Última atualização: Fanfic finalizada.

Capítulo Único

Yoongi não sabia mais o que fazer, nem o que pensar e muito menos o que inventar. A verdade era que ele já não aguentava mais tudo aquilo. Isso incluía o fato de estar enfrentando uma pandemia e o repouso da cirurgia em seu
ombro. A junção dos dois só havia resultado em uma coisa: uma quarentena perfeita, sem poder fazer muita coisa.
Não que ele estivesse reclamando. Havia tantas coisas acontecendo para ele estar reclamando logo daquilo, era só que o fato de ele estar dentro de casa por um bom tempo e já ter feito tudo o que julgava por ser novo dentro da
residência, não tinha mais graça. Já tinha escutado músicas, visto séries e filmes, conversado com seus amigos por vídeo chamada e até mesmo havia se arriscado a tirar algumas fotos minimalistas de qualquer coisa por ali, mesmo sabendo que fazer aquilo com apenas um braço não daria certo.
Ah, ele realmente não sabia mais o que fazer.
Bufou alto e claro ainda sentado no enorme sofá de sua sala de estar e, vagarosamente, deixou o corpo cair sobre ele. Ele não queria pensar nos últimos dias, nem nos últimos acontecimentos daquele ano. Era doloroso demais.
Não queria pensar na quantidade de pessoas ao redor do mundo que estavam sofrendo, muito menos no fato de que, aos poucos, aquilo estava se tornando um caos. Ele não queria acreditar na proporção em que tudo aquilo estava tomando.
Era desesperador, sabia.
E pensar que nada os ajudaria, que para aquilo um remédio não curaria…
Doía seu coração. O amargurava.
Yoongi odiava se sentir daquela forma. Odiava o sentimento de que por mais que não fosse algo que dependesse dele, não podia fazer nada. Queria tanto confortar seus fãs e todas as outras pessoas ao redor do mundo, mas não fazia ideia de como. Nem mesmo se poderia fazer aquilo.
Passou as mãos pelos cabelos, bagunçando-os e fechou os olhos brevemente quase se deixando levar pela inércia de seu corpo. Não queria estar daquela forma, daquele jeito, tão parado como o mundo estava no momento.

Eoneu nal sesangi meomchwosseo
(Um dia, o mundo parou)
Amureon yegodo hana eopsi
(Sem aviso)


Piscou os olhos por alguns instantes com a frase martelando em sua cabeça e, com uma arfada de ar, sentiu seu coração acelerar dentro do peito, brilhando a ideia em sua mente. Ele sabia o que fazia. Não seria o maior, nem a melhor forma de ajuda, mas tentaria. Precisava fazer alguma coisa para confortar seus fãs, para confortar todo o mundo.
Deixou que todo o peso que ocupava seu corpo dissipasse para longe e ergueu o mesmo, se sentando no sofá. Com um pouco de dificuldade por conta do ombro ainda em recuperação, esticou sua mão em direção ao notebook na mesa de centro à sua frente e o colocou ao seu lado no sofá. Neste pequeno ato, observou o dia gélido ao lado de fora pela enorme janela da sala e a pouca movimentação que se encontrava pelas ruas de Seul. As poucas pessoas que ali transitavam agora deixavam a tristeza evidente dos últimos dias marcadas em Yoongi.
O rapaz agora, por sua vez, balançou a cabeça levemente, tentando de forma falha espantar os pensamentos sombrios e tristonhos de sua mente, focando no que realmente importava ali. Sua pequena ideia havia aquecido seu coração, pelo menos um pouco.
— Tudo isso é tão… Ugh! Não sei ao certo como descrever. — comentou para si mesmo em frustração. Com o braço livre, optou por fazer um rascunho à mão para passar para o programa depois e começar as edições. Não sabia se aquilo daria certo, mas tentaria.
Começou alguns rabiscos, sua letra nem um pouco desenhada preenchia o bloco de notas em seu colo, mas a maioria das palavras escritas estavam rasuradas por algum erro ou por ele simplesmente não gostar.

