01. Just For One Day
Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo I

- E é isso. Tenham um ótimo feriado e, pelo amor de Deus, estejam aqui segunda, iremos começar Shakespeare. - a professora de Literatura Europeia falou e anotou o nome do dramaturgo no quadro. - Estão liberados e, por favor, não sejam o Dante de ninguém. E não deixem ninguém ser a Beatriz de vocês. - e com um sorriso fechou a pasta, colocou os óculos de grau e saiu da sala. Guardei as coisas na minha mochila e saí da sala logo após algumas pessoas. Nunca pensei que por escolher prestar Literatura na faculdade iria me render conhecer histórias maravilhosas. Histórias de amor carnal, espiritual, de tragédias, de tudo o que possa ser imaginado, de todo o mundo. Quando escolhi o curso, era somente para eu ter algo que ocupasse minha cabeça além do surf e de escrever músicas, e agora eu estava completamente apaixonado por aquele mundo.
- ? - escutei meu nome e virei, acenou e andou até mim.
-E aí, cara? Tá tudo certo?
- Tudo certo. Apesar da minha raiva contra os Estados Unidos e morar aqui não ajuda muita coisa.
- Raiva dos Estados Unidos, cara? Acho que és o único nativo que não é patriota.
- Falou o brasileiro que viveu dos dois até os doze anos na Inglaterra e que agora virou americano.
- Tecnicamente, o Brasil é na América.
- Você entendeu, . Você entendeu.
- Sabe de uma coisa, ? Guarde sua raiva, nós iremos para Venice.
- Você vai? É lógico que eu não vou. Quatro dias longe desse inferno que se chama Estados Unidos, vou para Machu Picchu.
- Vais mesmo passar quatro dias em Machu Picchu? Gastar dinheiro e passar só quatro dias? Vamos para Venice, cara.
- Venice, praia, sol?
- Praia, sol, meninas bonitas de biquíni, iremos surfar, fazer um lual, festas. Vamos, , eu sei que você quer.
- Eu...
- Estamos na Califórnia, cara. Depois que terminarmos a faculdade, eu vou contigo até Machu Picchu e faço um mochilão para qualquer lugar.
- Qualquer lugar menos afetado pela doença chamada Capitalismo que esse país implantou na mente das pessoas?
- Para qualquer lugar, cara.
- Você promete?
- Eu prometo, . Se eu não for, pode me dar quatro socos nesse meu rostinho maravilhoso.
- Eu espero que você não transe com ninguém nesse feriado. - falou e eu ri alto, ele socou meu ombro e nós andamos em direção à saída da universidade. - Você vai de qual ônibus?
- Eu vou de táxi.
- Táxi? Enquanto você pode pegar um ônibus prefere alimentar esse consumista que tem aí dentro?
- Você vai calar a boca se eu pegar o mesmo ônibus que você?
- Sim.
- Então vamos de ônibus. - falei e ele sorriu como se tivesse conquistado uma copa do mundo. Saímos da faculdade, atravessamos a rua e andamos mais um pouco, até que chegamos na parada do ônibus.
- Você tem certeza que quer ir para Venice, cara?
- Você disse que iria ficar calado, . - respondi e ele revirou os olhos. - E sim, tenho. Venice é legal, dê uma chance ok? Prometo te levar nos melhores lugares de Venice.
- É que eu já conheço Venice e você vai para lá todo ano. Os caras do meu curso vão para El porto, as meninas de Artes também vão para lá.
- Meninas de Artes vulgo aquela que você quer ficar?
- É, a Vanessa, preciso pelo menos falar com ela. São três semestres somente observando.
- Então vamos para Manhattan Beach. Vou sair daqui de Los Angeles às duas da manhã.
- Vou ficar direto na sua casa, certo?
- Tudo bem, . Mas agora, você paga a minha passagem. - respondi assim que o ônibus parou no ponto, revirou os olhos e eu entrei, ele subiu logo depois.
- Seu burguês.
- Proletariado paga pro burguês, não é assim que funciona? - perguntei e ele concordou batendo em meu ombro.
- Você é ridículo, .
- Mas sou eu quem vai te levar para El porto, esqueceu?
- Cale a boca. Em nome de Jesus, cale a boca.
- Historiadores acreditam em Deus?
- Eu juro por ele que vou te matar, seu ridículo. - resmungou graças ao seu mal humor constante enquanto ele colocava os fones de ouvido com a intenção de me ignorar durante nossa pequena viagem até minha casa. Ri sozinho e roubei o lado esquerdo de seu fone.
- The Strokes é bandinha de viado.
- Você escuta Mcfly. Cale a boca.

Cherry Cola tocava no volume médio no meu notebook, enquanto passava de um lado para o outro procurando alguma outra peça de roupa para colocar na mala. Ela olhou em minha direção como se implorasse para eu levantar da cadeira, fechar os livros e arrumar minha mala.
- Não, . Eu não vou sair de São Francisco para ir até Manhattan Beach.
- É feriado, ! Por favor, vai ser legal.
- , eu não gosto de praia.
- Você não precisa entrar no mar. Eu só quero a presença da minha melhor amiga nesse feriado. Será que você pode me dar essa honra?
- Se eu for, você não vai me pressionar para entrar no mar?
- Juro de dedinho. - respondeu e esticou o mindinho, entrelacei meu dedo no seu e levantei da cadeira. jogou uma mochila relativamente grande em minha direção, saí do quarto dela e fui até ao meu.

e eu morávamos em Stanford, depois do ensino médio saímos de casa e viemos para São Francisco. prestava Direito, eu fazia Literatura e Arte na UCSF e nós morávamos juntas desde então. Éramos melhores amigas mesmo com toda a diferença de personalidade e aparência entre nós duas, tinha lindos olhos castanhos quase amêndoa, pele branca feito a neve e cabelo preto, tinha um corpo esguio e desenhado com seus 1,78, usava sempre um batom rosa que combinava com o seu tom de pele, usava laços e tiaras no cabelo. Ela era como aquelas princesas da Disney e, bom, eu era eu.

