Última atualização: 17/04/2020

Capítulo Único

sempre foi um rapaz calado, no canto dele. Nunca foi a nenhuma festa que os colegas de escola organizavam, nunca foi a nenhuma festa que a escola organizava, nunca era visto fora da escola. Algumas pessoas costumavam dizer que ele era um rapaz estranho. Outros diziam que ele era autista. , na verdade, era considerado uma pessoa antissocial. Simplesmente não era de conversar, muito menos ter amigos. E foi assim que ele chegou ao último ano do Ensino Médio, de cabeça baixa, calado e apenas estudando.
Era o primeiro dia de aula do último semestre. estava sentado em sua mesa quando começou a ouvir as provocações de com um menino da mesma turma que eles, mas que havia sido transferido para a escola para poder ter um ensino melhor e, dessa forma, entrar na faculdade. O garoto que estava sendo provocado era o típico nerd.
abaixou a cabeça, massageou as têmporas, contou até o número dez e respirou fundo. Olhou novamente em seu relógio de pulso e levantou o olhar em direção à porta. Não havia nem sinal do professor entrar em sala. Ele continuou ouvindo as provocações e mais um pouco, até que um barulho de água escorrendo chamou-lhe a atenção e o rapaz antissocial virou o rosto, encontrando o que estava sofrendo as provocações todo molhado e um dando risada, irônico.
As ações foram mais rápidas que seu pensamento. levantou de sua mesa, caminhou até o fundo da sala e cruzou os braços, observando que, dessa vez, ria para ele.
– Para, por favor. Não vê que está assustando ele? – Falou, sem expressar nenhum sentimento em seu tom de voz.
– E quem é você, antissocial? O defensor dos fracos e oprimidos? – deu mais uma risada, dessa vez, sarcástica. – Volta pro seu lugar, , ninguém te chamou aqui.
, então, olhou para o garoto que estava provocando anteriormente e lhe deu alguns pontapés.
– Você agora tem um defensor? É isso? As coisas vão ficar muito mais feias para você.
– Eu não fiz nada... – O garoto choramingava no chão e levantava o olhar para . – Volta para o seu lugar, por favor... Eu sei me cuidar.
– Não é o que parece. – respondeu, mais uma vez, sem nenhuma expressão em sua fala, e virou para . – Eu sei que você acha que as coisas são muito simples pra você porque seu pai é rico. – suspirou, prevendo o que aconteceria a seguir. – É a última vez que eu te peço, eu não quero ter que te bater.
– Você o quê? – riu daquilo que ouviu e virou aos seus amigos, que não faziam o mesmo mas apoiavam o que ele fazia com o rapaz que estava no chão. – Ele falou que vai me bater.
e seus amigos caíram na gargalhada. Aquilo foi o suficiente para o sangue de ferver, ele fechar o punho e acertar exatamente no meio da bochecha esquerda de que, sem esperar por aquilo, caiu no chão.
! – Uma voz diferente gritou o nome do garoto e, quando ele se virou, o professor estava na frente da sala. – Diretoria, agora.
– É o quê? – Pela primeira vez, ele riu, irônico. – O senhor viu o que o estava fazendo com o garoto? – O professor se manteve calado. – Meu Deus, é inacreditável.
– Meu Deus, . – se levantava do chão, com a mão no rosto e um olhar irônico. – Eu nunca fiz nada para você, não entendi você simplesmente se levantar e bater em mim. Professor... Isso foi claramente um comportamento de um sociopata. precisa mesmo ir à diretoria.
– Você também, . Saiam os dois da minha sala, agora!

O pai de estava em pé ao seu lado na sala da direção da escola enquanto o rapaz estava de cabeça baixa, envergonhado por fazer o mais velho passar por aquela situação. Em sua frente, sentado em uma poltrona de couro extremamente confortável, o pai de observava e seu pai, enquanto o próprio se mantinha de pé, ao seu lado. Observando os quatro, o diretor da escola procurava uma forma de conduzir aquela conversa.
– Senhor Johnson, sei que o senhor é um homem muito ocupado e pedimos desculpas por tê-lo tirado do seu trabalho para resolvermos uma situação tão... Inconveniente e infantil. – O diretor disse as palavras para o pai de .
– Sem problemas, diretor. – O homem virou para ele, que parecia estar prestes a beijar os pés do empresário. – Sabemos que meu filho não é um garoto muito fácil e, para se meter em briga com o filho do Senhor York... Bom... O que aconteceu?
estava prestes a abrir a boca, contar o que aconteceu, falar que era um riquinho mimado e estava fazendo bullying com um garoto que nada o fez. Estava o provocando e, principalmente, causando problemas psicológicos. Mas o diretor foi mais rápido.
– Senhor Johnson, o seu filho, ... – estava ficando satisfeito com o caminho que aquilo estava seguindo. – Ele simplesmente apanhou do . estava quieto, fazendo uma brincadeira boba com um colega de classe, quando se levantou e, de punho fechado, encontrou com a bochecha do seu filho.
O senhor York arregalou os olhos ao ouvir aquilo e se virou para , que tinha uma risada nasalada incrédula.
– Isso só pode ser brincadeira. – sussurrou para si mesmo. – estava praticando bullying e dando pontapés no garoto. Eu pedi para ele parar, ele se recusou e continuou provocando o rapaz, que mal conseguia se levantar. Eu bati, sim, e iria bater de novo se essa fosse a única forma de fazê-lo parar.
! – O seu pai o repreendeu, preocupado com o que o pai de iria pensar com aquelas palavras. – Senhor Johnson, eu peço desculpa pelo . Ele não sabe o que fez, foi uma atitude sem pensar, tenho certeza de que ele sente muito.
– Não sinto. – foi forte em suas palavras. – Já falei que eu faria de novo, se necessário.
, ... – O Senhor Johnson levantou da cadeira, indo em direção ao rapaz. – Eu conheço seu pai há muitos anos. O senhor York é um excelente funcionário e sei que ele não criou assim o próprio filho. Não seja uma vergonha para ele. Acredito que nós podemos arranjar uma forma de resolvermos essa questão, não podemos?
O pai de olhou para o diretor, que balançou a cabeça fervorosamente, concordando com ele. Claramente, o diretor estava ali como um bajulador, permitindo que o maior empresário da cidade conduzisse a reunião e tomasse a decisão por ele mesmo.
– Qual seria a punição para o jovem nessa questão da violência? – O homem perguntou para o diretor.
– No caso, pelo fato dele ter agredido um colega de classe sem mais nem menos, o correto, pelas normas da escola, é expulsá-lo.
– Expulsão... – O senhor Johnson rondou em volta de e seu pai. – Mas não queremos isso, não é mesmo, senhor York? – O pai de rapidamente concordou com a cabeça. – é um jovem de futuro brilhante que apenas teve um lapso momentâneo e está no último ano da escola. Um rapaz como ele não merece ser expulso e não poder prestar vestibular. Um pedido de desculpas talvez funcione, não? Peça desculpas ao , rapaz, e a gente esquece esse mal entendido.
De repente, o silêncio se instaurou na sala. – que, até então, não tinha atenção presa na sala – continuava em silêncio, mas com os olhos fixos em . Este, também silencioso, mordia o interior das suas bochechas, incrédulo sobre o que estava acontecendo. Os três homens mais velhos naquela sala tinham o olhar fixo em , que não parecia estar interessado em falar algo.
A falta de barulho durou por apenas uns dois minutos, quando resolveu se pronunciar.
– Não vou pedir desculpas. Meu pai sempre me ensinou a ser uma pessoa honrada e, apesar da agressão física, a fiz para defender uma pessoa que não tinha como se defender. Então não, não vou pedir desculpas, pois não me arrependo.
... – O homem ao seu lado sussurrou.
– Pai. – Ele se virou para o homem. – O senhor sempre me mostrou em atitudes como agir, principalmente criando um acordo entre o coração e a razão. Eu sei que o senhor acredita em mim, e sabe que eu não fiz isso. Agredi sim, mas não do nada.
– Pensa direito, . Não queremos você não indo para a faculdade, não é mesmo? – O senhor Johnson utilizava de ironias para cima do rapaz.
– Eu não vou passar por cima dos meus princípios. Vocês sabem que a história não é essa, e o dinheiro e poder está falando mais alto aqui.

