Fanfic finalizada em : 12/10/2020

Capítulo Único

2015

A chuva fina e fria caía enquanto a mulher corria pela rua naquele final de tarde de sábado. Todo o terror vivido há cinco anos passou diante de seus olhos e ela não conseguia evitar sentir o desespero que tomava conta de si naquele instante. Pensava no marido e nos dois filhos com o coração apertado, não conseguindo nem por um momento cogitar a mais remota possibilidade de chegar tarde demais.
não atendia o telefone de jeito nenhum e já estava começando a se desesperar ainda mais. Precisa saber que sua família estava bem. Ligou duas vezes nos celulares dos irmãos, que também não atenderam, e chegou à conclusão de que tudo que podia fazer naquele momento era correr, correr e correr para casa, o mais rápido possível.
Passou pelos vizinhos com o rosto pálido sem desejar boa noite, não parou para acariciar os pelos macios de Thor na entrada da casa ao lado como de costume, e assim que alcançou a porta da sala, abriu de uma vez, dando de cara com e as crianças assistindo alguma coisa na televisão.
Não conseguiu segurar as lágrimas, o que preocupou Noah, que deixou os pequenos gêmeos em frente à TV para acudir a esposa.
, o que houve? – Perguntou devagar, chegando próximo a mulher, que desmontou de alívio.
pegou pelos ombros, a levando até a cozinha, com o canto do olho tentando identificar se os filhos de três anos tinham achado algo de errado. Ainda pareciam bem calmos assistindo TV. Apesar de tudo, sorriu, acompanhando a mulher até uma cadeira.
Pegou água para ela e acariciou seus cabelos, enquanto a mulher se acalmava.
– Eu vi ele, . – Começou, abandonando o copo de água pela metade em cima da mesa. – Malcolm está aqui, em Cape Cod.
A espinha de gelou, de repente preocupado. Mas não era possível, Malcolm tinha morrido, não tinha? Ele estava morto há cinco anos.
, olha para mim. – Pediu. – Ele morreu, . Malcolm Davis morreu.
Ela negou com a cabeças, as lágrimas caindo pela sua face.
– Eu sei o que eu vi! Ele me seguiu o dia todo. – Contou. – Fiquei morrendo de medo de ele ter encontrado vocês aqui.
suspirou, coçando a cabeça.
– A gente precisa ir na delegacia, então.
– Eles não vão acreditar em mim. Não de novo.
– É o trabalho deles, ! – Grunhiu , desesperado.
enxugou as lágrimas que ainda escorriam em suas bochechas, puxando o celular do bolso.
– Vou tentar ligar para Matt e Thomas de novo. – Disse, indo para a sacada.
A moça foi até a entrada da casa tentar contato com os irmãos novamente. O telefone de Matt caiu direto na caixa postal, para a decepção de , mas Thomas, por sua vez, atendeu no terceiro toque.
? Aconteceu alguma coisa? – Perguntou do outro lado da linha.
– Thomas, Malcolm está na cidade. – Informou, sem rodeios. – Eu vi.
escutou a respiração pesada do irmão.
Vem aqui para a delegacia agora.
– Mas... e as crianças? – Indagou.
Thomas demorou um pouco para responder.
Deixe os gêmeos lá em casa. Suzanne está lá. – Respondeu, referindo-se à esposa.
concordou com o plano, indo até a cozinha novamente, onde a aguardava.
– Thomas falou para deixarmos os meninos com Suzanne e irmos até a delegacia agora.
ainda estava com medo de se separar dos filhos, mas entendia que, no momento, o melhor lugar para seus bebês era bem longe dela. Os dois equiparam a mochila dos meninos com as coisas que eles poderiam precisar durante a noite, incluindo uma troca de roupas limpas. Os gêmeos, Lucca e Noah, já não usavam mais fraldas, mas as vezes tinham o costume de fazer xixi na cama de vez em quando e, sem os pais, esse fato poderia acontecer em breve por conta de estresse. Uma vez prontos, seguiram em direção a casa de Thomas, onde já encontraram uma Suzanne preocupada na porta da residência. Lucca tinha dormido durante o curto trajeto, mas Noah ainda estava bem desperto e ficou bravo quando percebeu que seus pais estavam indo embora.
- Noah, querido. – Sussurrou perto dele. – A mamãe já volta, tudo bem? A tia Su vai cuidar de você, e em um instante a mamãe já vai estar de volta.
Noah não parecia ter entendido a gravidade do que estava acontecendo, e nem poderia, mas pelo menos parou de chorar, aceitando acompanhar a tia para dentro da grande casa.
e agradeceram a cunhada e voltaram para o carro, indo em direção a delegacia. Os dois frustrados, não ousando acreditar que o pesadelo de cinco anos atrás, que os afastou da cidade, da família e, principalmente, um do outro, estava acontecendo de novo, em uma escala bem pior.


