Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

A tela do computador começou a brilhar, o barulho indicava uma chamada no skype.
- Olha só se não é meu melhor amigo desnaturado! - disse sorrindo para a tela no computador.
- Que eu saiba, - ele coçou o queixo - seu celular tem uma ferramenta de ligação de vídeo e seu skype também, meu amor.
- Ele é grosso, né.. Poderia me amar um pouco menos.
- Apenas a verdade, meu amor. - Ele mandou um beijo.
- O que devo as honras desta ligação?
- Saudades de ver a sua cara. - Deu de ombros e gargalhou da maneira que ele disse.
- Que bom que não sou apenas eu que estou com saudades.
- Liguei pra dizer que talvez tenha uma proposta de trabalho para você aqui! - Ele esperou por uma reação dela, mas a única coisa que ela conseguiu foi piscar os olhos várias e várias vezes. - Frank vai reformar a sede aqui de Londres e ele com toda certeza está pensando em você para fazer o diário da reforma.
- Isso é sério? - Ela abriu o sorriso de orelha a orelha e se inclinou para frente; mais um pouco estava com o rosto grudado na tela do computador. – , isso é sensacional. Eu nem sei o que falar. - Frank era um dos sócios mais importantes da rede Eward em Londres. - Mas por que ele não contratou alguém aí de Londres?
- , primeiro, você é uma das fotógrafas mais sensacionais que todos conhecemos, e outra, a tia-avó dele pergunta sempre de você, ou seja, você está sendo requisitada. - Disse fazendo um olhar de como se isso fosse a coisa mais óbvia. , em uma viagem para Londres com o pai, foi contratada para tirar fotos do casamento da tia-avó de Frank, um evento para poucas pessoas, mas grandioso e que foi capa de várias revistas, já que Elle é uma figura muito conhecida por seus filmes e propagandas. levou todo o crédito pelas fotos do casamento, ficando conhecida e crescendo não só na empresa como fora dela.
- Não me agradeça, apenas fique esperando a ligação que em breve ele falará com você. - Não se sabia qual dos dois tinha o maior sorriso.
- Se eu gostasse de você, eu te daria um beijo. - Ela apertou as mãos perto do rosto e ele gargalhou.
- Aceito seu beijo na amizade. - Ele passou a língua nos lábios e ela gargalhou.
- Quando você voltar, resolveremos isso então. - Ela piscou para ele.
- Falando em beijo, soube que você saiu com Jonas semana passada. - ergueu a sobrancelha, provocando-a e ela rolou os olhos.
- Dona Débora acha que está na hora de eu arrumar um pretendente e está me fazendo sair com vários homens. - suspirou pesadamente e jogou a cabeça para trás na cadeira.
- Calma, o quê? - tentava segurar o riso mas sem sucesso algum. - Você só pode estar de brincadeira.
- Como eu queria. - Respondeu sem ânimo algum. - Inclusive Jonas é o terceiro somente neste mês. Acho que eu nunca saí com tanta gente na minha vida. - Ela fez uma careta e ele continuou rindo.
- Onde escrevo meu nome nesta lista de pretendentes?
- Meu amor, você não precisa de lista nenhuma, se me pedir em casamento neste momento eu largo tudo e te encontro no cartório. - Ela bateu com as mãos na bancada e ele gargalhou.
- Eu daria tudo para ver um encontro seu com algum cara.
- Eu sou educada, tá? A questão é que essa coisa forçada não é comigo. Eu já vou sabendo que no final da noite eu terei que dar uma resposta, e no caso a resposta é sempre não.
- Você já pensou em dar chance a algum desses homens? - perguntou e desta vez estava sério.
- Não. - Ela negou com a cabeça. - Não por serem arranjados, ou melhor, não somente por serem encontros arranjados, mas na hora falta alguma coisa; ou a pessoa fala muito ou não fala nada; ou bebe demais ou não bebe nada. São sempre 8 ou 80, e o pior de tudo é que eu nem posso dar um perdido, pois são pessoas da empresa. Imagine só a matéria “ Eward dá um perdido em um dos filhos dos sócios e acaba com a empresa”
Novamente caiu na gargalhada, mas parou assim que a porta do quarto da menina foi aberta abruptamente.
- , querida. - Débora entrou no quarto da filha sem cerimônia nenhuma. - Trouxe a roupa de hoje a noite, esteja pronta às 20h. - Disse pendurando o vestido em um gancho da porta.
- Roupa para? - parou de fazer o que estava fazendo e virou para a mãe.
- O jantar de comemoração aos acionistas.
- Desde quando isso existe? E por que eu preciso ir?
Débora respirou fundo e massageou as têmporas. - Se fosse interessada nos assuntos da família, saberia que desde o ano passado essa festa começou a ser feita justamente para fazer com que todos que trabalham na empresa se sintam em casa e continuem trabalhando conosco.
- Mas acionistas não deveria ser algo ligado a ações?
- Chame do que quiser, , mas esteja pronta às 20h, ok? - concordou com a cabeça, não adiantava brigar, sabia que aquela seria mais uma briga perdida caso ela começasse uma. - Ah, e antes que eu me esqueça: - A mais velha parou com metade do corpo para fora da porta. - Kendrick será seu acompanhante da noite. - Um sorriso brotou em seus lábios e resmungou. A mais velha saiu do quarto da mesma maneira que entrou.
- Eu te disse. - olhou para a câmera e fez uma careta.
- Não deu nem tempo de fazer uma pipoca, podemos repetir a cena? - fez graça e lhe mostrou o dedo do meio.
- Ah, meu pai amado. - O tom dela saiu meio esganiçado e não entendeu. - Charlie está saindo com o Kendrick, eu não posso ser o par dele, .
- Charlotte está saindo com o Kendrick? Desde quando isso? - se sentiu traído por não saber daquela informação.
- Charlie não disse nada para ninguém, pois eles estão “se conhecendo” - ela fez aspas com o dedo e ele cerrou os olhos. - É sério, eles vão assumir, mas ele pediu para ela esperar pois a mãe dele arrumou um encontro para ele e ele não queria decepcionar a mãe, não naquele momento.
- Caralho, você é o encontro. - Ele arregalou os olhos e ela tombou a cabeça no balcão, fazendo um barulho oco.
- Em 24 anos da minha vida, quase 25, eu nunca imaginei que estaria indo a encontros arranjados pela minha mãe. Ainda mais com o namorado da minha melhor amiga.
- Namorado secreto, diga-se de passagem, ninguém tem como saber. Além do mais, por que é secreto?
- Pelo mesmo motivo que minha adorada mãe não gostava do meu relacionamento com .
- Dinheiro. - Falaram os dois juntos.
- Exatamente. Na verdade, em partes, o real problema está em que os pais da Charlie estão se separando, e isso não seria nada bom para a imagem da família.
- Como se todos nós não fossemos morrer e todo esse dinheiro não ficasse à mercê de outra pessoa.
- Exatamente! - Ela bateu na mesa com as duas mãos.

