Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

It's been waiting for you
(Tem esperado por você)

Lancaster, OH. 22 de março de 2009

Eu estava perplexa encarando o papel pardo, caro e, com certeza, pesado que repousava graciosamente em cima da mesa da nossa sala de jantar.
- Você está brincando, né? Mãe! – Repreendi, quando ela negou com a cabeça, pegou o envelope e o chacoalhou para cima e para baixo freneticamente, bem na minha cara. – Pai, ela está tirando uma com a minha cara, certo? – Meu pai coçou a barba, sorrindo orgulhoso e minha mãe deu uma risadinha, vindo correndo me abraçar.
- Não, , eu não estou. Veja, está tudo escrito bem aqui. – Ela me entregou a correspondência e eu vi que já estava aberta. Provavelmente a família toda já havia lido antes da carta chegar em minhas mãos.
- Vocês abriram!? – Perguntei retoricamente, rolando os olhos.
- Ai, lê logo isso ai! – Apressou minha mãe, com uma paciência admirável.
Abri o raio do envelope e li a carta umas três vezes, sem conseguir acreditar em nenhuma palavra dela, mas ao mesmo tempo amando cada linha. Um milhão de sentimentos contraditórios tomaram conta do meu ser.
Eu não sei bem como consegui ler uma coisa tão rápido e como reagi igualmente rápido a ela. Em um momento estava lendo uma carta que me levaria à Nova York, meus pais estavam em êxtase e até mesmo Black, meu gato, parecia estar feliz. E então eu me vi em cima da minha bicicleta, correndo pelas ruas de Lancaster, precisando chegar ao banco da maldita praça o mais rápido possível.
Minhas lágrimas não me deixavam enxergar o caminho por onde eu andava e eu temi que fosse cair.
Não sabia bem se estava chorando de felicidade ou tristeza, mas estava chorando. E estava chorando muito, não parei nem mesmo quando briguei comigo mesma, me pedindo para parar.
Eu não parei.
Havia sido convocada para Nova York. Um dos meus antigos e enterrados sonhos iria se realizar.
Não pensava nisso há... Bom, digamos que há um bom tempo.
Quando brincamos de ser cantora, ninguém leva realmente a sério. Minha cidade não é exatamente pequena, mas também não é muito grande. Apesar de Lancaster ser a maior cidade do Condado de Fairfield, com várias pessoas aparecendo nos Festivais de Primavera onde eu costumava cantar, ser cantora não parecia muito uma profissão promissora. É claro que, no começo, era exatamente isso que eu dizia para todo mundo quando era criança.
"O que quer ser quando crescer, ?"
"Uma cantora famosa"
, eu respondia, sem nem pensar. Isso era uma coisa divertida para os adultos e eles sempre riam da minha inocência. Porém, chegou o dia que meus pais perceberam que meu desejo era sério. E mesmo tendo o talento, meus pais nunca quiseram investir nessa carreira. Quando comecei a chorar no dia que meu pai me deu esse choque de realidade, ele me explicou que não tinha uma única ave no céu que superasse minha voz, mas que, infelizmente, ele não tinha como garantir que isso me desse algum futuro. Eu fui dormir chorando, e meu pai não me impediu. Apenas apagou a luz e saiu do meu quarto, dando um beijo carinhoso em minha testa antes de se afastar.
No dia seguinte, assim que sentei na mesa do café da manhã e olhei a infelicidade que eu sentia refletida nos olhos dos meus pais, percebi que eles fariam tudo que pudessem. E eles não podiam fazer nada. Por isso, consenti com a ideia de que nunca seria nem cantora e nem famosa, e desisti completamente desse sonho de garota. Cantava nesses Festivais De Primavera, e às vezes em comemorações de natal na Praça Central, no dia 25. Cantava por que tinha uma base razoável de admiradores na minha cidade. Cantava porque sempre pediam para eu cantar nas apresentações escolares. Eu cantava por que o prefeito pedia, mas era só. Não corria atrás desse sonho, e já tinha oficialmente desistido dele, até a chegada de Bill Hobins. O cara que acendeu a centelha de esperança proibida.
Ele insistiu com meus pais que eu tinha um talento nato e pediu, inclusive, que eu fizesse apenas uma audição. Se eu fosse aprovada, estudaria na New York Film Academy, onde faria o curso de Teatro Musical e assim, cantando em musicais nos teatros, talvez fosse selecionada, com alguma sorte, para fazer parte de uma gravadora. As coisas que Bill me disse, fizeram meu sonho voltar, com muito mais intensidade. Por eu não ser mais uma garotinha de 9 anos talvez, enquanto ele falava eu me via debaixo dos refletores.
Na minha cabeça, eu já era a Rainha do Pop.
Bill disse que a audição iria ser avaliada e então, dentro de dois meses a resposta viria. Lembro que ia olhar a correspondência todo dia de manhã, ansiosa com a resposta.
Mas a resposta não veio.

Os dois meses chegaram e passaram, e nada. Passei outros dois meses conferindo a correspondência, e não obtive nenhuma resposta, nenhum sinal de vida.
Então eu desisti, de novo. Mas dessa vez desisti de tudo.
Não queria mais saber de Nova York, não queria mais saber de música, nem de mais nada. Já não cantava mais em casa, e tinha me esquecido de que, um dia, eu quis ser cantora. Era só mais um daqueles sonhos bobos que nunca seria capaz de se realizar. Eu havia sido aceita na Universidade de Cambrigde, iria estudar Arquitetura e estava tudo muito bem assim. Eu tinha as rédeas do meu futuro, estava dominando completamente a situação. Sabia o que iria fazer da vida, e como meus pais quiseram garantir desde o começo, eu realmente tinha um futuro. Um futuro bom. Eu podia me ver no campus da faculdade, estudando como uma louca e me preocupando antecipadamente para as provas finais como sempre fazia, e sentia que nada nem ninguém iriam atrapalhar meus planos. Ele era infalível.
É claro que eu nunca adivinharia que a resposta iria chegar hoje, quase um ano e meio depois da audição. Coisa que, a propósito, bagunçou tudo que eu já havia planejado.
Ao mesmo tempo que eu sabia que era um sonho distante que no fundo eu ainda queria, e que meus pais iriam me incentivar a seguir em frente, eu não sabia se devia ir.
Por causa dele.
Pode parecer idiotice não correr atrás de um sonho de infância por causa de um garoto, mas eu não tinha certeza se queria deixá-lo pra trás.
Tínhamos tanta história, tantos planos. Ele estava em todos os meus planos pro futuro. Eu o amava. Sabia que se quisesse ir adiante com um sonho, teria que desistir de outro.
era um sonho meu e eu não queria desistir dele, não agora.
Saltei da bicicleta e sentei-me no banquinho, digitando uma mensagem rápida, sabendo que ele chegaria a qualquer momento.
Não demorou muito para eu ouvir o som de outra bicicleta se aproximando.
- Hey, vim o mais rápido que consegui. – Virei-me em direção a sua voz, mas não pude dizer nada, ainda estava engasgada com minha própria confusão. Só vi seu vulto, minha visão ainda estava embaçada por causa das lágrimas. Não sabia como daria a notícia pra ele, mas algo em minha mente me dizia que ele já sabia. – , sua mãe me contou quando eu estava saindo de casa. – Bingo. – Olha só, você precisa ir. Isso vai dar certo. Você precisa ir!
- Mas, , eu...
- Não, nada de “mas”. , você sempre esperou por isso. Era seu sonho, lembra? – Suspirei, meio rindo, meio chorando.
- Era meu sonho. E se não der certo, ? Eu vou apenas me chatear. – Ele se levantou e se ajoelhou na minha frente, me encarando com aquele olhar só dele.
- Vai dar certo. E se não der certo, eu te juro que não vou sair de Lancaster por nada, você sabe disso. Sempre estarei aqui pra você. – Disse, tomando minhas mãos enquanto falava.
- , isso é um tiro no escuro. E eu não quero ir. – Ele suspirou.
- Você quer ir sim. E eu nunca vou me perdoar sabendo que eu fui um dos motivos que fizeram você ficar.
- Não, você n... Eu... Você... Nós... - Minha voz vacilou até sumir completamente. Eu olhei para baixo, me recusando a derramar outra lágrima. Ele fez com que eu olhasse pra ele, simplesmente colocando a mão no meu joelho.
- . Por favor, vá. Eu me sentirei péssimo se você nem ao menos tentar. – Era tão fácil acreditar nele.
Eu não vou mentir, uma parte de mim queria ir sim. Queria brilhar, queria chamar a atenção do mundo, queria fazer com que todas as cabeças se virassem em minha direção e todas as pessoas soubessem quem era Summer. Mas a outra parte não podia deixá-lo. A outra parte precisava dele. Apertava-me o coração saber que, se eu aceitasse a proposta, nunca mais iria olhar nesses olhos , nunca mais iria ao Valley Zipline Tours com ele, nunca mais tomaríamos sorvete depois do almoço nem faríamos mais nada juntos. Eu sabia que iria sentir muita falta dele, assim como sabia que ele nunca iria para Nova York comigo.
Seriam apenas cinco anos. Tanta coisa assim poderia mudar?
Essa era a solução, eu estudaria por cinco anos e então, voltaria a Lancaster e fingiria que isso nunca aconteceu.
Não falei nada disso para ele, mas pelo meu olhar, compreendeu que eu tinha aceitado.
- Eu te amo, . – Sussurrei.
- Ah, , eu também te amo. Demais. – Ele me puxou para um abraço de urso, que eu retribui. Apertamo-nos no abraço até nos esmagarmos um contra o outro, mas nenhum dos dois se importou.
e eu começamos da maneira mais clichê possível: éramos vizinhos.
Estudamos na mesma classe a vida toda. Um dia, quando eu estava voltando da escola, por volta da quinta série, minha mochila rasgou e todos os meus livros caíram no chão. , que estava passando por perto, ajudou-me a pegar e me levou até em casa. Eu já sabia quem ele era, mas nunca senti a necessidade de me aproximar dele, até aquele momento. Senti-me feliz com ele, que não calava a boca um minuto assim como eu, e acabamos criando a rotina de voltar juntos da escola. Isso gerou uma grande amizade.
Mas estava escrito nas estrelas que nós não seríamos apenas bons amigos, e tudo evoluiu no primeiro ano do ensino médio.

Flashback on
- Ei, para! Isso não tem a menor graça! – Falei rindo enquanto fazia cócegas nos meus pés. Eu me debatia no sofá, frustrada por ele não me levar a sério.
- Ah, tem sim. É fofo. – Retrucou ele, me deixando mais nervosa ainda. Eu não conseguia parar de rir e meu abdômen estava implorando desesperadamente por ar. Consegui fazer com que meus pés se enfiassem dentro do vão do sofá, fora do alcance da mão de .
- Isso não é engraçado, não é fofo e se não parar eu vou chutar a sua cara! – Falei, dessa vez brava e ele apenas riu, tacando uma almofada na minha cara. Tirei o pé do vão e o coloquei dentro dos meus tênis, me levantando em seguida.
- Ué, já vai?
- Obviamente, sim.
Ele ficou parado por um momento e então coçou a nuca e olhou para mim, com aqueles olhos brilhantes.
- Hm... Eu queria dizer uma coisa, mas... tudo bem, pode ir.
Eu na verdade não estava com pressa, só queria me livrar daquele formigamento que eu sentia toda vez que ele me tocava. Não era novidade para ninguém que se dependesse de mim ele seria muito mais do que um “amiguinho de escola”, exceto, é claro, para o próprio . E era minha função fazer com que ele nunca descobrisse.
Mas o que ele falou me pegou de surpresa. Ele nunca gaguejava, nem ao menos ficava nervoso na minha presença. Para ser sincera, ele estava estranho desde quinta passada, quando fomos à festa da Alanna, uma garota da escola que morava no nosso bairro. Ele estava tão nervoso, e eu achei que ele queria dar uns pegas na aniversariante. Mas quando disse isso, ele ficou vermelho e me mandou calar a boca. Na hora nem liguei, apenas ri. Agora, não deixo de imaginar o que diabos está acontecendo com ele. Então, fiquei super interessada no que ele tinha a dizer, e com esse pensamento, tirei os tênis novamente e me sentei em seu sofá.
- Agora fala.
- Não é nada, , pode ir. – Ele desviou os olhos dos meus e passou a encarar o próprio pé. Oh, ele vai me dizer, e vai dizer agora. - , abre a droga dessa boca e me diz logo o que tem para falar. – Resmunguei, aumentando meu tom de voz.
- Summer, eu não tenho absolutamente nada para te falar. – Ele estava suando. Ele estava nervoso mesmo. Eu estava tão curiosa. é do tipo que funciona sob pressão, então se eu desse um empurrãozinho...
- Tem sim, você disse que queria me dizer uma coisa.
- É, mas agora não quero mais.
- Para de ser idiota. E. Fala. Logo! –Rosnei, pausadamente. Ele ficou calado, olhando de volta para alguma coisa interessante que tinha em seus sapatos. – . Fala.
Ele não respondeu. Ele sequer se mexeu. Então eu gritei, sem me preparar psicologicamente para a resposta que provavelmente receberia:
- Fala logo, cacete!
- Eu estou apaixonado por você! – Gritou ele de volta. Foi perceptível que ele se assustou com suas palavras bem mais do que eu. Eu estava tão em choque que não consegui imaginar um jeito bom o suficiente de dizer “É cara, eu também”. – Era isso que você queria ouvir? Bom, já ouviu. Agora vai, fala como eu sou idiota e como acabei de estragar nossa amizade. – Murmurou frustrado, sentando ao meu lado no sofá.
Eu abri a boca para responder várias vezes, mas nenhuma resposta parecia realmente boa. me olhava com um olhar transtornado e chateado ao mesmo tempo. Coitado. Achava que eu estava pensando em como chutá-lo. Ele abaixou os ombros, obviamente sentindo a rejeição e eu, desesperada, só falei a primeira coisa que me passou pela cabeça.
- Não! Não estragou. Eu também estou, sabe, apaixonada por você e tal.
Quando eu terminei de falar, não sei de quem foi o maior sorriso. Não era assim tão constrangedor quanto imaginei. finalmente me pegou pelos ombros e colocou-me em seus braços. Aqueles braços. Eram os mesmos, mas agora estavam diferentes.
E eu não queria nunca mais sair deles.
Flashback of