, é a mesma coisa da última vez. – Informou Matt em frente ao computador. Thomas recepcionou a irmã caçula desesperada na porta da delegacia, onde o delegado de plantão, que por sorte era bem próximo a Matt, a recebeu rapidamente. – O cara evaporou.
– Matt, eu sei o que eu vi. – Repetiu a moça, enfaticamente. – Ele me seguiu do supermercado até a floricultura e eu precisei dar uma volta enorme para despistá-lo e não levar ele até minha casa.
Os três homens e o delegado conseguiam notar que tremia, tremia de frio, de medo e agora não só por si mesma, não conseguia parar de pensar no risco que estava colocando seus filhos só por existir. Como se lesse sua mente, se abaixou.
, nada disso é culpa sua.
Foi o que bastou para ela voltar a chorar.
– Sinto muito, . – O delegado disse como quem realmente se lamenta. – Malcolm não existe mais em sistema. Foi dado como morto, há cinco anos atrás.
– Mas eu vi ele! Eu vi! – Falou, mais alto.
Um policial miúdo com uma cicatriz bem larga no rosto entrou na sala do delegado com o copo d’água, um pequeno gesto a fim de acalmar . Ela aceitou a bebida, os dedos tremendo tanto que ficou com medo que a esposa desmaiasse.
realmente não estava bem, as visões do que passou corriam por sua mente em alta velocidade e era quase impossível parar.
. – Matt tentou dizer. – Vá para casa. Ele morreu, você está apenas traumatizada.
Desolada e sem acreditar que não receberia reforços da polícia, retornou a chorar, as lembranças ainda invadindo sua mente. Thomas notou o sofrimento da caçula e achou que, talvez, ela se sentisse mais segura se tivesse algum policial perto dela.
, leva para minha casa. – Pediu, olhando para o delegado como se pedisse aprovação. – Vocês podem passar a noite lá, ficarei de guarda. Pode ser, ?
A tremedeira deu um tempo, e, embora continuasse chorando, concordou com a ideia, chateada que ninguém acreditasse nela. Pensando direito ela nem mesmo tinha visto o corpo sem vida de Malcolm. A última lembrança que tinha tido dele foi quando o empurrou para o buraco na floresta, saindo correndo em seguida. Não tinha certeza de que ele estava morto. Ele não podia estar morto.
O jovem casal saiu da delegacia sendo escoltados por Thomas, que os levou para casa. As crianças já estavam dormindo e insistiu que queria dormir junto com os filhos, e assim foi feito. A mulher agradeceu o irmão e a cunhada e trancou a porta e as janelas antes de se deitar na cama, aterrorizada.
, você só está com medo. – Disse , baixinho, depois que se deitou ao lado dela. – Ele morreu, querida.
– Não morreu. – Rebateu, chorosa. – Se você não acreditar em mim, não vai conseguir me proteger.
O jovem suspirou, jogando a coberta por cima dos dois.
– Tudo bem. Tudo bem, acredito em você. – Beijou sua cabeça e a abraçou protetoramente. – Estou aqui com você, . Os meninos estão aqui do nosso lado, a porta está trancada e Thomas está lá fora de guarda. Nada vai te acontecer.
estava longe de se sentir segura, mas respirou fundo, grata pela proteção que eles estavam tentando oferecer. Não conseguia desligar sua mente do pesadelo que viveram há cinco anos.
Começou de uma maneira muito inocente. e tinham dado um tempo no namoro por infinitas razões. Um homem muito charmoso apareceu em Cape Cod, com um interesse especial na balconista . Um homem bonito dando atenção depois de um longo e complicado relacionamento não era nada do que estava esperando, mas mesmo assim começou a conversar com esse homem, que se apresentou como George Standley. Disse que era proprietário de uma vinícola famosa e estava procurando terras para comprar por ali. Se fosse um pouco mais esperta, teria questionado porque procurava terras em uma cidade litorânea e turística, mas o charme de George a perseguiu por muitos meses. tentou por diversas vezes retomar a atenção da ex, e percebeu tarde demais que já a tinha perdido.
Para , George era diferente dos outros homens. Era bonito, rico, educado, gentil, encantador e céus, tão diferente de ! Tudo bem que George era pelo menos dez anos mais velho que ela, mas idade era apenas números, afinal de contas. Aceitou sair com ele, e foram para outra cidade vizinha, onde ele a levou para degustar vinhos. Também a levou para Nova York de helicóptero para assistirem um musical e em um passeio romântico em seu iate comercial, que estava em Nova Jersey.