Bomeun gidarimeul mollaseo
(A primavera não sabe como esperar)
Nunchi eopsi wabeoryeosseo
(Ela chegou sem sentido)
Baljagugi jiwojin geori
(Uma rua com pegadas apagadas)
Yeogi neomeojyeoinneun na
(Estou caindo aqui)
Honja gane sigani
(O tempo passa sozinho)
Mianhae maldo eopsi
(Desculpe. Sem dizer nada)


Desculpe. Era o que ele mais queria dizer a todos que estavam passando por toda aquela situação, a todos que estavam sofrendo, queria se desculpar por tudo aquilo ser irreparável e só por pensar que não seria possível, sentia seu peito arder, doer.
Só que se lamentar daquela forma não mudaria nada. Ele teria que tentar aquilo.
Ficou boa parte daquela tarde focado em sua mais nova composição e nem percebeu em como fazer aquilo o estava deixando mais leve, mais tranquilo. Não era o melhor conforto, mas tentaria fazer com que fosse um. Com toda certeza.


***


Com um suspiro vagaroso, Yoongi encostou o corpo na bancada esperando a cafeteira terminar de encher sua xícara. Observou as últimas gotículas caírem sobre o líquido e a pequena fumaça que saía pela quentura dele, com isso pegou a xícara, a soprando por cima antes de se virar e ir em direção a sua sala de estar novamente.
Ao se sentar no enorme e acolchoado sofá escuro, repousou o braço envolto pela tipoia em cima de uma almofada e pegou seu celular com a outra mão. Boa parte da composição estava em andamento e até o momento ele estava satisfeito com o que tinha saído, por mais que estivesse travado na parte em que parou. Se sentia satisfeito, na verdade. Ali estavam todas as suas emoções e ele sabia que compartilhar seria a melhor opção.
Bebericou um pouco do líquido, fazendo uma pequena careta ao notar que ainda estava quente e entrou em qualquer aplicativo, apenas para se distrair um pouco. Não demorou muito para que mudasse e clicasse no ícone azul com o passarinho branco, vendo sua timeline carregar. Na medida em que ia rolando a página para cima e para baixo, podia acompanhar as notícias do momento e tudo o que estava acontecendo ao redor do mundo. Novamente, sentiu o coração apertar. A maioria das notícias que ali se encontravam não eram a das melhores e ele só conseguia pensar em como toda a situação era triste e dolorosa.
Observou que era um dos assuntos mais comentados também e até conseguia ver alguns tweets de seus fãs sobre o assunto e de como eles estavam arrasados com a situação.
Pensou por alguns instantes. Era claro que ele não poderia simplesmente jogar que estava compondo alguma música tão do nada assim e muito menos falar sobre, mas se ao menos pudesse dizer algo que os confortassem…
Desviou seus olhos do celular para o rascunho em cima da mesa de centro e rapidamente o pegou, analisando as linhas escritas outra vez.
E com um pequeno sorriso, escolheu.
Com certeza ele precisaria de alguma autorização para aquilo, mas àquele ponto ele não queria pensar nas consequências. Ele queria apenas compartilhar com seus fãs o que sentia, queria dizer que tudo ficaria bem.
Rapidamente deslizou seus dedos pela tela do celular e com um clique, tweetou uma das frases da composição.
Era quase como se ele tivesse feito algo proibido, mas a sensação que ele sentia era uma das melhores. Tinha um sorriso satisfeito nos lábios.
Ao ver seu post ser inundado por comentários, releu a frase uma outra vez.

Suga – BigHit Entertainment
@sugabts
Oneulgwa naeireul tto hamkke ieobojago
(Vamos continuar hoje e amanhã juntos novamente)
14:10 PM · Jan 12, 2023 · Twitter for iPhone
2.7K Retweets 64 Quote Tweets 7.2K Likes

A quantidade de comentários que iam subindo no post era surreal e cada um era mais incrível que o outro. Yoongi podia dizer que ficava emocionado em ver como todos eram amados, cuidados por seus fãs. Em como a preocupação que eles demonstravam era enorme.
Ficou ali, distraído por mais algum tempo, ainda com um sorriso contido nos seus lábios ao observar tudo o que estava acontecendo, de forma tão rápida.
E, antes que pudesse fechar o aplicativo e desligar seu display, seus olhos focaram em um comentário que havia acabado de aparecer, em nome de alguém chamado .

