Finalizada em 16/09/2021

01. New thang

— Você acha que o sucesso com a sua primeira mixtape se deve ao fato de que você ganhou popularidade por ser amigo do ? – O jornalista coreano questionou após se colocar de pé, três pessoas ao lado de , em meio aos outros presentes na coletiva de imprensa dentro do salão do luxuoso hotel no centro de Seul.
A expressão de , o rapper mais famoso – e polêmico – da Ásia no momento, não se alterou ao responder, se curvando preguiçosamente sobre a bancada que o separava da imprensa, se aproximando melhor dos microfones, e a jornalista respirou fundo, se ajeitando novamente na cadeira.
Era a quinta ou sexta pergunta do tipo em menos de quarenta minutos e já estava absolutamente cansada daquilo. Fugia tanto da pauta original da coletiva que ela se questionava como diabos , o nome verdadeiro do rapper, ainda não tinha mandado ninguém à merda.
E ela já havia visto entrevistas suficientes dele para saber que isso acontecia com uma frequência bastante grande. Talvez o comportamento atipicamente contido do rapper tivesse a ver exatamente com os acontecimentos das últimas entrevistas que ele deu e apostava que a sua equipe de marketing muito provavelmente tivesse implorado de joelhos para que ele fizesse algum esforço para evitar que aquilo se repetisse; ela se lembrava das notícias de quando ele não só xingou um jornalista como também abandonou uma entrevista no meio.
Todos sabiam que não costumava medir suas palavras e ações, sendo tão amado quanto odiado por muitos. O grande painel atrás dele reforçava isso; trazia a capa da mixtape do rapper, onde ele estava de costas, a cidade de Seul iluminada ao fundo, com suas mãos erguidas e os dedos do meio levantados em destaque, censurados.
— Honestamente, eu acho que é impossível imaginar onde eu estaria ou o que eu seria sem o apoio dele. – Ele respondeu.
— Então você concorda que é uma fama fácil? Digo, você está se destacando em meio aos outros rappers, mas é uma briga meio injusta.
— Eu disse que o me ajudou a chegar aonde estou, mas não que foi fácil. Não teve nenhum dia que tenha sido fácil, nenhum dia em que eu não tenha dado meu sangue para chegar até aqui. O e eu trabalhamos juntos desde o começo, somos amigos desde que eu me entendo por gente, e ele deu duro pra conquistar o seu lugar. Mas se eu estou aqui, agora, é porque eu também trabalhei para isso, nunca me escorei na fama de ninguém e não preciso disso. Mas eu não acho que exista briga nenhuma. – falou calmamente, ignorando alguns flashes disparados contra seu rosto.
— As suas letras parecem ser cheias de provocações. – O homem insistiu.
acenou com a cabeça.
— Claro que são.
O jornalista arqueou a sobrancelha e o acompanhou com o mesmo gesto, igualmente curiosa.
— E isso não te faz um novato querendo afrontar os mais experientes? Depois que o seu primeiro single saiu, inúmeros rappers se sentiram ofendidos pelo que você disse, muitos alegaram que foram desrespeitados.
— Isso só quer dizer que eu estou falando a verdade, e não querendo afrontar diretamente alguém. Eu sempre vou colocar o que eu penso nas minhas músicas, e é só isso o que eu fiz; não é minha culpa se alguém está se doendo com isso e, honestamente, eu não ligo. A verdade, às vezes, também é uma provocação. Além disso, eu estou nessa indústria há muitos anos, não acho que eu seja algum novato. – deu um sorriso curto e fechado, obviamente pretendendo encerrar o assunto, e anotou um “não tem medo de provocar ninguém com sua música se estiver falando a verdade” em forma de um garrancho qualquer em seu caderno. Não que ela precisasse anotar isso para se lembrar; qualquer um que ouvisse as músicas dele saberia disso. O cara cuspia verdades para cima e simplesmente não se importava se iria cair no olho de alguém.
Mesmo assim, o jornalista tentou mais uma vez:
— Você vem trabalhando com outras pessoas há muitos anos e a maioria delas é dentro do K-Pop, seja com colaborações, feats ou produções, e isso fez com que muitos te vissem como um artista dentro dessa categoria. Estamos falando de você se aventurando para fora dela agora, como rapper. Não pode negar que é um novato.
suspirou, parecendo entediado, e apoiou o cotovelo sobre a mesa, encaixando o queixo entre os dedos da mão erguida.
— Eu entrei em um estúdio pela primeira vez aos dezessete anos para fazer rap e nunca mais saí. – Com a mão livre, ele gesticulava enquanto falava, enumerando. – A primeira música que eu produzi foi alguns meses depois e ela ficou no topo da Billboard por semanas. Eu tenho mais de cinquenta músicas produzidas ou escritas por mim que ganharam prêmios ou se tornaram singles dos artistas que as cantam, rappers ou não, idols ou não. Eu não sei o que você espera de um novato, mas eu posso garantir que um novato não tem uma estante com tantos prêmios como a minha. E mesmo que eu ache que essa rotulação de categorias dentro da música seja ridícula e só um jeito de inflar o ego de algumas pessoas que não conseguem bater de frente com outros artistas melhores, eu acho que quem se sentiu ofendido com a minha música deveria ser grato pra caralho por eu ter ficado tanto tempo só no K-Pop como gostam de falar, porque essa categoria claramente não é suficiente pra mim e pra minha música e eu não tenho medo de bater de frente com ninguém. Próxima pergunta, por favor.
Os jornalistas se entreolharam, um pouco chocados com a resposta malcriada e afrontosa, mas não moveu um músculo sequer de seu rosto, a feição neutra e calma ainda inabalada.
não conseguiu se segurar e deixou uma risada escapar. Ela jurava que tinha sido discreta o suficiente ao abafar o barulho com a mão livre, mas, ao julgar pelo olhar de reprovação que recebeu de seus colegas, ela havia falhado. Ela ignorou a atenção indesejada e voltou a anotar mais algumas coisas em seu caderno, ouvindo a próxima jornalista se levantar.
— Yeo Haewon, do Distak. Eu gostaria de saber o que você tem a dizer sobre os protestos que alguns grupos conservadores fizeram contra você.
— Hm, nada. – A resposta veio em menos de dois segundos e a jornalista levou um certo tempo para entender que isso era tudo.
— Nada? – Ela repetiu, desconcertada, e ele balançou a cabeça como quem concorda com qualquer coisa dita em uma conversa desinteressante apenas para que ela termine logo.
— É, nada.
— Mas... ontem mesmo algumas pessoas protestaram em frente ao seu painel na Coex Square, algumas até jogaram pedras contra o outdoor. Você não gostaria de falar nada para esses grupos?
— Quem vai falar com esses grupos são os meus advogados, já eu mesmo gostaria de falar só sobre a minha música, se você não se importar.
Aparentemente, ela se importava. A jornalista ficou sem reação, estagnada em pé por um tempo constrangedor demais para o seu próprio bem, sem saber sobre o que falar – afinal, ela não queria saber sobre música –, e a próxima jornalista se colocou de pé assim que a outra assentiu e se enterrou de volta em sua cadeira.
Dessa vez, conseguiu controlar sua súbita vontade de gargalhar.
— Lee Sana, do K99. – A mulher que estava sentada ao lado de se apresentou. – Alguns dias atrás, você foi fotografado em um restaurante com a cantora Yoon Shoo e, na semana passada, vocês dois foram vistos saindo juntos de um prédio em Gangnam-gu. Vocês dois estão envolvidos romanticamente?
precisou erguer o olhar, um pouco surpresa com a ousadia da colega de profissão em ser tão direta assim. Ela estava mais do que acostumada com o modo de trabalhar dos tabloides de fofocas, mas, mesmo assim, a abordagem geralmente começava pelas beiradas, como o jornalista anterior havia feito para tentar arrancar alguma declaração polêmica do rapper – e havia falhado.
E ela, que sabia que paciência não era uma característica conhecida de e estava se perguntando qual seria o seu limite, viu a feição dele, enfim, se alterar quando revirou os olhos.
É óbvio que ele estava aborrecido com as perguntas. Até ela estava aborrecida.
— Yoon Shoo é uma excelente artista e nós trabalhamos juntos em uma das faixas do meu álbum. O resultado ficou muito bom e nós estamos trabalhando juntos novamente em uma faixa para o álbum dela, que eu estou produzindo. Ela é uma profissional muito competente e uma boa pessoa, está sendo ótimo trabalhar com ela outra vez, nos tornamos amigos durante o processo e isso é tudo.
E é óbvio, também, que a jornalista não iria aceitar apenas aquilo como resposta.
— Vocês parecem bem próximos pelo jeito como fala sobre ela, com muitos elogios carinhosos. Podemos esperar um novo casal no futuro?
Dessa vez, até bufou. Mais do que isso: balançou a cabeça em negação, comprimindo os lábios em total desagrado.
— Como eu disse, é uma relação absolutamente profissional e, fora do trabalho, temos uma amizade muito respeitosa. A única coisa que se deve esperar são ótimas músicas e eu espero que isso tenha ficado muito claro. Próxima pergunta.
Assim, sem nem um por favor. Qualquer um ali conseguia perceber que esse era um assunto que ele claramente não queria falar sobre, mas...
— Alguns fãs têm especulado que vocês-
Park, do Korea Times.
Todos os olhares na sala se voltaram para , que havia se levantado de supetão e, antes que pudesse pensar duas vezes sobre o que estava fazendo, cortou a fala da outra jornalista. Que a encarava muito, muito furiosa, e muito, muito ofendida, ao se sentar novamente.
Se precisasse explicar o porquê de ter feito aquilo, ela não saberia dizer exatamente qual foi seu motivo principal. Mas ela sabia que havia sido uma mistura de indignação com a insistência em cima do tema tão absurdo com o claro desconforto estampado no rosto de assim que a jornalista abriu a boca para continuar as perguntas. simplesmente odiava isso.
Ela sabia que aquilo era errado. Interromper uma colega assim era antiprofissional pra caralho, quase antiético, mas, honestamente, mais antiprofissional ainda era a postura da outra jornalista. Era ofensiva. E , honrando a fala de seu professor do Ensino Médio que, durante uma das reuniões de pais, disse para sua mãe que a garota era “crítica demais, topetuda demais”, não conseguia presenciar uma situação assim sem se meter de alguma forma.
E agora até a encarava um pouco surpreso pela intromissão.
desejou que ele tivesse assumido novamente aquela expressão blasé indecifrável.
Ela limpou a garganta e respirou fundo, ignorando o caos interno e externo.
é a sua primeira mixtape e você já evidenciou várias vezes a sua vontade de trabalhar em projetos completamente autorais e que tivessem a sua identidade, principalmente depois de tantos anos trabalhando em colaboração com outros artistas. Além de trazer uma faixa com o nome do álbum e, consequentemente, o seu próprio nome, você também produziu toda a mixtape. Acredito que isso já deixe todo o trabalho mais pessoal, já que você está presente em cada processo dele, mas como foi essa experiência pra você?
a encarou como uma criança que acordou na manhã de Natal e encontrou a bicicleta que havia pedido ao Papai Noel perfeitamente embrulhada embaixo da árvore e soltou o ar que nem sabia que estava segurando, um pouco mais aliviada.
— Foi uma experiência incrível. Mesmo que eu já tenha produzido antes, produzir algo que é completamente meu é muito diferente. Ter a liberdade para trabalhar da forma como eu queria, dentro do meu próprio tempo e podendo experimentar as músicas de uma forma mais natural foi uma das melhores coisas que eu já fiz. Toda essa mixtape é uma grande oportunidade que eu tive para me expressar de todas as formas possíveis, não só através da música em si, mas esse processo de criação, de produção, também é parte de como eu quero que me vejam, como eu quero que me ouçam. Produzir é algo que eu amo e eu acredito que isso tenha ficado claro nesse álbum.
assentiu, um pouco deslumbrada com a resposta do rapaz, mas antes que pudesse sequer processar todas as informações e soltar alguma tréplica decente, ele emendou:
— Além disso, estar dentro de um estúdio sempre foi uma forma de refúgio pra mim. Poder trabalhar com música sempre foi o meu único objetivo, a única coisa em que eu tinha certeza de que era bom, o jeito que eu encontrei pra me comunicar, e poder fazer isso de uma maneira tão profunda e completa é uma realização pra mim. Acho que eu não poderia estar mais orgulhoso de todo meu trabalho e do resultado final.
estava sem palavras. Ela sabia que ele queria falar sobre música – afinal, esse era o objetivo de toda essa coletiva –, mas ouvi-lo falando daquele jeito, tão passional, transparente e empolgado... Ela não poderia ter desejado por nenhuma outra resposta melhor.
Por isso, tudo o que ela conseguiu dizer primeiro foi:
— Uau. – Ela pontuou, positivamente impressionada. Levou mais alguns segundos para que sua mente clareasse e ela pudesse retomar seus pensamentos. – Isso é... incrível. De verdade. Parabéns pelo seu primeiro trabalho solo ter sido tão bem construído assim, com certeza é um presente maravilhoso para seus fãs, que estavam ansiosos para te ouvir dessa forma. – E a próxima pergunta saiu de forma natural, aproveitando o gancho. – E a recepção da sua primeira mixtape foi extremamente positiva, você conseguiu agradar não somente seus fãs, mas também alcançou posições impressionantes nas paradas musicais para uma estreia. Você esperava por isso ou está sendo uma surpresa?
pareceu analisar a perguntar antes de responder, e o fez com um pequeno sorriso orgulhoso e até um pouco presunçoso no rosto.
— Não quero soar prepotente, mas eu sempre acreditei que eu poderia fazer algo assim. Quero dizer, acredito que quando você coloca tanto de você em um projeto e se dedica ao máximo, as chances de dar certo são enormes. É claro que eu devo isso aos meus fãs que sempre me apoiaram desde o início em qualquer trabalho meu, mas eu sentia que, assim como eu, eles queriam mais de mim e me esforcei para entregar o que eles esperavam. Eu faço música pra mim, porque eu amo o que faço, mas também faço por eles, porque os amo e porque eles amam o que eu faço. Então eu esperava que fosse ser bem recepcionado porque eu estava satisfeito com o resultado, mas, ainda assim, eu fiquei muito surpreso com o alcance fora desse público que já me conhecia, eu realmente não esperava que fosse ser tão grande assim. Mas esse era um dos meus objetivos, atingir mais pessoas, sair da minha zona de conforto, falar com públicos diferentes, então eu acho que eu não poderia ter uma surpresa melhor e quero agradecer a todo mundo que colaborou para que isso acontecesse.
deixou um sorriso tomar conta de seu rosto, mais uma vez satisfeita e orgulhosa com o resultado de suas perguntas. Ela balançou a cabeça e, ainda sorrindo, agradeceu.
— Muito obrigada e parabéns novamente pelo sucesso.
se permitiu acenar em resposta, parecendo muito mais animado do que quando falou com o último jornalista.
— Obrigado. – Ele agradeceu, contido, e, após um sinal daquele que julgou ser o manager do rapaz, um homem alto de pé no canto esquerdo da parede atrás de , ele se levantou, parecendo um pouco aliviado. Seu olhar varreu o salão rapidamente. – Muito obrigado a todos por terem vindo, até logo.
se curvou rapidamente perante os jornalistas em agradecimento e, recebendo alguns olhares frustrados daqueles que pretendiam tentar a sorte com mais algumas perguntas, encerrou a coletiva ao sair do palco onde a mesa estava montada, seguindo para uma porta com sua equipe logo atrás de si.
não poderia estar mais satisfeita, sorrindo contida enquanto anotava as últimas informações, já pensando em como poderia escrever a matéria assim que chegasse na redação, e também um pouquinho orgulhosa pelo seu desempenho. Afinal, havia recebido respostas ótimas do rapper e nenhuma delas tinha sido finalizada com um próxima pergunta, com ou sem por favor; muito pelo contrário, recebera um obrigado. O que, vindo de , era raro.
É, ela estava bastante orgulhosa.