Mas nem tudo eram flores. No começo não via nada demais, mas depois foi ficando cada vez mais estranho. Ele sempre queria saber onde ela estava, quando iam sair ele constantemente desaprovava seu visual e por muitas vezes tentou tomar seu celular, alegando que ela estava trocando mensagens com o ex. O comportamento de George era cada vez mais agressivo e ela estava começando a ficar com medo dele. Em uma noite contou tudo para , que disse a ela que isso era psicopatia, relacionamento abusivo e que o cara não era são. decidiu se afastar de George, achando que assim estaria mais segura.
Mas as ameaças vieram. Ligações estranhas no meio da madrugada se tornaram frequentes e fotos nuas de si mesma chegavam a casa de todos os dias, com mensagens horríveis dizendo que ele a perseguiria para onde quer que fosse. As perseguições não pararam e acionou os irmãos, que trabalhavam na delegacia, dizendo tudo que estava acontecendo. Estava sendo perseguida há semanas, recebendo ameaças em casa e pelo telefone e George havia sumido.
Matt comprou uma passagem para ir para Seattle na casa de uns parentes que haviam por lá, enquanto investigava George Standley. Ligou para assim que a mesma pousou em Seattle, dando a pior notícia que ela poderia receber: não existia nenhum George Standley.
Dali para frente foi um circo de horror, não se sentia à vontade em nenhum lugar, não se sentia protegida de forma alguma e tinha muitas saudades de casa, e de . Foi em uma noite chuvosa, quando seus tios estavam dormindo, que teve a certeza de que aquele era o último dia em que viveria.
Ouviu passos pelo sítio onde estava, seguido de um barulho na porta da frente e, com medo de ela não estar trancada como deveria, correu para o hall, em direção a porta. Quando estava perto o suficiente do batente, um bilhete escorregou da portinhola de correio, pousando suavemente em cima do carpete.
Deu um berro, liberando todo o horror que estava sentindo quando leu o conteúdo da nota: EU AINDA TE SEGUIREI ATÉ EM CASA
Correu para o andar de cima, tentando desesperadamente acordar os tios, que não se levantaram. Mais tarde descobriu que o homem havia colocado uma pequena porção de sonífero para que os adultos não o impedisse. Uma ligação de Matt em seu telefone era tudo que ela mais precisava e disse, atrapalhada, que George a havia encontrado e que ela estava sozinha. Matt informou que o verdadeiro nome dele era Malcolm Davis e que ele estava na lista de procurados do FBI, suspeito de estuprar e matar mais de vinte e cinco mulheres. Pediu para ela se esconder porque ele já tinha chamado reforços. Chocada demais para fazer qualquer coisa que não fosse entrar em desespero, gritou, apavorada, o que entregou sua localização. Malcolm a encontrou, tremendo dos pés à cabeça e a arrastou pelo sítio, em direção as árvores. sentiu que era ali que morreria. No meio das copas de árvores, com a terra ainda fresca com a chuva que caia, teria seu derradeiro fim.
Mas então pensou nos pais, nos irmãos, em . A vida dela não podia acabar por causa de uma única pessoa errada que tinha atravessado seu caminho. não queria ser mais um número na estatística, não queria ser mais uma na longa lista de atrocidades que aquele homem cometeu. Ela não podia, e nem iria, se entregar para a morte dessa maneira.
Malcolm a obrigou cavar sua própria cova. Ele estava com pressa, tinha ouvido as sirenes. Pretendia matá-la devagar, com prazer, mas dessa vez não teria tempo, os minutos que lhe restavam dariam apenas para dar um tiro certeiro na testa de e caprichar mais com a próxima vítima. Mas ele não contava com a destreza da moça. Enquanto estava distraído, não notou como chegou tão perto dele, socando a pá em sua nuca tão forte que o deixou atordoado. Sem pensar, empurrou Malcolm em sua própria cova, onde ele caiu, aparentemente com o pescoço quebrado. Encontrou o revolver que ele usaria para matá-la caído no chão ao seu lado e em um impulso, ao ver a perna de Malcolm dar uma leve mexida para o lado, atirou, e saiu correndo para o sítio onde encontrou os policiais.
O dia amanhecia, e os tios já tinham acordado, sendo cuidados por paramédicos que apareceram ali. recebeu suporte médico e psicológico por meses depois de ter passado por isso e, mais tarde, quando pode retornar para Cape Cod, foi informado a sua família que Malcolm Davis tinha sido declarado morto e que ela não precisava mais temer.
E assim foram os últimos cinco anos. Leves. O noivado, o casamento, a descoberta da gravidez, o nascimento dos gêmeos, os primeiros passos, as primeiras palavras. Estava tudo indo bem.
Até ver Malcolm Davis no centro da cidade mais cedo.


