A sala grande e branca estava vazia. Era totalmente branca: paredes brancas, chão branco, móveis brancos.
estava afundado no sofá branco. Na mesinha branca a sua frente havia cores: uma fileira de garrafas de champanhe Cristal, frutas que ele nunca tinha visto na vida e embalagens para viagem do McDonalds.
Suas mãos faziam apoio a sua cabeça. Suas penas estavam hiperativas e faziam todo seu corpo balançar.
O barulho de movimentação no outro lado da porta o deixava mais nervoso ainda.
levantou-se e entrou no banheiro. Assim, como o outro cômodo, este também era todo branco. Ele se encarou no espelho. Estava pálido e com o olhar assustado.
Não era para menos, ele estava prestes a pisar no palco pela primeira vez com a nova banda. A nova banda não era uma banda qualquer. The Wolves tinha estourado um ano atrás. Era a banda mais amado pelos amantes de música e críticos de plantão. Todos alegavam terem sido os primeiros a descobrir a banda, assim que eles colocaram suas despretensiosas músicas no My Space. Do dia para a noite, eles deixaram sua cidadezinha para tocar nas maiores casas de espetáculo do mundo. Tudo parecia perfeito, até seu vocalista decidir que não queria mais. Christian Pille decidiu dedicar-se ao budismo e neste exato momento, deve estar no Tibet, dedicando-se a murmurar mantras e coisas do gênero.
É ai, que e todo o seu nervosismo aparecem. Ele era o escolhido para substituir Christian. Havia fãs inconformados e indignados. Aparentemente, Christian Pille era o alma do The Wolves para eles. É claro que havia aqueles que estavam apoiando e confiando em . Era o que fazia ele se sentir menos como um intruso e com mais vontade de fazer tudo certo.
Ele e o resto da banda já tinha gravado algumas músicas para o novo cd. Uma delas, “Livy”, já estava sendo tocada nas rádios e estava indo muito bem. Graças a ela, tinha ganhado mais alguns simpatizantes. No entanto, tudo o que importava era aquela noite. Ela decidiria tudo. Se ele estragasse tudo, seria o fim: adeus à vida que ele sempre sonhou e lutou para ter; oi para sua antiga vida, tocar em festas entediantes e trabalhar no Burger King mais próximo.
- ? – Ele ouviu a voz de , guitarrista do The Wolves, do outro lado da porta.
- Quê?
- Você tá bem, cara? – abriu a torneira torcendo para que o barulho da água o acalmasse. – Você já tá ai faz tempo, não faz?
Deveria fazer.
- Tudo bem, . – Ele respondeu enquanto jogava água gelada em seus rosto. Sentia calor e frio ao mesmo tempo e um nó no estômago.
- Posso entrar, ? – perguntou e viu seu próprio reflexo no espelho levantar a sobrancelha, estranhando.
Ele destrancou a porta e a abriu. entrou meio cambaleante. Uma garrafa de champanhe estava na sua mão; na outra, um cigarro. levava o rock and roll lifestyle bem a sério.
- Escuta, dude. – fez com que se sentasse no vaso e sentou-se ao seu lado, na borda da jacuzi (banheiros de camarins de rock stars costumam ser bem completos). – Eu sei o que é primeiro show, é normal ficar nervoso.
suspirou fundo, era bom sentir um certo apoio emocional.
- Eles me odeiam.
- Quem? – perguntou com sua constante cara de chapado.
- Os fãs, os críticos, todos. – Apesar de ser um dos caras mais sortudos do mundo por ter assumido o posto de líder de uma banda de sucesso, ele ainda se sentia apenas um garoto de Boston e não um rock star de Nova York.
- Cala a boca, ! – fez um movimento com a mão como se aquilo não importasse. Esse sim, era um típico rock star de Nova York. – Eles só precisam de tempo para se acostumar e nossa música tá indo super bem.
Talvez ele estivesse certo.
- Eu tô tremendo. – confessou mostrando a mão trêmula para o amigo.