É claro que brigamos, fizemos as pazes, terminamos e reatamos várias vezes, mas penso que isso fez nosso amor crescer de uma forma indescritível. Sei que nem todos os casais do mundo tem o prazer de encontrar um amor assim, e eu fiquei feliz por experimentar esse sentimento. Sei que sou muito nova e talvez não saiba mesmo diferenciar os vários tipos de amor, mas eu sei como é amar e sei que amarei para sempre, por mais imaturo que isso possa soar. Foram três anos incríveis, e acho que por isso que estava tão indisposta a separar-me dele.
era minha alma gêmea.
Fiquei chorando no ombro de até tarde da noite, quando ele finalmente me levou pra casa.
As lembranças daquela noite foram rápidas. Cheguei e imediatamente contei aos meus pais que iria, além de pedir desculpas pela minha reação exagerada. Nunca havia visto pessoas e gatos tão felizes. Minha mãe não parava de sorrir. Ela estava brilhando de orgulho.
No dia seguinte, entraram em contato com Bill, e ele nos respondeu instantaneamente, dizendo que Maraya Carriel, sua assistente, “iria me acompanhar nessa jornada”, palavras dele. Descobri depois que Maraya tinha a minha idade e pensei que futuramente talvez pudéssemos nos tornar grandes amigas.
No dia do meu embarque, ela me esperava no aeroporto, confusa com as várias malas, enquanto eu me despedia dos meus pais, chorando o dobro do que jamais tinha chorado na vida, e procurava com o olhar. Ele não estava em lugar nenhum, mas ele prometeu que viria. Ele prometeu. Eu sei que não é saudável partir e deixar um pedaço de si para trás, mas era exatamente o que eu estava fazendo. Eu não poderia ir completa se não falasse com ele. Na verdade, eu nem sei de onde tinha tirado forças para conseguir partir.
Foi pior quando percebi que não apareceu.
Meu vôo foi anunciado e eu não pude evitar olhar para trás durante todo trajeto até o avião, pensando que eu estava em um filme e que ele iria correr até onde eu estava no último momento, segurando flores e declamando seu amor por mim em público. Eu sabia que não estava em um filme, e, mesmo assim, foi inevitável não continuar olhando para trás.
E esse foi meu erro.
Talvez eu não devesse ter olhado. Talvez eu simplesmente devesse ter seguido meu caminho direto até o avião, como o planejado.
Porque seria mentira dizer que ele não foi ao aeroporto. Ele foi sim. Mas não para se despedir de mim. Eu estava olhando para agarrado com uma ruiva, que posteriormente meu cérebro registrou como Katherine Lewis, enquanto eu, a até então namorada dele, iria para uma cidade distante e desconhecida.
Eu.
A idiota que estava esperando um "adeus" por parte dele.
A idiota que estava chorando que nem um bebê por causa dele.
A idiota que ainda achava que um dia ele iria ser meu marido, veja só.
Provavelmente foi por isso que ele queria tanto que eu fosse. Para ficar com a Katherine. Ele só queria se livrar de mim.
No momento em que meus olhos transbordaram, me viu. Ele olhou pra mim assustado, tentando sair dos braços de Katherine e correndo o máximo que podia em minha direção.
- !
Ouvi quando ele gritou meu nome. Mas eu estava prestes a viajar, e não tinha mais tempo para receber satisfações. Virei-me de costas pra ele quando escutei meu nome pela segunda vez. Ele ainda estava longe, nunca chegaria a tempo.
Partir e deixar um pedaço de si pra trás não é saudável. Mas partir e levar consigo uma parte de si machucada é pior ainda.
A dor e a humilhação me inundaram e eu não seria capaz de responder por mim se batesse na primeira coisa sólida que eu visse na frente. Eu precisava socar alguma coisa. Lágrimas de raiva escorreram pelo meu rosto e eu juro que nunca fui tão mentalmente má.
Tão rápido as lágrimas vieram, logo foram embora. Eu não ia chorar. Ia entrar nesse avião despedaçada sim, mas ia sair dele com foco, com objetivo.
Ele basicamente tinha me feito um favor. Agora que não me prendia mais a Lancaster, jurei que iria dar o melhor de mim em Nova York. Eu não tinha mais nada a perder.
Olhei para os meus pais uma última vez e dei o sorriso mais sincero que consegui reunir. Lutando contra toda minha força de vontade, evitei olhar para o corredor por onde corria, tentando desesperadamente chegar até onde eu estava. Nós dois sabíamos que ele nunca chegaria.
Entrei no avião e Maraya foi super receptiva comigo e, melhor, foi um tanto quanto compreensiva em relação a minha vontade de não falar nada. Durante todo o trajeto até Nova York, eu não abri minha boca.
Quando chegamos já era noite, e apesar de ainda estar muito nervosa e chateada com o que me havia acontecido, permiti-me esquecer dessas preocupações para usufruir das luzes da cidade mais perfeita do planeta. À medida que passávamos por cima da cidade, Maraya sussurrou no meu ouvido:
- Bem vinda a Nova York, .
Welcome to New York
(Bem vinda a Nova York)
It's been waiting for you
(Tem esperado por você)

Nova York, NY. 22 de março de 2014.
It's a new soundtrack,
(É uma nova trilha sonora)
I could dance to this beat, beat.

(Eu poderia dançar ao som dessa batida, batida)
Forevermore.

(Para todo o sempre)

- Srta. Summer, qual sua expectativa para seu próximo álbum?
- , nos diga como foi lidar sua separação com Tyler Handerssen!
- Qual a previsão para o próximo clipe?
- Tyler Handerssen e Summer oficialmente separados?