O homem notou que a moça parecia um pouco alterada e sabia que ela tinha procurado a polícia. Não entendia o porquê de tanto alarde, afinal ele nem tinha falado com ela. Estava no banco da praça, esperando seu contato na delegacia. Um homem miúdo com uma extensa cicatriz na face apareceu, sentando-se ao seu lado.
– Eles acreditaram nela? – Questionou, sem rodeios.
O pequeno homem negou com a cabeça.
– Não. Mas ela passou a noite na casa do irmão mais velho, com o marido. –
Ele achou melhor deixar de lado a informação sobre as crianças. Tinha sido bem pago para vazar essas informações, mas tinha a impressão que o homem grande ao seu lado era perigoso e não queria entregar bebês em uma bandeja para ele.
O grande homem alisou o bigode, olhando para ele de soslaio.
– Só isso?
– Sim. A polícia não desconfia de nada.
O grandalhão assentiu, agradecendo a prestação.
– Obrigado. Você pode ir agora.
O homem miúdo o encarou confuso.
– Mas e a outra parte? Você disse que ia dar a out... – Travou e se interrompeu quando viu o olhar assassino do colega a sua esquerda. – Tudo bem... eu já vou indo.
Com o sangue subindo a cabeça de tanta injustiça, o homem miúdo foi embora, deixando o outro com uma expressão divertida no rosto. Tinha talento para identificar policiais corruptos. Ele não pagou o que deveria ter pago, mas o miudinho iria reclamar com quem, com a polícia?
Mas o homem pequeno não iria deixar barato. Ele foi cobrado para ser informante, e não teve a quantia certa. Aquele grandalhão iria ter o que merecia, nem que fosse a última coisa que ele fosse fazer.
O homem maior olhou seu reflexo na câmera do celular uma última vez antes de se levantar do banco da praça e ir até o supermercado onde trabalhava. Se a polícia não tinha acreditado nela, com certeza não teria ninguém escalado para protege-la. Estava desimpedido.
Sabia que sua aparência estava diferente da última vez. Tinha deixado um longo bigode crescer e descoloriu tanto o cabelo quanto os novos bigodes. Também adotou um novo estilo de roupa, a fim de ficar o mais diferente possível do que outrora. Como era de se imaginar, Malcolm Davis estava morto e ele tinha que agir como tal.
Chegou ao supermercado, ficando na área de conveniência do local. Era perto o bastante para observar a delicada trabalhando, mas longe o suficiente para que ela não o visse. Ficou o dia todo sentado na mesma mesa e faltavam agora cinco minutos para o final do expediente de , então o homem resolveu se adiantar. Pegou uma caixa de fósforos, uma corda e uma fita grossa, indo diretamente até o caixa de .
– Boa noite. – Prontificou-se, olhando deliciado para o olhar de horror que a mulher lhe lançara.
– Você... morreu, Malcolm. Você morreu em Seattle. – Balbuciou, indo para trás.
O homem sorriu, fingindo estar preocupado.