Ele riu e deu um meio abraço nele.
- Normal, velho...Sabe o que eu faço quando fico nervoso?
se preparava para aprender algum relaxamento budista. Christian tinha meio que influenciado todos eles com sua obsessão pelo budismo.
- O quê?
esticou as duas mãos para ele. pegou a garrafa de Cristal e deu um longo gole. Sentia as bolhinhas da bebida em sua cabeça. Depois, deu uma forte tragada no cigarro.
Nada que Dalai Lama aprovaria, mas ok.
Ele precisava parar de tremer para conseguir entrar no palco. Os poderes relaxantes do álcool são comprovados cientificamente.
São?
- Isso! – deu batidinhas em seu ombro como um pai orgulhoso. – Relaxa, vai dar tudo certo!
- Tem como ir mais rápido? – perguntou através da janelinha que a comunicava com o motorista do táxi. O carro cheirava a repolho e perfume barato, mas ela não tinha outra saída. Achar um táxi de sexta feira à noite já tinha sido bastante sorte.
Ela só esperava que aquele cheiro não penetrasse em sua roupa ou coisa parecida.
Agradeceu por Ralph Lauren existir.
- Moça, eu não faço mágica. – O careca respondeu com má vontade e ela olhou para o congestionamento em que estava metida.
Ela tentava ignorar a vontade de falar alguma má-criação ao motorista e o fato de estar parada no mesmo lugar há vinte minutos, tentou apreciar aquela noite de início de verão em Nova York.
O ar, apesar de poluído, parecia mais fácil de se respirar do que aquele gelado de algumas semanas atrás. Mulheres andavam para lá e para cá vestindo sandálias de salto, saias e regatas; homens saíam dos prédios de escritório afrouxando a gravata e tirando o paletó; tudo parecia menos difícil e as pessoas, mais felizes.
Como se aquele período frio fosse uma prisão e agora, eles estavam finalmente livres. No entanto, sabia que assim que enjoasse do calor, sentiria saudades da sofisticação do inverno, mas por enquanto, ela estava feliz em poder usar suas novas sandálias Manolo junto com aquele vestido que sua melhor amiga e mais nova estilista cobiçada da costa leste tinha feito especialmente para ela.
O motorista careca e mal educado ligou o rádio e ela pôde ouvir o finalzinho de Livy.
“Essa foi Livy, a primeira música dos Wolves com o novo vocalista” – O cara da rádio falou com aquela voz toda animada típica de rádio. “Não sei porque Christian Pille não se mudou para o Tibet antes!”
Ela riu sozinha e o motorista a encarou pelo retrovisor. Estava feliz da banda continuar fazendo sucesso mesmo com a troca de vocalistas. Aquela fase tinha sido difícil, os wolves tinham passado semanas e semanas procurando pela pessoa perfeita. Estavam quase desistindo quando , o baterista, lembrou-se desse cara que tinha estudado com ele.
Assim que tinha virado o novo vocalista da maior banda do planeta, como ela já tinha lido em alguns jornais sensacionalistas por ai.
Ela estava ansiosa para conhecê-lo. Todos falavam tão bem dele e sua voz soava como veludo para seus ouvidos. Isso ai, veludo. Por mais que tentasse ela não achava um adjetivo que conseguisse exprimir o que ela sentia ao ouvir a voz de . teve que recorrer a um substantivo. Este sim, sintetizava em poucas letras o jeito que ele soava.
Bem melhor do que a voz de taquara rachada de Christian, certo?
O som de Bring It começou a sair de sua bolsa e ela atendeu ao celular.
- Alô?
- Cadê você, linda? – Era , que já parecia mais bêbado do que o Tommy Lee naquele vídeo que ele ataca os paparazzis. Ao fundo, ela ouvia aquele barulho que sempre estava por trás das ligações dele: gritos histéricos.
- Tô tentando chegar, ! Tô no meio de um congestionamento monstro!
