Capítulo Único
Vermelho: Energia, Vitalidade, Força, Poder, Aventura e Excitação
Nós éramos jovens quando ainda nos vimos, fechei meus olhos e as cores apareceram de repente, eu sequer havia previsto que isso fosse acontecer alguma dia, mas aconteceu, em uma manhã refrescante de primavera, no primeiro dia de aula da faculdade, foi quando eu vi a cor vermelha pela primeira vez em sua camiseta.
— Ouvi dizer que ela veio de longe apenas para estudar aqui — alguém comentou atrás de mim.
Todos os olhares estavam sobre você, que entrou calada e se sentou na ponta direita onde menos tinham pessoas.
— Será que ela fala nosso idioma? — Alguém comentou.
— Se ela não soubesse, porque estaria nessa aula, mané? — uma voz feminina que eu conhecia bem disse cutucando meus ombros em seguida.
— Qual a cor do batom dela? — ela me perguntou rindo, afinal sempre tínhamos jogos assim, ela sempre apostava que eu não encontraria a pessoa que me faria enxergar cores sem os óculos de lentes especiais tão cedo.
— Vermelho — eu respondi sério, ainda a encarando.
A verdade era que viver em um mundo sem cores por não conhecer a pessoa certa, a pessoa que traria aquela força ao corpo outra vez, era complicado. As pessoas que tinham essas mesmas condições tiveram que se adaptar a um mundo onde nem todos são iguais a nós, e definitivamente, éramos gratos às essas pessoas que criavam sistemas que ajudavam nisso como as lentes que nos permitiam forçadamente ver cores, mas ainda faltava algo, todos, sem exceção se sentiam assim.
— Você está com as lentes de contato? — ela perguntou atônita se levantando rapidamente da cadeira para se sentar ao meu lado.
Eu apenas consegui balançar a cabeça negativamente, sem tirar meus olhos de você, porque em minha cabeça, no momento que eu fizesse isso, você possivelmente desapareceria, levando as cores junto com você.
— — ela me chamou outra vez — será que é ela?
Ela disse baixo se aconchegando na cadeira.
— Vai sentar perto dela, falar com ela, sei lá — ouvi ela dizer em um tom de incentivo, mas meu pânico apenas me fez balançar a cabeça de um sinal negativo — porque? — ela perguntou confusa.
Certo, porque? digo, porque não finalmente dar um passo para um mundo colorido que eu tanto havia esperado e talvez, procurado?
Porque você era intimidadoramente confiante, e eu conseguia enxergar isso, afinal, você não apenas estava me trazendo as cores, você era cada uma delas e eu fui entendendo isso aos poucos. Eu precisava te conhecer para entender que o que os meus dias nunca haviam sido, os seus dias eram, eles eram regrados pelas cores.
Laranja: Amigável, Evoca energia, Alegria e Desperta Criatividade
A primeira vez que conversamos, também foi a primeira vez em que vi um laranja tão vibrante e natural, ainda estávamos na primavera então, laranja, primavera e você eram a combinação perfeita. Lembro de pensar nisso na manhã daquele dia, no exato momento em que a brisa bateu em seus fios de cabelo e você se virou sorrindo para alguém que gritou seu nome, atrás de mim. Eu invejei aquela pessoa por dizer seu nome de forma tão livremente e por receber um sorriso tão amigável, sem ao menos saber que a partir daquele dia eu faria o mesmo.
— Oi! — uma voz tímida me chamou, aquela era você se aproximando — , certo?
Você perguntou e aquilo me paralisou, eu basicamente fiquei como bobo na sua frente com meio bolinho de arroz na boca e os olhos arregalados.
— Posso me sentar aqui? — você perguntou ainda tímida mas com o mesmo sorriso de antes no rosto — lá dentro está um pouco sufocante de tão cheio — você sorriu sem graça e eu juro que foi o momento mais estranho da minha vida, como era possível um sorriso fazer com que meu coração saltasse tão forte? — e você está na maioria das minhas aulas mas nunca conversamos, achei que seria legal…
— Eu também! Quer dizer, tudo bem — eu te cortei, quase engasgando com o resto de arroz que ainda tinha em minha boca, Deus, eu realmente estava desesperado pela sua atenção.
