Última atualização: 24/06/2020

Capítulo Único

- Você tem certeza?

confirmou com um gesto de cabeça.
- Eu vou sentir saudade - sussurrou enquanto acariciava uma das bochechas da mulher.
- Saudade? - perguntou com uma voz doce, a testa franzida e que fazia a expressão bonita.
- Sim - sorriu tristemente e segurou-a pela nuca levemente. - Quando você não está perto da pessoa que você gosta, você sente saudade dela.

O rosto feminino se iluminou pela compreensão, um sorriso amplo surgiu.

- Eu vou sentir saudade - ela repetiu a fala do outro, mas era palpável o peso em seu tom de voz ou pelo menos, era o que o coração dele acreditava.

A aventura havia terminado. Um capítulo encerrado na vida de ambos, mas ele não queria aceitar. Tinha a esperança de que ficariam juntos e que voltaria para ele.
Sabia que o mar não seria capaz de separá-los. Acreditava ser tão injusto amar alguém que vive outra realidade. Nutriu amor por uma lenda, o sobrenatural.
Ninguém acreditaria naquilo. era uma sereia.
Quem acreditaria nisso?
Seis meses atrás, encontrou-a desacordada naquela praia deserta que ficava na sua cidade. Ela não falava muito, enxergava as coisas com um olhar tão puro e inocente, algo que parecia irreal. Tinha cabelos vermelhos e os olhos da cor do céu num dia ensolarado. Pensou que iria surtar com a descoberta, mas aceitou ajudá-la em sua missão em terra firme. A aproximação e o forte desejo de protegê-la, tornou-se um sentimento muito forte. Agora, a sereia precisava retornar para o seu lar.
Mas o que seria dele sem ela?

XXX

It brings me freedom (freedom), woah,
Isto me traz liberdade (liberdade), woah,
Got to get yourself to that freedom

Você tem que chegar naquela liberdade
Smiling and feeling your heart beat

Sorrindo e sentindo seu coração bater
Freedom (freedom), woah

Liberdade (liberdade), woah


O seu tempo havia esgotado. Caminhou em direção ao mar, segurando fortemente a mão de . Toda a sua vida, soube que teria que pisar em terra firme, abandonar sua maravilhosa cauda e encarar as dores da transformação. Estava destinado, escrito nas estrelas do fundo do mar. Cada uma das suas irmãs, geração por geração, encontravam o mesmo destino e no final de meses, ouviam o chamado do lar. No início, ouviu apenas um sussurro que perturbava-a em seu sono, até que tornou-se um eco irresistível que corria por cada centímetro de seu corpo. Ia além da necessidade, era uma força muito mais poderosa.
Parou a poucos centímetros da faixa de areia que estava molhada. Fechou os olhos e encheu o seu corpo de ar, acalmando a mistura de sentimentos que dançavam dentro de si. O mundo humano era como uma jaula e sentia-se presa nela, ao contrário de seu lar. Ouvia o seu chamado, arrepiando cada centímetro daquela pele sedosa que se tornaria escamada. Sentia a pele quente da mão de envolvida pela sua. As gaivotas que sobrevoam o céu azul, grasnavam em alegria. O cheiro salgado e familiar, acolhedor, invadia o seu nariz. Ali estava o passe para a liberdade.
sabia que a sua versão em terra, não era a sua verdadeira. A experiência que viveu, mostrou que o mundo humano era muito complicado de se viver, mas que se assemelhavam ao mar. Ambos possuíam o lado bom e ruim. Para ela, o lado bom foi ter conhecido o rapaz ao seu lado. Não trocaria a sua casa, mas admitia que lhe doía a alma ter que partir sem ele. Dessa vez, era um sentimento tão ruim, tão diferente de tudo que estava acostumada a sentir ou conhecer. Naquela praia, onde iniciou a aventura, também seria o cenário do fim.
Abriu os olhos e um sorriso surgiu em seu rosto. Uma felicidade estampou a sua face, era perceptível a alegria que emanava de seus olhos. A compreensão de que jamais seria a mesma, fazia entender o que suas irmãs queriam dizer sobre a transformação. Não era apenas abandonar a sua cauda, as escamas e guelras, era abandonar o seu lar, o que conhecia e vivia. Caminhar pelo desconhecido, vestir a pele e absorver tudo ao seu redor. A pureza das sereias se perdia no mundo humano.

