Capítulo Único
- Achei que você não viria. - Jeff comentou baixo assim que me sentei ao lado dele no fundo do auditório.
- Realmente era a minha vontade, você sabe o que penso sobre palestras no curso de pós-graduação. – respondi, soltando minha mochila próximo aos meus pés.
- Todos da turma sabem, . Você não foi exatamente discreto quando acusou o professor Hawlks de trazer palestras porque ele tinha preguiça de preparar as aulas. - dei de ombros, aquela ainda era a minha opinião.
- Espero que a de hoje valha a pena, afinal recusamos tocar no bar com os caras para estar aqui.
- Se a gente quer ter algum diferencial enquanto músicos em plena Califórnia, nós precisamos nos especializar. Não seja tão rabugento com essa pós, cara.
- Espero que não seja outro velho compositor, eu juro que não aguentaria ouvir cinco horas daquele palestrante. - me lembrava como o dia tinha sido longo com o tal compositor divagando diversas vezes.
- Não é, é uma mulher. eu acho. - Jeff folheou o próprio caderno procurando onde havia anotado o nome. - Isso mesmo, . - bateu duas vezes com a caneta no nome.
- Você tem certeza? - perguntei com a imagem nítida da minha melhor amiga da época de colégio em mente.
- Então, com vocês, . - o coordenador do curso anunciou e Jeff me olhou daquela forma convencida de quando ele tinha razão em algo.
Não me importei muito, precisei ver a palestrante entrando no palco para ter certeza de que era a mesma que eu havia conhecido. Assim que seu rosto apareceu no telão eu não tive dúvidas. Depois de dez anos, estávamos novamente no mesmo lugar e parte de mim não conseguia acreditar, tendo desejado essa oportunidade tantas vezes antes no passado.
- Mas ela não fez música, por que nossa palestra é com ela? - falei baixo para Jeff, para não atrapalhar ninguém.
- Ela trabalha com trilha sonora, que é o tema de hoje. - explicou e me olhou com espanto. - Você sabe quem ela é? Como sabe que ela não fez música?
- Nós estudamos juntos no ensino médio. – contei, voltando a prestar atenção no que ela falava.
- As trilhas sonoras tem mais importância do que geralmente atribuem a elas, mas são elas que criam todo o clima do que queremos que o espectador sinta. Quando vocês escutam os acordes de Tubarão, são poucas notas, é simples, mas deixa o público atento. - alguns alunos cochicharam e ela sorriu.
O mesmo sorriso que melhorava todos os meus dias antigamente. O sorriso que me contagiava mesmo que eu estivesse num péssimo dia e também o sorriso que ela mostrava quando sabia que estava no controle de algo.
- Quantos de vocês tem uma playlist para atividade física? - a maior parte dos alunos levantou a mão. - E playlist para viajar? Para tomar banho? A música faz parte de nossas vidas da mesma forma, vocês são músicos e sabem disso melhor do que eu. E com os personagens não é diferente. Eles também precisam da música. - levou a mão para o pingente do colar que ela sempre usava e passou de um lado para o outro do pescoço e uma lembrança logo ocupou minha mente.
- e , de novo na minha sala e de novo para cumprir detenção. - o professor Sloan falou com tédio. - Sentem-se.
sentou-se, encostando na parede e eu sentei na cadeira ao lado da dela. O professor entregou duas folhas em branco para cada um de nós e ela começou a fazer um origami na frente dele.
- Eu sou uma piada para você, senhorita ? - levantou os olhos do papel em suas mãos para o professor. - Não é porque seu pai faz doações generosas a essa escola que você vai ter imunidade sempre. - ela levou a mão ao pingente do colar, movendo de um lado para o outro, a expressão de tédio esperando-o finalizar o discurso de sempre.
- Nós dois sabemos que isso não é verdade. - sorriu sem mostrar os dentes e eu segurei um riso, o que deixou Sloan ainda mais aborrecido.
- Uma redação sobre porque não devemos quebrar as regras do colégio. Vocês têm três horas para fazer. - bateu à porta atrás de si quando saiu.
- Você não vai mesmo escrever isso, vai? - jogou o passarinho que ela tinha terminado de fazer em minha direção, enquanto eu pegava uma caneta na mochila.
- Diferente de você, meu pai não faz doações generosas a escola.
- Você sabe que nunca vai se meter em problemas se eu estiver junto. - sentou-se na minha mesa, em cima das folhas. - Porque eu sempre vou assumir a culpa e seguiremos ilesos. - neguei com a cabeça. - Até porque, nossas notas continuam aceitáveis. - ela deu de ombros.
- Você é uma má influência, .
- Como se você se importasse com isso. - voltou até a mochila e pegou o próprio caderno, pegou a caneta das minhas mãos e riscou mais um item na folha. - Mais uma regra quebrada. Escapamos da aula de educação física pela terceira semana seguida. - estendeu a mão para um hi-five e eu retribui.
- Você realmente quer quebrar todas as regras da escola? – ri, pegando o caderno das mãos dela e vendo os itens ainda por riscar.
- Acionar o alarme de incêndio? – perguntei, incrédulo.
- Esse precisa ser para um dia grandioso, ou extremamente monótono, ainda não decidi.
- E qual o próximo? – perguntei, achando todos arriscados demais.
