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Última atualização: 12/12/2021

Prólogo

- Dona Arminda pediu que você passasse na casa dela, parece que aconteceu um pequeno imprevisto e… - jogou as palavras no irmão assim que ele adentrou o cômodo após um dia longo de trabalho.
- E.. qual foi o problema da vez? - Nicolas questionou o irmão, mas não obteve resposta. O encarou e viu o rapaz com lábios entreabertos, paralisado, olhava para o nada, o irmão mais novo estava tendo uma de suas visões. Era o dom de , ele conseguia ver o futuro. Porém, as visões vinham quando queriam, seu irmão não tinha nenhum controle sobre elas.
- O que viu dessa vez? - assim que voltou a si, Nicolas o questionou.
- Não estava muito claro, só novamente os olhos daquela moça, eles estavam vermelhos, ela chorava muito. Meu coração está doendo tanto ao ver o sofrimento no olhar dela... Eu nunca senti isso em toda minha vida. - suspirou fundo, sentando-se no sofá, Nicolas o acompanhou, se jogando no sofá também.
via aquela moça com frequência em suas visões, desde que tinha seus 12 anos. Suas visões nunca eram nítidas. Ele sabia que a mulher tinha um importante papel em sua vida, mas ainda não havia identificado qual era. Agora a ver estava frequente demais, era como se, mesmo distante, participasse ativamente da vida dela, das tristezas, momentos felizes, angustiantes, era bizarro. Ele se sentia muito próximo dela, mesmo sem sequer conhecê-la.
- Será que chegou a hora de finalmente conhecê-la? Todo dia você tem alguma visão dela, o que não era tão frequente antes - o encarou, fazia completo sentido aquilo.
- Talvez esteja - ele passou as mãos no rosto. - Mas eu sinto aqui dentro - apontou para o próprio coração. - Que ela não está próxima de mim, mas não sei onde começar a procurá-la.
- Eu tenho é certeza, lembro bem como você a procurou loucamente quando teve sua primeira visão, mas a única coisa que você via com nitidez eram os olhos dela.
- Sim, foi como procurar agulha no palheiro. - eles riram. - E para meu azar, continuo vendo aqueles benditos olhos verdes.
- Pois é, meu irmão. - ficaram em silêncio por um tempo. - Você deveria ir à capital, talvez ela esteja lá, é uma cidade grande. - ficou pensativo. - E outra, aqui você não consegue de jeito nenhum emprego, talvez lá você consiga.
- Será? - Nicolas deu de ombros. Sentiu uma súbita vontade de sorrir.
- Você tem algo a perder? - negou. - Tem a tia Nena lá, um teto você terá. - concordou.
- Você está certo, essas visões estão muito intensas, eu preciso ir atrás disso.
- Então vá, meu irmão. Se der algum problema, eu estarei aqui. Eu sempre estarei aqui por você. - Nicolas apertou o ombro do irmão, passando-lhe conforto. Só de pensar que não teria o irmão para compartilhar seus problemas todos os dias depois que chegasse do trabalho quebrava Nicolas, já que os dois eram órfãos e um era pelo outro. Mas ele sempre soube que o irmão era especial demais para viver em Roseiral e um dia partiria, seu destino não estava ali, Nick também sentia em seu coração.
- Está bem, irei. - ele abraçou o irmão. - Você tem razão, não sei explicar, mas sinto que ela esteja lá, e sinto também que ela está precisando muito de mim. Vou sentir saudades.
- O destino se encarregará de colocá-la em seu caminho. - Nicolas o abraçou apertado. - Agora diz aí, o que a senhora Arminda quer comigo? - riu da mudança brusca de assunto, mas era da personalidade de seu irmão, ele não gostava de demonstrar tristeza.


