Capítulo único
Ah que tédio! Mais uma segunda feira, outro dia como todos os outros desde o dia em que eu concordei em vir ajudar meu pai na empresa da família. Que saco.
Meu nome é Pierre Bouvier e eu estou ajudando meu pai na empresa da família, a Bouvier Construction, meus irmãos Jay e Jonathan se dão super bem aqui, já eu? Sou um total perdido em tudo por aqui, então meus irmãos se aproveitam de mim, me mandando fazer todos os trabalhos que eles não querem fazer, como carregar entulho, mexer massa, carregar caixas e mais caixas, ou seja todo o trabalho braçal e pesado o Pierre é quem faz, ou seja me fodi.
Vejo tantos rostos aqui, não sei o nome da metade dos funcionários da empresa. Não sirvo para esse trabalho na empresa. Minha vontade é outra, quero trabalhar com música, escrever, tocar, cantar e, viajar o mundo. Mas, segundo meu pai e, meus irmãos é melhor eu parar de sonhar, e viver a realidade.
Então todo santo dia quando venho para a empresa com meu pai e meus irmãos escuto os três conversando no carro, sobre projetos de casas, prédios, falando sobre massa, cimento, madeira e fiação elétrica. E, eu estou longe daquele papo, me sentindo perdido, sem rumo e indo em uma direção na qual eu não estou feliz. Preso em uma rotina e em um trabalho no qual eu não me vejo para o resto da vida. Me sinto sufocado, como se minha alma tivesse sido arrancada de mim e agora eu precisasse procurar por ela nos achados e perdidos da vida, ou pelo caminho. Onde raios foi que eu me perdi? Por que mesmo eu aceitei esse trabalho que eu odeio? Ah sim, foi por que minha mãe me pediu e por que eu queria provar para meu pai que eu não era o inútil que ele dizia que eu era.
Agora estou eu, aqui, sentado em uma sala, tecnicamente a minha sala, se claro eu soubesse fazer toda a porcaria do trabalho administrativo que meu pai disse que eu faria, mas graças a meu irmão mais velho Jonathan, eu tinha que pegar no pesado primeiro para amaciar e só depois passar a fazer o trabalho leve. Babaca, o Jhon ainda ia me pagar por isso! Faltava meia hora para meu turno na empresa acabar, eu estava sentado na sala só ouvindo o tic tac do relógio e contando cada batida, o dia estava acabando... tic tac, mais dez minutos e logo eu estaria livre para fazer o que eu realmente amava. Iria sair correndo dali e ir direto para a garagem do Chuck, onde os caras me esperavam pra gente ensaiar as músicas que eu e o Chuck tínhamos escrito. LIBERDADE! Ah sexta-feira, como eu desejei esse dia.
Bati o ponto e voei. Finalmente mais um dia tinha acabado, mais um dia em preto e branco, mais um dia chato, entediante e infeliz. Pena que o final de semana acabava tão rápido. Ensaiamos todos os dias e eu até me esquecia da empresa, mas logo outra segunda feira chegava e era tudo a mesma porcaria de sempre.
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Um, dois, três, quatro, cinco, outra semana passando e eu aqui meio vivo, meio sobrevivendo a uma rotina que eu odeio e a um trabalho que eu detesto, Sinceramente? Eu estou ficando cansado disso tudo, estou cansado dessa porcaria toda, cansado de fingir para o meu pai que eu estou interessado em algo aqui, cansado de fingir para meus irmãos que eu estou satisfeito com todas as ordens que eles me dão e estou cansado de enganar minha mãe pra ela achar que eu levo jeito com o trabalho da família. Eu estou exausto, de saco cheio de fingir estar feliz. Não quero mais ter que vestir terno e gravata, eu odeio gravata.
Eu quero mesmo é poder vestir meus jeans, calçar meus tênis e tocar minha guitarra. Ensaiar as músicas até faltar voz e os dedos sangrarem pelo atrito nas cordas de aço. Eu quero poder viver meu sonho, lutar por ele, eu preciso viver as coisas que eu quero viver antes que eu morra. Será que é tão errado pensar assim? Eu cansei! Cansei dessa vida banal, desse emprego banal, de fazer tudo para agradar aos outros enquanto eu vivo infeliz.