- Ignorar uma detenção. Não vamos fazer essa redação idiota. – disse, pegando os papéis que o professor tinha nos entregado.
- Isso vai nos gerar mais uma detenção. - falei o óbvio.
- Ela viria de qualquer forma. - amassou os papéis em diversas bolinhas. - Vamos lá, quem acerta a lixeira primeiro. - colocou as bolinhas em cima da minha mesa e fez o primeiro arremesso, acertando em cheio.
- Ótimo. - eu adorava basquete, acertei a primeira bolinha sem esforço.
- Dois. - ela comemorou e eu a imitei, colocando a segunda bolinha na lixeira. - Esqueci que não tem a menor graça jogar com você.
- Eu não entendo porque você falta às aulas de educação física, se você é ótima.
- Não gosto de ficar suada, não gosto das patricinhas, pode escolher. - deu de ombros e foi até o lixo, afastando-o de nós e trazendo as bolinhas de volta.
Joguei a primeira, acertando novamente.
- , o que você faria se largasse a escola agora para nunca mais voltar? - a encarei.
- Apostaria minha poupança em Vegas. - arregalei meus olhos, ela nem precisou de tempo para pensar. - E você, ? O que faria?
- Não sei.
- Eu acho que sabe. - me deu as costas buscando as bolinhas mais uma vez. - Só não tem coragem de admitir para si mesmo.
- E o que seria, sabichona? - joguei sem olhar e acertei mais uma vez o cesto.
- Pegaria seu violão e sairia pelo mundo. - sorri sem mostrar os dentes, ela me conhecia bem demais.
- Talvez não… - tentei desafiá-la, mas ela riu, mostrando que não a convenci.
Depois dessa, outras lembranças surgiram e nem percebi que já tinham liberado para um curto intervalo de vinte minutos. Foi só quando Jeff estalou os dedos na frente do meu rosto que notei o pessoal saindo do auditório. Peguei minha carteira e celular e o segui até a cafeteria.
- Eu acho que nunca te vi tão concentrado em alguma coisa dessa pós-graduação antes. - Jeff me provocou assim que pegou o expresso no balcão.
- É porque nunca aconteceu mesmo. - confessei. - Mas não espere muito de mim, a maior parte do tempo estava me lembrando de quando estudamos juntos. - Jeff me olhou, desconfiado.
- Vocês eram só amigos ou rolou algo além disso? - deu um gole na bebida.
- Amigos, mas ela sempre teve algo que me puxava para perto dela. - contei.
- Pelo visto ainda tem e ainda te puxa. - ele constatou ao me ver olhando-a novamente. - Por que não vai lá falar com ela?
- Falar o quê? Eu nem sei se ela se lembra de mim. - desconversei, voltando aos nossos lugares.
- Se vocês eram tão amigos assim, ela obviamente não esqueceu de você.
- É, mas não quer dizer que ela queira me ver. Até porque eu demorei tanto a tomar uma decisão que quando cheguei na casa dela, eles já tinham partido. - resumi.
- Vai me explicar alguma coisa ou é para eu deduzir? - foi direto.
- A família dela precisou se mudar e foi tudo muito rápido, coisa de uma semana. Eu surtei, não tinha tempo nem de me preparar depois de passar dois anos convivendo somente com ela praticamente e ao invés de aproveitar o tempo com ela, eu me afastei.
- Bem a sua cara. – comentou, me interrompendo.
- Quando eu finalmente entendi que estava chateado porque além da minha amiga eu ia perder a garota por quem eu estava apaixonado foi tarde demais. Eles decidiram partir antes e quando eu cheguei na casa dela, já estava vazia. - completei com uma expressão de desgosto.
- E você não mandou uma mensagem, nem nada? Deixou-a ir embora achando que você estava a ignorando?
- Claro que não! Mas as conversas ainda eram por sms, lembra?
- Caramba, nem lembrava que não existia whatsapp.
- Pois é, aos poucos nosso contato foi diminuindo, éramos amigos no orkut, mas cada um seguiu um rumo. - finalizei bem a tempo de a palestra continuar.
- Ainda acho que deveria ir falar com ela. Dá para perceber que tem bastante coisa aí que você queria ter falado e não teve a chance. - falou baixo, evitando atrair curiosos.
- E que bem faria dez anos depois? - ele deu de ombros.
retomou sua fala e em questão de poucos minutos eu já estava viajando pelas minhas memórias. Eu tinha sido bem sucinto em contar ao Jeff, mas na verdade eu tinha ficado sem rumo e me sentia um lixo pelo que havia feito, pela forma como as coisas tinham ficado entre nós. Se eu já era quase excluído por só andar com ela, sozinho eu era praticamente invisível.
Tive que voltar a andar na linha, pois sem a influência qualquer advertência ou detenção faria meus pais surtarem. Além disso, a ideia de ser músico estava se afastando, já que era praticamente a única que me apoiava enquanto meus pais queriam que eu cursasse direito e entrasse para a firma da família.
E para completar, eu revivia a última semana com ela constantemente, pensando em como eu deveria ter agido diferente e principalmente nas coisas que eu deveria ter dito e nunca disse.
Durante o resto da tarde a ideia de ir falar com ela passava a me agradar mais e mais. Jeff tinha razão, ela se lembraria de mim e provavelmente não guardava rancor, ela não costumava guardar rancor de ninguém. Passou a encarar aquele dia como uma segunda oportunidade da vida, afinal havia dito que não tinha voltado à cidade desde que se mudara, e não falar com ela o faria repetir a atitude do passado.
