cintura por dentro da camisa e eu (como sempre) passava a mão na barriga magra dele. Ele começou a beijar-me o pescoço e parou repentinamente. Sorriu pra mim e eu olhei tímida, como sempre. pegou meu pescoço com delicadeza com as duas mãos, colocando os polegares atrás de minhas orelhas. Se eu não o conhecesse bem, acharia que ele iria me beijar, mas eu já sabia o que ele iria fazer. Ele passou um bom tempo olhando meu rosto, parecia examinar cada parte da minha face; ele sempre fazia isso, eu sempre abaixava a cabeça timidamente por não conseguir encarar aqueles olhos .
'Saudades de você meu bebê' Aí sim, os ursos pareciam ter magicamente se reproduzido e parecia haver trilhões deles pulando dentro do meu estômago. sempre me chamava assim, sempre me chamava de bebê e sempre passava horas (er, minutos?!) olhando meu rosto, sorrindo.
Continuamos a ficar, ficamos por meses e meses. Um dia que eu me lembro de absolutamente tudo que aconteceu, foi quando ele e foram lá pra casa. Jogamos (como sempre) baralho e enquanto conversava com , eu e fomos para um lugar mais reservado, onde podíamos ficar com mais intimidade. Pulando muitos detalhes, no percurso de volta para o salão (onde e , agora riam), ele começou a falar.
'?! Er... Co-como, como que a gente fica?!' Se eu não estivesse do lado dele, sem dúvidas não teria ouvido o que ele falou. Não sei o que aconteceu comigo, só sei que fingir não ter ouvido e o atrapalhei quando, aparentemente, iria repetir a pergunta, dessa vez num tom audível.
'Hmm. Do que será que eles riem tanto?!'

Acordei daquele transe. Tomei um cigarro ainda aceso no cinzeiro e tratei de colocar na boca, traguei uma vez, colocando-o novamente no lugar onde havia pegado. Dei um longo gole na vodka, apoiando depois o copo na mesa. Outro dia veio na minha cabeça.

e eu conversamos intimamente perto do portão. Havia uma distância mínima entre nós, estávamos suados e desengonçados, parecia que tínhamos acabado de nos descolar de um beijo longo e caloroso. Ele fazia a mesma coisa de costume; pegava meu pescoço com calma e tratava de observar meu rosto, dessa vez não passamos muito tempo em silêncio.
'Você gosta de mim?!' Perguntou ele, sem deixar de olhar nos meus olhos. Eu, que até então mirava o chão, levantei a cabeça de supetão e sem querer fiz o que eu tanto temia, olhei naqueles olhos novamente. Era como se eles me sugassem e não me deixassem mais parar de olhá-lhos. Assustei-me ao ouvir aquelas palavras saírem da boca dele, e por mais que minha vontade fosse de dizer "sim", agi sem pensar novamente.
'Não' não riu, não ficou triste, não fez nada. Continuou me olhando sem nenhuma feição e voltou a perguntar.
'Tem certeza?! Nem um pouquinho?! Só um pouquinho assim?!' Ele sorria, não sei dizer se sem jeito, ou triste. Mostrou entre os dedos polegar e indicador um pequeno espaço, demonstrando um gesto de "pequeno".
'Ok, só um pouquinho' Sorri e imitei o gesto que ele havia feito.
'Eu sei que dentro desse coração que você tem aí dentro, tem muito sentimento. O problema é que ele é protegido por uma armadura forte demais' colocou as duas mãos, uma encima da outra, entre meus peitos. Eu não consegui olhar pra ele. Senti ele me puxar e me abraçar forte.

CAPÍTULO V

Continuamos a nos ver, mas não com a mesma freqüência, já que minhas aulas haviam retornado e eu estava atolada de trabalhos para fazer. Voltamos a ficar como nas férias, passávamos algum tempo conversando bobeiras, trocando carinhos e depois ficando. Eu lembro muito bem do anseio que ele tinha em estar indo rápido demais. Todos percebiam que o carinho que ele tinha por mim era diferente com relação à outras garotas (o que posteriormente me trouxe alguns problemas, já que isto causou um ciúme doentio em uma "ex" dele, nada com muita importância para ser recordado), menos eu. Quem sabe eu até soubesse desse carinho especial, mas não quisesse acreditar, talvez eu achasse que era perfeito demais pra ser verdade. Passado algum tempo, eu voltei a me afastar dele, voltamos a ser amigos e, por mais que eu terminasse e voltasse por conta da minha insegurança, nunca havia demonstrado sequer irritação, o que me deixava ainda mais confusa. Achei que a falta de reação dele demonstrasse claramente que ele pouco se importava com minhas (in)decisões. Foi quando a gente voltou novamente que eu vivi um dos dias mais perfeitos da minha vida.
Eu e fomos à casa de como bons amigos, aliás, ela e haviam rompido. Quando chegamos lá, ambos estavam molhados e sem camisa (ok, eu sei que tudo aquilo foi provocação, porque até hoje ele sabe muito bem que eu tenho uma tara terrível pela barriga dele), aparentemente (obviamente) tinham acabado de sair da piscina. Ficamos conversando um pouco, até a engraçadinha da sugerir que os meninos me jogassem na piscina, e foi o que fizeram. pulou na piscina junto comigo, e não sei o que aconteceu com e , de repente eles haviam sumido e só eu e estávamos ali. Sorriamos um para o outro e eu vi a insegurança nos olhos dele. Eu sabia que ele tinha medo de chegar até mim, talvez tivesse medo que tudo terminasse como sempre, terminando. Peguei nas mãos dele e ficamos nos encarando por um tempo, ele me puxou pra um abraço e ficamos ali. encostado na borda da piscina, e nós dois abraçados. Após algum tempo, ele saiu do lugar que estava e me puxou para o fundo, fui para as costas dele. andava pela piscina comigo nas costas, foi quando começou a tocar uma música, e ele começou a cantá-la pra mim.