A playlist do Mcfly que eu havia deixado tocando no quarto de havia acabado, respirei fundo e coloquei a ultima peça de roupa naquela mochila. Joguei meus utensílios de higiene pessoal na minha bolsa junto do meu carregador, carteira e minhas balas de menta, tirei o fone do notebook e o conectei ao celular. Coloquei o aparelho no bolso e o fone de ouvido em volta do meu pescoço, ia ser uma viagem relativamente longa e eu precisava estar descansada para enfrentar o meu pior inimigo. Saí do quarto e quando entrei no de , ela já estava vestida e colocava uma tiara no cabelo.
- Use. Essa vai ficar melhor em você.
- Não, . Meu cabelo está ótimo nesse rabo de cavalo.
- Não, não está. Seus cachos são lindos, mostre-os. - falou e quando dei por mim já estava atrás de mim tirando o elástico que prendia meu cabelo. Ela colocou a tiara branca e ajeitou meu cabelo atrás, me olhei no espelho e percebi que ele parecia incrivelmente bonito. A parte lisa da raiz não estava desgrenhada e a parte enrolada formava cachos que pareciam serem feitos um por um. - Não está melhor?
- Está.
- Ele é lindo. - falou e jogou algumas mechas para frente, começou a mexer na sua pequena bolsa e puxou de lá um batom vermelho. - Eu nunca usei. Sempre achei que combinasse mais com você.
- Eu não uso batom, .
- Tá na hora de usar. - falou e me entregou o objeto. Passei o tal batom vermelho e quando terminei me dei conta que tinha gostado do resultado. - Tá vendo? Ele é Matte. Cores Matte sempre ficam melhores.
- Obrigada, .
- Agora você tem um fiel companheiro para seu inseparável rímel. - falou e nós rimos. fechou a bolsa e nós saímos do apartamento, ela fez sinal para o taxi e o mandou ir para a rodoviária. Chegamos em menos de trinta minutos, olhei no relógio da estação e ele marcava três da manhã. Chegaríamos em Manhattan Beach por volta do meio-dia. E eu ainda não sabia o que fazer quando chegasse a hora de irmos para o mar.

- Porra, minha bunda tá quadrada.
- És muito reclamão, . Fui eu quem veio dirigindo e não estou reclamando.
- Eu sou o copiloto que foi obrigado a escutar o caminho todo essa sua playlist de música estrangeira. Eu nem sei o que os caras estavam cantando!
- É música boa, . Tem O teatro mágico, Supercombo, Rael...
- Eu não entendi nada, ! Absolutamente zero palavras. Como vou saber se ele não tava dizendo que o capitalismo é uma coisa boa para o mundo?
- Eles não falaram isso, cara. E outra, música você não precisa entender, você precisa sentir. É como o mar, sabe? Você não entende a movimentação que as ondas fazem, mas você sente o que elas querem passar. Elas transmitem paz, tranquilidade... Você precisa aprender a relaxar, , nem tudo nesse mundo é ruim.
- Você tem razão, e sabe de outra coisa? Vou falar para a garota que eu gosto dela.
- Vai, cara, você nunca vai saber se não tentar. - respondi ao colocar minha mochila nos ombros, tirou a mala do banco traseiro junto de sua amada bolsa que tinha seus inseparáveis livros. Travei o carro e nós entramos na pequena pousada que ficava próximo à praia de El porto. - Um quarto com duas camas, por favor.
Pedi e a senhora com os cabelos loiros quase brancos me entregou a chave, me deu uns papéis que eu deveria assinar e pediu que um senhor que estava por ali nos levasse até o segundo andar da pousada. Ele sorriu gentilmente quando nos apontou o tal quarto 212, agradecemos e ele desceu as escadas. abriu a porta do quarto apressado, assim que conseguiu vencer a batalha contra a fechadura, se jogou na cama do lado direito. Deixei minha mochila no chão e me joguei na cama que estava ao lado da dele, eu estava cansado, a ideia de ir surfar naquele horário já não me parecia uma boa.
- ? - o chamei mas não obtive resposta. - ? ?
Não tive nenhuma resposta. Estiquei meu pescoço e constatei que já estava no seu décimo sono. Talvez eu devesse fazer o mesmo, o mar era infinito, ele iria me esperar.



Capítulo II

Meu relógio avisava que já era meio dia e vinte e dois minutos. entrava no pequeno hotel que ficava localizado em uma parte estratégica da praia de El porto, tinha vista para o mar e tudo. Ajeitei minha mochila nos ombros e entrei logo atrás dela. resolveu a pequena burocracia com a atendente e, no final, ela nos deu uma pequena chave, avisou também que nosso quarto ficava no terceiro andar. Agradecemos e subimos pela escadaria. Minha bunda doía depois de tanto tempo sentada e meu corpo demonstrava cansaço.
- Você tem exatamente duas horas para tirar um cochilo, ok? Eu lhe chamo. - falou assim que entramos no quarto. Deixei minha mochila no chão e deitei na cama que ficava próxima à porta, eu precisava relaxar. E, por algum motivo, aquele barulho longe daquelas ondas do mar me faziam sentir uma espécie de paz. Ri sozinha e fechei os olhos, aquelas duas horas seriam sagradas.

- Acorda, Bela Adormecida. - era a voz de e, mesmo a contra gosto, abri meus olhos. - Onze horas. Você mesmo disse que queria aproveitar cada segundo do mar.
- Eu quero. Só que essa cama é mais confortável que a minha em Los Angeles.
- Você é ridículo. - falou rindo, levantei da cama, peguei uma escova de dente e creme dental, entrei no banheiro e fiz minha higiene bucal. Mesmo com tantos anos morando nos Estados Unidos, eu ainda não tinha me desapegado dos meus hábitos de escovação dentária, eu simplesmente não conseguia mascar um chiclete e deixar tudo ok. Traumas de uma adolescência usando aparelho dentário. - Onde vamos comprar as pranchas?
- Tem uma lojinha passando o hotel Caliban, vamos dar uma olhada por lá. - respondi enquanto vestia minha blusa regata azul, ajeitou a blusa vermelha e nós saímos do quarto.