e seu pai estavam a pé enquanto observavam, distante, e seu pai saindo, cada um em um carro de luxo. O mais velho, com motorista particular. Já , no carro que ele adorava ostentar que ganhou do pai, e era um dos poucos no país que tinham um modelo como aquele.
– Eu não queria te decepcionar. – falou ao pai enquanto os dois saíam da escola.
– Você não me decepcionou. – O pai do garoto falou a ele. – Fiquei feliz que você honrou seus princípios. Está certo que agora você não vai ter como terminar os estudos. Aposto que vai ser difícil alguma escola te aceitar com esse histórico, mas... – O homem virou para o filho com um sorriso no rosto. – O que você acha da gente ver isso como uma oportunidade de começar do zero? Eu tenho um dinheiro guardado, sempre foi meu sonho abrir um bar. Podemos ter nosso próprio negócio, .
olhava para o homem à sua frente e estava feliz pelo pai que tinha. Não precisavam de dinheiro para serem felizes. Confiavam um na palavra do outro, estavam sempre em sincronia, e era isso o que importa.
– Acho que está na hora de você realizar o seu próprio sonho!

e seu pai estavam animados. Escolheram um imóvel e alugaram, mesmo com as pessoas não colocando muita confiança neles. Compraram móveis, definiram cardápio, distribuíram flyers pelos arredores, anunciando a inauguração. Estavam felizes.
O garoto estava sozinho no bar, organizando algumas pendências, quando seu telefone tocou.
, já estou chegando no bar. Passei para falar com alguns fornecedores.
– Ótimo! Um rapaz está aqui para fazer entrevista para a cozinha. Gostaria do senhor aqui para definirmos se ele será contratado ou se faremos outras entrevistas.
– Pode ir conduzindo sozinho, fala com ele que eu estou a...
Um barulho alto e estranho tomou conta do telefone, transformado em ruído. tirou momentaneamente o aparelho da orelha e voltou lentamente. A ligação não tinha caído, mas ele não ouvia mais nada.

Não muito longe dali, um carro de luxo estava parado no meio da rua com o farol aceso e motor ligado. A rua não era movimentada e, naquele momento do dia, estava mais parada que o normal. O motorista estava com as mãos firmes no volante e respiração descompassada. Tremendo, ele abriu a porta do veículo e saiu do carro, caminhando à frente do automóvel que antes dirigia.
Um homem estava caído no chão, o rosto ensanguentado. O motorista virou para o carro. A parte da frente estava amassada e o vidro, com um belo trinco. O motorista continuava tremendo. Aquilo não podia estar acontecendo. Ele deu dois passos para trás e se virou, entrando novamente no carro. Deu a ré e contornou aquele corpo caído no asfalto. Tinha que fugir dali o mais rápido possível.