- Vem logo, a gente já tá entrando no palco! – Ela ouviu mais barulho e mais movimentação. Gritos. – Tenho que ir, ! Vem logo!
Ela não teve tempo de responder nada pois já tinha desligado. abriu a janela e colocou a cabeça para fora. Pôde ver o lugar do show, um prédio grande; circular; coberto por espelhos e uma foto dos Wolves a alguns quarteirões dali.
- Já vou sair, quanto deu? – Ela voltou-se para o motorista.
- 30 doláres. – O infeliz parecia aliviado por vê-la fora de seu táxi e a garota quase engasgou-se ao ouvir o preço. Além de tudo, ele era um mercenário.
Ela entregou as notas de qualquer jeito para o homem e saiu do carro.
As ruas estavam lotadas. Algumas lojas ainda estavam abertas e pessoas com felizes humores de verão andavam de uma para outra rindo, tomando sorvete ou os dois.
Tomou cuidado para não despencar do alto de seus saltos e tentou algo parecido com correr. Ela não queria perder um segundo do show. Tinha saudades de e estava morrendo para ver a nova formação da banda em ação.
- Toby!!! – Ela gritou feliz ao ver um dos guarda costas da banda na porta dos fundos da prédio. Toby não era apenas um guarda costas. Estava com eles desde o início e contava com ele para não deixar que aprontasse. Muito.
- ! Finalmente! – Ela abraçou aquele cara que era três vezes o tamanho dela e assustava qualquer um, apesar de ser uma das pessoas mais doces que ela conhecia. – O estava igual doido atrás de você!
- Eu sei, culpa desse trânsito idiota!
Toby riu pois fazia cara feia e tinha os braços cruzados, como uma criança que tinha acabado de saber que não ganharia a Barbie que tanto queria.
- Vai lá, broto... – “broto”, era assim que ele a chamava carinhosamente desde sempre. Toby tirou um crachá de identificação do bolso e o pendurou no pescoço de . – Eles só tocaram umas duas músicas.
- Obrigada, Toby. – ficou na ponta do pé e Toby se abaixou bastante para que ela conseguisse lhe dar um beijinho na bochecha.
O guarda costas abriu a pesada porta de ferro atrás dele e pode ouvir todo aquele zunzunzum misturado com o som muito alto de guitarra, baixo e bateria.
Ela estava no backstage. Pessoas andavam apressadas de um lado para outro. Fios e mais fios; caixas e mais caixas; uma ou outra porta que ela não saberia dizer para onde levava.
- Oi !
- , tudo bem?
- !
Pessoas que ela não lembrava bem o nome a cumprimentavam simpaticamente e ela acenava sem graça, com vergonha por não reconhecê-los. Sabia que eram parte da equipe da banda, pelo menos.
Ela finalmente chegou à lateral do palco. A platéia ia a loucura e cantava a música junto com a banda. Ela podia sentir a energia. Era algo surreal, mágico. A música aproximava todas aquelas pessoas, fazendo delas e da banda uma coisa só. Nada consegue resultados parecidos.
tocava a bateria violentamente; seus olhos fechados; o suor escorrendo pelo rosto; totalmente absorto pela música.
estava do lado oposto do palco e girava em volta de seu baixo. De tempos em tempos dava pulos que podiam ser considerados acrobacias.
estava bem a frente de , no canto mais próximo ao dela. Tocava a guitarra com o cabelo caído em cima dos olhos; um cigarro na boca e uma garrafa de vodka no chão. Ela podia espancá-lo ali mesmo, mas preferiu voltar sua visão para o único membro da banda que ela ainda não tinha analisado.
