Atualização: 16/01/2018

BUT IN MY MIND I AM MILES AND MILES AWAY

“...A sua vida é muito complicada pra mim. Não acho que isso vai dar certo”
Era isso. Finalmente minha vida tinha chego ao fundo do poço emocional, só pra combinar com a aparência decadente que eu vinha ostentando nos últimos dias.
Suspirei fundo enquanto as palavras de ressoavam na minha mente sem parar, como a droga de um disco ruim arranhado. A cada vez que eu relembrava a expressão de desconforto em seu rosto ao terminar comigo, um bolo de irritação e angústia se formava ao pé do meu estômago e o pior é que eu não poderia o culpar… A minha vida realmente era complicada demais. E eu era a única que deveria ser punida por isso, porque era o que eu queria e busquei desde cedo.
Aos 16 anos eu sonhava que o mundo reconhecesse o meu rosto. Aos 22 eu só desejava que meus términos amorosos não fossem manchetes sensacionalistas do Perez Hilton. Só queria poder ir ao mercado de moletom, enrolada num cobertor para comprar mistura pra fazer margarita com tequila barata e passar o dia todo sentindo pena de mim mesma enquanto assisto comédia romântica ruim na televisão.
Eu tinha tudo na minha vida, eu sabia disso. Tentei fazer a checklist de coisas que eu tinha conquistado em tão pouca idade: protagonista de uma série de filmes infanto juvenil extremamente bem sucedido aos 16 anos. Protagonista de filmes cults vencedores do Cannes e outros prêmios indies. Minha própria casa em Beverly Hills com minha coleção de carros antigos… Kylie Jenner poderia me ver como concorrente.
Entretanto nem isso me animava. Por mais bem sucedida profissionalmente que eu fosse, eu só queria um namorado que não acabasse espantado pelos milhares de paparazzis que me seguiam dia e noite. Talvez, levando isso em consideração, eu realmente tenha exigido muito de .
Me afundei no sofá, dando um gole da minha margarita, amarga demais para o meu gosto, e me permiti ter pena de mim mesma enquanto passava na tv algum programa sensacionalista, do tipo Ryan Seacrest, sobre meu breve relacionamento com o engenheiro.
Tudo começou quando eu decidi que estava me identificando mais do que gostaria com a Britney Spears versão 2007, e precisava tirar um tempo para mim antes de atacar algum paparazzi com meu guarda chuva. Então, ao invés de surtar de vez e raspar a cabeça, entrei em um avião para São Francisco, fugindo de Los Angeles, de Cassie e das gravações do filme que eu protagonizaria.
Eu entendo que de todas as minhas atitudes mais impensadas, essa fora a mais irresponsável e imprudente, entretanto existe um momento em que o seu corpo e sua mente pedem por um descanso, e esse descanso era no grande apartamento da Allen Street, onde eu passei a maior parte da minha infância.
Conheci no dia seguinte à minha chegada. Decidi que o dia estava bonito demais para não sair passeando com o demônio que eu chamo de cachorro pelas ruas de São Francisco, e definitivamente subestimei a força do Golden Retriever ao chegar no parque da Hyde Street. Olhando em retrocesso, se eu tivesse segurado a guia com mais força, Bartholomeu não teria saído correndo, derrubando o homem forte de olhos doces que, por alguma mágica do destino, não sabia quem eu era.
era bom demais para ser verdade. Era raro eu esbarrar em alguém que não reconhecesse imediatamente meu rosto, e foi isso que me motivou a iniciar uma conversa com ele. Rapidamente descobri o básico: 28 anos, engenheiro de tráfego aéreo, voltou para São Francisco recentemente após um intercâmbio fora do país, solteiro. Passamos a manhã no parque, rindo como se já nos conhecêssemos há anos, e após voltar para casa depois de ter lhe passado meu telefone - ele estranhou de verdade quando eu disse que não tinha redes sociais -, decidi que o homem era alguém que eu queria por perto.
O anonimato porém, durou pouco. Dois dias para ser exata.
Decidimos sair para jantar, e eu já deveria imaginar que não ia ser uma noite tranquila ao notar a van preta parada na rua da casa dos meus pais.
A expressão confusa de ao me pararem e pedirem um autógrafo fora o suficiente para eu ter que explicar a minha vida toda.
“Uau, você é tipo… uma superestrela? Ok.” Foi a única coisa que ele disse antes de dar de ombros, e então voltou a conversar comigo como se nada tivesse acontecido. Eu nunca me sentira tão grata na vida por alguém ignorar completamente o que eu era. Naquela noite nós nos beijamos pela primeira vez.

