FFOBS - 01. raindrops (an angel cried), por Thaay Marques


01. raindrops (an angel cried)

Finalizada em: 18/06/2019

Capítulo Único

Colmar, interior da França - 1843.

fechou os seus belos olhos verdes que poderiam ser comparados a bela vegetação que cobria as montanhas que cercavam a região e fez uma prece. Agradeceu pela vida e saúde dos seus pais, sua avó e seu irmão mais novo. Agradeceu pela vida de e da senhora .
Agradeceu por não lhe faltar forças para o trabalho e por ter patrões bons, gentis.
E pediu que a colheita na região fosse próspera e que não faltasse comida para alimentar a todos.
Finalizou com um suspiro de alívio, comendo uma bela colherada do mingau de milho frio que aguardava por ela. Repassou em sua mente quais seriam as suas tarefas daquele dia enquanto alternava engolir e bocejar. Estava sozinha na enorme cozinha da residência dos Fleury. Uma família proprietária de boa parte da região e muito reconhecida pela sua impecável vinícola. Vendiam vinhos para vários lugares que a jovem criada sonhava um dia poder conhecer. Eles empregavam boa parte da população da região, inclusive sua própria família.
Uma batida na porta dos fundos da cozinha, interrompe o silêncio tranquilo. Engolindo a última colherada do mingau, ela joga sua trança loira por cima do ombro e segue até a porta de madeira escura, abrindo-a.

- - Sussurrou surpresa enquanto colocava uma de suas mãos livres na altura do seu coração que estava com batidas aceleradas pela visita inesperada.
A residência estava silenciosa, assim como o campo pois, as atividades costumavam ocorrer a partir das seis horas da manhã. Até mesmo o céu, repleto de nuvens naquela madrugada, estava escuro por ser muito cedo. A jovem observou atentamente a expressão séria do rapaz a sua frente. Forçou um pouco sua visão, já que não havia iluminação naquela parte da casa.
- O que está fazendo aqui tão cedo? O trabalho dos cavalariços só começa no amanhecer! - Questionou em um sussurro enquanto virava-se para conferir se havia alguém por perto.
- Precisamos conversar, meu amor. - Respondeu o rapaz num tom firme.
levou o indicador à boca, num gesto que solicitava silêncio.
- Não pode ser depois? Preciso começar a polir a prataria e … - Começou a listar suas tarefas num sussurro, mas foi interrompida pela voz urgente do rapaz.
- Agora.
Ela suspirou confirmando com um gesto de cabeça e saiu de dentro da cozinha, encostando a porta atrás de si. deu um passo para trás, dando espaço para que a jovem se aproximasse. Seguiu-a enquanto se afastavam da enorme construção de tijolos. Parou numa parte onde não haviam janelas, permitindo uma maior privacidade. Olhou ao redor novamente para ter certeza que não havia ninguém próximo. Existiam algumas regras do decoro que ambos, mesmo sendo de criadagem, deveria seguir. E uma delas, infelizmente, era estarem sozinhos em público.
encostou as costas na parede gelada, as mãos cruzadas na frente do corpo. O canto em que estavam era levemente iluminada por um lampião que estava aceso no alto de um poste de madeira. Observou o jovem com curiosidade enquanto ele encarava o chão de terra à sua frente, dando um pequeno chute com a ponta da bota desgastada em uma pedrinha.
A pouca luz permitiu que reparasse na roupa maltratada de viagem e a trouxa de pano que estava pendurada em seu ombro esquerdo. Assimilando a ideia de que