Capítulo Único

desceu do ônibus atrapalhado, afinal, quase havia perdido o ponto, estava completamente perdido naquela cidade imensa, era um vai e vem de pessoas que ele estava confuso, ficou parado tentando assimilar para que lado iria. Tirou o papel do bolso de sua calça, o lendo e vendo que estava mesmo na rua correta, só precisava andar alguns bons quarteirões e estaria na casa de sua tia.
Ele ia começar a andar, entretanto trombou com uma moça. Assim que a encarou, arfou, os olhos dela eram idênticos aos olhos que ele viu por toda a sua vida. Como um flash várias imagens da moça com ele surgiram em sua mente, ela andava em sua direção com um bonito sorriso, enquanto ele sorria ainda mais. A mulher agora caminhava de branco por um corredor florido, enquanto ele a esperava, emocionado, ao lado do juiz de paz. O cenário mudou, agora ele a via com duas crianças, eles eram cópias dela e dele em miniaturas, eram os seus filhos… As visões vinham em uma velocidade intensa, não estava conseguindo acompanhar, levou as mãos na cabeça, como se aquilo o ajudasse a controlar, mas era em vão.
A moça tentava inutilmente segurar o vaso que tinha em suas, mas não tinha jeito, ele espatifaria no chão. O barulho do objeto caindo no chão, fez com que acordasse das visões, fixando seus olhos na moça.
- Ah, meu Deus. - ela lamentou, extremamente chateada. - Era um vaso importante… - fez um biquinho, triste. - Você não olha para onde anda? - ela encarou o indivíduo a sua frente. ficou calado, mas com um pequeno sorriso na face. Era inacreditável, depois de tantos anos ela estava ali, em sua frente, não parecia real. - Estou falando contigo, pode responder? - comentou, aborrecida.
- É você… - ele comentou, rindo levemente. - Eu não posso acreditar, é mesmo você…
- Eu o quê? - ela o encarava, de cenho franzido.
- Agora eu sei o seu papel na minha vida, está tão claro como água, você é o amor da minha vida! - disse de forma simples e fez com que a mulher entreabrisse os lábios, surpresa com a veracidade que ele pronunciava aquelas palavras e ainda mais surpresa por sentir algo dentro de si remexer com aquela afirmação.
- Você está louco? Bebeu alguma coisa a essa hora da manhã? - comentou, desconcertada. - Essa foi a pior cantada que eu já ouvi em toda a minha vida.
- Me desculpa, me desculpa ter falado isso - ele comentou. Ela deveria tê-lo achado um louco, ou um sem vergonha, como ele diria para ela que sempre viu os olhos dela e que tinha acabado de ter uma visão que se casaria com ela e teriam dois filhos lindos? - Eu não tive a intenção de quebrar o vaso, eu… não sou daqui, estou um pouco perdido.
- Mas quebrou! Um presente espatifado no chão. - ela suspirou audivelmente, aborrecida, mas amoleceu com o olhar tristonho que ele a encarava, fechou os olhos, foi um acidente. - Me desculpa, também não é para tanto. Enfim, vaso quebrado, vida que segue. - ela deu de ombros, voltando a caminhar. Ele segurou o braço dela. - O que pensa que está fazendo?
- Me diga, qual é o seu nome?
- Eu não vou dizer. - ela encarava a mão que ele tinha no braço, fazendo com que o rapaz ficasse extremamente sem graça e a soltando.
- Tudo bem, me desculpe a invasão - ele sorriu fechado e a mulher assentiu. - A gente vai se ver de novo, eu sei e espero que consiga confiar em mim para dizer seu nome. - a mulher arfou, novamente uma convicção presente na voz dele.
- Você deveria se internar em um manicômio ou em uma clínica de dependentes químicos - ela se foi, e Marcus acabou rindo, tinha deixado uma primeira impressão péssima com a moça, mas as palavras simplesmente pularam de sua boca. Agora ela achava que ele estava louco ou era um maníaco. Que as coisas pudessem ser consertadas no próximo encontro, porque era a única certeza que ele tinha, a mulher era o seu futuro.

