Última atualização: 03/11/2017

Capítulo Único

A mulher correu pela rua, esbarrando em uma ou duas pessoas no caminho, pedindo desculpas por sobre o ombro, enquanto ainda corria, já pedindo para o restante das pessoas saírem de sua frente. Atravessou quando o sinal de pedestres já piscava em aviso, escutando duas buzinadas antes de terminar o trajeto, e então desceu o mais rápido que podia as duas quadras seguintes, antes de chegar a seu trabalho.
Infelizmente demorou mais do que o planejado para conseguir entrar, pois uma pequena multidão estava parada ali.
Respirou fundo, tentando passar pelo grupo de adolescentes, não tão mais novas do que ela mesma, que estavam paradas na entrada do hotel, dificultando a passagem, entre elas alguns rapazes altos se destacavam, e não demorou mais de três segundos para descobrir o motivo daquela bagunça; O time de vôlei canadense tinha acabado de chegar.
Fechou os olhos por breves segundos, já imaginando a bronca que levaria de seu chefe, mesmo que não fosse sua culpa; o homem tinha pedido para que ela chegasse meia hora antes do seu expediente, e foi o que ela fez, os canadenses que estavam adiantados.
Pediu licença, enquanto tentava abrir passagem para a entrada, mas as fãs não facilitaram, provavelmente imaginando que ela queria alguma foto com os jogadores.
Um dos rapazes, usando seu agasalho preto com o símbolo da bandeira canadense, era o último a impedir de entrar no hall do hotel, e quando ela o encarou para pedir licença, o rapaz sorriu em sua direção, curvando-se ao encarar o celular nas mãos dela.
A mulher franziu o cenho por um instante, não compreendendo o que ele queria, até o loiro apontar para o aparelho, perguntando em inglês;
- Você não quer tirar uma foto?
Sorriu sem graça, negando com um aceno, e apontando para a entrada atrás dele;
- Eu quero entrar no hotel.
O canadense riu sem jeito, desculpando-se enquanto abria espaço para a loira, que agradeceu, ainda segurando a risada pela pequena confusão.
- Chegou na hora certa! - foi à primeira coisa que escutou, enquanto atravessava o hall em direção ao balcão da recepção. - Faz uns dez minutos que eles estão aqui, nunca achei que agradeceria por ter tanta bagunça na frente do hotel! - o gerente suspirou, vendo alguns funcionários terminarem de deixar as malas dos jogadores próximas aos elevadores.
Os responsáveis pelo grupo estavam sentados nas poltronas da entrada, conversando, enquanto esperavam o restante dos jogadores para separarem os quartos na recepção.
- Ninguém fez o check-in ainda? - questionou enquanto colocava o colete do uniforme e um crachá com seu nome.
- Não, eles chegaram mais cedo, ainda não temos todos os quartos prontos, o pessoal da conferência de ontem saiu pouco antes deles chegarem. Ainda estão limpando tudo.
Após alguns minutos, os jogadores que estavam do lado de fora entraram, espalhando-se pelo saguão. A conversa alta e animada logo se fez presente, assim como as risadas, até o gerente informar, quase meia hora depois, que eles já poderiam subir para os quartos.
Os dois homens mais velhos, responsáveis pela Seleção Canadense aproximaram-se para assinar alguns documentos, enquanto separavam os jogadores em duplas ou trios, conforme lhe entregavam a chave de cada quarto.
não pode deixar de notar que, além de parecerem todos bem novos, muitos dos jogadores eram bem bonitos, o que deveria ter incentivado o aumento de adolescentes do lado de fora do hotel.
Quer dizer, quem conhecia jogadores de vôlei canadenses?
Ela mal sabia os nomes dos novos jogadores do Brasil! E olha que já tinha sido grande fã da época em que tinha Giba, Dante, Serginho, Murilo e companhia estavam em quadra.
Hoje em dia imaginava que talvez reconhecesse Bruno, filho de Bernardinho.
Um dos últimos jogadores, encostado no balcão, esperando enquanto os elevadores estavam ocupados pelos companheiros, era o bonitinho que tinha pensado que ela queria uma foto. Reparando bem no rapaz, agora sem a jaqueta do time, notou uma tatuagem cobrindo todo seu braço direito. Os cabelos claros eram curtos e bem alinhados, e a falta de barba o deixava parecendo ainda mais novo do que deveria ser.