O tal do novo vocalista estava parado no meio do palco. Não se mexia muito. Ele era tão bonito como nas fotos e ao vivo, sua voz continuava fazendo lembrar-se de veludo. A música acabou e uma nova começou. nunca tinha visto uma introdução durar tanto. Mas ela conhecia aquela música e a introdução não era tão longa.
já tinha aberto seus olhos e olhava na direção de , assim como os outros membros da banda.
estava, no que definiria, como uma espécie de paralisia. Não cantava, não se mexia e ela desconfiava que nem respirando ele estava.
assumiu o microfone e começou a cantar a música. Ele sempre fora o backing vocal e tinha uma voz muito boa, na verdade. Ao ouvir a voz de , pareceu acordar; olhou para os lados com pânico nos olhos; sentiu um aperto no coração; ele estava surtando; saiu correndo do palco e passou voando por ela.
Ele não conseguiu segurar mais. Há alguns metros do palco, estava com a cabeça entre suas pernas e vomitava o que parecia ser metade de seus órgãos para fora.
A combinação champanhe, vodka e cigarros, ao invés de ajudá-lo, como ajudava a e ao resto da banda (que se encontrava um tanto quanto alcoolizada), tinha se transformado numa mistura tóxica no corpo de . Adicionando o nervosismo a tudo isso, você tinha um novo vocalista abandonando sua banda durante seu primeiro show. Ele agradecia a por ter assumido os microfones e mantido a platéia distraída.
Ele era um perdedor mesmo. Não estranharia se após o show, , e o avisassem que ele estava fora.
Uma nova onda de náusea tomou conta de quando de repente, ele sentiu uma mão em seu ombro.
- Vem aqui! – falou puxando até uma das portas que ela tinha visto anteriormente. Ela estava aberta agora, era um banheiro. A garota não se conformava. A banda tinha milhares de assistentes e nenhum teve a capacidade de ajudar o novo vocalista que por um acaso tinha abandonado o palco para gorfar atrás dele. Ela não poderia deixá-lo ali.
Essa garota o puxou para o banheiro e fechou a porta. Abriu a tampa do vaso e fez com que se ajoelhasse em frente a ele.
- Quer vomitar mais? – Ela perguntou tirando os fios de cabelo grudados no rosto dele pelo suor. Suor frio, aliás.
A náusea parecia ter passado e agora ele só sentia uma imensa fraqueza.
- Acho que não. - Ele respondeu com medo de que junto com as palavras saísse vômito.
ajudou a se levantar novamente e o conduziu até a pia. Ela abriu a torneira de água gelada e o ajudou a lavar seu rosto e a passar uma água na boca. Seus olhos estavam vermelhos, contrastando com sua pele branca.
- Pronto... – Ela falou pegando toalhas de papel para secá-lo. Ele já parecia mais vivo, já que antes parecia um zumbi. –Tá tudo bem, certo? – Ela perguntou enquanto tomava cuidado para não machucá-lo com o papel áspero. Seu rosto bonito adquiria cor aos poucos.
- Acho que sim. – Ele respondeu conseguindo andar sozinho para a privada. Ainda sentia-se fraco. Fechou a tampa do vaso e largou seu corpo lá.
Aquela garota exuberante, que parecia ter a idade dele e tinha sido sua salvadora agachou-se na sua frente e apoiou as mãos em seus joelhos. Eram mãos delicadas. Ela o olhava preocupada, mas levantou de repente, deu as costas para ele e abriu a porta. Ele observou seu corpo, seu cabelo e sua roupa e deu um sorriso quase que inconsciente.
- Aqui. – estendeu o copo a ele que o pegou com olhar de dúvida. – Não se preocupa, não é nada alcóolico, é só água tônica e gelo.
- Água tônica? – Ele deu um gole e agachou-se a sua frente de novo.
- Você vai se sentir melhor, eu prometo. – Ela sorriu, tentando acalmá-lo. – Eu cuidei de todos eles... – Ela apontou para a porta, referindo-se ao resto da banda. – E vou te falar, além de todos eles terem feito exatamente a mesma coisa no primeiro show, eles se sentiram melhor quando tomaram água tônica!
sorriu. Não esperava sorrir naquela situação. Ele estava perdendo seu primeiro show. Mas aquela garota era tão doce e a água tônica realmente estava funcionando.