estava prestes a viajar, franziu a testa em enorme confusão. As batidas de seu coração acelerando-se novamente.
O rapaz soltou um suspiro de frustração e finalmente, se permitiu olhar para o belo rosto de sua amada. Acolheu uma das mãos calejadas da jovem, entre as suas, acariciando-a levemente com seu polegar. Soltou mais um suspiro derrotado, permitindo extravasar sua tensão. Sabia que não seria fácil ir direto ao assunto, mas o tempo era curto.
- - Chamou-a num sussurro que explicitava todo amor que o rapaz sentia por ela, fazendo com que seu corpo fosse dominado por um sentimento de admiração.
Ela mordiscou o lábio inferior sem desviar os olhos do rosto do seu amado.
- Aconteceu algo? - Perguntou temendo que algo de grave pudesse ter acontecido.
- Descobri quem eu sou, . - Revelou num tom sério enquanto olhava-a atentamente. Sua expressão revelava cansaço e preocupação.
Uniu seus lábios com força, numa tentativa de evitar rebater com graça o que havia sido dito pelo rapaz ao perceber que sua expressão não se alterou.
- Eu sou filho ilegítimo de um conde.
A expressão de foi de puro espanto com a revelação de que seu amado não era filho de algum marinheiro francês.
- E como você descobriu isso? - Perguntou numa mistura de surpresa e curiosidade.
havia nascido em Paris e sido trazido para Colmar ainda bebê, após seu pai, um marinheiro francês, ter morrido num ataque da embarcação em que estava seguindo rumo para a Alemanha. Deixando uma esposa viúva e um filho órfão. Elizabeth, a senhora , era professora no vilarejo enquanto seu único filho trabalhava como cavalariço na residência dos Fleury.
O jovem e se conheciam desde a infância, brincavam juntos e quando se tornaram mais velhos, descobriram que os sentimentos iam muito além de uma amizade infantil. Há três anos tinham um compromisso, por aprovação de ambas famílias, e estavam juntando suas parcas economias para ter condições de comprarem uma casa para construírem sua própria família.

- Ela recebeu uma carta de Londres destinada à mim, onde foi necessário contar toda a verdade sobre a nossa história.
- Então, o seu pai não é um marinheiro né? - Perguntou ela lançando um olhar sério.
- Não. Eu sou filho do conde de Bringthon e estou prestes a herdar o título juntamente com as posses vinculadas a ele. - Explicou se aproximando mais da jovem e acariciando uma de suas bochechas, lançando-lhe um olhar amoroso.
e se olharam em completo silêncio por longos minutos. As batidas de ambos corações agitadas, era perceptível como olhos de ambos poderiam expressar tanto o que sentiam em suas almas.
- Precisarei me ausentar por um tempo, . Não sei contabilizar exatamente, mas creio que até seja possível pôr tudo em ordem. Quero te pedir para me esperar. Sei que não é um pedido fácil, diante de tudo que surgiu repentinamente. Em um instante… - suspirou frustrado desviando o olhar do rosto da jovem, mas em seguida, encarou-a com uma expressão determinada. - Em um instante, somos apenas eu e você. Destinados um ao outro numa vida humilde aqui no vilarejo e agora, sou um filho ilegítimo prestes a herdar um condado. - Finalizou colocando as suas mãos em ambos os lados dos rostos da mulher.
O olhar dela era puro amor misturado com preocupação. Podia sentir em seu mais profundo ser a mais genuína das preocupações. Não era dinheiro ou qualquer riqueza, mas como seria para o encarar a nova realidade. Ser um filho ilegítimo era algo extremamente ruim para a sociedade em que viviam. Poderia existir muita rejeição e o amado era doce demais para enfrentar algo assim.
- E o conde…? Ele que pediu seu retorno? - Perguntou num tom inseguro.
soltou o rosto da mulher e massageou sua têmpora em movimentos circulares.
- Parece que meu destino é não ter o amor de um pai. - Respondeu num tom resignado, dando de ombros.

