Finalizada

Capítulo Único


– Cadê a sua alma gêmea? – perguntou assim que sentou no bar, sem tirar os olhos do licor que ela derramava em um copo já cheio de refrigerante de gengibre. esperou colocar três cerejas no drink e acenou com a cabeça em agradecimento enquanto ela deslizava o copo em sua direção.
– O David tá no caminho, deve chegar a qualquer momento.
Revirando os olhos, puxou o pano que estava pendurado em seu ombro e voltou a limpar o balcão.
– Eu quis dizer a Taylor, não o meu irmão.
– Ah. Bem, então. Taylor e eu terminamos, na verdade.
– Não! Sério? – o encarou genuinamente surpresa, sem nenhuma outra emoção oculta além daquela claramente escrita na sua expressão. Até esse momento, não tinha percebido que uma parte dele ainda tinha esperança de ver alguma coisa a mais quando compartilhasse essa notícia.
Ele encolheu os ombros e tentou o seu melhor para esconder aquilo.
– É, foi há uns dias, não é nada demais. Nós acabamos tendo ideias diferentes sobre um monte de coisas importantes, como por exemplo qual é o melhor filme da Pixar e qual tipo de leite deveríamos ter na geladeira. Procurando Nemo e desnatado, obviamente.
– Obviamente. – encarou por um longo momento antes de sair de trás do balcão para se sentar no banco ao lado dele. Ela estendeu a mão até quase tocar a dele, mas desistiu no último momento. Suas unhas estavam pintadas de rosa choque, de um jeito bagunçado que fez pensar que provavelmente tinha sido Lucy quem as pintou. Crianças de sete anos não costumam ser exatamente manicures profissionais. – E como você tá? Você tá bem com isso?
– Eu tô legal. – Disse , segurando o copo à sua frente para tomar um gole. Ter tão perto parecia perigoso de algum jeito, e ele precisava ocupar as suas próprias mãos. – Sério, eu tô bem. O David tá com uns projetos legais pra gente, eu ganhei sete dólares em uma raspadinha ontem e estou prestes a completar meu cartão de fidelidade daquela cafeteria embaixo do meu prédio. Muitas coisas boas acontecendo essa semana, então tudo anda bem interessante, você sabe.
não parecia convencida.
– Mas o que aconteceu? A Taylor me parecia bem legal. Eu meio que tava curtindo a ideia de eu, ela e a Dakota nos fantasiarmos de meninas superpoderosas naquela festa do mês que vem. E você parecia feliz também, o que era o mais importante, lógico. Vocês tiveram alguma briga feia?
– Não exatamente. – Outra encolhida de ombros vinda de .
ficou pensativa por um tempo, e então um certo pânico tomou conta de seu semblante. – Ai, meu Deus. Não foi por... não foi por causa daquilo que aconteceu no Natal, né?
– Não, claro que não. – respondeu, apesar de boa parte dele ter desejado responder um “talvez”. – Até porque nada aconteceu no Natal. Na verdade, eu não faço ideia do que você tá falando.
– Certo. – sorriu, mas ainda não parecia totalmente convencida. – Então o que...
– Eu não sei, foi só tipo, sei lá – enterrou as mãos nos cabelos, se sentindo frustrado por não encontrar um modo simples de explicar sua situação; ele não havia deixado de gostar de Taylor, ou de achar que ela era bonita. Mas nunca passou disso, e eles gradualmente deixaram de conversar tanto, se distanciando como casal. – Vocês ainda podem ser as meninas fabulosas ou o que quer que você tenha dito. Taylor e eu decidimos continuar amigos.
– Ah, claro. – disse, assentindo e gesticulando de um jeito lunático e exagerado. – Eu vou sair com ela assim que você começar a sair com os meus ex. O Matt, por exemplo.
fez uma careta. – Ah, não é a mesma coisa.
– Como não é a mesma coisa? – perguntou, franzindo o cenho.
– Porque você não... porque o Matt é um idiota. Todas aquelas coisas que ele fez depois que vocês terminaram, aparecendo aqui no bar e ameaçando o cara dos biscoitos...
– O Will. – interrompeu.
– Isso, e todas as outras coisas. A Taylor não é desse jeito. Ela só... a gente não funcionou. Só isso.
assentiu novamente, considerando. – Eu vou pensar. Mas eu preciso ter uma prova de que essa garota não te magoou antes de considerar a restauração do nosso trio. E o certo é superpoderosas.
– Ela não me magoou, nem partiu meu coração. Isso eu posso te garantir.
– Veremos. – disse enquanto prendia os cabelos em um rabo de cavalo novamente. A mudança no penteado mostrou que ela estava usando brincos que não combinavam: uma bolinha laranja em uma orelha e uma argola pequena e prateada na outra. Deveria parecer estúpido, mas adorava. Aquilo era tão ... brincos descombinados eram tão característicos dela quanto usar o esmalte que a sobrinha escolheu. Era tão se interessar demais pelos problemas dos outros e depois simplesmente não ligar, tão saber qual era o drink preferido de de acordo com o horário do dia. Todas essas coisas faziam o coração de se confundir de um jeito que Taylor ou qualquer outra pessoa jamais tinha feito.
A maioria das coisas ficava mais fácil com o tempo, mas tudo aquilo sobre ser apaixonado por não passava nunca.
Maybe I'm too busy being yours to fall for somebody new.