A sala do velório estava vazia. Algumas coroas de flores, mas ali não tinha mais ninguém além de um chorando sozinho no canto da sala e o corpo de seu pai, no caixão à sua frente. Se, antes desse atropelamento acontecer, ele já se sentia sozinho, agora o rapaz, recém-entrado na vida adulta, não tinha mais ninguém a quem recorrer na vida.
Era apenas ele contra o resto do mundo.
ouviu uma batida na porta da sala e levantou a cabeça. Dois homens entraram e se aproximaram do jovem, que ainda tinha algumas lágrimas escorrendo pelo rosto.
– Olá, , somos os detetives responsáveis pela investigação da morte do seu pai. Sentimos muito pelo ocorrido. – O mais velho falou, vendo a situação no olhar do garoto. – Sei que não é o momento mais oportuno, mas gostaria de lhe entregar alguns papéis iniciais da nossa investigação.
Ele estendeu a pasta para que, sem vontade alguma, recebeu e abriu apenas como cortesia, para não demonstrar má vontade. Tudo o que ele menos queria naquele momento era ter que resolver questões burocráticas, questões que iriam fazê-lo lembrar de seu pai a todo momento.
– Conseguimos imagens de câmeras de segurança e monitoramento da vizinhança, conseguimos identificar o modelo do automóvel que atropelou seu pai. Através de um cruzamento de informações, conseguimos chegar no proprietário, e o responsável por isso já foi preso.
então virou alguns papéis que estavam dentro da pasta até chegar em uma impressão onde ele conseguia ver, em baixa qualidade, um automóvel. Era um carro de luxo... Ele soltou uma risada irônica. Claro que seria coisa de algum rico e mimado da cidade. Poucas pessoas no país eram proprietários de um modelo como aquele.
Poucas pessoas no país eram proprietárias de um carro como aquele...
levantou a cabeça e cravou os olhos nos dois detetives à sua frente. O olhar do rapaz não era mais um olhar triste e solitário. Mesmo em luto pela morte da única pessoa que tinha em sua vida, tinha um olhar furioso e vingativo no seu rosto.
– Eu preciso ir encontrar uma pessoa... Agora!
Enquanto saía furioso pelas ruas da cidade, fazia algumas ligações. Ainda tinha alguns conhecidos na escola de onde foi expulso, e aquilo foi o suficiente para que ele chegasse em um hospital particular.
A pessoa que ele queria encontrar estava na parte externa, com o braço enfaixado, fumando um cigarro enquanto observava a noite. A respiração de estava cada vez mais pesada, mais rancorosa. Ele apertou o passo e, de punho fechado, repetiu o feito que havia realizado na escola algum tempo antes.
– Eu vou te matar! – Ele gritou para , que levou um soco no rosto e, sem estar esperando por aquilo, caiu no chão.
aproveitou o rival no chão e sem ter como se defender para ir até ele, colocando um joelho no peito, impedindo que ele se levantasse, e continuou distribuindo socos por todo o rosto do rapaz.
– Por que você não chamou a ambulância? – Ele vociferava enquanto distribuía socos.
tentava gritar, mas não tinha fôlego para aquilo.
– Por que você deixou meu pai caído no chão e morrendo sozinho? Filho da puta, por quê? Qual o seu problema? Assassino!
... – tentava falar, mas levando socos e com um joelho em seu peito, estava quase impossível. – ...
tossia entre as palavras e expelia sangue. Seu rosto estava bastante ensanguentado e ele não conseguia mais abrir o olho. respirava pesado, seu cérebro já não raciocinava mais seus atos, ele apenas agia por impulso e com vontade de se vingar e fazer o mesmo que fizeram com seu pai.
se levantou. Suas mãos estavam cheias de sangue. Ele estava se sentindo exausto, mas nem perto de se vingar. Observou em volta, no chão. Pegou uma pedra grande que estava solta do asfalto e ergueu acima de sua cabeça.
Urrando, ele estava prestes a jogar a pedra em quando um tiro o despertou e ele se virou, assustado. Atrás dele e com a arma apontada para si, os dois detetives que foram falar com ele no velório, parados.
– Larga a pedra, . Você não quer fazer isso.
– Ele matou o meu pai. – então começou a chorar. – Ele atropelou o meu pai e não chamou socorro.
– Outra pessoa fez isso! Anda, larga a pedra!
O detetive mais novo caminhou até , que soltou o ar preso em seus pulmões e deixou a pedra cair até o chão. O detetive, então, segurou os braços de e o algemou.
York, você está preso pela tentativa de assassinato de Jonhnson.

• • •


Sete anos se passaram desde o dia em que foi levado preso por sede de vingança. Desde a infância, ele sempre foi um bom rapaz, e os acontecimentos da vida o levaram a perder anos dentro daquele presídio. Anos mais velho, com a cabeça no lugar e tendo aprendido a lição da maneira mais difícil, ele retornou à sociedade com uma ideia em sua mente: realizar o sonho de seu pai e abrir o próprio bar.
Estando em posse do dinheiro do seguro de vida do pai, que estava congelado desde quando foi preso, saiu buscando pela cidade o melhor endereço para abrir seu estabelecimento. Tinha que ser um lugar badalado, com alta rotatividade de pessoas e, naquele momento, ele não estava se preocupando com valor de aluguel, apenas com o quão lucrativo a região poderia ser para ele.
Não foi um trabalho fácil e, com certeza, não era um lugar barato, mas ele encontrou um lugar charmoso para fazer, dali, seu endereço comercial. havia contratado algumas pessoas para ajudar na obra e ele mesmo realizava algum serviço braçal. Os anos na cadeia o ajudaram muito a moldar seu caráter, que já era bom, e a ver a vida e oportunidades com outros olhos.
Uma noite, então, antes de inaugurar, ele resolveu sair pela região para conhecer as particularidades de cada estabelecimento que seria seu concorrente. sabia que os consumidores do local eram exigentes e ele precisava de um diferencial para agradar sua nova clientela. Ele, então, chegou a um bar de esquina. O local estava bem cheio e, na parte externa, o letreiro luminoso chamava a atenção por ali. Ele olhou para cima. Johnson’s. Ele deu uma risada irônica e decidiu entrar. Afinal, concorrência era concorrência, e ele precisava analisar a sua.
Uma hostess o levou ao balcão vazio quando uma pessoa parou a sua frente. Sete anos se passaram. O físico mudou, mas o ar de arrogante se mantinha o mesmo.
– O que faz aqui, York? Não sabia que havia sido solto. Se eu soubesse que iriam libertá-lo, teria feito questão de ir pessoalmente recepcioná-lo na porta da cadeia. Afinal, somos colegas de escola, não é mesmo?
engoliu a seco aquelas palavras. Ele olhava em volta do local, analisando a forma que as mesas eram atendidas, como a hostess o atendia e, então, virou o olhar novamente.
– Ah, não, eu esqueci... – O rapaz ironizava enquanto ria. – Não tem como sermos colegas de escola, já que você foi expulso por ser orgulhoso. Poxa, , o que custava pedir desculpas? Iria poupá-lo de muitas coisas. Poderia ser formado e não ex-presidiário.
ouvia aquelas palavras e inspirava e expirava algumas vezes seguidas em uma vã tentativa de se acalmar. Ele fechou o punho e sentiu seus braços tremerem.
– Ah, não! – O rapaz o provocou mais uma vez. – Nós sabemos o que aconteceu na última vez que você fechou os punhos, não sabemos? – E então se aproximou do ouvido dele. – Você foi julgado e acabou atrás das grades.
– Eu só vim aqui dar um recado para você, Johnson... Eu vou derrubar você, esse bar, e todo o império que o seu pai conquistou. O Kroy fica há dois quarteirões daqui. Fique à vontade para visitar quando quiser. – Disse e virou-se para a hostess. – Não precisa mais me acompanhar, já fiz o que eu vim fazer aqui. – A mulher deu um sorriso amarelo para o cliente e para o proprietário e voltou para a recepção. – Você destruiu a minha vida, . Pode ter certeza de que eu vou destruir a sua.
– Não é bom um ex-presidiário fazer ameaças. Até onde eu sei, você ainda está na condicional.
– Exatamente. Eu não tenho mais nada a perder. – E se virou. – Lembre-se: Kroy, há dois quarteirões. Fique à vontade.