Acompanhada pelo fotógrafo do Korea Times e seu fiel escudeiro, Jae, esperava pelo carro da empresa enquanto ele mostrava algumas fotos que havia capturado antes da coletiva começar, quando pousou pacientemente para os fotógrafos. Todas estavam ótimas, mas já conseguia sinalizar para Jae pelo menos duas que, com certeza, estampariam a versão on-line e física da matéria no jornal.
— Essa ficou muito boa, Jae. Acho que pode ser a capa.
— Concordo, eu só preciso editar esse dedão do meio gigante ali atrás dele, mas isso é simp-
— Ei, você!
Os dois se viraram ao ouvir o grito, dando de cara com Lee Sana caminhando furiosamente até eles e os dois se entreolharam, confusos.
— Pois não? – Jae perguntou quando a mulher parou na frente deles.
— Você não, idiota. Ela! – Sana apontou o indicador fino com uma unha longa e vermelha na cara de , que arqueou a sobrancelha, aguardando. – O que você tem na cabeça para me interromper daquele jeito? Ficou louca?!
respirou fundo, devolvendo a câmera para Jae.
— Bom, tecnicamente ele já havia encerrado com você, sabe. Quero dizer, ele disse “próxima pergunta”, eu só obedeci. – Ela respondeu, um sorrisinho inocente nos lábios.
Sana riu, sem humor algum.
— Eu estava perto de conseguir que ele confessasse um caso amoroso e você estragou tudo! O quão burra você é para ter feito isso?
Foi a vez de rir.
— Nós duas sabemos que ele não ia confessar caso nenhum e que a única coisa que você estava conseguindo era deixá-lo desconfortável.
Sana cerrou os olhos.
— E mesmo assim você não tinha nada a ver com isso! – Ela tornou a erguer o dedo, apontando-o no peito de . – Isso não vai ficar assim, novatinha. Você vai aprender qual é o seu lugar, tá me ouvindo?
Delicadamente, moveu o dedo de Sana, tirando-o de sua frente, e deu um passo, aproximando as duas. podia até ser mais nova, mas era uns bons cinco centímetros mais alta do que a outra jornalista e isso a obrigou a abaixar o olhar para conseguir fitá-la.
— E você deveria aprender a fazer o seu trabalho de forma séria e não como um urubu atrás de carniça para publicar na sua coluninha sensacionalista. Conselho de novata. Tenha um bom dia, Sana.
Puxando Jae pelo braço, aproveitou o momento de fúria congelada de Sana para sair do local, entrando logo no carro que já esperava por eles.
— Puta merda! – Jae exclamou, rindo em choque enquanto colocava o cinto de segurança. – O Yeonbun vai arrancar as suas tripas e servir de lanche pra redação inteira assim que chegarmos lá.
Ao seu lado, suspirou.
— Eu tô muito fodida, Jae?
— Digamos que eu esteja muito feliz por estar de preto hoje, assim já aproveito o look para o seu funeral.
choramingou enquanto o carro cruzava as ruas de Seul, levando-a para seu abate iminente.