It’s me, @ · 3m
Replying to @sugabts
Suga, meomchwoitjiman eodume sumji ma! Bicheun tto tteooreunikkan. 🙌
(Suga, fique firme, mas não se esconda no escuro. A luz aparecerá novamente 🙌)

Foi quase como se aquilo fosse o que precisava para continuar sua música e Yoongi sentiu o coração acelerar dentro do peito, relendo mais uma vez o que a pessoa havia dito. A frase era perfeita, não tinha como não ser. Da mesma forma em que se sentiu extasiado por reler algo tão verdadeiro, se sentiu curioso em saber quem era a pessoa dona daquela mente tão aberta e sincera.
Pensou por mais alguns instantes e decidiu por deslizar seus dedos até o perfil da It’s me, e aos poucos, começou a ver sobre cada coisa em que ela tweetava. Não eram tantas, mas parecia que cada uma que ali estava, tinha um propósito. Resolveu abrir a foto do perfil, notando ali um rosto meio escondido e um sorriso contido nos lábios da mulher que estava de óculos escuros e um boné claro sobre os cabelos. Ela parecia tão… leve.
Yoongi balançou a cabeça. Não era possível que havia ficado curioso assim, por uma pessoa tão aleatória, ainda mais sendo uma que havia comentado em sua publicação.
Mas, ele queria muito comentar sua frase, queria concordar com o que ela estava dizendo e desejar forças para ela da mesma forma em que ela fez com ele naquele tweet.
Só que não poderia fazer isso da sua conta oficial. Não mesmo.
O que poderia fazer então?
Passou a mão livre pelo cabelo, ansioso e algo brilhou em sua mente. Ele poderia muito bem criar um perfil anônimo, ninguém saberia que seria ele e assim, poderia responder ao tweet que tanto lhe chamou a atenção.
Não demorou muito para que Yoongi já estivesse criando sua conta e fazendo algumas alterações nela, inclusive seguindo algumas pessoas para que aquilo não ficasse tão estranho.
Ele queria rir do que estava fazendo. Nunca imaginou que chegaria àquele ponto só para falar com alguém que o intrigou, mas até que estava ocupando seu tempo, afinal de contas.
Colocou a foto de um gatinho, até gostava e inventou um nickname para que não desse a entender que era ele. Agora, naquele perfil, ele seria Agus Mingi. Estranho? Sim. Ridículo? Com toda certeza, mas ele não havia conseguido pensar em mais nada que não fosse tão óbvio.
Rapidamente já estava tudo pronto. Agus Mingi já estava com alguns seguidores, já até tinha tuitado algumas coisas e com isso, resolveu responder o comentário que a It’s me, havia feito em sua publicação oficial no Twitter.
Não pensou duas vezes e, quando foi ver, já tinha completado mais uma parte da música a partir da resposta que ela havia dado na publicação. Antes de enviar, releu tudo novamente, deslizando o dedo até o botão reply para respondê-la.

It’s me, @ · 1h18
Suga, meomchwoitjiman eodume sumji ma! Bicheun tto tteooreunikkan. 🙌
(Suga, fique firme, mas não se esconda no escuro. A luz aparecerá novamente 🙌)
Replying to @
Kkeuchi boiji ana, chulguga itgin halkka?
(Não consigo enxergar o fim, há alguma saída?)

É claro que aquilo estava sendo loucura. Nunca se imaginaria fazendo algo daquele tipo, mas ele havia ficado tão intrigado com a resposta que ela havia dado, sem contar que aquilo havia continuado sua composição.
Era incrível do seu ponto de vista.
Não demorou muito para que a tivesse o respondido e, como uma criança, Yoongi quase deu um pulo no sofá ao ver seu display brilhando com a resposta dela. havia dito que daria uma bela música e essa havia sido a deixa para que Yoongi a chamasse pela dm.

“Se eu te falar que estou compondo uma música basicamente sobre nossos sentimentos durante a pandemia e que sua frase me inspirou a continuar, você acreditaria?”
“Desculpe incomodar.”


Yoongi fechou os olhos rapidamente se sentindo tolo por ter falado daquela forma, tão direto e com tantas palavras. Será que ela responderia? Será que ela, ao menos, veria aquilo?
Resolveu desligar o display do celular, como se fingisse não se importar com algum retorno dela, mas assim que a tela brilhou novamente, não pensou duas vezes em pegar o aparelho.
Ao passar seus olhos pela tela, deixou um pequeno sorriso se formar no canto dos lábios. A resposta era até melhor do que ele imaginava.