– Não é esse meu nome. Desculpe, deve estar me confundindo com alguém. – Disse, colocando suas compras em cima do balcão. se assustou ainda mais com o conteúdo, olhando para os lados e não vendo quase ninguém. – Você está bem, quer que eu chame seu gerente?
sacudiu a cabeça, tentando pensar com coerência. Aquele era Malcolm. Tinha que ser ele. Estava bem diferente de cinco anos atrás, mas ainda era o mesmo psicopata maluco que estava tentando matar ela.
– Vinte e dois dólares e setenta centavos. – Informou automaticamente. Malcolm estendeu o dinheiro e ela, colocando suas compras em um saco.
Sorriu brevemente.
– Boa noite, senhorita. – Olhou para as mãos dela por um momento, sorrindo ainda mais largamente. – Ou, devo dizer, senhora.
E foi embora, deixando uma estupefata para trás. Ela não podia sair do lugar sozinha, não tinha a menor condição de fazer isso. Observou o homem sair do estabelecimento, e aproveitando o fim de seu expediente, realizou os procedimentos padrões de contagem de notas, as trancou no cofre e foi para o vestiário trocar de roupa. Não encontrou quase ninguém pelo caminho, o que a deixou ainda mais apavorada. O relógio marcava oito e trinta e seis da noite e ela decidiu ligar para alguém. Antes de sair pediu um Uber. poderia vencer a curta distância do trabalho até sua casa facilmente, mas imaginou que estaria mais segura se fosse de Uber, pois teria uma testemunha. Enquanto esperava sua carona, ligou para , que não atendeu, tampouco teve sorte quando tentou ligar para Matt e Thomas. Deixou uma mensagem para Matt relatando tudo o que tinha acontecido.
Apenas quando o aplicativo em seu celular apontou que o motorista estava bem na porta do supermercado, a mulher se sentiu confiante em sair do estabelecimento e ir até onde estava o carro que tinha pedido.
– É ? – Disse o motorista, ainda de longe.
Ela sorriu, aliviada. Uma testemunha!
Enquanto isso, procurando pela passageira, o motorista Steven desacelerou, a fim de localizar a mulher na frente do supermercado. Viu apenas uma outra moça, conversando com um cara louro. Abriu o vidro furtivamente apenas para perguntar para eles se sabiam se por ali havia uma tal de .
ia até o louro a passos lentos, ainda olhando para os lados. Malcolm tinha se levantado do banco, o que era incomum. A moça teve tempo apenas de arfar quando percebeu quem vinha em sua direção, com um pano branco na mão direita.
– Olá, . Quanto tempo – Disse Malcolm, rapidamente colocando o pano embebecido de sonífero.
Quando Steven notou o que estava acontecendo, rapidamente anotou a placa do carro, se abaixando quando o homem grandalhão olhou ao redor de si mesmo a fim de identificar alguém. Jogou uma desmaiada no porta-malas do carro e deu partida, não notando Steven no telefone falando com a polícia naquele exato instante.
– Acho que acabei de testemunhar um sequestro.