***

estava terminando de se arrumar, não entendia o porquê de, depois de tanto tempo, sua mãe estar fazendo questão que ele fosse em um evento da empresa. Ele já não tinha mais nenhuma ligação com aquele lugar, a não ser pelas memórias. O que ela e seu pai faziam ou deixavam de fazer lá dentro deixou de importar depois que sua vida virou de ponta cabeça. Era difícil voltar para aquele assunto, de certa forma não acreditava no que a mãe lhe dizia a respeito de , duvidava que ela realmente tivesse aberto mão de tudo o que eles tinham por culpa. Ela teria ficado e lutado para que aquele relacionamento desse certo, assim como ela fez nas outras vezes.
Durante os seis meses em que esteve no hospital, ele escutou cada palavra que ela havia lhe dito, desde o que tinha acontecido até a última vez que escutou sua voz. Ela havia se despedido da forma dela, e ele não compreendia o porquê, eles não tinham que acabar daquela maneira. Ainda conseguia sentir as lágrimas dela em sua mão.

Talvez você não esteja entendendo nada, mas talvez não seja para entender também. Nem eu sei ao certo como tudo isso aconteceu. Eu te esperei por longas horas, te liguei mas você não atendeu, achei que você estava na estrada e, bom, você estava mesmo. - Ela deu uma longa pausa e então continuou. - Sua mãe disse que isso foi culpa minha, que se eu tivesse esperado e não tivesse te ligado nada disso estaria acontecendo. Eu me lembrei do episódio do Derek, em Grey's, onde ele vai atender o telefone e sofre um acidente, foi exatamente isso que me passaram. Mas ninguém sabe ao certo que aconteceu, na verdade escutei que um carro fez a curva aberta demais e te acertou, não tem nada a ver com o fato de eu estar te ligando. - Algumas lágrimas caíam e passeavam pelo seu rosto antes de cair em sua mão. estava sentada na cadeira ao lado da cama, tinha as mãos em volta de uma das mãos de , enquanto conversava baixinho com ele. - Sua mãe nunca gostou do nosso relacionamento, não é mesmo? Entendo ela me culpar, e tudo bem, eu não ligo. - Aquilo era mentira, não queria ser culpada por aquele terrível acidente. Ela estava preocupada com a demora do namorado chegar ao casamento de sua prima, e por isso ligou algumas vezes. - Meus pais nunca aceitaram também, sempre soubemos disso, mas nunca imaginei que nosso fim seria dessa forma. Na verdade acho que isso nunca vai ter um fim. Você precisa acordar, , sei que nesse momento é impossível, pois você está sedado, mas assim que seu corpo se recuperar, você precisa acordar. Eu te amo, sua mãe te ama e precisa de você, assim como seus amigos. Prometo que nunca vou te esquecer, prometo nunca esquecer do primeiro dia em que nos vimos, em como você adorou fazer aquela insinuação de que beijar um desconhecido na noite do ano novo traria boa sorte, e em como você tinha toda razão. Espero que você fique bem, eu te amo. - E então depositou um beijo em sua mãos. As lágrimas escorriam de seus olhos sem cerimônia nenhuma, e foi neste momento em que o monitor começou a apitar exageradamente. Não demorou para que uma enfermeira viesse e pedisse para que ela saísse da sala. Na verdade ela não precisava que ninguém pedisse para ela sair, faria aquilo de qualquer forma. Aquele dia, seria o último dia que ela faria parte da vida de .