— VOCÊ PODE ME EXPLICAR QUE PORRA FOI ESSA, PARK?!
se encolheu alguns centímetros com o grito de Yeonbun, mais pelo susto do que por medo, e respirou fundo.
— Eu não sei do que você está falando, Yeonbun. – se fez de sonsa porque, honestamente, qual outra opção ela tinha além de adiar sua decapitação certeira?
Yeonbun praticamente rosnou, furioso, e bateu em sua mesa. ficou grata por aquela discussão estar acontecendo dentro da sala de seu chefe, mesmo com a absoluta certeza de que metade da redação conseguia ouvir os gritos dele.
— Eu acabei de falar com Lee Sana no telefone, , e ela estava irada! Você interrompeu a pergunta dela durante a coletiva e ainda a chamou de urubu na saída?!
deu um sorrisinho.
— Eu expliquei pra ela que o já havia passado a vez para a próxima jornalista, então, em termos técnicos, se formos avali-
!
— Ok, ok! Pode ser que eu tenha feito isso, mas poxa, Yeonbun, você tinha que ver a forma como ela foi desrespeitosa e estava constrangendo o cara e eu juro juradinho mesmo que ele realmente finalizou com ela, ela que estava errada ao insistir no assunto, eu só aproveitei a deixa!
Yeonbun se jogou em sua cadeira e fechou os olhos, massageando as têmporas.
— Lee Sana poderia ter conseguido um dos melhores furos nessa coletiva, Park.
riu, balançando a cabeça.
— Você e eu sabemos muito bem que isso não ia acontecer, Yeonbun. Primeiro, é mais bem treinado para não deixar nada pessoal escapar do que um cão farejador é para achar drogas em um aeroporto. Segundo, nós sabemos que a Yoon Shoo está no meio de uma negociação absurdamente cara com a Distak para evitar que eles soltem as fotos dela com o noivo, que também sabemos que não é . E, terceiro, mesmo que houvesse alguma coisa entre eles, Lee Sana só poderia estar louca achando que ia conseguir algo dessa forma. A abordagem dela foi uma merda, Yeonbun, ela não ia conseguir fazer o cara dizer nem o sabor de pizza favorito dele assim.
Se Yeonbun tivesse algum superpoder de raios laser nos olhos, estaria com um buraco no meio da cara naquele momento.
— Lee Sana é uma das maiores jornalistas de entretenimento desse país, Park. Enquanto você estava aprendendo a ler, ela estava revelando para o país inteiro que o idol do momento estava namorando outro homem, um dos maiores furos até hoje.
arregalou os olhos e soltou uma risada sem humor algum.
— E eu deveria admirar uma pessoa que fez isso porque, exatamente?
— Porque nós vendemos notícia, ! Tudo isso aqui é sobre isso!
— E desde quando a vida particular de alguém está à venda, Yeonbun?! – se exaltou. Yeonbun grunhiu mais uma vez e, antes que ele explodisse, passou as mãos pelos cabelos e respirou fundo, tentando soar calma e ponderada. – Olha, ok. Eu sei que errei ao interromper a Lee, admito isso. Foi mal, mesmo. Se quiser, peço desculpas para ela e mando uma caixa de bombons.
Yeonbun riu, debochado.
— Eu não quero ver a sua cara nessa redação, Park.
suspirou, derrotada.
— Ok, eu posso editar a matéria do em casa.
— Não.
— Não? – Ela questionou, confusa. – Eu posso editar do banheiro, então, ou-
Yeonbun finalmente rosnou igual um cão raivoso.
— Você não vai editar merda de matéria nenhuma, . Passa essa porra pro Choi, ele vai pegar suas pautas a partir de agora.
ficou de pé, os olhos arregalados.
— O que?!
— Tá surda?! – Yeonbun exclamou, sorrindo cínico. – Eu disse para passar a matéria pro Choi e ele também vai assumir suas próximas pautas, Park. Vamos ver se assim você aprende alguma coisa por aqui.
riu nasalado.
— Tá brincando comigo, ?! Não é justo! Eu consegui as melhores respostas da coletiva de hoje, eu mereço editar-
— As melhores respostas? Conseguiu algum furo, por acaso?
— Não, mas foram as respostas que ele mais se empenhou para responder. Ele ficou todo empolgado falando sobre a produção da mixtape, eu achei até que ele não ia parar de falar nunca e-
— Sem furo, sem melhores respostas.
— Yeonbun, você não pode-
— Eu posso e eu vou, Park. Duas semanas fora dessa redação.
— Duas semanas?! Eu tenho a exclusiva com o na semana que vem, Yeonbun!
Yeonbun arqueou a sobrancelha.
— Então vamos torcer para que o Choi seja mais astuto do que você e consiga um furo em vez de uma conversinha inútil.
— Conversinha inútil?! – Ela praticamente gritou. – A minha última entrevista com o Jackson Wang quebrou recorde de views no site, Yeonbun! Foi parar nos assuntos mais comentados! Até hoje é a matéria mais lida do Korea Times e é porque a conversinha inútil que tivemos é considerada não só por ele como também pelos fãs como uma das melhores entrevistas da carreira dele! Isso sem contar as outras que eu fiz nos últimos anos!
— Fora da minha sala, Park.
Ela grunhiu, batendo o pé no chão como uma criança.
— Me deixa pelo menos finalizar a notícia sobre a coletiva de hoje, Yeonbun! Ela já está pronta, eu só preciso revisar! Não faz sentido o Choi começar uma nova. – Não era exatamente verdade, mas ela não via nenhuma outra alternativa.
Yeonbun bufou.
— Tudo bem, mas agora são três semanas fora daqui e você vai revisar para a editoria de jardinagem.
— Yeonbun!
— Quer que eu suba para quatro e te mande editar os obituários, Park? Você não acha que é tempo suficiente para você pensar e aprender a respeitar seus colegas de trabalho mais velhos?
— Não, não! Ok, merda.
— Fora, agora.
se virou e abriu a porta, saindo sem falar mais nada. Antes que ela pudesse fechá-la, ouviu Yeonbun dizer:
— E mande aquelas porras de bombons para Lee Sana!
bateu a porta com força e ouviu mais um grito de Yeonbun lá dentro, o qual ela ignorou completamente enquanto marchava furiosa até sua mesa para começar, na velocidade da luz, a maldita notícia sobre a maldita coletiva de imprensa de .