A sensação de enjôo tinha passado e ele sentia-se quase bem.
Ela era realmente bonita. Traços clássicos realçados pela maquiagem, pelo perfume e pela roupa que a fazia parecida com alguém fugida de uma passarela.
- Obrigado. – Ele agradeceu olhando nos olhos brilhantes dela.
- De nada, você tá melhor? – Ela franziu o lábio ao perguntar e ele não conseguia tirar os olhos dele.
- Tô, tô sim! Graças a você.
Ela sorriu e balançou a cabeça meio envergonhada. levantou-se no mesmo momento que ela se levantava. Sem querer, eles tinham ficado extremamente próximos. Ele sentia um certo formigamento nas mãos, que queriam tocá-la. Sentiu calor e encarou seus lábios; encarou seus olhos.
Ela afastou-se rapidamente e ele voltou ao mundo real.
- Você não vai voltar para o show? – Ela perguntou.
O show. Por poucos segundos ele tinha esquecido completamente.
- Você tem que voltar! – Ela completou, tão animada que o animou também.
- Acho que sim. – Ele respondeu sem muita certeza.
- Como assim “acho que sim”? – Ela colocou as mãos na cintura, indignada. – Você é o vocalista do The Wolves, você foi escolhido por três dos melhores músicos da atualidade por alguma razão!
sorriu. Estava animado, estava elétrico. Tudo o que queria era voltar para aquele palco e mostrar que não era um mané que não conseguia lidar com a pressão de um show. Ele tinha sido o escolhido, certo?
- Vamos! – Ele pegou na mão dela e abriu a porta. Os dois andaram até o lado do palco. Olhou para a banda, olhou par a platéia. A hora era aquela.
Sorriu e soltou sua mão, deu alguns passos já adentrando os limites do palco. Ouviu a platéia aplaudir e gritar. Viu seus companheiros sorrindo, dando apoio. Olhou para a garota parada no canto direito do palco, sorrindo para ele, mais bonita do que qualquer outra que ele já tivesse conhecido. Ainda não sabia o nome dela.
- Hei, qual o seu nome? – Ele gritou antes de começar a cantar.
- ! – Ela respondeu, gritando para que ele a ouvisse.
- ! – Ele acenou dum jeito engraçado e meio tímido.
- Eu sei.
Os dois de olharam. Estavam separados por metros, mas se olhavam como nunca tinha olhado ninguém antes. Ela ouviu a voz de veludo que cantava ora olhando para ela, ora olhando para a platéia. Agora sim, ela via um verdadeiro membro do The Wolves. O público o amava e ele amava o público. A música o amava e ele amava a música.
Os fãs cantavam a nova música, Livy, sem engasgar, sem errar a letra e parecia controlar e hipnotizar a todos do lugar com seu talento natural para estar no palco. Todos podem estar num palco, mas são poucos que nascem para estar nele. era um desses poucos. Ele, sua voz e sua música faziam sentir seus pés flutuarem acima do chão; seu corpo relaxar-se e seus pensamentos sumirem. Tudo que existia no mundo era ela, uma bateria, um baixo, uma guitarra e a voz de .
tomou um banho rápido no banheiro todo branco após o show. Estava relaxado, estava feliz, estava elétrico, estava aliviado, estava envergonhado, estava ansioso. Mas era uma ansiedade quase gostosa. Queria ver . Ele teve a impressão de que ela era amiga da banda. Como amiga da banda, provavelmente estaria no camarim deles quando ele saísse de seu banho.
Certo?
Fazendo um balanço geral, ele estava simplesmente realizado.
Uma imensa quantidade de produtos caros ficava a sua disposição no banheiro o que garantiu que ele ficasse cheiroso. Ele tinha que melhorar a primeira impressão que aquela garota tinha tido dele.
Vestiu uma calça preta, uma camisa branca e um tênis que por sorte ele tinha levado de reserva em sua mochila. Suas roupas do show estavam em tal estado que ele pensava em jogá-las fora.