Quando encerrou sua fala foi aplaudida pela turma e eu, mais que depressa, guardei minhas coisas na mochila, pronto para me levantar. Diferente do que eu tinha imaginado, um grupinho foi se formando na beirada do palco para falar com ela e voltei a relaxar meu corpo no assento. Recusei o convite de Jeff para encontrar o resto da banda e o sorriso convencido já estava no rosto dele, apenas esperando que eu confirmasse que tinha decidido ouvir a ideia dele e falaria com ela.
Demorou cerca de quinze minutos para que o local se esvaziasse e nesse tempo cogitei ir embora mais de uma vez. Podiam ter se passado dez anos, mas eu ainda me comportava como um adolescente inseguro e sabia disso. Era bizarro pensar que era a única mulher até hoje que me fazia sentir dessa forma, mas talvez esse fosse mais um motivo para que eu falasse com ela.
Desci os degraus lentamente, pois ainda tinha duas pessoas conversando com ela. Esperei um pouco mais atrás, não queria atrapalhar a conversa, mas ela me olhou e o sorriso discreto em seu rosto deixava claro que ela sabia quem eu era e era ridículo a forma como meus batimentos cardíacos tinham acelerado.
- Foi um prazer, até mais, meninas. - acenou um tchau. - Ora, ora, cursou música no final das contas. - pulou do palco para onde eu estava e eu sorri.
- É. Alguém me disse uma vez que eu me arrependeria o resto da vida se não seguisse meus sonhos. - repeti o que ela havia me dito várias vezes e ela sorriu, me abraçando em seguida.
- Uma pessoa muito inteligente. - falou próximo ao meu ouvido e mesmo sem segundas intenções eu me arrepiei.
- Ela sempre foi. - pisquei com um olho só.
- Eu nunca imaginei te ver aqui, . - ela se sentou na primeira fila e a acompanhei. - Eu podia jurar que você teria saído dessa cidade ou então seria mais um advogado engravatado.
- Aqui estamos. E pelo visto alguém não foi para Las Vegas.
- Até fui, mas como apostadora eu sou uma ótima criadora de trilha sonoras. - ri de como o humor dela permanecia igual.
- E como isso aconteceu?
- Longa história, para falar a verdade. Envolveu desagradar meu pai, mais uma vez. - neguei com a cabeça.
- Tenho tempo, se você não tiver compromisso, podemos ir ao Donney’s e você me conta.
- Está me chamando para sair, ?
- Talvez esteja. - cocei a nuca um pouco sem graça.
- Os hambúrgueres de lá ainda são bons? - cruzou os braços e me olhou como se desafiasse a dizer a verdade.
- Os melhores e os milkshakes então… - falei em tom sonhador e ela me empurrou de leve.
- Já tinha me convencido ao mencionar o Donney’s, não precisava me passar vontade.
- Você quer carona? - ofereci e ela negou.
- Estou de carro, vou pegar minhas coisas e nos encontramos lá, pode ser? - assenti e quando ela sumiu pela lateral do palco eu segui para o estacionamento.
…
- Meu Deus, . Eu juro que achei que você estava apenas tentando me convencer a vir com você pelos velhos tempos, mas tinha tempo que eu não comia um sanduíche tão gostoso. - ela confessou enquanto andávamos pela calçada depois de duas horas no estabelecimento.
- Talvez minha companhia tenha ajudado, sabe como é.
- Oh, é claro! Como sobrevivi todos esses anos sem você na minha vida? - levou a mão à testa, num gesto dramático exagerado.
- Eu sempre pensei que você podia me odiar. - soltei sem pensar muito.
- Por quê? - ela parou de andar e me encarou.
- Por não ter me despedido de você e ter sido um completo babaca naquela semana. – falei, olhando para frente, com as mãos nos bolsos.
- Eu não estava muito diferente, não queria mudar e meu pai me obrigou. – sorriu, vendo o píer mais à frente. - Mas nós conversamos depois, se eu tivesse te odiado você saberia. Teria feito um boneco voodoo e te mandaria pelos correios.
- A mesma pessoa amorosa de sempre. - provoquei.
- Poucas coisas realmente mudaram, . - seu olhar era sincero e eu não sabia se havia mais ali do que as simples palavras. - Por exemplo, aposto que ainda corro mais rápido que você.
- Eu duvido. Não sei se você reparou, mas eu tenho malhado há alguns anos. - puxei a mão dela, colocando no meu abdômen levemente definido.
- Realmente. - ela desceu as mãos. - Seria uma pena se a gente precisasse das pernas para correr ao invés de um tanquinho, não é mesmo.
- Palhaça. - a empurrei da mesma forma que ela tinha feito antes.
- Quem chegar por último paga o algodão doce. - disse de frente para mim, ficando de costas em seguida e começando a correr.
Comecei a correr também, mesmo odiando fazer isso de estômago cheio, mas tinha a vantagem de ter pernas maiores e em pouco tempo tinha a alcançado, ela se esforçou para continuar na frente e eu fingi uma cãibra, deixando-a ganhar. Voltei a correr, alcançando-a novamente e passando os braços pela cintura dela, a tirei do chão.
- , me coloca no chão. - ela disse em meio aos risos.