02. Always getting more light

— Se você abrir a boca para falar sobre samambaias mais uma vez, eu juro que eu boto fogo em mim mesmo. – Jae anunciou, exausto.
fez um bico contrariado e resmungou, enquanto Peter acariciava os cabelos da garota em compaixão.
— Não seja grosso com ela, amor. – Peter repreendeu Jae. – A pobrezinha está vivendo um inferno amazônico na editoria de jardinagem, tenha piedade.
— E hoje era o dia em que eu entrevistaria o , caso você tenha se esquecido. Eu verdadeiramente não poderia estar mais puta. – completou, jogando dramaticamente sua cabeça nas mãos em cima do balcão que os três dividiam.
Eles estavam no café do prédio onde ficava o Korea Times, aproveitando o único tempo livre que tinham para ficarem juntos. estava completando sua primeira semana de castigo na editoria de jardinagem, Jae continuava na editoria de entretenimento e Peter, namorado de Jae, era jornalista em uma revista de moda que ficava no mesmo prédio.
— É realmente um pecado você perder a oportunidade de entrevistar aquele gostoso. – Peter suspirou e só choramingou mais ainda.
— Se serve de consolo, eu fui trocado pela sem-sal da Liu. Aparentemente, além de uma entrevista sem graça, também teremos fotos sem graça. – Jae bufou.
— Eu juro que nunca mais abro a minha boca para me meter onde eu não sou chamada.
Jae e Peter riram ao mesmo tempo.
— Nem você acredita nisso, meu anjo. – Peter piscou para ela, que riu e deu de ombros, bebericando seu café.
— É, mas qualquer coisa seria melhor do que essa merda. Nada contra plantas, mas eu tô dividindo a mesa com uma mulher que tem uns quinhentos cactos e ela me obriga a dar bom dia para todos e a chamar cada um pelo nome. E eu juro por Deus que o cacto número três, o Pepito, me odeia; ele já me espetou umas quatro vezes nos últimos dias. – ergueu o dedo médio da mão direita para mostrar o band-aid dos Vingadores que o enfeitava.
Jae arqueou as sobrancelhas, divertido.
— Espero que você não precise mostrar o dedo do meio para ninguém numa briga nas próximas horas, isso aí tira toda a sua moral.
Peter riu e revirou os olhos, erguendo mais ainda o dedo na cara de Jae.
— Vai se-
Park.
, Peter e Jae se viraram ao mesmo tempo, surpresos pela interrupção repentina.
O queixo dos três caiu. , no entanto, quase despencou da cadeira ao identificar o dono da voz que a havia chamado. Aliás, pelo nome inteiro.
estava parado atrás dela, um sorriso ladino de tirar o fôlego em seu rosto bonito, encarando diretamente a jornalista. Ao lado dele, parecendo um armário em tamanho e um bolo de aniversário em gostosura, estava .
Ela precisou piscar algumas vezes, limpando a névoa que havia tomado seu cérebro pela surpresa.
— Eu? – Foi isso o que ela conseguiu falar, para seu desgosto.
estendeu para ela um objeto branco, pendurado em seus dedos por uma corda de tecido vermelha.
— Acho que você deixou isso cair.
moveu os olhos lentamente até o crachá que o rapper segurava.
— Ah... – Ela ergueu a mão e pegou o objeto que balançava no ar, atordoada, e limpou a garganta. – Muito obrigada.
piscou e sentiu sua pressão despencar até o inferno.
— Acho que foi o destino. Eu estava mesmo curioso sobre você.
Peter se engasgou com a bebida, recebendo alguns tapinhas nas costas dados por Jae, e soltou uma risadinha chocada.
— Sobre mim? – questionou. – Por quê? Quer dizer, você sabe quem eu sou?
Foi quem riu, se apoiando preguiçosamente no balcão ao lado de Peter, que não se engasgou novamente por pouco.
— Meio impossível não saber quem você é, eu acho. Você é a jornalista que deveria me entrevistar hoje e que deu um fecho naquela safada sem vergonha da K99 durante a coletiva do . Aliás, fiquei muito decepcionado quando me disseram que você não iria mais fazer a minha entrevista. A que você fez com o Wang ficou foda, eu quase dei meia volta e desisti. Aquele tal de Choi é bem lerdinho. – disse, fazendo uma careta, e soltou mais uma risada histérica.
Meu Deus. Meu Deus, meu Deus, meu Deeeeeeeus. Ela estava acordada? Aquilo era uma alucinação?
— Eu... fui realocada temporariamente, sinto muito. Mas eu também queria muito ter te entrevistado hoje, foi realmente uma pena, eu gosto muito do seu trabalho. – Ela conseguiu falar, desacreditada de tudo o que havia acabado de ouvir, e percebeu a feição de se alterar por um breve instante, os olhos um pouco mais cerrados. – E eu não dei um fecho em ninguém. – Ela achou importante completar.
— Deu sim. E ainda chamou a louca de urubu, antiprofissional e velha. Eu tava lá, eu vi tudo. – Jae abriu a boca, sorrindo tanto que seu rosto poderia se partir ao meio.
— Jae! – exclamou enquanto os dois rappers riam.
— Bom, você não disse nenhuma mentira. – sorriu, mostrando as covinhas, e teve certeza de que os corações de Jae e Peter pararam ao seu lado. – A mulher é uma carniceira insuportável.
riu enquanto balançava a cabeça, um pouco mais à vontade com a situação, embora ainda fosse um tanto quanto absurda. Ainda bem que Jae e Peter estavam ali, pois ela tinha certeza de que eles não acreditariam se ela contasse.
— E já que o destino tem sido tão generoso comigo, acho que vou aproveitar a oportunidade para matar algumas curiosidades. – falou ainda sustentando o mesmo olhar afiado de antes, fitando e passando os dedos cheios de anéis pelos cabelos negros e tirando alguns fios do rosto. sentiu que poderia babar a qualquer momento. Realmente, o cara era bem... boa pinta, assim de pertinho. Não que de longe, ele não fosse, mas... – Podemos conversar por um instante? – Ele apontou com a cabeça para algumas mesas vazias no canto do café, um pouco distantes. encarou o amigo com uma interrogação, mas o ignorou.
O que? Se aquele encontro não estava absurdo o suficiente, agora havia acabado de atingir seu nível máximo.
— Eu... Claro, claro que sim. – Ela assentiu, completamente atordoada, e se levantou, ajeitando o vestido de alcinhas verde com bolinhas brancas, que batia um pouco acima de seus joelhos, agradecendo por ter se vestido de uma forma decente naquele dia. Bom, tinha uma pequena mancha de terra na barra, mas aquilo era 100% culpa de Pepito.
Ainda confusa e sentindo os olhares dos três em suas costas, seguiu o rapper até uma mesa isolada e ela, como boa observadora que era, se perguntou se a escolha da mesa mais escondida era proposital para que pudessem conversar em privado. Conversa essa, aliás, que ela não fazia a mínima ideia sobre o que poderia ser.
O que diabos poderia querer com ela?!
se sentou de frente para ele, que analisou seu rosto e soltou uma risada divertida.
— Você parece assustada.
— Não exatamente, mas com certeza muito confusa e curiosa. – Ela tentou sorrir. – Me desculpe, mas eu estou um pouco perdida.
— Bom, eu também estou muito curioso. – Ele reforçou o que já tinha dito antes, se acomodando de forma largada na cadeira, os braços cruzados sobre o peito coberto sob a camiseta preta. – Não é todo dia que alguém interrompe duas vezes a sua coletiva de imprensa.
franziu o cenho.
— Duas? – Ela sabia que ele estava falando sobre Lee Sana, mas ainda faltava uma.
O sorriso divertido no rosto dele se alargou.
— Qualquer pessoa dentro daquela sala ouviu a risada que você deu depois que eu respondi aquele cuzão. Eu fiquei me perguntando se você tava rindo de mim ou da cara de otário dele.
O rosto de esquentou. Ok, ela sabia que algumas – muitas – pessoas tinham notado seu pequeno descontrole, mas ela não contava que logo ele tivesse sido uma delas.
— Eu peço desculpas por isso, eu realmente não pretendia interromper ninguém nessa hora.
arqueou a sobrancelha.
— E na outra, sim?
deu de ombros.
— Foi você quem passou a vez para a próxima jornalista, mas aparentemente ninguém acredita em mim.
— Então quer dizer que a culpa foi minha?
Ela não pôde deixar de rir.
— Cem por cento sua culpa, sem dúvida nenhuma.
a acompanhou, rindo, mas seu olhar tornou a ficar afiado exatamente como havia notado mais cedo.
— E a culpa por você ter sido realocada, também foi minha?
Ela não esperava por isso. Ela sabia que o que ele realmente estava querendo saber por trás da pergunta em tom de brincadeira era se a sua situação atual tinha a ver com os acontecimentos da coletiva.