Eles me amassavam, massacravam-me, invadiam minha privacidade, enchiam-me de perguntas inúteis que eu não fazia ideia do que responder e a única coisa que eu fazia era me fantasiar dando um tiro na cabeça de cada um eles. Argh. Caras insuportáveis.
Sustentei meu sorriso simpático até chegar a limousine e uma vez com a porta fechada, revirei os olhos, me livrei do sorriso falso e xinguei a todos mentalmente, talvez em voz alta, amaldiçoando até a vigésima geração daqueles infelizes.
Lidar com fãs era uma coisa, uma coisa que eu amava, aliás. Mas lidar com esses vermes analfabetos que tinham uma câmera acoplada na mão era algo completamente diferente.
- Ora , achei que era fama o que você queria... – Comentou Maraya, lixando as unhas com uma lixa imaginária. Lancei meu pior olhar mortal pra ela e fantasiei-me dando um tiro nela também.
- Ah, não enche, May. – Ela apenas riu, e sentindo a descontração do lugar, pude relaxar e rir com ela. Maraya enfiou a cara em uma revista uma revista de fofocas qualquer (ela amava revistas e sites de fofoca, vai entender), e eu passei a olhar Nova York (quase) adormecida pela janela.
Desde o meu suposto rompimento com Tyler Handerssen, que por um acaso foi há uns três dias, esses paparazzi não me deixavam em paz. Acontece que: nós nem chegamos a namorar! Por Deus, nem ao menos ficamos! Que saco, só saímos algumas vezes. E sem nenhuma sombra de segundas intenções, eu o considerava muito apenas como um bom amigo. Ok, ele era gato e é claro que ele tentou alguma coisa, mas isso não vem ao caso porque não rolou nada entre nós.
Por um acaso, eu estava presente na cerimônia do Oscar e acabamos nos trombando quando ele foi chamado para apresentar (Nos trombamos literalmente, foi uma trombada catastrófica. Meu vestido ficou todo sujo de vinho). Além disso, nos encontramos de novo quando fui convidada para cantar uma das trilhas sonoras da série, e acabamos conversando de novo na festa do cast que rolou depois. Era pecado ter amigos? A pior parte da mídia é o distorcer das notícias que ela fazia. Pela mídia, Tyler e eu "namoramos" por umas três semanas e há revistas especulando que namorávamos em segredo antes disso. Nem eu e nem Tyler confirmamos tal namoro e mesmo assim não nos deixavam em paz. O mais desesperador eram as pessoas acreditando. Até as Summers, minhas fãs, caíram nessa cilada. Um dia depois dessa notícia ridícula vazar eu entrei no twitter e notei que já haviam algumas fãs “shippando” nós dois. Elas se davam o nome de Harmer Shipper. E isso estava separando o fandom no meio já que algumas eram contra e outras a favor. Tinham as fãs que apontavam fatos que talvez pudessem comprovar o namoro e devo dizer que isso me chateava um pouco. Mas eu secretamente amava demais aquelas que diziam que só iam acreditar no romance quando eu mesma confirmasse. Dava-me a sensação de respeito, a sensação de controle sobre minha própria vida.
O mesmo andava acontecendo com Tyler, mas de uma forma pior, já que é ator e sua série de sucesso é bastante conhecida, e os fãs se questionavam de que forma isso afetaria a série. Kiera Collins, o par romântico de Tyler na série, era adorada pelos fãs tanto na série quanto fora dela, e eu era a vadia idiota que estava “pegando” o lugar de Kiera. Então, como se não bastasse, eu era obviamente odiada pelos fãs de One Stormy Night.
Claro que depois de tantas perseguições, tanto dos fãs que me odiavam, quanto da mídia, resolvemos parar de nos ver, pelo menos em público, e isso gerou uma repercussão fora dos holofotes, sugerindo que (finalmente) tínhamos terminado. E adivinha quem foi que levou um tremendo pé na bunda? Isso mesmo, eu.
Agora, eu era a fofinha da Summer que estava sendo perseguida, por que "Anw, Tyler partiu o coração dela, como será que ela está?".
Eu pareço ser fofa? Eu não sou fofa! Por que diabos eles todos me acham fofa e sensível?
- Por que eles me acham fofa? – Perguntei em voz alta para ninguém em especial, até lembrar que Maraya ainda estava ali.
- Talvez pelo fato de você ser fofa. – Respondeu, sem tirar a cara da revista.
- Eu não sou fofa. – Resmunguei. – Eu queria estourar o cérebro daqueles insetos! – Eu sabia que esse seria um argumento muito inválido, não serviria nem se eu tivesse dezessete anos, e para comprovar minhas palavras mentais, May arqueou as sobrancelhas.
- Uau. Você é a criatura mais malvada que eu já conheci. – Falou, com um sarcasmo tão sólido que eu quase consegui vê-lo. Apenas revirei os olhos e tentei pensar em uma resposta à altura enquanto Damon, meu motorista, abria a porta para nós duas.
Não tinha ninguém querendo saber coisas sobre mim no meu prédio. Principalmente pelo fato de ter pessoas muito mais importantes que eu morando lá. Tipo a filha da prima do Obama. Eu morava aqui há quase cinco anos e sinceramente, acho que eles já tinham até enjoado da minha cara. Portanto eu chamava o prédio de "Refúgio". O lugar mais seguro para mim, no momento.
- Não quero ser malvada, mas eu não acho que seja fofa. – Continuei a discussão inútil. Tinha várias outras coisas importantes para me preocupar, mas vencer aquela batalha de personalidade com Maraya parecia ser a única coisa que eu precisava fazer no momento. Foi a vez dela me encarar séria e revirar os olhos. Antes que ela pudesse responder, uma outra voz, que eu reconheceria em qualquer canto da Terra, falou por ela:
- Eu te acho fofa.
- Pai!? –Suspirei, feliz e confusa, correndo para abraçá-lo.
- E também acho que é inteligente, forte e bonita, tanto por dentro, quanto por fora. – Continuou ele, passando a mão em meus cabelos louros enquanto eu me afogava em seu abraço.
- Só o senhor acha isso. – Brinquei, depois que o soltei. Ele me olhou de um jeito meio sério. Acariciou minha bochecha direita com o polegar e sorriu.
- Sua mãe também achava, você sabe. – Era estranho como eu voltava a ser a garotinha do papai toda vez que eu o via. Cadê a mulher forte e independente de vinte e dois anos que ele acreditava que eu era?
Eu sentia tanta falta da minha mãe. Forçava-me a acreditar que ela teria muito orgulho de mim se me visse agora. Talvez todos os meus passos desde quando ela se fora tenham sido pensados para que ela se orgulhasse. Meus olhos marejaram, mas eu apenas sorri.
- Sim, ela achava.
Meu pai me disse que estava de passagem, que veio apenas acompanhar um grande amigo dele e hoje mesmo voltaria a Lancaster. Fiquei surpresa com a notícia, afinal meu pai não tinha muitos amigos. Imaginei que não teria que me preocupar com isso, porém ele me convidou para jantar todos juntos naquela noite antes de ele voltar. Eu não tinha planos para noite e fiquei mais do que feliz em aceitar esse tal jantar.
Era bom conversar com alguém que não me fazia perguntas sobre CDs, filmes e carreira em geral a cada cinco minutos. Eu realmente amava meu pai. Passamos o resto da manhã e a tarde toda juntos.
O modo como eu, uma simples garota de Ohio, consegui atingir a fama tão rápido foi tão inesquecível quanto estranho.
Bill fez exatamente o que disse que ia fazer. Comecei o primeiro semestre na New York Film Academy, mas não cheguei a me formar. Antes mesmo de começar o segundo semestre, chamei atenção de uma das gravadoras mais difíceis da região. É, estou falando da própria Syco.
E depois de um tempo que achei absolutamente curto, lá estava eu, uma garota assustada de dezoito anos gravando meu primeiro single em um estúdio.
Quando lancei meu primeiro CD e divulguei a data do meu primeiro show, estava em pânico. Achei que ninguém ia gostar de mim, que ia ser uma pessoa no esquecimento e que ia falir a gravadora no primeiro ano do contrato.
Imagine minha surpresa quando descobri que não apenas os ingressos do meu show tinham se esgotados em apenas quinze minutos, como também haviam centenas de pessoas na frente do meu prédio, brandindo cartazes e gritando meu nome.
No começo foi meio estressante e apavorante, eu não fazia ideia do que estava fazendo.
Pra falar a verdade, até hoje eu não sabia muito bem como lidar com essa coisa de fama e obviamente não sabia lidar com os insetos dos paparazzi, mas tinha pegado um pouco o jeito.
Nunca fiz nenhum show fora dos Estados Unidos, mas possuía alguns fãs no Brasil e em alguns outros países da América do Sul, e queria muito ir pra lá. A gravadora ainda acha que não é uma boa ideia, mas eu realmente queria ir. Minhas fãs latinas parecem perceber meu amor por elas apesar de eu não ter planos de ir pra lá através do twitter, e elas são as melhores. Minhas fãs americanas também são incríveis. Todos os meets que eu faço com elas são especiais, e apesar de me esquecer de seus nomes e rostos logo em seguida, eu ainda as amo. Todas as Summers juntas são uma família e eu me orgulho disso. Minha base de fãs no começo da carreira era formada por garotas e esse número cresceu. Creio que 90% dos fãs são garotas, mas na verdade não me importo. Um dia antes do natal do ano passado, haviam umas sete ou oito garotas na frente do prédio com uma foto minha na camisa delas. Estava muito frio e parecia que elas só tinham ido ali me ver. Eu não tinha nada para fazer e então as convidei para entrar. Foi uma tarde incrível, mas apesar de ter gostado, nunca mais repeti a experiência. Maraya estava junto e acho que as garotas se divertiram mais com May do que comigo.
Maraya que tem me ajudado. Ela que cuida da minha agenda, tanto a pessoal quanto a profissional, que me dá conselhos, que me irrita, que praticamente mora comigo... Fazemos quase tudo juntas. Eu a tornei minha assistente particular assim que o contrato dela com Bill acabou e sabia que se não a contratasse, não poderia contar com mais nenhuma outra pessoa.
May é minha melhor amiga.
Quando chegamos ao prédio, ela subiu e me deixou à vontade com meu pai, aproveitando para resolver coisas da própria vida.
Chegamos em meu refúgio e o bom e velho Sr. Summer fez questão de ficar em um hotel perto do meu prédio ao invés de simplesmente se acomodar no meu apartamento. Disse que não queria incomodar, já que veio de surpresa. Falou que viria me buscar em duas horas para o nosso jantar.
Como ele insistiu nesse jantar, eu insisti no restaurante e logo nós dois concordamos em jantar no Pizza Hutt, que não era nem chique nem despojado o suficiente para eu ser seguida.
Eu achei super estranho o fato de ele deixar o amigo dele perdido por aí, principalmente depois de ele ter dito que esse amigo não tinha vindo se encontrar com ninguém e também não conhecia a cidade. Eu, graciosa como sou, prontifiquei-me para apresentar Nova York pra ele, se ele quisesse. Meu pai me lançou um sorriso cheio de pés de galinha, aparentemente satisfeito.

Depois de um tempo usufruindo do meu vinho e escutando qualquer coisa que Coldplay cantava, resolvi começar a me arrumar. Sem May para me dar conselhos, deduzi que seria bem mais complicado escolher uma roupa adequada. Olha só a dependência que eu tinha daquela morena safada.
Tomei banho, arrumei meus cabelos e fiz uma maquiagem básica. Eu ia para uma pizzaria afinal. Até que a questão das roupas não foi muito difícil. Escolhi uma saia florida, uma blusa de manga cumprida branca e um sobretudo bege por cima. Estava casual o bastante. Bom, pelo menos eu esperava que estivesse casual o bastante.
Vendo a hora que meu pai marcou se aproximando, tomei o resto do vinho que estava no copo em cima da mesa, e consegui, de algum modo, calçar as botas e escovar os dentes ao mesmo tempo. A campainha do interfone tocou no exato momento em que fechei a torneira.
- Srta. Summer? Seu pai te espera. – Murmurou a voz mecânica e entediada da interfonista.
- Diga a ele que desço em um instante! – Praticamente gritei, antes de desligar na cara dela. Apaguei as luzes, peguei meu celular em cima do sofá e entrei no elevador que ficava na minha sala. Um dos benefícios de se morar na cobertura.
Encontrei-me com ele lá embaixo, e fomos em direção ao meu carro. Dispensei Damon dizendo que podia ir dirigindo hoje.
Quando entramos no carro, meu pai parecia feliz, e várias vezes falou desse seu amigo. Eu estava de verdade achando que era um amigo imaginário, mas, quando sugeri isso, ele ficou sério. Parecia que estava pensando no jeito certo de me contar alguma coisa.
Na última vez que ele falou desse ser desconhecido, que por um acaso foi quando estacionei em uma vaga perto do restaurante, eu simplesmente não aguentei mais a curiosidade.
- Mas pai, quem é esse homem?
Ele virou pra mim com um sorrisinho ao mesmo tempo gentil e preocupado.
- , por favor, prometa que não vai me matar.
Revirei os olhos, abrindo a porta do Pizza Hutt e entrando, com meu pai em meu encalço.
- Argh, vamos logo ver o que o senhor aprontou. Ele já chegou? – Meu pai ergueu a cabeça para inspecionar o restaurante e então apontou para uma mesa no fundo.
- Já. Ele está ali.
Eu praticamente senti sua presença antes de vê-lo. Aquela postura, aquelas costas, aquele cabelo bagunçado, podia jurar que até o perfume dele eu sentia... Eu o reconheceria em qualquer lugar.
Depois de tantas ligações ignoradas, tantas mensagens que não respondi, tantos e-mails que eu nem fiz questão de abrir, ali estava ele.
Eu não pedi por uma satisfação. Eu não pedi por respostas. Eu não pedi por visitas periódicas. Que diabos ele estava fazendo ali? Senti a raiva chegando aos meus olhos e fiz menção de dar meia volta. Meu pai pegou meu pulso e eu o encarei furiosa.
- , por favor. Escute o que ele tem a dizer.
- Pai, eu não... Você não entende, tá legal? Eu não posso!
Ele acariciou meu pulso e o soltou. Olhou para onde "seu amigo" estava e depois olhou para mim.
- Por favor, faça isso. Eu sei do que estou falando. Conversamos sobre isso durante meses. Confie em mim, sou seu pai. Ele precisa falar com você.
Respirei fundo e assenti com a cabeça, o tempo todo repetindo "Você vai se arrepender disso" na minha mente.
Balancei a cabeça para me preparar psicologicamente. Eram só algumas horas. Em algumas horas isso tudo acabaria e eu fingiria que ele nunca apareceu em Nova York para ferrar a minha vida. De novo.
Meu pai foi na frente e eu o segui receosa a passos lentos.
- ? – Chamou, fazendo com que meu coração gelasse e o rapaz se virasse em direção a sua voz. Eu não estava nem um pouco preparada para o que viria a seguir.
Assim que ele virou os olhos, viu-me.
Milhares de emoções passaram diante de seus olhos quando nossos olhares se encontraram. Eu não sabia dizer se ele estava apavorado, aborrecido, surpreso ou feliz. Mas reconheci a última. Aliviado. Ele parecia aliviado. E então sorriu.
- Você veio.
Eu tinha várias respostas engraçadinhas para dizer a ele. "Na verdade, não tive escolha" era o que eu provavelmente diria, se não tivesse feito uma excelente observação.
Não sentia raiva dele.
Achei que quando olhasse naqueles orbes vivos, toda minha raiva subiria a flor da pele, mas não senti raiva nenhuma.
Na verdade, apenas quando ele apareceu na minha frente é que eu percebi o quanto eu sentia a falta dele. Céus, eu senti tanta falta dele!
- Eu vim. – Afirmei o óbvio enquanto sorria pra ele de forma sincera, por incrível que pareça.
Ele se levantou para me abraçar e eu o correspondi, na medida do possível. Eu podia ter deixado pra lá temporariamente, mas não tinha sofrido uma amnésia. Não foi como o nosso último abraço, não preencheu a falta que eu sentia dele, não foi o suficiente, porém me afastei mesmo assim, e me sentei do lado do meu pai, que logo se levantou.
- Bom, vou perder o avião. Se cuida, menina. Eu te amo. – Falou carinhoso, se curvando para dar um beijo em minha testa, fazendo com que eu o encarasse confusa. Não me ocorreu que ele serviu apenas para reunir o e a mim, e que nos deixaria a sós. Eu não queria que ele fosse. Desde que mamãe morreu, ele tem estado sozinho. Já ofereci várias oportunidades para ele morar aqui em Nova York comigo e ele rejeitou cada uma delas, afirmando que ficaria onde o corpo de sua esposa repousava. Uma vez eu fiquei tão furiosa que quase pedi pra ele trazer o corpo dela para repousar aqui. Não disse em voz alta, claro, mas me puni por meses só por ter tido esse pensamento.
- Mas papai, você nem...
- Eu como no avião. Não se preocupe, o velho aqui vai ficar bem.
Ele sorriu, com seus tão característicos pés de galinha. Eu sabia que ele não iria mudar de ideia, e que não havia mais nada que eu pudesse fazer, não adiantaria nem mesmo oferecer uma carona até o aeroporto. Eu conhecia bem meu pai. Quando colocava algo na cabeça, nada nem ninguém o fazia tirar.
Levantei-me para abraçá-lo.
- Faça uma boa viagem, pai. Eu também te amo muito.
Ele beijou minha bochecha.
- Cuida bem da minha menina, rapaz. – Advertiu e deu uma piscadinha para antes de nos dar as costas, saindo do Pizza Hutt.
- Espero que esses sorrisinhos simpáticos que você tem me dado sejam pra valer. Pensei que estivesse com raiva de mim. – Admitiu, assim que sentei na cadeira novamente.
- E estou. – Disse rápido. Eu nem ao menos pensei, entretanto sabia que tinha sido sincera. Tive que dar um jeito de consertar. – Mas isso não é mais importante. Se veio até Nova York só para me pedir desculpas, tudo bem, eu te desculpo. De verdade.
Falei tudo rapidamente, e fui verdadeira em cada palavra. Quer dizer, meu horror em perdoá-lo assim tão facilmente não se comparava ao meu horror em imaginar que ele tivesse vindo pra Nova York pra valer. Que ele tivesse vindo para ficar. Ele me olhou atônito.
- Não vim até aqui apenas pra te pedir desculpas.
Fiquei confusa por um momento. Ele sempre me dizia que nunca na vida dele sairia de Lancaster para morar em nenhum outro lugar. Por que diabos ele tinha vindo pra Nova York?
- Hm... Arrumou um emprego? Bem, eu não tenho muito tempo, mas se quiser posso te mostrar a cidade à noite e tamb...
- Não, , você não entendeu. Quer dizer, sim, arrumei um emprego, mas não é por causa dele que estou aqui.
Ele estendeu as mãos em cima da mesa para tocar a minha, e eu não o impedi. Sentia falta desse toque. Ah, a quem eu quero enganar? Sentia falta de absolutamente tudo nele. Aqueles olhos ... Aqueles doces olhos que agora me encaravam com admiração... Foco, .
Fechei os olhos, mas os abri logo em seguida.
- , por favor, seja mais direto.
Ele arqueou as sobrancelhas e sorriu.
- Preciso ser mais direto que isso?
- Ah, precisa. – Retruquei, tentando tirar minha mão debaixo da dele, porém ele me apertou mais, me obrigando a olhar em seus olhos. E alargando seu sorriso anunciou:
- Estou aqui para te reconquistar, claro.
Like any great love, it keeps you guessing
(Como todo grande amor, te deixa inseguro)