- Katerine já deve estar chegando. - Susan disse, colocando a cabeça para dentro do quarto do filho. vestia uma calça de corte reto preta e uma camisa listrada branca e preta. Susan pensou em criticar a roupa, dizendo que ele estava básico demais para a festa, mas não queria começar uma briga àquela altura do campeonato.
- Já estou quase pronto. - Disse sem olhar para a mãe.
- Me diga que você não vai com essa corrente. - Susan fez uma careta assim que o filho pegou uma corrente grossa prateada e levou ao pescoço.
- Qual é o problema? - Dessa vez a encarou.
- Você sabe como todos gostam de falar da aparência dos outros, . - Ela olhou para os braços do filho, que agora tinham várias tatuagens que ela considerava grosseiras. Durante o último ano ela quase não reconhecia mais o filho, era como se fosse outra pessoa; Susan pensou muito sobre tudo o que havia acontecido e tudo o que ela havia feito para ele. No final, ela insistia na história que ela fez de tudo para proteger a sua família. Mas naquele momento já não sabia se aquilo bastaria. Aos poucos, estava tudo desmoronando.
- E a única pessoa que liga para alguma coisa aqui é a senhora. Nunca liguei para o que o pessoal daquela empresa fala ou deixa de falar.
- Se você soubesse de metade do que eu sei, iria me agradecer por segurar tanta coisa dentro dessa família. De me preocupar com você e com seu pai.
- Se você me contasse, talvez eu pudesse te ajudar. Mas não, você gosta de abraçar o mundo com os próprios braços e não deixa ninguém te ajudar com nada.
- Você não aguentaria. - Ela riu sem humor nenhum e negou com a cabeça.
- Como você tem tanta certeza disso? Você nunca me deixou viver a minha vida. Sempre tive que viver conforme suas regras, dizendo amém para cada coisa que você queria ou falava. Se eu não aguento, foi porque você me criou desta maneira. - Ele despejou parte do que estava entalado em sua garganta.
- Você quer saber a verdade? - Ela o desafiou. - Eu sempre fiz de tudo para te proteger, porque eu sei como a vida é difícil, . Ou eu acabava com o seu relacionamento com ou seu pai perdia o emprego dentro da empresa. Emprego este que ele sempre sonhou, e que ele dá tudo o que tem para manter.
- Pelo jeito quem dá tudo é você. - Seu tom era ríspido.
- Amor você acha em qualquer lugar, dinheiro não. Imagina seu pai saber que perdeu o emprego porque o filho está namorando a neta do dono da empresa?
- Isso me leva a pensar o que acidente foi pensado em todos os detalhes. Isso é tentativa de homicídio sabia?!
- , você só pode estar louco se está achando que eu faria algo contra a sua vida. - Ela o segurou pelos ombros. – Nunca! Ouviu bem? Nunca em toda a minha vida eu seria capaz de fazer alguma coisa contra a sua vida. - Ele respirou fundo. Acreditava em sua mãe, mas estava bravo demais para dar o braço a torcer. - nunca teve culpa de nada, apesar de eu fazer parecer que sim. Eu cortei contato com ela assim como com , afinal, eu não iria conseguir manter esse teatro com , ele sempre foi como um filho, ele era parte da família.
- E mesmo assim você colocou parte da família para fora desta casa. Como eu posso acreditar que você não faria a mesma coisa comigo?
Os dois ficaram em silêncio quando escutaram alguém subir as escadas. Não demorou muito para Katerine entrar no quarto. Ela vestia um macacão vermelho sem alças. a admirou por alguns segundos e no final desejou que quem estivesse ali fosse e não Kate.
- Estou interrompendo alguma coisa? - Perguntou meio sem jeito e Susan sorriu, negando com a cabeça.
- De maneira alguma, entre. - Estendeu a mão para a mulher que retribuiu e entrou no quarto. - Você está maravilhosa. - Fez ela dar uma volta. O macacão vermelho em cima parecia um corselet e o restante caía como uma calça de cintura alta. - Não é, ?
- Sim. - Respondeu e então se obrigou a sorrir.
- Vou deixar vocês a sós. - Susan aproveitou a deixa para sair do quarto sem falar mais alguma coisa. Sabia que o filho aguentaria a conversa, ela o criou para ser forte, e talvez aquele momento fosse o começo de algo muito maior.
- Está tudo bem? - Kate perguntou, chegando mais perto de e ele respondeu com um aceno de cabeça. Ela sabia que ele estava mentindo. - Por que você não veste o conjunto preto? - Disse passando a mão pela manga dobrada da camisa. rolou os olhos. - O que foi?
- Você também vai vir me criticar? Quer falar alguma coisa que eu deveria saber, mas que todos estão me escondendo?
- Não estou aqui para criticar ninguém, . - Kate cruzou os braços, dando um passo para trás. - Depende, o que você quer saber?
ficou perdido por uns segundos, piscando olhando para ela.
- Você por acaso não está junto com a minha mãe neste plano envolvendo a empresa, está? - Ela negou.
- Não, só sabia que ela estava te protegendo, ela apenas pediu para que eu cuidasse de você, mas não me deu muitos detalhes, a não ser que não queria que você acabasse com a sua vida por causa de amor.
Ele respirou fundo e entrou no closet a procura da roupa que Kate disse. Ele sabia qual era, pois ela havia falado daquela roupa quando souberam que iria naquela tal festa. Voltou com o cabide e uma regata preta em mãos. Kate riu, estava sentada na ponta da cama. fechou a porta atrás de si e largou a roupa na poltrona ao seu lado.
- O que você está pensando? - Ela perguntou cruzando as pernas. - Deixe me adivinhar, uma pessoa, - ela levantou um dedo - quatro letras, - levantou outro - e em como faz tempo que você não a vê.
Ele tirou a corrente do pescoço e colocou em cima da bancada, sem dizer nada, apenas encarando-a através do espelho.
- Sabe como eu sei? Porque é normal. Qualquer um nessa situação estaria pensando a mesma coisa. E quer saber? Você tem todo o meu apoio para o que você quiser fazer hoje.
a encarou. Kate tinha um sorriso nos lábios e o encarava.
- Eu sei que você não me ama. Isso que nós temos não passa de uma mentira para a sua mãe. No começo foi legal, você realmente sabe como levar uma mulher à loucura na cama, mas você ainda é ligado a ela, . Você a ama. Perdi as contas de quantas vezes você chamou o nome dela enquanto dormia. - Kate não parecia triste enquanto contava aquilo, na verdade ele viu um certo alívio em sua expressão. - Você se tornou a melhor companhia que eu poderia ter durante esse quase um ano em que estamos juntos. Ver você tocando é um dos meus passatempos preferidos, e fingir ser namorada de um astro, bom, - ela deu de ombros. - não é como se eu nunca tivesse pensado nisso antes.
Kate estava sendo sincera, na verdade ela já vinha pensando naquilo já fazia um mês, desde que soube que teria que acompanhar na festa da empresa; ela teve mais tempo para se preparar do que ele, afinal fazia menos de uma semana que ele soube daquela festa.

***

Às 20h em ponto estava descendo as escadas e indo em direção ao salão principal, onde conseguia escutar as vozes de seus pais, de Kendrick e provavelmente dos pais dele. Como estava perto do Natal, o tema da festa era quase natalino; as mulheres foram instruídas a irem de vermelho, qualquer tom de vermelho era válido para aquela noite.
usava um vermelho vivo, o decote ia um pouco abaixo dos seios, deixando o vão entre eles a mostra, na coxa direita havia uma fenda bem como nos dois braços. Usava uma maquiagem básica, um pouco carregada nos olhos, o batom nude apenas para dar um ar saudável. Diferente de Debora, que estava com uma maquiagem mais carregada e cheia das joias, usava um colar e um bracelete.
- Aí está você! - Debora disse indo até a filha. - Maravilhosa como sempre. - Beijou a filha dos dois lados do rosto, a cumprimentando. - Seja educada e cumprimente nossos convidados. - Ela levou entrelaçada pelo braço até os Enoch's.

perdeu a noção do tempo enquanto ficou naquela sala, não que não gostasse da família de Kendrick, mas não tinham intimidade o suficiente para manter uma conversa de gente grande, principalmente quando o assunto girava em torno da empresa. Ela observou o rapaz e podia dizer que ele estava com a mesma cara de tédio da dela. Assim como ela, Kendrick não havia seguido os passos da família e entrado para aquele ramo, ele havia escolhido a carreira de modelo e ator, e estava sendo muito bem pago para aquilo.
- Nós vamos indo antes, tudo bem para vocês? - Kendrick perguntou, se levantando do sofá, estendendo a mão para , que aceitou, e ajudando-a a se levantar.
Débora era só sorrisos para aquela cena, finalmente parecia estar tomando um rumo na vida.
- Obrigada por isso. - A mulher disse assim que a porta atrás deles foi fechada.
- Se eu ficasse mais um minuto dentro daquela sala, eu iria surtar. - Kendrick comentou e concordou.
A festa seria na parte externa da casa. e Kendrick ficaram em silêncio por alguns minutos enquanto andavam pela calçada até chegarem no grande labirinto feito de grama que havia ali.
- Sempre imaginei se você seria uma daquelas meninas que adorava correr por esses pequenos corredores. - Ele disse, a olhando de canto de olho. Ela observava a grama e abriu um sorriso de lado.
- A resposta é sim. - Ambos riram. - Quando eu era pequena não tinha essa parte desta forma, foi mais no começo da minha adolescência que por algum motivo eles me escutaram e me deixaram criar esse lugar. Eu passava horas e horas fotografando os animais por aí, escondida.
- Não me diga que vocês tem um zoológico também. - Ele a encarou e ela gargalhou.
- Não, - Negou com a cabeça. - eram animais de pequeno porte, mais conhecidos como passarinhos. - O tom que ela usou foi tão sério e certeiro que ele demorou alguns segundos para entender e então começou a rir. - Nunca tive nem um cachorro, pois eles achavam que dava trabalho demais, imagina um zoológico.
- Cachorros são seres maravilhosos.
- Concordo totalmente. Quando tiver minha casa, terei alguns.
Andaram mais um pouco até ela pedir para que ele emprestasse seu telefone.
- Seria uma pena não ter uma foto sua deste momento. Não é todos os dias que Kendrick Enoch está na minha casa. Além disso, se você posta uma foto que eu tirei com toda certeza meus seguidores vão subir.
- Olha que folgada. - Se fingiu de ofendido enquanto ela ria. - Só vou te dar porque eu realmente preciso atualizar meu Instagram. Mas seria uma pena se eu postasse e não te marcasse. - Ele deu de ombros e ela soltou um gritinho indignada.
Depois que ela tirou uma foto dele, ele pediu seu telefone e fez a mesma coisa com ela, passaram alguns minutos tirando fotos, algumas zoando entre si e outras mais sérias. Foi a primeira vez em alguns anos que ambos ficaram tão à vontade um na presença do outro.

