Última atualização: 20/05/2018

Capítulo 1

As pessoas que nos fazem felizes nunca são as pessoas que nós esperamos, e eu levara um tempo consideravelmente longo para finalmente entender essa afirmação e vivê-la sem sofrer por um passado pesado que insisti em levar nas costas.
Era inverno em Seoul, já não se via sinal das festas de ano novo e a cidade voltava as suas atividades habituais, a correria e o trem lotado de trabalhadores que regressavam das férias, os estudantes que voltariam ao ano letivo e as senhoras e donas de casa com suas sacolas para preparo do alimento de suas famílias também preencheriam aquelas ruas.
Estacionei o carro na estação de Hongdae e caminhei lentamente até a produtora em que trabalhava e observava ao meu redor, as pessoas pareciam tão cheias de vida, tão quentes por sentimentos e suspirei ao sentir que eu me igualava a aquele inverno frio, sem qualquer sentido, apenas tão frio e solitário como aquele vento que incomodava. Eu sentia falta de mim, sentia falta do eu que era antes dela partir.
Não demorou para que eu chegasse ao trabalho, afinal, eram apenas 10 minutos dali, provavelmente como era de costume eu seria um dos primeiros a chegar e o silêncio do ambiente me proporcionaria concentração para escrever minhas letras.


— Quer uma xícara de café? — Perguntou Yoongi assim que entrou no estúdio.
— Vou aceitar, sim — Acenei positivamente para que preparasse um pra mim.
— Expresso sem açúcar? — Questionou mesmo sabendo da resposta, apenas sorri e lhe mostrei o polegar em sinal positivo.
— Sabe se Jungkook ainda virá para gravação hoje? — Yoongi cuidadosamente deixou a xícara ao meu lado e se sentou em sua cadeira.
— Ele não está na cidade, pediu para te avisar que só vem próxima semana, assim como Jimin. — Voltou-se para seu computador.
— Certo. — Respondi dando atenção à letra incompleta que havia começado.
, sobre a letra que me mandou ontem à noite, não acha que é forte demais? — Falou sem me encarar analisando o material que eu tinha o enviado, movimentando a letra com o mover do mouse enquanto eu o via lê-a novamente. — A melodia é realmente muito boa, e é profunda a mensagem, mas estamos entrando em um ano novo, pessoas não gostam de mensagens mais quentes? — Mesmo que soubesse que ele estava certo, eu não poderia simplesmente escrever o que as pessoas querem ouvir, sem que sejam sentimentos que eu sinta, tinha certeza que muitos se identificariam com o que eu tinha a mostrar.
— Yoongi, apenas quem quiser vai escutar o que eu tenho a dizer. — O olhei e ele fez o mesmo, se virando para me encarar. Rara eram as vezes que discutíamos algo, mas sempre chegávamos a um senso comum, mas daquela vez eu realmente queria mostrar aqueles sentimentos que eu tanto guardava.
— Deixa pra lá. — Se emburrou e eu apenas sorri. — Vamos seguir assim.
— Obrigado, Yoongi Hyung — Brinquei.
— Faça o que quiser. — Se voltou para suas próprias atividades e voltei às minhas. Eu e Yoongi só trocamos palavras novamente quando fomos decidir nosso almoço daquele dia e então trabalhamos concentradamente em nossas músicas após o intervalo.

Always fora uma música que escrevi em reflexão aos meus dias e como eu me sentia até aquele ponto de minha vida, houve uma época em que eu não fora assim, em que até mesmo as pétalas mais secas das flores ou os dias mais simples eram vividos ao extremo, mas em um ano apenas existiam dias em que eu não queria existir, desejava que alguém fosse capaz de arrancar de mim aquele buraco que eu tinha, ou se Deus realmente fosse um ser verdadeiro, que ouvisse minhas súplicas. Eu trabalharia nela e a produziria a fim de torná-la pública, mesmo que os outros produtores ali fossem totalmente contra, era um desejo meu e eu iria fazer como achava certo.
Não fazia ideia de quantas horas fiquei ali no estúdio trabalhando e acabei por cochilar por um momento, despertando apenas quando Yoongi me chamou algumas vezes avisando que iria embora por ser fim do expediente e que nos víamos no dia seguinte, procurei pelas horas e apontavam um pouco mais de sete horas da noite, eu teria que ir embora também, iria passar na casa de meus pais para lhes pedir a benção do ano novo e jantar com eles.


A melodia em que eu já estava mais que habituado tocava no rádio do meu carro, meus hyungs estariam apresentando em uma das estações conhecidas naquela noite e dispensei escutar minhas próprias músicas enquanto me dirigia à Apgujeong, onde minha família morava.
Eu estava um pouco apreensivo, afinal, faziam meses em que eu não ia ali, e quando liguei para avisar a minha mãe que iria, a senhora demonstrou toda a euforia e ansiedade para me ver, eu arrumei alguns fios de cabelo e peguei as sacolas de coisas que havia comprado para dar a mais velha e assim que saí e o alarme do carro disparou, pude ver a porta da frente ser aberta.

! Já estava achando que não viria mais. — Minha mãe beijou meu rosto quando me aproximei e pediu que eu entrasse.
— Estava trabalhando até tarde. — A beijei como fizera comigo. — Pai? — O chamei e o mesmo inclinou a cabeça minimamente em um cumprimento cortês.
— Você anda se alimentando bem, ? Você parece tão magro. — Desde que me conheço por gente, mamãe me falava aquilo. ", come isso, você está muito magro". Sorri com a lembrança.
— Estou sim. Cadê ? Era para ela está aqui hoje, não era? — A procurei, mas eu já sabia que havia a possibilidade dela sequer aparecer.
— Sua irmã é uma ingrata, sabe que desde a morte de ... — Mamãe parou de falar. — Esquece, deixa pra lá.
— Desde a morte de Go Eun ela evita me ver. — Continuei. — Não há motivos para evitar falar o nome dela quando estou aqui.
— Preferimos evitar. Afinal, ela era sua namorada. — Mamãe ainda olhava com aquele olhar pra mim, o olhar de pena que eu tanto odiava.
— E eu a matei. nunca irá me perdoar pela morte da melhor amiga. — Minha mãe seguia meus passos um tanto chateada.
— Você não a matou, , a família dela mesmo disse para parar de se torturar assim, nada podia ser feito, felizmente você sobreviveu.
— O que há de feliz nisso? — Suspirei e a mais velha teve a mesma ação, talvez aquelas palavras soassem frias demais, ou desesperadas demais, não existe mãe no mundo que gostaria de ver o filho sofrer, mas naquela altura, depois de tanta discussão, ela preferia não dizer mais nada.

Fui para o quarto que costumava ser meu assim que o silêncio incômodo depois do fim daquela conversa se instalou e o ambiente pareceu pesado demais, colocar minha cabeça no lugar antes de jantarmos seria o mínimo que eu poderia fazer para não estragar o clima. As coisas ainda estavam como sempre, desde a última vez que eu estive ali, até mesmo a foto de Go Eun estava em minha prateleira limpa. Peguei o retrato em minhas mãos e passei os dedos em cima de seu sorriso.

— As coisas parecem tão sem sentido sem você aqui. — Disse para a foto da menina sorridente.
— Aposto que ela deve pensar o mesmo que você, seja lá onde ela esteja. "! Aquele babaca deve está um zé sem minha companhia." — A voz de em uma imitação da amiga preencheu o quarto e instantaneamente coloquei o retrato de volta no lugar, minha irmã provavelmente chegara enquanto eu estava lá em cima, recluso em meu mundo.
— Ela deve está com pena do que eu me tornei. — Sorri fraco.
— O único que vejo que tem pena de você é você mesmo, . Se ela soubesse o que você se tornou, ela deveria ser sua fã número um e sentar na primeira fileira do seu fã-clube — A pequena veio até mim e apertou minhas bochechas.
— Não achei que viria, já que sabia que eu estava aqui. Deve odiar quando venho pra cá.
— Eu não te culpo pela morte dela, , você tem me evitado por esse tempo, apenas, é difícil não lembrar dela ao te olhar e ainda dói, mas eu sou sua irmã, seu grande babaca. Eu já disse isso a você milhares de vezes, maninho. Então pare de se culpar por algo que não estava em suas mãos para controlar.
— Se eu tivesse...
— Shh. — me abraçou. — Aconteceu, , aconteceu. Vamos viver por ela e com a sua lembrança. Creio que é isso que ela quer. Não precisamos dessa cena sempre que você vem aqui. — Riu e me encarou.
— É só que, eu sinto falta dela. — A apertei em meus braços.
— Eu também, todos sentimos, mas uma hora teremos de deixar ela ir. — Suspirou. — Então vamos aproveitar o momento que temos.

