Fanfic finalizada.

Capítulo Único

Uma das coisas que eu mais gosto de fazer desde que me mudei para Nova York é conhecer lugares novos. Abriu um novo café na 5th Avenue? Eu vou. Uma nova loja de departamentos da Times Square? Eu vou. Um novo teatro na Broadway? Lá estou eu. gosta de novidades, da sensação de coisas novas, é gostoso poder dizer “seja bem-vindo” pela primeira vez. Desde criança, eu não fui muito bem recepcionado pelas pessoas. Elas me achavam um tanto peculiar por gostar de me vestir bem e ser mais vaidoso que os demais garotos. Afinal, eu era apenas gay, apesar de não saber na época. Meus colegas pareciam já saber e não aceitavam isso muito bem.
Então quando minha melhor amiga, Mendes, e sua mãe chegaram na minha casa sem julgamentos, apenas com seus gigantescos corações brasileiros para aquecer tanto a mim quanto a minha mãe, eu as recepcionei da melhor forma possível. Desde então, nós quatro somos inseparáveis. Quero dizer, nos separamos quando eu e decidimos vir para Nova York para focar na nossa banda, The Singers. Sim, nós temos uma banda! A banda é só nós dois, o quão legal nós somos?
Mas voltando ao assunto das novidades, recentemente abriu uma nova livraria no nosso bairro. Se tem um lugar que ama é uma boa livraria. Então é claro que eu iria dar as boas-vindas ao nosso bairro. Mas não queria ir sozinho, e quem melhor que minha Cookie (é assim que chamo ; ela me chama de Cupcake), viciada em livros, para me acompanhar?

— Vamos, Cookie! Por favor! — eu pedi novamente, pulando em sua cama.
, para! Se você quebrar minha cama, vai ter que comprar outra.
— Eu te compro um apartamento inteiro, , mas vai comigo!
— Seria ótimo, porque finalmente eu teria paz! — ela reclamou, me empurrando da cama e me fazendo cair de bunda no chão. — Foi mal, não pensei que fosse tão forte…

Bufei derrotado, ajeitando meus cabelos antes de me levantar do chão.

— Não fica bravo, — ela falou, piscando seus cílios ridiculamente grandes. Ela nem precisava usar muito rímel para deixá-los daquele jeito. — Eu preciso terminar aquela música e o East vai vir aqui mais tarde.
“O East vai vir aqui mais tarde” — a imitei com a voz afetada. — Não gosto dele…
— Mas eu gosto — ela retrucou emburrada. Eu apenas dei de ombros, indo em direção à porta. — Ei, traz marcadores de página pra mim?

Minha vontade era dizer que se ela queria marcadores, deveria ir junto e pegar ela mesma. Mas como dizer não para aqueles enormes olhos castanhos? Eu não conseguia. Mostrei o dedo do meio, mas ela sabia que isso era um sim.


📚🕺🏼🎹🗽


O sininho na porta da livraria para anunciar a chegada de um cliente era um clássico. O lugar estava bem lotado para uma tarde de quarta-feira, porém, organizado e aconchegante. O teto alto era enfeitado com desenhos de livros e lustres de diversos tipos e tamanhos; ao fundo, uma enorme escada levava os nomes de livros e autores clássicos em cada degrau, nos encaminhando para o segundo andar; as estantes eram organizadas em fileiras e entre elas, poltronas e pufes terminavam de decorar o local. Era uma livraria comum, não havia nada que a diferenciava das outras. O passeio teria sido mil vezes mais divertido com aqui, mas eu jamais admitiria isso para ela.
Como prometido, fui atrás de algum livro que ela não tivesse. Como boa viciada em livros (igual à mim), ela tinha muitos livros que, juntos aos meus, formava quase uma pequena biblioteca, o que tornava a missão mais difícil. Além do fato de ter uma preferência por livros em português, “para nunca esquecer minhas origens” ela sempre diz. Consequentemente, depois de anos convivendo com ela e a mãe dela, acabei aprendendo a falar português, o que pensei ser uma boa vantagem quando nos candidatamos para a New York University, uma das melhores universidades do estado de Nova York. Não passamos, infelizmente, e acabamos desistindo dessa ideia.
Andei pela loja inteira, achando-a mais comum a cada passo e tentando encontrar algo que não tivesse, quando fui abordado por um dos funcionários. Foi naquele momento que eu esqueci todos os meus pensamentos sobre o lugar: aquela era sim uma livraria diferente, diria até a melhor de todas. As outras, que agora pareciam sem graça alguma, não tinham um loiro de mais ou menos 1,70m sorridente com as bochechas mais rosadas e os olhos mais verdes de todo esse mundo. Céus, talvez eu tenha andado tanto que morri de cansaço e cheguei ao Paraíso.

— Ei, está me ouvindo? — O garoto chamou minha atenção. Pisquei algumas vezes, saindo do transe que ele mesmo me prendeu.
— Desculpa, o que disse?
— Perguntei se precisa de ajuda — ele respondeu aos risos. — Você parece um pouco indeciso.
— Ahm… Sim, é… Bom, eu queria um livro em português. Vocês tem algum?
— Você sabe ler em português? — ele me perguntou, parecendo impressionado. — É uma língua bem difícil.
— É, é sim — eu ri com nervosismo. — Não só sei ler, como sei escrever e falar.
— Uau… — ele levantou as sobrancelhas, realmente maravilhado. — Bom, acho que tenho algo para você, me acompanhe.

Sem pensar duas vezes, o segui pelos corredores de estantes, admirando como seus cachos loiros brilhavam quando ele passava por uma faixa de luz solar que vinha de fora. Ele era a coisa mais linda do mundo, talvez até mais que o Harry Styles – para eu ou acharmos isso, é porque a pessoa era realmente muito linda.
Ele parou em uma sessão de livros estrangeiros mais distante, passou os dedos pelas lombadas dos livros e sorriu vitorioso quando encontrou o que queria. Esse maldito tinha que parar de sorrir ou eu iria passar mal.

— Esse aqui é uma coletânea de poemas dessa autora brasileira. Por favor, não me faça pronunciar os nomes…
— Flora Figueiredo — falei ao ler o nome da autora. — “Chão de Vento”.

Fiz uma careta porque 1) meu sotaque falando português era horrível, ele se misturava com meu sotaque texano e virava um caos, e 2) tinha esse livro, ela trouxe do Brasil desde que se mudou e já havia lido diversas vezes. Mas a cara do garoto na minha frente era de puro encantamento. Ele parecia maravilhado ao me ver falando em outro idioma.

— Minha amiga tem esse — falei ao perceber que ele estava me encarando demais e parecia não conseguir falar nada. — Tem algum outro?
— Sim, tenho — ele falou com firmeza, virando para a estante de novo. — Esse aqui não é brasileiro, mas está em português. O problema é que são doze contos de Natal e bom, estamos no final de Janeiro…
— Ah, mas ela ama o Natal! — peguei o livro em mãos e li o título: “O Presente do Meu Grande Amor”. Olhei para ele sorrindo. — Perfeito, vai ser você… Quero dizer, vai ser esse!
— Ótimo! — ele riu e apontou para os caixas. — Vamos lá, vou deixar você furar a fila.