— Tudo bem, então — você respondeu se sentando de frente para mim, o que nos primeiros dez minutos foi um pouco mais do que constrangedor.
Nos encaramos por alguns minutos até você decidir quebrar aquela muralha gelada que estava entre nós, porque eu não acho que teria coragem o suficiente de fazê-lo.
— Meu nome é — você disse sorrindo e estendendo uma de suas mãos em minha direção.
Eu não sei porque, mas aquilo me tranquilizou, me deixou calmo e eu pude apenas agarrar sua mão com tranquilidade, aquela também foi a primeira vez.
— ! — eu me apresentei mesmo você já sabendo meu nome.
— É um prazer te conhecer oficialmente, ! — você me disse antes de dar mais uma mordida em seu sanduíche.
Eu realmente me perguntei se era igual para você, se você não era capaz de ver as cores assim como eu e pode finalmente vê-las de verdade, quando entrou pela sala naquele primeiro dia de primavera.
Amarelo: Otimismo, Esperança, Entusiasmo e Acolhimento.
— Vamos, ! o calor vai me matar se não andarmos logo — você choramingou e eu ri achando graça, você realmente odiava o verão, eu tinha perdido as contas de quantas vezes você havia reclamado desde que haviamos saido de casa naquele dia — essas fotos são para hoje!
— Eu não tenho culpa se você demorou mais do que eu achei que demoraria no café dos gatinhos — eu te disse rindo — Layla não vai gostar de saber disso.
Sua cara era definitivamente umas das mais engraçadas quando você estava irritada, meu coração sempre doía um pouco de tanto amor que eu carregava nele, por você desde sempre. Mas era uma dor boa e reconfortante, que mesmo que você soubesse sobre ou não, ela não partiria, porque eu já te amava tanto que meu coração não guardava aquilo para si.
— Não ouse contar que eu tive encontro com gatinhos hoje ou eu conto que você quase adotou outro cachorrinho na loja em que passamos — você semicerrou seus olhos e me encarou, me fazendo rir exageradamente, você já amava a Layla assim como ela te amava.
Esse foi o primeiro dia em que eu vi a cor amarela, ela grudou em você e nunca mais se separou, seus brincos favoritos eram dessa cor. Dois girassóis pequenos que cabiam perfeitamente em sua orelha.
— Quem viu gatinhos hoje? — perguntei brincando — você não foi, certo?
— Você definitivamente sabe ganhar a confiança de uma pessoa — você respondeu rindo.
Quando eu passei a ver a cor amarela, nosso relacionamento já era algo indefinido, gostavamos mais do que o normal da companhia um do outro e também estávamos mais do que o normal na companhia um do outro. Mas nunca realmente nos rotulamos, acho que a esse ponto eu poderia dizer que éramos como melhores amigos, pelo menos até a festa de outono que o time de basquete resolveu dar.
Verde: Saúde, Harmonia e Equilíbrio, crescimento, renovação, renascimento.
Quando eu consegui ver o verde pela primeira vez, foi na mesma jaqueta que você havia roubado do meu guarda roupa na semana anterior. Ela era bem maior que você mas completava bem o que você usava naquela noite. Você estava deslumbrante a meus olhos.
— Se você continuar me encarando assim eu não vou — você me disse, fazendo com que eu saísse do transe em que havia ficado preso.
— Vai fazer com que todos percam sua deslumbrante presença? — eu disse me aproximando e deixando um beijo em sua bochecha que ruborizou em seguida — você está linda.
— Estou pensando em permanecer com isso por tempo indefinido — você sempre foi boa em desconversar, fugia de elogios constantemente com comentários aleatórios, algo que me fazia provocá-la constantemente — fica bem em mim.
— Fica ótima em você, mas meu cheiro vai embora alguma hora — eu disse, tentando te provocar — quando isso acontecer, você pode me devolver essa e dar uma olhada no meu armário para pegar outra coisa, ele é todo seu, assim como eu, não se esqueça.
— O que deu em você hoje? — você disse nervosa.