A loja não ficava tão longe do lugar em que estávamos hospedados, em menos de dez minutos já olhávamos as diversas pranchas expostas. acabou escolhendo uma de modelo Evolution, onde permitia que ele tivesse um controle melhor da prancha e que fizesse manobras que não poderia fazer com as pranchas indicadas para iniciantes, apesar dele não surfar constantemente, sabia o bê-a-bâ do surf. Eu acabei escolhendo o que chamam de Minimodels, era o melhor indicado para mim, já que tinha um bom preparo físico e sabia inúmeras manobras. E isso era graças aos meus finais de semanas em praias Californianas e férias que oscilavam entre Havaí e algumas praias no litoral brasileiro, minha terra natal. Depois da escolha do modelo, tivemos que escolher a pintura. Eu juraria que iria querer pintar o rosto de Karl Marx mas ele optou por uma pintura simples por cima do shape, com um Air brush vermelho nas laterais e pediu para fazerem o tal efeito de madeira na parte central. Na minha prancha, escolhi um modelo parecido, só que com o Air brush oscilando entre azul escuro até o claro na parte central e nos lados, o efeito de madeira envelhecida. Saímos da Surf Board depois de uma hora e meia, a ornamentação demorava um pouco. e eu paramos em uma hamburgueria e comemos rapidamente, aquilo iria ser o nosso almoço. Saímos de lá prontos para encontrar os caras que já nos esperavam no norte da praia de El porto.

- Finalmente! - Rick falou assim que fincamos nossas pranchas na areia.
- Não trouxemos prancha, cara. Tivemos que comprar aqui, sabe como é.
- Beleza. - Rick falou e bateu em meu ombro. Os meninos foram se aproximando e em questões de minutos, minha blusa já estava jogada na areia junto da minha sandália.
- Cara, nós não temos a parafina. - falou e Marc, o francês do grupo, jogou a barrinha para ele. Depois de passar a parafina na prancha, amarramos o leash no calcanhar, aquilo servia para nos prender à prancha e evitar a perda da mesma quando caíssemos dela. Em segundos, já estávamos dentro daquela imensidão chamada de mar.
- , aquela onda é tua! - Marc gritou e eu remei para a onda que já estava ganhando forma.

- Olhe! Aquele cara pegou um tubo! - falou animada aplaudindo da areia.
- Eu vou fingir que consegui enxergar o que ele fez para te deixar feliz. - falei e ela riu, ajeitei o meu biquíni e deitei por cima da canga.
- Eu vou tomar um banho, tem certeza que não quer entrar?
- Absoluta. Aliás, não demora, eu to querendo almoçar.
- Tudo bem, chefe. - falou batendo continência e correu igual uma criança para a água.

Acho que de tanto olhar para o mar, acabei adormecendo. Lembro de despertar com um barulho estranho vindo da minha direita, sentei, coloquei os óculos escuros e olhei na direção de onde vinha som. Era um grupo de meninos molhados, balançando seus cabelos e deixando suas pranchas na areia, mas, junto deles, minha melhor amiga estava naquela companhia. Ela sorriu para mim junto de um aceno discreto, eu apenas ri e voltei minha atenção para o mar. Minutos depois, sentou ao meu lado.
- Tenho um programa para nós duas hoje à noite!
- Pelo amor de Deus, não me diz que você arranjou um encontro duplo.
- Não, ! Iremos para um luau, aqueles caras, além de surfistas, cantam e tocam. Eles conhecem outras pessoas que também vão, esse pessoal de Los Angeles sabe dar uma festa!
- Que horas começa?
- Às nove. Vem comigo? Por favor, vai ser divertido!
- Tudo bem, nós vamos. Mas agora podemos ir comer, por gentileza? - perguntei e concordou batendo palminhas.
Vestimos nossos shorts, colocamos nossas coisas dentro da bolsa e me puxou para o lado contrário de onde eu estava indo. Passamos pelos tais surfistas e ela fez um sinal com a mão como se afirmasse que estava tudo certo para mais tarde. Eu só esperava não me arrepender de ter aceitado aquele convite. A ideia de ir para o mar pela parte da manhã já me assustava, e de vê-lo à noite, deixava-me apavorada.

- Que loira linda! - falou depois que a menina chamada havia passado por nosso grupo praticamente arrastando uma morena ao seu lado.
- , . Já esqueceu Camille?
- Ah, cale a boca. - falou e voltou à olhar a loira andar. Ela era bonita. Mas só pelo andar da outra, mentalizei que era ainda mais bonita. Seus cabelos eram longos e vinham quase no final de suas costas em cachos, ela não era alta, deveria ter no máximo 1,65, mas tinha um corpo que parecia encaixar perfeitamente com sua altura. E o seu biquíni laranja fazia um contraste perfeito com a cor da sua pele morena. Poderia me apaixonar se visse a cor dos seus olhos, mas ela passou tão rápido que nem pude ver suas feições.
- Estamos indo para um barzinho que fica à vinte minutos daqui, vocês querem ir? - Marc perguntou já retirando a prancha da areia.
- Por mim, tudo bem. - falou e tirou a prancha dele também.
- Eu vou ficar por aqui, encontro vocês à noite?
- Beleza. - Marc falou e com um toque de mão se despediu de mim. Os outros meninos fizeram a mesma coisa, menos . bateu em meus ombros e disse que iria trazer uma cerveja para mim. Ri e o vi saindo atrás dos outros. era louco.

Sentei ao lado da minha prancha e vi a movimentação da praia começar a diminuir, olhei no meu relógio e ele marcava quatro horas e trinta minutos. Era naquele horário que as pessoas começavam a deixar El porto para poder se preparar para a noite. Tirei minha prancha da areia e fui com ela para o mar, as ondas estavam calmas e ali tornava-se um bom lugar para relaxar. A vida poderia ser ótima em algumas situações. Ri sozinho e remei de volta para a beirada, eu deveria ir para o hotel e descansar para mais tarde. Saí da praia e rapidamente cheguei ao local onde estava hospedado, cumprimentei os funcionários que estavam na entrada e subi em direção ao quarto. Tomei um banho gelado que tirou toda areia e o sal de meu corpo, lavei os cabelos com o shampoo que deveria ter deixado ali, escovei os dentes, vesti uma cueca e joguei-me na cama. Eu estava pronto para pegar no sono, mas o livro da bancada ao meu lado me chamou atenção. Era de e, por incrível que pareça, ele estava lendo algo relacionado à Beatriz e Dante. Peguei o livro e abri na página marcada, naquele pequeno espaço estava descrito a cena da ponte. Em que Dante encontra Beatriz e se apaixona. Aquela história era uma loucura. Ambos se amavam, mas ambos eram casados com outras pessoas. Eu não conseguia entender o motivo daquilo, duas pessoas que se amam tinham que ficar juntas, não importa como. Era injustiça demais separar dois corações apaixonados. Se eu amasse alguém tão verdadeiramente e se essa pessoa fosse tirada de mim, eu iria até o mundo inferior atrás dela. Assim como Orfeu foi atrás de Eurídice, só que eu não iria olhar para trás. Devolvi o livro para a criado mudo e fechei os olhos. Eu esperava ter um sono tranquilo.