Naquele momento eu percebi que eu faria qualquer coisa para ter mais momentos assim. em meus braços e rindo. Desde perder uma corrida a comprar o algodão doce que ela tanto gostava. Em se tratando de eu faria qualquer coisa, poderia passar o tempo que fosse, eu sempre me sentiria assim.
A coloquei de volta no chão e caminhamos um pouco mais devagar pelo píer, normalizando as nossas respirações. A lua iluminava o mar e aquela era uma das melhores vistas da cidade. Chegamos ao final dele e apoiou as costas na grade, ficando de frente para mim. Novamente sentia meu coração acelerado, pela simples forma como ela me encarava.
- Você sentiu minha falta? - soltou, me pegando de surpresa, até porque eu achava que tinha deixado claro.
- Sim. - respondi no mesmo tom que ela.
- Então por que você não faz o que quer? - agora eu sentia meu coração bater nos ouvidos, um adulto agindo como um adolescente. - Estou bem aqui. Esperando. - sua voz foi como um sopro e me aproximei lentamente.
Meus olhos ainda estavam presos aos dela, mas pela visão periférica notei um sorriso discreto de canto, que me fez sorrir.
- Você continua sendo a garota mais linda dessa cidade.
- Caramba, , eu já estou aqui. Você não precisa ficar me elogiando. - seu tom era de contrariedade, mas eu sabia que era mentira.
Ainda assim a calei, juntando meus lábios aos dela. Suas mãos vieram rapidamente para minha nuca, arranhando de leve. Levei as minhas mãos à cintura dela, diminuindo ainda mais a distância entre nós. Era o nosso primeiro beijo e ainda assim nossa sincronia era tão perfeita que parecíamos fazer isso há anos.
Perdi a noção de quanto tempo ficamos ali, matando a saudade de uma forma diferente, tirando o atraso de todos os beijos que não demos antes.
…
A casa estava silenciosa, o clima era agradável para dormir, mesmo assim o sono era algo distante para mim aquela noite. Já era tarde, já tinha tomado um banho demorado e até um chá, mas não conseguia acalmar meus pensamentos. Bastava fechar os olhos para a imagem de aparecer. No breve momento em que havia cochilado no sofá mais cedo tinha sonhado com ela.
A cada instante que passava acordado, mais refletia sobre o tempo que havia passado e que mesmo assim nada mudara entre nós. Nada me faria esquecer , nem como eu me sentia quando estava com ela. E somente depois de tomar uma decisão foi que consegui dormir.
Acordei com a claridade que entrava pela janela, estava claro demais para ser cedo e confirmei isso vendo as horas no celular. Tinha desligado o despertador sem perceber e agora estava muito atrasado para fazer o que eu precisava.
Tomei o banho mais rápido que consegui e segui para o píer, o único lugar onde eu provavelmente encontraria algodão doce em um domingo de manhã. Comprei um azul e um amarelo e dirigi para o hotel em que estava hospedada, torcendo para que não fosse tarde demais.
Estacionei na calçada em frente exatamente no momento em que ela saia pela entrada do hotel. Acenei e ela me olhou, surpresa. Fiz um sinal para que ela atravessasse a rua.
- ?! O que você está fazendo aqui? – perguntou, parando em frente a mim na calçada.
- Vim trazer seu algodão doce, afinal eu perdi a corrida ontem. - puxei as duas embalagens pela janela aberta do passageiro. - Aqui estão.
- Não precisava, seu bobo! Eu só estava brincando. - ela balançou a cabeça.
- Não estava não, me lembro bem como você amava comer isso e eu nunca entendi como você gostava desse açúcar puro.
- Obrigada. - pegou os dois e tive a sensação de que ela estava um pouco sem graça, o que era extremamente raro para ela.
- . - a chamei, atraindo a sua atenção. - Na verdade não era só isso. - confessei, puxando mais ar do que o normal. - Eu demorei a dormir ontem, eu via você toda vez que fechava meus olhos e eu vim aqui hoje porque não podia deixar você ir embora novamente sem falar tudo o que deveria ter falado da primeira vez que você foi embora.
- E o que você deveria ter falado? - ela perguntou, dando um passo para mais perto de mim.
- Eu gosto de você, . Mais do que gostaria de admitir. - desviei brevemente o olhar para o chão, voltando a olhá-la em seguida. - Passamos menos de um dia juntos e foi como se tivéssemos voltado no tempo. Eu amo estar com você e amo a pessoa que eu sou quando estou com você. Sei que estamos em cidades diferentes agora, mas não podia te deixar ir sem saber se existe uma chance de tentarmos ficar juntos. Porque eu faria qualquer coisa, se você sentir o mesmo que eu.
- Que diria que por trás da aparência de bad boy, é um romântico! - ela brincou, mas eu estava ansioso demais por uma resposta para reagir. - Não era algo tão intenso assim, mas era bem parecido com o que eu gostaria de ter ouvido há dez anos. - soltei todo o ar que estava prendendo e ela passou os braços por meu pescoço, me beijando em seguida.
- Você precisa mesmo ir embora agora? - perguntei quando rompemos o beijo.
- Acho que posso adiar a volta. - me deu um selinho. - O que tem em mente?
Abri a porta do passageiro para ela entrar e coloquei a bagagem dela no porta-malas.