Xxxx


A distração de era aceitar o fato de que ele sempre seria apaixonado por e ela nunca o amaria de volta, e talvez isso fosse trágico e horrível e totalmente o oposto da visão de mundo otimista sob a qual ele sempre viveu, onde tudo se resolve como deve ser e o amor conquista tudo e toda aquela baboseira de comédia romântica. Era esse tipo de pensamento que passava pela cabeça de enquanto ele rebatia com facilidade as jogadas que Lucy se esforçava para acertar. Jogar tênis aos domingos com a sobrinha de , filha de seu melhor amigo David, havia se tornado um hábito agradável na rotina de .
– O meu pai e a tia andam preocupados com você.
– O quê? – se assustou com a voz de Lucy e acabou errando uma rebatida por uns bons três metros. – Quinze pontos pra você, garota, boa estratégia.
– Não é minha culpa se você não presta atenção no jogo. – Ela respondeu um tanto quanto emburrada, deixando o braço cair e apoiando a raquete no chão. – Eles estão preocupados que você esteja deprimido por causa da Taylor.
– Eu não estou deprimido! – disse mais alto do que pretendia. Ele suspirou e abaixou o tom antes de continuar. – E eles não deviam falar sobre isso com você.
– Mas eles não falam comigo. Eu estava na cozinha fazendo meu dever de casa e eles estavam lá conversando. Acho que às vezes eles esquecem que eu já tenho sete anos. – Lucy disse, dando ênfase na idade de um jeito que mostrava o quanto ela tinha orgulho dos seus longos sete anos. – Eles estavam comentando sobre o quanto você está triste, mas você não parece triste pra mim.
– Isso é porque eu não estou triste. Claramente as suas habilidades de observação são muito melhores que as do seu pai e da sua tia juntos.
– É, isso faz sentido. – Lucy concordou satisfeita.
tirou outra bola de tênis do bolso. – Eles não tem que se preocupar comigo, e você muito menos. Sabe com o que você deveria se preocupar? Com a sua cruzada de bola.
– Mas eu não gosto de cruzar a bola. – Lucy deixou os ombros caírem de forma dramática.
– Não gosta porque precisa praticar mais. E fim de papo. – respondeu, jogando a bola por cima da rede.

Xxxx


David estava sentado no sofá da sala de quando entrou com Lucy.
– Cadê a ? – perguntou, enquanto Lucy pulava direto no colo do pai.
– Ainda não voltou do trabalho. Pra sorte da Lucy, só o papai está em casa!
– Podemos brincar de casinha? – A menina perguntou, animada.
– Ah... querida, eu adoraria, mas...
– Ótimo! Eu vou buscar as coisas! – Lucy o interrompeu, pulando do colo do pai em disparada pelo corredor.
– Droga. Eu realmente preciso começar a pensar em desculpas melhores e mais rápidas. Quanto tempo você acha que eu tenho até ela voltar? Será que ela vai esquecer que me chamou?
– Eu duvido, mas agora pelo menos você tem alguns minutos até ela voltar, o que é ótimo porque a gente precisa conversar. Na nossa aula de tênis hoje, a Lucy...
– Você tá aprendendo tênis com a Lucy, ? Sabe, na sua idade você já pode fazer aulas na turma de adultos.
– Eu que tô ensinando pra ela há pelo menos dois meses, David. De qualquer maneira, não é isso que importa. O que importa é que a Lucy me disse hoje que você e a estão preocupados comigo.
– O que? Não, isso não tem nada a ver. Você é meu melhor amigo, , mas eu com certeza não passo momentos da minha vida me preocupando com você. E com a minha “capacidade limitada para empatia com outros humanos”, como dizia uma terapeuta maluca com quem eu costumava sair, eu certamente não tenho me preocupado com você.
– David, não adianta tentar mudar o assunto, cara. Como a Lucy escutou você e a falando que eu estava de coração partido por causa da Taylor ou qualquer coisa assim?
– Tá, isso aconteceu. Mas não fui eu, foi a ! Ela que tá obcecada com o seu suposto coração partido, o que eu particularmente acho uma bela de uma viadagem.
– Bom, meu coração vai muito bem, obrigada, então vocês dois já podem parar de se preocupar comigo. E vocês precisam ter mais cuidado com as coisas que falam perto da Lucy, porque ela já tem sete anos – disse, enfatizando o número do mesmo jeito que Lucy havia feito mais cedo. Ele havia dito tudo que pretendia, mas o último comentário de David ainda ecoava em seus ouvidos. – E como assim, a tá obcecada com isso?
– Ah, ela não para de falar nisso, em como parece injusto que as coisas não deram certo, porque você é um ótimo cara que merece alguém legal, e em como a Taylor não via isso, e que você seria um ótimo... – David se sentou rapidamente, lançando um olhar desconfiado a . – Espera aí.
– O que foi?
– Por que você anda tão calado ultimamente?
– Tá. Você quer saber a verdade? Como se você ainda não soubesse desde que a gente tem, sei lá, quinze anos de idade? Talvez eu esteja tentando aceitar que eu sempre vou ser louco pela e ela provavelmente nunca vai querer nada comigo.
– É, eu imaginei que fosse isso.
encarou David, esperando por algo a mais, mas ele não continuou.
– E é só isso que você tem pra me dizer?
– Pai, me ajuda aqui! – Lucy chamou do quarto.
– Tô indo, filha. – David disse, se levantando do sofá. – Eu acho que você pode estar errado dessa vez, . Pode ser que o jogo esteja virando a seu favor.
– Que jogo?
– O jogo do amor da , obviamente. Não se preocupa, amigão, a gente vai dar um jeito nisso. – David disse enquanto entrava no quarto da filha.
– Isso é meio aterrorizante. – sussurrou para si mesmo antes de ir embora.
Do I wanna know If this feeling flows both ways?