– Como ele era? – Perguntou o detetive John a Steven. O motorista estava em choque, nunca tinha presenciado uma situação do tipo. Levaram-no para sala de um dos detetives, que ouviu todo caso.
– Era louro e muito grande. Tinha um bigode.
John assentiu.
– E o nome da passageira que você tinha que encontrar? Tem certeza de que ela foi sequestrada?
– Era . Só tinha ela do lado de fora, não encontrei mais ninguém. Tirei um print da foto que ela colocou no aplicativo.
John assentiu.
– Isso ajudaria bastante, rapaz.
Steven, tremendo, tirou o celular do bolso, mostrando a foto de para o detetive, que arregalou os olhos.
– Não é possível. – Ele olhou da foto para Steven. – Você tem certeza que viu essa moça no porta malas?
O homem negou com a cabeça.
– Como eu disse, não deu para ver o rosto da mulher raptada. Só sei que alguém foi sequestrado. – Steven depositou o copo de água em cima da mesa. – Senhor, já falei tudo que eu sei, posso ir embora?
O detetive concordou, atravessando a sala e depositando a mão nos ombros do rapaz.
– Se você estiver certo, pode ter ajudado a salvar a vida de uma pessoa, Steven. Estamos procurando essa mulher há duas horas. – John sorriu para o rapaz. – Você pode ir agora.
O rapaz deixou a sala, sendo conduzido até a recepção onde faria uma denúncia formal. Deixou a burocracia de lado e seguiu até os fundos da delegacia, onde Matt e Thomas buscavam, exasperados, uma forma de encontrar . telefonara há duas horas atrás informando que ainda não tinha chegado em casa e que não atendia o telefone. Normalmente não seria motivo para alarde, mas quando se tem um crime recorrente e dois irmãos na delegacia não teria como ser diferente. Ainda mais com a mensagem que havia mandado a Matt, cinco minutos antes da denúncia de sequestro.
– Thomas. – Chamou John, atraindo olhares para si. – Temos uma placa.
Matt soltou um suspiro aliviado. Pegou o papel na mão do detetive e indo até o outro detetive, Collins.
– Encontre esse carro, quem é o dono? – Perguntou exasperado. – É Malcolm Davis, não é?
Collins acessou o sistema rapidamente, Thomas e Matt o encarando com expectativa. Os ombros do detetive murcharam e Matt foi até ele, lendo o conteúdo da tela.
– Desculpe, não é Malcolm. – Anunciou, para o completo desespero de Thomas. Matt, no entanto, sorriu, sem humor nenhum.
– Te peguei, filho da puta. – Disse, sorrindo.
Thomas arqueou as sobrancelhas.
– As investigações de 2010. Fui eu quem levantei, lembra? – Perguntou para o irmão. Thomas assentiu, mesmo sem entender. – Achamos um nome falso.
Thomas também sorriu, indo até o monitor.
– Parece que ele deu um jeito de trazer George Standley a vida.
– George Standley? – Disse Collins olhando alguma coisa no computador. – Tem razão, esse cara não existia até três anos atrás. Consegui apenas um carro e uma propriedade, uma fábrica abandonada, mas pode ser uma emboscada. Se o alvo dele é há cinco anos, provavelmente ele sabe que os irmãos dela são policiais.
Matt e Thomas se entreolharam.
– Faz sentido.
– Podemos levar grupos de buscas para os dois lugares. Tanto para a rota do carro, como para a propriedade. Ele não seria burro de declarar uma propriedade com um nome falso se não fosse para nos despistar, mas talvez ele seja. – Disse Collins, fazendo John rir.
Eles prepararam a equipe e traçaram as rotas para a equipe de busca. Mobilizaram toda a delegacia para encontrar e também deixaram dois policiais com e com as crianças, a fim de proteger a família, para o caso de Malcolm quisesse usá-los como reféns.
Com todos cientes do plano de resgate, partiram em suas respectivas viaturas. Matt e Thomas decidiram se separar e cada um foi com um grupo. Thomas foi com o primeiro grupo seguindo a rota do carro em que Malcolm fugiu com . Desistiram da operação meia hora depois quando, frustrados, identificaram o carro abandonado em um campo, com toda certeza uma tentativa de despistá-los. Thomas colocou toda fé no grupo de Matt.
– Aguente firme, irmãzinha. Matt vai te encontrar. – Sussurrou para ninguém em especial, voltando para a delegacia e pensando em um plano B caso tudo desse errado.