Não sabia seu nome, mas notou o número 20 marcado na jaqueta que ele segurava, fazendo uma nota mental de procurar pelo jogador mais tarde na internet.
Pensando de novo, talvez devesse ter aceitado aquela foto na entrada, embora soubesse que acabaria ouvindo alguma bronca por aquilo; não podia deixar seu profissionalismo de lado, não tinha o feito nem quando uma de suas bandas favoritas tinha se hospedado no hotel no ano anterior! Não seria por um jogador bonito, o que ela nem sabia o nome, que perderia o emprego. Tinha demorado meses demais para consegui-lo e ganhava bem o suficiente para querer continuar ali por mais algum bom tempo, mesmo que só tivesse um dia na semana livre.
O jogador virou-se após alguns minutos, rindo de algo que o amigo tinha dito, e então percebeu a loira digitando algo no computador. Sentiu a vergonha lhe atingir assim que ela olhou em sua direção, sorrindo educada.
O canadense pigarreou, antes de curvar-se sobre o balcão;
- Então você trabalha aqui… - comentou em voz baixa, concordou com um aceno - Desculpe, achei que também estava ali por uma foto...
- Sem problemas, não é a primeira vez que isso acontece! - respondeu sorrindo, o sotaque presente em sua voz. O jogador riu, pronto para perguntar alguma coisa, quando seu companheiro o chamou, vendo o elevador parado no térreo.
- Até mais tarde! - piscou acenando com a mão.

O grupo do Canadá voltou cabisbaixo após o primeiro jogo, entraram silenciosos no hotel e caminhavam ainda mais quietos para os elevadores, esperando para entrarem em seus quartos, a maioria querendo dormir e esquecer-se completamente daquela partida; Tinham começado bem o jogo, mas foram derrotados por 3 sets a 1 para os donos da casa.
O pior era saber que eles tinham condições de terem ganhado do Brasil, se não tivessem errado tanto…
Após um rápido banho, foi um dos primeiros a descerem em direção ao restaurante do hotel, mas o mesmo ainda estava fechado, com os funcionários terminando de arrumá-lo, por isso encaminhou-se de novo para a recepção, parando próximo ao balcão, ainda sentia-se agitado demais para sentar-se em alguma das poltronas, precisava manter-se ocupado para não remoer cada momento da partida, cada erro que tinham cometido. Chegou a pensar em todas as vezes que poderia ter feito algo diferente, para ajudar mais o seu time, mas isso não o ajudava em nada, precisava manter-se focado nos próximos jogos. Tinham que ganhar da Rússia no dia seguinte, se quisessem ter alguma esperança. Não tinham tempo para pensar no jogo que tinha passado, apenas focar-se no próximo.
- Você está bem? - ouviu uma voz preocupada ao seu lado, virou-se encarando a recepcionista. - Está tremendo… - apontou para a mão do jogador, sorriu pequeno, fechando a mão em punho e cruzando os braços, respirando fundo.
- Nervoso pelo jogo, só isso.
- Vocês jogaram bem! - a loira elogiou sorrindo - Têm um time bom, vão conseguir chegar às finais, não se preocupe.
- Nem tão bom, perdemos não foi?
Ela deu de ombros, mantendo o sorriso nos lábios.
- Faz parte, você não quer chegar no Brasil e ganhar dos anfitriões no primeiro dia, não é? - piscou divertida, fazendo-o rir baixo.
relaxou por um instante, aproximando-se no balcão e apoiando os braços no mesmo.
- Então você assistiu ao jogo?
- Claro que sim, posso não saber mais o nome de todos os jogadores do Brasil, mas continuo gostando do esporte!
- Você sabe jogar? - questionou interessado, aproveitando a conversa para distrair-se enquanto os amigos não chegavam.
- Não bem o suficiente, ou eu estaria na Seleção! - deu de ombros - Mas me arrisco algumas vezes com alguns amigos…
- Achei que todo mundo no Brasil jogasse futebol… - riu, vendo-a concordar - Sério? - Não todo mundo, e nem sempre quem joga é bom, mas me parece mais fácil que vôlei, não?
- Menos chances de errar… - concordou acenando.
- E eu achei que no Canadá vocês só praticassem atividades de inverno, o que vocês estão fazendo no vôlei?
gargalhou, concordando.