Para ser sincero, nem mesmo eu sei o que aconteceu naquele dia, eu apenas achei que deveria tentar algo a mais, até porque, nunca, sequer por um minuto quis ser apenas seu amigo.
Partimos para a festa que ficava do outro lado da cidade e pelas escolhas das músicas naquele caminho, você parecia impaciente e inquieta mas ainda sim brincava com um das minhas mãos livres da direção. Seu toque era tranquilo e confortável, naquele ponto era algo quase comum darmos as mãos ou coisas assim.
Seu carinho sempre me deixava tranquilo.
— Você quer uma bebida? — eu disse um pouco mais alto já que a musica se sobressaia.
— Sim! — você respondeu olhando ao redor, buscando por alguma de suas amigas — vou estar alí — você apontou para o sofá onde suas amigas estavam, e isso, incluia , minha amiga e a primeira a saber sobre quem você realmente era para mim.
Eu não me apaixonei pela ideia de ter alguém que me completasse o suficiente para trazer cor aos meus olhos, eu me apaixonei pela ideia daquela ser você desde o princípio, não sei te explicar e nem acho que isso seria possível, mas eu apenas senti algo arder desde o primeiro momento que coloquei meus olhos em você.
Talvez naquela noite, se eu não tivesse pisado na bola por te deixar esperando por alguns minutos por conversar com meus amigos, eu também não teria tomado a coragem de acalmar toda a sua ira com um beijo do lado de fora da casa.
— Onde está, ? — perguntei a .
— Ela tinha ido te procurar — ela disse mais alto — mas ouvi umas das garotas comentando que a parou no meio do caminho e que eles estavam do lado de fora da casa, é bom você ir procurar por ela.
O pânico mais uma vez se instalou em meu peito, apenas a sensação de que poderia te perder já era o suficiente para fazer parecer que eu estava sendo sufocado por toda aquelas pessoas na festa. Parece que nada havia harmonia se você não estava por perto.
— ? — eu disse vendo você de costas, caminhando para a saida — graças a Deus eu te encontrei.
— Pode voltar para sua festa, ! não precisa se preocupar comigo — você disse irritada — estou indo embora.
— — eu chamei pelo seu nome mais uma vez e você parou de repente — o que aconteceu? escuta, me desculpa, eu sei que demorei, acabei parando para conversar com meus amigos no meio do caminho e…
— Foi divertido? — você perguntou com os olhos marejados e eu sequer sabia o porquê — foi divertido lá no banheiro com sei lá quem, enquanto eu te esperava igual uma tonta no sofá?
— O que? — perguntei confuso — que banheiro? do que você está falando?
— Eu estava indo te procurar porque na realidade pensei mesmo que você pudesse estar com seus amigos, mas no caminho me contou sobre sua pequena aventura e eu….
Eu não deixei você terminar, eu sabia que aquela era a deixa. Aproximei meu rosto com um pouco de ansiedade estampada e segurei com as minhas mãos o seu. Você parou de falar no mesmo momento e aquilo me fez sorrir, era bom saber que assim como eu, você ficou nervosa.
— Me diga para para se não for o que você realmente quer — eu disse antes de colar nossos lábios de vez.
Eu beijei você naquela noite, eu realmente tive a coragem de te beijar e eu sequer sei de onde ela saiu. Mas eu fiz e você retribuiu, me segurou pela jaqueta que eu usava e me grudou mais em você, eu pude jurar vi as cores piscarem ao nosso redor, pude jurar que escutei seus pensamentos naquele momento, dizendo que você daquele dia em diante, você jamais me soltaria outra vez.
Azul: confiança, reserva, harmonia, afeto, amizade, fidelidade, amor
Seus olhos piscaram firmes naquele dia de inverno, o sono te consumia já que você não havia dormido a noite, por causa da enorme exposição que faríamos na manhã seguinte, seus olhos brilhavam apenas de lembrar sobre todo o esforço que nós demos para aquele projeto.
— Você está muito agitada — eu comentei tentando te acalmar, massageei seus ombros com cuidado e te dei meu melhor sorriso — precisa almoçar, ou, desse jeito vai acabar passando mal.
— Mas eu não estou com fome — sua cabeça tombou se encostando em meu ombro esquerdo.
