01. The A Team


Ela estava sentada em uma muretinha em frente ao sex shop mais conhecido da cidade.
Nevava, mas ela vestia uma lingerie preta de renda e um casaco grosso cinza, fechado.
Um carro prateado parou em sua frente e buzinou. Ela levantou e se apoiou no vidro do passageiro, que estava aberto.
- Quanto é a hora? – O homem dentro do carro, que aparentava estar nos seus trinta, quase quarenta, perguntou.
- Duzentos e cinquenta, sem beijos, e sexo oral incluído. Se tiver algum fetiche fica mais caro, dependendo do que for. – Ela respondeu.
- Certo, eu pago. – Ele destrancou a porta, para que ela entrasse.
O carro estava quentinho, principalmente depois que o homem fechou o vidro e ligou o aquecedor.
- Posso saber seu nome? – Ele perguntou.
- Não. – Ela respondeu, simplesmente.
- Ok, mas tem algum apelido? Alguma coisa que eu possa usar para te chamar?
- BHot é como me conhecem, mas pode chamar de Beckie.
- É seu nome verdadeiro?
- Não.

Era difícil.
Mas sempre foi assim, desde seus dezoito anos, quando foi expulsa da enorme mansão onde nunca foi feliz e foi para as ruas.
Mesmo que não tivesse se envolvido com drogas ela seria expulsa de casa, então não conseguia culpar ninguém, além da mãe, por sua situação.
Tudo que ela conseguia pensar, enquanto tentava satisfazer desconhecidos era em quanta droga ia conseguir e quanto precisava para pagar o aluguel de seu minúsculo e velho apartamento.
De uma enorme casa luxuosa no bairro mais rico de Londres para um apartamento caindo aos pedaços na zona mais perigosa e pobre da cidade.

“Beckie” se levantou da cama, e pegou os quinhentos reais em cima do criado.
Vestiu sua lingerie, abotoou o casaco e calçou as botas pretas de salto agulha, saindo do quarto de hotel logo em seguida.
Não era muito longe de sua casa, então ela não teria que andar muito.
A porta do apartamento não tinha nem tranca, mas ninguém se interessava em invadir.
Jogou seu casaco e as botas no sofá rasgado e seguiu para o banheiro, estava louca para tomar um banho.
Era sempre a mesma rotina, ela chegava quatro, cinco da manhã, tomava banho e chorava o quanto podia, tentando se livrar do nojo que sentia de si mesma por meio das lágrimas e do sabonete de baunilha. Chorava tão alto que até mesmo seu vizinho podia escutar.

Seu vizinho.
Eles nunca conversaram, mas com certeza ele sabia o quanto ela era infeliz e ela sabia o quanto ele gostava de sexo.

- Quanto?
- O mesmo de sempre.
- Eu não devia dizer isso, porque preciso de clientes, mas acho que você devia parar.
- Você sempre diz isso, J.
- Eu sempre falo sério, B.

xxxx


- Você é uma merda de cantor falido e viciado em sexo, , desiste desse sonho ridículo e vai trabalhar de verdade! – Michael revirou os olhos e bateu a porta do apartamento do amigo.
- Eu te deixei entrar? – perguntou, colocando o violão de lado.
- E precisa? Sério, , você não vai chegar a lugar nenhum assim! Tem um restaurante aqui perto precisando de garçom, por que não vai trabalhar lá?
- Porque eu não quero! Anda, Mike, quero ficar sozinho e terminar minha música, vá embora!
- E a educação, ?
- Comi! – se levantou e abriu a porta para o amigo sair.
Michael passou pela porta, dizendo o quanto era idiota e como nunca faria sucesso.
- Mas que merda, ele está certo! – sussurrou sozinho.
Nesse momento ouviu uma leve batida na porta de seu apartamento.
- Eu disse pra ir embora, Mike. – se levantou e abriu a porta – Ah, oi?
- Oi... Eu sou sua vizinha, aqui do lado... Peguei suas cartas por engano. – uma jovem morena, com mechas azuis no cabelo e lindos olhos azuis acinzentados disse, sem sorrir.
- O-obrigado! – ele pegou as cartas da mão dela. – Como você se chama?
- Ahn... Tchau! – ela se virou e entrou em seu apartamento.
“Garota estranha” pensou.
Então reparou que devia ser a garota que ele ouvia chorando toda madrugada.
Sempre quisera saber quem era a infeliz mulher cujo o único som que ouvia vindo do apartamento eram seus soluços de madrugada.
- Tanto faz... – murmurou se sentando novamente e pegando o violão. – Como eu escrevo essa maldita letra?