Xxxx


– Eu não vou sair com alguém só pra fazer ciúmes na . – disse, olhando por cima do ombro, a fim de se certificar que não estava ouvindo, mas ela estava ocupada atendendo uma mesa com doze adolescentes do outro lado do bar, muito longe pra escutar.
– E por que não? As garotas adoram isso, cara! E além do mais, foi outra mulher na sua vida que incentivou o sentimento da , eu não entendo por que você não pode continuar com o plano.
– Porque é errado usar as pessoas desse jeito, David.
– Ahhh, porque é errado. – David imitou de um jeito exagerado. – Você e a são perfeitos um para o outro, os dois só falam sobre isso.
David disse casualmente, mas trouxe à tona uma questão que vinha preocupando desde o domingo, então ele empurrou o copo na mesa e respirou profundamente antes de continuar.
– David, você tem certeza disso? Porque eu tenho me esforçado muito pra tentar superar toda essa coisa da , e eu acho que estava fazendo um bom progresso até você colocar essa ideia na minha cabeça. Eu sonhei com ela todos os dias essa semana, cara. Então se você não tiver certeza disso, eu preciso saber.
– Vamos dizer que eu tenha 80% de certeza. Tá bom pra você?
olhou por cima do ombro novamente, por garantia.
– Não exatamente, ainda é arriscado.
– Tá, esquece a matemática. O que interessa é que ela é minha irmã, e eu tenho prestado atenção aos sinais.
– Sinais? Que sinais?
– Bem, você viu o que aconteceu hoje.
– O que aconteceu hoje? Você tá me deixando meio nervoso, cara.
– O que aconteceu? – David parecia perplexo. – Ok, vamos começar com isso: por que foi a outra morena gostosa do bar que fez esse drink ridículo pra você, hoje? Quer dizer, por que não foi a que preparou a sua bebida como sempre?
– Ah, ela tentou fazer primeiro, mas aí ela derrubou o copo e quando ela tentou pegar de novo, ela esqueceu de tirar a mão de cima e aí derrubou o licor pra todo lado. E aí... ah.
– É... ah. Idiota. A nunca fica desse jeito perto de você, mas ela fica desse jeito perto de...
– Todo cara que ela gosta. – Os dois disseram ao mesmo tempo.
olhou na direção de novamente; ela ia para a cozinha depois de finalmente terminar o serviço com os doze adolescentes, com todos os menus presos embaixo de um braço. Quando percebeu o olhar de , ela pisou em falso e de alguma maneira conseguiu derrubar todos os menus, mandando papel pra todas as direções do chão do bar. se levantou na mesma hora e ajudou a juntar os menus, tentando pensar em alguma coisa inteligente pra dizer, mas sua cabeça parecia vazia de repente.
– Essas coisas parecem que tem vida própria. – Foi só o que ele conseguiu dizer.
– Parecem mesmo, não é? E obrigada, desculpa por isso, eu não sei o que deu em mim hoje. – disse, rolando os olhos enquanto arrumava os menus novamente sob o braço. – É só, sei lá, a lua cheia, talvez, ou então foi o peixe que eu comi ontem no jantar... tava com um gosto estranho, mas eu comi mesmo assim, talvez não tenha sido uma boa ideia, né? Nem sei porque tô te dizendo tudo isso. Eu preciso levar esses pedidos pra cozinha. Obrigada, .
– Sem problemas. – disse enquanto voltava pro seu lugar no bar.
– E aí? – Perguntou David.
– Beleza. Qual é o plano?