Não sabia bem que reação eu deveria ter ao escutar isso. Não sabia se deveria fica nervosa ou feliz. Contente ou zangada. Triste ou comovida. Mas eu queria beijá-lo. Queria abraçá-lo. Queria ser dele e ficar com ele. E depois queria socá-lo. Queria bater nele até me arrepender e enchê-lo de beijos novamente...
Ele não tinha esse direito. Aparecer aqui na minha vida depois de cinco drogas de anos! Ninguém faz isso! Por que ele não veio antes? Por que veio agora?
Provavelmente minha expressão denunciava o horror que eu estava sentindo, por que a cara fofinha que fazia se transformou em uma careta de preocupação. Manifestei-me antes que ele piorasse minha situação.
- Olha, eu... não acho que isso seja...
- Ei. Eu juro que queria ter vindo antes. Mas eu não estava pronto. E nem você. – Ele segurou minha mão com mais força e eu me vi completamente sem palavras. O que era um tanto quanto irônico, já que meu último single se chamava "I Am Never Without Words", letra composta por eu mesma. Eu tive que rir da minha constatação mental, mas logo em seguida fiquei séria novamente. Eu ainda não sabia bem o que devia dizer, então falei qualquer coisa para começar nossa onda de confissões. Aparentemente, prestaríamos todas as contas agora.
- Essa não é a questão, eu só não queria... Eu só não queria que tivesse acabado daquele jeito. – Arrisquei. Ele levou minhas mãos aos lábios e a beijou.
- Você não queria vir por minha causa e eu sabia disso. Não queria te prender. O que acha que aconteceria se ainda estivesse em Lancaster?
Eu sentia que era uma pergunta retórica, mas fiz questão de responder.
- Nada que eu não tenha hoje! Eu estaria formada em Arquitetura, teria uma casa, uma vida perfeitamente confortável, um marido, e... e minha mãe ainda estaria viva...
- Não foi culpa sua!
- Foi culpa minha sim! Eu que praticamente implorei pra eles virem. Eu podia ter esperado até o outro dia, e assim eles pegariam o avião! Mas eu fui egoísta e estava desesperada e queria eles comigo. Eles tiveram que vir de carro, na chuva, e eu presenciei o pior final de semana da minha vida. Se eu tivesse ficado em Lancaster...
- Você não teria alcançado seu sonho, . –Ele me interrompeu, gentilmente. Eu não sabia ao certo como tinha tanta certeza disso, mas sentia que se tivesse mesmo ficado em Lancaster, eu poderia estar vivendo muito bem. Os dois futuros, o que eu estava vivendo e o que poderia ter acontecido, eram bons e me agradavam. Porém, como assinalou, um desses futuros era meu sonho e o outro não era.
-Mas eu ainda teria uma mãe.
Falei, simplesmente, tanto pra quanto para mim mesma. Ele me olhou com solidariedade, e eu percebi que estava falando sobre luto com a pessoa errada. foi criado pelos tios. Ambos os pais morreram quando ele tinha apenas nove anos. Suspirei.
- Bom, você tem razão, de qualquer maneira. Eu alcancei meu sonho e sou muito feliz. E não faz sentido falar de coisas que não tem mais volta. – Ele soltou minha mão e apoiou o cotovelo na mesa, com as mãos embaixo do queixo.
- Às vezes, Kay te vê na TV e grita a música pra casa inteira ouvir. – Eu sorri, olhando para baixo. Kay era a prima mais nova de , agora ela já devia ter uns doze ou treze anos. – E todas as vezes que eu ouço a música com ela, não deixo de pensar uma única vez que talvez a dor que eu fiz você sentir tenha sido benéfica. Mesmo em horrível circunstância, sinto que fiz a coisa certa.
Meu sorriso morreu na hora e eu olhei pra ele.
- O que quer dizer com isso? – Ele me deu um sorriso triste.
- Achei que se você não me visse no aeroporto, ficaria com raiva de mim o suficiente pra ir livre, sem pensar no que acontecia em Lancaster. – Admitiu, envergonhado. – É, eu sei, “Nossa , mas que plano idiota”, não é mesmo? Eu só tinha dezesseis anos, e estava desesperado. Sabia que você não iria inteira se eu não fizesse alguma coisa. Eu prometi pra você que iria ao aeroporto e eu fui. Eu nunca quebrei essa promessa. – Eu o fitei com um olhar terno, pensando que ele tinha razão. Foi a última promessa que ele me fez e ele a cumpriu. Mas ainda havia Katherine. Como se estivesse lendo meus pensamentos, sua expressão mudou de doce para divertida e acanhada.
- O que foi?
- Hm, Katherine nunca foi parte do meu plano. Quer dizer, em um momento eu estava tendo um ataque do coração vendo você partir, escondido em um canto, e em outro ela simplesmente me agarrou!
Minha mente divagava, tentando preencher as lacunas da história que eu conhecia com os fatos que desconhecia.
- Eu achei que você tinha me incentivado vir só pra ficar com ela. – Murmurei, envergonhada em admitir uma coisa dessas.
- Eu pensei mesmo que você tivesse chegado a essa conclusão. Isso é tão sua cara. Liguei várias e várias vezes, deixei um milhão de mensagens, mas você nunca retornou.
- Me desculpe por isso. – Pedi, com sinceridade. suspirou.
- Eu cheguei a escrever um e-mail por dia durante dois anos inteiros contando como foi o meu dia e como estava sendo sem você. Às vezes não dava tempo de digitar em um dia, então no outro eu digitava o dobro, pra compensar. – Ele riu, olhando para um ponto distante no restaurante. – Você nunca leu nenhum deles, leu?
Ainda envergonhada, olhei para minha própria perna.
- Não. – Consegui admitir. amava escrever. Todos os presentes que eu ganhava dele eram acompanhados de palavras e mais palavras. Naquele momento me senti culpada por ter ignorado todos os prováveis setecentos e trinta e-mails.
- Quando ficou óbvio que você não estava lendo, eu parei de tentar e comecei a arrumar um jeito de chegar até você. É aí que seu pai entra. Eu já estava estudando jornalismo e quando terminei, ele deu um jeito de me trazer para Vogue. Em Nova York.
Eu o encarei, perplexa. Meu choque foi tanto que sem querer bati a mão em uma latinha de Coca que apareceu magicamente do meu lado. Meu pai era editor, trabalhava no jornal principal de Lancaster, então tinha uma certa influência em outras editoras.
- Você trabalha pra Vogue? – Ele esboçou um sorriso orgulhoso, sentando ereto na cadeira.
- É isso aí. , você tá bem? – Perguntou, depois que eu não consegui fazer mais nada a não ser abrir a boca em um gesto de indignação. sempre criticou revistas. Disse que se fosse para escrever matérias, seria em um jornal, de verdade. Tipo New York Times.
- Quando disse que queria me reconquistar, você não estava brincando, não é? – Comentei, antes de comer um pedaço da minha pizza que também apareceu magicamente.
- Não, eu não estava.
Apontei para as pizzas.
- Aliás, como essas benditas vieram parar aqui? – Ele riu.
- Eu já tinha pedido antes de você chegar. O garçom colocou aí e você nem percebeu.
Eu ri da minha própria tapadice. Passamos o resto do jantar conversando sobre amenidades, coisas superficiais, e então, mais ou menos uma hora depois, eu resolvi que estava na hora de ir embora. Ofereci uma carona para , mas ele disse que já tinha um carro. Olhei para ele orgulhosa, pensando em quando ele aprendeu a dirigir. Despedimos-nos, e eu prometi que iríamos nos encontrar em breve. Comecei a andar feliz em direção ao meu carro, mas antes mesmo de tê-lo em meu campo de visão, escutei me chamando e virei-me.
Ele vinha com o celular ligado e uma expressão preocupada. - Erhm... , eu preciso de uma mãozinha.
- O que houve?
- Eu... perdi a hora do check-in no hotel. Fiquei o dia todo correndo atrás da casa, carro e trabalho, e... Bom, se não for abusar de sua parte, será que eu poderia dormir no seu apartamento?
O quê? Espera aí, campeão, cartão vermelho na parada. Como assim dormir no meu apartamento? Ainda mais quando minha não oficial colega de quarto não estava! O que os benditos vizinhos iriam pensar?
Eu estava prestes a recusar e, ao invés disso, ajudá-lo a encontrar outro hotel, quando vi em seus olhos que não havia outro hotel e eu mesma sabia disso. Eu realmente não ia morrer se concordasse com isso e, para ser sincera comigo mesma, eu queria que ele fosse. Indo contra todos os meus princípios, acabei concordando.
- Hm, claro. Tem quartos de hóspedes, não vai precisar dormir no sofá. – Brinquei, dando uma piscadinha. Ele sorriu aliviado e disse que estaria me seguindo.
Fui até meu carro e seguimos para o prédio sem maiores complicações.
When we first dropped our bags
(Quando largamos nossas malas pela primeira vez)
on apartment floors,

(No chão desse apartamento)
took our broken hearts,

(Pegamos nossos corações partidos)
put them in a drawer.

(E os trancamos em uma gaveta)

- Uau, essa sala é maior que minha casa inteira. – Comentou , assim que entramos, colocando suas malas em um canto da sala.
- Aí que exagero. Não é pra tanto. – Falei sem jeito, enquanto tentava arrumar um jeito discreto de guardar o vinho sem ele perceber. De tudo que eu não precisava era me embebedar. E eu era literalmente uma moça para bebida. Da última vez que a gente se viu, nenhum de nós bebia. Ah, quem diria. Cinco anos depois, nos encontrando de novo. Lembro-me que nesse mesmo dia, há cinco anos atrás, meu plano era apenas estudar na NYFA e voltar correndo para Lancaster. Olha só eu agora. Uma cantora, do jeito que eu queria. Com fãs, admiradores, CD’s, singles... Eu havia conseguido.
E tudo isso por que achei que tinha partido meu coração.
Vaguei pelo apartamento em alerta a qualquer objeto estranho a visitas, como por exemplo calcinhas, sutiãs ou absorventes, e depois de arrumar o quarto de , voltei a sala.
- Seu quart...
Fui interrompida pela porta do elevador se abrindo e revelando minha querida não oficial colega de quarto usando pijamas e segurando seu tablet. A garota estava à beira do desespero.
- Summer, pelo amor de Deus, você pod... – Ela parou de falar quando viu parado do lado da geladeira.
- Eu posso... – Incentivei. Maraya sacudiu a cabeça umas três vezes e lançou-me um olhar malicioso, porém assustado. Ela estava estranha e começou a falar rápido demais.
- Eu só queria saber se você podia me dar... ovos. – Apressou-se em bloquear o tablet, o deixando em cima do sofá e foi até a geladeira.
- Oh, tudo bem, pegue os ovos, eu super deixo. – Murmurei sarcástica.
- Oooi, meu nome é May, prazer. – Falou, enquanto arrastava da frente da geladeira, sem a menor cerimônia, me ignorando completamente. Ele respondeu lentamente com um “Eu sou o e ela arregalou os olhos e tentou me encarar com choque discretamente, mas acho que ele percebeu. May sempre dizia que ele ia voltar, e eu nunca acreditei nela. Aparentemente, teria que lhe dar boas respostas amanhã. Ela encontrou os ovos e pegou três. Apanhou o tablet no sofá e já ia saindo, mas se deparou com meu olhar acusador. – Qual é, quero fazer... bolo!
- Maraya, são onze e meia da noite. – Comentei, checando o relógio na parede e continuando a achar a garota muito estranha.
- É que meus pais vão vir amanhã me visitar, e eu não tenho nada para oferecer a eles, por isso, vou fazer o bolo.
Eu já ia comentar que isso não fazia nenhum sentido já que tinha uma padaria bem na frente do prédio, mas ela não deixou eu falar.
- Ah, olha a hora. – Deu um tapa em sua própria testa. – Vocês devem estar com sono. Tchauzinhooo.
E acenou cantando, se mandando pra dentro do elevador. Ela morava no andar abaixo do meu, e minha vontade era de bater na porta número 82 agora mesmo.
- Eu gostei dela. – Falou . Eu sorri.
- Ela é incrível mesmo. Bom, seu quarto está pronto. É o primeiro à direita. Eu vou dormir, mas por favor, fique à vontade.
Eu não queria dormir, mas também não queria ficar conversando com , não quando eu corria o risco de acabar na cama com ele. Não sabia ao certo se isso aconteceria, mas pensava que as chances eram bem boas. Talvez eu estivesse sendo covarde. Éramos adultos agora, ele nunca me pressionou antes e não seria agora que ele o faria. Mas de qualquer forma não queria ficar com ele sozinha.
Fechei a porta do quarto e apaguei a luz, só pra manter as aparências, e fiquei observando o teto iluminado apenas pela fresta de luz que saia do corredor.
Mas meu cansaço mental era tanto, que dormi dois minutos depois sem nem perceber quando a porta do meu quarto abriu.