“— Eu adorei de verdade essa noite. - Comentei tranquilamente enquanto andávamos pela praia após jantarmos. Segurava meus sapatos na mão, sentindo meu pé afundar na areia fina. O som das ondas batendo na orla me inundava de paz e a presença de ao meu lado me enchia com um calor morno apesar da brisa fria da noite. - Eu sei que é meio difícil entender, mas faz tanto tempo em que eu não me sinto normal, e hoje eu me senti como se eu fosse apenas uma garota, aproveitando um encontro maravilhoso com um cara extremamente gato…
De canto de olho o vi retribuindo meu sorriso, coçando a nuca envergonhado. Poderia jurar que o vi corar sob a luz da lua. Deus, eu estava completamente atraída por um homem que eu conhecia há apenas dois dias. Era patético e assustador, mas ele ao meu lado fazia tudo parecer simples.
— Eu fico feliz em saber que gostou. - Sorriu singelo, fazendo meu estômago gelar quando ele encarou meus olhos. - Pensei que seria mais difícil impressionar uma estrela de cinema. - Ri envergonhada.
— Na verdade eu sou uma pessoa com gostos simples. - Dei de ombros me sentando numa pedra à beira do mar e o encarando à minha frente. Ele me olhou, me incentivando a continuar. - Entre as minhas coisas favoritas do mundo estão: Séries dramáticas - fui enumerando com os dedos -, comédias românticas dos anos 90, sorvete de chiclete, Big Mac, praia e primeiros beijos.
— Primeiros beijos? - Ele me olhou surpreso, sentando-se ao meu lado. - Eu odiei o meu primeiro beijo. Como isso pode estar entre as suas coisas favoritas?
— Não é o meu primeiro beijo da vida. - Sorri encarando seus olhos, perfeitamente azuis, mais escuros por conta da meia luz da noite. - E sim a sensação que vem antes de um primeiro beijo com alguém, sabe? O coração acelerado, a expectativa de como será, o frio na barriga conforme os rostos se aproximam… - Meu corpo automaticamente se aproximou do dele e, para a minha felicidade, seus olhos corriam entre os meus próprios e meus lábios. Sua boca estava entreaberta e eu pude sentir seu hálito quente bater em minha bochecha. - O medo de não saber como a pessoa irá reagir, mas ao mesmo tempo saber que precisa urgentemente tentar… Entende?
O espaço entre a gente era quase nulo e sua mão havia descoberto o caminho até a minha cintura. Mordi o lábio inferior, o que pareceu captar sua atenção.
— Uhum. - Ele murmurou antes de finalmente selar nossos lábios num beijo calmo e simples. Sua boca macia moldava a minha com uma delicadeza quase cruel para a minha vontade de aprofundar o ato, mas ao invés disso, apenas levei uma de minhas mãos até seu pescoço, repousando-a lá enquanto acariciava carinhosamente o local com o meu polegar.
Eu estava vendo estrelas, e não tinha nada a ver com as explosões de hidrogênio que se encontravam no céu naquele momento.”

Franzi os lábios, ranzinza, quando a foto do nosso primeiro encontro - tirada por um paparazzi escondido na praia - apareceu na televisão. Eu precisava urgentemente parar de me torturar com aquilo, mas ao mesmo tempo minha atenção era capturada para o programa como se eu estivesse sob efeito de uma hipnose. Os comentaristas especulavam sobre como nós havíamos nos conhecido, quem ele era (obviamente sabiam muito mais sobre Caleb do que eu considerava saudável), como nosso relacionamento havia ido de flores à dores em apenas um mês.
Embora 90% do que eles falavam passava longe da verdade, a sensação que eu tinha era de que eles pareciam saber e entender mais do que eu passei naquele relacionamento do que eu mesma. Obviamente era mentira, só eu e sabíamos a intensidade que havia sido aquele mês, e só eu sabia o que senti quando vi tudo desmoronar.
Levantei e fui até a cozinha, esperando que minha assistente tivesse reabastecido minha geladeira antes de eu voltar de viagem. Para a minha alegria, o eletrodoméstico estava repleto de comida. Peguei um pote de sorvete e voltei para o quarto. Graças ao meu aquecedor, o ambiente estava confortável e aconchegante, entretanto era um dos raros dias em que fazia frio em Los Angeles, e ao olhar pela janela e encarar o céu cinza, não pude evitar em sentir saudades de São Francisco. Na minha mente eu estava à quase quatrocentas milhas de distância de Beverly Hills. Mais especificamente na cama de .

