Capítulo Único

Five years ago.

- Eu sinto muito, .
Jake dizia tentando confortar seu amigo da notícia que havia acabado de receber. não fazia ideia do que pensar ou do que fazer, a única coisa que sabia era que seu coração estava esmigalhado em alguns – ou diria milhares? – de pedaços.
Ela não faria aquilo. Não.
Ela faria?
- O que foi que ela disse? – perguntou.
- Eu acho que vocês deviam conversar. – o moreno o olhou receoso. – Ela ainda está na cidade.
- Eu não sei se deveria, Jake. Você poderia me dizer...
falava em um fio de voz. O que era estranho. Porque aquele não era , nem de longe. Ele era mais forte que aquilo, tinha uma banda no seu auge, garotas gritando seu nome... E ele estava ali, se sentindo um merda justo por ela.
- Não sou eu que vou te contar. E eu me sentiria um hipócrita em fazer isso, se nem mesmo te contou. – ainda encarava o amigo. – Pegue o metrô, fale com ela. Vocês só vão conversar, não é?
Bom, ele achava que era só uma conversa. A verdade era que amava mais do que podia pensar em amar alguém. era maravilhosa a seu ver, espontânea, era radiante. Como não se apaixonar por seus olhos vívidos e seu jeito exultante? Havia conhecido a garota, sim, quando ela ainda era mais jovem. Haviam estudado juntos no colegial em Brighton e desde então ele sabia que não havia outra pessoa que pudesse substituí-la. era única.
O problema era que ele sentia demais. E ela não sabia disso naquele tempo, mas então se declarou e as coisas ficaram... Confusas. não sabia ao certo como retribuir, mas tentava ao máximo fazer algo dar certo entre os dois. Ela gostava de . Gostava da sua companhia, suas conversas e histórias. Ela queria, mas estava incerta.
Era complicado.
respirou fundo e pensou mais um pouco.
Se conversar fosse uma solução... Ele o faria.
Não pensou duas vezes antes de pegar suas coisas e seguir em direção ao metrô, e sem demorar já estava em frente à casa da menina.
Ele estava nervoso. Porque, de certa forma, ainda estava com . Eles eram um casal, de um jeito estranho, mas eram. Para o rapaz, ela era sua companheira. E ele companheiro dela.
Era simples.
Respirou pesadamente e tocou a campainha, esperando ansiosamente pela garota dos cabelos escuros. A mesma não demorou a abrir a porta e assim que o viu seu sorriso se desmanchou lentamente.
- . – a voz da garota era tão baixa que era difícil de ouvi-la.
- O que eles dizem... É verdade?
o olhou. Os olhos brilhando. Mas não soube identificar o porquê de estarem assim. Se era tristeza, arrependimento ou nada. Por alguns segundos, a garota ficou muda.
- ... – se aproximou, cautelosamente. – Eu consegui. Eu consegui passar para a universidade em Glasgow...
- Mas isso fica... Longe.
não entendia. Ela nunca quis ir para tão longe sim, por conta dos amigos e da família.
- Por que isso agora, ? Você nunca... -
- A universidade é muito boa. – o interrompeu. – E eu não preciso me preocupar com alojamento ou algo do tipo. Richard disse que eu podia ficar no apartamento dele...
Agora a garota tinha uma delicadeza enorme em dizer tais palavras. Era como se não quisesse contar aquilo.
- No apartamento dele? Ou com ele? – engoliu em seco. Piscou algumas vezes parecendo ter captado algo. – Espera. Richard Ward? Esse Richard? O seu ex-namorado Richard?
- , olha, não é nada...
- O quê? Você vai dizer que não é nada demais? Huh? Você está comigo, , eu achei que...
- Eu sei. Eu sei. – gesticulou, tentando se acalmar. – Mas é uma oportunidade que não quero perder. Entende? Eu não posso largar isso, .
- Você não pode ou não quer? – a esse ponto o rapaz já não sabia mais o que dizer. Ele estava tão... perdido.
- Eu não... Eu não sei...
Ele balançou a cabeça, passando as mãos por seus cabelos.
- Eu não consigo acreditar que você vai deixar tudo isso! Sua família, seus amigos... A mim?! Você vai deixar nosso relacionamento, ? Você nunca comentou de ir para Glasgow, por que isso agora? Me diz. Eu não consigo entender... Como você pode ser tão ingênua?
Ela suspirou e ficou quieta, debatendo consigo mesma.
- Eu acho que esse é o meu destino. Acho que... Temos que abrir mão de algumas coisas. Eu sinto muito, . – mordiscou seu lábio inferior, sem encarar o rapaz. – Eu vou para Glasgow.