– Flashback –


Já não tinha mais poeira na bancada para limpar, e não parecia estar nem perto de chegar. De certa forma, preferia assim, quanto mais evitasse as cerimônias de Natal ao passar dos anos, melhor para ela. Mas sem clientela no bar e com todos em suas respectivas casas, com suas respectivas famílias, era difícil evitar se ver ao redor de um gordo peru de Natal com seus pais e David e Lucy. Pelo menos esse ano teria seu melhor amigo abandonado pelos pais, durante as férias, e pela namorada, durante o feriado.
Quando ouviu o som do alarme do carro, respirou fundo, cansada. Tinha chegado a hora de partir. Pegou dois copos pequenos, pondo um ao lado do outro sobre a bancada, bem à sua frente. atravessou as portas dianteiras, tomando o cuidado de fechá-las ao entrar. Estava arrumado demais para não ver Taylor no fim do dia.
– Desce uma, por favor. – Brincou, aproximando-se dos copos.
– É pra gente, mesmo. – , de costas, olhou-o por cima dos ombros, sem sorrir. – Vou precisar.
– E eu bebo pra acompanhar. Certo. – Ele concluiu por si mesmo, ouvindo-a concordar. – E por que você precisa?
Ela torceu o nariz em uma careta. – Nunca te contei, não é? – Pegou a garrafa de vodka em uma das prateleiras do bar, já segurando a de Curaçau na outra mão. – Todas as coisas ruins acontecem comigo ou com a minha família no Natal. É quase tradição. O primeiro que eu me lembro de verdade foi quando meu cachorro morreu. Ele não era tão velho assim, sabe? E era o meu cachorro.
– Mas é natural, todo mundo morre. – comentou, sem saber se era o certo a se falar. Xingou-se mentalmente por não pensar em algo melhor, sobretudo quando pôs as garrafas sobre o balcão, quieta.
– Já tomou esse? – Ouviu-a desviar do assunto, afastando-se mais uma vez, atrás de outro item. – From Russia with Love.
– Mas nesse copinho? – Ele ergueu o shot duplo à frente do rosto, desconfiado. A garota o olhou de longe, achando engraçada a expressão dele e como ele parecia bonito de cabelos penteados. Quando pega por ele o espiando, riu, dele e de si mesma.
– Você não sabe o poder dessa Rússia. – Esticou a mão para alcançar o shot, tirando-o dele. Como uma criança, prestou atenção à forma que, concentrada, montava cada camada do drink. Vodka primeiro, Curaçau em seguida, groselha por último, formando a bandeira russa por conta da densidade dos líquidos. Ela ergueu o copinho à altura dos próprios olhos, sorrindo com satisfação. – Química é uma coisa maravilhosa, né?
– Walter White que o diga. – Sorrindo também, ele continuava a encarar a garota, aquele rosto que ia da seriedade à alegria em segundos. riu da sua tirada.
– Toma, esse é o seu. – Entregou o drink a ele, com cuidado para não misturar as três fases e virar um suco roxo com muito álcool. Fez outra dose para ela com um pouco mais de agilidade, guardando as bebidas antes de brindarem. – Olho no olho, sem fazer careta!
– Isso é um desafio? – arqueou a sobrancelhas, segurando sua dose.
Os dois sabiam quem ganharia, mas gostava de se fazer de forte. Há anos que se conheciam, e desde sempre ela gostava de se mostrar capaz de mil coisas. Mil coisas, exceto uma ceia de Natal.
Quando os copos se tocaram, logo eles viraram o shot duplo e fitaram um ao outro. Ela se segurava para não franzir o cenho, e ele se surpreendeu com o forte gosto do pequeno drink, não conseguindo manter suas expressões. arregalou os olhos e respirou pela boca, levando a rir. – Só isso já valeu a noite! – Disse ela, contente. – Vamos, não podemos demorar mais, ou minha mãe me mata.
– Ou o álcool faz efeito e eu nos mato. – o olho, assustada, e ele riu do semblante dela. – Era só brincadeira, até bêbado eu sou um ótimo motorista.
Após colocar os copos na pia, ela pegou a bolsa para sair. – Acho melhor você ficar quieto um pouco. – Passou reto por ele, parando somente quando abriu a porta, segurando-a para que ele saísse primeiro. Ventava do lado de fora, a temperatura facilmente beirava os dez graus. O calor da vodka, entretanto, ajudava-os a não sentir a mudança brusca de temperatura, e o olfato, único que não sofria com os efeitos do álcool, foi o bastante para que notasse que realmente estava mais arrumado naquela noite: seu perfume havia mudado. Quando ele atravessou as portas pela segunda vez naquela hora, indo contra a corrente de ar frio, deixou para trás o seu cheiro herbal, o qual ela pôde sentir e se envergonhar por achar tão irresistível.
Os faróis do carro lhe acertaram em cheio quando trancou o cadeado, então ela correu para sentar-se no banco de carona. O rádio já ligado, assim como o aquecedor, fizeram-na relaxar mais. E ela cantou All Those Pretty Lights até o fim, já sabia a letra de cor.
sorriu, atento à distração dela. Mesmo desafinada, adorava sua voz.
'Cause there's this tune I found that makes me think of you somehow and I play it on repeat.