xxxx


Sempre doía quando ela inseria a agulha no braço, mas logo a dor passava, quando a heroína fazia efeito.
Apoiou sua cabeça no sofá e fechou os olhos, sentindo a droga entrando em seu sistema.
Algumas horas até o efeito passar.
xxxx


saiu do apartamento esfregando as mãos para esquentá-las.
Fechou a porta com um estrondo e se virou para a escada, trombando com alguém.
- Desculpe. – a garota pediu, abaixando o olhar enquanto terminava de fechar o casaco cinza.
- Não foi nada, “vizinha sem nome” – ele riu descendo as escadas.
Ela bufou e desceu atrás dele.
Ele abriu a porta. Nevava de novo.
Cada um foi para um lado, ela seguiu para a direita e ele atravessou a rua para buscar seu carro.

xxxx


“Beckie” estava parada no ponto há uma hora esperando alguém.
Normalmente, era uma das primeiras a ir, mas aquele dia estava meio parado.
Até que um carro preto velho e barulhento, mas grande, parou em sua frente e abaixou o vidro.
“Esse cara vai conseguir me pagar?” foi o que ela pensou, antes de se debruçar no vidro.
- Quanto é a hora? – O cara ruivo no volante abaixou os óculos escuros.
- Duzentos e AI MEU DEUS! Você tá me perseguindo? – Ela perguntou, ao reconhecer o vizinho.
- O QUE? Eu não... Droga! Tem alguma outra garota?
- Nem vem, agora que eu vim até aqui você vai me pagar. – Abriu a porta do carona e se sentou no banco. – Tem o suficiente para me pagar?
- Não me julgue pelo carro e pela casa, não sou tão pobre quanto pareço. Quer tomar um café?
- Mas o que? Você tá ligado que eu sou garota de programa e não acompanhante, né?
- Sim, mas como você é minha vizinha fica diferente. Posso saber seu nome agora?
- Me chamam de Beckie ou BHot, você escolhe – deu de ombros.
- E seu nome verdadeiro? – a encarou.
- Você não precisa saber.
- Grossa! Eu sou o , .
- Eu sei, peguei suas cartas, lembra? – ela fez um “dã”.
- Me diz seu nome, por favor...
- Não.
- Eu pago seu café!
- Não insiste, não vou dizer.
Ele assentiu devagar e parou em uma cafeteria barata perto do ponto.
- O que você quer? Pode se sentar. – apontou um lugar para a moça.
- Qualquer coisa que tenha bastante cafeína. – ela deu de ombros e foi em direção à mesa fazendo barulho com suas botas.
O lugar estava praticamente vazio, mas os que estavam ali se perguntavam o que aquela louca estava fazendo de vestido curto e botas de salto naquele frio.
Sentou-se no canto e apoiou a cabeça no vidro da janela ao seu lado.
- Aqui. – Um copo apareceu em sua frente.

xxxx


- Obrigada.
se sentou na frente dela e sorriu, mas ela não conseguiu retribuir, seus lábios apenas se repuxaram no canto.
- Você sempre faz isso? – ela perguntou de repente.
- O que? Levar as mulheres para tomar um café antes de levá-las para a cama? – ele levantou uma sobrancelha. – Não.
- Estou perdendo meu tempo ou vai me pagar? – bufou.
- Vou te pagar, não se preocupe.
Tudo que conseguia pensar era no quanto aquela garota era diferente. Ele raramente se interessava pela história das pessoas, mas por algum motivo queria saber tudo sobre “Beckie”.
- Por que é tão infeliz? – perguntou, de repente.
- O que?
- Eu te escuto chorando de madrugada, por que está sempre tão triste?
Alguma coisa mudou nela naquele momento, se sentiu importante por alguém querer saber sobre ela e se importar com o por que dela estar sempre triste.
- Tem como ser feliz com essa... Vida que eu levo? – suspirou apoiando o queixo em uma das mãos.
- Quantos anos você tem?
- Vinte e dois e você?
- Vinte e três.
- Desculpa ser tão indiscreta, mas aquele cara que sempre briga com você quando vai no seu apartamento, quem é?
- Amigo de infância, ele insiste que tenho que fazer alguma coisa da vida e ir trabalhar, mas não é isso que eu quero, sabe?
- Sei...
- Eu queria compor, cantar e ser alguém especial na vida de outras pessoas, mas eu não consigo! – ele abaixou a voz.
“Beckie” olhou para o próprio colo por alguns segundos refletindo sobre o que o jovem dissera.
- . – ela murmurou.
- O que?
- , é meu verdadeiro nome.
- Ah, prazer ! – ele sorriu, mesmo que seus olhos demonstrassem tristeza.
- Eu nasci aqui mesmo, em Londres e fui expulsa de casa com dezoito anos porque comecei a me drogar. Eu era muito rica e não tinha que fazer nada, então a única coisa que eu consegui pensar para sustentar meu vicio foi sexo, foi ai que virei garota de programa. Eu estou sempre chorando porque não consigo me livrar do vício e odeio o que faço, tenho nojo de mim. - ela despejou.
- Não sinta nojo de você, precisa de ajuda, todos precisamos um dia. – ele mudou de lugar, se sentando ao lado dela.
- Eu não tenho ninguém, meu único amigo é o cara que me fornece drogas e ele só me diz pra parar, mas continua vendendo. É o trabalho dele...
- Agora você tem a mim, mesmo que eu só te conheça há... – olhou no relógio na parede e tentou fazer as contas – Que horas me entregou as cartas?
- Não faço ideia, não tenho relógio em casa.
- Vem, você deve estar com frio, vou te levar para casa. – se levantou, puxando a garota contra o peito e a envolvendo com os braços num forte abraço.
- Obrigada.