Deitei em minha cama e minha irmã se deitou ao meu lado, conversamos como há tempos não fazíamos, nem ao menos sabia que ela e Taehyung já estavam planejando o casamento e que iriam voltar para Ilsan nas férias.
— Você tem que ir com a gente, irmão. Vai ser o melhor, Tae e eu estamos planejando visitar aqueles clubes aquáticos que costumávamos ir, , você tem que passar vergonha lá de novo. — Ela ria empolgada.
— Tsc, você só quer que eu vá porque sabe que sempre acontece algo quando eu vou. — Respondi num falso tom de descontentamento.
— Ah! Qual é! Que histórias teremos pra contar para os nossos filhos? As suas são as melhores e mais hilárias.
— Palhaça — Baguncei seus cabelos e ela sorriu. — Prometo pensar no seu caso.
— Ah, qual é, , há tempos não saímos juntos e você mal tem tirado férias. — Estalou a língua.
— Os meninos precisam de mim no estúdio, mas prometo fazer o possível pra ter um tempo e ir com vocês. — Afirmei.
— Certo, iremos daqui duas semanas. — Avisou.
— Mas...
— Nada de “mas”, você já prometeu e vai ter que cumprir. — se levantou de uma vez e saiu do quarto em direção à sala.

Meus pais já estavam à mesa e o cheiro do tempero que minha mãe usava no alimento fora tão nostálgico que me lembrei da época em que eu morava naquela casa, eram tempos bons, mesmo que difíceis, eu estudava longe de casa e ia com todas as manhãs ao ponto, e aprendemos desde cedo a pegar a condução. O som do talher em choque com a taça de vidro desviou minha atenção ao patriarca ali na mesa.

— É muito ver meus dois filhos aqui hoje. — Papai iniciou o discurso já conhecido.
— Pai, até quando você fará isso? — sempre fora a mais desbocada e também a mais impaciente. — Estou com fome e trabalhei o dia todo, pode agilizar?
— Está vendo, Gaeul. Sua filha puxou ao seu lado da família, nunca me respeita. — Papai reclamou com minha mãe que escondia um sorriso.
— Calma, querido, ela só está brincando. — Mamãe segurou a mão de meu pai para o mantê-lo calmo.
— Então vamos as preces para comer o alimento. — O mais velho novamente se pronunciou.
é ateu, pai. — Fora inevitável não rir da situação seguinte. Era tão bom estar em casa e poder sentir que ali era um bom lugar, talvez ela iria amar estar aqui para ver isso, ela costumava dizer que amava as reuniões de minha família por ser tudo espontâneo e a fazer sorrir
— Obrigado pela comida. — Meu pai disse por fim e então fizemos nossa refeição.

A noite era fria e decidi que voltaria a Seoul pela manhã e iria direto para o trabalho, eu não gostava de dirigir tarde e pedira carona para a deixar na empresa onde era funcionaria.
Como todas as noites que passei ali, fui até a velha quadra de esportes que ficava quase ao lado da casa de meus pais, eu lembrava que fora ali que eu a conheci, depois de uns meninos implicarem com ela na volta da escola. O ar quente de minha boca em contato com o frio se formou em uma nuvem, eu me lembro de como costumávamos entrelaçar nossas mãos para as esquentar.

— O que faz aqui sozinho? — Não tinha percebido a presença da minha irmã ali.
— Só estava sem sono. — Falei como se não fosse nada demais, afinal, para eu vivia preso demais no passado que eu deveria deixar.
— Eu tenho que te contar uma coisa, antes de contar para os meus pais. — Os pensamentos que antes preenchiam minha mente foram abandonados e dei minha atenção a ela. — Eu estou grávida. — sorriu e passou a mão pela barriga.
— Vocês não poderiam ter esperado um pouco mais? — Sorri.
— Sabe como é, né? Taehyung quer ter cinco filhos, e a parideira aqui já tem que começar a ralar. — Fez uma careta.
— E o que você quer? — Me aproximei para ajeitar o cachecol em seu pescoço.
— Não são cinco filhos. — Gargalhei. — Uns três já estão bons, mas o que eu mais quero mesmo, é ver minha família feliz, meu marido, meus pais e você, . É o que eu quero. — Suspirei antes de lhe dizer algo que valesse à pena, mas não vinha.
— Você precisa entrar ou vai pegar um resfriado, ou você quer prejudicar o bebê? — Desviei o assunto e a levei para dentro de casa.


[...]


Aquela semana se seguia cada vez mais trabalhosa, Jimin e Jungkook já haviam chegado de Busan e voltaram aos treinos e as gravações de novas músicas que produzi para ambos.

— Como está, ? Acha que podemos lançar daqui um mês? — Jungkook se aproximou enquanto eu novamente o ouvi por um dos fones.
— Se tudo correr bem nas músicas faltantes, tanto você quanto Jimin podem se preparar para as atividades de promoção. — Jungkook mostrou toda sua satisfação em seu rosto e fora falar com Jimin que treinava qualquer coisa na cabine.
— Está a todo vapor, em? — Yoongi se aproximou para me ajudar.
— Prometi a que iria com ela e o noivo para Ilsan, se eu não consegui terminar tudo para viajar com ela, serei um homem morto. — Nem sequer desviei atenção do computador.
— Sua irmã é assustadora quando contrariada, mas creio que essa semana já finalizamos tudo, e mesmo que falte algo, eu posso assumir seu lugar. — Agradeci mentalmente por ter Yoongi como companheiro ali.
— Obrigado, mas creio que até sexta terminamos tudo. — Yoongi balbuciou algo que meu cérebro não captou devido à atenção extrema a mixagem, e assim se passaram horas.


A quinta daquela semana passava lentamente e eu já estava mais que saturado de tentar fazer tudo às pressas, como dizem por aí, ela é a maior inimiga da perfeição, e apenas uma música tirava meu sono, talvez pela pressa que eu tinha de finalizá-la, mas nada ficara bom o suficiente, nada soava como agradável e o medo de que fosse rejeitada me passou pela cabeça. Com a xícara de café a observei e escutei mais uma vez, mas um suspiro cansado.

— Dá um tempinho antes de você voltar, talvez alguma ideia apareça. — Yoongi apareceu ao meu lado e colocou as mãos em meus ombros.
— Já tive, pra falar a verdade. — Yoongi olhou estranho pra mim como se não entendesse nada com minha mudança de expressão. — O que acha de fazer a Intro dessa vez?
— Tem certeza? Quer dizer... — A alegria do outro era vista a quilômetros, se alguém fosse capaz de olhar seu rosto naquele momento.
— Tenho total certeza, e eu sei que você já deve ter algo em mente. — Pelos anos que convivíamos juntos, eu sabia que ele teria algo encaminhado.
— Não vale voltar atrás. — Yoongi sentou-se abrindo o bloco de notas e ligando o teclado.
— Não vou voltar. — Ri e me levantei para ir ao fumódromo.

Yoongi me mandou pela madrugada o que já havia preparado e que eu já poderia me despreocupar e ir para minha viagem pleno. Com ajuda de um dos produtores de nossa empresa, escreveram a letra e fizeram os arranjos, a demo estava muito boa e me senti orgulhoso dele. A letra falava muito de algo que eu não conseguia mais ver, e mesmo com a tristeza, eu me senti aquecido por cada palavra.