- Oi, querido. - sua tia o saudou assim que ele entrou no apartamento dela. - Porque não me avisou que chegaria hoje? Eu teria ido buscá-lo! Essa cidade é grande demais para quem viveu a vida toda em Roseiral. - largou as malas e a abraçou de forma apertada, sendo correspondido com afinco pela mulher.
- Oi, tia. Na verdade, não quis incomodar e até foi bom, conheci a cidade um pouco e até vi… - parou de falar, sua tia não compreenderia seu dom, então, por hora, não contaria nada. - Foi ótimo.
- Bom, fico feliz que deu tudo certo e conseguiu chegar. - ela o puxou pela mão e os dois se sentaram no sofá. - Como está?
- Eu estou bem, um pouco cansado pelas cinco horas de viagem, mas nada que um bom banho e um prato de comida não me desperte. - ele deu de ombros, rindo, fazendo com que a tia risse também.
- Sobre o banho, conseguimos ver já, agora sobre o bom prato de comida… - ela fingiu uma cara triste, riu. - Para sua sorte, fiz há pouco comida, terá um almoço farto.
- Cheguei na hora certa então. - Nena riu. Ter por ali com certeza alegraria seus dias, afinal, morava sozinha, ela não havia se casado ou tido filhos.
- Não se acostume, não cozinho todos os dias, hein? As tarefas serão bem divididas. - o rapaz fez uma continência engraçada. - E como Nicolas ficou com você vindo para cá?
- Ele quem me incentivou a vir, tia, mas a senhora sabe, ele é tudo o que eu tenho e vice-versa. Ele me prometeu que ficaria bem. - a mais velha assentiu. - Ele sabe que era importante para mim estar aqui.
- Acha que ele pode vir para cá também?
- Talvez. Nicolas tem um bom emprego lá, eu que não tive sorte mesmo. - deu de ombros.
- E por falar nisso, você já tem uma entrevista na quinta. Não sabia ao certo o dia que chegaria, então marquei uma data mais longe. - sorriu, contente. - Eu comentei sobre isso com o senhor Edmundo, meu vizinho do andar debaixo, ele tem uma filha que trabalha no RH de uma cerâmica, parece que estão precisando de gente e ele conseguiu uma entrevista para você.
- Preciso agradecer muito a esse senhor e sua filha. Já pensou se consigo um emprego na minha primeira semana aqui? Com certeza eu terei tirado a sorte grande.
- Sim, querido, estou torcendo muito por isso. - Nena sorriu. - Agora, anda, vá tomar um banho para te dar coragem. Vou te levar até seu quarto, para você deixar suas coisas lá.
- Sim, senhora. - ele se levantou, espreguiçando-se.

Assim que teve um tempo livre, esperou anoitecer e a primeira coisa que fez foi buscar o celular em seus pertences e ligar ao irmão, Nick precisava saber que assim que colocou os pés na cidade, a encontrou.
- Nick, oi! - o saudou assim que ele escutou o alô do outro lado da linha. - Como está?
- ! - sorriu. - Eu estou bem irmão, sentindo sua falta mais do que eu possa imaginar, mas bem. - sentiu o coração ficar pequeno, também estava sentindo saudades do irmão. - Como foi de viagem? Chegou bem na casa de tia Nena?
- Cheguei sim, não a avisei para que fosse me buscar na rodoviária e até me virei bem, apesar de aqui ser grande e muito bem movimentado. – comentou, cansado. Resolveu se deitar na cama. - Você tinha razão, Nick, eu a,b> encontrei. Ela foi a primeira pessoa que eu conversei aqui. Tem noção disso? - Nicolas abriu um sorriso enorme.
- Você tinha mesmo que ir, cara. Eu te falei, ela precisava de você aí nesse momento. - Nick começou a rir. - Me sinto um lunático falando das suas visões. - eles riram.
- E por falar nas minhas visões, eu tive uma muito forte, dessa vez eu via nitidamente o meu futuro e entendi que ela é o amor da minha vida. Nós vamos casar, ter filhos, poxa… é muito surreal. Essa visão me deixou desnorteado, veio tudo de uma vez.
- Cara, só você não sabia dessa, era meio óbvio que ela era o amor da sua vida. - Nick sorriu. - E você reagiu como a encontrando?
- Eu posso ter a assustado. - contou minuciosamente sobre como as coisas sucederam.
- Ah, não, não, não, , ela está te achando um tarado e que, ainda por cima, canta mulheres de forma deliberada.
- E como eu conserto isso? - ele estava desesperado.
- Na próxima vez que encontrá-la, só tenha mais filtro, ela será sua, meu irmão, você viu e você sabe que suas visões são certeiras. Tenha calma e paciência.
- Você está certo. E que foi tão incrível vê-la, tocá-la, encarar aqueles olhos tão lindos. Nick, ela é a mulher mais linda que eu já vi.
- Eu imagino. - Nicolas concordou, seu irmão era de uma pureza rara naqueles tempos, era por isso que ele se preocupava como a moça o trataria, já que ele nunca havia se relacionado com ninguém.