Fechei os olhos com força, me sentindo um idiota pelo que falei. “Vai ser você”, pareceu um maldito stalker psicopata escolhendo sua próxima vítima. Me aproximei do balcão e ele mesmo me atendeu. Finalmente reparei em seu crachá com o nome em relevo branco; ele realmente tinha cara de . Isso me fez rir comigo mesmo.

— O que achou da livraria? — ele perguntou, também sorrindo.
— Incrível — respondi, olhando para ele com a mesma atenção que ele olhava a tela do computador. — Consigo me imaginar vindo aqui muitas vezes.

Todo o dia, se dependesse de mim. sorriu largo antes de me entregar o livro e disse “então até logo”. Aquilo obviamente foi um convite! E quem sou eu para recusar?


📚🕺🏼🎹🗽


Durante as duas primeiras semanas de fevereiro, eu ia quase diariamente na livraria. Eu já sabia que a folga de era toda terça-feira depois de perguntar para uma de suas colegas (ok, talvez agora podem me chamar de stalker), então pelo menos nesse dia eu não aparecia. Mas ao menos uma vez por dia eu passava lá, em horários aleatórios, e sempre saia com um livro e uma memória nova do garoto. Uma nova forma que ele sorriu, uma nova piada que ele soltou… Porra, eu estava encantado demais para meu próprio bem.
Mas eu ainda não havia contado nada para . Infelizmente (para ela), o desgraçado do Easton terminou com minha amiga e a última coisa que ela precisava era do melhor amigo dela apaixonado esfregando na cara dela o garoto incrível que havia conhecido na livraria. Aliás, esse era um cliché perfeito demais e a própria não gostava nada disso. não acreditava que clichés fossem reais, mesmo os que aconteciam bem na sua cara.
Dois dias antes do dia dos namorados, Easton veio pegar as coisas dele que, graças a sua grande falta de noção e educação, ele deixava espalhadas pelo nosso apartamento. Quando cheguei de noite, com mais um livro em mãos e novas informações sobre , estava ouvindo To Die For do Sam Smith no último volume. Eu suspirei alto ao deixar o livro na mesa da sala e subir as escadas para o loft onde ficavam nossos quartos. Parei no batente de sua porta e a observei chorar enrolada em seu edredom. Todo o papo de “eu estou bem, ele é um babaca e não vou derramar uma lágrima sequer por ele” era tudo mentira e eu sabia bem disso. Ali estava a prova, soluçando enquanto ouvia a música triste. Ela abaixou a coberta para que eu pudesse ver seus lindos olhos vermelhos que partiram meu coração. Me sentei na beirada da cama e seu choro pareceu aumentar.

— Amiga — afaguei seu braço por cima do edredom. — Você sabe que sou completamente apaixonado pelo Sam Smith, mas eu odeio quando você o coloca para tocar tão alto.
— Easton veio buscar as coisas dele — ela falou com a voz embargada. — Ele nem olhou na minha cara.

Observei em volta, o espaço estava realmente mais vazio do que quando deixei o apartamento naquela tarde. Eu sabia que ele ia, esse foi um dos motivos de eu ter saído. Se eu ficasse, provavelmente teria socado aquele rostinho perfeito de modelo dele até ele não poder mais usá-lo.

— Sorte a sua! — eu exclamei, tirando os sapatos e deitando com ela, abraçando-a por trás. — Não teve que olhar aquela cara de pau nojenta dele.

soltou uma risada triste que desencadeou em mais choro. Odiava vê-la assim, odiava mais ainda o retardado que a deixou desse jeito.

— Tá doendo tanto, — ela choramingou entre soluços. Eu apertei mais o abraço.
— Eu sei, meu amor, eu sei — respondi, afagando seu braço. — Mas veja pelo lado bom…

Ela virou a cabeça e me olhou confusa, esperando por uma explicação.

— Pega esse coração partido e vai escrever uma música pra gente — conclui com um sorriso brincalhão.

pegou uma almofada e bateu com ela em mim, me fazendo cair na gargalhada. Ela não conseguiu conter um sorriso, por mais fraco que fosse. Isso causou um alívio instantâneo no aperto do meu coração. Eu amava aquela garota com todas as minhas forças, eu poderia mover montanhas para ver esse sorrisinho aparecer. Mendes era a irmã que eu nunca tive e ninguém tiraria isso de mim.

— Não estou com inspiração — ela murmurou, se sentando na cama.
— Uma pena, iria ser tão sucesso quanto essa música — eu falou, apontando para a caixinha de som que tocava “I’m Not The Only One”. — A propósito, eu amo, mas ele tem melhores, né? Cadê seu celular?

Me levantei e fui até a escrivaninha onde ela apontou, peguei seu celular e pausei a música, deixando o aparelho de lado em seguida. Ela fez um gesto de questionamento com as mãos para cima quando me aproximei, segurando suas mãos e puxando-a para fora da cama. tentou resistir, me puxando de volta e resmungando que eu não estava afim de sair do quarto ou da cama. Mas eu apenas a ignorei e a puxei escada abaixo, arrastando-a para a sala, mais especificamente para o piano encostado na parede ao lado da varanda, e me sentei no banco acolchoado.

, eu…
— Só senta aqui — eu falei, dedilhando as primeiras notas. Ela se sentou ao meu lado, parecendo reconhecer a melodia de For The Lover That I Lost. A música era da Celine Dion, mas o Sam fez uma versão tão linda quanto a original e nós amávamos cantar em nossos shows. — Eu sinto muito por tudo isso, Cookie, mas vou te dar um dia para viver toda essa tristeza porque aquele bosta não merece nem uma lágrima sua.

Comecei a cantar a música quando ela apoiou a cabeça em meu ombro, voltando a chorar. Aquela música era importante demais para nós dois, mas principalmente para ela. No dia em que ela conheceu Easton, estávamos cantando essa música em um show. Segundo , no momento em que ele entrou no bar, ela se apaixonou. Eu nem ao menos percebi a presença dele, eu estava na verdade de olho em um dos seus amigos que fingiu não se importar comigo pois queria parecer hetero na frente do grupo. Mas era inegável a forma como seus olhos me devoravam. Quem saiu perdendo foi ele, assim como Easton saiu perdendo agora. Eu queria que ela entendesse aquela música como um encerramento de um ciclo. Aquilo tinha que ser um adeus definitivo.
Quando acabei, ela levantou a cabeça e secou as lágrimas, rindo sem graça. Minha missão estava cumprida.
Mais tarde, naquela mesma noite, nosso empresário nos ligou enquanto fazíamos planos de assistir filmes e nos acabar em pipoca e brigadeiro. Josh Jones-Cyrus nos trouxe a notícia de que iríamos cantar na nossa cafeteria preferida, Kobrick Coffee. Nós sorrimos ao ouvir aquilo, pois Dave Kobrick, dono do estabelecimento, era nosso amigo e iria abrir uma filial na Quinta Avenida. Aquilo era perfeito demais! Ele sempre disse que quando fosse para um lugar maior, iria fazer um palco para que nós e outros artistas pudéssemos cantar lá. Dave também cumpriu sua promessa.
Então no dia seguinte eu fui para a livraria determinado a convidar para nos assistir no dia 14 de fevereiro. Eu estava nervoso demais quando passei pela porta, ouvindo o sininho anunciar para toda a livraria que eu estava ali. Esfreguei as mãos com ansiedade, procurando-o por todo o lugar. Quando o vi, seu sorriso radiante me fez perder toda a coragem. Eu poderia muito bem estar confundindo as coisas e ele só estava sendo simpático comigo, mas se ele não quisesse nada, com certeza ele já teria me pedido para parar de ir lá todo santo dia, não é? A essa altura, já havia percebido que comprar livros era só uma desculpa ridícula para poder vê-lo e se ele não me impediu, então era porque estava gostando de me ver. Certo?