sentiu uma pressão horrível nos pés, nos braços e nas mãos antes de finalmente abrir os olhos. Demorou muito para se acostumar com a penumbra do lugar e a escuridão tornava mais difícil identificar onde estava. Percebeu que estava amarrada a uma cadeira, as mãos atrás das costas e as pernas amarradas cada uma em uma haste. Estava com frio, parecia que tinha se molhado e sentiu a ponta da calça pingando no chão. A boca estava amordaçada e por mais que chorasse, não conseguia se fazer ser ouvida. Sentia que estava no meio do nada, onde ninguém nunca iria encontrá-la. Um rato passou rente aos seus pés, o que a vez engasgar de nojo. Quando se acostumou com a escuridão o suficiente, percebeu que parecia uma velha fábrica abandonada. Achou muitos produtos químicos em prateleiras, todos empoeirados, o que deu a entender que há muito tempo ninguém ia ali. Um lugar onde ninguém iria procura-la.
Malcolm abriu uma porta, indo a passos lentos até e acendeu uma lâmpada primitiva que havia por ali. A luz incomodou por um momento, mas não tanto quando o olhar sádico de Malcolm para ela.
– Olá, . Senti saudades, meu amor. – Sussurrou, passando as mãos pelas suas bochechas. tremeu quando um vento vindo da porta passou por ela. – Ah, está com frio. Depositei cada gota de gasolina que encontrei em cima de você, até ali – Falou, apontando para a porta. – Se não se comportar....
E mostrou o fósforo.
Gasolina? Ele tinha jogado gasolina nela? se desesperou, chorando, o que fez Malcolm se deliciar de prazer.
– A polícia não vai vir, meu amor. – Sussurrou, chegando perto dela. – Essa cidade não tem policiais o bastante para te procurar por todos os lados.
iria morrer queimada. Ela sentia isso. Quantas vezes uma pessoa poderia escapar da morte? pensava que deveria ter um limite para isso e que ela com certeza já tinha atingido sua quota de sorte.
– Foi bom te perseguir, minha princesa. Minha rainha. Você é tudo, tudo para mim. Estou para te dizer que você é a minha favorita, . Me deu trabalho reviver George Standley e forjar minha morte. Entretanto, foi bom te caçar. – Sussurrou, riscando um fósforo. tentava gritar o máximo que conseguia, mas não obteve sucesso, Malcolm sorriu, mirando o fósforo aceso. – E agora você vai morrer por isso.
Antes que pudesse soltar o fósforo, ambos ouviram um barulho do lado de fora.
– Shii. – Pediu Malcolm, colocando o indicador na frente dos lábios. Ele se afastou a passos lentos até a porta, sendo guiado pela luz do fósforo que segurava.
Quando estava prestes a se assegurar de estar sozinho novamente, um esquadrão da polícia invadiu a fábrica.
! – Gritou Matt, indo até ela.
No susto, Malcolm derrubou o fósforo aceso bem no chão, em cima de uma pequena poça de gasolina. Seguia em um rastro sinuoso até a cadeira – e .
– Me tira daqui, ele jogou gasolina em mim! – Gritou ela, quando Matt a livrou da mordaça.
Calcularam que tinham menos de vinte segundos até as chamas encontrarem , não ia dar tempo de livrá-la daquela cadeira. Enquanto pensava, Malcolm veio por trás de Matt, cravando um canivete em seu ombro. Matt urrou de dor, encarando o louro grandalhão que era pelo menos duas vezes maior que ele. Com o fogo perto de queimar sua irmã mais nova, Matt não pensou duas vezes, chutando com força a cadeira para longe da rota em que o fogo estava vindo. gritou, tombando junto com a cadeira e caindo por cima do braço, que quebrou. Ela não estava mais na rota do fogo, mas ele crescia cada vez mais e não podia chegar perto dela.
– John, ajude-a! – Gritou Matt, enquanto com a ajuda de mais dois policiais tentavam neutralizar Malcolm.
John soltou da cadeira e a levou para fora da fábrica, onde era possível ver o fogo cada vez mais alto.
– Matt! – Gritou, segurando com dor o braço que quebrou na queda. – Alguém salva o Matt!
John voltou para o lado de dentro da fábrica, onde Malcolm ainda lutava pela liberdade. Malcolm estava furioso. Não tinha como eles descobrirem esse lugar. Ele fez tudo certo, comprou apenas com dinheiro, usou um nome diferente. A única pessoa que sabia disso era... olhou para o lado, onde o policial pequeno com a cicatriz na face vinha em sua direção com as pupilas dilatadas de ódio. Ele tinha sido traído. Quis se vingar do policial, apenas um soco o silenciaria para sempre. Mas John notou que o fogo estava atingindo as prateleiras com os elementos e entendeu tudo.
– Vamos embora! – Gritou para os colegas. – Agora!
– E ele? – Perguntou Matt, tentando colocar algemas no louro.
– Vai explodir, Matt, corre!
– Vai explodir! – Matt gritou para os colegas que estavam mais perto das prateleiras. – Corram!
imediatamente olhou para a fábrica quando ouviu o som da explosão. Caiu de joelhos quando todo o lugar ardeu com as chamas mais feias que ela tinha visto. A dor em seu braço não era nada comparada a dor que sentia em seu coração.
Durante a explosão haviam quatro policiais do lado de dentro e, um deles, era seu irmão. Seu irmão Matt.