- Você vai saber quando chegarmos lá. - disse dando partida no carro e seguindo para o parque em que íamos quando faltávamos aula.
- Realmente era a minha vontade, você sabe o que penso sobre palestras no curso de pós-graduação. – respondi, soltando minha mochila próximo aos meus pés.
- Todos da turma sabem, . Você não foi exatamente discreto quando acusou o professor Hawlks de trazer palestras porque ele tinha preguiça de preparar as aulas. - dei de ombros, aquela ainda era a minha opinião.
- Espero que a de hoje valha a pena, afinal recusamos tocar no bar com os caras para estar aqui.
- Se a gente quer ter algum diferencial enquanto músicos em plena Califórnia, nós precisamos nos especializar. Não seja tão rabugento com essa pós, cara.
- Espero que não seja outro velho compositor, eu juro que não aguentaria ouvir cinco horas daquele palestrante. - me lembrava como o dia tinha sido longo com o tal compositor divagando diversas vezes.
- Não é, é uma mulher. eu acho. - Jeff folheou o próprio caderno procurando onde havia anotado o nome. - Isso mesmo, . - bateu duas vezes com a caneta no nome.
- Você tem certeza? - perguntei com a imagem nítida da minha melhor amiga da época de colégio em mente.
- Então, com vocês, . - o coordenador do curso anunciou e Jeff me olhou daquela forma convencida de quando ele tinha razão em algo.
Não me importei muito, precisei ver a palestrante entrando no palco para ter certeza de que era a mesma que eu havia conhecido. Assim que seu rosto apareceu no telão eu não tive dúvidas. Depois de dez anos, estávamos novamente no mesmo lugar e parte de mim não conseguia acreditar, tendo desejado essa oportunidade tantas vezes antes no passado.
- Mas ela não fez música, por que nossa palestra é com ela? - falei baixo para Jeff, para não atrapalhar ninguém.
- Ela trabalha com trilha sonora, que é o tema de hoje. - explicou e me olhou com espanto. - Você sabe quem ela é? Como sabe que ela não fez música?
- Nós estudamos juntos no ensino médio. – contei, voltando a prestar atenção no que ela falava.
- As trilhas sonoras tem mais importância do que geralmente atribuem a elas, mas são elas que criam todo o clima do que queremos que o espectador sinta. Quando vocês escutam os acordes de Tubarão, são poucas notas, é simples, mas deixa o público atento. - alguns alunos cochicharam e ela sorriu.
O mesmo sorriso que melhorava todos os meus dias antigamente. O sorriso que me contagiava mesmo que eu estivesse num péssimo dia e também o sorriso que ela mostrava quando sabia que estava no controle de algo.
- Quantos de vocês tem uma playlist para atividade física? - a maior parte dos alunos levantou a mão. - E playlist para viajar? Para tomar banho? A música faz parte de nossas vidas da mesma forma, vocês são músicos e sabem disso melhor do que eu. E com os personagens não é diferente. Eles também precisam da música. - levou a mão para o pingente do colar que ela sempre usava e passou de um lado para o outro do pescoço e uma lembrança logo ocupou minha mente.
- e , de novo na minha sala e de novo para cumprir detenção. - o professor Sloan falou com tédio. - Sentem-se.
sentou-se, encostando na parede e eu sentei na cadeira ao lado da dela. O professor entregou duas folhas em branco para cada um de nós e ela começou a fazer um origami na frente dele.
- Eu sou uma piada para você, senhorita ? - levantou os olhos do papel em suas mãos para o professor. - Não é porque seu pai faz doações generosas a essa escola que você vai ter imunidade sempre. - ela levou a mão ao pingente do colar, movendo de um lado para o outro, a expressão de tédio esperando-o finalizar o discurso de sempre.
- Nós dois sabemos que isso não é verdade. - sorriu sem mostrar os dentes e eu segurei um riso, o que deixou Sloan ainda mais aborrecido.
- Uma redação sobre porque não devemos quebrar as regras do colégio. Vocês têm três horas para fazer. - bateu à porta atrás de si quando saiu.
- Você não vai mesmo escrever isso, vai? - jogou o passarinho que ela tinha terminado de fazer em minha direção, enquanto eu pegava uma caneta na mochila.
- Diferente de você, meu pai não faz doações generosas a escola.
- Você sabe que nunca vai se meter em problemas se eu estiver junto. - sentou-se na minha mesa, em cima das folhas. - Porque eu sempre vou assumir a culpa e seguiremos ilesos. - neguei com a cabeça. - Até porque, nossas notas continuam aceitáveis. - ela deu de ombros.
- Você é uma má influência, .
- Como se você se importasse com isso. - voltou até a mochila e pegou o próprio caderno, pegou a caneta das minhas mãos e riscou mais um item na folha. - Mais uma regra quebrada. Escapamos da aula de educação física pela terceira semana seguida. - estendeu a mão para um hi-five e eu retribui.
- Você realmente quer quebrar todas as regras da escola? – ri, pegando o caderno das mãos dela e vendo os itens ainda por riscar.
- Acionar o alarme de incêndio? – perguntei, incrédulo.
- Esse precisa ser para um dia grandioso, ou extremamente monótono, ainda não decidi.
- E qual o próximo? – perguntei, achando todos arriscados demais.
- Ignorar uma detenção. Não vamos fazer essa redação idiota. – disse, pegando os papéis que o professor tinha nos entregado.