! — ele exclamou ao me ver, apertando meu braço em um gesto carinhoso.
— Oi, — sorri amarelo, batucando meu dedo no livro novo da saga Crepúsculo que eu sabia que não tinha e iria amar. Infelizmente era em inglês, mas eu não estava com cabeça para procurar livros em portugês agora. O nervosismo não me permitiu. — Você sabia que eu tenho uma banda?
— Não, eu não sabia — ele riu, passando meu livro no caixa. Vinte e cinco dólares? Essa brincadeira estava saindo caro demais. — Muito legal.
— É, pois é… A banda sou eu e minha amiga, . Somos a The Singers — falei rápido demais, pegando alguns marcadores de página e fingindo prestar atenção neles.
— Nunca ouvi falar, desculpa…
— Não, relaxa! Não é como se fossemos famosos ou algo do tipo, de forma alguma — ri com nervosismo, agarrando o livro que ele me devolveu.

Bom, era agora, eu precisava convidá-lo. Era apenas dizer “vamos cantar no Kobrick amanhã de tarde, caso você não tenha um namorado muito gato para passar o dia, quer ir nos ver cantar?”. Eu poderia oferecer um café por minha conta. É isso, vou oferecer um café.

— Então… Tchau, — eu falei e dei meia volta, sem esperar uma resposta.

É claro que amarelei. Eu simplesmente não podia convidá-lo na frente de todos. E se eu levasse um belo não? Onde eu enfiaria minha cara?


📚🕺🏼🎹🗽


— Camiseta da Lufa-Lufa, !? — eu exclamei, jogando os braços para o ar.

Minha amiga, além de demorar demais para se arrumar, apareceu com uma camiseta de Quadribol do Harry Potter, calça jeans e all-star. Casual demais, simples demais e totalmente inadequada.

— Qual o problema? — ela questionou, olhando para a sua camiseta velha. — É minha camiseta da sorte e precisamos de sorte para o Dave nos contratar como artistas fixos no café.
— Mas hoje é dia dos namorados! Combinamos que íamos de rosa e não rosa e amarelo!
— Mas eu não achei nada rosa — ela choramingou, fazendo bico. — Só um moletom escrito “I Love NY” com um coração no lugar do “love” que a gente comprou no nosso primeiro dia aqui, lembra?

Eu me arrumei todo, com calça e camisa social, essa sendo da cor rosa. Usei meu cinto da Gucci que eu gostava de usar apenas em ocasiões especiais já que era caro demais. E ainda queria colocar um moletom!

— É brega, mas perfeito para o dia de hoje — eu falei, apertando o ossinho do nariz. — Vai colocar ele, rápido.

A esperei por mais alguns minutos do lado de fora do prédio, me adiantando em pedir um táxi. Senti algumas gotas de chuva molharem meu rosto e apertei a capa da guitarra com mais firmeza, receando que a água estragasse meu equipamento. Finalmente chegou e pudemos partir para o café.
Olhei para a garota e sorri maroto, segurando uma risada. Ela alisou seus cachos para a ocasião e teve de prender seus cabelos por causa da chuva. Com seu tênis, seu coque mal feito e a chuva molhando a janela, ela parecia fazer parte de um clássico clichê Nova-Iorquino.

— O que foi agora? — ela perguntou, me olhando com irritação.
— Para alguém que não acredita em clichês, você está uma perfeita personagem dos filmes — falei risonho, fazendo-a revirar os olhos. — O All-star velho, o moletom, o coque mal feito… Só falta você derrubar o café em alguém quando chegar lá.

Com a feição de que, se pudesse, voaria em meu pescoço, apenas respondeu com um dedo do meio, me fazendo rir mais ainda. Quando chegamos, a chuva havia apertado e tivemos que correr para dentro. Dave nos recepcionou o melhor que pôde em meio a tantos clientes. O lugar estava cheio; mais especificamente, estava cheio de adolescentes com voz aguda demais para estarem gritando tão alto.

— Quem é o pobre coitado? Não consigo ver daqui. — Perguntei para Dave depois de cumprimentá-lo.
— Ah, é meu sobrinho Noah, o mais novo queridinho da Netflix — Dave respondeu, seu sorriso era tão orgulhoso quanto quando falou sobre a cafeteria. — Ele faz sucesso com as garotas.
— Noah Centineo!? — eu exclamei, meus olhos brilharam quando Dave confirmou.
— Não foi ele que traiu a namorada modelo? — perguntou, tentando ficar na ponta do pé para enxergá-lo. Seu tamanho baixo não permitiu tal feito e eu achei uma graça o seu esforço.
— Não, a doida da ex dele que inventou tudo aquilo. Na verdade, ela quem traiu ele, coitado — O mais velho balançou a cabeça, admirando o sobrinho de longe. — Mas enfim, vocês podem se ajeitar no palco, se quiserem usar o banheiro fica bem ao lado e se precisarem de algo, estou aqui.

Nós o agradecemos e tentamos fazer o que ele disse, abrindo caminho entre as pessoas para que pudéssemos chegar ao palco. Me virei para falar algo com no exato momento em que uma garota derrubou o café em sua roupa. Cobri a boca com a mão na mesma hora, tentando segurar o riso. Meu Deus, o cliché estava completo. O rosto de ficou púrpura e seu rosto se fechou mais ainda. Aquele não estava sendo um dia bom para minha amiga, mas eu sentia que iria melhorar.

— Garota, por que não olha para onde anda? — ela esbravejou, tentando fazer seu moletom não encostar na camiseta de baixo. — Você arruinou meu moletom!
— Ah, coitada — a garota a olhou de cima a baixo, ela não deveria ter mais que 17 anos, mas sua voz era de um deboche experiente. — Você realmente se acha importante? Noah é bem mais importante e você está tentando chamar atenção! Quem é você?

Ah, aquilo ia dar merda. Eu mesmo, se não fosse homem, voaria no pescoço da vadia se tivesse a chance. Entretanto, precisávamos ser profissionais e melhores que ela. Antes que pudesse retrucar, puxei seu braço e a arrastei para longe, pedindo desculpas para quem estivesse em nosso caminho. Longe da confusão, eu comecei a rir sem piedade enquanto tentava ajudá-la a secar sua roupa.