Tinha que resolver isso, só tinha uma pessoa que me ajudaria e me apoiaria na minha decisão. Minha mãe.
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Cheguei em casa naquela sexta feira decidido, meu pai e irmãos ainda não estavam em casa então procurei por minha mãe onde sabia que ela estaria. Na cozinha.
- Mãe? Está aí? - Perguntei já sabendo a resposta.
- Pierre? Oi filho, chegou cedo. - Minha mãe estranhou de eu estar em casa antes de todos.
- Sim mãe, cheguei antes por que queria conversar um pouco só nós dois, sabe?
- Sei filho, o que te incomoda? - Minha mãe me conhecendo bem logo percebeu.
- Então, mãe...
- Ih Pierre, quando você começa a frase com: “Então, mãe” é por que lá vem bomba. Desembucha logo, menino. – É, pra minha mãe eu ainda tinha 15 anos mesmo já sendo adulto.
- Ok. Respirei fundo e soltei: Mãe eu não quero mais trabalhar na empresa com o papai e os meus irmãos, eu quero poder fazer outra coisa. - Minha mãe parou de secar o prato que estava na mão, me olhou e disse:
- Estava me perguntando quanto tempo esse seu trabalho com seu pai iria durar e até que durou muito. Um mês. Olha Pierre você durou mais do que seu pai acreditou e seus irmãos até apostaram que você não durava uma semana. Mas, você como sempre me surpreende filho e não me decepciona. Durou na empresa exatamente um mês, o tempo que eu disse ao seu pai que você ficaria. - O quê? Meus irmãos apostaram contra mim nas minhas costas? Ah, mas eles iriam me pagar! Palhaços.
Minha mãe vendo meu rosto vermelho de raiva tentou amenizar a situação.
- Esquece seus irmãos agora, Pierre, me fala o que você quer fazer se sair da empresa?
- Ah mãe a senhora já sabe, quero poder escrever e tocar música, viajar o mundo, conhecer pessoas, estar em uma cidade de manhã e de noite em outra... Isso! Quero poder cantar e tocar para uma multidão. - Desabafei.
Minha mãe me encarava sorrindo, mas meio preocupada.
- Pierre... Filho, você acha mesmo que viver de música é o certo? Eu sei que é o seu sonho e, meu Deus! Eu sei que eu sempre te falei que algum dia isso iria acontecer pra você e para os meninos, mas até parece que eu estou te vendo com 14 anos de novo quando você e o Chuck faltavam as aulas para ir tocar na escola. Parece que estou vendo de novo aquela criança com os olhos arregalados, sonhadora e inocente. E, o mundo não é assim filho; o mundo pode ser cruel com vocês e é isso que me assusta.
Minha mãe disparou e eu percebi, ela tinha medo de me ver sofrer; de me ver frustrado ou fracassar com isso da banda, como meu pai um dia se frustrou, ou até fracassou. E por isso meu pai fundou a construtora e era totalmente contra que eu tivesse uma banda. Respirei fundo e falei até sendo grosseiro com minha mãe.
- Olha mãe, eu entendo seu medo, suas preocupações e tudo mais..., mas não é porque o papai fracassou com a música que eu vou fracassar. Estou cansado de tentar agradar a todos enquanto eu estou infeliz. Vocês não podem me dizer que eu não vou conseguir nada com a música se não me deixarem tentar. E outra, não é só por que o papai fracassou que eu vou fracassar também! Não é justo vocês acharem que eu não vou conseguir só por que ninguém mais conseguiu. - Explodi.
- Pierre Bouvier! Calado! - Minha mãe brigou.
Quando me virei meu pai e meus irmãos estavam na sala e provavelmente tinham escutado tudo. Corri porta afora, indo para a casa de Chuck.
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Contei aos caras da briga e eles me ouviram desabafar. Ensaiamos até cansar e naquele dia voltei pra casa bem tarde para não precisar ver ninguém, muito menos meu pai, eu devia desculpas ao meu velho. Ele fazia o melhor que podia por nós e, na minha raiva, falei coisas que não queria ter falado.
Um, dois, três, quatro, cinco, outra semana passando e meu pai não falava nada sobre o que ouviu de mim da conversa com minha mãe, ele na certa estava esperando que eu tomasse a iniciativa. Estávamos sozinhos no escritório dele na empresa. Tomei coragem e comecei:
- Pai, preciso conversar, pedir desculpas...