Capítulo III

usava um vestido branco curto junto de uma tiara de flores no cabelo, enquanto eu ainda estava de toalha.
- Ainda não, ? Falta meia hora!
- Eu não sei o que usar, nunca fui em um luau!
- Vou ajudar você. - falou e começou a mexer na sua mala, puxou de lá uma cropped branca com alças finas.
andou até minha mochila e começou a colocar as roupas em cima da cama, olhou atentamente as opções que tinha e escolheu uma saia longa branca. Mas logo desistiu da saia longa ao perceber uma saia curta e rodada com flores pequenas. Soltou meus cabelos negros do rabo de cavalo mal feito e os penteou para que eles caíssem sobre minhas costas e ombros numa cascata de cachos, mandou eu sentar na cama de solteiro e começou a passar sua maquiagem em meu rosto, depois que terminou deixou eu vestir a roupa que tinha separado. Por último passou o batom vermelho em minha boca, feito isso, sorriu e disse que eu estava pronta.

Saímos do hotel e encontramos os meninos no calçadão da praia de El porto. Faltava uma hora para o luau e como éramos os organizadores, tínhamos que nos certificar que o espaço já estava pronto.
A fogueira já estava preparada para ser acendida, as toalhas já estavam espalhadas em formato circular e as almofadas coloridas completavam a arrumação no chão. Algumas velas estavam espalhadas estrategicamente para o lugar não ficar tão iluminado mas também não tão escuro. As bebidas alcoólicas e sem álcool estavam em uma parte separada, juntamente dos salgadinhos e doces que estavam em cima de uma mesa pequena, a uns três metros da fogueira.

- Faltam vinte minutos. - Rick avisou e nós concordamos.
- Seu violão. - avisou, entregando-me o instrumento com a mão direita já que a esquerda ele segurava uma garrafa de Heineken.
- Como é ser capitalista por uma noite? - perguntei assim que peguei o instrumento.
- Querido amigo, como você acha que Karl Marx formulava aquelas teorias? Ele tinha que beber antes. Daqui alguns anos, os teus netos vão estudar as teorias de . Eu só estou bebendo antes para ter ideias depois.
- Sua revolução vai ser chamada de Revolução dos Cachaceiros.
- Ah meu amigo, todo mundo ama a cerveja. O que iria ser do mundo sem uma cervejinha? - perguntou rindo, concordei dando leves batidinhas em seu ombro e nós fomos sentar ao redor da fogueira.

Chegamos à rodinha de pessoas que já estava se formando. me puxou e nós sentamos ao redor da grande fogueira que estava bem ao centro. Ouvi por alto que cada pessoa poderia tocar uma música por vez, em ordem. Por isso, vi muitas meninas e meninos afinando seus violões, já se preparando para o que muitos consideravam o grande momento da noite. O burburinho parecia só aumentar, juntamente das risadas altas, até que de repente, uma voz mais alta silenciou a todos.
- Boa noite! Sejam bem vindos ao nosso luau de verão, nesse fim de janeiro. Isso tá formal demais. - o garoto dos cabelos loiros grandes falou, puxando risadas de muitos dos presentes, muitos deles já estavam sentados. - Vamos galera, esse resto de verão é nosso!
- UHUUU! - todos fizeram em coro.
Eu apenas observava, oscilando meu olhar entre a fogueira, e o mar. O que eu não entendia era como aquelas pessoas podiam se sentir tão seguras perto de duas coisas incontroláveis. Além da sensação inquietante de estar perto do fogo e mar, algo me dizia que estava sendo observada, só não sabia ao certo o motivo e por quem, então era melhor deixar pra lá.
- Eu começo! - uma voz grossa, e ao mesmo tempo arrastada, chamou atenção de todos, era o menino do meu lado oposto no círculo. Ele era bonito e seu sotaque provavelmente britânico deixava-o ainda mais charmoso.
Ele começou com uns acordes desconhecidos por mim mas logo que começou a cantar, reconheci a música. Era The Police, uma das bandas que não saíam da minha playlist e aquela era uma versão totalmente nova e agradável aquele clima praiano. Every Little Thing She Does Is Magic nunca me pareceu tão confortável de escutar. E na voz daquele menino de cabelos castanhos feito mel, pele morena e olhos da cor do cabelo, só me parecia melhor. E o fato dele sorrir depois de uma estrofe e cantar olhando em minha direção só deixava o momento ainda melhor.
- Ele canta bem, não é? - perguntou tirando minha concentração do garoto.
- Sim. - concordei voltando minha atenção para ele. O garoto terminou a música e todo mundo aplaudiu, alguns dos garotos soltaram uns assovios e o moreno riu em uma forma de agradecimento.
Depois dele, uma menina disse que queria tocar e I don't trust myself (With loving you) começou a sair. John Mayer era quase dono da minha playlist no Spotify, só perdia para The Beatles e Mcfly. Acompanhei a musica assim como algumas pessoas da rodinha, até que ela, infelizmente, acabou. As apresentações continuaram e aquela sensação de ser observada pareceu aumentar. Me levantei da rodinha e fui em direção ao que parecia ser um isopor enorme cheio de bebidas, quando ia me abaixar para pegar alguma, alguém o destampou e tirou de lá duas garrafas de Heineken.
- Aqui. - o sotaque britânico se fez presente e eu olhei para cima, era o menino que tinha cantado primeiro.
- Obrigada! - falei ao pegar a garrafa da mão dele, ele abriu rapidamente com o abridor que estava em cima da mesinha e eu voltei para onde estava sentada. As apresentações continuaram mas a minha cerveja já estava quase no final. E eu não me sentia mais confortável ali. - , eu vou andar um pouco, ok?
- Você tem certeza? ...
- Tá tudo bem, . - falei tentando tranquilizá-la. fez que sim com a cabeça e voltou a atenção para o menino que estava cantando. Ele era o loiro que provavelmente tinha a convidado para vir no luau.