— Desculpa, amiga — eu disse aos risos. — Mas é muito irônico!
— O que é irônico? — ela perguntou irritada.
— Você falou esses dias sobre clichês não acontecerem na vida real, mas olhe só para você — eu apontei para ela. — Está vivendo um!
— Não viaja, ! — ela retrucou, aparentando estar cada vez mais irritada. — Isso tudo é coincidência e nenhum garoto derrubou uma bebida em mim, foi uma adolescente histérica pelo galã do momento que provavelmente nem atua tão bem assim…

Arregalei os olhos ao ver Noah se aproximar por trás dela com um sorriso torto desconcertante e as mãos no bolso. Ele já estava próximo demais para não ouvir o que dizia.

— Cookie… — falei entre dentes, fazendo um gesto com a mão próxima ao meu pescoço para indicar que ela deveria parar de falar. Ela me ignorou.
— E provavelmente — ela continuou. — só está nos filmes por ser ridiculamente bonito!

Dei um sorriso amarelo para o garoto atrás dela, como se pedisse desculpas. pareceu entender que não era direcionado para ela e se virou, dando de cara com o deus grego. Eu queria enfiar nossas cabeças em um buraco de tanta vergonha.

— De todos os elogios que já recebi, “ridiculamente bonito” foi o mais… inusitado — ele falou risonho.
— E-eu não quis…
— Relaxa, eu já ouvi coisas piores — ele riu, finalmente descruzando os braços. — Sou Noah Centineo, para o caso de não saberem disso.
— Ah, nós sabemos! — eu falei, me metendo na frente de e estendendo a mão para o cara na tentativa de melhorar as coisas. — Sou e essa desastrada aqui é a Mendes, muito prazer!
— “Desastrada”… — ela resmungou baixinho, me olhando com raiva.
— O prazer é meu — Noah falou com um sorriso irritantemente encantador. — Eu vim exatamente saber se está tudo bem, vi o acidente ali atrás.
— Não, não está tudo bem — retrucou irritada, me fazendo bufar. — Temos uma apresentação em alguns minutos e minha roupa está manchada!

Eu belisquei seu braço e pedi desculpas ao garoto pela sua falta de educação. Noah olhou para o moletom e fez uma careta, provavelmente percebendo o estrago que sua fã fez. De repente ele começou a tirar o próprio casaco, eu e nos entreolhamos sem entender nada. Eu, é claro, estava muito entusiasmado com a visão. Não só por vê-lo com uma peça a menos de roupa, mas por perceber que o ator tinha caído nos encantos da cantora. O quão magnífico seria se minha melhor amiga namorasse o Noah Centineo? Já comecei a imaginar os tapetes vermelhos, os dois desfilando pelo Met Gala, ele a beijando ao ganhar um People’s Choice Awards...

— Fica com o meu — ele falou, estendendo a peça de roupa para . Reprimi um grito de empolgação e a vi paralisar, sem reação alguma. — Vamos, pegue!
— Pega — sussurrei em seu ouvido, lhe dando um cutucão. — Mais um clichê.
— Você não queria que eu usasse rosa? — ela me perguntou, pegando o moletom das mãos do Noah. — Isso é azul-marinho!

Sem paciência alguma, eu a fuzilei com os olhos e ela pareceu entender o que eu quis dizer, sem eu precisar falar nada. Não era momento para discutir isso e precisávamos cantar logo. Me adiantei em sentar no piano e esperei por ela. Quando vestiu o moletom eu percebi que era o mesmo que o garoto usou em seu filme mais conhecido, Para Todos Os Garotos que Já Amei. Não é possível que ela esteja agindo tão naturalmente usando aquele moletom! Consegui ver, assim que ela subiu ao palco, que algumas garotas a olhavam de boca aberta e com certa irritação.

— Você está linda, Lara Jean — eu falei, puxando a barra do moletom quando ela se aproximou. — Usando o casaco do Peter Kavinski.

Sua feição ao perceber do que eu falava foi a melhor possível. Ela levou a mão à boca, surpresa, e olhou para baixo. Uma confusão se formou em seu rosto enquanto ela ligava os pontos.

— Por que raios ele teria um moletom do Peter?

Eu a olhei incrédulo, balançando a cabeça. Eu tinha certeza que ela já tinha ao menos lido os livros, mas não me lembro dela ter assistido ao filme. Pensando bem, acredito que eu realmente tenha assistido sozinho enquanto ela se agarrava com Easton no quarto.

, você é inacreditável! Ele fez o Peter no filme! Já tem o primeiro na Netflix e o segundo saiu esses dias! Aliás, talvez seja por isso que ele está aqui, para divulgar o filme e o café. Você nunca assistiu, não é?

Ela balançou a cabeça em negação, confirmando minhas suspeitas. Encerrando o assunto, se afastou enquanto afinava o violão e eu aproveitei para admirar o lugar. Se arrependimento matasse… Eu queria tanto que estivesse em uma das poucas cadeiras vazias e eu sabia que, se ele não estava, a culpa era toda minha.
Depois de alguns breves segundos, se aproximou, olhando de soslaio para Noah.

— O que acha dele? — ela perguntou, apontando com a cabeça para Dave e Noah.
— Dave? Muito velho para você — eu brinquei rindo, fazendo um sorriso escapar dos seus lábios. — Não sei muito sobre o Noah, gatinha. Por que? Está interessada?
— Curiosa, apenas — ela respondeu, voltando a se sentar no banco e sem me convencer em nada.


📚🕺🏼🎹🗽


Na manhã seguinte, eu levantei muito cedo. Era dia de fazermos a compra do mês, e naquela noite teríamos um show no restaurante Roof’s. Essa seria uma apresentação mais séria, sem precisarmos nos preocupar apenas com músicas românticas ou covers, poderíamos cantar nossas próprias músicas. Também teríamos a chance de sermos contratados como cantores fixos, o que seria sensacional para nós já que ontem Dave também nos contratou. Eram dias bons para a banda, não tão bons para nós dois. estava com uma curiosidade acima do normal, querendo saber mais sobre Noah Centineo. É claro que eu queria que esse casal acontecesse, até o convidei para que fosse nos assistir no Roofs, mas também receava por minha amiga. Seu coração havia sido partido tão recentemente, eu odiaria ver isso acontecer novamente.
Mas eu a deixei pesquisar à vontade, até a ajudei. Sonhar não faz mal a ninguém, não é? Com esse pensamento eu decidi que na volta do mercado, eu passaria na livraria e convidaria para nos assistir também. Se Noah não fosse, pelo menos eu me daria bem naquela noite.
Batucando no volante, eu olhei para com ansiedade, parando no semáforo. Ela parecia tranquila, olhando pensativa pela janela.