- Não é muito popular, mas está crescendo, mas ainda somos melhores em hockey.
- Eu nunca entendi como funciona, por que às vezes é falta, e às vezes não?! - perguntou retoricamente - É um pouco confuso, mas parece legal. E difícil. Patinar no gelo e ainda acertar aqueles discos… - negou com uma careta. O jogador riu.
- Por que você acha que eu preferi o vôlei? Olha o meu tamanho, você acha que eu conseguiria me manter em pé sobre dois patins? No gelo?
Os dois riram divertidos, até o jogador estender a mão em sua direção;
- , muito prazer.
- . - correspondeu sorridente.
- Faz tempo que você trabalha aqui? - questionou puxando um novo assunto.
- Quase oito meses.
- É bom?
A mulher deu de ombros.
- Depende do dia, mas é sempre agitado, é difícil você encontra essa recepção vazia como hoje. - o jogador olhou ao redor, tornando a concordar, nos dois dias que esteve no hotel, sempre que saia de seu quarto via os vários hóspedes e funcionários do lugar. - E você? Faz tempo que joga?
- Não muito, pelo menos não na Seleção. Comecei na escola e não parei, começaram a me chamar no final do colegial, quando jogamos alguns campeonatos…
- Deve ser muito bom viajar para jogar, conhecer outros lugares e pessoas…
- Sim, é bem cansativo também, ainda mais por causa do fuso horário de cada lugar, mas vale à pena, principalmente quando ganhamos! - piscou.
O telefone da recepção tocou segundos depois, e virou-se para atender, passando alguns minutos conversando com a pessoa.
franziu o cenho, tentando entender o que ela dizia, mas português parecia como alemão para ele, indecifrável. Nem mesmo compreendia porque algumas pessoas diziam que era parecido com espanhol, não falava espanhol, mas conseguia entender algumas palavras, mas português parecia coisa de outro mundo, assim como o alemão que ele nunca conseguiu aprender na escola.
Agradeceu mentalmente por ela ter um inglês bom e assim conseguirem conversar, riu baixo reparando no sotaque da mulher, e imaginando uma conversa em sua cabeça entre ela e o cliente que ligava, quando a mulher riu ao telefone, começando a digitar algo no notebook. pegou-se imaginando se a pessoa do outro lado talvez tivesse jogado alguma cantada, ou alguma piada bem ruim, que a fez rir.
Aproveitou ainda aqueles segundos para reparar um pouco mais na mulher, que não tinha uma bunda grande ou peitos enormes como ele imaginava que as brasileiras tivessem, aliás, até aquele momento, tinha encontrado bem poucas brasileiras com o estereótipo de brasileira. Talvez fosse a cidade, que ele descobriu ter sido colonizada por europeus ao pesquisar no Google, não tinha tantas pessoas negras como ele imaginava, pelo menos não tinha visto muitas, também não tinha visto muito da cidade, mas não parecia nada muito fora de sua realidade. Sua cidade não era tão diferente daquele lugar. Por alguns instantes acabou questionando-se o motivo do Brasil ser considerado um país de terceiro mundo, quando não parecia tão diferente de sua realidade no Canadá, mas então se lembrou vagamente das reportagens que tinha visto sobre o país e como estava a crise financeira do lugar.
Ouviu o barulho do elevador e algumas vozes, vendo os companheiros de time andando em direção ao restaurante, Ryan acenando em sua direção, chamando-o com a cabeça. concordou, virando-se para olhar a brasileira, que continuava envolvida com o trabalho. Deu um passo para o lado, chamando sua atenção, e quando ele virou-se para olhá-lo, apontou para o restaurante;
- Preciso ir! - sorriu, apenas concordou, acenando de leve.
passou pouco mais de uma hora no restaurante com os companheiros e equipe técnica, conversando sobre diversas coisas, entre um comentário sério e outro. Todos continuavam chateados pela derrota de mais cedo, mas era hora de virar a página e focar-se por completo no jogo do dia seguinte, e foi por isso que em determinado momento do jantar, o técnico levantou-se, fazendo um discurso e incentivando seus jogadores; era hora de fazerem história.