estava dentro do táxi que sua tia fez questão que ele tomasse para que não chegasse atrasado, hoje seria a entrevista que Nena tinha conseguido com o vizinho. O rapaz estava um pouco nervoso, não podia negar. Não queria ficar na dependência da tia por muito mais tempo, mais do que nunca ele precisava se estabilizar financeiramente para que pudesse ficar tranquilamente, afinal, ele havia encontrado o que procurou por anos afinco.
Voltou os olhos para janela, lembrando-se que assim que chegasse ao prédio deveria procurar por , esse era o nome da mulher que tinha conseguido a entrevista e o encaminharia para o setor adequado.
O veículo estacionou em frente a empresa, tirou as notas que sua tia havia lhe dado da carteira e entregou ao motorista. Desceu do automóvel, ajeitou a roupa e caminhou em direção a entrada do local. Viu que tinham duas recepcionistas sentadas atrás de um balcão, se anunciou dizendo estar ali para uma entrevista. Ângela, a recepcionista, pediu que ele se sentasse que logo o buscaria e assim ele o fez.
Ele aguardou por incontáveis minutos, até escutar uma voz feminina diferente no recinto, levantou os olhos e abriu um pequeno sorriso, o destino estava mesmo fazendo bem o seu trabalho. Ela ainda não tinha o visto, porque conversava com Ângela e a outra recepcionista. Ângela apontou discretamente a cabeça em direção a , que arfou quando os olhos mais intensos que já viu pousaram nos seus. tinha um sorriso bonito que sumiu assim que se deu conta de quem era o candidato, o maluco da rua, que de forma surpreendente ficou preso em seus pensamentos. Ela caminhou em direção a ele, mais séria do que o habitual.
- Você é o , certo? - o rapaz assentiu, parecia que tinha perdido a voz. - Ok, me chamo , sou recrutadora. - ela estendeu a mão na direção dele, o mais profissional possível, assim que ele apertou a mão estendida, foi como se um choque passasse em seu corpo. Ela desfez o contato, incomodada. sabia que ela também tinha sentido. - Me siga, por favor. - Sem proferir nenhuma palavra, ele a acompanhou até o elevador. Foram imersos no silêncio até o terceiro andar, estava quieto, sabia que ali era o ambiente de trabalho dela e jamais cruzaria qualquer linha ali, e bom, ele queria aquele emprego.
- Sente-se, por favor - ela apontou uma cadeira e assim ele o fez. - Bom, como você está aqui por uma indicação minha... - ela negou com a cabeça, parecia incrédula com aquilo, pôde perceber - Enfim, não serei eu que te entrevistarei, ok? Pode haver conflito de interesses. - concordou.
Ele umedeceu os lábios, estava muito nervoso, então quebrou o contato visual com os olhos dela.
- Eu já imagino o que esteja passando em sua cabeça, , e, mais uma vez, peço desculpas pela minha impulsividade naquele dia. E aqui é seu ambiente de trabalho, eu jamais… - ele deixou subentendido e ela concordou com a cabeça.
- Vou pedir que você preencha a ficha com seus dados cadastrais. Logo a recrutadora Giulie virá para prosseguir com a entrevista. Boa sorte. - saiu da sala, deixando-o sozinho, soltou a respiração que estava presa pela imponência da mulher e deu uma olhada na ficha, começando a preenchê-la.