Saí da rodinha e comecei a andar na direção contrária da movimentação, aquela praia era enorme. E era libertador não ter um acúmulo de gente ao meu lado.
- Ei! - uma voz se fez presente em meio ao silêncio e eu virei para trás assustada. - Te assustei?
- Para falar a verdade, um pouco. - respondi rindo. Era o moreno que tinha cantado The Police, ele segurava seu violão, uma espécie de canga estava enrolada nele e uma garrafa de cerveja intacta na outra mão.
- O que você faz por aqui sozinha?
- Eu estava me sentindo observada. A sensação parou quando saí dali.
- Desculpe por te incomodar. - falou parecendo envergonhado e eu ri baixo, então era ele.
- Não se desculpe. A realidade era que eu pensava que era uma coisa da minha cabeça, sabe? Esse não é um dos meus lugares preferidos. Na verdade, não está nem na lista.
- Você não gosta de praia? - perguntou surpreso, ri da sua reação.
- Só estou aqui porque minha melhor amiga me arrastou.
- Olha a coincidência, tive que arrastar meu melhor amigo para passar o final de semana por aqui.
- Ele não gosta de praia?
- tem uma forma de ver o mundo de uma maneira não muito comum. Mas ele gosta de praia e de todas essas coisas que nós fazemos nos feriados ou férias, era ele o menino que estava cantando quando você saiu.
- O loiro? O que provavelmente chamou para vir aqui?
- é a loira da praia? - perguntou e eu concordei. - Ela é sua melhor amiga?
- É sim. - respondi e ele riu.
- achou ela linda. E isso é um milagre.
- Ele não é de achar garotas loiras bonitas?
- Não é de achar nenhuma menina bonita, já que tem mais de um ano que ele está apaixonado por uma menina da faculdade.
- Que situação ele se meteu, hein?
- só se mete em enrascada. Mas ele é uma boa pessoa, sabe? Tem um sonho de começar uma revolução.
- Uma revolução? - perguntei, o garoto riu bebendo um pouco da sua cerveja.
- Sim! Qualquer coisa para destruir o capitalismo que afoga o mundo em desastres, palavras dele.
- Ele deve ser um cara inteligente. Existia um poeta que pensava assim, Castro Alves.
- Você conhece Castro Alves?
- Esse cara é foda. Defendia os negros em cada linha de suas poesias.
- O poeta dos escravos.
- Terceira geração romântica. - completei e ele sorriu como se não acreditasse que estávamos falando sobre Literatura.
- Tem um poema, que o eu-lirico é a personificação da África e ela faz duras críticas a Europa e Ásia.
- A Europa é sempre Europa, a gloriosa!...
A mulher deslumbrante e caprichosa,
Rainha e cortesã.
Artista — corta o mármor de Carrara;
Poetisa — tange os hinos de Ferrara,
No glorioso afã!...
- Sempre a láurea lhe cabe no litígio...
Ora uma c'roa, ora o barrete frígio
Enflora-lhe a cerviz.
Universo após ela — doudo amante
Segue cativo o passo delirante
Da grande meretriz.
- Como você sabe esse poema? - perguntou-me e eu ri fraco.
- Eu presto Literatura e Arte na UCSF.
- Você tá brincando comigo, né?
- Não! Por quê?
- Porque eu presto Literatura na UCLA. - ele respondeu, sorrimos um para o outro sem acreditar ainda naquela coincidência e eu poderia filmá-lo sorrindo. Era algo maravilhoso.

Andamos em silêncio por mais alguns minutos, até que ele perguntou se eu queria sentar. Respondi que sim e nós sentamos na areia. Segurei meus joelhos em frente ao meu peito, enquanto o vento cuidava de bagunçar meus cabelos, ver o mar ali tão perto de mim, fazia eu me sentir pequena.
- Você está bem? - ele perguntou e eu neguei. - Você quer voltar para lá? - neguei novamente.
- O mar me assusta. - sussurrei e ele passou a mão por meu ombro. - Antes de eu nascer, meus pais tinham um filho chamado Robb. Quando ele completou três anos, eles levaram Robb para Maresias, uma cidade no Brasil, e aí, Robb se perdeu na imensidão do mar. Eu nem cheguei a conhecê-lo. Vejo as poucas fotos que ele tem e imagino aquela criança tentando voltar e o mar arrastando ele cada vez mais longe. - parei de falar quando percebi que estava chorando. Com o polegar, o moreno limpou-as. - Encontraram o corpo dele três semanas depois. E foi quando meus pais mudaram para os Estados Unidos. Eles prometeram que nunca mais iriam perder um filho para o mar.
- Desculpa fazer você falar disso. - ele sussurrou e fez carinho em meus cabelos, acabei por deixar minha cabeça em seus ombros. - Mas, ele era uma criança de três anos, você já faz faculdade. Eles não vão te perder para o mar, não se prenda, certo?
- Eu cresci com isso, sabe? Minha mãe nunca me levou a praia, só fui conhecer com . E eu nunca pisei na água do mar. Sabe o que é engraçado? É que não é totalmente medo o que eu sinto quando estou perto dele. Eu sinto uma sensação de liberdade, de paz interior. Talvez, Robb tenha sentido a mesma coisa, só que ele era só uma criança. Uma criança que queria brincar.
- Eu levo você. - ele falou rápido.
Tirei minha cabeça dos ombros do moreno e olhei em seus olhos, eles pareciam a coisa mais linda e luminosa daquele lugar.