- Eu sei Pierre, já ouvi tudo, sua mãe me contou e eu sei que você me acha um fracassado.
- Não, pai! Eu não te acho um fracassado! Ao contrário, você é o maior exemplo que eu tenho na vida. Eu disse coisas que não queria na hora da raiva e da mágoa, mas você e a mamãe tem que tentar ver o meu lado também poxa, como eu vou aprender a ter minhas coisas e a realizar meus sonhos se vocês não me deixarem nem tentar? Eu preciso fazer isso! Se der errado beleza, ao menos eu tentei. - Falei e meu pai me encarou.
- Então você não acha que eu seja um perdedor?
- Pai, pelo amor de Deus! Não! Pai, você é o cara mais guerreiro e vencedor que eu já vi, tentou uma carreira, não deu certo, partiu pra outra e agora é uma das referências em construção aqui de Montreal. Pai, seu nome é famoso no meio da construção e sério, eu queria ter metade da sua sabedoria.
- Do que adianta ser sábio e não conseguir aconselhar o próprio filho?
- Pai, seus conselhos são os mais acertados, eu só quero uma chance para poder tentar fazer as coisas que eu quero fazer entende? Você já teve sua vez de errar e acertar eu só acho que agora é a minha vez. Eu não quero acordar um dia e ver que meus melhores anos passaram, que meus melhores anos ficaram atrás de mim e eu não fiz nada do que eu queria fazer, me entende, pai? Falei na esperança de meu pai estar entendendo meu ponto de vista.
- Certo, Pierre, deixa ver se eu entendi: Você quer sair da empresa pra viver tocando música?
- Sim, pai, quero dizer sim e não. No começo vão ser shows pequenos e festivais que pagam pouco, mas isso é só até a banda ficar conhecida. Mas nós, eu e os caras, precisamos começar, e nesse começo todo apoio e incentivo é bem-vindo. Falei animado e um pai sorriu. - Espera meu pai sorriu?
- Pierre, Pierre... Você se parece muito comigo quando tinha a sua idade e, também sonhava em viver da música e acredite filho, eu te entendo. E acho que você tem toda a razão, é preciso começar.
- Como assim, pai? - Eu estava sem acreditar, meu pai estava me apoiando?
- É isso mesmo, Pierre, um dia lá atrás, seus avós não me apoiaram quando eu queria viver da música e eu não vou cometer o mesmo erro com você. Então façamos um trato: - Chega de empresa pra você, chega de terno e gravata, chega de fingir que está feliz trabalhando aqui na empresa, chega de meia vida, chega de ficar exausto por fazer algo que você odeia. Mas... se a música não funcionar para você, você vai estudar e trabalhar em qualquer outra coisa, certo? - Meu pai deu seu ultimato.
Me joguei no abraço do meu pai com os olhos cheios de lágrimas como não fazia há anos. Meu pai era a pessoa que eu mais amava depois da minha mãe e saber que ele me ajudaria era uma injeção de ânimo enorme.
- Certo filho chega disso, me conta como vão as coisas da banda? - Meu pai não gostava muito de chorar, se fazia de durão, mas era uma manteiga derretida.
Me acalmei, respirei e contei para o meu herói e inspiração a novidade em primeira mão:
- Então pai, mês passado nós abrimos um show para o MxPx e a gente gravou algumas demos, o Chuck saiu entregando nas gravadoras e em algumas rádios, mas ainda não tivemos retorno. Só que o Jeff descobriu que semana que vem o presidente da Lava Records vai estar aqui em Montreal para assistir a uma outra banda local tocar, e o Seb conseguiu uma hora no lugar desse show, a gente vai tocar lá também e tentar fazer com que o cara da gravadora perceba a gente.
- Nossa Pierre, sério? Meu Deus! Vocês estão bem mais organizados do que eu era na minha época. Meu pai disse e gargalhou.
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Um, dois, três, quatro, cinco, a semana passou voando com a gente se matando de ensaiar todo dia, agora que eu não tinha mais que ir trabalhar na empresa. O dia de tocarmos no tal lugar chegou. Era um bar. Tocamos as músicas que tínhamos escrito, as pessoas gostaram e, o mais importante, o dono da gravadora gostou da gente e nos chamou para conversar.