Ameaça realizada, precisava de uma equipe para o seu estabelecimento. Ele era muito bom na cozinha, mas não podia simplesmente ser o cozinheiro, o garçom e o caixa do local. Não fazia o menor sentido ele decidir que iria derrubar Johnson se não tivesse um efetivo para aquilo.
O rapaz pegou então seu celular e passou os olhos pela lista de contatos, em busca de um nome que pudesse ser uma referência ou o próprio funcionário. Tommy apareceu em sua tela e sorriu satisfeito. e Tommy se conheceram na prisão, quando Tommy, incomodado com o jeito calmo e antissocial de , foi tirar satisfação enquanto o proprietário do Kroy estava lendo. Tommy alegava que a vida deles estava acabada quando saíssem de lá, e acreditava que aquilo era só uma passagem para o que iria vir quando tudo terminasse. Tommy e acabaram virando muito amigos.
Tommy atuando como garçom do Kroy dava mais liberdade para que inventasse na cozinha e, apenas quando fosse necessário, saía da mesma para resolver alguns pepinos.
Mas mesmo com flyers divulgados por toda a região, o bar ficou às moscas após a inauguração. Uma pessoa ou outra passava na porta, olhava para dentro, mas acabava desistindo. Um bar sem pessoas dentro sempre tinha a impressão de ser um bar fracassado. O Kroy conseguia reunir apenas bêbados já no fim da noite que, expulsos dos locais onde eles estavam anteriormente bebendo, precisavam de um endereço para a rodada final.
– A gente precisa fazer algo pelo bar. – Tommy disse, já no fim da noite, após colocar o último bêbado para fora e abaixar as portas pantográficas. – Todos os bares estão lotados, com filas quilométricas para entrar, e só a gente sem ninguém. A geladeira está abastecida, a comida é de ótima qualidade, o preço é acessível. !
– Eu sei... – O proprietário do Kroy sentou em uma das mesas e coçou a cabeça. – Eu não tenho esse dom do marketing em mim, sabe?
– Cara... Se você não tem o dom, você precisa de alguém na sua equipe que tenha. – O colega de prisão falou. – Pensa bem nisso. Espero que amanhã seja uma noite melhor... Boa noite!
– Boa noite.

Diferente do que Tommy rogou, a noite seguinte se arrastava da mesma forma como todas as outras. Não tendo mesas para servir, ele arrumava alguns itens no armário e limpava os copos e taças. estava andando pelos arredores, tentando identificar o que seus concorrentes tinham e faziam e ele não até que, finalmente, uma voz feminina adentrou o bar.
– Olá, vocês estão abertos? A cozinha está aberta?
Ao ouvir a voz, Tommy lentamente levantou a cabeça e se virou para a porta. Não era apenas uma garota, como ela e mais três rapazes. Eles pareciam estar interessados em gastar certa quantia aquela noite e não estavam em questão de desperdiçar clientes.
– Claro, claro! – Ele largou o pano e correu pegar o cardápio enquanto os quatro adentravam o local e se reuniam em uma mesa. – Vocês se importam se eu checar a identidade de vocês?
A menina e seus amigos se entreolharam e suspiraram. Ela fez menção de pegar sua carteira, mas desistiu.
– Sabe como é... – Ela deu um sorriso encantador. – Nós não vamos demorar, apenas algo para comer e uma bebida. Não iremos dar trabalho, você nem vai perceber que estamos aqui.
Tommy observou a garota e suspirou. Estava em uma sinuca de bico. Se não aceitasse os quatro em seu estabelecimento, provavelmente iriam perder os quatro únicos clientes da noite, e podia desperdiçar. Ele, então, sorriu para a garota e balançou a cabeça em negação.
– Se vocês não contarem, eu não conto. – Falou.
– Feito! – A garota retribuiu o sorriso e abriu o cardápio. – Você pode me trazer uma cerveja e essa porção? – Ela disse, apontando para o menu, e Tommy ia anotando.
Ela fechou o cardápio e colocou na mesa.
– Os meninos vão decidir o que eles querem.
– Você se importa se a gente observar o cardápio primeiro e depois chamarmos? – Ele perguntou para Tommy que, satisfeito, se retirou.
Precisava urgentemente chamar de volta. Tinham clientes e precisavam da cozinha ativa.

andava pelas redondezas do Johnson’s. Já que estava desocupado naquela noite, talvez seria interessante ele dar uma passada no Kroy, ver como era o bar do seu rival e observar o movimento.
Ele caminhava por entre as pessoas na calçada até que chegou ao local. Pequeno, sem muito chamariz e sem nenhuma placa na porta, ele gargalhou. Então era com aquilo que jurava que iria derrubar a empresa dele e do pai?
Entrar naquele local seria como chutar cachorro morto. Não que a ideia não o agradasse, mas poderia falar ao seu pai que era para ele ficar despreocupado. Nunca York conseguiria derrubá-los.
Observando a fachada por mais um tempo, o herdeiro da família Johnson viu apenas uma mesa com pessoas lá dentro, e os quatro tomavam bebida alcoólica. Ele puxou em sua memória e soltou uma risada nasalada irônica... Aqueles eram os mesmos quatro adolescentes que ele viu sua hostess recusar a entrada no bar por serem menores de idade.
Entrar no Kroy seria como chutar cachorro morto, sim, mas havia sido ameaçado e ele iria fazer de tudo para manter aquele lugar como daquela forma: às moscas.
tirou o celular do bolso e digitou um número de emergência, colocando, logo em seguida, o aparelho na orelha.
– Alô? É da polícia? – Ele, então, sorriu satisfeito. – Eu gostaria de fazer uma denúncia...