A morena tinha uma história triste. Uma história triste que acabou afetando no seu eu. Ela tinha um paradoxo, como sentir que a coisa que matou o irmão lhe fazia sentir liberdade e paz? Talvez, os dois fossem amantes do mar. O destino levou o que descobriu aquilo cedo demais, e estava cuidando para que a outra não se arrependesse de nunca ter descoberto.

- Você jura?
- Juro. - respondi e ela sorriu. Naquele ato, poderia jurar ter visto um anjo.
- Você não vai soltar minha mão, né?
- Não solto, só se você me pedir. - respondi e ela soltou uma gargalhada.
Ela levantou da areia e começou a bater na saia para tirar o excesso dali, eu levantei segundos depois deixando a garrafa de cerveja quase cheia fincada na areia. A morena me olhou e fez menção de tirar a saia, acho que ela estava envergonhada. Tirei a minha blusa e desabotoei o short para tirá-lo em seguida, quando a olhei, ela estava somente com a parte de baixo da roupa íntima, de costas para mim, observando o mar. Seus cabelos iam e vinham com o vento, mas algumas mechas estavam por cima de seus ombros, provavelmente cobrindo seus seios. Ela ali, parecia aquelas pinturas de deusas gregas, ou melhor, ela parecia as musas dos poetas. E eu poderia escrever centenas de poemas para ela.
Tirei meu short e andei até ela, segurei sua mão sem me atrever a olhar para o lado. Comecei a andar em direção ao mar e ela andava ao meu lado, segurando fortemente minha mão.
- Você tem certeza? - perguntei.
- Absoluta. - respondeu com certa convicção. Sorri e coloquei meu pé direito na água, coloquei o segundo e virei para olhá-la. Ela estava sorrindo e algumas lágrimas caíam à face. Era aquela a sensação de ser livre.
- Quando eu era criança, meus pais me ensinaram que quando entramos na água, temos que tocar na primeira onda e nos benzer. Assim, o mar nos protege.
- Ninguém ensinou isso para Robb. - sussurrou e eu apertei sua mão. - Obrigada por me ensinar.
- Vem vindo uma bem ali. - sussurrei e nós andamos mais um pouquinho. A morena abaixou-se e a onda tocou seus pés, ela molhou as mãos e em seguida, benzeu-se. Fiz o mesmo logo em seguida, a tempo de ver um sorriso se formar no rosto dela. - Para onde você quer ir?
- Ali. - apontou para o que parecia ser o meio. Ri concordando e a guiei por aquela imensidão azul.

Ela parecia uma criança tento contato pela primeira vez com a água salgada do mar. Ela ria com cada ondinha que passava por seu corpo e brincava com a água com sua mão. Parecia que a morena estava tendo o dia mais feliz de toda a vida dela. Andamos mais um pouco, até que a água passava a sua cintura.
- Você fez com que eu cortasse três pontos da minha lista de cinco coisas para fazer antes de morrer.
- Quais são? - perguntei e ela virou de frente para mim, ainda segurando minha mão.
- Entrar no mar, nadar com um desconhecido e estar mais de uma hora com um desconhecido.
- Meu nome é . Não sou mais um desconhecido. - brinquei e ela gargalhou.
- Eu sou . Quer saber as outras coisas?
- Quais seriam?
- Uma é meio imprudente. Séria beber com um cara que eu nem conheço e a outra é algo meio que impossível.
- Impossível? Não existe coisas impossíveis.
- Escalar uma montanha em Machu Picchu.
- Mentira! - falei rindo e ela me olhou sem entender. - Meu melhor amigo e eu vamos para Machu Picchu nas férias.
- Seu amigo ?
- Sim. - respondi e ela sorriu.
- Talvez possamos nos encontrar em Machu Picchu.
- Com toda certeza. - respondi e ela sorriu. - Você disse que queria beber com um cara que você nem conhece. Bom, você sabe meu nome e o nome do meu melhor amigo. Minha cerveja tava congelada e eu acho que ela já dá para tomar. Quer voltar para lá?
- Podemos voltar para cá depois?
- Se você quiser.
concordou e eu a levei de volta para a areia. Ela sentou sem se importar em se sujar e eu abri a cerveja sem dificuldade, ter amigo cachaceiro me ajudava em algumas situações. Passei a cerveja para ela e tomou dois goles, me passando a garrafa em seguida.
- Você pode cantar para mim?
- Claro! - respondi e ela sorriu. - Me diz uma banda, que você acha que eu conheça.
- The Beatles! Todo mundo conhece The Beatles. - falou e eu ri. Peguei o violão que estava ao meu lado e comecei os primeiros acordes. - Não acredito. - sussurrou enquanto eu continuava com a introdução da música.

"Picture yourself in a boat on a river
With tangerine trees and marmalade skies
Somebody calls you, you answer quite slowly
A girl with kaleidoscope eyes."

balançava seu corpo em sincronia com a música, chegou a cantar docemente o refrão da música. Até que no meio dela, levantou-se e começou a dançar.

"Newspaper taxis appear on the shore
Waiting to take you away
Climb in the back with your head in the clouds
And you're gone."

Ela se mexia lentamente, como se estivesse sentindo cada pequena palavra da música. Ela parecia em paz.
- Eu poderia me chamar Lucy. Mas ao invés do céu, eu estaria no mar.
- Você é linda. - sussurrei e ela colocou o cabelo atrás da orelha. Deixei o violão ao meu lado e fui até ela, a girando no silêncio. - Quer entrar no mar?
- Adoraria.
Entramos no mar e fizemos o mesmo ritual da primeira vez, só que agora parecia mais confiante. Deixei-a me guiar para onde ela quisesse ir. parou de andar quando chegou no ponto mais fundo que da primeira vez, ela sorriu e me abraçou. Retribui o abraço e beijei-lhe a testa.
- Quer mergulhar?
- Mas você vai soltar minha mão. - falou e um bico formou-se em seus lábios.
- Não vou. Me dê sua mão e coloque seus pés na base da minha barriga.
- Tem certeza?
- Sim, agora vamos, me dê suas duas mãos. - falei e assim ela fez, riu mas jogou a cabeça para trás igual uma criança. - Segura sua respiração e mergulhe.
Ela pareceu contar de um até dez e assim o fez. Mergulhou por alguns segundos e voltou para a superfície. voltou rindo, como se aquela tivesse sido a melhor experiência de toda a sua vida. E eu esperava que estivesse sendo.