A pessoa me chacoalhava sem parar. Era um gesto leve, suave, mas ao mesmo rude porque, qual é, estavam tentando me acordar. Isso seria rude em qualquer circunstância. Virei-me de um lado para o outro antes de finalmente abrir os olhos e dar de cara com sentado na ponta da minha cama, com um sorriso enorme na cara. Ele rapidamente se manifestou.
- Hey, bom dia!
- Bom d... - Bocejei no meio da frase e esfreguei os olhos ao despertar com aquela voz rouca no meu ouvido. De repente, acordei completamente. - QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO NO MEU QUARTO?
Eu estava dividida entre expulsa-lo do meu quarto e me cobrir com o lençol, já que meu pijama era minúsculo, mas optei por nenhuma das alternativas anteriores e fiquei sentada na cama, parada com um olhar perplexo esperando ele se explicar. Coisa que ele fez quase imediatamente.
- Perdão, , é só que aquela sua amiga, a May, veio aqui, mas você estava dormindo e ela pediu pra acordar você as oito. Bom, são oito horas. – Finalizou, obviamente envergonhado, dando de ombros.
Esqueci completamente de ficar zangada com e dei um tapa forte em minha própria testa, levantando sem nem me importar com minha pouca roupa.
- Cacete, tô atrasada. – Resmunguei grogue enquanto andava trôpega pelo quarto. Achei meu celular e dei um toque rápido no celular de May, avisando que já tinha acordado.
Quando olhei para o outro lado, ainda estava no mesmo lugar, me encarando com um sorriso malicioso e bobo ao mesmo tempo. Olhei para meu próprio corpo, e para o pijama mínimo que o acompanhava, e enrubesci, mas logo recuperei o controle.
- Para quem está tentando me reconquistar, não começou muito bem. – Ele me lançou um olhar culpado e desviou o olhar, porém continuou no quarto.
- Hm, me desculpe por isso. E... Bem, eu já estou de saída. Minha casa já está... pronta. É, está pronta. Então... hmm... obrigado por... ter deixado eu ficar. Eu já... eu já vou indo. Hm... Tchau, . – Ele se aproximou e me deu um beijo terno no rosto. Eu achei tão fofo o modo como ele ficou todo nervoso quando percebeu que eu o peguei no flagra. Ele hesitou bastante enquanto falava, e eu suspeitei que ele estava tentando dizer as coisas certas. Aparentemente levou o meu fora a sério. Fiquei comovida, confesso. Ele estava quase escapulindo, só Deus sabe quando eu o veria novamente, então resolvi fazer qualquer coisa para prolongar o momento.
- Ei, espera, eu te levo até a porta. – Ofereci, mesmo que a distância não fosse assim tão longa. Peguei o roupão no cabide e o segui para fora do quarto.
Ele pegou suas malas e colocou na frente do elevador, que eu chamei rapidamente, vendo com felicidade que ele ainda estava no térreo. Acho que teríamos mais uns cinco minutos antes de o elevador chegar.
-Você está bem? – Perguntei. Ele parecia aflito.
- Estou, estou, eu estou ótimo. – não parecia nada ótimo, mas eu não disse isso a ele.
- Quer sair amanhã? – Perguntei. Ele me encarou e arqueou as sobrancelhas, mas sorriu.
- Claro. Passo aqui às dez?
-Às dez está ótimo pra mim. –Sorri. Estiquei-me em sua direção e ele ficou parado no lugar. Fracamente, tão fracamente que nem eu mesma percebi, depositei um beijo em sua bochecha. Ele ficou corado e nesse momento o elevador chegou, trazendo May junto com ele. Separei-me de rapidamente e dei um resmungo.
- Tchau, .
- Tchau, . Até amanhã. – Ele se virou uma última vez enquanto May falava um “Até amanhã?” mudo e eu só revirei os olhos.
- Tchau, ! Vem, , você está mega atrasada. – Foi a última coisa que May disse antes de o elevador se fechar, me puxando pelo braço em direção a cozinha, e então parou. Ela esperou até que o elevador estivesse no andar de baixo e me soltou. – Ok, o que você tem na cabeça?
- Um cérebro, eu espero. – Falei, tentando fazer graça. May não riu.
- Você não faz ideia, né? Meu Deus, você está tão ferrada, . – Ela estava me deixando preocupada. O que estava acontecendo? – Sarah quer te ver. – Falou, mordendo os lábios.
Oh, não. Sarah nunca me via. Sarah Bellderman nunca via ninguém, a não ser que fosse extremamente importante. Entrei em desespero.
- Antes de ir, quero te mostrar com o que terá que lidar. Espero mesmo que você tenha uma boa explicação para isso. – E então me estendeu o tablet que segurava. No início eu não entendi, mas depois precisei me sentar no sofá para não cair.
Duas fotos. A primeira era de mim e no Pizza Hut. Estávamos apenas conversando, mas a foto foi tirada em alguma parte da noite em que ele segurava minha mão e eu estava sorrindo. Não lembrei o que ele me falava naquele momento, mas não importava. Era a foto de baixo que me preocupava. Uma foto de entrando no meu prédio. Era óbvio que ele tinha ido para meu apartamento. Para deixar toda situação mais legal, tinha a reportagem.

“Meiga ou Vadia?
Como vocês sabem, Tyler Handerssen (24) e Summer (22) deram fim ao relacionamento há menos de três dias atrás. #todaschoram. Acreditávamos que a causa do fim do relacionamento propriamente dito teria sido o ator, ocupado com os preparativos para as gravações da série (One Stormy Night), que começarão no próximo dia 15, em Hollywood.
Porém, as fotos abaixo mostram com um estranho e ele, aparentemente, dormiu em seu apartamento.
Ao que parece, teremos que rever nossos conceitos. Se não foi Tyler quem terminou, terá sido ? E a causa terá sido o tal estranho?
Afinal, Summer é mesmo quem todos pensamos que é?”

Larguei o tablet em cima do sofá e encarei as paredes. Então agora eu não era mais fofa. A mídia não me via mais assim. Eu era uma vadia, uma colecionadora de namorados.
Oh, céus. Eu estava tão encrencada.
The lights are so bright,
(As luzes são tão fortes)
but they never blind me

(Mas elas nunca me cegam)