A decoração estava impecável, como sempre, Débora Eward era conhecida por suas festas maravilhosas; assim como ela não gostava de repetir roupas, não gostava de repetir decoração. A cada festa ela conseguia superar a festa passada, e ela amava ser conhecida por isso.
- Uau. - Kendrick disse olhando ao redor.
- Devo admitir que dessa vez ela acertou em cheio. - achava sempre que a decoração poderia ser menos chamativa, o estilo das duas eram mais uma vez bem diferente; sempre foi mais básica do que a mãe. - Inclusive isso merece um brinde. - Disse olhando para o bar.
- Quantos você quiser! - Ken respondeu e ela sorriu.
Caminharam até o bar que ainda não estava cheio. Alguns homens mais velhos estavam ali, ambos cumprimentaram eles assim que chegaram ali, os rostos não eram estranhos, mas não era como se eles soubessem seus nomes.
- Soube que Charlotte vai vir com Foster. - disse acompanhando o trajeto do barman enquanto ele buscava o espumante.
- Poderia ser pior. - Kendrick fez uma careta no momento em que ela o olhou de canto e ela gargalhou.
- Briga de ego é uma coisa muito louca. - Comentou como quem não queria nada e ele negou com a cabeça.
- Não é questão de ego, é apenas uma questão que Matthew Foster tem uma queda pela minha garota.
- Anw, fala de novo, deixa eu gravar. - Ela fingiu tirar o telefone da bolsa e ele fez uma careta. - Mas agora, espera aí, como assim Matthew Foster tem uma queda pela Charlie? Ela sabe disso? Ela nunca me falou nada. - cerrou os olhos e antes que ele pudesse falar alguma coisa ela continuou. - Minha garota. - Ela fez uma voz afetada e ele teve vontade de lhe mostrar o dedo, mas havia muita gente ao redor.
- Primeiro, é fácil ter uma queda pela Charlie. - Ele começou a enumerar. – E, sim, ela sabe disso. E não sei porque ela nunca te contou, talvez por você já ter tido uma queda por ele. - naquele momento ficou vermelha e ele gargalhou.
- Ah, meu pai amado, eu não acredito que ela te contou isso. Eu tinha 10 anos de idade, todas as meninas nessa idade tinham uma queda pelo Foster.
Quando a bebida chegou, fizeram um brinde e em seguida já pediram outra coisa para beber enquanto conversavam.
agradeceu por Kendrick ser um cara legal e fazer o tempo passar rápido de uma forma descontraída, odiava não poder ser ela mesma, como fazia quando seus pais estavam por perto a controlando em todos os sentidos.
Mas ali, naquele momento somente dos dois, ela conseguia ser ela mesma, falar o que lhe dava na cabeça, inclusive descobriu que Kendrick tinha uma mesma mania que ela e Charlotte, gostavam de fingir saber o que cada um estava pensando, narrando assim o que cada um daquele lugar estava fazendo.
- Agora sei o porque a Charlotte só fala mil maravilhas de você. Ela tem toda razão.
- Obrigada, eu sei que eu sou um belo partido. - Ajeitou a gravata sorrindo.
- Não pode mais nem elogiar. Sem contar que eu não disse que você era um belo partido, apenas que ela fala coisas boas suas. - Ela tomou o último gole da sua bebida, provocando-o.
Passaram mais algum tempo rindo e falando sobre todos os tipos de assuntos, até o momento em que colocou os olhos em no exato momento em que ele estava entrando. Ele estava acompanhado de uma morena. Seu coração pareceu esmagar seu peito, estava bem diferente da ultima vez que ela o havia visto. Estava mais musculoso, o cabelo estava raspado, e agora tinha uma baita mulher ao seu lado.
Quando seus olhares cruzaram a única coisa que passou pela cabeça dela foi o exato momento em que eles se conheceram.