já estava em casa, depois de ter passado por uma entrevista com Giulie, tinha achado que se saiu bem, torcia por isso. Agora estava jogado no sofá, seus pensamentos tinham nome, , não pôde evitar sorrir, ela era tão linda, tão imponente, tão profissional, era louco, mas estava completamente apaixonado, aliás, sempre esteve, só nunca soube nomear o que sentia.
A porta de casa foi destrancada e de lá passou sua tia com o rosto cabisbaixo. estranhou a feição dela e assim que a viu depositar a bolsa em cima do sofá, a questionou:
- O que houve?
- Ah, querido… - ela soltou um suspiro baixo. - Sabe o vizinho do andar debaixo que conseguiu a entrevista para você? - o homem assentiu, em alerta. - Fiquei sabendo por sua filha que ele está no hospital por um infarto. - se levantou às pressas.
- Por isso eu a vi chorando naquela visão… Ela precisa de mim - ele sussurrou, mas sua tia parecia tão absorta que não prestou atenção. - A filha dele está aí?
- Ela mora com ele, querido, e sim, ela está. Veio buscar alguns utensílios em casa para a internação dele.
- Pelo amor de Deus, tia, qual é o apartamento? - a tia estranhou o desespero dele.
- 214. - Antes que ela pudesse cogitar dizer algo, o sobrinho saiu às pressas de seu apartamento, não quis esperar o elevador e simplesmente foi de escada. Chegou no andar debaixo esbaforido, tentou controlar a respiração após tocar a campainha, mas foi em vão. A porta foi destrancada.
- Eu estou correndo para o hospital, dona Rose e… - colocou seus olhos na figura parada na porta e empacou.
- Me desculpa, eu soube o que houve e… - passou as mãos no rosto -, eu não sei explicar, mas eu sinto, dentro do meu coração, que eu precisava estar aqui. - Antes que ele sequer percebesse as lágrimas começaram a descer dos olhos da mulher.
tentou se segurar ao ver a versão dela mais frágil, mas não conseguiu e abraçou, queria passar todo o conforto que podia com aquele gesto. Ele a sentiu surpresa, mas os braços dela passaram pela cintura de , o apertando forte. Ele sentiu que o corpo dela tremia muito.
- Eu sinto muito, muito mesmo. - ela escondeu o rosto no pescoço dele, molhando a região.
- Eu não posso perdê-lo… não posso - sua voz saiu fraquinha, enquanto abraçava de olhos fechados.
encarou o vazio, a sua primeira visão desde que pisou naquela cidade veio e dessa vez fora rápida, ele viu que estava feliz. Pelo cenário a mulher estava no hospital, e conversava com um homem de avental branco.
- Me escuta, você não vai perdê-lo. Tenha fé, ele vai ficar bem. - ela mexeu a cabeça em concordância.
Era extremamente estranho, mas estar abraçado com lhe passava um conforto que ele não encontrou nos braços de ninguém. Ela era o amor de sua vida.
- Vai ficar tudo bem, ok? - ela assentiu, incapaz de responde-lo. Ela desfez o abraço, parecia encabulada depois de terem passado vários minutos assim.
- Me desculpe. - ela passou as mãos no rosto, enxugando as lágrimas. - Eu preciso levar as coisas… - fez um biquinho.
- Entendo. - ele a olhou. - Eu sei que comecei com o pé esquerdo com você, , e sei também que interpretou a minha fala daquele dia de forma literal, mas eu quero te ajudar nesse momento e me coloco à sua disposição para tudo e inclusive te acompanhar até o hospital.
- Não precisa me acompanhar – ela voltou as mãos ao rosto, secando-o. - Tem um táxi me esperando. Você me surpreendeu positivamente. - ela sorriu fechado com o rosto inchado. – Então, obrigada - ele assentiu. A viu pegando uma maleta com algumas coisas. Ela o acompanhou até a porta, abrindo-a, saindo em seguida e trancando-a.
- Fica bem - ele teve que colocar suas mãos no bolso, porque sua vontade era de tocá-la.
- Eu vou tentar. - Por sorte o elevador estava parado no andar e a mulher entrou, deixando-o lá.