“É mesmo? Se sinta livre para usá-la para completar sua canção. E quando estiver pronta, gostaria de ouvi-la! 😊”


E aquele foi o começo de tudo o que Yoongi havia pensado e imaginado. Passaram a maior parte daquela tarde conversando sobre, no começo, a ideia da música e sobre o que ele já tinha pronto, omitindo a parte que tinha postado no outro twitter. Depois disso, o assunto foi fluindo de forma que ele não imaginava. Não sabia que conversariam tão fluidamente, mas descobriu que tinha uma mente maravilhosa e suas ideias eram tão incríveis quanto as dele. Era uma pessoa encantadora.
Aquilo foi acontecendo dia após dia. Suga nunca teve problemas em terminar alguma composição, nem mesmo demorava tanto para fazer aquilo, mas de certa forma se sentia tão confortável ao conversar com ela, sentia como se não tivesse pressa em terminar aquela canção. Descobriu que o nome dela era , que também morava em Seul em um bairro bem mais afastado que o seu e que trabalhava em uma escola de dança, mas estava afastada por conta da mesma estar fechada. A cada dia que passava, ia descobrindo algo sobre a mulher, mas começava a se incomodar ao notar que quanto mais ele sabia dela, mais ela queria saber dele também. Não se incomodava com o fato de dizer a ela quem ele era, mas de como seria a reação da mulher ao descobrir que ele era, na verdade, Min Yoongi, o Suga do BTS. De como ela reagiria ao ver que ele escondeu isso todo esse tempo.
Respirou fundo e tentou dispersar um pouco os pensamentos ruins naquele momento e, enquanto esperava a resposta de sobre a opinião de um trecho final para Life Goes On, bebericou um pouco mais do seu café recém feito naquela manhã nublada e se guiou para o quarto, se acomodando em sua cama ao lado do notebook. Descansou o braço com cuidado em cima de um travesseiro macio e pegou o celular com a outra mão, notando o display com mensagens da mulher.

“E se você acrescentar alguma coisa sobre mesmo algo estar ruim, tudo irá voltar a ser bom novamente?”
“Basicamente… Like na echo in the forest, haruga doraogetji”
“Você pode misturar os idiomas como em um dos versos anteriores. Ficaria interessante”
“Ah, eu já estou tão animada para ouvir. Você pretende publicar em algum lugar? Tenho certeza que as pessoas vão adorar ouvir esse conforto.”


Yoongi piscou algumas vezes lendo e relendo o que ela havia dito e sentiu seu coração acelerar por alguns segundos. Como alguém poderia ter o coração tão bom e prestativo em meio a tudo o que estava acontecendo ainda? parecia ser tão pura e tão calma. Ele ainda não conseguia entender.
Mordiscou o lábio inferior e releu a frase em que ela havia dado a ideia, passando para o bloco de notas em seguida. Precisava admitir que a mulher estava o ajudando bastante e tinha que colocar seu crédito naquela música, mas ainda não fazia ideia de como. Pensaria naquilo mais tarde, com certeza.
Assim que terminou de rever tudo o que tinha em mãos, pegou seu celular novamente, abrindo a conversa com ela.

“Eu agradeço muito por você estar me ajudando.”
“O que acha de, logo depois dessa linha, acrescentarmos Amu ildo eopdan deusi… Yeah, life goes on?”
“Acho que funcionaria como um incentivo para todas as pessoas. Eu sei que nada vai ser como antes, mas nossas vidas continuam.”
“Ainda não tenho uma previsão para publicá-la, mas pode ter certeza que assim que eu o fizer, você vai saber.


E rapidamente a mensagem de Yoongi já estava sendo visualizada.

“Eu gostei dessa continuação. E não precisa me agradecer, estou gostando de ajudar você.”
“Agora você poderia repetir novamente o verso em que menciona Like an arrow in the blue sky, tto haru deo naragaji… O que acha?”
“Gosto da forma em que você pensa. Eu sei que essa música vai alcançar muitas pessoas ainda.”
“Ah, bom… Pelo menos saberei que é sua 😉”


O rapaz encostou o corpo no travesseiro, sentindo o mesmo pesar por alguns instantes. Por que parecia que aquilo estava ficando mais evidente em sua mente? O peso do que estava fazendo pairava sobre si levemente e aquilo não era bom. Claro que ele não estava fazendo por maldade, mas ela simplesmente não podia saber quem ele era… Por mais que Yoongi estivesse adorando conversar com ela todos os dias, que estivesse se sentindo bem por conhecer outra pessoa que não fosse do seu ramo, tanto coisa poderia acontecer se ela soubesse sua verdadeira identidade. Ele não sabia qual decisão tomar.
E com isso, pegou o aparelho novamente, sentindo o coração comprimir. Ele a responderia sim, mas pela última vez naquele celular.