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Um, dois, três, quatro, cinco, meses se passaram, trabalhamos duro no nosso primeiro CD: No Pads, No Helmets, Just Balls. Lançamos nosso primeiro disco! Eu nem acredito! Nós nem conseguimos acreditar! Era tudo tão surreal. Meu pai que a princípio duvidava de nós agora nos levava para os lugares com a van da empresa, estávamos tocando em vários lugares e abrindo shows para várias bandas que a gente sempre curtiu! Esses dias tocamos no mesmo palco que o Good Charlote! Dá pra acreditar! Era o sonho se tornando realidade.
Vida banal nunca mais! Estávamos atraindo público onde quer que a gente fosse tocar e a gente até já tinha fãs! Um, dois, três, quatro, cinco. Mais cinco meses se passaram e lançamos nosso segundo single: I´d Do Anything em parceria com o Mak Hoppus do Blink 182. Cara, a gente estava fazendo parceria com o Mark! E a coisa toda estourou! Entramos para o Hot 100 da Bilboard, Perfect e Addicted viraram as queridinhas das pessoas que nos ouviam, nossos fãs já posso dizer, e Addicted foi indicada ao MTV Music Awards. Só sei de uma coisa, nem eu nem os caras queremos acordar desse sonho todo que a gente está vivendo agora. É tudo tão bom.
Um, dois, três, quatro, cinco, as semanas, os dias passavam que a gente nem percebia de tanto que estávamos trabalhando, vida banal nunca mais. Era cada dia em uma cidade, as vezes duas, três no mesmo dia. E a gente adorava tudo aquilo, agora o cansaço dava alegria, e o trabalho dava satisfação.
Fiz bem, ou fizemos bem em insistir e lutar naquilo pelo que acreditávamos. E, como minha mãe sempre me falava: Um dia sua hora vai chegar e, você vai ser o sortudo.
Meu nome é Pierre Bouvier e eu estou ajudando meu pai na empresa da família, a Bouvier Construction, meus irmãos Jay e Jonathan se dão super bem aqui, já eu? Sou um total perdido em tudo por aqui, então meus irmãos se aproveitam de mim, me mandando fazer todos os trabalhos que eles não querem fazer, como carregar entulho, mexer massa, carregar caixas e mais caixas, ou seja todo o trabalho braçal e pesado o Pierre é quem faz, ou seja me fodi.
Vejo tantos rostos aqui, não sei o nome da metade dos funcionários da empresa. Não sirvo para esse trabalho na empresa. Minha vontade é outra, quero trabalhar com música, escrever, tocar, cantar e, viajar o mundo. Mas, segundo meu pai e, meus irmãos é melhor eu parar de sonhar, e viver a realidade.
Então todo santo dia quando venho para a empresa com meu pai e meus irmãos escuto os três conversando no carro, sobre projetos de casas, prédios, falando sobre massa, cimento, madeira e fiação elétrica. E, eu estou longe daquele papo, me sentindo perdido, sem rumo e indo em uma direção na qual eu não estou feliz. Preso em uma rotina e em um trabalho no qual eu não me vejo para o resto da vida. Me sinto sufocado, como se minha alma tivesse sido arrancada de mim e agora eu precisasse procurar por ela nos achados e perdidos da vida, ou pelo caminho. Onde raios foi que eu me perdi? Por que mesmo eu aceitei esse trabalho que eu odeio? Ah sim, foi por que minha mãe me pediu e por que eu queria provar para meu pai que eu não era o inútil que ele dizia que eu era.
Agora estou eu, aqui, sentado em uma sala, tecnicamente a minha sala, se claro eu soubesse fazer toda a porcaria do trabalho administrativo que meu pai disse que eu faria, mas graças a meu irmão mais velho Jonathan, eu tinha que pegar no pesado primeiro para amaciar e só depois passar a fazer o trabalho leve. Babaca, o Jhon ainda ia me pagar por isso! Faltava meia hora para meu turno na empresa acabar, eu estava sentado na sala só ouvindo o tic tac do relógio e contando cada batida, o dia estava acabando... tic tac, mais dez minutos e logo eu estaria livre para fazer o que eu realmente amava. Iria sair correndo dali e ir direto para a garagem do Chuck, onde os caras me esperavam pra gente ensaiar as músicas que eu e o Chuck tínhamos escrito. LIBERDADE! Ah sexta-feira, como eu desejei esse dia.