O elevador estava cheio, diversas pessoas conversavam sobre várias coisas. não prestava atenção em nenhuma daquelas conversas, olhava para o telefone como se sua vida dependesse daquilo, e, bom, dependia. Esperava com todas as forças que estivesse ali, se não aquela noite iria durar muito mais do que o previsto. Conhecia a maioria, senão todos os que estavam no hotel, mas não tinha a mesma intimidade que tinha com . Se conheciam a mais de dois anos e sempre se usavam como escape naquelas festas que eram obrigados a irem. O pai dele era um dos sócios do Eward's Company, empresa fundado pelo bisavô da garota que em tese era passada para os melhores sócios, mas todos sabiam que era passada de geração em geração para os homens da família de Eward. Quando o elevador indicou o último andar, as pessoas começaram a sair, quando foi a vez dela, agradeceu o homem e desejou Feliz Ano Novo. achava que educação era tudo naquela vida. O homem sorriu e agradeceu, desejando um Feliz Ano Novo para ela também.
Ergueu a barra do vestido alguns centímetros para andar melhor sob aqueles saltos e aquele piso que ela considerava liso. Se caísse no meio de toda aquela gente, seria um fato histórico e faria com que ela se fizesse de morta ali mesmo, e seus pais ficariam chocados com tal ato. Não demorou muito para ver apoiado no bar, girando um copo no balcão, e então ele a encarou. Ele estava vestido em um terno, ela tinha um olhar surpreso, o analisou de cima a baixo quando estava próxima o bastante.
- Por favor, senhor, você pode me dizer onde está meu melhor amigo? Marquei com ele de me encontrar aqui, e, vejamos, só tem você da minha idade, então gostaria de saber se você o viu. - Disse olhando por cima de seus ombros e depois voltando a encará-lo. rolou os olhos e ela riu. Era difícil de ver o rapaz usando roupa social. Ele tinha um estilo próprio, mas não tinha como negar que ele estava maravilhoso naquela roupa.
- Vou levar isso como um elogio.
- Eu não tenho nem palavras para te descrever neste terno, . - Ela tinha um sorriso nos lábios e ele sorriu junto.
- Você está bonita também. - Disse ele a olhando.
- Bonita também? - Seu tom era de ofensa, mas o sorriso a entregou.
- Diria talvez que ela seja a mulher mais bonita deste ambiente. - escutou alguém falando atrás de si e virou. Um homem alto estava parado um pouco mais atrás de si, o terno era inteiro preto, diferente do de que tinha um detalhe em couro em um dos lados do paletó. Mesmo estando de salto, ela ainda precisava levantar um pouco a cabeça para olhar o homem. Ele era tão alto quando . Ele não lhe era estranho, mas não tinha 100% de certeza que o conhecia.
- ! - disse e saiu do transe.
- ! - O homem tinha um sorriso no rosto. - Quem te viu, quem te vê. - Ele teve a mesma reação da menina ao olhá-lo de cima a baixo.
estava perdida entre os dois. , já tinha escutado aquele nome diversas vezes antes, sabia que era o melhor amigo de , mas que fazia um tempo que os dois não se viam pessoalmente, já que o moreno estava morando em outro lugar.
- Está é Eward. - Apresentou a menina.
pegou delicadamente a mão dela e depositou um beijo no dorso da mesma. - , melhor amigo desse panacão aí. - E sorriu. ficou sem jeito por um breve momento até rir.
- Você é ridículo. - disse rindo e se virou para o barman pedindo três doses de tequila.
- Já? - perguntou e concordou.
- Nunca é cedo para tequila. - respondeu olhando o moreno.
- Se você está dizendo. - Ele deu de ombros e se sentou no banco ao lado do dela. Deixando que ela continuasse no meio dos dois.
As horas passaram rápido enquanto os três estavam sentados no bar virando vários shots de tequila. era boa naquilo; apesar de dizer que existiam coisas mais gostosas do que tequila, ela bebia aquilo como água.
e se revezavam para contar a história de como os dois tinham virados amigos, e porque ele havia deixado Sydney para trás e ido em busca de seu sonho. Na verdade depois de se formar em administração ele não tinha certeza se era exatamente aquilo que ele queria fazer, sempre gostou de sair pelo mundo viajando, tocando em bares, se sentindo livre e trabalhando numa empresa tudo isso ficava muito longe, ele ficaria preso o dia todo dentro de uma sala, e, bom, ele não queria aquilo para a sua vida. Seu pai lhe deu dois anos para fazer o que bem entendesse e se depois daquilo não tivesse uma renda fixa, teria que voltar e andar sobre as suas regras, aceitou ,e lá estava ele, no final de seu prazo, voltando para casa. Mas não porque a música e a vida boa lhe deixaram de ser interessante, mas pelo fato de que sentia falta de sua casa. Viajar e tocar era algo que ele amava, mas amava muito mais estar perto de sua família, e, bom, aquele havia sido o momento que ele iria voltar e trabalhar com seu pai.

***

Kate e passaram metade do caminho conversando, na verdade Kate passou a metade do caminho tentando conversar com , que estava nervoso. Ela queria que alguém um dia se sentisse daquela forma por ela; eles já estavam há algum tempo separados e mesmo assim o sentimento dele era o mesmo. De certa forma, ela se sentia em um filme, onde o mocinho está indo atrás da mocinha na esperança de dar tudo certo, ou talvez de acabar com tudo de uma vez por todas.
- Tira uma foto minha? Por favor? - Ela disse enquanto passavam pelo labirinto. Ele pegou o celular da mão dela e colocou na câmera, ela fez uma pose atrás da outra, e teve que rir no momento em que ela foi fazer uma foto zoada e um casal passou por eles a olhando com uma feição estranha. Havia sido a primeira vez durante o dia todo que ele sorriu.
- Temos um avanço por aqui. - Ela pegou o telefone de sua mão e começou a olhar as fotos. - Até que você dá para o gasto. - Fez uma careta encarando-o e ele sorriu de lado. Ele não quis foto nenhuma, então ela entrelaçou o braço no dele e voltaram a caminhar até chegar a parte de trás, no salão principal externo.
O local já estava com bastante gente, cumprimentou um casal que estavam em sua frente, não lembrava o que o esposo fazia dentro da empresa, mas conhecia a esposa dele de longa data, na verdade ela a conhecia de longa data, afinal, ela o conhecia desde pequeno.
- Se eu tivesse uma casa deste tamanho, com toda certeza eu iria me perder. - Kate comentou. - E isso é apenas o salão externo. Imagina a casa. - Ela olhava maravilhada para todos os detalhes, se sentia uma criança na festa de Natal, literalmente. A diferença era que ela não era mais criança, apenas estava em uma festa de Natal.
Kate sentiu contrair todos os músculos ao seu lado, e quando o encarou percebeu que ele olhava fixamente para o outro lado do salão. Ela tentou acompanhar seu olhar, do outro lado uma mulher o encarava.
- É ela, não é? - Ela fechou mais a mão em seu braço e perguntou, desviando o olhar da mulher por um breve momento.
- Sim. - concordou e então ele olhou para Kate. - Preciso de uma bebida. Qual a nossa mesa? - Perguntou respirando fundo.
estava acompanhada, com toda certeza ela estaria acompanhada, mas nunca em sua vida imaginaria que seria por Kendrick. Ele conhecia o cara fazia alguns anos, inclusive já foram amigos próximos, mas, como a agenda de ambos não batia com frequência, acabaram se tornando conhecidos. Se tratavam com educação quando se viam, inclusive já tinham saído algumas vezes depois que voltou para casa.
Kate olhou no convite e indicou a mesa 26. Ambos começaram a olhar em volta para saber onde estava a numeração de cada mesa, e foi quando um garçom passou oferecendo bebidas. pegou uma taça e virou rapidamente, colocando na bandeja e pegando uma segunda em seguida. Kate pegou uma e agradeceu o homem que continuou seu caminho.