xxxx


nunca confiava em pessoas assim.
Mas também ninguém se oferecera para ajudá-la.
- Pode entrar e se sentar, vou tomar um banho. – ela disse, abrindo a porta, destrancada, como sempre.
- Ok, eu vou esperar aqui. – se jogou no sofá de bruços.
Ela sorriu com a cena, achava o rapaz um doce, mesmo que um pouco estranho.
Foi o primeiro banho desde que saiu de casa que não chorou, ela estava se sentindo um pouco melhor sabendo que tinha alguém no cômodo ao lado esperando por ela, alguém que parecia se importar.
Vestiu uma calça de moletom, blusa de mangas compridas e um casaco velho.
- ? – perguntou esfregando as mãos nos braços cobertos para se aquecer mais depressa.
Ele estava sentado no sofá com seu violão e uma pasta com várias partituras, escrevendo alguma coisa em um papel.
- Aqui, fui buscar meu violão. Senta aqui, vou te mostrar uma das músicas que estou tentando fazer. – ele deu tapinhas no sofá, para que ela sentasse ao seu lado.
- Como chama? – se interessou.
- Ainda não decidi, nem letra tem...
- Toca, vou te avaliar! – ela declarou cruzando as pernas no sofá e se aproximando bastante do garoto.
Era uma melodia um pouco animada e um pouco triste, mas bonita.
- É linda! Quando tiver letra vai ficar muito bonita, já tem alguma ideia? – Perguntou quando a música chegou ao fim.
- Nada que preste. – deu de ombros.
Após algumas horas de conversa, contou sobre sua vida.
Sua vida não era nem de longe melhor que a dela, seu pai estuprava a mãe e batia nele.
Ambos tinham sofrido muito na vida.

Dia seguinte...

Eram quase quatro horas da tarde quando acordou.
Ela estava deitada em sua cama, mas não se lembrava de como tinha chegado lá.
A luz do sol invadia o quarto, vazio.
Se lembrou de e concluiu que ele devia tê-la colocado para dormir e ido embora.
Depois de escovar os dentes e ir ao banheiro, seguiu para a sala, pronta para tomar um café em algum lugar.
Quando estava saindo, pensou em , será que ele estava em casa? Será que gostaria de tomar café com ela?
Bateu na porta do vizinho um pouco hesitante.

xxxx


se levantou do sofá, deixando o violão de lado.
- ! Boa tarde! – ele abriu espaço para que ela pudesse entrar no apartamento.
- Boa tarde... E-eu vim te chamar para tomar ahn... Café da tarde? É, café da tarde, comigo...
- Não prefere comer alguma coisa aqui mesmo? Posso fazer ovos e tem cereal também. – foi até a cozinha, abrindo a porta da geladeira.