Aquela foi a primeira vez que o tom azul surgiu de forma natural em meus olhos. Você tinha mechas azuis nas pontas dos cabelos e eu sequer soube até aquele momento. Seu pequeno rabo de cavalo com alguns fios soltos cairam sobre meu ombro e aquilo a completava de uma forma exageradamente perfeita, azul combinava com você, era harmônico.
Acariciei seus fios soltos e sorri com o pensamento de que podia tê-la em meus braços como invejava a alguns meses atrás de outras pessoas.
— Mas precisa se alimentar — eu disse, puxando você para um abraço confortável.
O inverno não estava rigoroso, não ainda e mesmo que ficasse, não acho que seria capaz que o frio nos “pegasse”, figurativamente falando, parecia que nosso calor não deixaria com que frio algum entrasse.
Mesmo que eu não estivesse vendo todas as cores de uma vez, eu tinha certeza que você era como o sol em um dia de inverno rigoroso, onde a neve pode começar a cair a qualquer momento. Você amava a neve e o frio, e eu, amava ao sol e calor, pelo menos aquele que você emanava, você me fazia amar ao verão. Porque desde o começo, eu tinha o meu próprio verão particular e, eu tinha certeza que nunca mais sentiria frio outra vez.
Azul indigo: autenticidade, confiança, amizade, razão, lógica
Dois anos depois e como todo casal nós tivemos altos e baixos mas nunca um fim.
— Quantas vezes eu tenho que explicar que ele vem atrás de mim toda vez que você não está perto? quantas vezes eu tenho que explicar que odeio ser mal educada sem motivo? nunca foi desrespeitoso e na realidade até pediu desculpas quando inventou aquela mentira na festa em que nós...— você suspirou pesado, eu realmente havia te irritado naquele dia — quer saber, deixa para lá.
Você caminhou até seu quarto e sequer olhou em meus olhos, fechou a porta com tamanha força que me fez perceber o que eu havia feito. Não estava te culpando por conversar com ou algo do tipo, estava querendo evitar com que você se machucasse quando percebesse o tipo de pessoa que ele era.
Eu havia escutado a uns dias atrás algo sobre ele realmente está querendo brincar com você, havia me avisado sobre isso, mas eu sabia o quanto seu coração era bom e o quanto você odiava pensar o pior das pessoas. E aquele dia, foi o primeiro em que vi qual era a diferença do azul de seus fios de cabelo e o azul escuro de sua porta.
Eu aprendi quando era mais novo sobre essa cor. Aprendi o quão forte seu significado era e agora, como ele fazia juz a você. O que é engraçado, parecia que todas as cores tinham um pouco de você.
— Escuta — eu te chamei pela porta, sabia que você estaria escutando de qualquer forma — eu não estou duvidando de você ou te questionando por alguma razão que sequer faz sentido, eu estou a par do que você sente por mim assim como você está a par do que eu sinto por você, — Comecei dizendo e me sentei ali mesmo, sem esperar muito — mas eu também o conheço, a anos — eu suspirei — fomos amigos quando éramos mais novos, você pode perguntar a se quiser — me lembro de encostar a cabeça na parede e pensar seriamente sobre aquela situação por alguns minutos em silêncio — eu apenas, não sei, não confio nele e não quero que você machuque o coração que deu a ele uma boa chance de se redimir como pessoa, me desculpa se eu te enchi de perguntas e com a minha preocupação excessiva.
— Eu sei me cuidar, sabe? — escutei você dizer próxima a porta — eu não sou estupida, eu disse que ele tinha se desculpado e tudo mais, porém, eu não sou idiota — você suspirou — eu sei que ele não é a melhor pessoa do mundo, mas ainda sim eu pensei que eventualmente ele iria parar com essa bendita perseguição, por isso não fiz nada.
— Eu sei, — eu disse me levantando — eu sei, me desculpa, essa semana foi estressante e eu não sei o que me deu.
— Tudo bem — você disse abrindo a porta.
Seu abraço mais uma vez era toda a recarga de energia, que eu havia perdido com aquela semana que havia sido uma loucura e com aquela pequena discussão que nós tivemos.