Alguns dias se passaram após o infarto do pai de , ele estava respondendo bem ao tratamento, acabou por saber. Depois daquele encontro na casa da mulher, se mantinha informado por sua tia, não queria ser mais invasivo do que havia sido naquele dia, mesmo várias vezes encarando o número dois no elevador quando o pegava.
Ainda não havia tido resposta da entrevista que fez na fábrica, mas nem por isso se deixou abalar, e estava em sites de emprego mandando seu currículo em várias vagas, à espera de um telefonema para uma próxima entrevista, precisava se estabilizar por lá, do contrário, estava cogitando voltar para sua cidade, não queria ficar nas costas da aposentadoria de sua tia, não que ser sustentado pelo o irmão o fizesse bem, mas era o seu irmão mais velho no fim.
estava voltando do supermercado, tinha comprado algumas coisas para casa, quando escutou seu nome ser proferido. Estranhou, afinal, ele conhecia pouquíssimas pessoas. O homem se virou e deparou-se com , que também tinha algumas sacola do mesmo supermercado.
- Oi. - sorriu, era impossível não sorrir olhando para ela.
- Olá! Por favor… - apontou para suas sacolas, mas ela negou. - Eu não seria eu se te deixasse carregar essas sacolas, por favor, . - ela assentiu, relutante, mas as passou ao rapaz.
- E como você está? - eles voltaram a andar em direção ao prédio em que moravam.
- Na verdade estou bem, meu pai está se recuperando da cirurgia, não podia estar mais contente. O cateter foi bem colocado e ele vem respondendo de forma excelente a ele - abriu um bonito sorriso. sorriu de volta. Quando ia respondê-lo, sem qualquer aviso prévio, ele teve uma visão, era novamente , dessa vez ele via que ela corria um risco, uma viga de madeira se desprendia e ele era esperto e a salvava. Volto aos sentidos, piscando, aturdido, e o encarava, completamente curiosa e levemente confusa. - Está tudo bem? Você apagou... de novo. – sussurrou a última parte.
- Eu ainda não sei… - ele a encarou, confuso. Os dois voltaram a caminhar. Foi tudo muito rápido, como ele previra, a viga se desgrudou da construção em que estavam próximos, mas antes que sequer encostasse em , ele a puxou e deu três passos para trás e o objeto caiu em frente a eles no chão.
- Como… - ela o encarou, em choque. - Você sabia… - ela levou as mãos à boca.
- Deus meu, está tudo bem com vocês? - um operário saiu às pressas do local.
- Está. - assentiu, parecia muito chocada para ter alguma reação. O homem só sabia se desculpar não o respondia e assentia sem parar.
Depois de um longo pedido de desculpas por parte do operário, retomou a caminhada, mas não o seguia.
- Você sabia que aquela viga ia cair, você me empurrou para trás de forma precisa, mas isso não faz nenhum sentido… não faz. Você ficou estranho há pouco e depois aconteceu aquilo… - ficou calado, ele não ia falar sobre suas visões a ela, não era o momento e talvez a afastasse ainda mais, ele odiava mentir, mas se via sem escolhas.
- Foi uma coincidência. - ele não conseguia encará-la.
- Muita coincidência. - não tirou os olhos do homem, estudando suas reações.
- Minha tia contou sobre seu pai a mim, eu confesso que fiquei com vontade de falar com você depois de tudo, mas eu não sei, me sinto invasivo demais fazendo isso. Mas eu estou muito feliz por ele estar bem. - Ela percebeu a mudança repentina de assunto e por hora deixaria aquilo para lá.
- Você não seria invasivo, . - ela suspirou. - Eu percebi que você é um bom rapaz desde o dia em que me ajudou com meu pai e te agradeço novamente pelo acolhimento que nem eu mesma sabia que precisava. - sorriu, agradecendo. -, acho que podemos recomeçar, o que acha? Passarmos uma borracha em tudo.
- Perfeito. - finalmente ele estava tendo a chance que queria e não iria desperdiçá-la jamais.
- Inclusive, vão te ligar amanhã, você conseguiu passar na entrevista. Parabéns. - todo o rosto do rapaz se iluminou. - Mas quando te ligarem, finja que não sabia de nada.
- Pode deixar. Eu nunca vou cansar de agradecer pela indicação, , então obrigado mesmo.
- Não foi nada. - eles passaram pela recepção do prédio em que moravam e logo entraram no elevador. - Você é de onde?
- Interior, talvez você não conheça minha cidade, mas chama-se Roseiral.
- Na verdade eu conheço sim, de nome, afinal, lá é de onde vem as rosas mais lindas do estado.
- Você gosta de rosas? - o elevador parou no andar dela, mas nenhum dos dois estavam prontos para finalizar a conversa.
- Amo, acho uma delicadeza receber de presente, uma pena não ter sido agraciada por esse gesto. - ele a encarou. - Bem, chegou. - ela constatou o óbvio.
- Sim, é, vamos descer, eu seguro as sacolas para você abrir a porta. - ela assentiu. Ela parou em frente ao apartamento, destrancou a porta e passou as sacolas para ela. - Bom, é isso…
- É… obrigada por carregá-las. - ele assentiu, ficaram calados, um olhando para o outro. cruzou o olhar com o dele, queria entender o que se passava neles, mas não conseguia lê-la de forma precisa. - Você quer entrar? – ele umedeceu os lábios, tímido, ela queria que ele entrasse.
- Bom, se não for te atrapalhar com relação a seu pai e…
- Não vai, para falar a verdade, eu fui mais cedo ao hospital, fui ao mercado para comprar algumas coisas e preparar para eu comer por aqui. - ele assentiu. - Estou tendenciosa a comer um miojo, porque estou bem cansada.
- Nah, te ajudo nessa empreitada, meu irmão diz que sou um exímio cozinheiro, minha tia também, então me deixa cozinhar para ti. - abriu um lindo sorriso.
- Está bem. – ela não pareceu fazer nenhuma resistência, aos olhos de ela estava muito cansada mesmo.
- Ok… - ela abriu a porta e o deixou entrar.
reparou que a decoração do lugar era simples, mas muito aconchegante, estavam na sala, que tinha um sofá de três lugares marrom com uma poltrona da mesma cor. Uma tevê de plasma que imaginou que era de 42 polegadas, uma estante com uma série de livros que imaginou que seriam de , pois eram livros de sagas.
- Eu amo sagas, falou saga, eu já estou comprando. - ela deu de ombros, despertando a atenção dele.
- Imaginei que eram seus mesmo. - a boca de se curvou num sorriso.
- Mas meu pai também lê, viu? A saga Harry Potter mesmo, ele leu e amou.
- Quem não gosta de Harry Potter? - o defendeu e eles riram. - Bom, vamos ver o que a senhorita tem na cozinha. - o rapaz a seguiu para o local.