Ouvia vozes do outro lado da porta. Muitas vozes, risadas e música alta. Talvez ela realmente estivesse ali.
Olhou-se no espelho e dessa vez não viu desespero nem nervoso. Aquele era ele mesmo, o garoto de cidade pequena. A única diferença, é que esse garoto estava se confundindo com uma figura mais forte, mais confiante, a de líder dos Wolves.
Abriu a porta e se viu no meio do que parecia uma festa. Garotas, garotas, muitas garotas.
e estavam sentados no sofá conversando com duas delas. Groupies. A fascinação pelo mundo da música, da fama e do dinheiro estava estampado em suas caras.
vasculhou a sala atrás dela. A única que interessava.
Abriu um sorriso ao vê-la, mas este, logo sumiu. Sumiu quando passou a mão por sua cintura e beijou-a na bochecha.
Uma careta se formou em sua face. Ela estava com o e aquilo não era nada bom. Ele queria poder conversar com ela, sair com ela e beijá-la. Óbvio que essas coisas tomam uma nova forma quando ela provavelmente o vê como o amigo do seu namorado.
- ! – acenou e o chamou.
Tudo o que ele precisava, assistir àquilo de perto.
- Hei. – Ele falou ao aproximar-se dos dois. Falou baixo, com as mãos no bolso e o olhar no chão. Reparou que o casal não estava mais abraçado.
- Você estava bem hoje, ! – falou de um jeito mais feliz e mais chapado do que o normal e deu um tapa nas costas dele.
- Obrigado. – Ele respondeu levantando o olhar e encontrando o de nele. Ela o desviou para . – Tive um pequeno contratempo, mas depois, tudo deu certo.
- Tudo deu certo? – perguntou acendendo um cigarro. – Tudo deu certo é pouco! Eles te amaram. A platéia não ficava desse jeito com o Christian, mas com você foi um negócio fora do normal! – Ele estava todo feliz e orgulhoso. sentiu-se mal por ter pensado na namorada dele daquele jeito. – Você ficou meio nervoso, mas a cuidou de você, né? – Ele a abraçou de novo.
- É...Claro, a cuidou de mim! – Ele respondeu sem graça. Ela parecia incomodada nos braços de .
- Ai, , desgruda um pouco, pelo amor de Deus! – reclamou e desvencilhou-se de seus braços. – Arruma uma dessas garotas para você... – Ela apontou aquele bando de mulheres semi nuas atrás deles. fez uma cara engraçada. – Tô vendo que você está carente, elas vão cuidar de você com todo o prazer!
Fato. Qualquer uma daquelas garotas e por que não, qualquer garota, ficaria com em meio piscar de olhos.
- Ai, ! – fingiu-se de magoado. – Vou contar para mamãe que você está ignorando a sua família!
Ela já começava a rir, imaginando que sua mãe provavelmente riria da cara do filho quando os interrompeu.
- Calma! – Seus olhos estavam meio arregalados, como se ele tivesse acabado de fazer uma descoberta. – Vocês são irmãos? - Ela e seu irmão concordaram com a cabeça, achando que era óbvio para todos que era irmã de . – Ah! – Ele sorriu, sorriu e balançou a cabeça olhando para o chão. Parecia com vergonha de si mesmo. – Que legal! Eu pensei, eu pensei... – Ele voltou a encará-los, com aquele sorriso largo e bobo na boca.
- Eca, dude! – fez uma careta. – Você achou que eu comia minha irmã?
- ! – o repreendeu, achando aquela conversa perturbadora demais
- É, na verdade sim. – respondeu sério e pousou seu olhar nela.
e conversaram pelo resto da noite. Ele estava mais convencido do que antes de que tinha achado uma garota legal. Não uma garota para passar uma noite, não uma garota para apenas conversar. Ela era alguém que ele tinha vontade de ter por perto. Sempre.
Ela estava sempre com a banda para “tomar conta” de , que vivia cometendo todos os tipos de excesso.