***


As semanas seguintes foram tão corridas que mesmo Yoongi estando com seu braço machucado e em recuperação, não parava dentro do apartamento como antes. Desde que Life Goes On, título dado por em uma das conversas que eles tinham tido antes, foi apresentada aos seus seis amigos em uma reunião feita por chamada de vídeo, todos haviam topado na hora ao ver em como a letra da música era forte e em como aquilo ajudaria milhares de pessoas ao redor do mundo. Acreditavam fielmente que poderiam fazer aquilo.
Desde então, a rotina dos sete amigos estava resumida em se reunirem na empresa na maioria das tardes, nas gravações no estúdio cansativas e esforçadas e na agenda que começava a estar lotada mesmo sem a música ainda estar lançada. A verdade era que Yoongi não sabia ao certo o que sentir no meio de toda aquela situação. Ele percebia que estava acontecendo como ele queria, mas por que parecia que estava faltando algo? Não se sentia cem por cento bem daquela forma.
E é claro que ele sabia o motivo de toda aquela sensação. Não falava com por quase duas semanas. Não porque não queria, mas não tinha tempo em parar para ficar no celular se ele podia estar resolvendo as últimas pendências da música que eles compuseram basicamente, juntos.
Suga se sentia péssimo por aquilo. Se sentia horrível por não dar explicações e ainda mais de pensar que ela poderia imaginar que ele a havia usado apenas para ter ajuda na música. É claro que ele não havia feito aqui, era só que… Não sabia nem explicar em como era complicado.
Queria muito dizer a ela quem ele era, dizer sobre sua vida, contar sobre como tinha sido na empresa, em uma das entrevistas e até mesmo se estava se recuperando bem, mas ele não podia. Não daquele jeito, não depois de tudo aquilo.
Era impossível não ter aqueles pensamentos ruins martelando sua mente praticamente o tempo todo e com isso a única coisa que conseguiu fazer foi se levantar, preparado para uma das últimas gravações de Life Goes On.


***


estava pensativa naquele fim de tarde chuvoso. Não que ela não gostasse, mas ultimamente os dias estavam assim, nublados e tristes. Não podia reclamar, longe disso, mas se sentia tão vazia. Tão… Só.
Segurou a xícara com o café recém feito em suas mãos e se permitiu respirar fundo, ajeitando o corpo na poltrona macia e quentinha de sua sala.
Ela não tinha o costume de estar sempre com o celular em mãos, afinal, não tinha motivo para isso, mas daquela vez era diferente.
E tão rápido havia acontecido, também havia desaparecido e isso a deixava com uma interrogação em mente.
Havia conhecido o rapaz cujo nome era Agus Mingi. Ela sabia que aquele provavelmente seria um codinome, mas não se importou, já que logo teve assunto e, com isso, se deixou levar pela facilidade em que eles conseguiam conversar.
Ela precisava admitir que era um pouco estranho, sim, mas que mal teria naquele ponto? Ainda mais em uma pandemia? Ela precisava e achava até bom ter conhecido alguém diferente. Ele parecia ser uma pessoa correta, parecia ser centrado e até tentava ser um pouco engraçado. Não era de todo mal assim.
Só, havia algo estranho. Eles, há algumas semanas, conversavam todos os dias pelo Twitter, era certo receber um “bom dia” ou um “como está o seu dia?” nos fins de tarde e ela estava acostumada com Agus em sua nova rotina, mas ele havia sumido. Não a respondia mais e a última coisa que lhe mandou foi o final da música, que havia finalizado. Depois disso, mais nada. Não atualizava seu perfil, nem mesmo visualizava suas mensagens.
Ela não sabia o que pensar, muito menos se havia algum lugar para procurá-lo. Era uma pena, ela se sentia mal, mas não sabia o que fazer.
Passou uma das mãos pelo rosto, sentindo um leve ar gélido entrar pela fresta da janela e esticou a mão livre em direção à mesinha em frente a poltrona, que continha seu notebook. Ali, atualizou a página de notícias e deu um pequeno sorriso ao ver que um dos grupos que ela costumava ouvir havia lançado uma nova música, a mesma já estava quase nos trends e logo após teria uma pequena entrevista online com cada um deles.
Deu um último gole em seu café e abriu o link, percebendo que o mesmo era um lyric vídeo e, em poucos segundos, o mesmo já começava a tocar.
Percebeu o início ser leve, calmo. Transmitia a paz que ela precisava.