“Havíamos passado o dia todo andando de patins no Dolores Park. Minhas panturrilhas queimavam pelo esforço físico inesperado, entretanto não neguei o convite para uma festa de uns amigos de . Nós estávamos nos vendo quase diariamente faziam um pouco mais de duas semanas e eu tinha plena consciência de que tudo estava indo muito rápido, porém eu não conseguia me distanciar da sensação de paz de espírito que ficar junto dele me trazia.
Durante as duas semanas, ele já havia se desentendido com alguns paparazzis, porém nada muito difícil de lidar, sempre perguntavam se estávamos juntos, quem ele era e há quanto tempo estávamos nos vendo. Era mais fácil ignorar e os deixarem especular sobre nossas vidas.
Naquela noite descíamos a rua conversando trivialidades, ele comentou sobre os amigos que eu estava indo conhecer, me contou sobre como eram os amigos desde a faculdade; como eles nunca perderam o contato mesmo quando suas profissões os mandaram para diferentes lugares do planeta. Eu gostava de ver a animação dele em me falar sobre as pessoas em sua vida, e gostei mais ainda quando ele automaticamente tomou minha mão na sua como se isso fosse um hábito natural.
Caminhamos o restante do trajeto de mãos dadas, e de mãos dadas ele bateu na porta vermelha.
Fomos recebidos por uma loira alegre. Eu estava parcialmente escondida atrás de , então a mulher só me viu quando se inclinou para dar um abraço apertado no homem. Sua expressão demonstrava choque - o que ela tentou admiravelmente esconder - e qualquer coisa que estivesse falando para o homem fora cortada no meio.
, você trouxe como o seu plus one. - Eu consegui a ouvir sussurrando audivelmente no ouvido do amigo. Sorri constrangida.
— Prazer. - Estendi a mão. -
— Ah eu sei! - Ela deu um risinho nervoso e logo tratou de balançar a cabeça, aparentemente tentando ficar tranquila. - Quer dizer - risos constrangidos -, Kathryn Hobbes. - Kathryn aceitou minha mão e a balançou levemente. - Pode me chamar de Kitty. - E então virou-se novamente para : - Graham está impossível lá dentro, vamos entrar?

— Então, . - Um rapaz chamou nossa atenção do outro lado da sala. O reconheci como Graham. - Você traz uma estrela de cinema para a nossa pequena soirée e nem pensa em contar como esse milagre aconteceu? - O loiro deu um gole em sua cerveja e eu consegui ver ficar vermelho.
— Não leve a mal, . - Kitty riu, já visivelmente alterada enquanto sorvia pequenos goles de sua taça de vinho. - É que é basicamente impossível conhecer alguma namorada de , então quando ele aparece aqui com uma garota todo mundo pergunta.
Namorada. Eu não pude deixar de sentir meu estômago revirar ansioso ao ouvir aquela palavra.
— Mas nesse caso, não é qualquer garota, Kitty! - Graham riu, e ao meu lado, Caleb encolhia-se na poltrona da sala. - É ! - O homem me olhou sorrindo brincalhão. - Ei, você não tá naquele filme do Aronofsky?
— Qual dos? - Respondi tentando esconder minha vergonha no gole de vinho. - Eu fiz alguns dele.
Aquilo pareceu ser o suficiente para o homem, que deixou o assunto de lado por um tempo. suspirou aliviado, segurou a minha mão com um pouco mais de força e sorriu para mim.
— Quer dançar? - Perguntei para ele. Angels do The XX tocava na casa. Possivelmente não era a melhor música para isso, mas a necessidade de fazê-lo se sentir bem foi maior do que a razão. Ele assentiu com a cabeça, e nos juntamos ao grupinho que dançava no canto da sala e rodava um baseado entre eles.
Naquele momento, dançando minha música favorita, com um cara lindo ao meu lado e pessoas que não se importavam muito com quantos milhões foram ver a estreia do meu último filme, eu me senti feliz”