- Isso vai nos gerar mais uma detenção. - falei o óbvio.
- Ela viria de qualquer forma. - amassou os papéis em diversas bolinhas. - Vamos lá, quem acerta a lixeira primeiro. - colocou as bolinhas em cima da minha mesa e fez o primeiro arremesso, acertando em cheio.
- Ótimo. - eu adorava basquete, acertei a primeira bolinha sem esforço.
- Dois. - ela comemorou e eu a imitei, colocando a segunda bolinha na lixeira. - Esqueci que não tem a menor graça jogar com você.
- Eu não entendo porque você falta às aulas de educação física, se você é ótima.
- Não gosto de ficar suada, não gosto das patricinhas, pode escolher. - deu de ombros e foi até o lixo, afastando-o de nós e trazendo as bolinhas de volta.
Joguei a primeira, acertando novamente.
- , o que você faria se largasse a escola agora para nunca mais voltar? - a encarei.
- Apostaria minha poupança em Vegas. - arregalei meus olhos, ela nem precisou de tempo para pensar. - E você, ? O que faria?
- Não sei.
- Eu acho que sabe. - me deu as costas buscando as bolinhas mais uma vez. - Só não tem coragem de admitir para si mesmo.
- E o que seria, sabichona? - joguei sem olhar e acertei mais uma vez o cesto.
- Pegaria seu violão e sairia pelo mundo. - sorri sem mostrar os dentes, ela me conhecia bem demais.
- Talvez não… - tentei desafiá-la, mas ela riu, mostrando que não a convenci.
Depois dessa, outras lembranças surgiram e nem percebi que já tinham liberado para um curto intervalo de vinte minutos. Foi só quando Jeff estalou os dedos na frente do meu rosto que notei o pessoal saindo do auditório. Peguei minha carteira e celular e o segui até a cafeteria.
- Eu acho que nunca te vi tão concentrado em alguma coisa dessa pós-graduação antes. - Jeff me provocou assim que pegou o expresso no balcão.
- É porque nunca aconteceu mesmo. - confessei. - Mas não espere muito de mim, a maior parte do tempo estava me lembrando de quando estudamos juntos. - Jeff me olhou, desconfiado.
- Vocês eram só amigos ou rolou algo além disso? - deu um gole na bebida.
- Amigos, mas ela sempre teve algo que me puxava para perto dela. - contei.
- Pelo visto ainda tem e ainda te puxa. - ele constatou ao me ver olhando-a novamente. - Por que não vai lá falar com ela?
- Falar o quê? Eu nem sei se ela se lembra de mim. - desconversei, voltando aos nossos lugares.
- Se vocês eram tão amigos assim, ela obviamente não esqueceu de você.
- É, mas não quer dizer que ela queira me ver. Até porque eu demorei tanto a tomar uma decisão que quando cheguei na casa dela, eles já tinham partido. - resumi.
- Vai me explicar alguma coisa ou é para eu deduzir? - foi direto.
- A família dela precisou se mudar e foi tudo muito rápido, coisa de uma semana. Eu surtei, não tinha tempo nem de me preparar depois de passar dois anos convivendo somente com ela praticamente e ao invés de aproveitar o tempo com ela, eu me afastei.
- Bem a sua cara. – comentou, me interrompendo.
- Quando eu finalmente entendi que estava chateado porque além da minha amiga eu ia perder a garota por quem eu estava apaixonado foi tarde demais. Eles decidiram partir antes e quando eu cheguei na casa dela, já estava vazia. - completei com uma expressão de desgosto.
- E você não mandou uma mensagem, nem nada? Deixou-a ir embora achando que você estava a ignorando?
- Claro que não! Mas as conversas ainda eram por sms, lembra?
- Caramba, nem lembrava que não existia whatsapp.
- Pois é, aos poucos nosso contato foi diminuindo, éramos amigos no orkut, mas cada um seguiu um rumo. - finalizei bem a tempo de a palestra continuar.
- Ainda acho que deveria ir falar com ela. Dá para perceber que tem bastante coisa aí que você queria ter falado e não teve a chance. - falou baixo, evitando atrair curiosos.
- E que bem faria dez anos depois? - ele deu de ombros.
retomou sua fala e em questão de poucos minutos eu já estava viajando pelas minhas memórias. Eu tinha sido bem sucinto em contar ao Jeff, mas na verdade eu tinha ficado sem rumo e me sentia um lixo pelo que havia feito, pela forma como as coisas tinham ficado entre nós. Se eu já era quase excluído por só andar com ela, sozinho eu era praticamente invisível.
Tive que voltar a andar na linha, pois sem a influência qualquer advertência ou detenção faria meus pais surtarem. Além disso, a ideia de ser músico estava se afastando, já que era praticamente a única que me apoiava enquanto meus pais queriam que eu cursasse direito e entrasse para a firma da família.
E para completar, eu revivia a última semana com ela constantemente, pensando em como eu deveria ter agido diferente e principalmente nas coisas que eu deveria ter dito e nunca disse.
Durante o resto da tarde a ideia de ir falar com ela passava a me agradar mais e mais. Jeff tinha razão, ela se lembraria de mim e provavelmente não guardava rancor, ela não costumava guardar rancor de ninguém. Passou a encarar aquele dia como uma segunda oportunidade da vida, afinal havia dito que não tinha voltado à cidade desde que se mudara, e não falar com ela o faria repetir a atitude do passado.