Currently.

observou a letra em suas mãos. Sua banda havia decolado. O show o esperava.
Ele estava sentado em um dos sofás do camarim enquanto seus amigos conversavam entre si, até que fosse dado o sinal para eles entrarem no palco.
Aquela música.
Era ela que, em todo show, fazia o homem ficar cabisbaixo, deslocado, inerte. Ele havia a escrito. Por motivos óbvios. E para uma única pessoa, aquela que nunca havia saído de seu coração. E ele se praguejava toda vez por isso.
Releu as primeiras linhas e mordeu seus lábios, sentindo o coração descompassar.

Naive
I'm not saying it was your fault
Although you could have done more...
Oh you're so naive yet so...

Só que dessa vez, a diferença era que aquele não era qualquer show. Era O show. Em Brighton. Em sua cidade natal. Onde tudo havia começado.
Ele odiava aquela sensação.
- Você e Naive outra vez. – Jake se aproximou e soltou uma risada fraca ao perceber o papel nas mãos no amigo. – Achei que as coisas estavam melhorando.
- Eu não sei. – deu de ombros. Ergueu o olhar e avistou Jake. – Eu também achei que estavam. Mas ela sempre traz essa maldita nostalgia... É difícil esquecer.
- She's still out to get me... – Jake cantarolou e ergueu o corpo, saindo de perto do amigo, não antes de ver um dedo médio sendo levantado para ele.
balançou a cabeça e olhou uma última vez para a estrofe seguinte.

How could this be done
By such a smiling sweetheart
Oh and your sweet and pretty face
In such an ugly way
Something so beautiful
That everytime I look inside...

E ele não podia concordar mais. Uma garota tão linda quanto ela... Ele não fazia ideia de que faria algo assim. Não com ele.
Respirou fundo por mais um tempo, até ver alguém de sua equipe empurrar a porta e anunciar que aquela ela a hora de subirem. Os seus companheiros de banda já começavam a se preparar para seguir e ele resolveu fazer o mesmo, saindo do lugar.

O show havia começado bem animado. Todos cantavam perfeitamente suas músicas. estava feliz por aquilo. Haviam conseguido estar onde estavam por puro esforço e aquilo o orgulhava mais que tudo.
Haviam cantado Down, Seaside, Ooh La e inclusive Naive, que fez a plateia vibrar com toda aquela energia. Era um show diferente. Ele se sentia mais em casa do que nunca. Era emocionante, precisava admitir.

- Obrigado, Brighton! O calor que vocês emanam é incrível. Vocês são incríveis!

dizia, assim, encerrando o show daquele dia e mês. Ele estava satisfeito.
Assim que desceu do palco, avistou Jake o olhando de longe. Estreitou os olhos.