2020

– Lucca e Noah, vocês vão se atrasar para aula! – Chamou pela quinta vez. O café da manhã já estava mesa há quase meia hora.
– Eles já estão vindo. – Disse , aparecendo na cozinha. – Sabe, eles querem ir também.
– Para o memorial?
sorriu, sentando-se na mesa com a esposa.
– Matt é o grande herói deles, . Eles merecem prestar suas homenagens.
suspirou.
– Eles são muito jovens, . E precisam ir para a escola.
passou a mão por cima da mesa, segurando a mão dela.
– Eles entendem que o tio morreu para salvar você. E eles sempre serão gratos a Matt por isso, a idade não importa. – sorriu, limpando uma lágrima que escapou do rosto da mulher. – Você sabe os filhos incríveis que tem.
Ela concordou.
– Está certo. Eles merecem isso. – Parou um pouco de falar. – E eu também.
Apertou a mão do marido, indo até o quarto dos gêmeos, que usavam conjuntos completos de terno e gravata. Observou os meninos cochichando qual desculpa era a melhor para permitir que a mãe os deixasse participar desse momento. riu, atraindo atenção para si mesma, o que fez os meninos mostrarem olhares assustados de quem foi pego no flagra.
– Posso entrar? Sua gravata está um pouco torta, Lucca. – Pediu, tendo uma cabeça afirmativa como resposta.
Sentou-se na cama a direita, arrumando a roupa dos meninos.
– Pronto, estão lindos para o memorial.
Os olhos deles brilharam e sentaram um de cada lado para abraça-la.
– Obrigado por deixar a gente ir, mãe.
sorriu, triste.
– Vocês sabem porque estão indo, não sabem? – Perguntou. – Há cinco anos atrás, eu fui sequestrada. O tio Thomas e o tio Matt foram me procurar.
– E o tio Matt te achou. – Disse Noah.
abriu um sorriso.
– Isso, o tio Matt me achou. Mas o homem mau jogou fogo em tudo e a fábrica explodiu. Então cinco homens morreram, quatro policiais e...
– E o homem mau. – Completou Lucca.
segurou a mão deles por um tempo.
– É bom que vocês vão. Se o tio Matt não tivesse me salvado, eu não estaria aqui com vocês e nem com o papai. A gente sempre vai precisar agradecer o tio Matt. Combinado?
Os gêmeos abriram um sorriso.
– Combinado!
– Agora vão na cozinha comer alguma coisa, e cuidado para não sujarem a roupa! – Ordenou, batendo palmas.
Os meninos saíram correndo apenas de meias para a cozinha. aproveitou o momento para colocar o vestido que tinha separado na noite anterior, junto com uns brincos que Matt havia dado de presente alguns anos atrás. Suspirou, cansada de sentir falta dele, com a culpa pela sua morte sumindo cada vez mais com o passar dos anos, mas sempre presente.
e os meninos estavam escovando os dentes quando a campainha tocou. Pelo horário só poderia ser correio, e como era a única a estar pronta, foi até o hall pegar as cartas antes que alguém pisasse nelas na saída. Era de fato incomum, nos dias atuais a maior parte das contas chegavam pelo e-mail e sua mãe sempre escrevia mensagens de texto. Quando chegou próximo ao tapete, pegou o que era um cartão postal, de Cape Cod.
Quando virou o cartão para ver o remetente, não conseguiu refrear o grito de horror e nem o frio na espinha que passou por si quando leu o conteúdo da mensagem.

EU AINDA TE SEGUIREI ATÉ EM CASA



Fim!



Nota da autora: Oi, meninas! É a primeira fic que escrevo nesse gênero e deu muito, muito trabalho mesmo. Sinto que sai da minha zona de conforto de fanfics normais e pousei diretamente em um livro do Nicholas Sparks hahaha
Assisti muita coisa relacionada ao tema e li vários livros também. Sei que a parte burocrática com a policia não vai ficar exatamente fiel, até porque não conheço os procedimentos, mas na minha fic é assim que acontece mesmo, um resgate bem rapido!
Espero de coração que tenham gostado da história e me deem um desconto por que foi a primeira - e provavelmente a última - desse gênero! Beijooss!



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The Only Girl [original/em andamento]
Burn With You [original/finalizada]
Take Me Back To San Francisco [especial A Whole Lot Of History/ em andamento]

SHORTFIC
I Want To Write You A Song [especial A Whole Lot Of History/finalizada]

ONESHOT
Loved You First [especial A Whole Lot Of History/finalizada]
You Know I'll Be Your Love [especial A Whole Lot Of History/finalizada]


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