Quando encerrou sua fala foi aplaudida pela turma e eu, mais que depressa, guardei minhas coisas na mochila, pronto para me levantar. Diferente do que eu tinha imaginado, um grupinho foi se formando na beirada do palco para falar com ela e voltei a relaxar meu corpo no assento. Recusei o convite de Jeff para encontrar o resto da banda e o sorriso convencido já estava no rosto dele, apenas esperando que eu confirmasse que tinha decidido ouvir a ideia dele e falaria com ela.
Demorou cerca de quinze minutos para que o local se esvaziasse e nesse tempo cogitei ir embora mais de uma vez. Podiam ter se passado dez anos, mas eu ainda me comportava como um adolescente inseguro e sabia disso. Era bizarro pensar que era a única mulher até hoje que me fazia sentir dessa forma, mas talvez esse fosse mais um motivo para que eu falasse com ela.
Desci os degraus lentamente, pois ainda tinha duas pessoas conversando com ela. Esperei um pouco mais atrás, não queria atrapalhar a conversa, mas ela me olhou e o sorriso discreto em seu rosto deixava claro que ela sabia quem eu era e era ridículo a forma como meus batimentos cardíacos tinham acelerado.
- Foi um prazer, até mais, meninas. - acenou um tchau. - Ora, ora, cursou música no final das contas. - pulou do palco para onde eu estava e eu sorri.
- É. Alguém me disse uma vez que eu me arrependeria o resto da vida se não seguisse meus sonhos. - repeti o que ela havia me dito várias vezes e ela sorriu, me abraçando em seguida.
- Uma pessoa muito inteligente. - falou próximo ao meu ouvido e mesmo sem segundas intenções eu me arrepiei.
- Ela sempre foi. - pisquei com um olho só.
- Eu nunca imaginei te ver aqui, . - ela se sentou na primeira fila e a acompanhei. - Eu podia jurar que você teria saído dessa cidade ou então seria mais um advogado engravatado.
- Aqui estamos. E pelo visto alguém não foi para Las Vegas.
- Até fui, mas como apostadora eu sou uma ótima criadora de trilha sonoras. - ri de como o humor dela permanecia igual.
- E como isso aconteceu?
- Longa história, para falar a verdade. Envolveu desagradar meu pai, mais uma vez. - neguei com a cabeça.
- Tenho tempo, se você não tiver compromisso, podemos ir ao Donney’s e você me conta.
- Está me chamando para sair, ?
- Talvez esteja. - cocei a nuca um pouco sem graça.
- Os hambúrgueres de lá ainda são bons? - cruzou os braços e me olhou como se desafiasse a dizer a verdade.
- Os melhores e os milkshakes então… - falei em tom sonhador e ela me empurrou de leve.
- Já tinha me convencido ao mencionar o Donney’s, não precisava me passar vontade.
- Você quer carona? - ofereci e ela negou.
- Estou de carro, vou pegar minhas coisas e nos encontramos lá, pode ser? - assenti e quando ela sumiu pela lateral do palco eu segui para o estacionamento.
- Talvez minha companhia tenha ajudado, sabe como é.
- Oh, é claro! Como sobrevivi todos esses anos sem você na minha vida? - levou a mão à testa, num gesto dramático exagerado.
- Eu sempre pensei que você podia me odiar. - soltei sem pensar muito.
- Por quê? - ela parou de andar e me encarou.
- Por não ter me despedido de você e ter sido um completo babaca naquela semana. – falei, olhando para frente, com as mãos nos bolsos.
- Eu não estava muito diferente, não queria mudar e meu pai me obrigou. – sorriu, vendo o píer mais à frente. - Mas nós conversamos depois, se eu tivesse te odiado você saberia. Teria feito um boneco voodoo e te mandaria pelos correios.
- A mesma pessoa amorosa de sempre. - provoquei.
- Poucas coisas realmente mudaram, . - seu olhar era sincero e eu não sabia se havia mais ali do que as simples palavras. - Por exemplo, aposto que ainda corro mais rápido que você.
- Eu duvido. Não sei se você reparou, mas eu tenho malhado há alguns anos. - puxei a mão dela, colocando no meu abdômen levemente definido.
- Realmente. - ela desceu as mãos. - Seria uma pena se a gente precisasse das pernas para correr ao invés de um tanquinho, não é mesmo.
- Palhaça. - a empurrei da mesma forma que ela tinha feito antes.
- Quem chegar por último paga o algodão doce. - disse de frente para mim, ficando de costas em seguida e começando a correr.
Comecei a correr também, mesmo odiando fazer isso de estômago cheio, mas tinha a vantagem de ter pernas maiores e em pouco tempo tinha a alcançado, ela se esforçou para continuar na frente e eu fingi uma cãibra, deixando-a ganhar. Voltei a correr, alcançando-a novamente e passando os braços pela cintura dela, a tirei do chão.
- , me coloca no chão. - ela disse em meio aos risos.
Naquele momento eu percebi que eu faria qualquer coisa para ter mais momentos assim. em meus braços e rindo. Desde perder uma corrida a comprar o algodão doce que ela tanto gostava. Em se tratando de eu faria qualquer coisa, poderia passar o tempo que fosse, eu sempre me sentiria assim.