— Não, claro que não.
— Certeza? – Ele a pressionou, seu olhar fazendo suspirar.
— Cem por cento culpa da minha total falta de senso e noção para saber a hora de calar a boca. – Ela brincou, na esperança de que ele deixasse esse assunto para lá.
— Hm, eu acho essa falta de noção bem conveniente, se quer saber.
franziu o cenho.
— Como assim?
é bastante fofoqueiro. – Ele começou, passeando o dedo indicador pelo lábio inferior enquanto falava, e demorou um tempinho para entender que ele se referia à . – Se tem alguém que sabe tudo sobre todo mundo, esse alguém é ele. Ele já tinha falado sobre a sua entrevista com o Wang antes, porque os dois são duas velhas fofoqueiras e o próprio Wang comentou sobre isso com ele, e ficou muito animado quando soube que você iria entrevistá-lo também. Ele não tava brincando quando falou que ficou decepcionado quando aquele mané disse que faria no seu lugar, ele realmente pensou em desistir da entrevista.
riu, um pouco deslumbrada.
— Eu acho que nunca me senti tão lisonjeada assim.
— É porque você não viu como ele encheu meu saco depois que eu contei pra ele que foi justamente você quem tinha interrompido a coletiva. Ele disse que era exatamente por isso que ele estava animado para falar com você e foi aí que a curiosidade começou. Na verdade, começou quando você fez uma pergunta decente quando eu não esperava mais nada daquela merda, mas depois que ele me fez ver algumas entrevistas suas, eu entendi um pouco o porquê de ele falar isso.
— Muito obrigada, mas eu estava, literalmente, só fazendo o meu trabalho. – Ela agradeceu, sem jeito.
estalou a língua e revirou os olhos.
— Como se você não soubesse que isso é uma exceção. – Ele apontou, ácido. – O Korea Times tá enchendo meu saco atrás de uma entrevista há meses e eu não tava com a mínima vontade de ter mais nenhuma conversa idiota com ninguém, mas eu decidi acompanhar o só pra ver se ele iria quebrar a cara ou não. E, porra, ele quebrou demais. Aquele Choi é um pé na bunda, foram os trinta minutos mais entediantes da minha vida.
Sem conseguir se controlar, gargalhou.
— Eu sinto muito mesmo pelo , acho que essa era a entrevista que eu estava mais ansiosa para fazer nos últimos meses, mas eu não garanto que comigo seria diferente.
— Você perguntaria pra ele qual foi a pior comida que ele já provou na vida?
arregalou os olhos.
— Meu Deus, não. Que diabo de pergunta estúpida é essa?
assentiu, um sorriso leve em seus lábios.
— Exatamente. E é por isso que eu tenho a impressão de que talvez as coisas tivessem sido pelo menos um pouco mais interessantes se você não tivesse sido substituída.
— Obrigada? – Ela respondeu, incerta.
— Não tão rápido. – Ele brincou e ela riu baixinho. – É óbvio que quando eu apareci na entrevista hoje, vivi a porra de um inferno com a insistência para que eu concedesse alguma entrevista também. Como eu disse, faz um tempo que venho negando os pedidos e acho que eles tiveram um orgasmo só de me ver pisando lá. – revirou os olhos, rindo novamente, e continuou. – E, por alguns minutos durante o caminho até aqui, eu considerei que talvez isso fosse possível, mas desisti assim que aquele cara disse que iria te substituir e que você estava fora por um tempo.
abriu a boca, completamente surpresa, mas não conseguiu emitir nenhum som. Definitivamente aquela conversa estava tomando rumos completamente inesperados.
— Como assim? – Ela conseguiu questionar e deu de ombros, totalmente relaxado.
— Eu realmente gostei do jeito que você conduziu a entrevista com o Wang, Park. Confesso que eu não tava dando uma foda quando o me fez ler, achei que aquilo tudo da coletiva tinha sido uma exceção porque, porra, eu não poderia achar a mídia desse país mais incompetente, mas me surpreendi com as perguntas e isso é muito raro de acontecer.
A jornalista ajeitou a postura no banco, sua cabeça trabalhando rápido para entender o que tudo aquilo que o rapper tinha acabado de dizer significava. Então, um pouco incerta, ela questionou:
— Você está dizendo que considerou dar uma entrevista pra mim?
— Eu estou dizendo que quero dar uma entrevista pra você.
Em seus seis anos como jornalista, ninguém nunca a havia abordado desse jeito. estava acostumada, como a grande maioria dos profissionais de sua área, a correr atrás de seus entrevistados e suas fontes, na maioria das vezes usando da tática de vencer pelo cansaço, e de aceitar as pautas que Yeonbun lhe passava – e, honestamente, somente nos últimos dois anos é que elas se tornaram realmente mais interessantes. Lee Sana não estava errada quando a chamou de novata, ela não era ninguém perto dos outros jornalistas do mesmo ramo. Suas entrevistas, matérias e artigos eram bons, ela sabia disso, mas ela sabia também que existiam muitos, muitos mesmo, melhores e maiores.
Por isso, nem em seus mais loucos sonhos ela imaginou que , uma das pessoas mais famosas do país, que todos sabiam que odiava dar entrevistas, iria querer falar logo para ela.
— Por que eu? – Ela precisava saber.
— O que você me perguntaria se me entrevistasse? – Ele replicou.
arqueou a sobrancelha.
— Isso é uma espécie de entrevista de emprego? Me entrevistando para saber se eu sou boa o suficiente para te entrevistar?
— Exatamente isso.
Ela soltou uma risada e balançou a cabeça.
— Você tem anos de experiência como produtor e compositor, colaborando com os maiores artistas do país, foi uma das pessoas mais novas a ser nomeada para a Korea Music Copyright Association, lançou uma mixtape totalmente escrita e produzida por você, que confronta não somente a indústria musical, mas que também é praticamente um diário pessoal, esgotou os ingressos pra sua turnê asiática e europeia em minutos... Eu acho que eu conseguiria pensar em uma ou duas perguntas para te fazer com base nisso. – respondeu, o olhar um pouco afiado agora que sabia que estava sendo analisada pelo ponto de vista profissional.
— Então quer dizer que você fez a lição de casa? Ouviu a minha mixtape?
— Se eu fiz literalmente o básico antes de ir para uma entrevista? Sim, é claro. Ouvi no mínimo umas cinco vezes. Acho que posso até subir no palco no seu lugar no próximo show.
a encarou por alguns segundos e se obrigou a sustentar o olhar dele, encarando-o de volta. Era uma sensação estranha, esse contato com um artista, um possível entrevistado, fora do ambiente profissional, embora estivessem discutindo sobre. Ela sabia que era uma pessoa intimidante e que ela fora pega completamente desprevenida com a abordagem. Mas ela não iria se deixar encolher diante disso, não quando toda aquela conversava soava cada vez mais como um desafio e ela sabia que ele muito provavelmente estava fazendo aquilo de propósito.
— É por isso. – Ele disse, por fim.
— Por isso o que? – Retrucou.
— Por isso que eu quero que você me entreviste, Park. – Ele explicou, fazendo o nome dela soar como mais uma provocação, e ela estreitou os olhos. – Eu acho que você não vai perder tempo com idiotices. Você sabe o que perguntar porque sabe quais são as respostas que interessam. Há muito tempo eu faço entrevistas inúteis e vazias e eu já estou cansado disso, mas ainda sinto que queria falar, só não tinha encontrado quem queria ouvir.
curvou o canto da boca ligeiramente.
— O que te faz pensar que eu só vou perguntar o que você espera que eu pergunte?
imitou o gesto dela com o mesmo sorriso de lado.
— Eu não espero, eu espero que você faça melhor. E você não parece ser o tipo de pessoa que vai meter o rabo no meio das pernas na primeira resposta desagradável que ouvir, o que é outro ponto muito importante.
Ela riu.
— Definitivamente, não. – Ela suspirou, novamente reordenando sua mente e avaliando a situação. – Por mais que eu queira fazer essa entrevista, e acredite em mim, eu quero muito, eu ainda estou afastada, então eu teria que esperar mais duas semanas até voltar e depois levar a pauta até meu chefe e, de verdade, eu não acho que ele vá aceitar que eu fique com ela. Tenho certeza de que ainda vou ficar de castigo por um tempinho, conhecendo Yeonbun.