This moment won’t ever come again
Esse momento não irá jamais voltar
I’m asking myself again, am I happy right now?
Estou perguntando a mim mesmo novamente, eu estou feliz agora?


Assim como combinado, lá estava eu a caminho da casa de , que àquela altura já havia me irritado, quando às sete da manhã me ligou gritando para saber se eu ia mesmo.

Já estou a caminho, você quer parar de gritar? — Revirei os olhos enquanto falava com ela pelo telefone.
Não dá, , eu estou muito empolga, uma viagem entre amigos é sempre boa, ainda mais quando você há anos não nos acompanha.
Tá bom, tá bom, eu estarei aí em no máximo 5 minutos. — Falei mal-humorado.
Ah! Mal posso esperar pra irmos pra Ilsan, eu te amo, maninho. desligou antes que eu pudesse dizer que a amava de volta.

O trem corria sobre os trilhos e a paisagem do lado de fora era tão bonita e tranquila que me trazia grande paz no coração. Taehyung dormia a minha frente depois de várias fotografias que o mesmo tirara.

— Esqueci de falar que lá em Ilsan vamos encontrar duas amigas minhas. Quer dizer, uma é minha amiga e a outra é a prima dela. — me tirou do devaneio.
— Tudo bem. — Afinal, a viagem era mais dela e eu só estava indo junto.
— Espero que tenha um bom tempo, há tempos que você não se anima. — Segurou minha mão e fiz um leve carinho na da menor.
— Eu espero também. — Sorri para a garota ao meu lado que se encostou em meus ombros e dormiu até chegarmos ao nosso destino.

Ilsan, fora ali que nascemos, que passamos parte de nossa infância antes de irmos para Incheon, apesar das minhas lembranças serem todas depois da mudança, em Ilsan eu sentia que estava em casa, em meu lar, onde eu pertencia.

— Vamos deixar as coisas na casa que alugamos e sairmos para almoçar antes de fazer algo, eu estou faminta. — e Taehyung conversavam enquanto andávamos para o ponto de táxi.
— Tudo bem pra você, ? — Taehyung finalmente se dirigira a mim naquela conversa.
— Ah, vocês podem ir na frente, eu vou dar uma volta no Lake Park e almoçar por lá. — Afirmei.
— Quer que levemos suas coisas? — pegando a mala de minhas mãos nem esperou que a resposta fosse positiva ou não.
— Pode ser. Então vejo você em três horas, me passem o endereço para onde eu devo voltar.
— Okey. — pegou o celular e depois de um aceno, pude pegar um táxi e ir na direção oposta dos dois.

Eu me lembrava de cada detalhe daquele parque, eu costumava ir ali nas minhas férias, costumava sentar ao lado da minha namorada e apenas contemplar a beleza e o tempo, a primavera, o outono, o verão e até mesmo o inverno ali era fascinante, eram momentos felizes, mesmo depois em que eu me encontrava devastado, quando eu chegava naquele lugar, eu me sentia feliz apenas em observar.

— Senhor, já chegamos. — O táxi parou à entrada do parque. Paguei o motorista e saí do carro em passos mais lentos que o de costume.

As coisas ali pareciam não mudar, era tudo exatamente como eu me lembrava, a entrada, as pessoas sempre com suas famílias ou casais caminhando, o enorme lago, o coreto, tudo em seu devido lugar. Eu estava no meu lugar, o lugar onde sentia ser meu lar, parei por um instante para olhar ao redor antes de prosseguir, até que vi um rosto familiar, tão familiar que me assustava, ou tão familiar que me levava a uma dor incurável, eu me recusei em nanossegundos a acreditar que àquilo fosse possível.
Ela andava calmamente com seus fones de ouvidos, inevitavelmente meus passos a seguiam, incontrolavelmente eu queria a chamar pelo nome, mas eu poderia estar delirando e não correria o risco de passar por louco, afinal, eu não sabia se era real ou não, se ela estava ali ou não.
Finalmente ela parou e se sentou próxima ao coreto, procurei onde pudesse ficar sem que ela notasse minha presença. Um toque de celular e a voz dela soou.

? — Procurei em minha mente a voz que tanto procurava, mas era em vão, ela não estava viva, e aquela garota não era ela.
— Claro que podemos nos ver à noite, me passa seu endereço que vou para o jantar, mal posso esperar pra ver você e conhecer seu noivo, temos muito chá para tomar. — Ela sorriu, e era simplesmente desconhecido, então levantei e voltei rumo ao meu caminho.


[...]


A noite chegara, e depois de um bom banho e roupas limpas, desci para ajudar e Taehyung com o jantar, teríamos amigas dela em casa, e um conhecido meu, mesmo sendo algo simples, tínhamos que fazer em uma quantidade considerável.
Os dois estavam só sorrisos enquanto arrumavam as coisas, eu sentia inveja, mas uma inveja não por não ter aqueles momentos, ao mesmo tempo que os desejava para mim.

— Liguei para essa tarde, e ela virá como o combinado, ela está doida pra conhecer o Taehyung e eu estou ansiosa para apresentá-la a vocês. — Minha irmã disse empolgada.
— Se é sua amiga, já é minha também. — sorriu e selou os lábios do noivo.
— Vocês ainda vão me fazer golfar. — Disse fingindo enjoou.
— Deixa de ser bobo e nojento. — Deu um tapa na minha cabeça.

O soar da campainha nos tirou das gargalhadas pelas besteiras que falávamos minutos antes, pediu para que eu atendesse a porta enquanto Taehyung tirava as bebidas da geladeira e alguns petiscos iam sendo levados para a sala.

— Não acredito que finalmente estamos nos vendo de novo. Que belo amigo você é. — Sejin estava à porta e me deu um abraço apertado.
— É bom te ver de novo. — Dei-lhe passagem pra entrar. Mal havia fechado a porta e novamente a campainha voltara a tocar.
— Deixa que eu abro. — Falei sorrindo dando dois passos pra trás.
— Boa noite. — O sorriso que eu tinha em meus lábios murchara no mesmo momento que seu olhar cruzou com o meu. A menina continuava com o sorriso radiante, mas eu não conseguia me mexer.
— Quem é, ? — A voz de ecoou atrás de mim.
? — A voz da outra ecoou também em meus ouvidos e acordei lhe dando espaço.
? — Minha irmã gritou.
— Ah, você está linda. — Por mais que o rosto dela fosse parecido com de minha namorada, seu jeito era totalmente diferente.
— Gente, está é a , lembra que falei no trem que ela viria com a prima? — Apenas fiz que sim e fui me sentar com Sejin.
— Minha prima teve um problema familiar e esqueci de avisar que ela não vinha mais. — completou.
— Uma pena, mas espero que ela esteja bem. — passou uma das garrafas de cerveja à amiga.
— Esse deve ser o Taehyung. É um prazer finalmente conhecer o noivo da . — olhou o rapaz parado ao lado e o cumprimentou depressa.
— Aquele é meu irmão, , eu te falei dele, né? — estava evitando me olhar e eu percebera logo que ela viu minha reação à porta.
— Prazer. — Ela se aproximou com um largo sorriso ainda na face.
— O prazer é meu. — Eu disse entre dentes e quase acreditei ter prendido a respiração.
— Não parece. — Sejin se pronunciou e se levantou para se apresentar a mesma, fazendo uma gracinha arrancando uma gargalhada alheia. — Prazer, me chamo Sejin. Amigo de escola do .
— Sejin é um lindo nome. — disse simpática.
— Não mais que . Sabia que é céu em japonês? — A menina sorriu envergonhada com o flerte.
— Eu preciso ir ao banheiro. — Me pus de pé e fui para o cômodo ao lado, mesmo percebendo que uma silhueta menor me seguia, não parei em um minuto sequer.
, eu... — parou
— Tentou me avisar que sua amiga parecia com ela, mas não conseguiu. — Sorri sem graça.
— Não tinha como eu avisar, você recusaria vim, mas olha, é só aparência parecida, não é ela, eu sei, então apenas pense que ela é a e não a Go Eun. — Simplificou.
— Fácil de falar, eu sei que vou ficar encarando ela a cada segundo, tem noção do quanto isso é torturante? — Reclamei.
— Tenho, não tanto quanto pode ser doloroso pra você, quando eu a conheci foi logo após o acidente, e em minha mente eu tentei colocar ela no lugar da minha melhor amiga, mas com o tempo, você percebe que são diferentes apesar do rosto. — Ela cruzou os braços e então suspirei, ela me abraçou e pediu para que eu tentasse, eu tentaria ignorar o fato, mas sabia que seria uma tarefa difícil.
— Então, , o que você faz da vida? — Sejin já se encontrava bem acomodado ao lado da garota quando retornamos à sala.
— Eu sou arquiteta e trabalho em um escritório aqui em Ilsan mesmo. — Tomou um gole da bebida vermelha que eu conhecia bem.
— Tae, pode me dar a garrafa de Whisky? — Meu cunhado logo me entregou e a seco ingeri.
— E você tem namorado? — Eu mal podia acreditar naquela conversa.
— Não — Riu e permaneci a encarando até que Taehyung cutucou minha cintura e disfarcei desviando o olhar.
— Então, amiga, você pode ir no quarto pra eu te mostrar uma coisa? — puxou assunto e aproveitei pra ir ao quintal fumar, coisa que eu raramente fazia a não ser em dia de stress em tempos de comeback, mas naquela hora eu sentia que podia fumar cartelas.