A coloquei de volta no chão e caminhamos um pouco mais devagar pelo píer, normalizando as nossas respirações. A lua iluminava o mar e aquela era uma das melhores vistas da cidade. Chegamos ao final dele e apoiou as costas na grade, ficando de frente para mim. Novamente sentia meu coração acelerado, pela simples forma como ela me encarava.
- Você sentiu minha falta? - soltou, me pegando de surpresa, até porque eu achava que tinha deixado claro.
- Sim. - respondi no mesmo tom que ela.
- Então por que você não faz o que quer? - agora eu sentia meu coração bater nos ouvidos, um adulto agindo como um adolescente. - Estou bem aqui. Esperando. - sua voz foi como um sopro e me aproximei lentamente.
Meus olhos ainda estavam presos aos dela, mas pela visão periférica notei um sorriso discreto de canto, que me fez sorrir.
- Você continua sendo a garota mais linda dessa cidade.
- Caramba, , eu já estou aqui. Você não precisa ficar me elogiando. - seu tom era de contrariedade, mas eu sabia que era mentira.
Ainda assim a calei, juntando meus lábios aos dela. Suas mãos vieram rapidamente para minha nuca, arranhando de leve. Levei as minhas mãos à cintura dela, diminuindo ainda mais a distância entre nós. Era o nosso primeiro beijo e ainda assim nossa sincronia era tão perfeita que parecíamos fazer isso há anos.
Perdi a noção de quanto tempo ficamos ali, matando a saudade de uma forma diferente, tirando o atraso de todos os beijos que não demos antes.
A cada instante que passava acordado, mais refletia sobre o tempo que havia passado e que mesmo assim nada mudara entre nós. Nada me faria esquecer , nem como eu me sentia quando estava com ela. E somente depois de tomar uma decisão foi que consegui dormir.
Acordei com a claridade que entrava pela janela, estava claro demais para ser cedo e confirmei isso vendo as horas no celular. Tinha desligado o despertador sem perceber e agora estava muito atrasado para fazer o que eu precisava.
Tomei o banho mais rápido que consegui e segui para o píer, o único lugar onde eu provavelmente encontraria algodão doce em um domingo de manhã. Comprei um azul e um amarelo e dirigi para o hotel em que estava hospedada, torcendo para que não fosse tarde demais.
Estacionei na calçada em frente exatamente no momento em que ela saia pela entrada do hotel. Acenei e ela me olhou, surpresa. Fiz um sinal para que ela atravessasse a rua.
- ?! O que você está fazendo aqui? – perguntou, parando em frente a mim na calçada.
- Vim trazer seu algodão doce, afinal eu perdi a corrida ontem. - puxei as duas embalagens pela janela aberta do passageiro. - Aqui estão.
- Não precisava, seu bobo! Eu só estava brincando. - ela balançou a cabeça.
- Não estava não, me lembro bem como você amava comer isso e eu nunca entendi como você gostava desse açúcar puro.
- Obrigada. - pegou os dois e tive a sensação de que ela estava um pouco sem graça, o que era extremamente raro para ela.
- . - a chamei, atraindo a sua atenção. - Na verdade não era só isso. - confessei, puxando mais ar do que o normal. - Eu demorei a dormir ontem, eu via você toda vez que fechava meus olhos e eu vim aqui hoje porque não podia deixar você ir embora novamente sem falar tudo o que deveria ter falado da primeira vez que você foi embora.
- E o que você deveria ter falado? - ela perguntou, dando um passo para mais perto de mim.
- Eu gosto de você, . Mais do que gostaria de admitir. - desviei brevemente o olhar para o chão, voltando a olhá-la em seguida. - Passamos menos de um dia juntos e foi como se tivéssemos voltado no tempo. Eu amo estar com você e amo a pessoa que eu sou quando estou com você. Sei que estamos em cidades diferentes agora, mas não podia te deixar ir sem saber se existe uma chance de tentarmos ficar juntos. Porque eu faria qualquer coisa, se você sentir o mesmo que eu.
- Que diria que por trás da aparência de bad boy, é um romântico! - ela brincou, mas eu estava ansioso demais por uma resposta para reagir. - Não era algo tão intenso assim, mas era bem parecido com o que eu gostaria de ter ouvido há dez anos. - soltei todo o ar que estava prendendo e ela passou os braços por meu pescoço, me beijando em seguida.
- Você precisa mesmo ir embora agora? - perguntei quando rompemos o beijo.
- Acho que posso adiar a volta. - me deu um selinho. - O que tem em mente?
Abri a porta do passageiro para ela entrar e coloquei a bagagem dela no porta-malas.
- Você vai saber quando chegarmos lá. - disse dando partida no carro e seguindo para o parque em que íamos quando faltávamos aula.
Fim!
Nota da autora: Oi, oi! Como estão?
Espero que tenham gostado dessa história levinha baseada na minha música preferida de uma das minhas bandas preferidas!
Precisei de mais de uma versão para que a leitura ficasse como eu gostaria, então me contem o que acharam!
Beijos e até mais!
Para conhecer outras histórias:
Nota da beta:
Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
Espero que tenham gostado dessa história levinha baseada na minha música preferida de uma das minhas bandas preferidas!
Precisei de mais de uma versão para que a leitura ficasse como eu gostaria, então me contem o que acharam!
Beijos e até mais!
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