Era consultora de moda da Vogue, o que justificava o fato dela realmente saber se vestir. Aquele vestido caía tão bem que comprovava tudo.
Os dois riram, se divertiram e falaram coisas sem sentido enquanto o resto da banda encontrava-se totalmente chapada no meio das groupies. Não que notasse qualquer outra coisa no cômodo que não fosse ela.
- Hei! – apareceu com as pupilas mais que dilatadas e uma garota pendurada em cada lado de seu corpo. - A gente vai pro Ritz, vocês vêm?
levantou assim que viu o irmão naquele estado.
Ela estava tão entretida com que não viu o irmão se chapar até a morte.
- ! – Ela empurrou uma das biscates e puxou o irmão pelo braço.
Ele deixou seu copo com whisky cair no chão e começou a rir.
- Que foi, ? – Ele perguntou quando os dois chegaram num lugar mais reservado da sala.
- Que você usou, ? – Ela perguntou cruzando os braços.
- Nada! É só whisky, ! – Ele apontou o copo espatifado e começou a rir de novo. Sozinho.
- Suas pupilas tão do tamanho duma bola de tênis.
a encarou sério, como se tivesse um momento de sobriedade, a abraçou forte e ela retribuiu. Ele a preocupava tanto. Todas aquelas temporadas em clínicas de reabilitação tinham feito dela uma irmã meio paranóica.
- Não se preocupa, tá bem?
Ela concordou, mesmo sabendo que sempre estaria preocupada com aquele cabeça de vento imprestável.
- Mas não exagera, tá? Por favor.
- Tá bom. – obedeceu e concordou com a cabeça.
Ela podia aceitar que ele bebesse e se drogasse, só se preocupava que ele passasse dos limites. Outra vez.
e voltaram a se juntar ao grupo. Ela ainda aparentava preocupação e ele já procurava duas garotas para ter em seus braços.
- Então, quem vai com a gente para o Ritz? – Ele perguntou e todas as garotas concordaram com brilhos nos olhos.
- , por que você vai pro Ritz? – perguntou quase rindo. – Você mora aqui em Nova York, não precisa ficar em hotel!
- Ai ! Você realmente não sabe se divertir! Por um acaso tem serviço de quarto no meu apartamento?
- Não. – Ela respondeu fazendo biquinho e se dando por vencida.
Linda, absolutamente linda.
- Você vem, ? – perguntou fazendo ele parar de babar na garota.
- Vou, mas só porque to hospedado lá, já tô meio cansado pra festa! Hoje foi um dia tenso.
- Você que sabe, dude! – bateu o copo de bebida no ombro de e virou-se para a irmã. – E você, irmãzinha general?
Ela fez cara feia.
- Não, obrigada, . – Ela fez um jeito esnobe. – Tenho desfile do De La Renta amanhã. – Ela riu de si mesma.
- Tá bom! – Ele a abraçou forte e lhe deu um beijo estalado. Ela sorriu. – Te amo.
- Também te amo. – Ela respondeu e pegou sua bolsa num sofá ao lado. – Já vou indo.
Ela deu um tchau a todos e viu ali, a sua chance. Ele não a perderia de jeito nenhum.
- Hei, eu te acompanho! – ouviu , virou-se o viu correndo em sua direção.
- Obrigada. – Ela sorriu sentindo a expectativa do que ela já sabia que ia acontecer.
- Eu que tenho que te agradecer. – Ele falou com as mãos nos bolsos, brilho nos olhos e sorriso tímido nos lábios. – Por mais cedo... Acho que se não fosse por você eu não teria voltado.
Ele parecia tão sincero.
- Claro que ia e não se preocupa, algum dia você retribui. – Ela teve a impressão de que aquilo saiu num tom provocante demais, o que não era exatamente a sua intenção. Não que aquilo fosse prejudicá-la também.
- Claro.
Os dois caminharam em silêncio pelo backstage. Ela queria beijá-lo. Logo. Chegaram na grande porta de ferro por onde ela tinha entrado.