Xxxx


– Ganhei! – Anunciou , abrindo a porta com um estrondo que chamou a atenção de todos na casa.
– Você trapaceou! – , logo atrás, arfou. Ao olhar para o cômodo, percebeu os rostos curiosos dos seus familiares. – Chegamos!
– Nem percebi. – Comentou David, irônico.
Mary olhou para o relógio cuco preso à parede antes de se levantar do sofá. – Podemos jantar, então?
– Jantar, já? – Protestou , retirando o casaco. – Eu ainda nem me arrumei, mãe.
– Já, não, ainda. – A mais velha observou. – Já são quase dez, tá todo mundo com fome e seu irmão tem que ir pra casa da Lindsay com a Lucy.
– Eu estava no bar, trabalhando, a culpa não é minha. – A garota franziu o cenho. – E eles dois esperaram até agora, mais vinte minutos não vai mudar nada.
– A mamãe já ligou três vezes, perguntando onde a gente estava. – Observou Lucy, encolhendo os ombros por se meter onde não era chamada. David a olhou de lado, censurando-a.
– A gente espera. – Disse, abrindo os braços sobre o encosto do sofá.
– Não, nada disso. – Mary bateu palmas para apressá-la, caminhando na direção da filha. percebeu que o pai não dizia nada, emburrado e olhando para a tv. – Vamos jantar logo, vem.
– Mas, mãe...
– Você tá linda, . – Interrompeu a mulher, dando a volta pela filha e a empurrando pelos quadris. – Não tá, ?
Embora fosse o nervosismo de ser pego de surpresa, ele sentiu todos os olhares sobre si. É claro que estava linda, ela era linda. Estava tão acostumado à imagem dela de uniforme, uma camiseta preta e calça jeans, que não fazia mais questão de maquiagem ou uma roupa mais elaborada. Era pela simplicidade dela que ele era apaixonado há tanto tempo, foi pela proximidade com David que descobriu , querer além do que ela era não seria o mesmo que gostar dela.
Quis dizer tudo isso naquele exato momento, como tantas vezes que se via pressionado a elogiá-la por qualquer razão. No entanto, respirou com calma e se controlou. – Tá, sim. Não precisa se arrumar só pra jantar com seus pais.
– Tem certeza? – o olhou, incerta, vendo-o assentir com um sorriso sereno. A segurança passada por ele a fez aceitar o elogio forçado de Mary. – Ah, tá bom.
Sentaram-se todo à mesa, ainda desconfortável por ser a única vestida de forma simples tendo visita para o jantar. Não era porque odiava o Natal que deixaria a vaidade de lado; era seu amigo, mas ainda era um homem de fora. E estava tão bonito, se comparado ao dia a dia, enquanto ela nem mesmo conseguiria impressioná-lo como Taylor obviamente faria, se estivesse ali.
Assim como ela, os outros presentes também não falaram muito além do necessário. David ajudava Lucy a cortar a coxa do peru, mostrando-se um pai exemplar ao rir da falta de jeito da menina. Keith havia deixado temporariamente a carranca, também rindo, e Mary os repreendia. observava tudo, ainda que aéreo, e o analisava mais que a todos os outros. Havia algo nele naquela noite que despertara sua curiosidade sem que ela soubesse explicar. Talvez a felicidade com que ele andava desde que conhecera Taylor – ela queria ser feliz como ele, era a explicação mais plausível.
A mesa foi esvaziando aos poucos, com David e Lucy se despedindo e indo embora primeiro. Keith, após fechar a porta para o filho mais velho, anunciou que iria se deitar; Mary reclamou e recolheu a mesa sozinha, em um primeiro momento, até que se ofereceu para fazê-lo em seu lugar, e ela também se recolheu.
– Não disse? Natal é uma droga, aqui em casa. – quebrou o silêncio depois de muitos minutos indo e vindo da cozinha. – Eles brigaram, e provavelmente vão passar o dia todo falando menos que isso, amanhã.
Ela se ajoelhou sobre o sofá grande da sala, reclinando o encosto e ligando a TV em um canal qualquer. , ao seu lado, imitou-a com o sofá.
– Pelo menos não foi com você. – Ele a olhou de lado, ambos largados entre as almofadas. – Não seja tão pessimista, , o seu dia não foi ruim.
– Não diretamente. – Ela revirou os olhos, virando-se de lado, em posição fetal, para encará-lo de frente. – Pelo menos você tá aqui, não vou passar o resto da noite sozinha.
– Eu sempre tô aqui. – Corrigiu , passando o braço ao redor dos ombros dela.
quis dizer que era mentira, pois ele tinha a Taylor, mas teve medo de parecer ciúme. Além do mais, seria mentira dela, uma vez que mesmo namorando, ele frequentava o bar por causa dela, para jogarem conversa fora. Às vezes Taylor vinha a tiracolo, mas quando ela precisava, ele estava ali. Sempre estava.
Talvez o vinho que tomaram na ceia a estivesse deixando confusa; ela não sabia por que, desde o momento que o vira chegar, o cheiro de parecia tão irresistível e seus cabelos penteados para trás estavam tão bonitos. Ele era o mesmo , melhor amigo de David e seu amigo por consequência. Aquele que a conhecera na puberdade, na época em que se apaixonar por ídolos teen ainda era permitido. Ele era tão bonito assim, antes?
Sem se dar conta, seus pensamentos a guiaram ao rosto dele, que fitou por vários segundos, a ponto de ele franzir o cenho. Ela não soube o quanto se sentiu nervoso com aquele olhar, pois sabia no que daria – e ele não queria que fosse diferente. Ela não quis saber de outra coisa que não fosse o beijo de , então o beijou. Por impulso, de cara lavada.