Todos pareceram muito mais animados após aquelas palavras, relaxados. No final da refeição, enquanto voltavam para o saguão principal, esperando os elevadores, reparou que a recepcionista não estava mais ali, e em seu lugar tinha um homem mais velho e o gerente, o qual conversavam enquanto olhavam alguns papéis.

Diferente do dia anterior, quando retornaram para o hotel depois da partida, a Seleção Canadense estava animadíssima, classificada para às semifinais depois de vencer a Rússia por 3 sets a 0.
O grupo falava alto, ria, e até comemorava com os funcionários, pretexto que aproveitou para aproximar-se de , quando ela voltava para o saguão, com uma pasta com a logo do hotel em mãos. O jogador sorriu em sua direção, abrindo os braços e a abraçando apertado, pegando-a desprevenida por alguns instantes, mas logo sendo retribuído com um abraço menos caloroso, e uma risada sem graça por parte dela. Logo mais dois jogadores próximos fizeram o mesmo, ouvindo um parabéns pelo jogo da brasileira.
Quando o grupo afastou-se, voltando para seus quartos, a mulher voltou para seu lugar atrás do balcão, vendo o gerente negar com a cabeça;
- Não é por nada, mas vou gostar quando eles forem embora, grupo grande e bagunceiro.
- Eles estão atrapalhando? - perguntou interessada, separando alguns documentos.
- Não exatamente, ninguém chegou a reclamar… - deu de ombros. - Mas são muito agitados…
apenas concordou, embora não concordasse muito com aquilo; quase não via os jogadores pelo hotel, estavam sempre em seus quartos, e só apareciam para as refeições ou para irem ao estádio no qual os jogos eram realizados. Pelo menos durante seu turno, não tinha dito nenhuma reclamação sobre os canadenses, eram animados, mas também educados e simpáticos, muito mais até do que alguns artistas brasileiros que já tinham se hospedado por ali e ela tinha conhecido.
Após o jantar, enquanto a maior parte dos companheiros voltaram para os quartos, enrolou-se um pouco, sem pressa alguma de voltar e dormir, estava um tanto entediado por não poder sair do hotel sem ser para as partidas, queria fazer algo diferente, conhecer a cidade, provar comidas locais, ao invés, apenas levantou-se frustrado, com as mãos nos bolsos na calça e cabisbaixo, fazendo o caminho até o saguão principal, para pegar o elevador, distraiu-se olhando para os próprios pés, e como eles pareciam grandes, até esbarrar com alguém na saída do corredor.
- Desculpe! - os dois disseram ao mesmo tempo, mas o jogador franziu o cenho com a palavra em português, sorrindo assim que reconheceu a recepcionista.
- Hey! - cumprimentou animado. - Como está?
- Tudo bem, voltando para minha casa, como foi o jantar?
- Bom, - comentou, reparando na mochila que ela carregava, e a falta do uniforme - então seu turno já acabou?
- Finalmente! - concordou animada, arrumando a alça da mala em seu ombro. sorriu de leve. - O que foi?
- Não tem muito o que fazer aqui, não é? Digamos que estou um pouco com inveja de você poder sair do hotel, e eu não.
- Mas eu trabalho aqui, você é hóspede. - lembrou, piscando de lado, antes de abrir uma porta lateral, com a placa de “apenas pessoal autorizado”, olhando por sobre o ombro, o canadense reparou nos armários que tinham dentro da sala, no qual deixou algumas coisas, fechando-o e logo tornando a sair para o corredor.
- Por que você não vai até a sala de jogos? Melhor do que nada, não é? - sugeriu, vendo-o olhá-la pensativo, considerando a opção.
- O problema é que os caras já subiram, não vão querer vir… - suspirou, mas uma ideia logo passou por sua cabeça, e o jogador tornou a sorrir em sua direção - O que acha de jogar uma partida de… Seja lá o que vocês tiverem?
arqueou a sobrancelha, pensando na proposta, olhando brevemente o horário em seu relógio de pulso.
- Hm, tudo bem se você precisa ir embora… Não quero que se atrase… Já está tarde e acabou seu expediente então…
- Então eu posso jogar uma rodada! - piscou, antes de virar-se, começando a andar em direção ao segundo corredor, no qual a sala de jogos ficava, riu baixo, a acompanhando enquanto puxava um assunto qualquer.