Eoneu nal sesangi meomchwosseo
(Um dia, o mundo parou)
Amureon yegodo hana eopsi
(Sem aviso)
Bomeun gidarimeul mollaseo
(A primavera não sabe como esperar)
Nunchi eopsi wabeoryeosseo
(Ela chegou sem sentido)
Baljagugi jiwojin geori
(Uma rua com pegadas apagadas)
Yeogi neomeojyeoinneun na
(Estou caindo aqui)
Honja gane sigani
(O tempo passa sozinho)
Mianhae maldo eopsi
(Desculpe. Sem dizer nada)


Aquele primeiro trecho a fez franzir o cenho. Não sabia explicar, mas se sentia conectada até demais com a letra e com o sentimento que a música transmitia. Era basicamente como se ela conhecesse, como se fosse feita para ela.
Passou novamente a mão livre pelo rosto, focando sua atenção totalmente na música que continuava, principalmente em cada palavra dela.
Aquilo era estranho demais.

Neul hadeon sijakgwa kkeut ‘annyeong’iran mallo
(“Oi” é a palavra “oi” do início e do fim)
Oneulgwa naeireul tto hamkke ieobojago
(Vamos continuar hoje e amanhã juntos novamente)
Meomchwoitjiman eodume sumji ma
(Fique firme, mas não se esconda no escuro)
Bicheun tto tteooreunikkan
(A luz aparecerá novamente)


Foi exatamente como se seu coração tivesse parado naquele instante. Aquela letra, aquela música… Ela havia escrito aquelas linhas, ela havia…
Deixou que uma das mãos fosse ao peito, sentindo um leve aperto, mas de emoção. Como aquilo poderia ser possível?
Ninguém sabia sobre, a não ser…
Deus! Não. Não era possível.
Continuou escutando a música, ainda sem acreditar no que estava acontecendo. Ela podia sentir seu corpo se arrepiar por completo, sentia cada palavra e cada batida daquela música tomar conta de cada pedacinho seu, exatamente como se aquele fosse o momento certo para ouvi-la.
Era surreal demais. Não dava para acreditar.
Naquele instante, a música quase estava chegando ao fim. Podia ouvir os acordes finais, a voz de cada um impregnava a sala vazia e escura pelo cair da noite.
Como aquilo podia estar acontecendo?
sentia seu peito inflar, como se seus olhos quase marejassem com tamanha emoção e ali, parada sozinha em sua sala iluminada apenas pela pequena luz do abajur, ela se permitiu sorrir de verdade.


***


Suga sentia que não conseguia controlar nenhuma parte de seu corpo pelo nervosismo e pela ansiedade. Life Goes On havia sido lançada e estava sendo o maior sucesso que poderia ser dentre os meses em que estavam passando, mas a única coisa que ele estava querendo fazer era correr para seu perfil anônimo e agradecer tanto à . Ela não fazia ideia. Havia decidido que tentaria conversar com ela e lhe mostrar quem ele realmente era, mesmo sendo aconselhado a não fazer isso pelos seus amigos e equipe, por conta de todo o receio e problemas que a situação poderia lhe acarretar.
Ela havia sido a primeira pessoa que o entendeu, que pensou com a mesma mente que ele e que o impressionou sem nem mesmo conhecer pessoalmente.
havia o ajudado a compor a música que ele tanto queria, a música que tinha a importância e o sentimento de conforto que ele queria passar para todos. Como podia deixá-la de canto como havia feito?
Deixou que a mão livre ajeitasse os cabelos pela milésima vez antes de começar aquela entrevista, do sofá de sua casa. Precisava confessar que não sabia o que esperar, mas até estava um pouco calmo. Tudo acabaria logo.