Ele correspondeu imediatamente, sem surpresa e desconforto. Usou o braço que ainda a rodeava para trazê-la mais para perto, tentando inutilmente parar o frio na barriga que sentia por aquilo. Os dedos finos dela se embaraçaram nos seus cabelos, à medida que os lábios curiosos se tornaram afoitos. desejava aquilo há tanto tempo que não pôde controlar as próprias mãos, que corriam pelo corpo de atrás de sua pele. Em resposta, ela pôs uma das pernas por entre as dele, deitando-se parcialmente sobre ele, que apertou seu quadril, desejando que não fosse inverno e não existisse tanto pano entre os dois.
se esqueceu dos pais, de Taylor e de tudo. Estranhamente, ela adorava a sensação de a beijando com tamanha intensidade, algo tão impossível de acontecer aos olhos dela que nem sequer imaginava. E seu gosto era bom, daqueles que dificilmente se esquece. A boca, o queixo e o pescoço eram bons de se provar, e queria cada pedaço deles, em troca cedendo a seu busto, o qual ele agarrou por cima da blusa mesmo. Os seios dela preenchiam as mãos dele, independente do tamanho, ele os adorava. Era difícil ele se manter longe daqueles dois volumes, uma vez tendo permissão para tocá-los; foi questão de pouco tempo até os dois entrarem no consenso de que o decote de não era o bastante para o momento, arrancando a camiseta de forma desajeitada.
Ambos riram do desastre ao retirar a blusa, controlando-se para que o som da TV continuasse mais alto. Não podiam cogitar a hipótese dos pais dela acordarem, muito embora o sono dos dois chegasse perto do coma – principalmente após as brigas, devido aos remédios para dormir que os poupavam de noites em claro. Com o sutiã de já a mostra, se virou, deitando-a suavemente e tomando conta das alças, afrouxando-as antes de beijar os ombros da garota com zelo. Por mais certeza que tivesse sobre o que estava fazendo, sentia que qualquer passo em falso a faria acordar daquela realidade absurda em que se colocaram. Ela não o desejava daquela forma, era só álcool. Estavam apenas se divertindo, como amigos. Quando arqueou as costas para abrir o sutiã, seu rosto diante de era a imagem fiel dos sonhos que ele tivera.
Ele soltou um suspiro nervoso, mas ela não percebeu. Quase se esqueceu do que fazer, até olhar novamente para o peito descoberto dela. Abaixou-se para beijá-lo, mordiscando, lambendo e sugando as auréolas, enquanto se ocupava em alisar as costas rígidas de tesão de , por baixo da camisa que aos poucos foi removida.
Era tanto a se aproveitar que ele não sabia o que fazia, perdido com todas as possibilidades de dar prazer a . simplesmente não conseguia parar de beijá-la, deslizando por cada curva dela com os lábios, arrancando a calça jeans da garota para que chegasse ao lugar em que ela sentiria melhor o seu beijo. Ao ver a lingerie dela, entendeu o riso curto que deu.
– Não ria. – Pediu, mordendo o lábio inferior em seguida.
– Por que eu faria isso? – Disse ele, voltando-se para seu rosto, aproximando-se para morder ele mesmo aquele lábio, escorregando a mão para dentro da calcinha de gatinhos dela. Quando abriu a boca em resposta ao seu toque, tornou a encaixar seus lábios nos dela, impedindo qualquer som de sair. Ele morria de vontade de ouvi-la gemer, mas não queria pôr tudo em risco. Aquele era um segredo só deles.
Os dedos de deslizando sobre a intimidade úmida de a tiravam dos eixos. Ela poderia viver várias vezes aquela situação, tinha certeza que não sentiria algo igual. Se ele era assim com os dedos, mal podia esperar até ver o que poderia fazer com o resto.
– Você quer que eu te chupe? – Murmurou ao pé do ouvido do seu ouvido, mordendo o lóbulo de sua orelha em seguida.
Um suspiro quase lírico saiu da boca de , que assentia com a cabeça, as bochechas cor de escarlate. Ele novamente beijou cada centímetro exposto dela, abrindo o zíper da calça para diminuir o incômodo na sua pélvis. Lentamente, segurando a barra da calcinha nas laterais, escorregou a peça por toda a extensão das pernas dela, fazendo o caminho de volta com a língua no tornozelo, panturrilha, coxa e, então, virilha. Os olhos dele procuraram os dela, tão realizados pelo momento compartilhado que precisavam de uma última confirmação de que era verdade, vinda do sorriso entorpecido de ao tombar a cabeça para trás no primeiro toque dele em sua intimidade.
Ele estava com tanto tesão por ela que, mesmo adorando ver suas reações ao oral, era capaz de gozar apensa por estimulá-la, sem nem precisar penetrá-la. Mas ele não perderia nunca aquela chance, talvez fosse a única que tivesse. Tinha de ir até o fim.
Ao sentir seu membro pulsar mais que conseguia aguentar dentro da roupa de baixo, não hesitou antes de terminar de se despir e, delicadamente, encaixar-se em . Ela estava tão molhada por ele que não houve dificuldade alguma para aumentar o ritmo das estocadas. queria, sim, curtir a sensação de transar com a garota por quem era louco há meses, mas se controlar estava fora do seu alcance. Pouco a pouco, com gotas de suor lhe escorrendo as costas, não pôde mais se estender e chegou ao seu orgasmo dentro da garota. Seu corpo tremia, sensível demais; exausto, deitou-se sobre o tronco da garota, ambos respirando tão fundo que poderiam se refrescar de tal forma.
– Eu não quero ter uma DR sobre isso. – Disse , soprando um riso, apesar de falar sério.
– Somos dois.
Ele aninhou-se ainda mais, escondendo o rosto sobre o ombro dela. Estava certo a todo momento, não havia importância para ela. Era apenas a soma da carência e a oportunidade, eles não precisavam decidir o que fazer pela manhã. voltaria para casa em algumas horas, encontraria Taylor em alguns dias e essa história seria esquecida. ficaria bem.
Morreria de ciúmes e vontade de ter o que não lhe estaria mais nas mãos, mas ficaria bem.