— Me desculpa — eu disse ressentido comigo mesmo, eu odiava brigar com você por qualquer razão que fosse, afinal nós sempre tentamos nos entender em todos os sentidos.
— Está tudo bem! — você disse baixinho.
Eu guardei aquele dia para mim como a última briga que tivemos que realmente teve algo que nos chateou.
Violeta: dignidade, devoção, piedade, sinceridade, espiritualidade, purificação, transformação, Luxo, Dignidade, Realeza, Riqueza, Nobreza, Sucesso, Sabedoria, Intimidade, Erotismo, Cerimônia, Espiritualidade, Iluminação, Mistério, Arrogância e Crueldade.
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A primeira vez em que vi a cor violeta foi por sua causa, mas não necessariamente em você ou perto de você. Tudo aconteceu em um inverno também, mas dessa vez, rigoroso.
— Respira fundo, amor! — eu disse rindo da expressão engraçada que você estava fazendo.
Você me afirmou mil e uma vezes que não estava sentindo dor alguma, mas as expressões em seu rosto te denunciavam muito bem. Já haviam se passado anos desde que nos vimos pela primeira vez, mas ainda faltava uma das cores para que meu mundo colorido de vez, o violeta. Você não gostava muito dela então não a usava, eu não me importava de ver apenas aquelas que já conhecia, afinal, elas vieram de você e se o violeta não viesse um dia, eu não me incomodaria pois foi uma escolha sua. Você nunca soube da verdadeira história por de trás de todos os olhares, sorrisos e até mesmo brigas que tivemos. Você nunca soube da minha condição ou de que realmente era alguém feito sobre medida para a minha alma, pelo menos, não por mim.
— Respira fundo, ! — eu disse mais uma vez, vendo seu rosto vermelho de tanto que você fazia força naquele momento.
— Como se fosse possível respirar mais fundo do que eu já estou respirando — você disse me puxando pelo colarinho, me fazendo rir — seus filhos querem vim ao mundo e você me manda respirar fundo?
— Eles precisam da mãe calma para poderem nascer — eu disse, ainda rindo — sua pressão sobre a cada vez que você prende a respiração.
— Okay, mamãe vai tentar se acalmar — você disse acariciando a barriga grande que trazia.
Você estava feliz e eu mais ainda, nós não precisamos sequer de muitos anos de namoro para saber o que queríamos de verdade no final., você aceitou meu pedido de casamento em nossa cerimônia de formatura e eu fui a pessoa mais feliz do mundo. Assim como no meio da primavera, um ano após nos casarmos, que você me contou que estava grávida, aquele foi o dia mais feliz da minha vida, afinal, Nós seríamos quatro em menos de algumas horas e meu coração se acelerava a cada pensamento sobre como seria nossa história dali para frente. Se ela já era memorável para mim desde o início, imagina daquele ponto em diante? eu sequer conseguia imaginar a perfeição.
— Nós estamos a um ponto de ver os rostinhos mais lindos desse mundo, — eu disse sorrindo — eu não sei se um dia eu vou ter como te agradecer por tudo que você já fez por mim nessa vida, por quem você é, e sempre representou nela, mas eu agradeço por tudo, você é tudo que eu sempre quis, obrigado por aparecer na minha vida de repente.
Você chorou de emoção naquele momento, você sabia que cada palavra que saia de minha boca eram puras e sinceras, eu realmente era grato pela sua existência, e, sempre seria. Seus olhos não se fecharam até você ver que ambos haviam nascido, foi necessário te sedar já que era necessário terminar o procedimento.
Eu estava lá, assistindo tudo de forma orgulhosa, afinal meus filhos estavam no mundo e mesmo que você não estivesse acordada, eu sei que você também se sentiria assim.
O que na verdade me incomodou, foi o olhar assustado entre o médico responsável e os enfermeiros, assim que o mesmo se virou para checar os bebês.
“Um deles não está respirando” uma das enfermeiras disse me tirando o sorriso do rosto, o pânico invadiu o meu peito e eu apenas quis me aproximar, ver que era um engano, mas, não demorou muito para me retirarem da sala de cirurgia, sem sequer poder ver o rosto de vocês três.