, sentado no distrito policial, massageava as têmporas enquanto o homem à sua frente digitava algumas informações no computador. A polícia havia chegado ao Kroy e fechou o local como punição por eles aceitarem a entrada de menores de idade.
– Você pediu a identidade deles? – questionou Tommy, que estava na cadeira ao lado.
O colega de cela se manteve calado e de cabeça baixa.
– Você pediu, Tommy? – O proprietário perguntou novamente.
O homem respirou fundo e se virou a ele.
– O bar estava às moscas, não tinha ninguém. Nós não estávamos em posição de recusar consumidores no local. O Kroy iria à falência, .
– E agora nós vamos ficar fechados por três meses como punição, além de eu ter que pagar uma multa caríssima por isso.
– Três meses? – Tommy se assustou. – Eles podem fazer isso?
– Eles devem fazer isso. – respirou fundo e se virou para ele, dando um leve sorriso. – Eu agradeço a sua intenção, de verdade, de querer consumidores a todo o custo mas, quando reabrirmos, sem mais menores de idade, por favor.

Apesar de quase não ter movimento muito menos fluxo de caixa, aproveitou o tempo fechado para ajeitar as finanças do Kroy e também testar novas receitas para poder abrir com inovação no cardápio.
Em uma tarde que estava dentro do local, ouviu uma voz feminina na porta e esticou o pescoço da cozinha para fora.
– Desculpe, nós não estamos funcionando ainda. – Disse para a garota.
Ela, que tinha cabelos escuros, franja cobrindo sua testa e as pontas descoloridas, juntou os lábios em um sorriso sem graça e adentrou o Kroy mesmo sem ser convidada.
– Oi, eu sou a Gina. – Ela estendeu a mão para cumprimentar . – Eu vim aqui pedir desculpas. – E abaixou o olhar. – Eu quem persuadi o seu garçom para que ele aceitasse eu e meus amigos aqui dentro. Nunca imaginei que isso iria causar um imenso transtorno a você.
– Ah... – , então, ficou cético. – É você a garota então. – Ele suspirou. – Obrigada pelas desculpas, mas nós iremos ficar três meses fechados como punição. Se, quando reabrirmos, você puder não aparecer mais aqui e não me causar transtornos, eu agradeceria.
Gina mordeu o lábio inferior. Sabia que merecia estar ouvindo tudo aquilo. Não conhecia , não sabia da sua condição financeira, mas foi a responsável por prejudicar aquele estabelecimento e, talvez, aquele dinheiro estivesse fazendo falta.
– Eu não gosto de me gabar, – Ela começou, procurando as palavras corretas. – mas eu tenho certa influência na internet. – E levantou o celular, chacoalhando o mesmo. – Além disso, tenho conhecimento em marketing... Eu posso ajudar com o bar.
deu de ombros e deu as costas para Gina, voltando para a cozinha. A menina, insistente, correu atrás dele, disposta a ser ouvida. A culpa caiu sobre ela quando soube o que aconteceu com o bar após a presença dela.
– Com todo respeito, o seu bar é meio caído. – Ela falou, receosa, e tudo o que recebeu foi as costas de a ignorando. – Eu realmente estou arrependida do que fiz, por isso vim aqui. Eu faço 18 anos em poucas semanas. Por favor, me deixe ajudá-lo a reconstruir e reposicionar seu estabelecimento. Eu sei que fiz besteira mas, olhando em volta, parece que você precisa mais de mim do que eu de você.
não sabia se gritava com a menina e a mandava embora ou continuava a ignorando enquanto operava seu fogão. Ela estava certa. Aquele local realmente precisava de uma repaginada se quisesse reabrir
– Quanto isso vai me custar? – Ele perguntou, ainda de costas.
– Apenas o material para darmos uma levantada. O resto, na internet, eu faço sozinha e se, quando reabrir, você não gostar do que eu fiz, eu vou embora, sumo e nunca mais venho aqui. Juro! Mas se você gostar... Bem, talvez, quando chegar o momento, a gente conversa sobre um cargo fixo. Que tal?
respirou fundo. Não tinha como ficar pior do que estava. O destino dele era a falência e, daquela forma, seria impossível realizar a sua vingança contra e seu pai. Ele, então, abaixou o fogo e se virou, observando a garota de cabelos descoloridos e olhos grandes à sua frente.
– Tudo bem.
Ele esticou a mão. Gina se animou e estendeu a sua, cumprimentando-o.
– Mas eu vou precisar conferir a sua identidade.