Na sala, viu duas mesas de sinuca, uma de pebolim e uma mesa com alguns jogos de tabuleiro e baralho, deixou sua mochila de lado, apontando para uma das mesas de sinuca;
- Sabe jogar?
O loiro sorriu, concordando com a cabeça enquanto se aproximava.
- Aprendi com meus primos há alguns anos… - pegou um dos tacos, enquanto a mulher arrumava as bolas no triângulo - Pode começar!
Ela sorriu, passando o giz na ponta do taco enquanto preparava-se para fazer o primeiro movimento, ficou um tanto impressionado ao reparar que ela tinha derrubado duas bolinhas no primeiro estouro, ficando com as de número mais baixo, acabou errando por poucos centímetros o segundo movimento, dando-lhe a vez.
pensou por alguns instantes, analisando suas opções, antes de mirar em uma bolinha azul, a encaçapando.
Passaram quase uma hora jogando, tendo começado mais duas partidas, conversando e rindo de tempos em tempos, até ele sugerir uma partida de pebolim, o qual não jogava há muito tempo.
estava jogando as bolinhas quando seu celular tocou, assustando-a ao notar o horário.
- Oi! - atendeu, virando-se em direção a porta e pegando suas coisas - Eu estou no trabalho, acabei me enrolando, já estou indo… Tudo bem, eu pego um uber qualquer coisa… Certo, beijo, até logo. - desligou, virando-se para o jogador, que já estava quase ao seu lado, reparando no quão tarde já estava. - Desculpe, preciso ir.
- Sem problemas, desculpe ter te feito perder o horário…
- Está brincando? - riu, negando com a cabeça - Fazia um bom tempo que não me divertia assim! - viu-o sorrir animado, estufando o peito. - Até mais, bom jogo amanhã!
- Obrigado - curvou-se, a abraçando -, e obrigado pela companhia!
- Sempre que precisar! - despediu-se, acenando com a mão antes de passar pelo saguão, despedindo-se do porteiro e saindo em direção à rua.
deitou-se minutos mais tarde, relaxado e com um sorriso calmo nos lábios, antes de virar-se na cama, dormindo quase de imediato.

estava preenchendo o cadastro do novo casal de hóspedes, quando a Seleção canadense voltou para o hotel, silenciosos e com expressões derrotadas em seus rostos. Seguiram direto para os elevadores, um dos homens da equipe técnica pegando os cartões dos quartos junto da brasileira, logo os distribuindo para os jogadores. A mulher não demorou a encontrar , um dos mais altos do time, de braços cruzados, escorado na pilastra próxima, enquanto esperava para subir, parecendo tão triste quanto os demais. Ele olhou em sua direção, acenando com a cabeça, recebendo um sorriso triste dela como resposta.
A derrota de 3x1 para a França tirava o jovem time canadense da grande final, mas eles ainda iriam disputar a medalha de bronze contra o time dos Estados Unidos, no fundo ela entendia a cara de decepção deles; Canadá era o azarão das finais, e, por mais que o time fosse jovem, os EUA eram sempre muito fortes, todos já estavam dizendo que o terceiro lugar seria deles.
A brasileira torcia para que eles conseguissem, tinha simpatizado com todo o time, e podia ver o quão esforçados eles eram, e, se fosse sincera, também não era muito fã dos Estados Unidos.
Quando terminou de atender o casal à sua frente, já tinha voltado para seu quarto, junto dos demais companheiros.

suspirou entediado, antes de sentar-se em sua cama, pegando os tênis ao lado e calçando-os, Ryley Barnes o olhou de lado, a sobrancelha arqueada.
- Não aguento mais ficar parado, vou dar uma volta pelo hotel… - deu de ombros, ao tempo em que levantava, pegando sua jaqueta e andava para fora do quarto. Ryley apenas concordou, sonolento, voltando a prestar atenção no filme que passava, cansado e um tanto deprimido, para prestar atenção no colega.
O loiro encarou por alguns instantes os botões do elevador, pensando se deveria ir para a academia, ou simplesmente relaxar enquanto olhava a movimentação da cidade, no saguão, talvez conversando um pouco com , se ela ainda estivesse por lá.
A recepção estava silenciosa, a loira estava sentada em uma cadeira atrás do balcão, mexendo em um notebook, o cotovelo na bancada e o queixo sobre a palma da mão, parecendo concentrada no que fazia. olhou ao redor, pensando o que faria, parecia meio estúpido ficar ali sem fazer nada; não podia sair do hotel, mas também não queria ficar em seu quarto.