— A gente pode passar naquela livraria nova? — eu perguntei de uma vez. — Preciso procurar um livro.
— Mais um? — ela me questionou com a testa franzida.
— É, bom, essa coisa toda de clichê… — eu comecei a me justificar, minha mão ainda batucava no volante enquanto meus olhos continuavam focados no caminho. — Me deu vontade de ler um, sabe?
— Uhum, sei — ela falou, sem se convencer em nada.
— Alguma sugestão?

Olhando-a de lado, eu a vi me olhar incrédula, dando uma risada.

— Já ouviu falar naquele livro onde o melhor amigo tenta esconder algo da melhor amiga, mas ela o conhece bem demais e sabe que ele está escondendo algo? — ela me respondeu, me olhando com uma sobrancelha erguida. Eu soltei uma risada, percebendo que havia sido pego. — Vai, me conta!
— Não é nada demais, sério — eu disse, ainda rindo. — É só um cara que trabalha lá e ele sempre me atende. O nome dele é e ele tem o cabelo mais lindo que já vi na vida.
— Mais que o seu?
— Mais que o meu.
— Meu Deus, ! — ela falou em falso tom de choque. — Para admitir isso, você só deve estar apaixonado!

Gargalhei alto enquanto estacionava em frente a livraria. Me virei para ela, sentindo minhas bochechas queimarem em vergonha, algo bem difícil de acontecer comigo. Algo igualmente raro era eu me apaixonar. Eu gostava de ser livre, gostava de poder ficar com quem eu quisesse, mas mudou algo em mim. Eu pensava nele o tempo todo, eu queria vê-lo o tempo todo. Isso era algo que fazia minhas entranhas se revirarem e um medo crescer em mim.

— Agora sério, me fala qual livro eu posso pedir para ele.
— Vamos fazer o seguinte — ela falou, soltando o cinto de segurança. — Vou procurar alguma coisa para mim e você vai falar com ele e convidar ele para ir ao Roof’s hoje à noite.
— Nem pensar! — retruquei, saindo do carro depois dela. — É muito cedo para chamar ele para um encontro. As coisas funcionam um pouco mais devagar no mundo gay, .
— Não é um encontro, ele só vai te ver cantar — deu ombros, me puxando para dentro da livraria. — Nada muito sério, apenas uma chance perfeita de vocês se encontrarem fora disso aqui.

Quando o sininho tocou, ela fez um gesto amplo para a livraria. Mendes tinha certa razão, eu realmente queria poder vê-lo de outro ponto de vista, um em que ele não estivesse todo profissional e de uniforme. E foi com esse pensamento que eu comecei a procurá-lo enquanto procurava por um livro.

— Achei ele! — sussurrei, meus olhos fixos acima da estante. Ela ficou na ponta dos pés e olhou na mesma direção onde uma cabeleira de cachos loiros estava de costas para nós.
— O loiro? — ela perguntou também sussurrando. Eu assenti e sorri radiante.
— Escolheu um livro?
— Aham — ela me mostrou um livro de poesias e eu levantei as sobrancelhas, impressionado. Eu também adorava a autora e não tinha encontrado a obra nos vários dias que vim aqui. — Pronto?
— Espera, como estou? — me virei para ela que sorriu largo.
— Maravilhoso, Cupcake, e você sabe disso — ela respondeu com um sorriso torto no rosto.

Nosso apelido surgiu quando éramos crianças e todas as vezes que nossas mães perguntavam o que queríamos de sobremesa, eu falava cupcake e ela falava biscoito. Nossas mães sempre nos davam os dois e começaram a nos chamar assim. Roubamos os apelidos para nós.

— É, eu sei — eu dei de ombros. — Só queria que você confirmasse.

Ela revirou os olhos, mas me acompanhou até a fila com um sorriso no rosto. A realidade daquela pergunta era que eu queria apenas enrolar o máximo possível. Quanto mais avançávamos na fila, mais nervoso eu ficava, ao ponto de quando chegamos no caixa onde estava, eu já estava convicto de que a melhor idéia era sair correndo pela porta, mas era tarde demais.

, você aqui de novo! — o garoto brincou e eu dei uma risada nervosa, apertando meus anéis nos dedos.
— Pois é, dessa vez trouxe minha amiga para conhecer o lugar — eu consegui responder envergonhado. Depois disso eu simplesmente travei, sem saber o que dizer. Minha boca estava sim aberta, mas nada saia dela.
— Oi, sou , melhor amiga do lindo e solteiro esticou a mão por cima do balcão e apertou a dele que riu de sua apresentação. Censurando-a, levei as mãos até a coxa dela e a belisquei.
— Tão divertida quanto ele — o loiro falou, sorrindo bobo para mim. Meu estômago revirou, cheio de borboletas. — Sou , solteiro e lindo, segundo minha mãe.

Eu a acompanhei em uma risada, mas meu nervosismo só aumentou. Olhei para , implorando em silêncio para que ela me ajudasse. Ela pareceu entender.

— Então, — ela falou como se já fosse íntima dele. — Você já foi no Roof’s?
— Ah, já sim! Há um tempo atrás eu fui com alguns amigos.
— Que bom! Então você saberia chegar lá caso a gente te convidasse para ir esta noite, não é? — ela perguntou como quem não quer nada, mexendo nos marcadores e escolhendo seus favoritos. — Não sei se o te contou, mas nós temos uma banda e vamos tocar lá hoje.
— Ele me falou sim — sorriu para mim de novo e pude jurar que minhas pernas amoleceram na hora. — Eu não posso prometer nada, mas tentarei ir.

Aí, aquilo doeu, não vou negar. Ele obviamente tinha algo melhor para fazer, sem dúvidas, ou o convite não parecia tão agradável assim e ele estava tentando negar de forma educada. Mas se fomos tão longe, eu não sairia de mãos abanando.

— Fica com meu número — eu finalmente me pronunciei, pegando uma das canetas no bolso do garoto e um marca páginas no balcão. — Assim você pode avisar a gente se for, aí reservamos a melhor mesa.

Eu anotei meu número e entreguei para o garoto que me olhava um tanto impressionado. Sem dar muita chance para me responder um belo “não, obrigado” e não querendo mais segurar a fila, nós saímos da loja quase desfilando. Já do lado de fora, eu e começamos a pular e comemorar animados, nos sentindo dois adolescentes que acabaram de aprontar. Eu estava radiante, não podia negar, o nervosismo já estava saindo do meu corpo e um sorriso largo parecia prestes a rasgar meu rosto.

— Eu ia pedir desculpas por ter convidado ele sem você ter deixado, mas aparentemente você gostou!
— É, gostei — eu respondi, dando de ombros e a abraçando de lado. — Se não fosse por você, acho que eu teria enrolado mais uma semana e provavelmente teríamos que comprar uma nova estante de livros.

Ela gargalhou alto, concordando comigo. A situação chegava a ser cômica, pois eu era sempre o primeiro a ter conselhos prontos para todas as outras áreas da vida e para quem precisasse, mas no amor? Eu era uma negação. Eu conseguia ser o cara mais confiante do mundo às vezes, mas quando o quesito era relacionamento, eu esquecia de toda experiência que já tive na vida – ou lembrava de todas elas e por isso ficava tão inseguro.