Fumei um, depois mais um, e outro, eu estava ansioso e qualquer uma ali, tirando a própria e Sejin, saberia o motivo do porquê, mal percebi que a mesma estava ao meu lado quando me virei pensando em voltar para o interior da casa.

— Posso me juntar a você? — Perguntou com a voz animada.
— Sinto muito, mas já ia voltar pra dentro, eu só vim fumar e preciso comer. — A deixei pra trás e voltei para o lado da minha irmã que franziu o cenho quando sentiu o cheiro.
— Desde quando você fuma? — Fechou ainda mais a cara.
— Há um tempo. — Peguei a cerveja e me juntei com os rapazes à sala que falavam sobre futebol.
, fala pra ele como Real é o melhor time. — Taehyung gesticulava.
— Eu não entendo de futebol, vocês sabem disso. — Liguei a TV.
— Ah, cara, você é muito desligado, se bem que, nos últimos tempos quase não tem tempo pra nada além de trabalho.
— Falando em trabalho, quando sai as próximas músicas? — Sejin sempre fora um amigo que acompanhou todo o processo de trainee até os tempos atuais.
— Sai daqui duas semanas mais ou menos, os meninos já finalizaram as gravações, deixei Yoongi encarregado da intro que eu costumava fazer nos álbuns anteriores. — Respondi.
— Acha que dessa vez vocês conseguem uma resposta maior do público de vocês? — Taehyung prendeu a atenção em mim.
— Fizemos nosso melhor nesse, creio que tanto eu quanto os meninos torcemos para que dê certo.
— Vai dar super certo, tenho certeza que com a ajuda dos mais novos que tiveram, vai ser um sucesso. — nos interrompeu e dali a conversa fluiu por mais tempo, e eu simplesmente me concentrei em falar apenas sobre trabalho para que minha mente não se ocupasse com o desnecessário.



Capítulo 2

Me espreguicei na cama e abri os olhos com o incomodo da claridade, minha cabeça latejava devido ao tanto de bebida que eu havia ingerido depois que começamos a jogar poker, péssima ideia, eu sabia que perderia se apostasse, e apostar copos de tequila sabendo que eu odiava fora a maior burrice que eu havia feito. Levantei indo direto para um banho.
Após trocar de roupa e checar e-mails e mensagens do trabalho, caso precisassem de mim, desci as escadas para tomar meu café da manhã, a voz de , Taehyung e uma terceira voz estavam tomando o ambiente em uma conversa descontraída, ela parecia empolgada com algum plano para aquele dia e eu já estava fora, iria pra qualquer lugar que fosse longe dela, eu não precisava lembrar de algo que eu queria manter guardado mais do que o habitual.


— Irmãozinho. — Minha irmã se levantou e pegou uma xícara colocando ao seu lado com café e algumas torradas para que eu fizesse o desjejum ao seu lado.
— Hey, bom dia. — Respondi cumprimentando a todos.
— Dormiu bem? Depois de toda aquela tequila. — Sorriu.
— Dormir sim, o negócio foi quando eu acordei, mas já tomei algumas aspirinas. — Beberiquei o café.
— Então, estamos pensando em ir no Hanwha Aqua. E saímos daqui uma hora. — não me encarou, isso significava que eu não deveria negar.
— Eu estava pensando em ir ao Lake pra...
— Nada disso, ah, , você veio para passear conosco, você já passa muito tempo só nos lugares, ou então com aqueles garotos do seu grupo, custa passar um tempo com sua irmã? — E lá íamos nós com a chantagem emocional. — Se você não for, meu bebê vai nascer com sua cara e a culpa vai ser sua.
— Provavelmente ele já nasça parecido comigo, somos irmãos, esqueceu? — Taehyung riu ao lado da menina que o fuzilou.
— Poxa, você poderia ir conosco, vai ser legal, tem muito o que ver lá. — se pronunciou e acabei por encará-la.
— Eu sei, já estive lá. — A outra se encolheu um pouco com a resposta seca.
— Não faz isso, . Você prometeu. — fez cara de choro.
— Tudo bem. — Respirei fundo.
— Ótimo, você vai com no carro dela, e eu e Taehyung vamos depois de eu passar no médico. — Disse satisfeita.
— Se não se importar. — disse baixo, mas audível.
— É claro que ele não se importa, ele não é doido, — A encarei e me questionei se realmente aquilo não era de propósito.
— Vou me trocar e desço daqui a pouco. — Comi o último pedaço de torrada e me retirei.


Durante todo o caminho até o Aqua, nenhuma palavra saíra de minha boca, e por algum motivo aquilo me incomodava. Go Eun e eu conversávamos sempre sobre nossos trabalhos, ou sobre algum assunto em que gostávamos, mas está no carro com alguém com sua aparência e não personalidade mexia com minha cabeça.

— Você quer escutar alguma música? — Creio que o incomodo talvez não fosse só meu.
— Que tipo de música você gosta? — Perguntei por educação.
— Qualquer tipo pra mim tá tranquilo. — Respondeu com o olhar ainda na estrada.
— Okay. — Coloquei um rap do Nas, já que era um dos meus favoritos, mas ela pareceu não gostar muito, então ri espontaneamente da expressão da menina. — Se quiser, posso trocar.
— Não — Riu envergonhada. — Eu só não estou muito acostumada a escutar rap, mas pode deixar.
— Minha namorada também não gostava. — Ri ao lembrar quando coloquei aquela música e Go Eun começou a reclamar e querer mudar a música, o que nos rendeu uma breve briga.
— Ah! E por que ela não veio com você na viagem? Ela estava ocupada? — Sai das memórias felizes ao lembrar que na realidade, aquelas brigas por uma simples música não seriam mais possíveis.
— Ela sofreu um acidente de carro, ela nunca mais vai poder voltar em Ilsan. — A garota ao meu lado pareceu se xingar mentalmente e se mexeu desconfortável.
— Eu sinto muito, eu não sabia. — Seus lábios se contraíram.
— Não precisa se desculpar, já faz muito tempo.
— E você sente muito a falta dela? — Okay, a conversa talvez fosse para um lado que eu não queria e com uma completa estranha.
— Sinto. — Fora a única palavra que falei.
— Bem, chegamos. — Ela mudou completamente o ambiente do carro com um sorriso. — Não vamos falar de coisas tristes hoje.
— Certo. — A encarei surpreso, geralmente quando falava desse assunto com alguém, a pessoa queria saber sobre tudo, e ela simplesmente deixou o assunto de lado, o que pra mim fora um alivio.
— Sua irmã deve demorar um pouco, quer começar a ver alguma ala? — Pegou o panfleto com as alas que o aquário possuía. — Podemos ver primeiro os tubarões. O que acha?
— Gosto de tubarões. Vamos — Passei por andando a sua frente, mas logo a menina já estava novamente ao meu lado.