Depois que acharam a mesa, evitou olhar em direção do bar. Achou que estava pronto para aquilo, mas depois de saber o que realmente havia acontecido ainda não se sentia confortável o suficiente para falar com .
Iria esperar os pais chegarem, ficar um pouco e depois iria para casa, sabia que aquilo seria um erro, algo martelava em sua cabeça dizendo que aquilo era errado, assim como tudo o que sua mãe havia feito.
- Você deveria comer alguma coisa pelo menos. - Kate disse, colocando a mão em seu braço, antes que ele colocasse o copo nos lábios novamente. Era a quinta dose de whisky que ele estava virando. Ele a encarou, mas Kate não desviou o olhar. Aquilo de certa forma o irritava, fazia a mesma coisa, quando ela pedia ele não conseguia dizer não, principalmente quando ela não desviava o olhar.
- Ok. - Ele fez uma careta e bateu o copo na mesa.
- Pode olhar para o lado, ela não está mais no bar. Já faz alguns minutos que os pais dela chegaram e eles foram para outro lugar.
pareceu relaxar, mas sabia que aquilo não duraria muito tempo. Sua mãe chegou e ele conseguia a escutar de onde estava, não precisava nem se virar para saber de onde ela estava vindo. Sua risada era inconfundível.
- Isso foi um erro, não sei porque eu vim nesse negócio. - reclamou e Kate segurou seu ombro.
- Você sabe que teria que vir de qualquer forma, não tem porque estar se culpando.
- Eu não consigo ficar aqui olhando para ela como se nada tivesse acontecido, Katerine.
- Não vou ser hipócrita em dizer que eu sei o que você está passando, porque eu realmente não sei, mas você não pode parar a sua vida por causa disso.
- É fácil falar quando não é com você. - Resmungou.
- Você precisa parar de resmungar da vida. Olha quanto tempo você já perdeu da sua vida tentando preencher um vazio que agora que você está na frente dele você tem medo de trazer luz a tona. Você tem duas opções: ou você vai falar com ela, ou coloca um ponto final de uma vez por todas nessa história. - Ela o encarava. - Inclusive, talvez este seja o momento. - virou o corpo para trás, seus pais, os Eward’s e Kendrick estavam caminhando até ali.
- Aí estão vocês. - Susan disse mais alto que a música que estava tocando. - Kate, esses são Christopher e Débora Eward. - Apontou para os mais velhos e Kate levantou da mesa, cumprimentando os dois. - Essa é a filha deles, . - Apontou para a mais nova e então elas se cumprimentaram também. - Esse é Kendrick, mas isso provavelmente você já saiba, Kendrick é um grande ator e modelo.
levantou e assim como Kate, cumprimentou os Eward’s e então Enoch, todos apenas com um aceno. Nada de contato físico e sorrisos. Kate por um momento esqueceu de toda a situação enquanto conversava com Kendrick, ela o conhecia, já tinha visto alguns trabalhos dele, mas nem em seus melhores sonhos achou que ele fosse tão gente como ela.
- Eu vou achar a Charlotte. Licença. - disse impaciente e então saiu daquele lugar. desejou ter feito a mesma coisa, soltou o ar que nem sabia que estava prendendo e então observou sua mãe o encarando. Ela tinha um sorriso no rosto, mas ele sabia que era apenas uma fachada.
Christopher puxou um assunto qualquer sobre como estava indo dentro dos negócios e se ele estava aprendendo alguma coisa com o pai, afinal era um dos melhores dentro da empresa. quis rir com a falsidade, queria acreditar que Christopher não tinha nada a ver com toda aquela mentira, afinal ele parecia gostar dele, parecia ser o único dos mais velhos a aprovar o namoro dele com .
Tentou manter a educação a todo momento, e deu graças quando seu pai apareceu ali e a atenção foi voltada para ele. Débora não lhe dirigiu nenhuma palavra e ele agradeceu por aquilo, não estava nenhum pouco afim de falar com ela, na verdade com ninguém. Estava ali por seu pai, apenas.

***

Ficar no mesmo lugar que não tinha sido nada fácil, seu coração batia tão rápido que seu peito doía e lhe faltava ar. Em sua cabeça ela contava até se acalmar, mas talvez aquilo já não estivesse sendo mais tão afetivo, já tinha perdido a conta de que número estava algumas vezes.
Vê-lo tão parecido como na primeira noite tinha mexido com ela, mas ter que ficar tão perto foi a pior coisa até aquele momento. Em partes entendia que era porque seus pais trabalhavam na empresa e eles estavam cumprimentando todos os convidados, mas sua mãe mais do que ninguém sabia de seus sentimentos, não achou que ela seria tão baixa para chegar naquele ponto.
Kendrick estava parado ao seu lado, encostado no bar, girando o copo no balcão enquanto ela olhava para si pelo reflexo do espelho. Estavam ali já fazia algum tempo.
- Seria bom comer alguma coisa antes de continuar bebendo desse jeito. - O tom de voz dele saiu preocupado.
- Está tudo bem. - Ela balançou a mão e negou com a cabeça e então pediu mais um copo para o barman.
- , é sério. - Ele segurou sua mão e a apertou, fazendo ela encará-lo. - Kate mandou uma mensagem de um after, guarde lugar para beber depois. Coma alguma coisa e depois a gente bebe como se não houvesse amanhã, em um local que ninguém vá reclamar. - Ela suspirou e concordou com a cabeça. O jantar não deveria demorar muito mais tempo para sair. Apesar de não estar com fome, iria se obrigar a comer alguma coisa, afinal, só tinha almoçado e não comeu mais nada; apesar de ser forte para bebida, ela já sentia seu corpo relaxando, mas o que realmente precisava relaxar ainda tinha todo o controle sobre ela.
- Achei vocês! - sentiu uma mão em seu ombro e encarou a pessoa pelo reflexo do espelho. Charlie, que mesmo de maquiagem tinha as bochechas coradas, cumprimentou Kendrick com um beijo no rosto e fez virar para ela.
- Eu não vou chorar. - falou antes que a amiga falasse alguma coisa e Charlie riu.
- Não ia falar isso, só ia falar que estamos aqui. - E então ela a abraçou.