Alguns minutos depois…


Todos os sete já estavam em suas devidas janelas pela câmera do computador e contemplavam sorrisos confiantes estampados no rosto. Yoongi era o único que permanecia sério, sem saber ao certo como reagir. O entrevistador fazia algumas perguntas e, aleatoriamente, seus amigos iam respondendo na medida em que se sentiam confortáveis para responder.
Percebeu que milhares de pessoas o assistiam naquele momento e por um instante se perguntou se ela estaria o vendo também e, talvez, será que ela já fazia ideia de quem ele era?
Deixou um pequeno sorriso escapar com esses pensamentos.
Ele esperava muito que ela o perdoasse por tudo aqui. Nunca havia sido sua intenção esquecê-la assim.
Já havia se passado um bom tempo desde que a entrevista havia começado e eles tinham falado praticamente sobre tudo o que envolvia a música e sobre como estavam passando a pandemia naqueles meses.
— Eu tenho uma pergunta que não quer calar. Não é só minha, muitos dos seus fãs gostariam de saber o mesmo. — o entrevistador começou, sorrindo para todos. Namjoon assentiu, o incentivando a perguntar. — Life Goes On surgiu de uma ideia em comum ou algum de vocês em particular pensou sobre ela?
— O crédito é todo do Yoongi. Ele nos apresentou a música praticamente completa, não alteramos nada, no final das contas. Eu achei incrível como nosso hyung conseguiu transmitir o que realmente estamos sentindo nesses últimos tempos. — dessa vez, Taehyung se pronunciou, olhando o amigo pela câmera. — Não é, Suga?
O rapaz ponderou um pouco, passando a língua pela parte interior dos lábios e sorriu de canto, balançando a cabeça.
— Na verdade, eu não a compus sozinho. Eu tive uma ajuda muito especial nesse último mês e foi o que mais me incentivou a olhar para toda essa situação de uma forma diferente. Eu não posso falar muita coisa além disso, mas espero que essa pessoa saiba o quanto me ajudou. — levantou a mão, piscando.
Ele sabia que aquilo havia sido o ápice para que ele levasse um sermão no dia seguinte pela empresa e principalmente pelo líder, mas ele não se importava. Não queria saber. Pela primeira vez naquele dia, sentiu seu corpo aliviar porque sabia que havia feito o certo e esperava que ela entendesse.
Depois de mais algumas perguntas e respostas, o BTS estava encerrando mais uma entrevista um tanto quanto especial para todos eles e com o sentimento de que o que desejavam estava dando certo. Yoongi quem diria.
Ele queria sorrir, pular de alegria, mas ainda não tinha acabado.
Não.
Precisava fazer uma última coisa.
Assim que encerrou a chamada de vídeo e trocou as últimas palavras com seus amigos, respirou e expirou alguns segundos antes de fazer o que ele realmente havia decidido.
Com a mão um pouco trêmula, abriu o aplicativo do Twitter e seguiu direto para sua conta anônima, indo direto para a última conversa que teve com . Ao clicar, sentiu o coração se desmanchar dentro do peito ao ver o tanto de mensagens que ali havia deixado para ele. Todas em tons preocupados e com perguntas sem respostas sobre para onde ele havia ido.
Droga, se sentia tolo demais. Não queria perder a amizade de , não queria ter feito aquilo daquela forma.
Olhou as horas no celular e decidiu que faria o certo mais uma vez. Pelo menos achava que iria tentar.
Clicou no ícone de chamada de vídeo, fazendo assim com que a tela com a câmera apontada para seu rosto aparecesse e mostrasse que estava aguardando o outro usuário atender. Demorou bastante até o último toque e a tela sumiu novamente.
Começava a se sentir impaciente, aquilo era sinal de que ela não iria atender e ele não queria mesmo que aquilo acontecesse.
Quase tentou mais uma vez, mas não queria parecer tão desesperado daquela forma, então optou por mandar uma mensagem.

“Eu sei que não devia ter feito isso e que fui um tolo em sumir sem dar explicações, mas precisava fazer da forma certa e queria muito te agradecer.”
“Por favor.”