o encarava, ele podia sentir. Ele só tinha dúvidas sobre o que se passava na cabeça dela, era um olhar novo, que ele nunca havia recebido dela, seria uma admiração, um afeto, ele não tinha precisão daquilo.
- Prontinho, molho pronto. E o macarrão também, pode se servir. - ele a encarou, fazendo com que ela sustentasse o olhar.
- Obrigada, , obrigada mesmo. Está com um cheiro ótimo. - ela pegou dois pratos e colocou na mesa, pegando um para si para se servir. - Mas se sirva, tem bastante e com certeza eu não vou comer isso tudo sozinha. - ela se sentou à mesa.
- Farei o sacrifício. - ele brincou, sorrindo.
- Eu acho que tenho um vinho na geladeira. Seria um ótimo acompanhamento.
- Seria, mas eu não bebo. - ela o encarou, surpresa.
- Bom, eu tenho suco de uva, combina também. - se sentou ao lado dela, assentindo.
- Se você quiser tomar um vinho, tudo bem, eu não bebo por questões pessoais minhas mesmo.
- Não, está tudo bem. - ela encarou, dando uma pequena garfada e sentindo a explosão de sabores. - , está um delícia! - ele a imitou, levando a comida até a boca.
- E não é que ficou mesmo? Obrigado, . - ele levou mais uma garfada na boca, mas parou o movimento, pois mais uma visão invadiu sua mente. Dessa vez ele visualizou o pai de com um grande sorriso, ele saía do hospital acompanhado da filha, que tinha um sorriso tão ou maior do que o da moça, ele visualizou uma data circulado no calendário da recepção, isso seria amanhã. Piscou os olhos, aturdido, focando seu olhar em .
- Seu pai vai ter alta quando?
- O médico disse que em breve. - ela o encarou firme. - Você fez aquilo de novo, . A mesma expressão que você fez quando nos conhecemos, quando você me ajudou naquele dia e hoje mais cedo. O que isso significa? – então a mulher havia percebido, aquilo era um problema ao rapaz.
- , eu…
- Sem desculpas, me conte, por favor.
- Você não entenderia. - ele remexeu na comida, evitando fitá-la.
- Você não está me dando nem o benefício da dúvida, por que você acha que eu não entenderia? E se eu entender? Por favor, me conte.
- , eu tenho visões... é, eu vejo o futuro. - ela largou os talheres em cima do prato, em choque. - Quando eu te vi pela primeira vez eu vi o meu futuro, mas o vi como nunca vi em toda a minha vida. Eu vi você e eu juntos, casados, com filhos. Minha visões são certeiras, , tudo o que eu vejo realmente acontece. Eu vi sim que você seria acertada por aquela viga, eu vi que seu Edmundo sobreviveria e agora pouco que seu pai terá alta amanhã.
- Ah, meu Deus, meu Deus… Porra!
- Eu disse que você não entenderia, eu disse. - se levantou da mesa. segurou a mão dele, e o homem voltou a se sentar.
- Calma, eu não sei explicar bem, mas eu acredito completamente em você. a encarou, surpreso - Então não foi uma cantada, aquele dia…
- Não foi, eu só falei tudo a você pela euforia. – a mulher torceu os lábios, mas assentiu. - Eu não deveria ter te contado sobre as visões, não deveria.
- Não sei o que dizer... - o celular dela tocou, a mulher pareceu conhecer o número pela sua feição e atendeu. - Sim. É ela, terá alta amanhã? - ela encarou . - Estarei aí às 10. Obrigada. … - engoliu em seco. – Porra, é tudo verdade.
- Não te contei as coisas para que você não se sentisse na obrigação de algo.
- Eu sei, você só me contou porque eu insisti. - o clima estava bizarro. tampou as duas panelas a sua frente, evitando contato ocular. - Como funcionam? - a encarou, interrogativo. - Suas visões.
- Não tenho nenhum controle sobre elas, vem quando querem.
- Certo. - ela suspirou. - E eu apareço com que frequência nelas?
- Em basicamente todas. - ela levou os olhos ao chão. - Eu vejo sobre o meu futuro, sobre o seu futuro. Eu vi você por toda a minha vida, , mas não via sua face inteira, somente os seus olhos, os seus lindos olhos . Eu vim para essa cidade por você, eu te vi chorando muito, e agora compreendo o porquê, e isso me motivou a estar aqui, pois, de alguma forma, você é meu destino. - abriu e fechou a boca por várias vezes, ela parecia sentir o peso daquelas palavras. Afinal, eram intensas, puras e muito verdadeiras. - Eu vou te deixar assimilar tudo isso. - ele se levantou, e dessa vez não o impediu.
- Eu vou abrir a porta para você. - ele negou.
- Não precisa, eu sei o caminho. Eu vou te dar espaço, , o que tiver que ser, será. Fica bem. - ela suspirou baixo, assentindo, extremamente confusa.