Eram sete horas.
O horário que costumava sair para trabalhar. Mas naquela noite ela não queria ir.
- Preciso ir. – ela disse levantando do sofá.
- Ei, espera! – segurou sua mão.
- Eu não quero sair essa noite. – uma lágrima escorreu solitária em sua bochecha.
- Tá frio, fica aqui... Hey, baby, não chore, por favor... – ele puxou a mão dela com força o suficiente para que a garota caísse em seu colo e a abraçou.
começou a chorar e soluçar alto, como fazia no banho de madrugada.
Sentia-se como uma criança novamente, quando seus pais ainda a amavam e a abraçavam, seguravam no colo e beijavam seus machucados.
Ela levantou a cabeça, com os olhos marejados e o encarou.
- Por que se importa comigo? Eu sou só a sua vizinha prostituta que você encontrou por acaso!
- Porque, acima de tudo, você é uma pessoa e eu não vou te julgar, sei que não é sua escolha ser do jeito que é, eu te entendo.
- Devia ter nojo de mim! Eu destruo famílias, pessoas e tudo por causa de um maldito vício! Tem que se afastar de mim, se eu posso ser considerada uma pessoa, sou uma pessoa horrível e...
- Shh... Pare de falar merda... – acariciou seu rosto e colou seus lábios aos dela.

Seis meses depois...

- ? Amor, abre a porta, por favor! – bateu pela milésima vez na porta do banheiro, que era a única do apartamento inteiro que tinha tranca.
Os dois estavam juntos desde o dia do beijo, mas por uma briga estúpida, se trancara no banheiro por duas horas e nem mesmo respondia quando pedia para ela sair.
- , por favor, me responde! Você está bem? – encostou a testa na porta.
Girou a maçaneta mais uma vez, nada.
Eles pretendiam se mudar logo é provavelmente teriam dinheiro para consertar a porta se a quebrasse, já que agora ele trabalhava como garçom e ela tinha um turno como caixa na cafeteria que eles foram na primeira noite.
Deu alguns passos para trás e chutou a porta com força, que abriu em um estrondo.
- ! – ele gritou ao ver a mulher no chão inconsciente. – Não...

xxxx


- Boa noite! – disse no microfone – Eu gostaria de começar o show dessa noite apresentando a primeira música que escrevi, mas eu nunca cheguei a mostrá-la para ninguém. Há um ano e alguns meses, minha vizinha esquisita bateu na minha porta para entregar algumas cartas que ela pegou por engano. Como eu ia imaginar que aquela garota ia ser tão importante para mim?

lips, pale face
Breathing in snowflakes
Burnt lungs, sour taste
Light's gone, day's end
Struggling to pay rent
Long nights, strange men
And they say she's in the class A team
Stuck in her daydream
Been this way since eighteen, but lately
Her face seems, slowly sinking, wasting
Crumbling like pastries
And they scream
The worst things in life come free to us
‘Cos we're just under the upper hand
And go mad for a couple grams
And she don't wanna go outside tonight
And in a pipe she flies to the motherland
Or sells love to another man
It's too cold outside
For angels to fly
Angels to fly
Ripped gloves, raincoat
Tried to swim and stay afloat
Dry house, wet clothes
Loose change, bank notes
Weary-eyed, dry throat
Call girl, no phone
And they say she's in the class A team
Stuck in her daydream
Been this way since eighteen but lately
Her face seems, slowly sinking, wasting
Crumbling like pastries
And they scream
The worst things in life come free to us
‘Cos we're just under the upper hand
And go mad for a couple of grams
But she don't want to go outside tonight
And in a pipe she flies to the motherland
And sells love to another man
It's too cold outside
For angels to fly
An angel will die
Covered in , closed eyed
And hoping for a better life
This time will fade out tonight
Straight down the line
And they say she's in the class A team
Stuck in her daydream
Been this way since eighteen but lately
Her face seems, slowly sinking, wasting
Crumbling like pastries
They scream
The worst things in life come free to us
And we're all under the upper hand
And go mad for a couple grams
And we don't want to go outside tonight
And in the pipe fly to the motherland
Or sell love to another man
It's too cold outside
For angels to fly
Angels to fly, fly, fly
For angels to fly, to fly, to fly
For angels to die



- Hoje faz um ano que a primeira mulher que eu amei morreu, isso é uma homenagem a ela. , eu sei que não pode mais me escutar, mas eu continuo te amando e eu me importo com você, mesmo que não esteja mais aqui. – secou as lágrimas que não paravam de escorrer.
Olhou para o céu estrelado enquanto ouvia o público da praça aplaudir.
- Meu anjo... – sussurrou.




Fim




Nota da autora: EU TO CHORANDO POR QUE EU MATEI ELA? ME DESCULPEM!
Eu amo essa música demais e amo o Ed demais, estou muito feliz de participar de mais um Ficstape!
Obrigada para quem leu até aqui!
Comentem e me façam feliz, podem xingar, eu mereço...
Beijos!
Lah




Qualquer erro nessa fanfic e reclamações somente no e-mail.




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