- Summer? Sarah a está aguardando em sua sala. – Informou a sorridente secretária. Eu queria mesmo era gritar um “Vá pro inferno, Sarah!”, mas me contive e sorri de volta para a simpática Reyna, secretária do estúdio.
Maraya passou o caminho todo me preparando para a bronca, mas infelizmente ela não me ajudou muito. Isso por que no meio do caminho, Damon desceu para comprar o nosso café (e não tinha nenhum bolo no apartamento de May; eu sabia que essa história dos pais dela vierem pra cá era papo furado), e trouxe junto três revistas para May, fazendo com que ela desse um gritinho feliz e se jogasse nos braços dele. Ele enrubesceu e eu achei fofo. Acreditava secretamente que tinha/teve/está tendo um certo romance entre minha amiga e meu motorista, mas tento não pressionar May com essa história. Bom, o caso é que eu e a foto espetacular na frente do meu prédio éramos a notícia da capa. Nas três revistas.
Nenhuma de nós falou pelo resto do caminho.
Bati na porta de Sarah, como uma dama comportada e ingênua, mas não foi ela quem abriu a porta. Foi Tyler. Ele ficou chocado, assim como eu, mas depois abriu um sorriso e saiu da sala, passando por mim sem dizer nada. Desconcertada, ignorei o ocorrido e entrei na sala, depois de ouvir um nada caloroso “Entre”.
Ela estava de costas para mim, virada para janela. Eu podia ver os tufos de seus cabelos muito loiros por cima da cadeira, e podia sentir seus olhos cinzas me fulminando através do meu reflexo na janela. Pigarreei.
- Bom dia, Sarah.
Ela se virou em sua maldita cadeira rotatória, com um sorriso diabólico demais para essa hora da manhã. Procurou alguns papéis em sua gaveta impecavelmente organizada e assim que o encontrou, depositou em cima da mesa.
- Mau dia, . Péssimo dia. – Eu arqueei as sobrancelhas e ela sorriu. – Sente-se, por favor.
Eu obedeci, me sentando sem saber ao certo como reagir. Deveria me sentir culpada? Brava? Revoltada? Não sabia. Sarah pegou as várias folhas de papel e começou a ler, sussurrando-as para si mesma e eu engoli em seco quando percebi do que se tratava. Era o meu contrato. Droga. Sarah de repente ficou feliz e voltou seus olhos nebulosos em minha direção.
- Preciso que me faça um favor, . Leia a o parágrafo sete b da cláusula quinta. Droga, droga, droga, mil vezes droga. Eu não precisava ler para saber o que estava escrito nele. Eu já tinha lido outras três milhões de vezes antes. Peguei a folha da mão de Sarah e vi que estava tremendo quando estendi minha mão para pegar o papel. Tentei disfarçar balançando a folha enquanto lia, mas Sarah percebeu. Fingi que não tinha notado e devolvi a folha pra ela, encarando os clipes pretos e pratas, colocados em potinhos separados, em sua mesa.
O único ponto do contrato que quase me fez não assiná-lo era aquele. Eu deveria saber que era o único que eu teria problemas para seguir. O único que eu me recusaria a seguir.
Eu não podia ter amigas. Mas não me importei com esse problema, eu tinha May, e um dos motivos de eu tê-la contratado era que ela sempre podia ficar ao meu lado, e ninguém iria questionar isso, pois ela era minha assistente. O negócio, porém, era muito mais complicado do que não poder ter amigas.
- ? O que diz no papel que você acabou de ler? – Perguntou Sarah, levantando-se e indo em direção ao seu aquário. Ela estava de costas pra mim e eu aproveitei para mostrar o dedo para ela. Eu estava tão nervosa com esse maldito contrato.
- Diz... diz que não posso me relacionar com pessoas sem...
- Sem o quê?
- Sem... fama. – Grunhi. Ela colocou comida para o peixe e se virou para mim novamente, sorrindo com aqueles dentes brancos demais.
-Não é bem essa a expressão correta. Mas sim, não pode se relacionar com alguém que não é famoso. Você com certeza deve achar tudo muito... rígido. Mas é para o seu próprio bem. Isso corrompe tudo o que esse estúdio já construiu, além de dar a você uma horrível reputação. Mas você sabe, , se você tiver uma reputação ruim, nós todos vamos ruir junto com você. – Ela pegou uma revista e jogou na mesa à minha frente. – Isso aí, na capa dessa revista, é você ruindo. E já sabe o que acontecerá se você ruir de vez. Por isso, temos uma solução. Não será assim tão legal para você, mas será vantajoso para nós.
Fiquei pálida. Possivelmente mais branca que os dentes de Sarah. Ela estava me demitindo?
- Está... está me demitindo? – Perguntei, receosa. Pela primeira vez desde que eu a havia conhecido, há cinco longos anos atrás, Sarah riu. Mas não aquela risada falsa, era uma risada de verdade, calorosa, que fazia ela parecer humana. Sarah se sentou, com a sombra da risada ainda no rosto.
- Por Deus, , claro que não! Deve reconhecer o próprio valor. Mesmo se eu quisesse, e eu não quero, nunca demitiria você. Isso me atrapalharia mais que ajudaria. – Senti-me usada, mas ao mesmo tempo poderosa. Ela dependia de mim. Sarah Bellderman dependia de mim. Sorri, aliviada.
- Bom, então qual é a solução? – Eu já não estava mais tensa e comecei inclusive a olhar Sarah com outros olhos. O que poderia acontecer de ruim? Ela sorriu e digitou alguma coisa no celular antes de me responder.
- Sufocar as notícias. – Respondeu simplesmente. Ok, sufocar as notícias era tudo que eu mais queria. Mas como? – Sua imagem, caso você ainda não tenha lido, está se degradando. Todos acham que você é uma tremenda... hm...
- Vadia. – Falei por ela. Sarah arqueou as sobrancelhas pra mim – Tudo bem, Sarah, você pode usar essa palavra. E sim, eu já li isso. – Completei, meia chateada. Ela sorriu e colocou as suas mãos em cima das minhas, em um gesto quase maternal vindo dela.
- Não se preocupe. Vamos restaurar sua imagem. E para sufocar as notícias com o clandestino desconhecido, teremos que voltar a...
Ela foi interrompida por três batidas na porta. Achei que ia ficar zangada, mas ela sorriu mais ainda, aparentemente satisfeita consigo mesma.
- Pode entrar.
E, abrindo a porta com seu habitual óculos escuros, vestindo uma calça preta e uma camisa branca simples estava nada mais nada menos que... Tyler Handerssen.
O que ele estava fazendo ali, interrompendo a minha reunião? Resolvi deixar que Sarah explicasse, já que pediu para que Tyler se sentasse na cadeira ao lado da minha.
- Chegou bem na hora, Tyler. Estava explicando o plano para . – Que plano? Estava oficialmente confusa. Tyler me deu um sorriso solidário e Sarah prosseguiu. – Você e Tyler tem tido um histórico imenso de mentions no twitter e tem sido a matéria preferida das revistas nas últimas semanas. O meu plano é... um contrato. Entre vocês. – Oi? Tyler fingiu que não ouviu, obviamente ele já sabia, e eu tive que me controlar para não dar na cara daquela mulher.
- É o que? Quer que eu... namore? Com ele? Por contrato? Tem noção do quanto é ridículo namorar alguém por contrato? – Explodi. Sarah me olhou calma e Tyler tinha um olhar chateado, mas nem liguei.
-Isso seria benéfico para os dois. Estão começando a suspeitar que Tyler e Kiera namoram e não somente isso, mas que também ela está grávida. Um outro namoro iria com certeza anular essas notícias. Isso seria bom para ambos os lados.
- Sarah, isso é demais, isso é... – Não consegui completar meu raciocínio.
- É só por um tempo, . Apenas para sufocar a notícia. Tenho certeza que quando os tabloides sossegarem, vocês poderão abandonar o contrato. – Onde clica para voltar no tempo e ter ido embora daquele restaurante quando eu tive oportunidade? Droga, , você conseguiu acabar com a minha carreira simplesmente aparecendo.
- E se eu não quiser? – Ela me olhou diabolicamente.
- Receio que não tenha escolha, querida. – Isso estava passando dos limites. E eu seria obrigada a concordar. Inferno.
- Por... por quanto tempo? – Ela me lançou um olhar cheio de compaixão.
- Não há tempo. Quando decidirmos que é seguro, para sua imagem e para a empresa, então vocês poderão acabar com o contrato.
- Eu não acredito nisso. Sarah, eu não... O que eu vou dizer? Eu... sou apaixonada por ele. – Sarah, que antes tinha uma fachada de pura calma, aparentemente perdeu a paciência.
- Você não vai deixar um ninguém acabar com essa empresa, . Nem tudo é sobre amor. Sua carreira, sua imagem, a imagem desse estúdio, está tudo em jogo. Portanto, você vai assinar esse contrato, por bem ou por mal. – Eu estava muito nervosa para concordar sem lutar.
-Q uer saber, Sarah? Eu estou cheia disso, cheia dessas regras, cheia de tudo isso. Eu vou ir embora, sei que existem outras gravadoras que me querem, como você mesma fez o favor de me informar. – Sarah se sentou e virou a cabeça para me encarar.
- Acho que você não entendeu. As gravadoras não querem você, querem essa imagem pura, doce e meiga que nós te demos. Se te demos essa imagem, com certeza podemos mudá-la, podemos corrompê-la. Por isso eu lhe dou duas alternativas. Ou você assina esse contrato, sai por essa porta com Tyler como se nada tivesse acontecido entre vocês, ou você sai por essa porta agora mesmo sem ele e eu dou um jeito de fazer com que sua carreira desmorone de vez. E ai, qual vai ser? – Onde eu havia me metido? Não existia nada que eu odiasse mais que a mim mesma naquele momento. A não ser Sarah e a sua maldita ideia, claro.
- Sarah, existe outras maneiras de fazer ela concordar com isso. – Manifestou Tyler, pela primeira vez. – Suspirei.
- Não, está tudo bem. Onde está a droga da caneta? – Murmurei, me controlando para não explodir de raiva. Tyler deu um sorrisinho triste e eu fiquei até feliz por ser ele e não um desconhecido qualquer. Pelo menos éramos amigos, não seria assim tão ruim. Eu acho. Sarah me deu a caneta e eu assinei o papel, vendo com o canto do olho que o nome de Tyler já estava assinado.
- Muito bem. Agora, , você não pode contar nada para ninguém. Os diretores e eu formamos uma coletiva de imprensa hoje, às dez, com vocês e o resto do elenco, e vamos usar a deixa para oficializar o namoro, então quero você aqui às dez em ponto. Ninguém pode saber que é falso e isso inclui seu namoradinho caipira. Em outras circunstâncias, eu diria que você deve convencer o público que esse namoro existe, mas nesse caso, você vai se esforçar para convencer a basicamente uma pessoa. Eu quero que você convença a ele.
Everybody here was someone else before,
(Todos aqui eram outras pessoas antes)
and you can want who you want

(E você pode querer quem você quiser)

- Eu gostaria de fazer uma pergunta ao Tyler. – Tyler sorriu, concordando. A garota que perguntava sorriu com ele. – Acha que o Alex vai perdoar a Sam dessa vez? –Todos riram com a pergunta.
Alex Muller era o dócil protagonista da série, interpretado pelo Tyler; e a rebelde e rude Sam, interpretada pela Kiera. A série em si, na verdade, era bastante legal. Era um drama e contava a história de uma família que fica despedaçada quando o pai é assassinado. Eles logo perdem todo dinheiro e se mudam para o Oregon, onde a irmã mais velha de Alex, Lindsay, encontra o mundo da prostituição e das drogas e a mãe trabalha como empregada em meio período e é uma bêbada no outro. A irmã mais nova, Katie, de apenas nove anos, é a única que não é afetada dessa forma pela pobreza e tanto ela quanto Alex tentam seguir a vida normalmente. O primeiro passo é a escola local. É ai que Alex que conhece Sam, a garota complicada e rebelde, que pode ou não gostar dele, mas que demonstra detestar todo mundo. Alex, que sempre foi um garoto inteligente, tímido e meigo, se encontra como parceiro de biologia dela. Aos poucos a garota vai mudando, mas é claro que antes de ficar tudo bem ela faz várias besteiras, besteiras do tipo que dá vontade de entrar na televisão e bater na cara dela.
O que é muito engraçado, por que olhando para Kiera agora, eu seria incapaz de imaginar que ela pudesse se transformar em uma garota tão hostil. Mas enfim, o que quero dizer é que a série era um tremendo sucesso e o final da terceira e última temporada estava deixando todos à beira da aflição (inclusive eu).
- Acho que essa informação é sigilosa. – A garota agradeceu sorrindo e indo contra todos os meus princípios, decidi que era hora do show. Discretamente, como se eu não quisesse que ninguém visse, acariciei as costas da mão esquerda de Tyler. Ele me olhou e sorriu. Eu não era uma atriz como ele, mas aqueles seis meses na NYFA realmente serviram para alguma coisa. Sorrindo, perguntei a ele (até por que eu mesma queria saber disso, então não foi assim tão difícil):
- Não vai contar nem pra mim? – Fiz uma cara de chateada e ele deu um sorrisinho de lado. Aproximou-se de mim e sussurrou no meu ouvido “Está fazendo um bom trabalho”. Olhei chocada pra ele, que se aproximou de mim novamente.
- Agora é o momento perfeito pra você ficar histérica e fingir que te falei alguma coisa. – Eu ri.
- Não acredito! Eu sabia que ela tinha traído ele, desde o começo! – Falei um pouco mais alto. Tyler me deu um tapinha na mão e mandou eu ficar quieta. Essa nossa conversinha durou bem menos que um minuto, mas não passou despercebido aos repórteres. Estava quase chegando a hora da grande novidade. Uma mulher de cabelos curtos que se levantou. Eu sabia que seria ela. Em alguns minutos, essa coisa toda seria oficial.
- Há algumas semanas, correm boatos acerca do relacionamento de vocês. É verdade? – Olhamos um para o outro. E eu sussurrei as palavras que fizeram meu coração doer.
- Sim, é verdade. Estamos namorando. – Sorri falsamente animada. O salão inteiro ficou calado por alguns segundos, mas foi questão de tempo até todos quererem fazer as mesmas perguntas. Deixei essa parte com Tyler, enquanto sorria com cara de paisagem e fingia que aquilo não me afetava. Depois disso a conversa se voltou para Keira, que negou tanto o relacionamento quanto a gravidez e novamente para a série, onde Nattaly Kird (que fazia o papel de Lindsay Muller) e Tiffany Melcom (que interpretava a Katie) brigaram de brincadeira por Natally ser uma mulher suja demais para aquele recinto. Eu fiquei alheia a conversa, alheia a tudo, só respondia quando me perguntavam algo e não foram muitas vezes.
Dez e meia da noite. A essa hora já teria descoberto? Será que ele cairia nessa? Aliás, fui eu quem o chamei para sair. Eu não queria acreditar que isso estava acontecendo comigo.
Eu me recusava a acreditar.