Bati o ponto e voei. Finalmente mais um dia tinha acabado, mais um dia em preto e branco, mais um dia chato, entediante e infeliz. Pena que o final de semana acabava tão rápido. Ensaiamos todos os dias e eu até me esquecia da empresa, mas logo outra segunda feira chegava e era tudo a mesma porcaria de sempre.
Um, dois, três, quatro, cinco, outra semana passando e eu aqui meio vivo, meio sobrevivendo a uma rotina que eu odeio e a um trabalho que eu detesto, Sinceramente? Eu estou ficando cansado disso tudo, estou cansado dessa porcaria toda, cansado de fingir para o meu pai que eu estou interessado em algo aqui, cansado de fingir para meus irmãos que eu estou satisfeito com todas as ordens que eles me dão e estou cansado de enganar minha mãe pra ela achar que eu levo jeito com o trabalho da família. Eu estou exausto, de saco cheio de fingir estar feliz. Não quero mais ter que vestir terno e gravata, eu odeio gravata.
Eu quero mesmo é poder vestir meus jeans, calçar meus tênis e tocar minha guitarra. Ensaiar as músicas até faltar voz e os dedos sangrarem pelo atrito nas cordas de aço. Eu quero poder viver meu sonho, lutar por ele, eu preciso viver as coisas que eu quero viver antes que eu morra. Será que é tão errado pensar assim? Eu cansei! Cansei dessa vida banal, desse emprego banal, de fazer tudo para agradar aos outros enquanto eu vivo infeliz.
Tinha que resolver isso, só tinha uma pessoa que me ajudaria e me apoiaria na minha decisão. Minha mãe.
Cheguei em casa naquela sexta feira decidido, meu pai e irmãos ainda não estavam em casa então procurei por minha mãe onde sabia que ela estaria. Na cozinha.
- Mãe? Está aí? - Perguntei já sabendo a resposta.
- Pierre? Oi filho, chegou cedo. - Minha mãe estranhou de eu estar em casa antes de todos.
- Sim mãe, cheguei antes por que queria conversar um pouco só nós dois, sabe?
- Sei filho, o que te incomoda? - Minha mãe me conhecendo bem logo percebeu.
- Então, mãe...
- Ih Pierre, quando você começa a frase com: “Então, mãe” é por que lá vem bomba. Desembucha logo, menino. – É, pra minha mãe eu ainda tinha 15 anos mesmo já sendo adulto.
- Ok. Respirei fundo e soltei: Mãe eu não quero mais trabalhar na empresa com o papai e os meus irmãos, eu quero poder fazer outra coisa. - Minha mãe parou de secar o prato que estava na mão, me olhou e disse:
- Estava me perguntando quanto tempo esse seu trabalho com seu pai iria durar e até que durou muito. Um mês. Olha Pierre você durou mais do que seu pai acreditou e seus irmãos até apostaram que você não durava uma semana. Mas, você como sempre me surpreende filho e não me decepciona. Durou na empresa exatamente um mês, o tempo que eu disse ao seu pai que você ficaria. - O quê? Meus irmãos apostaram contra mim nas minhas costas? Ah, mas eles iriam me pagar! Palhaços.
Minha mãe vendo meu rosto vermelho de raiva tentou amenizar a situação.
- Esquece seus irmãos agora, Pierre, me fala o que você quer fazer se sair da empresa?
- Ah mãe a senhora já sabe, quero poder escrever e tocar música, viajar o mundo, conhecer pessoas, estar em uma cidade de manhã e de noite em outra... Isso! Quero poder cantar e tocar para uma multidão. - Desabafei.
Minha mãe me encarava sorrindo, mas meio preocupada.
- Pierre... Filho, você acha mesmo que viver de música é o certo? Eu sei que é o seu sonho e, meu Deus! Eu sei que eu sempre te falei que algum dia isso iria acontecer pra você e para os meninos, mas até parece que eu estou te vendo com 14 anos de novo quando você e o Chuck faltavam as aulas para ir tocar na escola. Parece que estou vendo de novo aquela criança com os olhos arregalados, sonhadora e inocente. E, o mundo não é assim filho; o mundo pode ser cruel com vocês e é isso que me assusta.