A mesa principal estava ocupada pelos seniores da empresa. estava sentada na mesa ao lado juntamente com Kendrick, Charlotte, alguns outros filhos de empregados e dois lugares vagos. e . Ela suspirou olhando para aquelas duas cadeiras vazias. Se estivesse ali, com toda certeza aquela noite estaria sendo menos dolorosa. A cada vez que seus olhos cruzavam com os de , seu coração martelava seu peito e ela não conseguia desviar o olhar. Por diversas vezes Charlie teve que colocar o rosto na frente dela para que ela voltasse a atenção para eles.
- Você já pensou em conversar com ele?
- Você está louca? Não. - negou com a cabeça.
- Por que não?
- Porque minha mãe iria surtar.
- Não se ela não souber. - Foi a vez de Kendrick falar. - Chama ele para o after.
- Isso é um complô?
- , isso já durou mais de um ano. Olha o seu estado, você não conseguiu ficar no mesmo lugar que ele por mais de 5 minutos. Você realmente acha que vocês não precisam conversar?
- Não é como se eu pudesse falar que a mãe dele simplesmente me cortou da vida dele. Eu poderia ter lutado por nós dois, mas eu abri mão, eu tenho tanta culpa quanto ela. - piscou diversas vezes para não deixar nenhuma lágrima se formar. - Só vamos fingir que nada disso aconteceu, ok?!
Tanto Charlotte quanto Kendrick confirmaram, mas nenhum dos dois iria deixar aquilo de lado. Charlotte prezava demais pela saúde mental da amiga para deixar ela se afundar novamente, ela precisava fazer alguma coisa.

- Vou no banheiro, já volto. – Kendrick se levantou, pedindo licença e caminhou em direção ao banheiro masculino. - Obrigada. - Disse quando o rapaz em sua frente segurou a porta. Ele nada disse, apenas acenou com a cabeça e entrou.
Kendrick se encostou na pia esperando o momento certo de agir. não demorou para voltar e lavar as mãos.
- Vai ter um after depois no Red Desert, se você e Kate quiserem ir. - Kendrick disse, olhando o rapaz pelo reflexo do espelho.
- Obrigada, mas já tenho outros planos. - disse puxando alguns papéis.
- Seria bom para você e a conversarem a sós.
- Porque em uma balada estaríamos a sós, ainda mais no Red Desert... - Debochou e Kendrick rolou os olhos.
- Olha, cara, eu só queria ajudar. Eu não sei nem da metade do que aconteceu entre você e a , mas, assim como eu, outras pessoas viram o que se passa entre vocês, então eu vim na boa. Mas se você não quer sair e se resolver, o problema não é meu. - Deu um impulso e foi em direção a porta. - Você sabe onde nos encontrar. - E então saiu, deixando a porta se fechar atrás de si.
A sua parte ele tinha feito, agora só dependia se iria ir encontrá-los mais tarde e resolver o que fosse que eles tinham para resolver

***

- Eu vou poder beber ou vou ter que cuidar de você? - Kate perguntou assim que entraram no local. Estava tudo escuro, apenas as luzes vermelha estavam acesas na parede, indicando o caminho até a parte inferior.
- Falando desse jeito, até parece que já precisou cuidar de mim antes.
- Hoje é diferente. Eu fico feliz que tenha vindo, eu juro que não aguento mais você com essa cara. Sei que você é muito melhor do que isso que você vem se mostrando. - Ela disse com tranquilidade e rolou os olhos. - Eu estou falando sério, quando você está entretido com alguma coisa e esquece do mundo, você é uma outra pessoa . Nas suas fotos, você sempre pareceu feliz, hoje em dia são poucos momentos em que eu vejo você de fato feliz.
- E como você pode falar isso com tanta certeza?
- Pelo simples fato de que sou formada em psicologia. - Ela sorriu, fazendo uma careta.
- Então você passou esse ano todo me analisando? - parou no caminho, encarando-a.
- É claro que não. - Ela rolou os olhos. - Incrível a capacidade do ser humano achar que todo psicólogo vai analisá-lo pelo simples prazer. - Ela voltou a andar e descer as escadas. - Não fui paga para te analisar, estou apenas dizendo o que eu vi, indiferente de ser psicóloga ou não, não é muito difícil ver quando uma pessoa está fingindo ou não.
- Por que nunca me disse nada?
- Você nunca me perguntou, e eu não sou desse tipo de pessoa que vai se intrometer na vida da outra sem ser chamada. Hoje foi diferente, eu achei que esse clima de morte fosse passar, mas hoje você entrou em desespero, ou eu fazia alguma coisa ou eu fazia alguma coisa. E, bom, aqui estamos.