O programa entrou no intervalo, mas não antes de prometerem um dossiê completo sobre - o homem que partiu o coração de . - Suspirei fundo e chequei o telefone.
Algumas chamadas perdidas da minha mãe, outras de Cassie - minha agente. Ambas igualmente preocupadas comigo, porém Cassandra deveria estar preocupada também com o meu contrato. Já estava em Los Angeles fazia uma semana, e não dei nenhum tipo de satisfação para a produção do filme. Eu sabia que as gravações estavam congeladas pela falta da protagonista, mas não conseguia ter forças para ir ao estúdio e gravar. As cobertas e a minha cama me puxavam sempre que eu tentava sair.
Ouvi passos na cozinha e na sala. Estranhei, porém não me levantei. Obviamente era alguém que tinha a chave de casa, o que reduzia a apenas uma pessoa: Cassie.
— Você precisa levantar dessa cama e fazer algo produtivo com a sua vida, . - A morena alta e elegante que era minha agente apareceu na porta do meu quarto. Cassandra olhou ao redor com o cenho franzido, identificando os danos, depois olhou para mim, encolhida no meio da minha cama, enrolada em três cobertores. Ela suspirou e sentou-se ao meu lado. - Não dá pra ficar assim o tempo todo.
— Você devia ver esse programa. - Falei, ignorando-a. - Eles falaram que eu seduzi na praia e nós fomos flagrados por policiais em meio à “atos obscenos”. - Ri, achando engraçado de verdade. corava só de me beijar, imagina se ele teria coragem de fazer “atos obscenos” em lugar público.
— Eu não acredito que você tá assistindo esse lixo, . - Cassie me encarou horrorizada antes de levantar e tirar a televisão da tomada.
— EI! - Reclamei só pelo hábito, pois não me importava muito com o programa, só não tinha forças para mudar de canal, ou desligar a tv eu mesma. - Eu tava assistindo.
— Eu não vou mais enrolar a produção do filme para você curtir a sua fossa! - Cassie cruzou os braços no peito, e eu soube que a paciência dela já estava no limite. Não deveria ser muito fácil ser responsável por mim. - Anda. Vai tomar um banho e se arrumar, vamos almoçar, ir ao estúdio e colocar sua vida de volta nos trilhos. E no meio tempo vamos ligar para a sua mãe e você vai falar com ela, porque Christy tá preocupada e já tá me ligando perguntando sobre você.
Suspirei, disposta a ignorar tudo o que Cassandra me mandou fazer, mas a morena não me deixou. Ela se aproximou em fúria, tirou minhas cobertas de cima de mim, abriu a janela e jogou o script do filme na cama. A encarei com dor nos olhos, entretanto ela não se abalou. Depois de alguns segundos notei que ela realmente não sairia do meu quarto até eu levantar, então suspirei e fiz o que ela queria.
Entrei no chuveiro ainda pensando em .

“— Desculpa pelo Graham. - Ele falou envergonhado quando entramos em seu carro. - Ele fica um pouco irritante quando bebe. - Neguei com a cabeça, sorrindo. A noite não poderia ter sido melhor.
— Seus amigos são divertidos. - Falei aconchegando-me no banco do passageiro, sentindo o cheiro do couro e do perfume do homem invadir minhas narinas, preenchendo meus pulmões. - Você tem sorte de ter amigos como eles.
— Eles são os melhores amigos que eu poderia ter. - Sorriu e eu tive que conter o impulso de morder sua bochecha. - Acho que eles gostaram de você.
— Fico feliz em saber isso. - Sorri, sentindo meu interior se aquecer. Eu sabia que eu só queria que gostasse de mim, porém não pude deixar de me sentir feliz ao ver que as pessoas que ele considerava importante para ele também gostavam - Você tem que conhecer meus amigos, agora. Embora não sejam muitos.
Ele me olhou com a sobrancelha arqueada e eu soube o que ele estava pensando.
— Como assim você não tem muitos amigos? - Ele sorriu enquanto dirigia. - Você é boa demais para não estar cercada de pessoas.
— Ah, mas eu to sempre cercada de pessoas. - Dei de ombros, tirando o salto e massageando os pés. - O problema é que nem sempre as pessoas estão ao meu redor porque gostam de mim. A maioria delas só se aproxima porque vê que pode tirar alguma vantagem.
— Deve ser difícil viver assim. - Ele divagou olhando para a estrada. - Tentando o tempo inteiro reconhecer quem quer realmente o seu bem de quem quer algo de você.
— É solitário. - Suspirei concordando e encarando a lateral de seu rosto. - Mas com o tempo você se acostuma. Eu tenho meus pais, eles estão sempre lá pra mim. Minha agente, Cassie, também se tornou a minha melhor amiga. - Sorri, mordendo o lábio de leve. - E agora tenho você… - Pude ver um sorriso se formando em seus lábios. Ele olhou de canto de olho pra mim, mordendo o lábio inferior.
— Eu?
— Se você quiser, é claro. - Olhei envergonhada para o chão, encarando os dedos do meu pé. Mal percebi quando ele estacionou o carro na frente da casa dos meus pais. Só notei quando ele passou tempo demais quieto e o carro não andava mais. Coloquei os sapatos novamente e olhei pra ele.
— Eu quero. - E naquele momento eu pude jurar que meu coração deu um salto dentro do peito. O sorriso que eu dei foi de orelha à orelha. Ele queria fazer parte da minha vida.”