Era óbvio que ela devia estar chateada com ele e mais óbvio ainda que não falaria com ele nem se implorasse. Ele sentia todo o arrependimento tomar conta de si e torcia muito para ter alguma forma de voltar no tempo, mas ao ver as duas mensagens que enviou serem visualizadas, quase pulou no lugar em que estava. Isso significava que ela pelo menos poderia saber o que tinha acontecido.
Yoongi iria começar a digitar sua explicação, mas o sumir do teclado digital dando lugar a câmera da vídeo chamada quase fez seu coração parar. Ela estava ligando para ele de volta.
Ele iria vê-la. Ela iria vê-lo.
Caramba!
Se ajeitou rapidamente de forma desengonçada e respirou fundo por, no mínimo, três vezes antes de atender a chamada que ainda piscava na tela.
De primeira, Suga sentiu o corpo paralisar, não só por ela tê-lo atendido, mas por sentir que a conexão não havia sido só por mensagem. Era real.
não sabia o que dizer, muito menos se conseguiria dizer algo. Ela mal estava acreditando que aquilo estava acontecendo e que ela estava em uma vídeo chamada com Min Yoongi, do BTS. É claro que ela não conhecia muito bem sobre o grupo, mas sabia perfeitamente quem era ele e ainda não acreditava que estava parada, o encarando pelo celular.
É você.
disse, observando um pequeno sorriso surgir nos lábios do rapaz. Ele balançou a cabeça assentindo e disse o mesmo que ela.
— É você.
Toda aquela cena era indescritível para os dois, até mesmo o sentimento que cada um ali sentia no momento. Suga não queria perder o que tinha construído com , e ela não queria que ele tivesse sumido daquele jeito, mesmo sem saber que ele era… Ele. Os dois não queriam que aquilo estivesse acontecido daquela forma.
— Eu sei que tenho muito a explicar, a começar pelo motivo de ter te chamado em anônimo. E eu sei também que talvez você nem queira me ouvir, afinal… Eu sumi de vez, sem te falar nada e você me ajudou muito com tudo. Inclusive, eu preciso te explicar também em relação aos créditos… — Yoongi dizia agitado, tentando falar tudo de uma vez e a única reação que conseguiu arrancar de foi uma risadinha nasalada, gostosa.
O rapaz parou no mesmo instante em que a ouviu.
Ei, está tudo bem. Respire. — ela levantou a mão para a tela, dando a entender que era para ele se acalmar. — Eu sei que você teve seus motivos e que não faria isso sem eles. Não precisa falar tudo de vez assim, acho que… Bom, agora podemos conversar com mais calma. O que me diz?
Suga soltou todo o ar que segurava, ainda a olhando pelo celular. Ela estava o dando uma chance para se redimir, era isso? Ele esperava muito que sim. Balançou sua cabeça, concordando com o que ela havia dito e continuou com os olhos vidrados no celular antes de continuar.
— Seria muito bom, e… Fico feliz que nada tenha mudado entre nós, apesar de tudo. — Yoongi mencionou, de forma sincera, observando em como ela o olhava com admiração. E não era como se fosse apenas a admiração, era como se o olhasse de verdade. não olhava o Suga, e sim o Min Yoongi.
Olhava para seu verdadeiro eu.
E com um sorriso que aqueceu o coração de Yoongi em poucos segundos, só conseguiu concordar, percebendo que mesmo em uma situação tão difícil como a que estavam passando, ainda conseguia achar um coração bom, sincero e puro.
Ainda assim se podia conhecer alguém que tranquilizasse em meio a tempestade.
— Eu também, Yoongi. Eu também.

Yeah, life goes on
(Sim, a vida continua)
Like this again
(Assim de novo)


FIM



Nota da autora: Sem nota.





Outras Fanfics:
Em Andamento:
Locus Quattuor [KPOP — BTS — Collab]
Surrender to You [KPOP — BTS]
West Coast [Originais — Em Andamento]
Yeontan's Fault [KPOP — BTS]
Finalizadas:
Our Christmas Miracle [Spin-Off West Coast]
Bookmarked [KPOP — BTS]
Slow Down [Restritas — KPOP — BTS]
We Found Us [KPOP — BTS]
Translation Of Love [KPOP — BTS]
Match Point [Restritas — KPOP — BTS]
Buzzer Beater [KPOP — ASTRO]



QUER FAZER UMA AUTORA FELIZ? DEIXE SEU COMENTÁRIO AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus