Finalizada em: 25/03/2021

Capítulo Único

sabia que sair de casa e esbarrar no ex-namorado era uma possibilidade. Por isso, só aceitou o convite das amigas para ir a um bar quando elas lhe confirmaram que o estabelecimento escolhido ficava na zona oeste da cidade, uma região que elas de fato não costumavam frequentar, diminuindo as chances de encontro com a persona non grata, que também não passava muito por aquela área. Ela ainda não se sentia preparada para voltar a enfrentar o mundo após o ocorrido, mas e estavam se esforçando tanto para levantar o seu astral que ela se sentiu culpada e acabou se rendendo às suplicas da dupla. Imaginava que, no fim da noite, até se sentiria feliz e agradeceria pela insistência.

O The Rocking Horse possuía uma decoração em tons escuros e iluminação em meia luz. Não era o tipo de ambiente favorito da mulher, mas o simples fato de ter diversas mesas e banquetas para que os clientes pudessem se sentar já era motivo o suficiente para tentar entrar nas good vibes das amigas e permanecer no local por mais tempo do que o previsto por ela antes mesmo de estar ali.
Entre risadas, petiscos e drinks, o inesperado aconteceu. Enquanto esperava do lado de fora do banheiro feminino, seus olhos vagavam pelo local e ela desejou sumir quando seu olhar caiu sobre um certo grupinho. No canto direito do bar havia uma rodinha formada por alguns homens e mulheres, dentre eles estava . O coração começou a pulsar fora de ritmo e seus olhos imediatamente lacrimaram. Quando uma outra mulher se aproximou da roda e envolveu sua cintura com as mãos e ela lhe beijou os lábios, não aguentou e sentiu o rosto ser molhado pelas lágrimas.
— Você está bem? — a jovem que havia saído do banheiro questionou.
— Eu... Eu... Vou ficar. — sorriu fraco. — Não precisa se preocupar, mas obrigada. — ouviu a outra murmurar um “fique bem” e ela entrou apressada em uma das cabines vagas. Fez o que tinha que fazer, mas não teve forças para mover o corpo e sair dali. Foi inevitável reviver a cena acontecida semanas antes, em uma tarde aleatória de suas férias.

Flashback

Da cozinha, escutou o toque padrão de seu celular preencher o ambiente. Secou as mãos rapidamente e partiu em disparada ao cômodo, sorrindo ao ver quem ligava.
— Oi, amor. — ela disse, animada com a possibilidade de o namorado estar ligando para avisar que iria vê-la assim que ele saísse do trabalho. Sua animação logo se dissipou ao ouvir o tom de voz dele e as palavras que saíram de sua boca.
, nós precisamos conversar.
— Você está me assustando, mas ok... Quer vir para cá depois? Podemos pedir o jantar e enquanto esperamos, conversamos. — sugeriu, tentando quebrar a tensão da ligação. Escutou inalar pesadamente do outro lado da linha, e, sem qualquer tipo de rodeios, ele soltou a bomba.
— Eu quero terminar.
Como uma reação natural de seu corpo à situações que a deixavam desconfortável, ela começou a rir.
— Você está brincando, né? — o jeito extrovertido fora uma das coisas que encantou no homem, e, embora o conhecesse bem o suficiente para saber que ele não brincava com coisas sérias, o questionamento foi feito com uma pontada de esperança de que aquela ligação não passasse de uma piada de muito mau gosto.
— Não, . Eu realmente quero terminar. Não tá mais dando... — ele vacilou.
— Do que é que você está falando, ? Nosso relacionamento nunca esteve tão bom e tão sólido como está agora! Será que a gente pode se encontrar para conversar? Eu estou nesse relacionamento tanto quanto você. É sério, você não pode simplesmente pensar em terminar com um namoro e fazer isso por meio de uma ligação! — o tom de voz esperançoso e calmo já tinha ido embora desde a negação dele ao questionamento dela e a partir dali o tom de voz foi subindo gradativamente enquanto ela se movia de um lado para outro dentro do quarto.
— Não há mais nada para conversar, minha decisão já foi tomada. Mais para frente a gente pode combinar de se ver para devolver as coisas um do outro, ou, se preferir, eu posso pedir para um dos caras passar aí e pegar, tanto faz. Obrigado por tudo. Tchau, .
E como se fosse simples assim, ele desligou. Ela jogou o celular na cama e ficou encarando o aparelho por bons minutos, perplexa com o que havia acabado de acontecer.
— Não, não, não. — sussurrava para si mesma.
Tentou retornar a ligação por diversas vezes, mas sempre caia diretamente na caixa postal. Apelou para as redes sociais e ao aplicativo de mensagens instantâneas, mas logo percebeu que ele havia a bloqueado em todos os meios.
Quando finalmente caiu em si, literalmente desabou e nem mesmo o tapete fofinho que mantinha próximo da cama foi capaz de acalentar a queda. As lágrimas jorravam de seus olhos com rapidez, molhando toda sua face e deixando um gosto salgado em seus lábios. Os soluços logo vieram fazer companhia e ela pouco se importou se os vizinhos escutariam seu desespero através das paredes finas do apartamento em que morava.
Ela havia entregue todo seu coração a ele nos dois últimos anos e ele nem sequer havia tido a consideração e a coragem de conversar com ela cara a cara. Tinha plena consciência de que não era perfeita, estava bem longe disso, mas não sabia onde havia errado tanto ao ponto de receber tanta ingratidão por parte do homem por quem era apaixonada. Como era possível tamanha insensibilidade?
Parecia que seu coração havia sido arrancado do peito e ela sentiu que jamais seria inteira novamente de tão intensa que era a dor emocional que sentia.
Estava dilacerada por dentro, e depois de passar dias a fio chorando, ela descobriu que aquela frase “acabar com o estoque de lágrimas” nunca seria verdade, pois bastava voltar àquela lembrança e sua glândula lacrimal voltava a trabalhar a todo vapor.


Assim como em sua lembrança, deixou algumas lágrimas escorrerem por seu rosto e utilizou as palmas das mãos para secá-las. Criou coragem para sair da cabine e encarou seu reflexo no espelho, agradecendo aos céus pela maquiagem à prova d’água. Se por fora aparentava estar tudo em seu devido lugar, por dentro ela estava uma bagunça das grandes. Embora quisesse se esconder ali até o bar fechar, ela sabia que uma hora ou outra teria de encarar a dor de ver novamente. Suspirou pesadamente e voltou para a mesa que dividia com as amigas, passando totalmente despercebida pelo ex.
— Você demorou. — comentou sem olhar para , focada demais em raspar todo o molho do ramequim à sua frente. Quando ergueu o olhar notou que havia algo errado com a mulher do outro lado da mesa, mesmo que a meia luz ajudasse no disfarce.
— Você chorou... O que aconteceu, amiga? — antes de responder, olhou para cima, numa tentativa de conter as lágrimas que mais uma vez estavam prontinhas para se derramar sobre sua face, bastava um pequeno gatilho. Quando sentiu que poderia falar sem chorar, encarou e e soltou. — O está aqui. Com outra.
— Rápido. — comentou e teve a canela chutada por por debaixo da mesa. — Aí!
riu fraco, mas concordou. Ele havia sido rápido demais. Ou talvez já estivesse pensando em ficar com ela quando eles ainda estavam juntos. Ou talvez já tivesse ficado.
— Longe de mim defender um rato, mas ele provavelmente pensou o mesmo que nós, já que vocês não costumavam vir para esse lado da cidade. — a voz de interrompeu seus devaneios e as outras duas concordaram com um aceno de cabeça.
— Amiga, você quer ir para casa? — questionou, imaginando o quão desconfortável deveria estar se sentindo compartilhando o mesmo ambiente com o ex que terminou com ela pelo telefone e que já estava agarrando outra por aí.
— Me desculpem, meninas... Mas realmente prefiro ir para casa, vocês podem ficar e...
— Você também quer levar um chute? — proferiu em um tom de voz irritado. — Viemos juntas, vamos embora juntas! E digo mais, nós vamos para a sua casa encher o cérebro de vinho e o estômago de chocolates. — deu um gritinho animado em apoio e apenas sorriu em agradecimento. Ficar sozinha com seus pensamentos era a última coisa da qual ela precisava no momento.

— Como você está? — questionou quando viu entrar na cozinha.
— Ou bebemos pouco ou eu estou muito resistente, pois estou bem. — as três riram. — Hmm, panquecas! — exclamou, animada. As amigas realmente sabiam como animá-la. Assim que deu o primeiro gole em seu café, ouviu a voz de quebrar o silêncio gostoso que pairava no apartamento.
, nós não queremos estragar sua refeição, mas sabemos que não existe um momento perfeito para isso, então... — encarou sugestivamente, pedindo ajuda com o olhar.
— E antes que você nos xingue, isso não é uma intervenção. É apenas um papo de amigas. Quando um relacionamento chega ao fim, é normal a gente focar nas coisas que perde, mas você já parou para pensar no que ele também perdeu? Porque não foi pouco! Olha só para você, ! Mas além do que as pessoas veem por fora, ele também perdeu o seu apoio inquestionável, seu carinho fácil, sua preocupação doce, suas piadas no estilo Chandler Bing... Enfim, perdeu seu respeito e sua lealdade, que são duas das coisas sem as quais as pessoas que te conhecem jamais deveriam abrir mão.
— Eu concordo com tudo que ela disse! — se pronunciou novamente. — Nessa conta, quem saiu perdendo foi ele.
tinha os olhos marejados, algo bem comum nos últimos tempos. Abriu os braços, convidando as amigas para um abraço triplo.
— Muito obrigada, meninas. Sei que preciso me reencontrar e farei isso, eu prometo.
— Você sempre teve e sempre terá nosso apoio. — sussurrou, sendo seguida por . — Conte conosco! — o gesto amável foi quebrado quando o estômago de roncou alto e elas riram, voltando sua atenção a refeição que estavam fazendo anteriormente.

nunca teve a paciência necessária para ficar deitada tomando banho de sol, a menos que pegasse no sono enquanto o fazia. Naquele dia, no entanto, os raios solares pareciam penetrar todas as camadas de seu corpo, aquecendo muito mais que sua carne. Sentia o coração aquecido e preenchido por uma calmaria que há tempos ela não vivenciava. Não havia bebido tanto assim para atribuir o sentimento ao álcool, então considerou aquele como um sinal de que estava finalmente superando. Deixou um sorriso tímido escapar antes de levar a taça de espumante mais uma vez aos lábios. Ela havia cansado de ficar dentro de seu apartamento remoendo as mágoas causadas por , e estava decidida a fazer de tudo para esquecê-lo, então propôs para as amigas um fim de semana de fuga – que foi prontamente aceito por e .
Através do Airbnb, alugaram uma casa na cidade vizinha com piscina e um gramado enorme, no qual poderiam pisar descalças para descarregar as energias.
— Amiga, essa foi simplesmente uma das melhores ideias que você já teve. — declarou, risonha, pois já havia entornado pelo menos duas taças a mais que as outras.
— Vamos fazer um brinde! — propôs, saindo da parte interna da casa com mais uma garrafa de espumante nas mãos. Serviu as três taças e tomou a frente.
— Um brinde ao meu recomeço e a nossa amizade! Que nossas risadas altas e danças ridículas até o sol nascer sejam cada vez mais frequentes! — declarou, rindo, e elas encostaram as taças umas nas outras, bebericando o líquido borbulhante logo em seguida.



Fim!



Nota da autora: Não acredito que escrevi mais uma história sem um boy perfeito para me iludir. Anyway, eu já estive na situação da personagem principal e minhas amigas ajudaram muito no processo de recuperação, então essa fic é meio que meu agradecimento a elas.
Além disso, quero agradecer a Lala que me deu a oportunidade de participar desse ficstape, a Thay que me ajudou com o plot e a Flávia que além da capa, me ajudou com a parte motivacional.
Se você chegou até aqui, por favor, deixe um comentário! E aproveite para ler todo esse ficstape que está um arraso! 😊

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Nota da beta: Aí, Mari! Você é tão maravilhosa, mesmo sem um pp perfeito para a gente se iludir, você escreve as histórias de uma forma tão incrível! Sou sua fã e não nego, sou apaixonada na sua escrita e tô MUITO feliz que você aceitou participar desse ficstape, você sabe! Essa história tá incrível, eu amei a pp e as amigas dela e quero mesmo é que o pp vá para o inferno hahahahah Muito obrigadaaaaa <3

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