Faltava poucos dias para a reinauguração do Kroy. Apesar de não estarem ainda abertos, já havia gostado bastante das ideias e mudanças que Gina tinha feito. Ele, junto com Tommy, fez o trabalho braçal, enquanto ela dava as ideias e inseria o estabelecimento na internet.
Letreiros luminosos na parede interna e na fachada externa. Um cardápio novo e mais elaborado. Divulgação online e offline. O Kroy estava finalmente tomando seu lugar na região e vizinhança.
A reinauguração finalmente aconteceu e, como previsto por Gina, havia fila na porta. Tommy estava ficando maluco com a quantidade de pessoas para atender, enquanto mal dava conta da cozinha. Gina, já maior de idade, ajudava Tommy nas mesas enquanto se dividia entre recepcionar clientes e fechar a conta. A primeira noite no novo Kroy estava um sucesso.
Do lado de fora, estava parado em frente ao letreiro luminoso do estabelecimento enquanto observava a fila. Ignorando a existência de uma ordem de pessoas para entrar, ele se colocou dentro do bar do seu rival e analisou.
Gina, desconhecida de quem era aquela pessoa e olhando rapidamente pelo salão, constatando que não havia onde sentar, correu até com um sorriso no rosto.
– Olá, boa noite. – Disse para ele. – No momento, não temos uma mesa disponível. Se você puder esperar um pouquinho na fila, logo iremos atendê-lo com o maior prazer.
– Onde está o proprietário desse projeto de estabelecimento? – perguntou de forma ríspida, ignorando absolutamente tudo que Gina havia lhe falado.
– O ? – Ela sorriu para ele e continuou com seu tom de voz animado mesmo que sua vontade fosse de socá-lo pela atitude arrogante. – Só um instante, vou chamá-lo.
Não demorou muito para que Gina fosse até a cozinha e retornasse com em seu encalço. Quando ele viu que era esperando por ele, tomou uma posição mais séria.
– Bem-vindo ao Kroy. – Falou da mesma forma que dizia a todos os seus clientes. – No momento, não temos uma mesa disponível mas, se puder esperar na fila lá fora...
– Me poupe desse discurso seu e da sua funcionária, York. – levantou a mão. – Eu não vou ficar nessa espelunca... Eu vim apenas dar um aviso. Não importa o que você faça por esse bar, eu vou derrubar tudo o que você construir.
– É só isso? – perguntou a . – Se veio apenas para dar o recado, recado recebido com sucesso. Se tiver interesse em conhecer a casa, peço que você aguarde na fila ali fora, como todos os outros clientes.
– Me poupe, York. – finalizou antes de dar as costas e sumir pela noite.
Gina olhou para e fez menção de abrir a boca para fazer algum comentário.
– Vamos, o bar está muito cheio e temos bastante gente para atender essa noite. Conto com a dedicação de vocês.
Gina não comentou mais sobre o ocorrido no bar naquela noite entre e o cliente estranho. As noites passavam e, por causa do marketing realizado por Gina, o Kroy de antes da punição realizada pela policia foi facilmente esquecido pelos funcionários.
estava bastante satisfeito com aquilo e, secretamente, à noite, quando estava sozinho, sabia que seu pai, onde quer que ele estivesse, estava orgulhoso dele. Gina havia demonstrado a , e também a Tommy, que realmente sabia o que estava fazendo e, por isso, decidiu nomeá-la gerente do Kroy e começar a pagar-lhe um salário. Era o mínimo que ele poderia fazer pela garota que reestruturou seu estabelecimento e o colocou no roteiro de destinos da vida noturna na cidade.

... – Gina se aproximou do proprietário do Kroy ao fim de uma noite. – O que aconteceu? Sabe... No dia da reinauguração. Aquele rapaz veio aqui, fez ameaças a você e ao bar e simplesmente foi embora.
– Está falando do ? O riquinho que se esconde atrás do dinheiro? – Gina concordou e suspirou. – Nós éramos colegas de escola. Até que, um dia, ele estava praticando bullying com um dos garotos da sala. Pedi para que ele parasse, acabei dando um soco em seu rosto e o pai dele, com seu dinheiro e poder, fez um acordo com o diretor da escola onde eu seria absolvido se eu pedisse perdão por aquilo. Eu não pedi. – riu, lembrando daquilo, e Gina abriu a boca, indignada. – Eu não me arrependi, por nenhum dia, de não ter passado por cima dos meus princípios e pedir desculpas. Eu estava defendendo uma pessoa que não tinha como se defender.
– Ok, você bateu nele. Você foi expulso da escola. E ele te odeia por isso? – Ela não conseguia entender. – Não acho que isso seja motivo para ele te odiar, a vida que foi estragada foi a sua.
negava com a cabeça. Quem dera esse fosse aquilo.
– Não é esse o motivo?
– Não... Eu e meu pai estávamos preparando para inaugurar o nosso bar. O Kroy só existe porque era um sonho do meu pai... Um sonho que ele não conseguiu realizar. Ele foi atropelado e a pessoa que o atropelou não chamou o resgate nem parou para socorrer. Meu pai morreu sozinho no meio da rua por ignorância, por egoísmo de um assassino. – Ele respirou fundo e virou para Gina. – atropelou meu pai.
Gina ficou boquiaberta ao ouvir aquilo. sempre pareceu um rapaz quieto e reservado, mas ela nunca poderia imaginar que, dentro dele, havia uma pessoa que passou por tudo aquilo.
– Eu sinto muito... – Ela murmurou, sem saber se realmente queria ouvir o fim daquela história.
– Acontece que, na família Johnson, dinheiro e poder sempre vão ser a voz mais alta, e eles conseguiram um laranja para ser incriminado e preso no lugar de . Existe um homem, hoje, preso e perdendo a vida dele, com a culpa de ter matado meu pai, sendo que eu sei que não foi ele. Johnson atropelou meu pai e o matou. – respirou fundo antes de continuar. – No velório do meu pai, a polícia veio falar comigo sobre a investigação e mostraram imagens da câmera de segurança da vizinhança. Eu vi o carro do , um carro de riquinho mimado, daqueles que são produzidos em poucas unidades. O ódio tomou conta de mim, Gina. – Ele confessou. – Eu que estava com a vida terminada naquela noite, sozinho e sem ninguém. Saí sem rumo e descobri que ele estava no hospital, se tratando de lesões deixadas após o acidente. Pra minha sorte, o estava sozinho do lado de fora, fumando. O braço dele estava engessado, então ele estava sem ter muito como se defender... O meu ódio me fez quase fazer com o o que ele fez com o meu pai. Se a polícia não tivesse chegado, eu o teria matado.
, eu... Eu não queria, sinto muito. – Gina procurava palavras. – Eu não sabia que era tão pesado assim.
– Está tudo bem. – Ele sorriu para ela. – É uma história que eu nunca contei para ninguém, mas você me ajudou a colocar o Kroy onde ele está, merece saber, inclusive, que eu fui preso após isso. Fiquei sete anos na prisão, onde eu conheci o Tommy, e saí decidido a realizar o sonho do meu pai e, com isso, derrubar , seu pai e tudo o que eles construíram.
– É um plano bem grande esse, não?
– Eu sei, parece megalomaníaco e suicida. Mas os Johnson’s não começaram grandes. Eles já foram um Kroy na vida, nós podemos chegar lá.
– Claro que sim! – Gina se animou. – De qualquer forma, eu sinto muito por tudo o que aconteceu com você. E eu posso ter boas notícias! – Ela se animou, tentando mudar o rumo da conversa, e tirou o celular do bolso da calça que usava. – Eu recebi, pelo meu perfil na internet, uma proposta de franquia do Kroy.
arregalou os olhos para aquilo que ouviu. Ele estava ouvindo certo? Seu bar, que antes ficava às moscas, de repente, recebeu uma proposta para ser franqueado? Iria sair da região em que estavam para outros locais?
– E já me adiantando, eu sinto muito, – Gina falou a ele. – mas eu marquei uma reunião para nós dois conheceremos esse possível franqueado e investidor da marca Kroy. – Ela sorriu, muito animada com aquilo.
Grande parte do mérito do estabelecimento era dela.
– Talvez esteja na hora de você começar a pensar em uma empresa maior que o Kroy.