Capítulo IV

Mergulhei pela primeira vez e não soltou das minhas mãos. Mesmo o tendo conhecido naquele dia, eu poderia confiar nele como nunca tinha confiado em quase ninguém na minha vida. Voltei para a superfície a tempo de vê-lo me encarando com aquelas íris cor de mel. Sorri. Ele fazia eu me sentir como se fosse a garota mais linda do mundo. fazia com que eu não me sentisse uma peça fora do baralho, fazia com que eu me sentisse tão bem, que ficar somente de calcinha em sua frente fosse uma coisa normal. E o fato dele não ter tentado absolutamente nada, só fazia eu querer tê-lo perto de mim ainda mais. Tirei meus pés da barriga dele, soltei suas mãos apenas para passar meus braços por trás de seu pescoço, pousou as mãos em minha cintura e eu colei meu corpo no dele. Ele fechou os olhos e eu os meus, apenas senti sua boca em contato da minha. Os físicos estavam errados, dois corpos ocupavam sim o mesmo espaço. Separamos nossos lábios e eu pude abrir meus olhos a tempo de ver sorrindo, eu devia estar sorrindo junto, pois ele me beijou novamente. E novamente. Ele me soltou, mas segurou minha mão imediatamente. Logo, ele me puxou para perto dele e me segurou, para que eu boiasse na água sem risco de sair de perto dele. Ficamos ali em silêncio, até que lembrei de e pensei na quantidade de ligações perdidas que deveriam estar no meu celular. Comuniquei e ele me levou de volta para a areia, o agradeci e peguei meu telefone já clicando na última chamada perdida.

- Alô?
- Giovannaputaquepariuondevocêestá?
- Fala com calma, por favor.
- Onde você está?
- Eu tô bem, não se preocupe. Se quiser ir para o hotel, pode ir.
- Você saiu daqui já tem três horas!
- Três? - perguntei e riu; ri junto com ele. - Mas eu to bem, ok?
- Você tá acompanhada?
- Estou. Se você quiser ir para o hotel, pode ir.
- Eu conheci um cara aqui. Vamos sair para comer alguma coisa, então, nós nos vemos amanhã?
- Tudo bem. ?
- Oi?
- É o cara da praia?
- É sim. Tchau, . Cuidado.
- Você também. - falei desligando a ligação. - Você não vai acreditar.
- vai sair com sua melhor amiga. - falou bloqueando o celular. - Como você sabe?
- Ele acabou de me mandar mensagem, olha só. - falou ao desbloquear o celular e ir nas mensagens recebidas. - Cara, vou sair com a loira da praia. O nome dela é . , me lembra Mar, cara. Olha, já sei que ela cursa Direito na UCSF, ela não pode ser completamente capitalista. Ninguém que cursa Direito pode achar que o proletariado explora o patrão. Se ela falar isso, juro que a deixo sozinha. Ei cara, onde você está? Espero que esteja bem, não deixe nenhuma filha do capitalismo roubar você de mim. - terminou de ler e eu soltei uma gargalhada, deveria ser uma figura. - Calma que ainda tem mais. Ei , mesmo que ela fale besteiras sobre o proletariado, eu vou dar uma chance para ela de se redimir. Vou até ensinar para ela! é bem legal, ela me ensinou a dançar e, outra coisa, ela escuta The Strokes. Ela sabe mais sobre música que você.
- tem péssimos gostos músicas. - respondi e ele me acompanhou na risada.
- E essa foi a última. Cara, ela não é filha alienada do capitalismo opressor! Nós iremos ser um casal lindo. vai casar de vermelho, juro por Odin.
- Esses dois vão ser o casal mais revolucionário de todos. E como não é adepta a igrejas, eles vão casar em Las Vegas.
- Las Vegas é um poço do capitalismo opressor, eles vão casar numa fazenda. Aposto. - falou e eu ri alto. era a versão com pênis. me contou outras pérolas do melhor amigo e eu podia jurar que quando tomava um porre, ele era do tipo que começava a problematizar a vida e se culpava por estar bebendo. Assim como .

Conversamos mais um pouco e começou a tocar para mim. Só que eu não conhecia a música, nunca tinha escutado, na verdade, mas ela parecia a coisa mais linda que já tinha escutado.
- Eu nunca escutei. De quem é?
- Quando morávamos em HB, e eu cantávamos com outros três amigos. Era uma espécie de grupo, sabe? Só que eu tive que entrar na faculdade e nós meio que nos separamos. Só restou . é como um irmão, sabe? Mesmo ele tendo como sobrenome.
- ? Esse é da família ? O socialista?
- Sim. - falou rindo. A família era uma das famílias mais ricas da Califórnia, eles deveriam ter dinheiro sobrando para a 20° geração. - Sabe a herança dele? Ele tirou uma parte para pagar a faculdade e as coisas básicas para ele sobreviver, o resto ele mandou guardar. Ele tem um plano de fazer doações para as crianças da África e para países não desenvolvidos. tem um coração enorme.
- Isso significa que ele trabalha?
- Mês retrasado ele tava precisando trocar a televisão porque a dele deu pau. Ele trabalhou dois meses numa Starbucks perto da minha casa. O lado bom era que eu ganhava café de graça.
- Meu Deus! - falei rindo. Conversamos ainda mais e ele disse que iria tocar novamente para mim. Eu disse que sim e ele começou com uns acordes desconhecidos por mim.