I'm constantly on the cusp of trying to kiss you.

– Fim do Flashback –


O segundo plano soava tão ruim quanto o primeiro.
– Posso saber por que diabos você não quer tentar isso? – David perguntou, exasperado.
– Eu não vou fingir que tô morrendo, David. Essa ideia é ridícula e embaraçosa.
– Olha só, você já rejeitou a ideia da namorada falsa, agora quer jogar fora uma das melhores cartadas: a doença terminal. Não nos restam muitas opções... Sempre tem a clássica jogada “seja seu próprio irmão gêmeo”. Essa é complicada, mas nós podemos tentar.
– Não é só complicada, David, é impossível. A sabe muito bem que eu não tenho um irmão gêmeo.
– É, você tem razão, eu não tinha pensado por esse lado. Então que tal a história do primo parecido quase gêmeo do interior?
– David, esquece. Eu não gosto de nada disso. São ideias ridículas, todas elas envolvem mentir pra e eu não quero fazer isso.
David encarou com uma expressão engraçada, como se estivesse tentando decifrar um quebra-cabeça. – Eu juro que não te entendo. Você quer ficar com a ou não?
– É claro que eu quero.
– E até agora, quanto sucesso você teve com essa estratégia de não mentir pra ela e esse bla bla bla todo?
hesitou antes de responder. Ele queria contar a David sobre o Natal, mas o mesmo sentimento que o fez rejeitar todos os planos do amigo também o impediu de dividir a história. Logo essa história. Então, ele apenas disse:
– Tá bom, até agora não tem surtido efeito, mas...
– Não, sem mas! Nós precisamos resolver alguma coisa, e tem que ser rápido, porque o turno da tá acabando e ela vai chegar aqui na nossa mesa a qualquer momento.
virou o corpo na cadeira, a fim de se certificar que ela ainda não estivesse perto demais antes de falar qualquer outra coisa. estava em uma parte um pouco mais afastada do bar, onde os funcionários guardavam suas coisas, com um guarda-chuva na mão e vestindo o casaco. Quando os olhares dos dois se encontraram, de alguma maneira ela deu um jeito de colocar o braço na manga errada do casaco, o que arrancou uma risada de . enrubesceu, parecendo realmente atrapalhada por um momento, até conseguir vestir as mangas nos braços certos.
– Olha só, esse é um ótimo sinal e você está se recusando a tirar vantagem disso! Ok, então aqui vai outro plano: você é o pivô de alguma conspiração internacional e precisa sair correndo do país e a é a única companhia que você pode levar. Que tal?
– Ah, claro. Vamos fugir do país. É claro que ela iria, sem nem pensar em você e na Lucy.
– O que tem a Lucy? – perguntou se aproximando da mesa que o irmão e o amigo ocupavam. – Ela ligou? Ela ia pra casa da Gina depois da escola, e eu sei que isso vai parecer estranho porque ela tem seis anos de idade, mas aquela menina é chata. Então, eu acho que a Lucy já já vai cansar de ser amiga dela. Ela ligou?
– Não, ela não ligou. Aliás, o tava aqui dizendo que você não teria como dar uma carona pra ele porque precisava buscar a Lucy, mas pelo jeito isso não vai ser um problema.
– Claro que não, é claro que eu posso! – disse. – O que houve com o seu carro?
lançou um olhar aborrecido na direção de David.
– Nada, tá tudo bem com o meu carro.
. – David esticou o braço e apoiou a mão no ombro do amigo, dando tapinhas como se o estivesse consolando. – Você precisa aceitar o fato de que eu estou certo. Eu trabalhei por doze dias na Jiffy Lube em 2009, eu sei quão perigosas as pastilhas de freio podem ser quando estão gastas e, amigo, pelo barulho que os seus pneus fazem quando você estaciona, pode ter certeza que você corre um sério risco de vida. E, além de tudo, está chovendo! Então, você realmente precisa aceitar a carona, amigo. Você sabe que eu mesmo te levaria, mas acontece que a Lindsay tem um compromisso urgente e eu preciso ir busca-la, então, parece que vai ter que ser mesmo a , meu chapa.
Depois de toda essa história inventada por David, sabia que não adiantaria discutir.
– Só me deixa pegar meu guarda-chuva.