Olhávamos tudo e ouvíamos atentamente como o guia daquela parte do aquário explicava. Era incrível, há tempos eu não ia naquele lugar e já havia me esquecido como a vida marinha era incrível.

— Sabia que tubarões galápagos não comem as pessoas, só mordem e deixam ir? — riu ao meu lado sem entender.
— Bem, eu espero nunca cruzar o caminho de nenhum. — Disse mais solta do que na nossa conversa no carro.
— Mas se ver um, só fingir que está dormindo. — Eu tinha ouvido aquilo em algum lugar.
— Sim, senhor. — Eu consegui me manter com aquele clima até a hora em que chegou ao Aqua com Taehyung. Eu não poderia deixar com que a aparência de me impedisse de algo e nem seria justo com ela.

O problema era totalmente meu, quando me deitei e imaginei como o dia teria sido com Go Eun, o que não era difícil graças a semelhança das duas.
A semana passou rapidamente e a presença de por mais que indesejada no início, começou a ser apreciada por mim, conversávamos sobre assuntos que eu não tinha com minha namorada, tínhamos pontos de vista totalmente opostos o que tornou aquela viagem interessante.

— É seu último dia aqui, vamos ao Lake. — tirou o livro que eu lia de minhas mãos. Como passava mais tempo vendo coisas para o bebê do que andando conosco em Ilsan, era inevitável que não ficássemos um pouco mais próximos.
— Eu tenho que escrever algumas coisas pro trabalho, podemos ir mais tarde. — Peguei o livro de volta e ela sorriu. Era uma diferença que ela tinha. Seu sorriso era tão inocente quanto de criança, diferente de Go Eun que assim como eu, já havia sofrido decepções pela vida e carregávamos sorrisos quebrados.
— Eu vou fazer meu projeto aqui também, se não for incomodar. — Pegou a mochila que estava embaixo da mesa retirando seu notebook.
— Fique à vontade. — A caneta voltou a passar pelo papel em minhas mãos, eu tinha tempo livre e inspiração para alguns temas, mesmo que as próximas músicas a serem lançadas tivessem sonoridades tanto felizes como tristes, eu precisava pensar mais a frente também.
— Posso escutar algo que já tenha composto? — se aproximou novamente.
— Claro, lançamos um álbum que já está disponível nas plataformas on-line. — Mantive atenção ainda no papel, mas ela colocou o rosto tão junto ao meu que não pude evitar olhar para o lado.
— Qual nome? — Disse baixo e suave.
— Está tentando me seduzir, senhorita ? — A questionei e ela engasgou com sabe-se lá o que.
— Não, só fiquei curiosa. — Se endireitou e coçou a cabeça.
— Entendi. — Voltei a escrever.

não ficou quieta por um minuto sequer, talvez pelo fato de ser meu último dia em Ilsan, mas ela cantava, falava sozinha, comia, andava como se tivesse calculando, escrevia, e por fim começava a puxar assunto.

— Okay, vamos ao Lake. — Quando eu não conseguia mais ter ideia de como terminar aquela letra, eu simplesmente desisti e decidi que poderíamos ir.
— Vou guardar minhas coisas. — colocou as coisas de volta na mochila, na mesma hora em que a porta da entrada se abriu.
— O que estão fazendo, crianças? — entrou com Taehyung cheio de sacolas em mãos.
— Estamos nos preparando para ir ao Lake, quer ir? — foi abraçar minha irmã.
— Não, vá os dois, estou muito cansada, tenho que cuidar de dois bebês.
— Dois? — Perguntei.
— Sim, eu tenho que carregar um aqui na barriga, e o outro vou cuidar por me ajudar. — Revirei os olhos com a troca de carinhos na nossa frente.
— Okay, bebê Taehyung, não dê muito trabalho pra minha irmã. Volto pro jantar e para pegar as minhas coisas. — Como eu voltaria sozinho e precisava estar cedo em Seoul, eu iria voltar de avião.

Enquanto falava ao telefone com algum cliente que queria ver uma de suas plantas, eu caminhava lentamente pelo caminho já conhecido, aquele sentimento de paz que há tempos eu não sentia voltou a me rodear, eu não sabia se era por eu ter me dado um tempo e trocado o ambiente do dia a dia, mas era bom me sentir mais leve desde que Go Eun tinha morrido, talvez eu devesse ter me dado a chance de continuar depois de tudo acontecer. Porém, a memória dela ainda se mantinha viva a cada dia, sempre que eu estava em algum lugar, ou quando as noites com o pesadelo do acidente que a matou, eu ainda me sentia culpado e responsável por aquilo.


2 anos antes

, acha que esse vestido está bom assim? — Go Eun usava um vestido vermelho com uma longa fenda e um decote V nas costas, estava linda, assim como quando a conheci em um bar.
— Está perfeita como sempre. — Fui em direção à mulher e selei seus lábios.
— E você está tão lindo, tem certeza que não tem outra por aí? — Brincou mesmo que a expressão de seu rosto fosse séria.
— Absoluta, eu já tenho que te manter em segredo, duas mulheres seriam mais difícil. — Gargalhei quando ela deu um leve soco em meu ombro.
— Tem certeza que não quer ir em carros separados? Pode ser que chamemos atenção se chegarmos juntos.
— Tenho, vamos parar na empresa e irei entrar com os meninos pela van, você pode usar meu carro. — Arrumei os botões do paletó e peguei as chaves do carro, precisava me apressar para a premiação.


Assim como combinado, depois de sairmos da cerimônia, fomos para a empresa onde ela já me esperava, como todos os meninos do grupo já sabiam que eu a namorava, ela parou para cumprimentar a todos antes de irmos jantar.

— Parabéns pelo prêmio, meninos. — Cumprimentou um a um.
— Você viu, noona, você viu que ganhamos? — Jimin a abraçou apertado, do jeito que ele costumava ser.
— Vocês foram incríveis, daqui pra frente, espero que recebam muito mais. — Go Eun sempre mantinha um ar sério, mas era sempre doce com cada um dos membros do grupo.
— Obrigado, noona. — Foi a vez de Jungkook ter a palavra. Ela sorriu e se despediu quando pedi para que fossemos, afinal, tínhamos hora marcada e a tínhamos que ser discretos.
— Nos vemos em casa. — Me despedi dos meninos e partimos.

Escutávamos uma música tranquila enquanto íamos, Rain na voz dos meninos era uma boa pedida para uma noite tranquila como aquela. Segurei suas mãos enquanto dirigia, ela era única pra mim, tinha seu próprio jeito, era quieta, mas amorosa ao seu modo, e ela era a pessoa que eu mais amava.

— Eu te amo. — Ela disse sorrindo vergonhosa, mas com voz firme. Fora a última coisa que escutei antes de sentir o impacto. Era como se ela sentisse que algo iria acontecer

Eu não sabia de que lado àquela força viera, por minutos minhas vistas escureceram e então senti o sangue por toda minha cabeça, meu braço doía e eu não pude ao menos olhar para o lado em que ela estava, pois com a vista turva era difícil.

. — A ouvi chamar uma vez, e sua voz chamava outra e outra vez e eu não era capaz de responder. — . — A sua voz cada vez ficava mais distante, até que não pude mais ouvir sua voz.

No dia seguinte, acordei com dores horríveis no corpo, Jin estava sentado na poltrona que era destinado aos parentes no hospital, assim que me ouviu gemer e de olhos abertos, ele chamou a enfermeira.

— Como se sente? — Perguntou se aproximando, pude ver as lágrimas em seu rosto e a preocupação dele.
— Como se eu tivesse sido atropelado por um caminhão. — Brinquei.
— Não diga essas coisas. — Jin disse com certa raiva e eu me limitei já que as dores eram horríveis.
— Como está a Go Eun? Ela está bem, está no quarto? Eu quero a ver. — Pedi.
, eu sinto muito. — Jin disse com a voz fraca.
— Como assim “sente muito”, cadê a Go Eun, Jin? — Insisti.
— Quando a ambulância chegou ao local, já era tarde demais, o impacto do caminhão fora maior nela.
— Não. Isso é mentira, não pode ser verdade. — A dor do meu corpo já não parecia doer mais, mas a que eu sentia por dentro era mil vezes pior.
— Eu sinto muito.