Minha mãe disparou e eu percebi, ela tinha medo de me ver sofrer; de me ver frustrado ou fracassar com isso da banda, como meu pai um dia se frustrou, ou até fracassou. E por isso meu pai fundou a construtora e era totalmente contra que eu tivesse uma banda. Respirei fundo e falei até sendo grosseiro com minha mãe.
- Olha mãe, eu entendo seu medo, suas preocupações e tudo mais..., mas não é porque o papai fracassou com a música que eu vou fracassar. Estou cansado de tentar agradar a todos enquanto eu estou infeliz. Vocês não podem me dizer que eu não vou conseguir nada com a música se não me deixarem tentar. E outra, não é só por que o papai fracassou que eu vou fracassar também! Não é justo vocês acharem que eu não vou conseguir só por que ninguém mais conseguiu. - Explodi.
- Pierre Bouvier! Calado! - Minha mãe brigou.
Quando me virei meu pai e meus irmãos estavam na sala e provavelmente tinham escutado tudo. Corri porta afora, indo para a casa de Chuck.
Contei aos caras da briga e eles me ouviram desabafar. Ensaiamos até cansar e naquele dia voltei pra casa bem tarde para não precisar ver ninguém, muito menos meu pai, eu devia desculpas ao meu velho. Ele fazia o melhor que podia por nós e, na minha raiva, falei coisas que não queria ter falado.
Um, dois, três, quatro, cinco, outra semana passando e meu pai não falava nada sobre o que ouviu de mim da conversa com minha mãe, ele na certa estava esperando que eu tomasse a iniciativa. Estávamos sozinhos no escritório dele na empresa. Tomei coragem e comecei:
- Pai, preciso conversar, pedir desculpas...
- Eu sei Pierre, já ouvi tudo, sua mãe me contou e eu sei que você me acha um fracassado.
- Não, pai! Eu não te acho um fracassado! Ao contrário, você é o maior exemplo que eu tenho na vida. Eu disse coisas que não queria na hora da raiva e da mágoa, mas você e a mamãe tem que tentar ver o meu lado também poxa, como eu vou aprender a ter minhas coisas e a realizar meus sonhos se vocês não me deixarem nem tentar? Eu preciso fazer isso! Se der errado beleza, ao menos eu tentei. - Falei e meu pai me encarou.
- Então você não acha que eu seja um perdedor?
- Pai, pelo amor de Deus! Não! Pai, você é o cara mais guerreiro e vencedor que eu já vi, tentou uma carreira, não deu certo, partiu pra outra e agora é uma das referências em construção aqui de Montreal. Pai, seu nome é famoso no meio da construção e sério, eu queria ter metade da sua sabedoria.
- Do que adianta ser sábio e não conseguir aconselhar o próprio filho?
- Pai, seus conselhos são os mais acertados, eu só quero uma chance para poder tentar fazer as coisas que eu quero fazer entende? Você já teve sua vez de errar e acertar eu só acho que agora é a minha vez. Eu não quero acordar um dia e ver que meus melhores anos passaram, que meus melhores anos ficaram atrás de mim e eu não fiz nada do que eu queria fazer, me entende, pai? Falei na esperança de meu pai estar entendendo meu ponto de vista.
- Certo, Pierre, deixa ver se eu entendi: Você quer sair da empresa pra viver tocando música?
- Sim, pai, quero dizer sim e não. No começo vão ser shows pequenos e festivais que pagam pouco, mas isso é só até a banda ficar conhecida. Mas nós, eu e os caras, precisamos começar, e nesse começo todo apoio e incentivo é bem-vindo. Falei animado e um pai sorriu. - Espera meu pai sorriu?
- Pierre, Pierre... Você se parece muito comigo quando tinha a sua idade e, também sonhava em viver da música e acredite filho, eu te entendo. E acho que você tem toda a razão, é preciso começar.
- Como assim, pai? - Eu estava sem acreditar, meu pai estava me apoiando?
- É isso mesmo, Pierre, um dia lá atrás, seus avós não me apoiaram quando eu queria viver da música e eu não vou cometer o mesmo erro com você. Então façamos um trato: - Chega de empresa pra você, chega de terno e gravata, chega de fingir que está feliz trabalhando aqui na empresa, chega de meia vida, chega de ficar exausto por fazer algo que você odeia. Mas... se a música não funcionar para você, você vai estudar e trabalhar em qualquer outra coisa, certo? - Meu pai deu seu ultimato.