— Isso tudo por causa do que aconteceu na coletiva?
— Não exatamente. – Ela fez uma careta, sabendo que poderia soar como fofoca, mas que se foda, não é como se não conhecesse muito bem as pessoas desse meio. E ela ainda estava morrendo de raiva por seu afastamento. – Acho que demorou até para o Yeonbun me dar uma cortada, nós nunca concordamos com o lado profissional um do outro. Mas teve mais a ver com ter sido com Lee Sana e a nossa conversa depois da coletiva só piorou a situação. Eles são próximos, pensam da mesma forma e ela é muito influente, acho que foi a desculpa perfeita que ele precisava para sumir comigo por um tempinho. Mas eu não me arrependo, então... – Ela deu de ombros.
assentiu, pensando.
— Eu poderia pedir para a minha assessoria fazer algumas exigências sobre a entrevista, mas não quero colocar eles no meio disso.
O cenho de se franziu.
— Você quer me dar uma entrevista sem a sua assessoria?
— Sim. – E não desenvolveu mais a sua resposta, deixando a curiosidade de mais aguçada ainda e ela precisou se conter para não o encher de perguntas.
— Bom... Honestamente, não acho que você deva exigir uma conversa comigo ao Yeonbun. Esse cara faz de tudo por um furo e eu não duvido que ele dê um jeito de distorcer as coisas. Ele tem um dom de transformar qualquer pingo de chuva em oceano.
deu um sorriso ordinário.
— Com medo de ser apontada como meu novo affair?
riu; quase gargalhou. era abusado demais, mas ela percebeu que gostava disso. O fazia divertido.
— Só evitando ter alguém acampado na porta da minha casa para tentar descobrir detalhes sórdidos.
— Então terão detalhes sórdidos? – Ele arqueou as sobrancelhas e ela balançou a cabeça.
— Só aqueles que você me contar durante a entrevista.
— Quer dizer que você está atrás de um furo?
— Eu não deixaria passar a oportunidade de passar férias em Dubai. – deu de ombros, brincando, mas suavizou o olhar. – Olha, seria ótimo, mas eu não vejo mesmo como uma entrevista com você não iria parar nas mãos de alguém mais velho. Acho que até o próprio Yeonbun iria querer fazer, para ter a oportunidade de te perguntar o que ele quisesse, ainda mais sem assessoria. Você seria um banquete para ele. – Ela foi honesta, deixando sua frustração transparecer.
Aquela era uma oportunidade única, gigante, caindo de presente em seu colo. Mas, por mais que ela quisesse aquilo e sentisse seu corpo todo se agitar em excitação com a possibilidade de uma entrevista desse nível e da forma como o rapper estava sugerindo, ela conhecia Yeonbun. Ele jamais deixaria que isso acontecesse, não quando ele mesmo poderia tentar descobrir alguma bomba de numa entrevista sem a supervisão de uma babá – apelido carinhoso que davam aos assessores. Além disso, ela também sabia que Yeonbun iria se aproveitar da situação caso o rapper exigisse que a entrevista fosse com ela, mesmo que, no fim, não conseguisse a conversa. Ele era especialista em tirar leite de pedra e aquilo nas mãos de Yeonbun... Nem pensar. Não seria bom nem para ela e nem para .
bufou.
— Porra, mas nem fodendo.
riu.
— Eu imaginei que essa seria a sua resposta. Eu posso levar a pauta para ele, de qualquer forma, e insistir no assunto, mas...
— Não. Eu vou dar a entrevista para você.
Ela respirou fundo.
— Então assim que se passarem as duas semanas, eu tento-
— Não. – Ele repetiu, a cortando. – Eu disse que vou dar a entrevista para você, não para a Korea Times.
— O que isso quer dizer?
Ele apoiou os dois cotovelos na mesa e uniu as mãos.
— Quer dizer que eu vou dar a entrevista para você e você vende para o jornal depois que já estiver pronta e ele não puder mais recusar ou mudar.
franziu o cenho. Não era uma ideia ruim. Tinha alguns problemas, principalmente burocráticos, já que a entrevista não seria feita em nome do jornal e qualquer eventual problema seria responsabilidade dela, mas até mesmo em termos financeiros isso seria vantajoso; ela sabia muito bem o quanto isso poderia valer. Melhor ainda: a liberdade que ela teria para organizar a pauta, a entrevista, a edição, tudo. Ela sempre quis algo assim, algo grande e totalmente dela. Por Deus, era quase irrecusável.
Ela tentou conter o sorriso que se formava em seu rosto conforme os pensamentos corriam em sua mente.
— Isso é... arriscado. Você tem certeza?
— Você é quem devia estar me convencendo. – Ele riu, debochado.
— Só quero garantir que você sabe o que está fazendo.
— Eu sempre posso te processar se você escrever alguma bosta.
Ela riu.
— Ótimo, agora estou convencida. – revirou os olhos, mas o sorriso não saiu de seu rosto. – Se vamos mesmo fazer isso, eu gostaria de alguns dias para me preparar, pesquisar mais um pouco.
— Pensei que você tivesse dito que já podia subir no palco no meu lugar. – Ele provocou.
— E eu posso, mas não quero desperdiçar a chance de fazer o melhor que posso com essa oportunidade. Não é todo dia que bate na minha porta implorando para que eu o entreviste. – Ela provocou de volta e ele revirou os olhos, dando uma risada abafada. – Eu preciso saber o quão disposto você está a falar. Como vamos fazer isso sem uma assessoria para me frear ou me brifar, eu preciso pelo menos saber por onde posso andar e até onde ir.
Ele comprimiu os lábios, pensativo.
— Eu quero falar sobre a minha carreira, sobre a minha música, sobre . Mas também quero falar sobre mim, sobre , sobre quem eu sou. Se você for longe demais, vai saber.
— Com um aviso amigável, eu espero.
— Não. – Ele sorriu com os lábios fechados e ela riu baixinho, refletindo.
— Dois dias. – disse, o olhar um pouco perdido em algum ponto nas costas de , mas logo voltou a encarar o rapaz. – Que tal se eu passar dois dias com você? Um para o profissional, outro para o pessoal. Algo como o lado A e B de uma fita cassete, mas o lado A e B de . Acho que é algo que os seus fãs querem ver de você, mas que pode agradar também quem não é.
— Eu não dou a mínima para agradar ninguém que não me apoie. – Ele desdenhou, ácido, e ela sorriu, assentindo.
— Eu sei. Por isso acho que vai ser interessante. Eles vão ver os seus dois lados, querendo ou não. – deu de ombros.
passou o dedo pelo queixo, pensando no que ela disse.
— Eu vou ver se é possível e te aviso.
balançou a cabeça positivamente mais uma vez.
— Tudo bem. Vou te dar meu número, pode me avisar quando se decidir. Eu também vou pensar em alguma alternativa enquanto isso, caso você não concorde.
tirou o celular do bolso e ditou seu número para que ele o salvasse. Quando ele terminou, se colocou de pé.
— Eu te aviso. – Ele disse, simplesmente, e percebeu, divertida, que ele estava pronto para se virar e ir embora, mas ela ainda precisava saber uma coisa.
. – Ela o chamou e ele a fitou, esperando. – Durante a sua coletiva no outro dia, você estava... Se policiando, de alguma forma? Digo, controlando suas respostas?
Ele deixou um sorriso de lado aparecer.
— Obviamente.
assentiu.
— Eu não quero que isso aconteça durante a nossa entrevista. Se você está falando sério sobre querer falar, eu também vou levar a sério tudo o que eu perguntar e não espero que você me dê respostas genéricas ou ensaiadas, controladas.
O sorriso de aumentou um pouco.
— Não se preocupe, Park, se eu quisesse me controlar, não teria procurado por você.
Então, ele finalmente se virou, caminhando em direção aos outros três que ainda estavam no balcão. Poucos segundos depois, e saíram da cafeteria.
Antes que pudesse sequer processar tudo aquilo, Jae e Peter já estavam sentados nas cadeiras à sua frente, os olhos arregalados e ansiosos. Enquanto os dois a bombardeavam de perguntas, ouvindo em algum lugar distante de sua mente Peter falar algo sobre quase ter convidado para um threesome, ela tentava digerir tudo o que tinha acabado de acontecer.
realmente a havia procurado. Ele realmente a havia escolhido para entrevistá-lo de uma forma que era o sonho de qualquer jornalista. Aquilo realmente estava acontecendo.
E ela não fazia ideia do porquê o universo estava sendo tão generoso com ela de repente, mas que se foda. pegaria essa oportunidade e só sairia dela com uma das melhores entrevistas dos últimos anos nesse país, ou não se chamava Park.