— E mesmo se eu não tivesse gostado… — eu falei quando entramos no carro. — Você tem o direito de chamar ele porque…
— Porque… — ela me incentivou a continuar, folheando seu novo livro. A olhei com receio, pois sabia que ela não ia gostar da minha confissão.
— Porque talvez eu tenha chamado o Noah Centineo para ir ver a gente — eu disse de uma vez, dando partida no carro. fechou o livro com força e me olhou espantada.
— Por que raios você fez isso? — ela perguntou, ainda boquiaberta.
— Porque ele obviamente gostou de você! — eu argumentei e ela revirou os olhos em resposta à insistência.

Eu não estava errado. Na noite passada, mesmo estando de mau humor e com sua desconfiança no auge, Noah nos deu carona e parecia encantado demais com cada gesto da minha amiga ou cada palavra que saia de sua boca. Sua expressão era muito parecida com a que eu imagino que eu faça quando converso com . Ele gostava sim dela e apenas minha opinião importava. Então eu o convidei para o show de hoje.

— Existe uma linha muito tênue entre gostar de alguém e ser educado, ! O coitado só foi educado, entenda logo isso!
— Ah, que teimosa! — eu ralhei irritado. — Bom, então espero que ele não vá, ele não merece ficar com uma teimosa rabugenta como você!
— Ele definitivamente não vai, ! — ela retrucou, claramente tentando não rir do “teimosa rabugenta”. — Gente famosa tem mais o que fazer.
— Veremos — eu respondi, dando a última palavra da discussão.


📚🕺🏼🎹🗽


O Roof’s era, sem dúvidas, o lugar mais legal em que já tocamos. Toda a estética urbana, com luzes penduradas e paredes com grafites, era legal demais até para os dois jovens que iriam cantar naquela noite.
O local do show seria no famoso terraço ao ar livre, que era quase maior que nosso apartamento inteiro. O espaço era iluminado por cordões de lâmpadas, decorado com sofás e poltronas confortáveis, algumas mesas com bancos (como de bares), mesas de centro e duas lareiras entre os sofás. As poucas paredes que tinham, é claro, eram decoradas com novos grafites. Um único bar ficava ao fundo, e na outra ponta era o nosso palco.

— Legal, né? — Josh disse com as mãos na cintura, observando em volta com um sorriso no rosto. — Aqui vem gente de todas as idades... Apenas acima de 18, é claro. Eles costumam contratar os artistas para dias fixos e eles estão procurando artistas novos, por isso chamaram vocês.
— Isso quer dizer que… — eu comecei, descendo do palco. Eu e olhamos com expectativa para o Josh que apenas sorria travesso.
— Que além das duas vezes na semana no Kobrick, vocês também cantarão como artistas fixos no Roof’s pelo menos uma vez por semana!

Em meio a frase, eu e Mendes já estávamos gritando e pulando animados com a notícia. Tudo o que precisávamos no momento era de mais grana para gravarmos nosso primeiro álbum. O fato de nosso sonho estar a um passo a menos de distância fez meu coração brilhar de alegria.

— Isso é incrível, Josh! — comemorou, abraçando nosso empresário. Eu repeti seu gesto. — Sério, obrigada!
— É literalmente meu trabalho, Mendes — ele riu, dando tapinhas no seu ombro. — Antes de eu ir, quero tirar algumas fotos para o Instagram. Aliás, quem é Noah Certino?

e eu nos encaramos com os olhos arregalados. Um sorriso vitorioso surgiu em meu rosto, ao mesmo tempo que uma pontada incomodou meu peito. Noah entrou em contato de algum jeito, mas não.

Centineo? — Eu o corrigi, espiando por cima do ombro de Josh a tela do celular. Chamei para fazer o mesmo. — É um ator que conhecemos ontem, por quê?
— Ele começou a seguir vocês há alguns minutos — Josh apontou para a tela do celular que mostrava que há exatos 10 minutos, Centineo havia se tornado um seguidor da banda The Singers e curtido as fotos de ontem. Sorri largo e senti estremecer ao meu lado. — Só nesse tempo vocês já ganharam 100 seguidores e continua aumentando!

Soltei um palavrão, apertando o ombro da minha amiga que havia perdido a cor do rosto. Pelo menos isso seria uma bela recompensa caso nossos planos dessem errado essa noite.
Depois que Josh tirou algumas fotos novas, eu e começamos a passar o som, eufóricos demais pelas últimas notícias. Ela sorria para mim e eu para ela. Há segundos atrás eu a rodopiei e sussurrei “nós vamos crescer, Cookie”, que era quase como um mantra nosso; enquanto a observei ligar seu teclado, eu pensei em como isso era cada vez mais real.
Distraído, eu não percebi quando apareceu perto do palco, me dando um aceno tímido. Eu estava tão animado, ainda mais com sua presença, que não hesitei em deixar a guitarra de lado e descer do pequeno palco, abraçando-o com vontade. Entretanto, seu abraço parecia um tanto frio e tenso se comparado aos sorrisos calorosos e leves que sempre me lançava. Ele deu tapinhas sem graças nas minhas costas e reparei, quando desfiz o abraço, que ele olhava com nervosismo para os lados.

— Você veio! — falei animado, tentando melhorar o clima.
— Claro, não perderia um show do The Singer por nada — ele respondeu, sorrindo de forma mais leve. Quase suspirei de alívio ao vê-lo mais relaxado. — Está nervoso?
— Estou acostumado, mas hoje temos uma plateia mais especial — falei, dando uma piscadela. Um sorriso mínimo apareceu no rosto dele e seu rosto corou como sempre fazia quando eu flertava com ele.

Quando me chamou, eu quis matá-la por interromper o momento.

— O dever me chama — falei, apontando para o palco.
— Quebre a perna! — ele exclamou sorrindo. — É assim que desejamos sorte no teatro.

Levantei minhas sobrancelhas e ri antes de partir radiante para o palco. “Teatro” era uma informação nova que eu guardei com carinho na minha mente para lembrar de perguntar a ele mais tarde.
Olhando em volta, percebi que Centineo não havia aparecido. Odiava quando estava certa, pois ela amava jogar isso na minha cara para sempre. Porém, o fato de ele ter nos seguido no Instagram me fez acreditar que ele estaria aqui hoje. Acho que pessoas famosas realmente não tinham tempo para um show de uma banda amadora.
Eu olhei para , posicionada atrás do teclado e do nosso sistema de mixagem, e ela sorriu com ternura, indicando que estava tudo bem. Então comecei a música Call my friends que escrevi no ano passado para quando ela foi visitar nossas mães, sozinha, e me deixou aqui, sozinho. Nunca havíamos ficado tanto tempo longe um do outro, eu estava com saudades e bêbado e quando finalizei a música, eu liguei para ela e cantei. Por sorte, ela gravou toda a ligação e eu salvei a letra no bloco de notas.