Já fazia duas semanas que estava na fábrica, apesar do trabalho ser um pouco pesado, ele estava gostando muito e já até havia recebido o salário proporcional aos dias que trabalhou. Havia dado um pouco a tia, mesmo ela negando que não precisava. Quanto a , ele não a havia visto desde o dia em que jantaram juntos, seu coração doía muito com aquilo, mas havia prometido que lhe daria espaço e assim o faria.
- , chegou seu vale-refeição. O RH pediu que você vá lá fazer a retirada. - Julio, um dos metalúrgicos, comentou.
O rapaz parou o que fazia e se encaminhou para o prédio principal e não tardou até aparecer no local. Se distraiu vendo algumas cerâmicas na exposição, ali era diferente de onde ele havia feito a entrevista.
- , aqui. - ele sentiu o coração disparado do peito, assim que se virou e viu que ao lado de Giulie, estava .
- Oi. – ele suspirou baixo com o olhar intenso sobre si, será que ela estava com saudades dele, como ele estava dela?
- Então, me acompanhe, por favor, para você retirar seu benefício. - desviou o olhar do de , e seguiu Giuliae. Assinou a folha e pegou o envelope com o cartão.
- , eu queria falar contigo, me espera na entrada do prédio principal ao fim do expediente. - ele assentiu.
- Ok. - ele sorriu, saindo do local, não sem antes encarar por última vez .

Assim que o horário do expediente foi dado, deixou seu EPI no local indicado, pegou suas coisas e saiu em direção ao prédio principal. Tinha ficado com a cabeça a mil, temia que ela fosse dispensá-lo.
Chegou antes de , e a aguardou de forma impaciente até que ela apareceu na frente dele, e não quis piscar, porque poderia perdê-la a qualquer momento.
- Demorei? - ele sorriu.
- Para falar a verdade eu nem percebi – mentiu, ela suspirou, mordendo os lábios. Começaram a caminhar em direção a saída do local.
- Vamos de uber, eu pago, sei que você recebeu o proporcional. Eu estou tão cansada que enfrentar um transporte lotado me mataria.
- Concordo, mas dividimos a corrida, é o mais justo, já que estou mesmo impossibilitado de pagar tudo. - ela ia abrir a boca, mas ele emendou. - Por favor. - ela assentiu.
- Tudo bem, aceito - ela pegou o celular e chamou. - Cinco minutos.
- Você pode me adiantar sobre o que se trata o assunto? Me desculpe a ansiedade, , é que… - ela gargalhou e não pôde deixar de sorrir junto, como ela era apaixonante.
- Me desculpe, devo ter te matado de ansiedade. Não foi minha intenção, eu juro. - ele a encarou descrente e voltou a rir. - É sério, . - ele sorriu.
- Tá bom, tá bom, eu acredito. - ele levantou as mãos em rendição. Eles ficaram em silêncio por um tempinho.
- Bom, vamos lá. - ela abriu um sorriso trêmulo. - Desde o momento em que nós esbarramos, mesmo que eu não demonstrasse nada, eu senti algo dentro de mim, você me olhou com tanta admiração e respeito que eu estranhei, porque, não é normal. Maldei sim tudo de início, mas depois com o tempo você foi me mostrando que você era assim, um ser humano puro, de um coração tão grande, foi me envolvendo e eu me apaixonei. Eu estou apaixonada, . - os lábios dele tremeram levemente, mas o rapaz sorriu. Um sorriso tão genuíno que sorriu junto.
- Eu te amo há tanto tempo, . - sentiu o coração pulsar ainda mais no peito.
- Eu também te amo. - ele se aproximou dela e com certa delicadeza juntou seus lábios aos dela, o beijo se aprofundou quando ela colocou a língua na boca do rapaz, afinal, não sabia bem como beijar, pois nunca havia feito aquilo. Ele foi copiando os movimentos dela com certa maestria. Se aquilo fosse um sonho ele com certeza não gostaria de ser acordado.




Fim!



Nota da autora: Oi, gente! Amei escrever sobre almas gêmeas aiii, é muito neném esse tipo de plot! Digam o que acharam. Um beijoo!

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