Me joguei no abraço do meu pai com os olhos cheios de lágrimas como não fazia há anos. Meu pai era a pessoa que eu mais amava depois da minha mãe e saber que ele me ajudaria era uma injeção de ânimo enorme.
- Certo filho chega disso, me conta como vão as coisas da banda? - Meu pai não gostava muito de chorar, se fazia de durão, mas era uma manteiga derretida.
Me acalmei, respirei e contei para o meu herói e inspiração a novidade em primeira mão:
- Então pai, mês passado nós abrimos um show para o MxPx e a gente gravou algumas demos, o Chuck saiu entregando nas gravadoras e em algumas rádios, mas ainda não tivemos retorno. Só que o Jeff descobriu que semana que vem o presidente da Lava Records vai estar aqui em Montreal para assistir a uma outra banda local tocar, e o Seb conseguiu uma hora no lugar desse show, a gente vai tocar lá também e tentar fazer com que o cara da gravadora perceba a gente.
- Nossa Pierre, sério? Meu Deus! Vocês estão bem mais organizados do que eu era na minha época. Meu pai disse e gargalhou.
Um, dois, três, quatro, cinco, a semana passou voando com a gente se matando de ensaiar todo dia, agora que eu não tinha mais que ir trabalhar na empresa. O dia de tocarmos no tal lugar chegou. Era um bar. Tocamos as músicas que tínhamos escrito, as pessoas gostaram e, o mais importante, o dono da gravadora gostou da gente e nos chamou para conversar.
Um, dois, três, quatro, cinco, meses se passaram, trabalhamos duro no nosso primeiro CD: No Pads, No Helmets, Just Balls. Lançamos nosso primeiro disco! Eu nem acredito! Nós nem conseguimos acreditar! Era tudo tão surreal. Meu pai que a princípio duvidava de nós agora nos levava para os lugares com a van da empresa, estávamos tocando em vários lugares e abrindo shows para várias bandas que a gente sempre curtiu! Esses dias tocamos no mesmo palco que o Good Charlote! Dá pra acreditar! Era o sonho se tornando realidade.
Vida banal nunca mais! Estávamos atraindo público onde quer que a gente fosse tocar e a gente até já tinha fãs! Um, dois, três, quatro, cinco. Mais cinco meses se passaram e lançamos nosso segundo single: I´d Do Anything em parceria com o Mak Hoppus do Blink 182. Cara, a gente estava fazendo parceria com o Mark! E a coisa toda estourou! Entramos para o Hot 100 da Bilboard, Perfect e Addicted viraram as queridinhas das pessoas que nos ouviam, nossos fãs já posso dizer, e Addicted foi indicada ao MTV Music Awards. Só sei de uma coisa, nem eu nem os caras queremos acordar desse sonho todo que a gente está vivendo agora. É tudo tão bom.
Um, dois, três, quatro, cinco, as semanas, os dias passavam que a gente nem percebia de tanto que estávamos trabalhando, vida banal nunca mais. Era cada dia em uma cidade, as vezes duas, três no mesmo dia. E a gente adorava tudo aquilo, agora o cansaço dava alegria, e o trabalho dava satisfação.
Fiz bem, ou fizemos bem em insistir e lutar naquilo pelo que acreditávamos. E, como minha mãe sempre me falava: Um dia sua hora vai chegar e, você vai ser o sortudo.
Fim
Nota da autora: Ufa! Eu não acredito que esse ficstape saiu! Eu gosto muito do EP GYHO sou suspeita pra falar e, Ordinary Life é uma música bem gostosa de ouvir, mas, como desenrolar uma história em cima disso? Decidi por tentar mostrar um pouco do Pierre com os pais dele, coisa que acredito eu todo fã gostaria de saber. Espero de coração ter escrito algo a altura dessa música e eu espero que gostem <3 Por favor me deem uma opinião tá? Preciso saber se continuo tentando ficstape ou se desisto de vez! Rsrsrs. Obrigada a você que leu essa história, saiba que seu apoio significa muito. Até algum dia. ~~ Bia ~~
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
PS: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
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