estava preparando seu jantar quando o celular vibrou em cima do balcão da cozinha. Ela limpou a mão rapidamente em um pano de prato e alcançou o aparelho, desbloqueando-o e lendo a nova mensagem que havia acabado de receber.


Número desconhecido: Quinta e sexta. Quinta estarei no estúdio e sexta ficarei em casa. Te mando os horários e o endereço em breve. Não me faça arrepender de concordar com isso.

riu indignada, a boca aberta diante da ousadia daquele que ela sabia muito bem quem era o destinatário da mensagem. Ela salvou o número e digitou a resposta.

Park: Obrigada. E não me faça você me arrepender de concordar com isso.

Menos de um minuto depois, uma nova notificação.

: Já estou arrependido.



03. A to the G to the U to the STD

Dentro daquele estúdio, não era o que esperava. Ele era mais.
Quatro dias depois do encontro dos dois na cafeteria, a jornalista deu um jeito de sumir da redação na hora do almoço e desaparecer pelo resto do dia. A primeira coisa que ela fez quando chegou ao prédio onde o estúdio ficava foi ligar sua câmera. estava ciente de que ela iria documentar tudo em vídeo, foto e áudio como parte do formato que ela pretendia lançar a entrevista. não fazia ideia do que havia dito à sua equipe sua presença lá, mas ninguém a questionou. Então, nos primeiros momentos do dia juntos, apenas o acompanhou silenciosamente em seu registro, absorvendo também informações relevantes sobre o artista enquanto o via primeiro em uma reunião para decidir alguns detalhes da turnê e depois dentro do estúdio, produzindo.
E só aquilo já estava sendo uma experiência incrível. Ver trabalhando era pura arte e ela estava encantada. A dedicação, o cuidado, o profissionalismo... Dava para ver que ele era apaixonado pelo que fazia e não se lembrava da última vez que havia visto tamanho brilho no olhar. Talvez nunca tivesse visto algo assim.
Durante a maior parte do tempo, a ignorou como se ela não estivesse no ambiente – essa era a proposta, afinal. Então, ele agiu com as pessoas com quem trabalhava da mesma maneira como agia sempre, e isso era muito interessante. A personalidade dele era forte, ele dizia o que pensava sem rodeios, não tinha medo de criticar ou ter suas ideias criticadas, mas também deixava claro quando aprovava alguma coisa. E se surpreendeu com o quão natural ele era dentro daquele ambiente. Amigável, até. Talvez ela tivesse comprado a imagem hostil e irônica que ele vendia bem, mas ela percebeu rapidamente que havia muito mais por trás disso. E a facilidade com a qual isso era claro de se ver era um pouco perturbadora – foram necessários apenas trinta minutos para que ela notasse isso. Ele era uma máquina de palavrões e parecia estar sempre pronto para algum comentário debochado, mas ela não tinha visto uma vez sequer em que ele fora desrespeitoso ou grosso com alguém. E aparentemente todos ali dentro gostavam de trabalhar com ele, isso era óbvio.
Somente quando pareceu finalizar algum trabalho de edição com mais outros dois produtores para a faixa de uma outra artista, e havia assinado um termo de confidencialidade sobre isso, e os dois saíram, deixando-os sozinhos dentro do estúdio aconchegante, foi que parou para olhar as horas. Ela já estava lá há quase três horas e não havia percebido. Ela estava absolutamente imersa.
— Nós podemos usar a minha sala de reuniões se você preferir. – Ele sugeriu enquanto ainda mexia no computador daquela mesa enorme e cheia de aparelhos e esse foi o primeiro contato direto que tiveram no dia após o breve “boa tarde” de quando ela chegou, mais cedo.
negou com a cabeça e estalou a língua, avaliando o local com o olhar.
— Aqui é perfeito. Não acho que vá existir algum lugar melhor para falar sobre o seu trabalho do aqui. É impossível não sentir essa energia.
Ele virou sutilmente o olhar para ela por alguns segundos, mas logo voltou os olhos para a tela.
— Energia?
murmurou um “uhum” enquanto checava rapidamente se a câmera em cima do tripé ao seu lado ainda estava ligada, focada e gravando. Fez a mesma coisa com o gravador do seu celular, em cima da mesinha de centro em sua frente, e com o microfone lapela preso à blusa de , e tornou a se sentar.
— É essa... coisa. Eu não sei explicar, mas é como se você criasse uma bolha aqui dentro e tudo o que desse para sentir é música, música e música. O ar, o cheiro, o gosto. Parece loucura e eu juro que vou desenvolver isso de uma forma muito mais decente quando for escrever a matéria, mas é basicamente isso. Parece que pode ser até um pouco mais pessoal do que a sua própria casa, não sei.
parou os olhos na tela por um momento, mas não se virou para ela, apenas balançou a cabeça positivamente e prosseguiu com o que fazia.
— É sempre assim? – Ela questionou.
— O que?
— Seu estúdio, o modo como você gosta de trabalhar. Eu percebi que aqui é um espaço seu e imagino que você tenha conduzido as coisas para que esse fosse o modo como o trabalho fluiria. É uma percepção equivocada?
pareceu ponderar por alguns segundos, ainda fitando a tela, e aproveitou para alcançar rapidamente seu caderno e sua caneta ao seu lado no grande sofá de couro preto, abrindo na página onde havia anotado as principais perguntas que faria – e os muitos rabiscos que fizera durante o dia. No entanto, conseguia visualizar pelo menos mais umas cinquenta no fundo de sua mente após essas poucas horas de observação.
Quando ele finalmente falou, se virou na cadeira para fitar a jornalista.
— Não é. Eu gosto de trabalhar assim. Se eu não sentir que eu estou na mesma página de quem quer que seja que eu esteja trabalhando no momento, não funciona para mim. Eu preciso dessa conexão e de um espaço onde isso seja possível, então é algo que eu trabalhei para que fosse assim.
assentiu, cruzando os pés para apoiar melhor o pequeno caderno sobre suas coxas.
— Então esse espaço inteiro foi projetado por você? – Ela perguntou e deixou os olhos vagarem pelo ambiente mais uma vez, sorrindo pequeno ao constatar que realmente gostava do local, dos móveis escuros, da decoração sóbria e ao mesmo tempo cheia de personalidade e da iluminação quente e aconchegante.
— Quando eu finalmente tive a oportunidade de fazer as coisas do meu jeito, eu fiz.
sorriu.
foi produzido aqui, suponho, sob esse mesmo conceito: o de fazer as coisas do seu jeito. – Ela apontou.
cruzou as pernas e apoiou o braço no joelho, colocando o queixo na mão.
— Eu não deixaria o meu primeiro grande trabalho ser feito de nenhuma outra maneira. É uma coisa que demorou muito para acontecer, eu pensei muito sobre o que eu queria passar com essa mixtape e não acho que eu conseguiria fazer fora daqui, sem a minha liberdade, ou sem essa tal bolha ridícula que você falou ou sei lá o que.
riu do comentário, mas seus olhos continuaram focados.
— E o que você quer passar com a mixtape?
— Eu queria me expressar da forma mais transparente possível sem sair do meu propósito de fazer tudo o que eu sempre quis fazer. Isso sempre foi bastante difícil de coordenar, eu passei muitos anos escolhendo um ou outro e isso é uma merda. Se eu falava o que eu pensava, as oportunidades de trabalho diminuíam. Se eu focava no modo como eu queria trabalhar, eu precisava engolir muita coisa.
— Quando você percebeu que era a hora de juntar os dois?
— Quando eu me cansei dessa merda toda. – Ele foi direto, passando as mãos pelos cabelos, e sorriu um pouco. – Eu sempre recebi críticas de todos os lados. Tentavam me encaixar em uma categoria, mas nenhuma me queria totalmente. Eu trabalho com o que eu amo e eu amo música, então se eu gosto de algum som, independente do que seja, eu vou trabalhar com ele. Mas isso incomoda muita gente que acha que não é assim que as coisas funcionam, eles tinham tanto medo de que eu tomasse o lugar deles que tentaram me enfiar numa caixa. Acho que por um tempo eu tentei até me convencer a aceitar essa ideia, mas então eu pensei: que se foda. Que se foda essa merda toda. Se eu não posso fazer do meu jeito, não vou fazer de jeito nenhum. Se isso vai incomodar alguém, se vão falar mal do meu trabalho, que se foda. Vão falar mal se eu fizer do jeito deles, então que falem mal enquanto eu faço do meu.
— Você sente que finalmente conseguiu falar o que queria?
— Uma boa parte. Eu estou satisfeito com o resultado, mas sei que ainda tem muita coisa a ser dita.
— Você acha que isso pode abrir um caminho para que outros rappers se posicionem da mesma forma?
abriu um sorriso esperto.
— Já abriu. Não só por minha causa; o , por exemplo, faz isso desde o começo da carreira dele, mas foi um começo completamente diferente do meu. Mesmo assim, sei que tive uma parcela de culpa e assumo com orgulho. Se você olhar com atenção para o cenário do rap underground, vai perceber que já existe uma mudança de influências, de sonoridade, de batidas. As pessoas estão começando a buscar coisas fora do óbvio, começando a aprender que você pode usar samples de jazz, rock, soul, de diversas épocas do hip-hop, do pop, de mil gêneros diferentes, e o rap ainda vai continuar sendo rap. Já tivemos o suficiente dessa merda barata, genérica.
— Isso é um recado para os outros rappers mais velhos? – perguntou, ligeira.
O sorriso de ficou mais malicioso ainda.
— Se eles não conseguem lidar com isso, que mudem de emprego. Eu gostaria de poder dizer que sinto muito que eles passem tanto tempo sendo babacas, mas enquanto isso eu ganho mais fãs, fama e dinheiro. Fica bem mais fácil conseguir enterrar esses caras vivos quando eles estão tão distraídos pelo medo de perder o espaço sob o holofote.