Cheguei em meu prédio arrastando os pés. Tyler não disse nada o caminho todo, mas eu esperava que ele não pedisse para subir. Não estávamos namorando de verdade.
- Droga! – Xingou baixinho. Virei para onde ele olhava e vi dois homens com câmeras na mão. – Vem cá, . – Arqueei as sobrancelhas, mas aproximei-me dele. – Agora ria.
- O quê?
- Ria! Faz de conta que eu disse uma coisa muito idiota. – Eu ri. Mas eu ri de verdade, por que essa situação toda era idiota. – . Me beije.
- Ah, isso não estava no c...
E então eu fui beijada. Eu não saberia descrever um beijo, mas com certeza não foi um beijo profissional. Ele me beijou pra valer. Sua mão direita estava em minha face e a outra escorregou para minha cintura. Eu? Eu não beijava a tanto tempo que correspondi da melhor maneira que consegui. Envolvi seu pescoço com meus dois braços e senti ele sorrindo. Eu sorri também, apesar de estar um pouco nervosa. Eu correspondi aquele beijo sem nem hesitar.
Sem nem hesitar? O que tinha de errado comigo?
Afastei-me e segurei sua mão. Ele ia ter que entrar, nós dois sabíamos disso. Ah, essa notícia ia ser sufocada rapidinho.
Entramos no elevador, saindo da cola dos paparazzi e uma vez com as portas fechadas os dois pudemos respirar aliviadamente.
O que estaria fazendo agora? Será que ele já tinha sacado que eu dera um fora nele? Queria saber se ele ainda estava me esperando, ou se já tinha ido embora ou a sua reação quando eu contasse do namoro, embora falso pra mim.
A resposta surgiu quanto Tyler e eu entramos no aparamento.
estava lá.
Olhava para o chão e eu juro que nunca tinha visto ele tão triste. A notícia já teria vazado então? Aparentemente sim.
- ... – Comecei. Ele olhou pra mim. E sorriu. Um sorriso maléfico quase, e eu percebi que ele estava sofrendo.
- Não. Não fala nada. Acho que me chamou pra sair pra me dizer isso, certo? – Perguntou, apontando para mim e Tyler e se levantando do sofá. Eu teria que dar o melhor de mim agora. Se ele soubesse como doía, talvez entendesse. Mas ele não podia saber, o que era o pior de tudo.
- Desculpa, tá? Eu... Eu amo ele. – Sussurrei, apontando para um Tyler assustado na frente do elevador. Jesus, não soei sincera nem para eu mesma.
- Ama? Você ama? – Gritou. “Me desculpe, , desculpe pelo que vou ter que fazer agora”, pensei.
- Amo! Por que você está tão bravo? Você esperou CINCO anos pra decidir vir atrás de mim, queria que eu fizesse o quê? Sentasse nesse sofá e te esperasse pra sempre? Não vai rolar, . Eu esperei tempo demais. – Eu sabia que o havia magoado. Deus, como eu queria não ter dito isso! Ele contraiu a face, abrindo a boca duas ou três vezes antes de fechá-la novamente. Fiquei esperando para saber o que ele faria. Por fora, minha expressão era nervosa, uma expressão que demonstrava exatamente o que eu tinha acabado de falar. Mas por dentro eu estava arrasada.
Eu não amava Tyler, eu tinha certeza que amava . Amava do jeito que ele era, amava com seus defeitos e qualidades, amava o da minha adolescência e amava o em que ele tinha se tornado. Mais do que isso, percebi naquele momento que, embora o tempo e o espaço, eu nunca tinha deixado de amá-lo um dia sequer.
- Você tem razão. – Finalmente falou. – Eu achei que estava fazendo tudo certo, mas... É, sabe de uma coisa? A única pessoa que não devia ter esperado, era eu mesmo. – Foi a última coisa que disse antes de entrar dentro do elevador e sumir. E eu o deixei ir. Eu tive que deixar.
- O que... foi isso? – Perguntou May interessada saindo do corredor. Eu nem sabia que ela estava lá, mas pensando bem, isso era óbvio. De que outra maneira estaria no meu apartamento? – Ah meu Deus, Tyler Handerssen?
- Hm, é. – Murmurou. Depois seus lindos olhos verdes se viraram para mim. – Me desculpe. Lamento muito que Sarah tenha te envolvido nisso. Eu... Eu acho que...
- O quê? O que foi, Tyler?
Ele olhou pra chão, suspirando.
- Eu gosto de você. Eu sei que não gosta de mim e que só está nessa pelo contrato e tudo mais, mas eu realmente gosto de você. Queria que soubesse disso. Então, se tiver alguma coisa que possa fazer, qualquer coisa para minimizar esse estrago, por favor, me fala.
É, eu já sabia disso. Ele não precisava reforçar o fato, na verdade, por que isso só colaborou para que eu ficasse ainda mais nervosa.
- Hm... Ok? – Foi a única coisa brilhante que meu cérebro pensou em responder. Ele sorriu, se afastando e entrando no elevador.
- Ok, o que... foi isso? –Repetiu May. Revirei os olhos, me esquecendo de novo que ela estava ali. May era minha sombra, mas estranhamente esquecia disso com facilidade.
- Sarah. Namoro falso. Coração partido. Mais coração partido. Pegou? – Falei, tentando fazer graça. Não rolou.
- Ele deve ter ficado arrasado.
- É, ele ficou.
- Coitado.
- Uhum.
- Chegou aqui todo feliz porque ia sair com você e do nada, blau, viu a notícia na TV, juro que dez minutos antes de vocês passarem por aquela porta.
- Porcaria de mídia idiota. – Murmurei, enquanto tirava os sapatos, andando pelo corredor.
- Por que a Sarah iria querer uma coisa dessas? Tipo, não faz sentido! Você devia poder namorar a droga de quem você quisesse! Você devia ter o direito de namorar a droga de um sapo se quisesse! – Reclamou May, aparentemente consigo mesma.
Deixei a garota falando sozinha e me mandei pro meu quarto. Agora eu estava vivendo uma vida que não era mais minha e se dependesse de mim, nunca mais sairia de dentro desse quarto.

Acordei com uma rainha dor de cabeça. Tinha chorado igual uma menininha a noite toda. Doía ficar sem ele, doía saber que ele não me queria mais, doía ser eu mesma a culpada disso, doía. Doía de um jeito indizível, doía de um jeito que nunca, jamais doeu antes. Queria sentir raiva de Tyler, mas afinal isso não tinha sido ideia dele. Ele apenas concordou com isso, então não posso culpá-lo. Além disso ele estava me ajudando muito nessas últimas horas.
- , pelo amor de Deus, para de chorar. –Pediu, pela quinquagésima vez. Sequei meus olhos, mas recomecei o choro.
- Ele nem me atende mais, Tyler. Ele me... esqueceu. – Tyler enxugou uma lágrima, enquanto novas rolavam pelas minhas bochechas.
- Nenhum homem em seu juízo perfeito iria conseguir te esquecer. – Sussurrou. Senti-me bem. De um jeito estranho, mas bem. Haviam se passado treze horas desde a coletiva e Tyler estava tentando fazer eu sair do quarto. Não estava sendo uma tarefa fácil.
Queria incendiar a maldita gravadora.
Queria matar Sarah.
Queria rasgar o contrato na maldita cara dela.
Queria ser capaz de fazer tudo isso.
Everybody here wanted something more
(Todos aqui queriam algo a mais)

Nova York, NY. 13 de setembro de 2014.
- O que foi? O sorvete está assim tão ruim? Não creio! – Brinquei, quando ele fez uma cara de cachorro chupando limão para um inofensivo sorvete de morango. Ele estava esquisito.
- Não, o sorvete está bom. – Disse, apenas. Eu dei de ombros e continuei tomando meu próprio sorvete. Tyler tinha chegado de Hollywood hoje, então estávamos na fase “senti falta do meu namorado atorzinho”.
- O contrato foi ideia minha. – Murmurou, depois de um tempo. Não. A ideia tinha que ter vindo da idiota da Sarah. Tinha que ter sido assim.
Quase seis meses haviam se passado desde quando assinei o contrato, e nas duas últimas semanas Tyler tem estado um pouco esquisito.
Estávamos na sorveteria e estava sendo realmente divertido, até ele começar a suar e tremer e eu obrigar ele a dizer o que tanto o atormentava.
E foi essa a resposta que eu obtive.
“O contrato foi ideia minha”