I found my place in the world
Eu achei meu lugar no mundo
Could stare at your face for the rest of my days
Podia olhar fixamente em seu rosto para o resto de meus dias
Now i can breathe, turn my insides out
Agora eu posso respirar, me vire do avesso
and Smother me
E me sufoque
Warm and alive I'm all over you
Quente e vivo eu estou todo sobre você
would you smother me?
Você me sufocaria?

Let me be the one who never leaves you all alone
Deixe me ser esse que nunca deixa você sozinha
I hold my breath and lose the feeling that I'm on my own
Eu mantenho minha respiração e perco a sensação que estou sozinho
Hold me too tight stay by my side
Me abrace forte, fique do meu lado
and let me be the one who calls you baby all the time
E deixe-me ser esse quem o chama de amor toda a hora

Ao terminar a música, ele virou-se pra mim e encostou meu corpo completamente no dele. Senti o mundo desaparecer, os ursos capotarem, e meu coração ir parar na boca. Cada pedacinho daquele corpo que eu tanto amava estava ali, colado no meu. Eu podia sentir aquela barriga encostando na minha, aqueles braços me segurando. aproximou o rosto devagar e ora mirava meus olhos, ora minha boca. A proximidade entre nós era mínima e eu não sentia mais nada, não pensava em mais nada... Quer dizer, eu nem sabia se eu estava pensando alguma coisa. Apenas fechei os olhos e fui sentindo aquele hálito aproximar-se de mim. Os lábios dele foram me tocando devagar e dando uma abertura mínima com a boca, permitindo apenas a passagem dos meus lábios. Ele sugava meu lábio inferior e ficamos brincando por pouco tempo com nossas bocas. Senti a língua quente dele querer passagem e dei, permitindo um beijo calmo e vagaroso. Eu sentia cada segundo daquilo e provavelmente sentiu meu coração bater, tamanha era a pulsação.

Pisquei os olhos rapidamente, despertado novamente das recordações. De novo me veio o arrependimento. Hoje, mais do que nunca, eu sinto falta daqueles beijos, daqueles toques, dos momentos em que ele ficava observando meu rosto por longos intervalos de tempo, de quando ele me chamava de bebê e de quando fazia carinho na minha nuca. Hoje, mais do que nunca, eu vejo ele poderia realmente ter me amado (como me disse milhares de vezes, e até o próprio , mas da maneira dele). Agi como agi por medo, medo de me envolver me decepcionando no final, medo de ele ter-me nas mãos, medo de me apaixonar. Acabou que eu estou aqui, sentada em frente a uma mesa, ouvindo a chuva lá fora, sozinha, sentindo falta de tudo aquilo que eu passei, tudo aquilo que eu senti, sentindo falta dele, mais do que tudo, mais do que de ninguém. Essa história teve apenas um triste fim!


N/A: HEY HEY! Bem, vocês realmente não sabem como foi difícil escrever tudo isso, tanto que eu preferi scriptar tudo e mandar logo a fic toda de uma vez, pra não ter que ficar lendo. Foi uma tortura pra mim lembrar de tudo isso que eu passei com detalhes, lembrar de todos os momentos e só escrever alguns (já que foram muitos e eu não tenho um lado sentimental muito forte). Escrevi as partes que eu me lembro mais nitidamente, mudei algumas coisinhas pra encaixar num perfil legal pra ser lido e tirei uma personagem desagradável. Mudei pequenas coisas e, não sei se vocês perceberam, mas eu não dei muitos detalhes das partes "íntimas", desculpem por isso... Mas eu não consegui. Eu escrevi essa fic porque umas amigas minhas me encheram muuuito pra eu mostrar pra todo mundo como a gente fica cega e desorientada quando tá vivendo um conto de fadas e não sabe. Ok, nada de exageros certo?! ;) Não sei muito o que falar, então... Se vocês tiverem alguma dúvida, alguma pergunta pra fazer, é só comentar ou me mandar um e-mail, tudo bem?! :D
Beijos.

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The Lovers


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