Antes que eu pudesse sair realmente da sala, um barulho quase ensurdecedor vindo da máquina em que sua pulsação estava sendo monitorada, atingiu meus tímpanos.
“Começando com Reanimação da paciente” foi a última coisa que eu escutei daquela sala a não ser por um leve e único choro manhoso.
***
Eu não sabia que existiam formas de tristeza, mas aquela que eu sentia era completamente diferente de todas as outras, era profunda e desastrosa. Meu peito ardia não apenas em saudade mas também em indignação, eu preferia não ter te encontrado se eu soubesse que aquele seria o final da nossa história, se eu soubesse que aquela seria a maneira que você já não me apresentaria as cores.
Lembro que naquela manhã, pela primeira vez eu caminhei pelos corredores daquele hospital, sendo observado e falado por muitos enfermeiros e até mesmo médicos que sabiam do que havia acontecido, você era conhecida, sua personalidade amável fazia com que todos alí dentro tivessem algum tipo de contato com você. Eu não me importava se sentiam pena de mim ou não, eu apenas queria ver, pela primeira vez o fruto do nosso amor, a única parte física de você que havia me restado e que eu cuidaria com todo o meu amor e cuidado, com toda minha proteção e devoção.
— Fala bom dia para o papai! — a enfermeira disse se aproximando do berço em que você estava.
Naquele momento eu soube que você não havia ido completamente.
Eu entendi que você havia partido junto com uma parte de mim, mas também havia me deixado uma parte de você. A borboleta violeta no berço foi a primeira vez que eu vi aquela cor naturalmente e eu se aquilo aconteceu, foi apenas por sua causa e por causa do amor que havíamos criado, e materializado naquela pequena criatura, que agora, apenas tinha o pai para criá-la.
— Não comentamos sobre isso antes, porque queríamos deixar com que você se sentisse confortável em fazer uma visita — a enfermeira disse assim que notou como eu encarava a pequena borboleta grudada no berço — muitos pais não retornam para ver os filhos quando esse tipo de situação acontece então…
Pude vê-la se calar e também, pude sentir a tristeza em suas palavras pelas crianças que eram tratadas daquela forma, elas não tinham culpa alguma de virem para um mundo que às vezes poderia ser muito cruel.
— Enfim, a borboleta violeta é colocada no berço daqueles bebês que foram parte de uma gravidez múltipla, mas, que nem todos sobreviveram — ela disse triste — sinto muito por suas perdas, mas eu tenho certeza que o senhor cuidará bem dessa pequena, assim como sua esposa disse antes de entrar em trabalho de parto.
Você sabia o tempo todo.
Você sabia que se não voltasse para os meus braços logo após aquilo, eu cuidaria bem dos nossos filhos. Você sabia que o amor não era uma via de mão única, você sabia que eu amaria nossa filha tanto quanto eu amei você.
Você sabia e por isso, deixou as cores comigo, em um mundo que eu sempre vi cinza, as cores apenas surgiram por completo depois que você se foi.
Olhei ao redor e o vivido amarelo que havia visto em seus brincos antes pularam diante de meus olhos. O rosa natural que eu sequer conhecia até então, surgiu nas bochechas de nossa filha, confortando meu coração por saber que meu amor por você sempre foi muito maior do que o imaginado.
Você foi e sempre será meu primeiro e único amor, você me deu as cores que ninguém foi capaz de dar, você me deu algo que eu nunca imaginei sentir, você me deu harmonia, você me deu ela.
E eu te dei ele. E eu sei que você está cuidando bem da parte de mim que você levou junto de você, onde quer que você esteja.
— Ela já está pronta para ir — a enfermeira disse, chamando minha atenção.
— Vamos para casa filha — foi o que eu disse, assim que a peguei nos braços pela primeira vez — vamos mostrar para todos e principalmente para a mamãe o quanto somos fortes por temos um ao outro.
FIM
Nota da autora: TO TRISTE!! gente, sério, ficou meio resumida mas virou meu xodó, quero pedir encarecidamente para quem ler que não me mate, eu juro que fiz com carinho! Obrigado por ter lido e por favor, não esqueça de deixar seu comentário na caixinha <3
Xoxo Caleonis.
Xoxo Caleonis.
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