Suspirou frustrado, cruzando os braços.
- Posso ajudar em alguma coisa? - ouviu a voz suave perguntar, o sotaque leve presente.
Sorriu de lado, virando-se para a recepcionista, que olhava em sua direção, sorrindo prestativa.
- Bem… Na verdade eu não sei… - aproximou-se a passos lentos, a loira inclinou a cabeça, franzindo o cenho em confusão. - Não posso sair do hotel, mas estou um tanto entediado no quarto, entende?
A mulher concordou, rindo baixo.
- Temos a academia…
- Não posso fazer exercícios hoje, para estar bem para o jogo amanhã… - resmungou, encostando-se no balcão.
- Como está se sentindo? - perguntou interessada.
deu de ombros.
- No fundo eu tinha esperança de passar por eles, mas sempre soubemos que eles tinham um time forte… - suspirou - Fica de experiência…
concordou com um sorriso leve, sem ter muito o que pudesse dizer para animá-lo;
fazia parte do jogo, nem sempre ele ganharia.
- Que horas você sai? - tornou a questionar, vendo-a olhar o relógio no pulso por alguns instantes;
- Em vinte minutos.
- Planos? Numa sexta-feira à noite?
Ela concordou, sorridente.
- É aniversário de uma amiga, vamos comemorar em um karaokê aqui perto… Te convidaria se eu soubesse que você pode ir…
passou a mão pelos cabelos, olhando ao redor, antes de inclinar-se sobre o balcão.
- Você vai ficar muito tempo por lá?
A mulher arqueou a sobrancelha, um tanto curiosa.
- Talvez… Você não está pensando… Está?
deu de ombros, um sorriso brincalhão em seus lábios.
- Ninguém saberia, seria apenas por algumas poucas horas! O jogo amanhã é só à noite! E eu não vou beber!
abriu a boca, surpresa.
- Eu não posso te levar, você está maluco? Não posso ser responsável… E se acontece alguma coisa?
- Você não vai ser responsável por mim, - riu, negando com a cabeça - sou maior de idade, lembra? Qual é, não vai ser a primeira, nem a última vez que um jogador sai da concentração para se divertir, é?
mordeu o lábio inferior, pensando sobre o assunto, erguendo o dedo em sua direção;
- Se eu perder meu emprego por isso, você vai passar bons meses me sustentando! riu, estendendo a mão;
- Fechado!

saiu quase escondido de seu quarto, alguns minutos mais tarde, agradecendo de novo o sono pesado de seu companheiro, o qual tinha dormido cedo. Se esgueirou pelo corredor, preferindo descer pelas escadas de emergência, e não correr o risco de encontrar alguém da comissão técnica no elevador. Saiu pela lateral do hotel, local que tinha combinado com mais cedo, para não ficar tão visível que ele estava fugindo, seria apenas uma ou duas horas, ninguém perceberia!
Entrou no carro preto que estava parado, quando baixou o vidro do banco de trás, chamando-o, já dentro do uber. Ele reparou que ela parecia nervosa com aquilo, sentindo como se fossem os encontrar a qualquer momento, esticou a mão, segurando a dela.
- Relaxa, ninguém vai saber…
- Imagina se eles chamam a polícia? Vão pensar que você foi sequestrado! - negou com a cabeça, passando a mão livre pelo rosto - Meu deus, eu não acredito que você está indo junto!
fez um barulho com a boca, um pouco chateado.
- Não sou uma companhia tão ruim, sabia?
o encarou por alguns instantes, rindo de leve.
- Não estou dizendo por isso, mas se alguém descobrir…
- Ninguém vai descobrir, e se acontecer, bem, eu assumo minha responsabilidade, a ideia foi minha!
Chegaram com menos de dez minutos, graças ao trânsito tranquilo naquele horário da noite, e quando desceu do carro, pode ver com mais clareza a roupa que ela usava; um vestido preto, tomara-que-caia, com a saia um pouco rodada, e saltos vermelhos, deixando-a poucos centímetros mais baixa do que ele.
- Olha só, até parece que você é alta!
rolou os olhos, balançando a cabeça.