X



. — Despertei da memória quando ouvi a voz diferente me chamar. sorria assim como uma criança e isso me trazia pra realidade, ela apontava para uma barraquinha de sorvete e acenei quando ela sinalizou perguntando se podia pedir dois.
— Obrigada. — Ela me entregou um dos que estavam em suas mãos.
— Não sabia o que queria, então peguei misto de baunilha com chocolate. — Ela se lambuzou com o sorvete.
— Não importa muito o sabor pra mim. — Sorri colocando em minha boca.
— Não gosta? — Apenas assenti.
— Então por que me deixou comprar? — Disse irritada.
— Porque está calor. — Respondi.
— Ah. Tsc, não como coisas que não gosto. — Nisso elas eram parecidas.
— Go Eun também era assim. — Não pensei quando disse isso, para outras pessoas podia ser chato alguém que constantemente lembrava de alguém que estava morto.
— Sua namorada, né? — Entreguei um guardanapo que havia vindo junto com o sorvete para que se limpasse.
— Sim.
— Como ela era? — Com curiosidade, dessa vez ela perguntou.
— Ela era tímida, não falava mais do que o necessário, era doce e tinha a voz de um anjo, as vezes acreditava que ela era realmente um. Bem diferente de você. — Eu ri e ela ficou brava. não conseguiu camuflar a raiva que sentiu.
— E como se conheceram? — Continuamos a andar.
— Num bar, era confraternização de fim de ano, ela era de uma empresa que contratamos pra as finanças, ela cuidava de toda a parte que precisávamos, naquele dia em particular ela havia sido traída pelo ex-namorado, e resolveu beber além do que o permitido, a encontrei chorando do lado de fora. A primeira coisa que ela fez foi me xingar e dizer que eu era um intrometido. — Sorri soprado ao relatar. — Dali pra frente passamos a conversar muito, e mesmo com aquele jeito mais fechado, fomos nos conhecendo e nos abrindo um para o outro. Foram questões de meses para começarmos a namorar.
— Mas como manteve isso escondido por sete anos?
— Não éramos conhecidos quando começamos a namorar, nem estávamos na nossa formação final. Não era difícil. — Contei.
— Você deve ter sentido muito com a morte dela.
— Na verdade, ainda sinto, nunca mais me relacionei ou tive o interesse nessa parte. Eu só quero fazer meu trabalho e morrer em paz. — Coloquei as mãos no bolso da calça larga.
— Não pensa em fazer mais nada, tipo, nada além disso? O objetivo de todos é ser feliz com as pessoas que ama, e ter uma boa vida.
— Era meu objetivo, mas tudo me foi tirado. — Chutei uma pequena pedra que caiu no lago.
— Não vejo assim, quer dizer, você tem seus amigos, tem um bom emprego, tem fãs que te amam, tem uma família linda, por que dizer que perdeu tudo? Você ganhou uma nova chance de viver. Pode parecer duro e insensível, mas talvez fosse a hora dela, talvez ela já tenha tido a felicidade destinada a ela.
— Eu não acredito muito em destino. — Confessei.
— Mas também não é capaz de ver tudo o que tem e se fechou pro mundo, espero que veja que a felicidade pode existir mesmo nesses momentos, essa é nossa juventude. A vida não seria muito fácil se andássemos apenas em caminhos de flores? — correu para espantar alguns pombos depois de deixar essa frase no ar, aquilo martelou na minha cabeça até a hora que tivemos de ir embora, mesmo naqueles momentos frios, eu poderia ser feliz?

This moment won’t ever come again
Esse momento não irá jamais voltar
I’m asking myself again, am I happy right now?
Estou perguntando a mim mesmo novamente, eu estou feliz agora?



[...]


Yoongi estava realmente animado depois de me mostrar o final de seu trabalho com a intro. Ele realmente havia feito um bom trabalho, e a mensagem que ele usara na música era parecida com a conversa que tive com em Ilsan.


— Estamos aqui para que todos vejam o trabalho final de nossas músicas, e vamos decidir aquelas que apresentaremos. — Nosso representante entregou os relatórios para cada um e fomos analisando e ouvindo música por música, todos estávamos animados, essa seria realmente nosso melhor trabalho, falamos isso e nos empolgamos.
— Waaa dessa vez temos que alcançar o número um, Mon. — Hoseok, com o jeito espalhafatoso, gargalhou satisfeito. — Suga hyung também deu seu melhor na Intro.
— Estou satisfeito com a finalização. Logo, logo elas vão poder ouvir. — Yoongi era confiante e eu gostava disso nele.
— As fãs do Yoongi vão ficar orgulhosas. — O incentivei com um tapa nas costas.

Fomos almoçar todos juntos ao final da reunião, os dias seriam cansativos a partir dali, já que teríamos que preparar shows e as promoções.
— Como foi em Ilsan? — Jungkook perguntou primeiro.
— Foi bom, descansei bastante sem vocês pra bagunçar. — Jimin bufou ao escutar.
— Aposto que sentiu nossa falta. — Reclamou.
— Nem um pouquinho, nem me lembrei de vocês. — Sorri. Mesmo com todos os meus altos e baixos, mais baixos do que altos diga-se de passagem, os meninos sempre estiveram ao meu lado, e foi quando pensei que eu tinha momentos sim em que eu sentia felicidade, estando ao lado dos caras. — Eu tinha minha irmã, o Taehyung, a , e meu futuro sobrinho, por que acham que eu sentira falta de vocês? — Provoquei.
? Quem é ? — Hoseok perguntou.
noona está grávida? — Jimin veio com outra pergunta.
— Sim, e é uma amiga de . — Respondi rápido antes que deduzissem algo que não existia.
... — Yoongi falou. — Bem, seja quem ela for, está te ligando e você não está atendendo. — A risada dos outros foram ouvidas e acabei me atrapalhando ao pegar o aparelho.
— Aish. — Olhei para o visor para ter certeza. — Alô. — Nunca vi pessoas ficarem quietas tão rápido como aqueles seres a minha volta.
Estou em Seoul para visitar sua irmã, mas poderíamos tomar um café? — Convidou com uma voz duvidosa.
— Pode ser pelas 19h? Agora de tarde estarei muito ocupado. — Falei baixo.
Você deve estar mesmo muito ocupado. Então, tem algum café por aí perto? — O sotaque carregado de Ilsan nunca foi tão amado por mim como naquela hora, já que eles não entenderiam ela falando.
— Tem sim, vou te passar o endereço de um que fica bem atrás de onde eu trabalho e é reservado.
Então nos vemos mais tarde. — Disse mais alguma coisa que ignorei devido aos olhares que eu recebi. E sabia que era impossível escapar de interrogatório assim que eu desligasse.
— Okay, temos muitas perguntas aqui. — Jimin não segurava a língua.
— Não é nada demais, ela passava maior parte do tempo na casa que alugamos me fazendo companhia quando não estava, claro que fizemos amizade. — Revirei os olhos.
— Interessante. — Hoseok colocou os dedos no queixo e os coçou como se pensando em algo.
— Não tirem conclusões, e vamos trabalhar que precisamos. — Voltei para empresa sozinho.

Voltei a trabalhar em Always que era uma música que eu já vinha querendo liberar por conter sentimentos guardados há anos. Se nosso novo álbum fosse um sucesso, seria um presente para nossas fãs.
O ponteiro do relógio apontava às 19:30 da noite quando meu celular novamente tocou, mal tinha visto a hora passar, era gratificante o trabalho e eu gostava de passar horas ali, mal vi que era o nome de ao telefone, e só percebi quando a voz feminina invadiu meus ouvidos.