- Meu tempo acabou - soltou a mão do rapaz e virou, encarando-o. A expressão neutra, mas os olhos denunciavam o alívio. Transmitia uma leveza, uma calmaria, uma certeza de que estava onde deveria.

Ele suspirou desolado e escondeu as mãos na bermuda. O olhar castanho demonstrava a sua dor.

- Você realmente não pode me encontrar? - perguntou receoso.

Ela se aproximou, colocou uma mão na bochecha do rapaz e a sensação deixou-o com a respiração presa na garganta. A jovem sentiu o quente de encontro ao frio, arrepiando-a.
- Não.
- Por quê?
- É proibido retornar ao local da minha primeira transformação.
- Você não pode ficar?
- Poderia.

O rosto dele se acendeu em esperança.

- Mas o mar sempre me chamaria - ela afastou a mão, deixando o braço cair ao lado do corpo. - Aqui eu seria presa como num aquário, seria infeliz mesmo que estivesse ao seu lado. No meu lar, eu sou livre - o rosto convicto de uma forma tão leve.

Ele soltou um suspiro de deslumbramento.

- Você é linda.

Ela riu, um som doce e que fez as batidas do coração dele acelerar.

You deserve your freedom
Você merece sua liberdade
Dancing and feeling that beauty

Dançando e sentindo aquela beleza
Freedom (freedom), woah

Liberdade (liberdade), woah


- Eu preciso ir - ela aproximou-se, o olhar sério e que rapidamente, demonstrou uma tristeza. Colocou ambas as mãos no rosto dele e uniu os lábios suavemente, num roçar tão leve feito uma pluma. As sensações do beijo foram capazes de alcançá-lo, um sentimento tão claro como a água mais cristalina, derramou-se dentro de si. Toda a tristeza e desolação por vê-la partir, abandonou o seu coração. Entrou num transe, a mente ficando em branco e sem conseguir raciocinar. O mundo ao seu redor parecia ter parado, assim como seus pensamentos e a capacidade de mover-se. Não se desesperou, apenas sentiu-se leve e em paz, como se os encaixes de um quebra-cabeça tivessem se unido. Tudo parecia fazer sentido, mesmo que não soubesse o quê. Via o mar, o céu azul e a bela ruiva a sua frente, mas a sua cabeça parecia não assimilar o que estava acontecendo. Apenas permaneceu ali, os pés afundados na areia, o vento balançando os cabelos.
- Adeus, - ela sussurrou. Uma lágrima escorreu por toda extensão de seu rosto e terminou, pingando na areia. Logo, um sorriso de sincera felicidade surgiu e substituiu a tristeza. Olhou o amado uma última vez e tentou guardar em sua memória, mas sabia que a transformação levaria embora qualquer lembrança dele. Entretanto, sabia que estaria gravado pela eternidade em seu coração. E esperava que de alguma forma, o dele também, a guardasse.

Virou-se para imensidão do mar e olhou o céu claro. O dia estava tão bonito, receptivo e claramente, em festa pela sua partida. Uma aura de alegria, leveza. Caminhou até sentir a água fria molhar o seus pés e assim que tocou-os, sentiu pontadas subindo dos pés à cabeça. Deu um passo atrás do outro, indo cada vez mais fundo até sentir a familiar dor da transformação ser substituída pela sensação de liberdade.
estava livre.

Got to getcha some of that
Tenho que pegar um pouco daquela
Got to getcha some of that

Tenho que pegar um pouco daquela
Got to getcha some of that, Freedoom!

Tenho que pegar um pouco daquela, Liberdade!





Fim.



Nota da autora: Sem nota.



E se gostou dessa fic, também confere as outras:
Café com Pattinson [Atores - Em Andamento]:
01 - Raindrops (An angel cried) [Ficstape #169 - Ariana Grande: Sweetener]
03 - The light is coming [Ficstape #169 - Ariana Grande: Sweetener]
05. Come Back Home [Ficstape Calum Scott/Finalizada] :

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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