- Você tem a sua mãe que lhe ama o triplo para compensar! - Lembrou afastando as mãos do rapaz do rosto e colocando ambas entre as suas que estavam quentes e acolhedoras diante da brisa gélida daquela madrugada.
- Eu sei! E sou muito grato pois, ela teve que enfrentar muita coisa para me criar. Só vou aceitar este título e tudo que está vinculado à ele, somente por ela que merece uma vida de rainha e por você, … - Parou abruptamente com a interrupção da jovem.
- O que me importa é você! O seu amor! - Sussurrou ela num tom apaixonado, unindo ambas as testas.
- Então, diga que esperará por mim, ! - Pediu ele num tom fervoroso enquanto pegava a mão direita da jovem, colocando-a sobre o tecido puído da sua camisa acinzentada. A pele quente da jovem sentia as batidas ritmadas do coração do homem.
- Sempre, meu amor. Sempre! Sempre! - Repetia com os olhos repletos de lágrimas.
- Eu vou para Londres, mas volto para os seus braços, meu amor. Você nunca mais terá que polir prataria ou cuidar de qualquer outra pessoa, que não seja si mesma ou nossos, muitos, filhos. - falou com os olhos marejados enquanto a segurava carinhosamente pela cintura, ambos os olhos repletos de lágrimas que poderiam se derramar a qualquer momento.
- Londres? - Perguntou surpresa, os olhos arregalados.
- Eu sou metade inglês, meu amor. - Revelou.
- Não importa! Eu te amo ainda mais. - Confessou acariciando as bochechas do homem, que beijou a palma de sua mão. Uma carícia leve como o roçar de uma pluma, mas que foi capaz de arrepiar cada centímetro do corpo da jovem e causando um leve rubor que, graças à pouca iluminação, não percebido pelo amado.
- É chegada a hora da minha partida. - Anunciou ao avistar os primeiros raios da manhã.
confirmou com um gesto de cabeça enquanto o seu peito sentia uma dor. Os belos olhos que estavam marejados denunciavam a dimensão da dor pela partida do rapaz, mas sua postura se tornou firme. Deveria ser forte o suficiente para que

não tornasse tudo mais difícil para . Ela sempre seria o rochedo, a fortaleza do amor deles enquanto seria a leveza da grama verde que cobria o rochedo, aquecendo-os e garantindo que estariam juntos, independente, da ventania que os atingissem ou até mesmo, o inverno rigoroso.
- Vá em paz, meu amor. Permanecerei aqui até que volte.
- E eu voltarei, . Juro pela minha vida. - Prometeu com fervor, unindo os lábios quentes em um beijo que transmitia todos os sentimentos incertos de um futuro imprevisível que anunciava uma vida.
afastou-se alguns passos, relutantemente, segurando-a a alça da trouxa em suas mãos. Os seus olhos observavam a amada com atenção numa tentativa de guardar cada detalhe daquele momento. Ali, em pé diante do alvorecer, jurou para si mesmo que voltaria para os braços da sua amada e nunca mais, se separariam novamente. seria sempre a metade de si e teria todo seu amor.
A amada se manteve numa postura firme, cabeça erguida enquanto olhava para o homem em pé a sua frente. Os raios de sol surgindo ao fundo, tornando os cabelos loiros do rapaz, ainda mais brilhantes. Agora, era possível ver aquele olhar que mostrava o quanto estava disposto a tudo. E só tivera uma única vez em que o vira da mesma forma e jamais, se esqueceria: o dia em que disse que a amava.
- Até breve. - Despediram ao mesmo tempo. lançou-lhe um último sorriso confiante, ajeitou sua postura que demonstrava que estava pronto para enfrentar o mundo, sua nova realidade e partiu.
E sentiu.
Sentiu exatamente o momento em que a primeira lágrima escapou por seu olho direito, escorrendo por sua bochecha até parar perigosamente perto do seu queixo, como se pedisse permissão para continuar o trajeto.
E depois dessa, vieram mais, mas foram os anjos que derramaram suas lágrimas, através das espessas nuvens cinzentas, anunciando que eles também sofriam com a partida do amor.
Oh, céus! Sim! Até mesmo os anjos choraram com a partida de .

When raindrops fell down from the sky
The day you left me, an angel cried
Oh, she cried, an angel cried
She cried

Quando gotas de chuva caíram do céu
No dia que você me deixou, um anjo chorou
Oh, ela chorou, um anjo chorou
Ela chorou


Fim



Nota da autora: Leia também!



Outras Fanfics:

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Meu Deus, Thaay! Que história mais fofa, e que desfecho triste! Fiquei curipsa para saber qual seria o andamento do casal! Me conta!!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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