Xxxx


Depois de alguns minutos de silêncio no carro, preenchidos apenas pelo barulho da chuva batendo nos vidros, encarou enquanto ela tamborilava os dedos no volante, esperando que o sinal abrisse. Ela o encarou ao se sentir observada, e deu um pequeno sorriso.
– Parada dura essa história dos freios, hein? Com o perdão do trocadilho.
balançou a cabeça, negando.
– Tá tudo bem com os freios, .
– Você devia dar uma olhada neles de verdade, o David entende bastante mesmo dessas coisas.
– Eu sei, mas a coisa com os freios é que... – ia dizendo, mas hesitou antes de terminar a frase. Se ele continuasse, não teria mais volta... E se ele dissesse tudo que realmente queria dizer agora, as coisas poderiam sair totalmente do controle e acabar de um jeito horrível e errado. Ele respirou fundo, encarando o perfil distraído de enquanto ela dirigia, e resolveu continuar mesmo sabendo dos riscos. – O David inventou essa história.
– Por que ele inventaria alguma coisa sobre os seus freios? Quer dizer, do seu carro? – perguntou enquanto virava a esquina da rua de .
– Porque, bom... – respondeu lentamente, enquanto ela estacionava. – Ele queria que você me desse uma carona.
– Isso é esquisito. Alguma razão em particular? Ai, não. Ele tá planejando alguma festa maluca no bar? Porque, ai meu Deus, se for isso eu preciso avisar o Tommy agora mesmo e...
– Não, . Não é nada sobre o bar, nem sobre a Lucy, nem nada urgente. – respondeu.
Ele suspirou, sentindo o cheiro de morango que saía do aromatizador preso na saída de ar do carro dela e o encarou com uma expressão que vagava entre a confusão e a preocupação. O cenho dela foi franzindo aos poucos, e se deu conta de que ele nunca se cansaria de nenhuma das expressões que o rosto dela mostrava. era muito transparente, e isso era só um dos motivos pelos quais ele era completamente apaixonado.
? – Ela chamou em tom de preocupação.
Cenas daquela noite de Natal invadiram a mente de , junto com muitas outras cenas que ele mal se lembrava, como o dia em que ele a flagrou no quarto de David, dançando em frente ao espelho enquanto o cd das Spice Girls tocava no pequeno aparelho de som. Ou do dia em que ela inventou uma noite de Karaokê no bar e insistiu tanto pra que eles dividissem o microfone que ele terminou a noite cantando Miss Independent a plenos pulmões. Mas no meio de tudo isso, o que mais insistia em ficar gravado na mente de era o toque dela. A sensação de ter nos braços era uma coisa insuperável, que ele nunca esqueceria. Ele sabia muito bem disso, e foi a lembrança dessa sensação que o fez ter coragem pra continuar.
, você acha que existe alguma possibilidade de eu e você ficarmos juntos?
– O que? , eu... – respondeu rapidamente, mas deixou a frase incompleta. Ela desviou o olhar, encarando o para-brisa molhado à sua frente.
deixou o silêncio ecoar por um tempo, mas resolveu quebrá-lo. Ele nunca era muito bom com silêncios constrangedores.
– Eu tenho quase certeza que você já sabe, mas eu meio que sou apaixonado por você desde... desde sempre, na verdade.
– É, eu meio que sei. – Ela assentiu, balançando a cabeça. o encarou novamente, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. – Sabe, se você tivesse me falado isso há uns seis meses atrás, eu saberia exatamente o que dizer. Mas agora, eu não sei.
– E por que agora é diferente?
Ela demorou um bom tempo pra responder.
– Porque agora eu meio que quero ficar com você. – finalmente disse, mas voltou a olhar pra frente, e não pra , como se estivesse nervosa demais pra olhar pra ele enquanto respondia. – É sério, eu quero. Desde o Natal, na verdade... porque aquilo foi bom demais. Definitivamente eu quero desde que você e a Taylor terminaram. Eu não consegui parar de pensar nisso, em como ela pôde deixar você ir. Porque você é tão... você é o , sabe? Você é o melhor. Você é engraçado, é bom, gentil e você sempre deixa uma boa gorjeta mesmo que o serviço não tenha sido bom...
– Deixar uma boa gorjeta é só um costume. Quer dizer, e se a garçonete só está tendo um dia ruim? Você só piora pro próximo cliente, se deixar de pagar os 10% e tudo mais.
voltou a encará-lo com um sorrisinho.
– Você é ótimo, . Você realmente é. E você é o meu melhor amigo... É aquele que eu sempre posso contar pra tudo. Eu não quero perder isso.
– Eu sempre vou ser esse cara pra você, . Isso eu posso te prometer.
– Mas e se a gente tentar isso e... Sei lá, e se não der certo?
– Eu te disse, eu não vou a lugar algum. Sempre vou estar aqui. Você não tem que se preocupar com a possibilidade de me ver desaparecendo se...
– Não, eu sei. Eu sei disso. Eu conheço você, . – disse de um jeito gentil, como se explicasse. – O que eu quero dizer é, se isso não der certo, não é só sobre mim. E você? Eu não quero te machucar... nem partir seu coração.
parecia tão preocupada com isso que queria dizer alguma coisa imediatamente para tranquilizá-la, mas ele não podia, porque ele não queria mentir. Para dizer a verdade, ele teria que dizer algo como “Um romance que acaba mal não é a única maneira de quebrar um coração. Amor não correspondido pode fazê-lo também”. E tinha certeza que o dele já tinha algumas boas rachaduras. Ele sabia que havia uma boa chance de realmente partir seu coração, mas também havia uma grande chance de que ela fosse consertá-lo.
E então ele foi o mais sincero que conseguiu:
– Eu quero muito tentar, quero correr esse risco. Por você vale a pena, ... vale muito a pena.
o encarou por um longo e silencioso momento, e depois, de repente, soltou o cinto de segurança. Ele estava prestes a perguntar o que ela estava fazendo, mas, em seguida, seus dedos frios estavam no seu rosto, sua boca contra a dele, e então ele soube. Foi um beijo que começou meio sem jeito porque foi pego de surpresa, mas ele estendeu a mão para mantê-la perto e então tudo pareceu certo, mesmo que ele estivesse segurando no casaco encharcado pela chuva que ainda usava e seu cinto de segurança ainda estivesse preso. Ele se sentia bem.
Quando eles se separaram, parecia errado que a chuva não tivesse parado do lado fora e permitisse que o sol brilhasse. Ele queria memorizar este momento, a luz cinzenta do dia chuvoso criando uma atmosfera quase irreal, o zumbido baixo do rádio desligado, o sorriso no rosto de . Acima de tudo, ele queria se lembrar disso.
But we could be together if you wanted to.



Fim.




Nota da autora: Oi! Queria dizer que é um alívio conseguir terminar essa fic. Sei que não ficou lá grandes coisas, mas realmente espero que todo mundo goste um pouquinho. Os créditos da melhor cena da fic (sexo uhul) vão todos pra Abby linda, então: obrigada, Hebinha! Obrigada por todos os puxões de orelha, pela paciência e principalmente pela ajuda. Te aminho! Tardis, Vicky, Fran e Lulu: amo vocês também! <3
Não deixem de ler as outras fics do especial, tá tudo lindo.



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