"Wake and bake away the stars
Wanna watch the water trickle down your arms
You just tell me where and I can take you there
With the top down, hands up, wind in your hair
Like oh, you're my Lucy in the sky
Ohh oh oh, and there's diamond in your eyes"

- Só tem um refrão, mas vou continuar. Acho que vou pedir ajuda à .
- Você compôs quando?
- Na hora em que você falava ao telefone com .

sorriu e se aproximou de mim. Deixei o violão ao meu lado e segurei sua cintura, ela se esticou e beijou calmamente meus lábios enquanto passava as suas pequenas mãos em meus cabelos. Ela riu entre nosso beijo e eu só pude puxá-la para tê-la ainda mais perto do meu corpo. Coloquei por debaixo do meu corpo e suas mãos ágeis caminharam da minha cabeça até a base das minhas costas. Ela jogou a cabeça para trás e tirou o cabelo dos ombros deixando seu tronco completamente descoberto. Beijei-lhe seu pescoço por inteiro e desci os beijos para seu busto, emitia sons que eram como música para meus ouvidos. Eu poderia escrever dezenas de músicas dedicadas à ela somente dela gemer baixo próximo ao meu ouvido. Ela era uma obra de arte viva. E eu queria descobri-la pedacinho por pedacinho.
- Você tem certeza? - perguntei e ela sorriu.
- Escrever é como fazer amor. Não te preocupes com o orgasmo, preocupa-te com o fazer. - ela sussurrou beijando o lóbulo da minha orelha.
- Isabel Allende. - sussurrei e ela sorriu concordando. Beijei novamente cada parte do seu corpo em que alcançava, até que ela colocou as mãos em meu peito como se estivesse me parando. - Você quer...
- Mar. - foi a única coisa que ela falou.

Tirei sua última peça de roupa e logo tirei a minha, tinha os olhos presos no meu e tentava me desconcentrar dando beijos no meu pescoço e mordendo o lóbulo de minha orelha. Entrelacei suas pernas ao redor da minha cintura e a carreguei para o mar. molhou a mão direita e em seguida jogou água sobre nossos corpos, rimos igual duas crianças. Beijei sua boca e invadi sua intimidade. Eu iria lembrar daquela cena para toda a eternidade. A morena jogando a cabeça para trás, arfando e gemendo meu nome enquanto puxava os cabelos da minha nuca no momento em que eu lhe invadia. Era algo que poderia ser retratado em esculturas gregas, pinturas e livros. Os dois amantes entregando-se um ao outro. Somente a natureza de testemunha.
descansou a cabeça em meu ombro no momento em que ela sentiu o seu orgasmo e, num último movimento, tive o meu ao som dela gritando meu nome.

Eu poderia morrer naquele momento que já estaria no céu. envolveu meu corpo no dele e beijou o topo da minha cabeça, fazendo com que eu me sentisse segura. Era a primeira vez que eu fazia amor e não sexo com alguém. E aquela era uma sensação maravilhosa.

Ficamos ali em silêncio por vários minutos, até que eu o puxei de volta para areia. Deitei na canga e ele deitou ao meu lado em seguida, acariciei seus cabelos e senti diversos arrepios vindos de diferentes partes do corpo quando ele passou suas mãos por minha coxa. Ri e guiei sua mão até minha intimidade, ali eu era dele. trocou de posição e ficou por cima de mim, me tocava enquanto nossas bocas estavam grudadas. Até que ele desceu seus beijos, meu busto foi o primeiro a receber seus carinhos molhados. Ele fez uma trilha por minha barriga e em seguida seu beijo chegou na parte mais quente do meu corpo. Minha mão direita estava em seus cabelos e eu nem lhe pedi desculpas pelos diversos puxões de cabelo, ele estava me dominando de uma forma que eu não queria que parasse. Na praia vazia, gritei o seu nome enquanto ele apertava minhas pernas e fazia movimentos cada vez mais rápidos e precisos. Por vezes afastava sua cabeça, mas em questões de segundos ele já estava ali de novo fazendo com que correntes de prazer percorressem meu corpo inteiro. Até que minhas pernas começaram a tremer e logo meu corpo todo, gemi seu nome uma última vez e ele provou do meu gosto pela primeira vez. beijou-me a boca, mas não deixou eu provar do meu gosto. Ele deveria ser leonino. Egoísta. Sorri entre o beijo e ele puxou meu lábio inferior.
Iríamos vestir nossas roupas íntimas. Mas eu tinha sede dele e ele tinha sede de mim. Antes que eu pudesse dormir, foi minha vez de tocar sua intimidade. Algo que eu nunca tinha feito antes, ele guiou minha mão, antes de me deixar fazer sozinha. Ele gemeu meu nome diversas vezes e eu só queria escutar aquilo cada vez mais, fazia bem para meu corpo, fazia bem para ele. Meus movimentos foram mais rápidos e precisos, até que num ato de loucura, meus lábios encontraram o seu íntimo. segurou em minha nuca e parecia querer o controle da situação. Estávamos dominados pelo prazer que corria por nossas veias e saia por cada poro de nossos corpos. Até que ele sussurrou meu nome e eu senti seu gosto escorrer por minha boca. Nós nos beijamos, por fim. Vestimos nossas roupas íntimas e ele me abraçou para que pudéssemos dormir daquele jeito.
Se eu morresse naquela hora, não saberia dizer se estaria no céu ou no inferno. A luxúria tinha entrado em cena.



Capítulo V

Eu tinha caído aos pés de um anjo e tinha tocado em suas mais diversas partes, saboreado seu gosto e obtido prazer pelos seus sonhos, gestos e deliciosos sabores. Eu estava apaixonado por um anjo.

E agora, eu estava pagando a minha penitência por esse feito.

Acordei na praia sozinho, a única evidência que a noite passada realmente existiu eram as pegadas dela na areia e o pequeno broche que ela usava no cabelo. Talvez aquilo fosse um sinal para eu encontrá-la.

Talvez.

Mas a única certeza que eu tinha naquele momento era que tinha ido embora e agora nós dois éramos como Dante e Beatriz. Naquela noite a escutei falar de seus medos e demonstrar seus desejos mais íntimos. Ela fez com que eu me apaixonasse em uma noite assim como Dante apaixonou-se por Beatriz naquela ponte. E assim como Beatriz, deixou-me, fazendo com que tudo parecesse um sonho. Um maravilhoso sonho de uma noite de verão.



Fim 🌊




Nota da autora: Olá queridas. Espero que vocês gostem dessa fic, tentei fazer um clichê diferente do amor a primeira vista, espero que entendam. Qualquer coisinha, dêem um alô no meu twitter, @giobandeira, e participem do meu grupo onde falo sobre minhas histórias. Até a próxima 💜



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


CAIXINHA DE COMENTARIOS:

O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.


comments powered by Disqus