Right now I’m alone inside the airport, and you’re all at a bar in our hometown, feels like we been living different lives…

Olhei novamente para ela e vi a transformação que a música sempre causava na gente. Ela estava radiante e mesmo não tendo um espelho na minha frente, eu sabia que estava da mesma forma. Nós tínhamos muita química e os desatentos que não percebiam o quão gay eu era, achava que nós éramos um verdadeiro casal.

— The music's loud and everybody's dancing. How many nights I've missed, yeah, I've lost count. Haven't seen your faces in a while. I should call my friends…

Essa música em específico era apenas eu cantando e fazendo segunda voz. A canção começa lenta, mas neste momento, ela se agita. Eu conseguia sentir cada melodia entrar em minhas veias, me fazendo tocar a guitarra como se minha vida dependesse disso. Antes de deixá-la agitada, entretanto, eu lancei um olhar para que nos olhava com adoração.

I should call my friends and go get high
I need a vacation from my mind
I wanna go, nobody knows me better than them
Wanna feel something again
I should call my friends


Quando estávamos no meio do refrão, Noah apareceu na escada com uma cerveja na mão e um sorriso lindo no rosto. Eu sabia! Aquilo pareceu dar um gás na gente e cantamos o resto da música com mais vontade ainda. Noah, coincidentemente, se sentou na mesa em que estava por ser uma das poucas mesas vagas. Quase ri da cena, mas continuei cantando com que, no momento, só tinha olhos para o ator.
Ao finalizar a música, fomos aplaudidos em pé, principalmente pelos dois garotos na mesa próxima ao palco. Minha vontade era descer dali e correr para os braços de . Mas permaneci para cantar mais oito músicas antes de entregar o palco para o DJ. Depois de organizarmos nossas coisas o mais rápido possível, fomos até a mesa deles. Contudo, o clima não poderia estar mais estranho. parecia mais tenso ainda, então hesitei e não o abracei de novo. Já não parecia tão radiante quanto antes. Ela estava como , tensa e calada como uma porta. Mesmo depois de ambos nos elogiarem, o clima ainda ficou sem gaça. Era minha vez de ajudá-la.

— Noah Cen-ti-neo! — exclamei animado, abraçando o garoto que apenas riu. — Que bom que veio! Minha amiga cética achava que você não viria.
— Você e sua mania de me expor — resmungou, cruzando os braços. — Mas é verdade...

Noah gargalhou e a olhou com os olhos brilhando. Aquela era minha deixa.

, você está com sede? — perguntei, sem realmente esperar uma resposta. — Pois eu estou morrendo de sede, vem no bar comigo?

Novamente sem esperar resposta, segurei sua mão e o puxei para o bar, deixando-os sozinhos. Chegando no balcão, percebi que afastou sua mão rápido demais. O olhei confuso, querendo entender porque ele era tão caloroso quando conversávamos na livraria, mas tão distante desde que chegou aqui. Será que eu estava indo rápido demais? Exagerado demais?

— eu o chamei depois de longos minutos em silêncio onde só bebemos nossas cervejas. — Eu realmente não quero te assustar, mas…

Respirei fundo, dando um longo gole em minha cerveja e voltei a encará-lo.

— Eu gosto muito de você, muito mesmo. Você deve ter percebido pela quantidade ridícula de vezes que eu vou na livraria.
— É, eu sei — ele riu, parecendo relaxar um pouco. — E eu também gosto muito de você.

Arregalei os olhos, sem esconder a surpresa ao ouvir aquilo. Claro, também senti alívio, mas uma confusão se criou na minha cabeça. Se ele gostava, por que agia como se não quisesse estar perto de mim? Ou talvez não podia…

— Eu sei que pode não parecer — ele continuou, parecendo ler minha mente. — Mas gosto, eu juro. É que…

Ele parou, olhando em volta com receio.

— Eu me assumi recentemente para minha família, a reação deles… Não foi das melhores, entende?

Quando me assumi para minha mãe, ela apenas riu aliviada e disse que já sabia há muito tempo. e sua mãe até tentaram fingir surpresa, mas elas também já imaginavam. Já meu pai faleceu quando eu tinha um ano de idade. Meus amigos, sem exceção, me acolheram com muito carinho. Então realmente, eu não entendia. Entretanto, eu conseguia imaginar, porque isso não tornou mais fácil ser um garoto gay em Dallas, nem mesmo em Nova York. E o apoio que tive dessas pessoas foi essencial para que eu continuasse sendo eu mesmo, de cabeça erguida.

— Eu não passei por isso, , mas eu imagino como deve ser difícil.
— Bastante — ele assentiu, mas deu um sorriso breve. — Eu só estou me acostumando, sabe? Não sai com muitos caras na minha vida, muito menos um como você.
— Como eu? — ri sem graça, sentindo meu rosto esquentar de vergonha.
— Sim, como você — ele segurou minha mão, acariciando-a com carinho. — Bonito, talentoso, engraçado…
— Por favor, continue, estou adorando — eu disse, fazendo-o rir. — Você também é tudo isso, , acredite… Aliás, falando em talento, que história foi aquela de teatro?

Dando mais uma risada, começou a me contar que faz aulas de teatro e cinema na New York University. Se eu já estava apaixonado antes, agora eu queria casar com ele, ter dois filhos, um cachorro e três gatos em uma enorme mansão no Texas. Enquanto eu viajava em imaginações, o garoto continuou contando que fazia parte da companhia “Royal State” que tinha seu próprio teatro na Broadway.

— Quer conhecer? — ele perguntou de repente, finalizando sua cerveja.
— O teatro? — eu o questionei, lançando um olhar para minha amiga que ainda conversava com Noah. Pela sua testa franzida e a forma como apertava a garrafa de água, eu podia julgar que não estava sendo um bom diálogo.
— É, ele está vazio agora, mas eu sei como entrar.

Aquela proposta era tentadora, mas eu não podia deixar minha amiga para trás.

— Deixa eu só avisar a .

Deixando-o no bar, corri para a mesa onde encontrei bufando e balançando a cabeça em negação, totalmente confuso. Céus, será que a teimosia dela a faria perder um homem daqueles?

— Oi, casal, desculpa atrapalhar essa conversa maravilhosa… — falei, vendo minha amiga revirar os olhos em discordância. — Mas o me chamou para conhecer o teatro em que ele se apresenta e eu quero saber se tudo bem eu ir.

Pisquei meus olhos e fiz a melhor cara de bonzinho que eu sabia que Mendes não resistia. Ela entortou a boca e olhou para , acenando para ele que acenou de volta. Por fim, ela suspirou e me deu um beijo na bochecha.

— Claro, vai lá.
— Meu Deus, eu amo você, sabia disso? — eu falei, lhe dando um abraço apertado. Em seguida, peguei minha carteira, pronto para entregar o dinheiro do táxi. — Para você pagar o táxi.
— De jeito nenhum — Noah interveio, colocando a mão no meu braço. — Eu a levo para casa, ela vai precisar de ajuda com os instrumentos.

Eu sorri largo para ele enquanto minha amiga protestava, mas nós dois a ignoramos com sucesso.

— Noah, você é realmente incrível — falei, lançando um olhar para a garota ao nosso lado. — Cuide bem dela, ok?
— Não se preocupe, a tratarei como a princesa que ela é.