As coisas aconteciam tanto para quanto para de maneira sincronizada e, até mesmo, irônica.
Após o primeiro interessado em franquear o Kroy aparecer e as franquias começarem a existir, outros demonstraram o mesmo interesse, mostrando que o negócio era lucrativo. O marketing, que antes era praticamente direcionado apenas na internet, estava tomando grandes proporções, e contratou uma empresa para gerenciar sua comunicação.
O Kroy acabou se tornando uma grande cadeia de bares e restaurantes pelo estado, mas aquilo nunca fez com que deixasse o poder subir à sua cabeça, muito menos fazer com que o dinheiro falasse mais alto.
Enquanto isso, continuava o mesmo garoto inconsequente de anos atrás. causava acidentes e saía fugido. Brigava em casas noturnas e cometia assédio mas, como sempre, o dinheiro sempre falou muito mais alto na família Johnson. Ele sempre saía ileso de tudo o que aprontava.
Porém, enquanto saía ileso, os problemas pessoais dele causavam problemas para a empresa da família. Os Johnson’s estavam vendo as ações da empresa caírem, os investidores retirando seus investimentos e o valor de mercado da grande empresa simplesmente despencar.
– Eu vou te dar uma última chance, , e eu espero que você não me decepcione mais do que você fez em toda a sua vida. – O senhor Johnson falou para o filho, de cabeça baixa, em seu escritório. – Você vai contratar a menina que colocou a espelunca do entre os nossos principais concorrentes. Ofereça a ela o valor que ela quiser, pague o quanto ela quiser e todos os benefícios possíveis. Eu quero aquela garota fora do Kroy. Sem ela, a empresa volta a ser o lixo que sempre foi.
– Vai ser fácil. – respondeu ao pai, lembrando do dia que a conheceu e ela pediu para que ele esperasse na fila. – Aquela garota é inocente demais e, com certeza, vai se vender pelo dinheiro.
saiu direto do escritório de seu pai para o principal restaurante do Kroy. manteve o primeiro bar com sua equipe inicial. Lá, estavam todos os funcionários.
– Eu gostaria de falar com você. – disse para Gina, que apontou para si mesma. – Tenho uma proposta de emprego irrecusável para você.
Gina olhou para , que parecia não ter se abalado ao ouvir seu maior rival informar ter uma proposta de emprego para sua melhor funcionária e gerente. Ele assentiu com a cabeça e ela entendeu que poderia ir.
– Vou pegar minha bolsa. Conheço um café ótimo na rua de trás. – Informou.
Não demorou muito para que ela estivesse sentada na cafeteria, com à sua frente. O rapaz falava da proposta de ela integrar a equipe de marketing e, inclusive, ser acionista da empresa, enquanto Gina parecia completamente interessada naquilo.
– E qual seria o salário? – Ela riu, fingindo estar abismada com a proposta. – Digo, para vocês estarem me oferecendo tudo isso, o salário ao menos é bom, não é mesmo?
– O salário é ótimo. – riu, tirando uma caneta do bolso de seu paletó e, em seguida, pegando um guardanapo, escrevendo um valor no papel. – Tenho certeza de que você não vai recusar isso. – E entregou para a menina.
Gina não se abalou com o valor, apenas deu um sorriso ao olhar para o papel.
– Realmente, é muito bom. – Ela balançou a cabeça e pegou o celular. – Eu preciso pensar. Não posso simplesmente sair do Kroy assim e deixar eles sem ninguém para ocupar meu local, quer dizer... – Ela riu. – Eles nunca vão encontrar alguém para me substituir, mas não dá para ganhar uma miséria para sempre, não é mesmo? – Ela fingiu uma risada maléfica e a acompanhou. – Ai... Outros ares, isso é ótimo. Me passa seu número, retorno o mais rápido possível, prometo.
– Claro. – disse, satisfeito. – Anota aí...
Gina olhava para o botão vermelho piscando em seu celular enquanto os números rodavam na sua tela. falava os algarismos que ela fingia digitar e, em seguida, fingiu guardá-lo, colocando na cadeira vazia ao seu lado.
– Chega de negócios, não é mesmo? – Ela sorriu. – Vamos tomar nosso café em paz. Nós merecemos uma folga dos nossos trabalhos... É impressão minha ou você não gosta do ?
York é um babaca. – respondeu logo em seguida após fala dela, tomando um longo gole do seu café. – Você acredita que ele foi expulso da escola por me bater? – Gina fingiu surpresa. – É! Ele simplesmente me bateu na sala de aula, na frente do professor. Meu pai tentou fazer um acordo com ele e o pai. Sabe como é, último ano da escola. Seria uma pena se ele não se formasse... Mas foi irredutível, se recusou e acabou sendo expulso.
– Poxa... Ele nunca me falou do pai. Eles não se dão bem? – Mentiu Gina e estava caindo como um patinho na encenação da garota que, segundo ele, era inocente demais.
– O pai dele morreu. – falou, sem um pingo de remorso em sua voz. – Aquele velho louco entrou na frente do meu carro, eu o atropelei. – Gina sentiu sua respiração falhar ao ouvir aquilo.
Ela desviou o olhar por segundos, os números continuavam rolando na tela e o botão vermelho piscando.
– É... E quando eu vi que era o pai de , saí correndo e ele morreu no local. Um babaca assumiu a culpa por mim. Que isso fique só entre nós, mas agora só falta um York de quem eu posso me livrar. – deu-se por satisfeito. – Coisas que o dinheiro pode comprar, não é mesmo?
– Olha... – Gina puxou as mãos que estavam em cima da mesa e colocou em seu colo. – Cá entre nós, eu indo trabalhar no Johnson’s, o nunca vai achar alguém bom o suficiente para me substituir e, logo, a empresa dele vai à falência.
– Isso então é um ‘sim’? – sorriu para a garota.
– Isso é um ‘vou pensar na sua proposta’. – Ela, então, pegou o celular e a bolsa e se levantou. – Logo, você vai receber uma ligação minha, . Muito obrigada pelo café.
– Estarei esperando ansiosamente.