- Você que têm três metros de altura, a minha é bem adequada! - resmungou, mexendo na pequena bolsa que carregava, retirando seus documentos. fez o mesmo, pegando sua carteira no bolso de trás da jeans escura que usava, junto com a camisa pólo branca, as mangas erguidas até próximo ao cotovelo.
Deixou-a passar na sua frente, escutando-a conversar com o segurança, embora não entendesse o que diziam, logo virou-se, apontando para sua carteira, a qual o jogador entregou sem pensar muito. então mostrou o documento do canadense e logo os devolveu, antes de começarem a subir as escadas para o segundo andar do prédio.
Quando estavam quase no topo, a mulher acabou pisando em falso, desequilibrando-se e quase caindo, mas logo sentiu as mãos do jogador sobre sua cintura, segurando-a.
- Você está ok?
- Aham… - concordou, sem graça, agradecendo em seguida pela ajuda. riu baixinho, antes de olhar ao redor.
O local não era muito grande, e parecia um tanto abafado pelo número de pessoas que ali estavam. Tinha um bar ao canto, no qual os barman faziam algumas bebidas para os clientes que estavam perto, várias mesas espalhadas e um pequeno palco no canto esquerdo, no qual um cara cantava uma música brasileira que ele não conhecia, mas parecia animada, e parte das pessoas ali cantavam junto com ele, rindo e batendo palmas.
A decoração era escura, em tons vermelhos e preto, e várias luzes parecidas com pisca-pisca cobriam o teto.
- Meus amigos estão ali! - apontou para um canto próximo ao palco, viu uma mesa grande, com umas quinze pessoas bebendo e comendo, enquanto conversavam e riam.
A mulher abraçou os amigos, apresentando o jogador no momento seguinte.
O canadense pareceu um pouco sem graça num primeiro momento, mas todos estavam o tratando bem, e, conforme combinado pelos dois, à brasileira não disse que ele era jogador de vôlei, apenas que era um amigo que estava visitando a cidade.
sentiu-se tentado a pedir uma bebida alcoólica quando oferecido, mas acabou por recusar e tomar um suco qualquer, mesmo que sentisse sua garganta seca por uma cerveja. Aos poucos foi relaxando e aproveitando o ambiente, conversando com algumas pessoas que estavam próximas, até tentou arriscar algumas palavras em português.
não estava bêbado, nem poderia já que não tinha bebido, mas estava tão relaxado e ria tanto, que parecia que tinha bebido tantas cervejas quanto as pessoas ao seu redor.
ria animada, já um tanto alterada pela coquetel que tomava, e foi apenas por isso que ela aceitou subir no palco;
- Eu só canto perto do coma alcoólico! - ela tinha comentado por brincadeira no caminho até o bar, e descobriu que era verdade. A mulher era tímida demais para subir estando cem por cento sóbria, então após algumas taças, ela já estava desinibida o suficiente para aquilo.
Escolheu uma música brasileira, que ele também não fazia ideia do que queria dizer, mas as mulheres da mesa gritaram histéricas, até mesmo levantando-se no refrão e dançando o que lhe parecia uma macarena, embora ele tenha escutado alguém gritar “Rouge” e um dos amigos de contou que era um grupo famoso dos anos 2000.
Assim que ela desceu do palco, ainda rindo e sendo aplaudida pela escolha da música, tornou a sentar ao seu lado, virando o resto da bebida em sua taça, e então o empurrando de leve;
- É sua vez! Vai lá!
- Você está louca? Eu nem falo português!
- Querido, temos músicas em inglês, escolhe uma e vai! - riu, mostrando uma pasta preta, com as opções.
- Eu não bebi o suficiente para isso! - resmungou, negando com um aceno.
- E nem vai beber, então sobe logo! - insistiu com a voz mais alta, alegre demais pela bebida. tentou negar, mas a mulher juntou as mãos, quase implorando para ele cantar, e o homem não conseguiu dizer não para aquilo.

respirou fundo, pegando o microfone e sentindo-se estranhamente nervoso;
embora estivesse acostumado com pessoas o olhando, não estava em quadra fazendo o que sabia de melhor, estava em um palco, e todos veriam que sua voz não era boa para aquilo, mas, ao mesmo tempo, nunca mais veria aquelas pessoas, então, por que não?