O lado de fora estava deserto. Os seguranças dos Wolves estavam parados do outro lado da rua. Apenas o tráfego de carros e a conversa deles fazia barulho. O ar estava quente.
fez sinal para um táxi parar e virou-se para . Seu cabelo parecia multicolorido sob todas as luzes da rua.
- Foi legal te conhecer, . – Ela estava com vergonha, ela estava nervosa.
- Foi bem legal te conhecer, . – Ele falou com sua voz de veludo no pé da orelha dela.
O táxi parou atrás deles e sem nem ao menos perceber, viu-se presa entre o carro e . Ele não pensava em mais nada que não fosse ela. Eles se olharam, um olhar lotado de desejo. O desejo que sentiram desde a primeira vez que se viram, por mais que não estivesse em condições de reparar ou ser reparado dessa maneira naquela hora.
aproximou sua boca o máximo possível da dela, mas sem as encostar. Os dois sentiram suas respirações, seus perfumes, até que não se contentou com apenas aquilo. Foi ela quem finalmente juntou seus lábios. As mãos de seguravam sua cintura delicadamente e ao mesmo tempo com força. Ele estava em dúvida sobre qual parte da noite ele tinha gostado mais, essa ou a hora que ele voltou para o palco.
Eles se soltaram, apesar de nenhum dos dois ter realmente vontade de se afastar do outro.
- Você tem razão, , foi bem legal te conhecer. – Ela falou já dentro do táxi, que começou a se mover. Ela praticamente esmagou a cara contra o vidro para poder ver até o último centímetro de que conseguisse.
- Para onde? – O motorista perguntou. Esse era um velhinho que usava uma espécie de boina.
teve que pensar algum tempo.
Ela não conseguia lembrar de seu próprio endereço. Coisas corriqueiras como números e nomes ficam insignificantes quando você conhece “a” pessoa.
observou o táxi partir sem mais dúvida alguma. Os últimos minutos tinham sido os melhores da noite. Era certeza. Absoluta.
Ele ficou ali, naquele estado de felicidade e de demência induzida por felicidade até que , e saíram fazendo uma barulheira. estava meio que sendo arrastado pelos outros dois.
- Vamo, ! – o chamou enquanto os três entravam numa limosine.
Ele correu até o carro.
e estavam bobos e tinha vontade de rir apenas por olhar na cara deles. Totalmente bêbados.
ocupava todo um banco do carro, meio dormindo, meio acordado.
- E aquele bando de garota? – perguntou sentindo falta das groupies semi nuas que não largaram seus amigos durante a noite.
- A gente enjôo delas. – respondeu abrindo o vidro e deitando a cabeça na janela.
Caras que tem tudo o que querem podem ser bem estranhos às vezes.
- Hei, ! – A voz de surgiu, mas ele continuava com os olhos fechados, o corpo esgotado.
- Fala, !
- Você é legal. – olhou para os outros dois, em busca de uma interpretação.
Nenhuma ajuda. fazia malabarismos com suas baquetas. não sabia como isso era possível, já que ele estava mais do que bêbado. vivia um momento autista e encarava o nada com os olhos fixos.
- Obrigado. – Ele achou que essa resposta seria satisfatória.
- Minha irmã é legal.
- Hum... – pediu ajuda aos outros novamente que agora só sorriam com a cara meio estúpida. – Ela é sim.
- Vocês dois são legais.
capotou de vez, deixando sem entender nada.
- Esse é o jeito dele falar que ele não se importa de você ter dado uns pegas na irmã dele agora há pouco. - explicou.
- Ah. – entendeu; sorriu; encarou a noite; abriu a janela; sentiu o vento em seu rosto; pensou em ; sorriu mais ainda; respirou fundo; pensou em e sorriu.
FIM
Obrigada a Kyle Patrick, Daniel Humpfrey e The Wolves; obrigada a você que leu (;
Me conte o que achou através dos comentários e do e-mail (ali.broccoli@hotmail.com), ok?