Gina saiu a passos largos da cafeteria e, após tomar certa distância, correu para dentro do Kroy. A garota tinha o coração acelerado e as mãos tremendo. Ela entrou dentro do restaurante e encontrou e Tommy realizando sua reunião diária antes de abrir o restaurante.
– Eu preciso falar com você urgentemente. – Ela apontou para . – Por favor. É agora.
– Você vai sair do Kroy? – Tommy perguntou.
... – Ela levantou o celular e mostrou a tela de gravação de voz. – Você vai se interessar pelo que eu tenho aqui.

No escritório, ouvia atentamente a toda a conversa que sua gerente havia tido com o herdeiro da família Johnson.
– Ele assumiu que matou o meu pai. E que outra pessoa levou a culpa por ele. Gina! – Ele pulava, animado. – Eu vou entregar isso para a polícia e para a imprensa. O finalmente vai ser preso. – estava incrédulo que aquilo realmente estava acontecendo. – Como você conseguiu?
– Honestamente, eu não fiz nada. Eu só resolvi gravar a conversa porque fiquei com medo de ser chantageada mais tarde. O babaca do fez tudo ele por ele mesmo. – Gina riu. – Ele se entregou sozinho.
– E você vai sair do Kroy? – questionou, olhando torto para ela, mas com um largo sorriso no rosto.
– Depende. Qual a sua contraproposta? – Ela, então, gargalhou. – Nunca, . – Ela fixou o olhar nele. – O Kroy é minha vida, minha família e os meus amigos. Eu nunca vou abandonar vocês.

• • •


A notícia rapidamente se espalhou por todos os noticiários do país. Uma nova prova apareceu no caso do homem assassinado anos atrás e a polícia foi obrigada a reabrir o caso.
O áudio foi vazado para a imprensa e era possível ouvir Johnson assumindo a culpa pelo atropelamento do senhor York. O homem também havia informado que outra pessoa levou a culpa. foi preso, julgado e condenado pelas suas ações.
Não havia mais saída para a empresa dos Johnson’s. Após a confissão de , a justiça federal fez uma ação e levou computadores da empresa. A empresa foi julgada por cometer crimes fiscais.
Os acionistas todos resolveram vender as suas ações e, a preços ridículos, elas foram compradas por York. O CEO da Kroy já havia boa parte das ações da Johnson’s e faltava conseguir as da família.
– O comprador da empresa está aqui, senhor Johnson. – O secretário do homem, um dos poucos que ainda restavam ali, informou. – Fique à vontade.
A passos calmos, de terno e imponente, York entrou no escritório do senhor Johnson com uma pasta e caneta na mão. Ele olhou para o homem à sua frente e colocou a pasta na mesa.
– Veio dar o seu tiro de misericórdia?
– Não fui eu quem atirei em vocês durante todos esses anos. – falou, pela última vez em frente a alguém daquela família, sem emoção nenhuma em sua voz. – Vocês caíram sozinhos. Seu filho afundou a sua empresa, seu filho escondeu um crime e você cometeu um crime fiscal durante todo esse tempo. Eu só fui esperto e oportunista e, agora, estou aqui, para ajudá-lo a não morrer sem nada.
– Você sempre foi arrogante mesmo, York.
– Não fui eu quem afundei a minha própria empresa. – Ele abriu a pasta e entregou a caneta ao homem. – É só assinar nessa linha. Vou levar esse papel aos meus advogados e meu contador irá transferir o dinheiro o mais breve possível. A Johnson’s é minha. E meus funcionários, que sempre estiveram ao meu lado... Tommy e Gina serão diretores administrativos e financeiros.
O senhor Johnson olhou para o papel e caneta à sua frente. Era o contrato de venda da Johnson’s para a empresa Kroy. Sem saída porém com ódio no olhar, ele assinou o papel e jogou a caneta longe.
– Vai embora, York, e vá para o inferno.
– Senhor Johnson... – se aproximou, pegando a pasta e a caneta. – Foi um prazer fazer negócios com o senhor.

I ain’t gonna be just a face in the crowd, you’re gonna hear my voice when I shout it out loud


Fim.



Nota da autora: "Olá pessoal. Obrigada por lerem 01. It’s My Life. Eu sei, a história foi bem corrida, e peço mil desculpas por isso. Caso vocês tenham interesse em assistir essa história, rica em detalhes, assistam ao dorama Itaewon Class, disponível na Netflix.

Confesso que quando eu vi o ficstape do Bon Jovi disponível, fiquei receosa em pegar alguma música, pois nenhum plot vinha na cabeça. Acabei, no ânimo, assumindo It’s My Life e levei um bom tempo para conseguir desenvolver um plot. Perfeito ou não, quando acabei de maratonar o dorama, eu decidi que iria me inspirar nele para esse ficstape. Espero que tenham gostado e que assistam ao dorama. Ah! Não esqueçam do comentário no final. Feedbacks são sempre muito importante para as autoras. ♥"



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