- O que foi?
Jake ponderou um pouco antes de dizer.
- .
- O quê?
não podia acreditar. O que Jake queria dizer com aquilo?
- Ela queria falar com você. Tinha sido barrada por um dos seguranças quando a encontrei. – comentou, apontando com a sobrancelha para longe, onde a mulher estava. estava próxima a parede do camarim, parecendo esperar alguém. – Trouxe ela pra cá e achei que seria uma boa vocês conversarem.
- Você tá louco? Da última vez que segui esse conselho, as coisas não acabaram bem.
Jake rolou os olhos, colocando uma das mãos no cós da calça.
- Você precisa ser assim mesmo? veio até aqui. Isso não quer dizer nada pra você? – arqueou uma das sobrancelhas. – Vá. Pelo menos a ouça.
Resmungou tão alto que era possível a mulher ter ouvido, já que olhou na direção dos dois. deu mais uma olhada para o amigo e virou, seguindo até onde estava.
Os dois se olharam por breves segundos.
- O que faz aqui?
foi o primeiro a falar. Ela ficou quieta por um tempo.
- Eu precisava conversar com você. Acertar as coisas. Se você quiser, é claro...
pareceu pensativa.
- Acertar as coisas? – repetiu. – Eu achei que estava tudo certo, para todos. Mas não é o que parece.
- ...
Ele fechou os olhos. Seu apelido saindo da boca dela era torturante.
- Por quê? Por que você voltou? – dizia em um miado. – Você estava longe, em Glasgow e com Richard. Por que agora, ?
Ela não soube o que responder. Obviamente porque não esperava aquela pergunta. Não dele.
- Por quê? – perguntou novamente, a encarando. – Depois de tanto tempo...
- Eu sei, , eu sinto muito. Eu sinto muito mesmo. – encarava suas mãos, que tremiam nervosamente. – Eu achei que queria a universidade. Queria toda a diversão de escolhas novas e lugares novos... Eu era tão ingênua...
- E agora não quer mais? – a cortou. – Não quer estar livre, descobrindo o mundo e deixando as coisas importantes para trás? E seus amigos... Tem falado com eles? E seus pais? Eu espero que não tenha os decepcionado, . Porque, ao menos pra mim, você sequer mandou uma mensagem. Ou uma carta, que seja! Eu nunca mais soube de você!
- , por favor...
Os nervos do pescoço do homem já se sobressaltavam àquele ponto. Ele não sabia como agir diante daquilo. Estava furioso, chateado, decepcionado com ela.
- Você não pode chegar aqui, me procurando, e achar que pode conversar comigo, porque não... As coisas não funcionam assim. Não mais. Eu estava lá por você, ! – passou uma das mãos no cabelo, nervoso. – Eu fiquei esperando você voltar depois de saber que já tinha embarcado. Eu sabia que com o sucesso da banda ia ficar mais difícil falar com você, mas eu ainda tentava. Eu não desisti. Já você...
- Não coloque palavras na minha boca, . Eu não desisti de você. Eu só precisava ir e ver se era o que eu queria mesmo. Eu achei que você ia me entender.
a olhou. E ficou ali, a observando. Só querendo virar as costas e ir embora. Mas ainda era ali.
Ele não sabia o que fazer.
Mas estava chateado. Saturado de tudo aquilo.
- Eu não sei se isso pode dar certo mais... – começou, falando mais calmo.
- O que quer dizer com isso, ? – riu de nervoso e seu sorriso sumiu em seguida ao ver a expressão do rapaz. – Não. Eu vim até aqui, . Eu vim conversar com você. Eu... Eu gosto muito de você, ... Eu sei que podemos recomeçar. Olha, aquilo ficou tudo no passado. É passado pra mim, entende? Eu não quero mais nada daquilo...
balançou a cabeça, em negação. Não acreditava no que ouvia. Não que a situação chegaria naquele ponto.
, ao ver sua reação, começou a oscilar. Passou uma das mãos no rosto, sem acreditar.
- , por favor. Eu não quero mais ser livre, como você disse. Eu quero você. E achei que ia entender isso.
Ela o olhou e em seguida se virou, para ir embora.
O rapaz, ao perceber sua intenção, a segurou pelo braço e a puxou para mais perto. Ficando tão próximo que podia enxergar perfeitamente sua íris clara.
respirou rapidamente e um sorriso mínimo foi crescendo em seus lábios.
notou sua feição e estreitou os olhos. Não acreditando mesmo naquilo.
Ele estava magoado e, independente de ainda gostar da mulher, não podia mais aceitar aquilo.
E assim como Jake havia dito, as coisas estavam melhorando.
Ele sabia que sim.
- Pois agora eu estou livre, . E eu sinto muito por você.


Fim.



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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