A melodia de Hey Nineteen de Steely Dan começou a tocar e logo as pessoas começaram a estalar os dedos no ritmo, antes dele começar os primeiros versos.
Sentiu-se melhor aos poucos, soltando-se e até arriscando alguns passos engraçados, fazendo com que rissem;
- Hey Nineteen, no we got nothing in common, no, we can't talk at all, please take me along when you slide on down - cantava empolgado, ouvindo algumas vozes o acompanharem, enquanto outros só batiam palmas sem conhecer a letra, mas gostando do que ouviam.
estava entre o grupo que cantava, tão animada quando , rindo e balançando-se, olhando-o de longe e aplaudindo sua performance.
O jogador piscou em sua direção, apontando o dedo para ela antes de terminar a música;
- Make tonight a wonderful thing, no, we can't dance together, no, we can't talk at all!


O canadense respirou fundo antes do saque, sabendo que cada ponto era importante e decisivo para aquela partida. Bateu a bola algumas vezes, concentrando-se no movimento que faria. Olhou para a quadra adversária, antes de levantar a bola e sacar, ouvindo ao fundo os gritos da torcida brasileira, que tinha simpatizado com o jovem time.
Correu de volta para seu lugar, ajudando no bloqueio quando os estadunidenses tentaram o ataque. Ponto.
Só precisavam de mais três pontos para fecharem o terceiro set. Só três pontos os separavam da medalha de bronze.
O técnico dos EUA pediu tempo, e voltou para o banco, aproveitando os segundos para tomar água enquanto ouvia as instruções do grupo.
Procurou com o olhar a brasileira no meio da terceira fileira, sorrindo em sua direção ao vê-la olhando atenta para a quadra, os dedos cruzados, torcendo pela vitória deles.
“- Você vai trabalhar hoje? - perguntou enquanto voltavam para o hotel, a mulher negou com um aceno lento. - Quer ir ao jogo?
- Você acha que eu perderia? - respondeu rindo - Já comprei meu ingresso, não espero menos que uma vitória!”

sentiu-se mais nervoso ao pisar na quadra, não apenas por ser a decisão, mas no fundo, por saber que ela estava ali, prestando atenção em seus movimentos.
Era uma sensação estranha estar perto dela, sentia-se nervoso, ansioso, e ao mesmo tempo confuso, sem saber exatamente o que fazer ou o que dizer ao seu lado.
Sempre pensando que poderia dizer alguma besteira que a afastasse.
E era ainda mais estranho pensar em tudo aquilo, sabendo que a conhecia à pouco tempo, e tão mal. Nem mesmo sabia seus gostos, sabia tão poucas coisas sobre ela que parecia ainda mais bobo querer tanto impressioná-la. Mas era aquilo que ele queria fazer.

A euforia o dominou por completo quando bloqueou o ataque dos adversários, e a bola bateu na quadra, dentro do espaço deles. Ponto. Seu ponto. O último ponto da partida. Eles tinham ganhado!
O Canadá era, pela primeira vez, bronze no Mundial de Vôlei.
O jovem time dado desde o começo como zebra, tinha vencido os Estados Unidos por 3 sets a 1. A medalha era deles!
Correu para abraçar os companheiros, pulando e gritando junto deles, antes de virar-se para a torcida brasileira que aplaudia.
Não demorou para localizar ali no meio da multidão, gritando e aplaudindo como todos os outros, sorrindo em sua direção.
deixou-se levar pelo momento, sem nem mesmo pensar no que fazia;
Correu pela lateral da quadra, aproximando-se da área na qual ela estava, assustando parte da torcida que não esperava aquela reação do jogador, o qual pulou as placas dos patrocinadores, subindo nos bancos e pedindo licença para as pessoas, sem nem mesmo tirar os olhos do rosto surpreso da brasileira, que parecia ligeiramente confusa.
Parou de frente a ela, que riu para ele, parabenizando-o pela vitória com um abraço apertado, o qual foi retribuído da mesma forma, antes de separar-se, apenas o suficiente para encará-la nos olhos, antes de fazer o último movimento calculado da noite;
- Oi! - sorriu bobamente, antes de inclinar-se para beijar-lhe.




FIM.



Nota da autora: Olá! Cheguei pra enaltecer o time do Canadá, pois, que homens! #GOCANADA





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