Fiquei quieta no carro de Cassandra enquanto ela dirigia pela Sunset Boulevard até estacionar em frente ao restaurante em que geralmente comíamos. Desci do carro lendo o script do filme, tentando não ficar completamente perdida quando voltasse para o estúdio. Alguns paparazzis se juntaram para tirar nossa foto, mas não liguei. Apenas segui Cassie e o maître até a nossa mesa.
— Então, acha que consegue falar tranquila com o Darren sobre voltar ao trabalho? - Cassie perguntou pegando o cardápio e observando as opções. Fazíamos isso pelo hábito, pois sempre acabávamos pedindo o mesmo. Fechei o script e coloquei de volta na minha bolsa, assentindo com a cabeça. - Ótimo, marquei uma reunião com eles em algumas horas. Podemos almoçar e depois comprar alguma coisa pra você desestressar.
desceu do carro tentando ignorar o paparazzi que o seguia já havia alguns dias. Eu sabia que aquilo estava começando a incomodá-lo mais do que ele gostaria, porém me recusava a enxergar o problema. Eu precisava acreditar que estava tudo bem.
Ele andou por um tempo em silêncio descendo a rua ao meu lado, fazendo com que o meu estômago se contraísse. Na frente do restaurante já tinha uma aglomeração de pessoas nos esperando. Meu coração disparou contra o meu peito. Como eles sabiam que a gente estaria lá?
— Isso já tá virando uma palhaçada. - O ouvi reclamar baixinho enquanto se apressava para entrar no restaurante. Abaixei minha cabeça e apertei levemente a sua mão. Eu entendia a irritação, eles haviam ficado bem mais insistentes.
— Você comentou algo sobre nossos planos pra alguém? - Perguntei assim que sentamos à nossa mesa. Logo deveria ter percebido o meu erro. Ele me olhou com uma expressão irritada e indignada.
— Você tá insinuando que é minha culpa esses abutres estarem em cima da gente 24 horas por dia?
— O que? - Respondi confusa, tentando entender como de repente ele estava bravo comigo. - Não! Por que eu faria isso?
— Não é minha culpa! - Eu sei, . - Não tenho culpa nenhuma se você não consegue viver longe dos holofotes!
Eu não entendia como de repente eu havia virado a culpada da história, mas a injustiça em suas palavras me fez ebulir em raiva. Como ele se atrevia?
— Você acha que eu quero isso? - Soltei em fúria. - Você acha mesmo que eu quero alguém na minha cola, registrando cada passo que eu dou? Você acha que eu gosto de ter a minha vida pessoal exposta como espetáculo público? Você só lidou com isso por 3 semanas. Eu lido com isso minha vida toda.
Aquilo foi o suficiente para ele ficar quieto. Afundei em minha cadeira tentando não chorar em frustração.”

Cassie tentava me animar enquanto andávamos pela rua, observando os turistas, parando de vez em quando para tirar uma foto ou outra. Meu estado de espírito estava extremamente desanimado, mas não conseguia negar quando alguém se aproximava. O que eu notei então, era grande parte da frustração de Caleb comigo. Nunca estávamos 100% sozinhos, sempre tinha alguém para atrapalhar.
Nós havíamos feito as pazes depois daquela briga, mas logo essa rotina de brigar e se reconciliar começou a ficar frequente. E eu pude prever o que aconteceria antes mesmo de acontecer.
Complicada demais. Não daria certo. Foi só uma frase, que fez com que o tempo de repente ficasse frio, e meu coração pesado. Embora não havia sido nenhuma surpresa.
Não conversamos mais depois do fim. Não houve mensagens bêbadas no meio da madrugada, não houve ligações arrependidas. Apenas o silêncio, e eventualmente minha reclusão. Até Cassie aparecer.
, eu sei o quanto você se envolveu com aquele homem. - Ela começou a falar num tom cauteloso, como se estivesse com medo de que a qualquer minuto eu fosse despedaçar. - Mas você tem muita gente aqui que acredita em você, e você é amada por todos eles. Não se esqueça.
Ela sorriu, acariciando levemente meu ombro e me deixando na porta do estúdio.