ficou com toda aquela informação passando e repassando na cabeça por um bom tempo. Era estranho estar com alguém e não saber quase nada da vida da outra pessoa. Se sentiu péssimo por viver dentro do seu mundo e não dar abertura para ninguém entrar e muito menos para si próprio sair.
Estava acostumado a viver e reviver todos os momentos com , até o dia do hospital em que ela o deixou. Nunca entendeu o verdadeiro motivo dela abrir mão de tudo. Por mais que sua mãe falasse sempre a mesma coisa, ele não conseguia compreender como ela fizera tudo aquilo e não deixara um bilhete ou algo do tipo. sempre teve muitos sentimentos para abrir mão de alguma coisa da noite para o dia.
- Você já sabe o que vai dizer? - Kate perguntou, virando um shot de tequila. já tinha perdido as contas de qual shot era aquele.
- De verdade? - Ela concordou. - Não. - Ela riu.
Ele evitava olhar muito para os lados. Kate disse que já tinha visto os três passando em algum momento, mas não olhou para trás.
- Então trate de pensar rápido, está vindo para cá. - Ela bateu o copinho no balcão e pegou mais um limão e colocou na boca. - Com licença, preciso ir no banheiro. - Colocou o limão agora sem suco nenhum no prato e saiu.
respirou fundo e virou o conteúdo do seu copo de uma vez só.
- Uma água, por favor. - Escutou a mulher pedir ao seu lado.
- Duas. - Disse pedindo para o barman que concordou. olhou para o lado com os olhos arregalados.
- . - Ela pareceu surpresa. - Como você… O que você… Céus! - Ela negou e fechou os olhos por um momento. - Desculpe pela cena mais cedo, é estranho estar no mesmo lugar que você. - As palavras escorregaram por seus lábios e ela olhou para baixo.
- Você só fez o que eu não tive coragem de fazer. - Ele deu de ombros. Ela mordeu o canto da boca e concordou com a cabeça.
Quando o barman colocou as duas garrafinhas de água no balcão, levantou a cabeça, pegando a garrafa.
- Fico feliz que esteja recuperado do acidente. - Ela disse com um meio sorriso nos lábios.
- Fisicamente estou ótimo. - Ele apertou a garrafa em sua mão e ela suspirou.
- , eu…
- Você nunca pensou em voltar? - Ele foi direto ao ponto. Sentia seu estomago se revirar, mas precisava tirar aquilo de dentro de si.
- Se eu pensei? - Ela riu. - Todos os dias. Você não tem ideia. - Seu tom saiu com uma pitada de raiva e ele sentiu aquilo.
- E por que não voltou?
- Você me procurou? - rebateu.
- Não fui eu que foi embora de um dia para o outro do hospital. - Ele jogou aquilo em cima dela. O corpo todo de congelou e ela engoliu em seco.
- Não, você não pode jogar essa culpa toda em cima de mim. - Ela negou com a cabeça, encarando-o. - Eu não tive escolha , sua mãe proibiu qualquer tipo de visita, tanto eu quando fomos barrados de entrar no seu quarto. Ela nos bloqueou em tudo quanto era rede social. Quando a gente queria notícias suas, precisávamos perguntar para outras pessoas porque a gente não podia fazer absolutamente nada. Então não venha colocar mais essa culpa em mim, porque ela não é minha. - Sua voz se sobressaiu do volume da música. Como estavam em um lugar mais reservado, o volume não era tão alto quanto no restante do local.
deu as costas para e saiu andando sem olhar para trás. pulou do banco em que estava e saiu atrás da mulher.
- Nós estamos conversando. - Ele segurou seu braço.
- NÃO, VOCÊ, - ela bateu o dedo em seu peito - está me acusando de coisas que você não sabe. Eu não chamaria isso de conversar. - e então tirou a mão dele do braço dela. - Eu estou indo lá para fora. Se quiser conversar como dois adultos, ok; se não, nem perca seu tempo. - Ela continuou o mesmo caminho que estava fazendo.
quis gritar, não com ela, mas consigo mesmo, não era daquela forma que ele tinha planejado falar com assim que tivesse oportunidade. Na verdade não havia planejado nada, mas não queria brigar.
Quando passou pela porta lateral, o vento lhe abraçou, fazendo-o tremer. se encostou no corrimão da escada e ele conseguia ver suas costas subindo e descendo, ainda que ela estivesse virada de costas para ele.
- Me desculpe. - Seu tom saiu mais baixo do que ele esperava. - Eu nem sei como colocar em palavras... Porra, faz um ano.
Ela virou de frente para ele. As lágrimas estavam passeando em seu rosto e ele quis chegar mais perto, porém, ele conhecia aquele olhar, aquele olhar dizia para ele se manter longe.
- Todo o tempo em que eu estive dormindo, ou, como os médicos diziam, inconsciente, eu te escutei, quer dizer, mais ou menos. - Ele limpou a garganta. - Eu conseguia te escutar, eu sabia que você estava lá, só não entendia muito bem todas as coisas. Eu escutei todos... você, os médicos, minha mãe, . Todos. - Ele foi sincero. - Eu passei tanto tempo longe que parece que essa não é a minha vida. Eu tinha uma vida boa, um trabalho, família, uma namorada.
- Não que tenha mudado muito. - Ela sorriu enquanto as lágrimas caíam. Ele não entendeu o que ela quis dizer com aquilo. - Sua mãe faz questão de falar para todos como o filho dela está feliz com a nova namorada, que eles estão fazendo diversos planos para o futuro. - Aquilo fez com que um nó se formasse na garganta de , não tinha ideia de que sua mãe falava aquilo. - Muita coisa mudou desde o acidente, . Eu tive que continuar a minha vida, com ou sem você. - Ela apertou os lábios. Doía falar aquilo. De fato a vida seguiu, mas nenhum nunca foi , nenhum nunca conseguiu chegar perto dos sentimentos que ela sentia por ele. - Eu passei dias e mais dias desejando que você acordasse, que desse um sinal de que tudo ficaria bem, eu precisava que fosse ficasse bem.
- Eu nunca conseguiria ficar bem sem você, . - Ele deu alguns passos em direção a ela. se manteve no lugar, imóvel. - Diga-me, você arrumaria todas as suas malas e fugiria sem olhar para trás?
- Você fugiria? - Ela fungou.
- Eu vou te dizer novamente, como eu te disse antes: eu estive dormindo tanto tempo, praticamente definhando naquela cama de hospital sem poder fazer nada. Se eu fugiria? Você é a única por quem eu faria isso. - Ele deu mais alguns passos e acabou com a distância entre eles, puxando-a para um abraço, enquanto as lágrimas dela caíam agora sem pudor nenhum.
- Por mais que eu queira, eu não posso deixar você abrir mão de tudo. - disse entre os soluços.
- Eu não estarei abrindo a mão de tudo, estarei apenas recuperando o meu tudo. Eu mergulharia mais fundo por você, independente do lugar, afinal, que benção sentir seu amor. - Fingiu estar recitando um poema e ela riu.
Ambos sentiam falta daquilo, era fácil um estar na companhia do outro, eles não precisavam medir palavras, qualquer frase clichê se tornava “algo romântico, nada romântico” entre eles.
tinha aquela mania de querer transformar tudo em música, por mais brega que fosse, ele sempre conseguia encaixar alguma coisa em suas melodias, havia nascido para aquilo.
- Eu sei que minha mãe fez tudo isso para que meu pai não perca o trabalho, mas eu não tenho nada a ver com a vida deles. Eu não posso parar com a minha vida por medo.
- Você não vai deixar todos os seus medos à beira do mundo. - sussurrou algo que ele sempre falava para ela quando ela precisava fazer alguma coisa fora de sua zona de conforto.
- Exatamente! Nós já perdemos diversas coisas ao longo desse um ano, talvez esteja na hora de começarmos a ganhar. Eu estou disposto a começar uma nova etapa da minha vida. Seja aqui ou longe daqui, se você estiver comigo eu não me preocuparei com mais nada. - Ele segurou o rosto dela com as duas mãos.
- , eu...
- A resposta está em suas mãos. Pra mim é bem fácil e claro a resposta. - Disse e então suspirou. - Sim ou Não? - Ele perguntou num sussurro.
Ela o encarava com os olhos ainda cheios de lágrimas, sentia seu coração martelando novamente dentro do peito. Agradeceu por respirar ser algo natural, pois sentia que se fosse voluntário ela teria sérios problemas para realizar aquele movimento.
- , eu preciso que você me fale, por mais que meus sentimentos sejam os mesmos, eu vou entender se você não quiser mais nada, não tem problema. Eu só preciso que me fale.
- Sim. - Então ela quebrou aquela distância entre os dois. - Eu já te perdi uma vez, não acho que eu aguente uma segunda. - Comentou depois de tomar fôlego. tinha um sorriso nos lábios. Ele a mantinha presa em seus braços, em um abraço de urso, enquanto ela tinha os braços em sua cintura.
Ela tinha o mesmo perfume.
Ele o mesmo abraço.
Apesar do tempo longe, os dois nutriam os mesmos sentimentos, talvez um pouco mais forte devido à distância. Estavam dispostos a dar mais uma chance para eles independente da opinião dos pais.

Pack up all your bags, stay true to north
You're the only one I'd do this for
Red, red desert
Heal our blues
I'd dive deeper for you


Fim



Nota da autora: Sem nota.


Nota da Beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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