— Já estou indo. — Me lembrei que havia marcado com ela. Sai correndo, e agradeci mentalmente por ser perto.

Passei por entre os carros no estacionamento até que vi a porta do café se abrir, um casal desconhecido passava e a porta mal encostara e eu a abri novamente.

— O que vai querer, senhor? — Uma atendente se aproximou assim que cheguei ao balcão.
— Dois Mocha. — Lhe estendi o cartão como forma de pagamento. Procurei por todo o ambiente a garota e num canto bem reservado ela levantou as mãos para que eu pudesse a ver.
— Eu te liguei numa hora ruim? — Perguntou sem graça.
— Não, eu havia mesmo esquecido, não que não quisesse vim, eu só, me empolguei no trabalho. — Sorri sem graça.
— Acontece com as melhores pessoas. — Rimos juntos.
— Então, está em Seoul tão cedo só pra ver minha irmã? — Às vezes eu não sabia puxar bons assuntos, não que eu quisesse.
— Sim e não. Eu vim por um possível cliente, dos grandes, quando estava em Ilsan já haviam me ligado e eu já estava com essa viagem marcada. — A ofereci o café que havia comprado e ela aceitou.
— Entendi. — Ótimo , você é um grande corta conversas.
— Uhmm, que delícia. Eu amo mocha. — tomou novamente da bebida quente.
— É meu favorito também e da...
— Go Eun? — Ela suspirou, mas deduziu errado.
— Não, ela não tomava café. — Sorri. — É favorito da também.
— Ah, me desculpe. — Cobriu o rosto.
— Eu falei bastante dela, né? — Fora minha vez de se envergonhar.
— Talvez. — Sorriu agora mais a vontade.
— É que... — O sino de entrada do café soou e pelo escândalo das vozes, eu sabia exatamente as pessoas que tinham entrado. Jimin não demorou muito a me encontrar, acenou e ao mesmo tempo arregalou os olhos, eu não poderia deixar os meninos dizerem o que viam, poderia ser ruim, e eu não queria mesmo que acontecesse, mas eu temia ser tarde demais, uma vez que todos olharam na nossa direção. Yoongi apontou para o lado e eles vieram todos para a nossa mesa.
— Go Eun noona? — Jungkook, o mais novo de nós, tocou-lhe as mãos.
— Meninos, esta é a . — Todos me encararam ainda sem entender.
— O que quis dizer com Go Eun? — olhou confusa.
— Não é possível que possa existir duas pessoas tão iguais no mundo sem serem irmãs. — Jimin também lhe tocou para ter certeza.
— Também fiquei surpreso, mas ela não é a Go Eun, ela é a .
— Sabia que havia algo errado para falar de outra mulher.
— Hoseok. — Repreendi. — Não me aproximei dela por isso, eu até evitei, e não queria que isso acontecesse por saber que reagiriam assim. Olhem, ela é só uma amiga da , por favor, Go Eun está morta. — Dizer aquelas palavras fora doloroso, mas era a verdade.

O silêncio pesou e ele chegou a ser tão denso a ponto da minha cabeça girar e girar. Acreditei que de fato iria ao chão, até que me sentei e todos ali fizeram o mesmo.

— Pode me explicar o que está acontecendo porque até agora eu não entendi nada. — Suspirei antes de pegar minha carteira e tirar a foto em meu bolso. — Meu deus. — Ela olhou a foto e a jogou no mesmo instante em que "se viu" ali. — Essa é sua namorada?
— Sim. — Guardei novamente a imagem. — Lembra que quando nos conhecemos há semanas atrás, eu evitava muito a encarar, ou até mesmo dirigir a palavra a você? Era porque te olhar era doloroso, não por você ser a , mas por carregar no rosto a semelhança dela.
— Semelhança não nos torna iguais, você sabia que eu sou outra pessoa, com outra vida, com outros problemas, com outro trabalho, mas numa coisa ela e eu temos em comum. — Me senti confuso. — Nos interessamos pela mesma pessoa, só não sabia que seria tão complicado. — Pegou sua bolsa e saiu dali.

tinha toda a razão por estar naquele estado de raiva, eu deveria ter contado e também deveria, mas sempre que eu estava com ela, nos dias que se passaram, eu queria me apegar idealizando Go Eun, eu queria apagar o fato dela ser outra pessoa por bem próprio e mascarar a dor que eu sentia há anos, para talvez me dar uma chance de encontrar o que me fizesse me sentir feliz.

— Vai atrás dela, , ela parece ser uma boa pessoa, nem merece passar por o que fizemos, me desculpa.
— Okay, Hoseok, me empresta seu carro. — Pedi as chaves. — Anda, Hoseok, você pode voltar com Jimin pra casa. — Hoseok tinha um ciúme besta do carro dele.
— Cuide bem dele. — Por fim me entregou.

Mesmo tendo saído às pressas do café, pude ver caminhando ao longe calmamente, olhava pra cima, para os lados, indo em direção aleatória.

— Não está com frio? — Corri até que ficasse ao seu lado.
— Hmmmm, não, está agradável. — Disse docemente.
— Desculpe pelo que aconteceu no café, acho que foi muito de repente e a gente mal se conhece. — Prossegui.
— Infelizmente. — Resmungou.
— Pelo que? — Ela fungou e sorriu.
— A gente mal se conhece direito, mas eu já senti certo interesse. — Normalmente confessou.
— Você deve ter péssimo gosto para homens, olhando logo pra alguém como eu. — riu e eu acompanhei.
— Queria te conquistar sem ser pelo meu rosto, o destino é cruel. — Destino.
— Realmente, se destino existe, ele foi cruel com ambos. — Concordei.
— Por que não me contaram logo que eu parecia com ela, teríamos evitado isso? — Me perguntava o mesmo.
— Medo, talvez, disse que a conheceu logo após o acidente, era difícil pra qualquer um apagar memórias, não foi justo ela usar isso, mas também com o tempo ela mesmo aprendeu a separar o passado do presente.
— Eu sinto muito por parecer com ela, mesmo que apenas fisicamente. — Soltou o ar pela boca que tomou forma de fumaça.
— Não é sua culpa, não é de ninguém, então não tem motivos para se desculpar. — pareceu se sentir satisfeita. — Vamos, eu vou te levar para o hotel.
— Vamos comer primeiro? Eu estou faminta. — Apontou para uma barraquinha de rua que estava próxima.

Voltei para casa depois de deixá-la, meu coração se sentia estranho, fora uma noite agradável e eu estive ao lado de , apenas dela, sem a aparência interferir em nada e foi bom conhecer sobre o seu tempo de colégio. insistira em perguntas que ela precisava saber para ter certeza que estava se interessando por alguém de bem.

"— Não se interesse por mim. — Pedi.
— Por que não? Você não manda em mim. — Brincou.
— Estou falando sério, eu não sou alguém pra isso, eu sou alguém para o trabalho e somente pra ele. — Respondi.
— Ótimo, eu gosto de pessoas esforçadas. — Já tinha visto que com , as coisas eram como ela queria.
— Depois não diga que eu não avisei. — Acelerei o carro para chegarmos logo, já que era tarde."

Abri a porta do apartamento dando de cara com um Hoseok frustrado, apenas dei batidinhas em seu ombro dizendo que seu carro havia sido bem cuidado e ele relaxou.

— Então, como foi com a tal ? — Hoseok fez com que tivesse preocupado comigo e não com o carro dele.
— Foi divertido. — Retirei a jaqueta e me joguei no sofá.
— Divertido é. — Riu ladino.
— É, Hoseok, divertido.
— Hyung, tente se dá uma chance ao menos uma vez, mesmo que ela tenha o rosto de alguém que você amou, ela pode ser o rosto que você pode amar, mesmo sendo pessoas diferentes.
— Isso não fez sentido algum. — Joguei o travesseiro nele.
— Sério. — Hoseok gargalhou. — Não sou bom com conselhos, mas eu quero te ver feliz, , o que eu conheci.
— Eu sou o de sempre. E já estou cansando. — Me levantei. — Apague as luzes quando sair da sala.
— Okay, pai. — Zoou.