Não saímos mais apenas para manter as aparências e sim por que depois de um tempo começamos a nos entender. Saímos como amigos, e fingimos que somos um casalzinho nhe nhe nhe. Não era assim tão difícil. As pessoas acreditavam, éramos o melhor casal do mundo, os fãs da série começaram a me amar (e ouvir minhas músicas, olha que legal), e não estava assim tão ruim.
Aproximei-me muito de Tyler nesses meses. Se eu não estivesse tão machucada e tão convicta de que ainda era estúpida e completamente apaixonada por , eu com certeza já teria dado uma chance ao Tyler. Claro que nos beijamos outras vezes, mas era sempre uma coisa nova, por que seus lábios eram desconhecidos para mim, eram estranhos e eu não gostava deles. Sentia que estava no lugar errado no mundo, e eu estava. Tyler era incrível, ao seu modo e eu gostava dele, era um ótimo amigo.
Mas o contrato foi ideia dele.
Se não fosse pelo contrato eu talvez fosse uma cantora desempregada, mas se não fosse pelo Tyler, eu ainda teria . Não nos falávamos desde aquela noite, mas eu sabia que ele ainda estava em Nova York. Sabia disso por que eu lia seus artigos na Vogue sempre que podia (o que era quase sempre), e até ele precisa admitir que era um bom emprego para um cara recém formado. era realmente bom com o que fazia, preciso reconhecer. Eu não o procurei e ele também não veio para tentarmos conversar com mais calma, então deduzi que ele tinha desistido, o que me deixou extremamente deprê e chateada. E agora Tyler me dizia que o contrato tinha sido ideia dele. O contrato que eu odiava mais que tudo tinha sido ideia dele. Dele, não de Sarah, a quem eu culpei com toda força da minha alma.
- Não pode ter sido ideia sua. – Murmuro, finalmente. – Não pode.
- Me desculpa, ! Sarah estava tendo ideias absurdas e isso foi o que encontrei pra salvar sua carreira, pra te salvar! – Falou, um pouco mais depressa. Não queria mais ouvir uma palavra. Meu sorvete de chocolate com cobertura de morango de repente não era mais tão gostoso assim e minha garganta ficou seca. Levantei-me, sem tentar entender o que ele dizia, embora eu quisesse. – , por favor, me desculpe! Eu ia te contar, mas eu... – Gritou Tyler alto o suficiente para todos escutarem enquanto eu já estava na porta. Foi a última coisa que escutei dele antes de pisar na calçada.
Eu tinha que acabar com isso. Eu precisava. Um mês era suficiente pra tudo isso acabar, certo? Acontece que já se passaram seis meses e eu ainda estava nessa. Eu queria uma vida, eu queria minha liberdade, eu queria ter o direito disso tudo. Não aguentava mais. Eu era definitivamente apaixonada por desde sempre, nunca deixei de amá-lo realmente e saber que de certa forma ele ainda me amava era reconfortante. Bom, talvez ele ainda me amasse.
Eu não poderia ser menos egoísta.
Por que aqui estava eu, parada na frente da Vogue com um copo de Choco Chip grande, pensando que talvez pudesse fazer entender tudo. Fiquei parada por pouco tempo, mas foi tempo suficiente para algum idiota passar com rapidez, fazendo o café cair no chão. Grunhi. Não estava com tempo de enfrentar a fila da Starbucks mais uma vez, então só deixei pra lá.
Suspirei umas três vezes antes de tomar coragem e entrar no prédio de uma vez. Uma menina loira e muito magra se encontrava atrás do balcão do térreo e naquele momento percebi que não fazia ideia do que falaria a . Mas já tinha entrado e a garota me olhava com uma cara entediada, o que só me fez ficar mais desesperada quanto a não saber o que falar.
- Hm, queria falar com .
Ela me encarou mais um tempo antes de checar algo no computador. Em seguida digitou alguns números no telefone.
-A Srta... –Tapou o bocal do telefone e me perguntou – Qual o seu nome? - . Summer. – Murmurei rapidamente. Ela assentiu.
- Srta. Summer deseja falar com... Hm, certo. Obrigada. – Murmurou, por fim. Algo em sua face estava muito estranha, mas não consegui decifrar o que era. – Sr. não trabalha mais aqui. – Informou-me secamente. Eu podia jurar que ela estava mentindo, mas achei melhor não insistir.
- Tudo bem, obrigada. –Agradeci (por nada), ao sair tristemente do prédio.
Estava quase na esquina quando escutei uma voz de homem me chamando.
- Srta. Summer?
Virei para voz que chamava insistentemente. Era um homem baixinho e grisalho, segurando uma pasta preta enquanto corria tentando me alcançar. Parei onde estava, esperando que o estranho chegasse até mim..
- Srta. Summer, Logan. Logan Trainer é meu nome. – Falou o baixinho, estendendo uma de suas mãos, que eu apertei, mesmo confusa.
- Hãaan...
- Oh, claro. – Ele riu. Associei-o a um vovô engraçadinho. – Eu sou da ReSound Music. Acho que você ainda não ouviu falar, mas é uma gravadora excelente.
- E eu deveria saber disso porque...?
- Ora, Srta. Summer, essa gravadora oferece tudo o que você mais quer. – Ele deu um sorriso. – Liberdade.
Como ele sabia que com a minha atual gravadora eu não tinha liberdade? O contrato era excessivamente confidencial, não tinha como ele ter aquela informação. Aparentemente minha confusão era visível em minha face; Landon sorriu antes de falar:
- O marido de Sarah é meu irmão. Acho que ele resolveu, digamos, mexer os pauzinhos um pouco.
Fiquei um pouco chocada, mas sinceramente, qualquer coisa que me tirasse da Syco já estava de bom tamanho, mesmo que fosse uma gravadora de pequeno nome. Se isso iria fazer eu me desculpar com , que fosse.
- Tomei a liberdade de verificar seu contrato atual e tive a oportunidade de constatar que ele vencerá em dezesseis dias. Quando vencer, você pode assinar novamente com Sarah, ou, dar uma chance a ReSound Music.
- Hmmm.... – Tanto ele quanto eu sabíamos que eu não conseguiria nem esboçar uma resposta de gratidão, nem formular metade das perguntas que solucionariam minhas dúvidas e, por essa razão, desisti de tentar falar qualquer coisa.
- Não precisa dizer agora. Toma isso aqui – Ele me entregou uma folha de papel. –Você pode ler e quando esse tempo acabar, nos ligue. Ou não. A escolha é toda sua. – Terminou.
Devo dizer que isso tirou muito o peso das minhas costas. Ele foi embora acenando e eu me senti extremamente mais leve. Eu leria esse novo contrato; se me fosse bom não havia porque assinar com Sarah.
Teria ido embora para caçar , mas fui impedida novamente, dessa vez pela voz de Tyler.
- , me desculpa, tá? Por favor.
Olhei pra ele com a melhor cara de desdém que consegui reunir.
- Tyler, você me ajudou, me fez sorrir, fez eu me sentir bem, mas pior, me fez acreditar que era meu amigo, sabendo que eu sofria por causa desse contrato, e enquanto isso, esse tempo todo essa ideia ridícula foi sua!
- Eu sei. E me arrependo muito, sério. – Ele me olhou de um jeito que eu provavelmente teria acreditado, mas ele era ator, eu devia saber quando falava verdade ou quando atuava. E naquele momento senti que tudo não passava de atuação, ele só estava se desculpando para eu continuar com a porcaria do contrato que tinha mais benefícios pra ele do que pra mim.
- Tchau, Tyler. – Falei antes de dar as costas a ele, marchando a passos rápidos.
- Eu sei onde ele está. O . – Escutei ele murmurando. Parei onde estava e me virei lentamente.
- Onde? – Perguntei. Tyler sorriu e me estendeu um papel. Ao olhar mais de perto, vi que era um endereço. Não era muito longe de onde eu estava e se fosse rápida, podia pegar um táxi e chegar lá em vinte minutos.
- Obrigada, Tyler. – Agradeci secamente, mas só por que a educação mandou. Por mim eu viraria as costas e murmuraria um “não fez mais do que a obrigação”.
Ele não disse nada, então eu parei o primeiro táxi que vi na frente e corri para o endereço indicado.
O lugar era bonito, não tão chique demais, mas bastante organizado, pelo menos para uma casa de homem. Digo, um homem que morava sem uma mulher ou crianças. Era uma casinha retangular com um portão preto, e na frente havia um pequeno jardim (mal cuidado a propósito. Acho que ele não tinha tempo pra cuidar do jardim). As casinhas ao redor eram bem parecidas com aquela a minha frente e na casa ao lado, havia uma senhora sentada na varanda, brincando com o gato.
- Vai descer ou não? –Perguntou o motorista entediado. Murmurei um pedido de desculpas e o paguei, saindo do carro e fechando a porta em seguida. Dirigi-me até a porta de entrava e respirando fundo, toquei a campainha.
Nada.
Apertei mais uma vez. Nada. Fiquei mais ou menos dez minutos esperando antes de tocar mais uma vez. Ainda nada. Cheguei à conclusão de que ele não estava em casa, e ao sair do jardim e chegar na rua, a senhora que estava na varanda apareceu na calçada.
- Sr. não mora mais ai. Pelo que eu ouvi, está se mudando para Washington.
Fiquei perplexa.
- Washington?!
- Sim querida, Washington. Ele saiu não faz muito tempo, se correr pode alcançar ele no aeroporto. – Ela me informou, docilmente. – Que pena. Ele era uma boa companhia. – Acrescentou, antes de se virar em direção a própria casa.
Sai correndo pela rua à procura da porcaria de um carro amarelo – vulgo táxi – e o encontrei mais ou menos dez minutos depois.
Gritei um entrecortado “aeroporto” para o motorista que, atendendo o meu desejo, correu o máximo que o trânsito permitia.
- Uma passagem, pra qualquer lugar, só preciso entrar na sala de embarque! – Praticamente gritei com a recepcionista assim que cheguei.
- Moça, a fila é lá atrás. Informou a mulher que estava atrás de mim. Eu estava tão nervosa, tão estressada e com tanta vontade de entrar no avião e me jogar de lá de cima, que só disse a primeira coisa que me veio à cabeça.
- O amor da minha vida está entrando na porcaria desse avião, ele está indo embora e nem sabe da verdade! Ele veio para Nova York me encontrar depois de cinco anos e eu estraguei tudo, fiz tudo errado e disse as palavras mais horríveis. Ele está se mudando agora e eu queria fazer ele ficar, a senhora por favor, pode deixar eu comprar minha passagem? – Basicamente implorei. A mulher entortou a cara de espanto, mas consentiu que eu comprasse minha passagem. A recepcionista, uma mocinha simpática, foi bem rápida e chegou a desejar um “boa sorte” sincero quando entregou minha passagem rumo ao desespero.
A parte boa foi que eu consegui entrar na sala de embarque. A parte ruim foi que eu não encontrei em lugar nenhum. E eu procurei, procurei em todo canto. Meu último destino foi a sala de embarque que partiria a Washington em cinco minutos, mesmo sendo provável que ele não estaria lá, foi pra lá que eu fui.
Finalmente.
Ele estava de costas, observando a parede de vidro que levava ao avião. Ele parecia estar falando algo para si mesmo, algo que que só ele podia ouvir, só ele sabia. Ele deu um passo para frente e eu não pude aguentar mais.
- ! – Gritei, correndo até ele. parou de andar, e lentamente se virou para onde eu estava.
Ficamos ambos parados, um de frente para o outro, até ele sacudir a cabeça e voltar a andar.
Acho que não foi o suficiente.
- me ouve! – Gritei novamente. Algumas pessoas que passavam por mim me olharam feio, mas eu não me importei. Ele continuou andando. Corri o máximo que minhas pernas curtas podiam, acabando de vez com o espaço que nos separava. Segurei em seu pulso. -, me ouve, por favor! –Falei, quando ele foi obrigado a olhar pra mim. Ele me olhou por trinta segundos antes de balançar a cabeça de novo.
-Adeus, . – Murmurou, soltando seu braço do meu aperto. Virou-se novamente e eu sabia que em quatro minutos ele estaria partindo.
- Era falso! O namoro era falso! – Falei, alto o suficiente para que pelo menos metade da sala ouvisse. Mas o principal foi que ouviu. E se virou. – Eu queria te contar, mas eu não podia! Era falso, , tudo o que fiz durante esses últimos meses foi falso, tudo!
- Está de brincadeira. –Murmurou.
- Por favor, me perdoa. Assinar aquele contrato idiota foi uma das coisas mais estúpidas que tive a ideia de fazer, e estou tão arrependida. Mas foi falso. Se você soubesse o quanto estava me matando para conseguir fazer aquilo, o quanto doía saber que você estava sofrendo e não poder te falar nada, nada!
Ele fechou os olhos e passou as mãos pelos cabelos quando os abriu de novo.
-Você tem me matado esse tempo todo por causa de um namoro falso? – Fiquei sem reação.
- Eu senti tanta sua falta. Eu senti. Descobri recentemente que estou e sempre estive apaixonada por você, e se me der uma chance, uma só, eu juro que não vai se arrepender.
-Quando você veio pra cá, há cinco anos atrás, eu temi que a fama fosse mudar você. E ao te ver quando cheguei aqui, fiquei aliviado quando percebi que era a mesma de sempre. – Ele olhou para baixo. – Mas me enganei. Eles conseguiram mudar você. Machucar as pessoas pra conseguir manter a carreira? Sacrificar sua própria felicidade pra ficar no topo? Essa não é você! A que eu conheci e amei jamais faria isso. Tem ideia do quão egoísta isso soa? – Perguntou. É claro que eu tinha ideia.
- , por favor, não vá. – Sussurrei. Ele deu um sorriso triste.
- Não é só você que faz sacrifícios pela carreira. Não é só você que machuca as pessoas para conseguir manter a carreira. Meu sonho está lá, , é só eu entrar.
- ... –Eu só percebi que estava chorando quando ele secou uma lágrima que escorria pela minha face. Ele não podia ir, eu iria compensar tudo! Não podia acreditar que tinha sido assim tão egoísta, que estava sendo tão egoísta.
Ele se abaixou e bem lentamente, senti seus lábios tocarem os meus. Oh, como eu sentia falta desse beijo! Esses lábios sim eram seguros, eles sim eram familiares. Eu os reconhecia porque eram meus. segurou minha cintura e minhas mãos foram direto para o seu pescoço, enquanto eu me afogava no que sabia que era um beijo de despedida.
Não durou muito tempo, a campainha soou de novo e ele se afastou um pouco, colando sua testa na minha. - Adeus, . – Repetiu, fechando os olhos e saindo de perto de mim.
Virou as costas e partiu, sem nem olhar para trás. Apenas chorei mais um pouco e um tempo depois, dentro do taxi, percebi a cagada que tinha feito. Eu tinha praticamente acabado de anunciar em rede nacional que meu namoro era falso. Mas isso não importava muito, na verdade. Não ligava. Não me importava por que foi embora. Ele realmente me deixou, e, apesar de estar acabada, eu sentia que merecia isso
se foi.
Se foi, me deixando acabada, arrependida, com o coração verdadeiramente partido e com o fantasma do nosso último beijo ainda presente e vivo na minha memória.

O banquinho estava gelado, mas não me importei. Naquela altura do campeonato eu não me importava mais com nada. Não me importava que metade de Nova York já sabia sobre o contrato. Melhor que soubessem. Não me importava que eu não me importasse com isso. Estava acabada e só queria que estivesse comigo, por mais egoísta que esse pensamento fosse.
Estava olhando para a água, onde o fim da tarde refletia a luz laranja do sol no pequeno rio. Algumas pessoas que passaram por mim me reconheceram, mas nenhuma delas vieram falar comigo. Eu deveria estar horrível mesmo. - Isso é mesmo uma coisa louca. – Murmurou aquela voz, fazendo com que eu gelasse repentinamente no banquinho da ponte ao ouvir o som de sua voz.
- Mudou de ideia? – Perguntei, virando de frente pra ele, obrigando meus olhos a se secarem e encarar aquele homem. Ele se sentou ao meu lado e olhou para mim durante um momento.
- Eu tinha me sentado no banco do avião. E ai um casal começou a rir. E como eles riram! – Ele esboçou um sorriso nostálgico e se virou para o lado, encarando o lago. – E foi ai que percebi que não sou como você. Não posso abandonar tudo por causa de um emprego idiota. Não posso entrar naquele avião e deixar a melhor coisa que já me aconteceu para trás. – Eu sorri.
- E só isso te fez voltar? Não está com raiva de mim? – Agora seu olhar quente e aconchegante, aquele olhar que eu busquei em tantos e não achei em nenhum, aquele olhar só dele se virou para me encarar. E tocando minhas bochechas ele anunciou:
- Sim e não. Por que eu quero que você seja minha perfeita garota imperfeita. E não faz sentido eu ir embora e te deixar aqui. Não sem lutar por você. Não sem tentar te conquistar. E não sem te perdoar, em primeiro lugar. – Eu, que antes estava totalmente alheia a chateada com o fato de ter que aguentar Maraya na minha orelha falando a quão anti-social e solteira eu era, levei a mão no coração ao ouvir aquilo. E antes mesmo de ao menos tentar planejar uma resposta, ele continuou. –Vamos nos dar outra chance, Summer?
Eu não precisava pensar. Eu não precisava de tempo. Eu não precisava que ele lutasse por mim e não precisava ser conquistada. Eu não precisava de nada disso. Só precisava dele, só precisava que ele tivesse tanta certeza quanto eu de que nosso amor era muito forte e muito grande para ser atropelado. Era egoísta? Sim, ás vezes. Mas essa situação toda me mostrou que eu não ia precisar ler o contrato de Logan duas vezes para aceita-lo. Eu seria livre.
Então, sim. Eu queria ser dele. Eu queria ser dele mais do que tudo.
Like any real love, it's ever changing
(Como todo amor real, está sempre evoluindo)
Like any true love, it drives you crazy

(Como todo amor verdadeiro, te deixa louco)

Sorri para o dito cujo, pegando em sua mão direita e a beijando.
- Não.
A cara dele caiu.
- Não?! – Eu ri, gargalhei na verdade. Ele revirou os olhos.
- Sim, . Porque eu quero ser sua perfeita garota imperfeita.
- Para sempre? – Ele fez aquela carinha de cachorro sem dono e nesse momento percebi que parecíamos muito um casal de adolescentes de dezessete anos, mas na verdade não liguei. Olhei para o lago e encostei minha cabeça no ombro dele.
- Para sempre. – Respondi e pela visão periférica pude ver que ele sorria.
Nós dois encarávamos o lago agora, vendo o pôr do sol mais perfeito de todos.
E eu acreditava, de todo meu coração, que iríamos ver vários outros iguais e diferentes a esse.
- Então, bem vinda a Nova York, . – Sussurrou em meu ouvido a frase que eu queria ter ouvido há cinco anos atrás.
E sorrindo, tive a certeza de que estava no meu lugar certo no mundo.


FIM



Nota da autora: PARA TUDO, O QUE FOI ESSE FINAL
Hey amores! Tudo bem? Eu estou legal. Bom, espero que vocês tenham gostado, por que eu demorei tipo, UM MILHÃO DE ANOS para escrever e foi SUPER de coração, por que eu estava pensando em VOCÊS, leitoras queridas. Para quem ama/adora essa música, espero de verdade ter alcançado o meu objetivo. A primeira vez que eu ouvi, foi essa história que me veio na cabeça e se não for o que estavam esperando, espero pelo menos ter escrito uma história boa.

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