📚🕺🏼🎹🗽


A Broadway era um pouco mais longe do que eu imaginava, então tivemos que ir de metrô. Claro que dentro do trem eu respeitei o garoto e tentei ser o mais natural possível, mas parecia que seu corpo tinha um imã que me atraia para ele o tempo todo. Quando eu percebi, minha mão estava encostando a dele e eu me forçava a recuar, meus olhos sempre recaíam em seus lindos lábios rosados e novamente, eu tinha que desviá-los. Era uma bela tortura, devo confessar, mas pelo menos a conversa valia a pena. , quando estava mais relaxado, falava de tudo um pouco. Ele me contou sobre seus pais, que ainda estavam juntos, e como eles agora estavam aceitando melhor sua homossexualidade. Também contou sobre sua irmã mais nova que o adorava e que ele costumava treinar as maquiagens do teatro no rosto dela que era muito parecido com o dele. O auge do nosso trajeto foi quando ele me mostrou fotos dela maquiada, toda sorridente, eu já comecei a imaginar os almoços de família em que eu passaria horas brincando com ela. Meu coração, apesar do frio que fazia naquela noite, se aquecia a cada minuto com . Eu estava ferrado.
Depois de meia hora de metrô e uns minutos de caminhada, chegamos aos fundos do teatro Royal State. O lugar vazio e escuro me dava arrepios, mas uma ansiedade do que estava por vir fazia um frio gostoso percorrer minha barriga. Depois de tatear os bolsos, achou a chave e abriu a porta da saída de emergência. Enquanto ele não achava os interruptores, o local era de um escuro total onde eu não conseguia enxergar um palmo a frente.
Porém, quando tudo se iluminou, eu fiquei sem ar. Quando ele disse que a companhia que fazia parte tinha um teatro, eu não imaginava que fosse tão grande assim. O lugar era enorme, com milhares de acentos e um palco igualmente grande na frente, com cortinas vermelho-sangue que combinavam com as poltronas. Não pude deixar de soltar um palavrão quando ele me levou ao centro do palco, também não consegui deixar de me imaginar cantando com naquele lugar, com a plateia cheia gritando nossos nomes e cantando nossas músicas. Aquilo seria um sonho.
Eu estava tão absorto na minha imaginação que não percebi quando puxou um piano comum para o centro do palco. O instrumento era todo colorido, com diversos desenhos sobre dança e música. Acima do teclado estava uma partitura que, ao me aproximar, consegui ler o nome.

— Intro — falei em voz alta, passando a mão pelo papel. se apoiou no piano, segurando o queixo com a mão.
— É da peça que estamos ensaiando, uma versão musical de Alice no País das Maravilhas — ele falou sorrindo, todo orgulhoso. — Essa é a música do começo, onde o pianista vai cantar enquanto apenas eu, vestido de Gato de Cheshire, vou dançar.

Ri ao imaginá-lo caracterizado como o personagem. Eu daria tudo para vê-lo dessa forma. Mordi o lábio e me sentei no banco, tocando as primeiras notas da breve canção.

— Dança pra mim — eu pedi, sem parar de tocar.
— Apenas se você cantar — ele retrucou, tirando seus sapatos e já se posicionando no meio do palco. Eu sorri, sem conseguir negar, e comecei a cantar a letra da partitura.

You have a million different faces… But they'll never understand… — Arrisquei um olhar para que rodopiava e dançava algo que eu arriscava ser dança contemporânea. Senti meu coração acelerar, completamente encantado.

Unless you let them in. You've been a million different places… So give yourself a chance to… Get lost in Wonderland…

Enquanto eu tentava me concentrar em não errar nenhuma nota, sua dança aumentava a intensidade, igual a música. Seu corpo se contorcia da forma mais graciosa possível e quando ambos terminamos, estávamos ofegantes. Era como se eu tivesse dançado com ele e, pensando bem, era exatamente o que eu queria ter feito.

— Uau — foi tudo o que eu consegui dizer quando ele se aproximou, minhas palmas ecoaram pelo lugar vazio. — Isso foi lindo, .
— Obrigado — ele agradeceu, recuperando o fôlego. — Você está convidado para a estreia — ele apontou para os assentos —, primeira fileira.
— Será uma honra — eu respondi, voltando a dedilhar o piano, agora era outra canção que eu sabia de trás para frente.

Meus olhos se fixaram nele, que me observavam com a mesma intensidade.

You're just too good to be true, can’t take my eyes off of you. You're just like Heaven to touch, I wanna hold you so much… At long last, love has arrived, and I just thank God I'm alive… You're just too good to be true…
— Can't take my eyes off of you
— ele cantou comigo, sentando-se ao meu lado com um sorriso lindo no rosto. Me derreti inteiro.
Pardon the way that I stare, there's nothin' else to compare. The sight of you leaves me weak — soltei uma risada leve, achando graça do quanto aquela música combinava com o momento. — There are no words left to speak. So if you feel how I feel, please let me know that it's real. You're just too good to be true, I can't take my eyes off of you…

Me impedindo de continuar, subiu no meu colo, quase me derrubando para trás, e se segurou nos meus ombros antes de juntar nossos lábios. Seu beijo era urgente, quente e delicioso. Suas mãos bagunçavam meus cabelos, prendendo-me junto a ele como se tivesse medo de que eu fosse embora. Mas eu não queria sair dali tão cedo, e lhe confirmei isso quando apertei sua cintura e o puxei para mais perto, fazendo-o rebolar em meu colo. pareceu gostar do gemido sofrido que saiu dos meus lábios e repetiu o gesto, rebolando cada vez mais rápido.
Ofegante, eu rompi o beijo para recuperar o ar, e senti seus lábios descerem para meu pescoço enquanto suas mãos agora brincavam com os botões da minha camisa. Eu estava completamente entregue e assustado ao mesmo tempo. Nunca havia me sentido assim antes e o sentimento era maravilhoso e excitante. As borboletas em meu estômago se reviravam felizes demais, eu mal acreditava que estava finalmente com em meus braços, eu não queria mais soltá-lo. O teatro era todo nosso, nós dois éramos um do outro e eu sabia, finalmente, que ele correspondia ao sentimento doido que eu estava sentindo. Aquele seria, sem dúvidas, o primeiro de muitos encontros.

— sussurrei em seu ouvido, apertando mais ainda a sua cintura.
— Silêncio, — ele sussurrou em resposta, olhando fundo nos meus olhos. — Vou te levar para Wonderland.


FIM



Nota da autora: Oi, meus amores!! Obrigada por terem lido esta história tão lindinha! Essa foi a minha primeira fic com tema LGBTQI+, então peço desculpas por qualquer coisa, ok? Espero não ter ofendido ninguém ❤️ Está história é um spin-off da longfic Noah's List Of Cliché que entrará em breve (no caso, no momento em que estou mandando a ficstape, ainda não entrou) no FFOBS e o Kevin será um personagem muito importante. Enfim, não deixem de comentar! ❤️ Obrigada!

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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