Capítulo 3

As semanas de promoções eram corridas, o álbum novo havia sido um sucesso e mal podíamos acreditar que finalmente, depois de dois anos, estávamos nos topos de parada. Todos estavam felizes, apesar das lágrimas, era por termos lutado tanto para finalmente vermos um resultado. Meus pais me ligaram, minha irmã e meu cunhado, e , pois iriam preparar um jantar em comemoração.


Por que não convida seus amigos? Eles podem vir, vai ser na casa da sua irmã em Seoul, dá para todos participarem. — Mamãe que amava os meninos como se fossemos parentes. Apesar de não ser de sangue, éramos família.
— Vou falar com eles.
, sua irmã vai trazer uma amiga, ela é... — Mamãe parecia ter conhecido .
— Parece com Go Eun? Eu sei, mas são duas pessoas totalmente diferentes. — Ri.
Você já a conheceu? — Se assustou.
— Em Ilsan, há quase um mês atrás. — Contei.
Enfim, ainda bem que já está preparado então. — Pigarreou.
— Preciso desligar, te amo, mãe.
Também te amo, meu filho. — Só desliguei quando a mais velha finalizou a ligação.
— Aproveitando que estão aqui na sala, minha mãe nos convidou para jantar.
— Ah! Finalmente comida de verdade e caseira. — Jin sentia muita falta disso, e sempre nos falava, sabia que ele seria o primeiro a aceitar.
— To dentro também, e estou com saudades da noona. — Jimin carinhoso como sempre em relação a minha irmã.
— Pelo jeito vamos todos. — Yoongi que encarava seu computador se manifestou.
— Okay, todos às 20h, amanhã. Mais uma coisa, vai estar lá, se comportem.
— Vamos tentar. — Jungkook, o mais novo de todos, provocou.
— Bem, vou sair. Até mais tarde. — Saí após calçar os sapatos que ficavam na entrada.


e eu tínhamos combinado de ir ao cinema, eu sei, parecia estranho eu ter aceito a ideia dela de me conquistar, sempre que eu pensava nisso, eu começava a sorrir, porque era realmente hilária a ideia da menina.
À noite em Seoul era linda, todas aquelas luzes, os casais que andavam na rua, as famílias que iam ao parque pela noite, podia ser às 10 da noite que estaria tão movimentada quando durante o dia. As pessoas pareciam felizes, eu queria poder me ver, indo de encontro à , eu parecia feliz?
O cinema estava lotado e eu não poderia ser visto, então liguei para que ela me encontrasse na ala vip do shopping, lá as salas eram mais reservadas.

— Desculpe, eu nem me lembrei desse detalhe. — Ela disse vestida com um capuz e usando um óculos escuro.
— Você está parecendo uma senhora. — Brinquei.
— Olha, não é que agora ele até faz piadinha? — Se emburrou.
— Somos amigos agora, tenho liberdade, não é? — Disse olhando para os lados para conferir se poderíamos ir comprar os ingressos.
— Fico feliz que pelo menos agora me considere sua amiga, já é um começo. — Segurou minha mão e me puxou para a bilheteria.
— Que filme vão assistir? — O atendente nos olhos com certa estranheza por estarmos cobertos.
— In the mood for love. — falou rapidamente.
— Pode deixar que eu pago. — Falei, mas ela se negou entregando o dinheiro antes que eu tirasse minha carteira.
— Eu te convidei, eu pago. — Cruzou os braços de forma divertida.
— Então vou comprar as pipocas, te encontro na entrada da sala.
— Ok. Compre umas jujubas também. — Sorriu, inocente, eu já nem lembrava mais como era o sorriso de Go Eun, talvez com o tempo que vinha passando com tenha me apresentado um totalmente novo e bonito. — Tá se sentindo mal?
— Que? Não... desculpe. — Acabei a encarando por um tempo como se tivesse em transe.
— Vai logo que a sessão vai começar. — Apressei os passos e consegui comprar algumas besteirinhas a mais.

Eu estava morrendo de cansado, o dia tinha sido longo, mas deitar naquelas poltronas parecia o paraíso, deixei meu corpo relaxar, já que eram poltronas de casal e maiores do que as da sala comum. As luzes se apagaram e então o filme se iniciou. Era um clássico chinês, eu já tinha ouvido falar, e como as quintas eles faziam sessões de filmes clássicos, esse estava passando novamente. Basicamente era a história de um casal que suspeitavam de traição de seus parceiros, e começaram uma amizade, até que se tornou algo a mais. Isso não fora o que me chamou mais a atenção, já que seria na época um filme que era fora do que a sociedade acreditava, mas as palavras em chinês falavam como se fosse anos como flores. Como se nossa vida fosse isso, ela passa rápido, ela floresce, ela murcha e ela morre, mas volta a florescer novamente.

— Não está gostando? — pegou mais pipoca no balde e colocou na boca.
— Eu já vi esse filme, mas eu gosto dele. — Sussurrei.
— Gosta das cenas quentes, né? — Riu como se tivesse sido a coisa mais engraçada do mundo.
— Também. — Não neguei e acabamos rindo juntos. Eu e nos encaramos, nossos olhares sustentaram um do outro, até que num movimento rápido nossos lábios se uniram.

Foi nosso primeiro beijo, em um dos nossos encontros de amigos, assim como o casal que desconfiava dos parceiros se deram uma chance, eu acreditei que também devia me dar mais uma chance na vida, uma chance de ser feliz ao lado de alguém de novo.
Intensifiquei o beijo e correspondeu com pressa, com satisfação, e finalmente depois de dizer que me conquistaria, a insistência se mostrou o caminho certo.

— Obrigada. — Ela disse ao nos separar.
— Pelo que? — Permaneci de olhos fechados.
— Por se dar uma nova chance de tentar. — Abri lentamente meus olhos para a encarar, mas seus olhos permaneciam fechados e seus lábios continham um leve sorriso.

O filme fora deixado de lado, permanecemos abraçados até o fim e era tão quente e confortável que eu poderia ficar ali por longas e longas horas. Porém no dia seguinte tanto eu quanto teríamos que trabalhar.


Meses se seguiram e fazia totalmente parte da minha vida. Quer dizer, a parte possível. Tínhamos shows fora do país e era difícil ela poder ir a todos, às vezes por dias não podíamos nos ver devido aos treinos e gravações constantes, mas ao fim da noite ela sempre deixava uma mensagem de apoio. Fora difícil dizer o primeiro eu te amo, já que há muito tempo eu não sabia o que era estar em um relacionamento, ainda mais quando nos fechamos para isso. A primeira veze que eu conseguir finalmente a dizer que sentia algo, estávamos em tour no Japão. Ela conseguira uma semana de folga e resolveu que iria aos últimos shows, que seria em Nagoya.

— Eu te amo. — Os primeiros flocos de neve caíram enquanto caminhávamos.
— Você tem certeza? — Questionei
— Total. — Sorriu.

podia ter o rosto de quem um dia eu amei, podia me lembrar uma época triste que vivi, podia trazer à tona as decisões que eu havia tomado em relação a como eu viveria acreditando não ser digno de amar e ser feliz. Contudo, ela também carregava o rosto de uma nova esperança, de um novo presente, uma nova chance e um novo amor. O destino como ela gostava de dizer poderia ter sido cruel, mas era preciso acontecer. Assim como as flores que nascem e florescem, mas com a chegada do frio elas murcham e as pétalas caem, assim nossa vida tem o belo e o feio, o que não lembramos é que quando a primavera volta, ela traz consigo toda a beleza.
Encarei que estendeu sua mão para que eu entrelaçasse com as minhas. E assim o fiz. Sorri pela paciência e perseverança que ela tinha.

— Espere. — Pedi antes que voltássemos a andar.
— Algum problema? — Fungou. Me aproximei de seu ouvido para que apenas ela naquela noite fosse capaz de ouvir.
— Eu também te amo.

Eu me pergunto se eu sou feliz agora
A resposta já foi decidida
Eu sou feliz




Fim



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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