O dia passara rápido, embora eu soubesse que estava no automático. Todas as minhas interações com o elenco foram superficiais, não tinha energia para participar de conversas, apenas fui fazer o que tinha que fazer e evitar uma demissão que traria mais prejuízo para o estúdio do que para mim.
Cheguei em casa, sentindo-me exausta. Tudo o que eu queria era um banho e ficar deitada até amanhecer. Andei até o chuveiro, deixando minhas roupas pelos cantos com a intenção de ficar deitada na banheira por um bom tempo, ouvi o celular tocando enquanto andava, mas ignorei. Provavelmente era minha mãe, e eu ainda não estava em condições de conversar com ela.
Preparei meu banho e deitei dentro da água quente, encarando as bolhas de sabão até elas desaparecerem e minha pele enrugar. Quando a temperatura já não estava mais agradável, sai, me enrolando em uma toalha e indo para o quarto.
Sentei-me na cama, secando o cabelo com a toalha quando olhei para o celular jogado ao meu lado. Uma nova mensagem. Estranhei, pensando em quem poderia me deixar mensagem de voz, e disquei o número da caixa postal.

“Você tem uma nova mensagem.” Esperei enquanto a secretária eletrônica anunciava as opções para ouvir.
— Hm, Amora... - A voz masculina facilmente reconhecível começou a soar pelos meus ouvidos, e eu senti o coração disparar. Era a primeira vez em uma semana em que eu a ouvia, mas logo eu percebi como senti falta. - Eu sei que provavelmente eu deva ser a última pessoa que você quer ver na frente, mas eu precisava falar com você.
“Eu me arrependo do que eu disse, eu me arrependo de que a nossa última conversa tenha sido uma briga, ridícula por sinal, e me arrependo de te culpar pelos meus medos. Eu estava completamente envolvido por você, e a culpa é completamente minha. Minha porque eu tive medo.
- Silêncio. - Medo das coisas estarem indo rápido demais, e ver que elas estavam virando um entretenimento para quem quisesse ver. Mas isso não deveria me afastar.
Quando você me perguntou se eu queria fazer parte da sua vida, eu disse que queria. E eu ainda quero, porque honestamente, você é a pessoa mais incrível que eu tive o prazer de conhecer. E eu fui burro demais de fugir disso. Portanto, eu entendo se você não quiser mais que eu faça parte da sua vida, mas espero com muita vontade que você ainda queira.”

E então acabou. Soltei o ar que só então eu tinha percebido que estava segurando, e encarei a tela do celular, incrédula. Ele me queria de volta. Finalmente a mensagem que eu estava esperando havia dias estava aqui, e de repente eu me vi com medo.
O que aconteceria depois? Quem me garantiria que a gente poderia dar certo se já não tinha dado uma vez? Minha cabeça começou a entrar em combustão, com todas as incertezas que aquela mensagem trouxera consigo. Mas logo a voz da minha mãe invadiu meus pensamentos com algo que ela sempre me falava quando eu era invadida pela ansiedade e pelo medo.
Uma língua cheia de “amanhãs” nunca saciará sua sede pelo “hoje”. Não deveria me importar com o futuro porque ele era incerto, e só dependia de mim.
Tomando um fôlego, criei coragem e disquei o número de , sentindo o coração bater cada vez mais ansioso a cada toque da linha.
— Alô?
— O que você acha da gente viajar pra bem longe daqui?




FIM



Nota da autora: Olá amoras! Finalmente Miles Away ficou pronta e eu to extremamente feliz com isso HAHAH
O resultado não ficou exatamente como eu queria, porque a gente tem essa mania de começar milhares de fanfics e se enrola e quando vai terminar já nem lembra mais qual era a ideia inicial, mas eu estou satisfeita!
Espero que tenham gostado, qualquer erro de script, comentários ou críticas é só me avisar <3!


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