A entrevista continuou por mais quase uma hora e não estava surpresa desta vez. Ela já tinha visto como se empolgava falando sobre seu trabalho e estava mais do que preparada para receber respostas longas e elaboradas, só precisando interromper a conversa uma única vez para trocar a bateria da câmera.
Isso significava que não a tinha dado nenhuma cortada em momento algum. Ela achou isso ótimo, até se lembrar de que ainda tinha mais um dia de entrevista. Sobre sua vida pessoal. Nem Deus poderia garantir que ela sairia ilesa no próximo dia.
Enquanto guardava todos seus pertences, ela sentia o olhar atento de sobre si e isso fez com que ela parasse o processo de fechar o tripé no meio, levantando seu olhar até ele.
— O que foi? – questionou, curiosa e divertida.
deu de ombros, a expressão neutra.
— Apenas tentando imaginar qual vai ser o resultado final.
riu.
— As expectativas estão tão baixas assim? Já se arrependeu de ter me proposto essa entrevista?
O rapper deu uma risadinha, mas não respondeu.



não estava tão ansiosa no dia anterior como estava agora, dentro do elevador do enorme e luxuoso prédio residencial rumo ao 25º andar, a cobertura.
Apesar do dia de ontem realmente ter sido melhor do que ela esperava, ela estava um pouco receosa. Tudo era um pouco diferente desta vez. Ela iria lidar com a vida pessoal de , dento da casa dele. Ainda soava bastante irreal.
pensou sobre a forma como conseguiam dialogar. Ela nunca havia entrevistado alguém com o tom ácido, sério, debochado e malicioso de , tudo ao mesmo tempo. Ela compreendia por que alguns perdiam a cabeça com ele, mas ontem ela entendeu um pouco mais do porquê de ele querer fazer aquela entrevista com ela. Ela se parecia com ele. Ela perguntava, ele rebatia com um comentário sarcástico e ela retrucava com um do mesmo nível, sem perder o profissionalismo. Ela não se incomodava com a malícia, com a acidez, com o jeito curto e grosso. Em nenhum momento ele havia sido desrespeitoso de qualquer forma, a deixado sem graça, constrangida ou se sentindo desconfortável. Era exatamente assim que ele havia se comportado com as outras pessoas com quem ele convivia diariamente e ela entendeu que era exatamente assim que ele era. E ela gostava disso. Gostava de saber que ele dava liberdade para que ela o respondesse como igual.
Era uma boa troca.
Mas isso não significava que ela não poderia cagar nas calças a qualquer momento.
Quando a porta do elevador se abriu e percebeu que aquele já era o interior do apartamento dele, ela precisou de uns dez segundos para refletir o quão ela era terrível e dolorosamente pobre.
Então, um latido agudo a tirou de seus devaneios e ela olhou para baixo, fitando o pequeno poodle caramelo que se agitava atrás de um par de pernas.
— Oi, coisinha linda! – não se aguentou, afinando a voz enquanto observava o cachorrinho com um sorriso no rosto.
— Uau, obrigado, mas pode me chamar só de lindo.
A jornalista levantou a cabeça e quase se engasgou com o que viu, mas seus olhos arregalados ainda conseguiam transmitir todo o choque que ela estava sentindo. A encarando com um semblante divertido, o típico sorriso debochado levemente arqueado enfeitando seu rosto, estava . Loiro. Os cabelos, agora descoloridos, platinados e emoldurando seu rosto de uma forma que o deixava... incrível. Não tinha como negar. Ele estava mais maravilhoso do que antes, como se isso fosse possível. Ela limpou a garganta somente para encontrar sua voz novamente e rolou os olhos, mas acabou rindo da fala dele.
— Bom dia, .
O rapper fez uma careta.
— Pelo amor de Deus, parece que eu estou sendo anunciado em um show. Me chame de . – Ele falou e deu três passos para trás, permitindo que ela entrasse melhor no cômodo, e o cachorrinho começou a cheirar a jornalista, curioso.
Ela quase se abaixou para tentar fazer carinho nele, mas se lembrou que, diferente do dia anterior quando usara uma calça jeans, hoje ela estava de saia. Então, se contentou com as cócegas em suas canelas, rindo enquanto o bichinho continuava a fungar.
— Qual o nome? – Ela perguntou.
, já disse.
apontou para o cachorro de maneira óbvia e riu.
— Holly.
O cachorrinho olhou para ele ao ouvir seu nome e, recebendo o olhar pidão, revirou os olhos e se abaixou para pegá-lo no colo. não conseguiu deixar de rir mais uma vez, mas o olhar afiado de a impossibilitou de fazer qualquer comentário sobre ele ser pai de pet.
— Mudança no visual, hm? – Ela iniciou, tentando não parecer nem muito interessada no assunto e nem muito interessada na conferida que dava na sala da casa de , mas era óbvio que ela estava mais do que interessada em ambos.
— Eu quis mudar para a turnê. Começa daqui dois meses, mas acho que até lá eu pinto de alguma outra cor. Sou meio ansioso. – Ele deu de ombros, agitando o cachorrinho no colo e seguindo até uma grande e bem iluminada sala de estar, muito mais aconchegante do que ela podia esperar.
Talvez ela estivesse imaginando que morasse em um lugar mais sóbrio, quase estéril, como ela costumava ver em casas de famosos nas revistas. Mas não. O ambiente, apesar de ter as paredes predominantemente cinzas e brancas, assim como os dois sofás gigantes, tinha muito pontos coloridos. Almofadas, brinquedos de cachorro espalhados pelo grande tapete escuro, quadros nas paredes, de pinturas ou com pôsteres de bandas ou de fotos, vasos com plantas. Uma grande janela de vidro ocupava toda a parede oposta e notou, de longe, que do lado de fora dessa janela ficava uma sacada com uma piscina privativa.
Mesmo assim, o destaque estava todo no piano preto brilhante no canto da sala e, atrás dele, uma parede inteira de troféus. Era deslumbrante.
— Nossa. – não conseguiu se conter, suas bochechas ficando coradas assim que ela percebeu que, mais uma vez, havia deixado seus pensamentos escaparem. – É muito bonito. – Ela achou melhor completar, sem jeito.
riu.
— Muito melhor do que o apartamento que eu dividia com o alguns anos atrás, você não conseguiria nem respirar lá dentro.
— Os reis da sujeira? – Ela brincou, arqueando as sobrancelhas.
— Não, da maconha.
gargalhou.
— Aposto que nada muito diferente dos dormitórios da faculdade, tenho certeza de que depois de quatro anos vivendo naquele lugar eu consigo respirar em qualquer condição atmosférica.
Ele sorriu, balançando a cabeça.
— Então, como vamos fazer hoje?
respirou fundo, mudando sua bolsa de ombro.
— Como a dinâmica do dia é diferente de ontem e eu não consigo te acompanhar enquanto você trabalha para registrar, eu pensei em você me mostrar algumas coisas primeiro e depois vamos para a entrevista.
— O que você quer que eu te mostre?
A jornalista mordeu o lábio inferior.
— O que você quiser, na verdade. Essa é a parte pessoal da nossa entrevista e eu gostaria muito que você se sentisse à vontade para compartilhar o que achar melhor. Algo que vá te aproximar dos seus fãs, talvez te humanizar um pouco.
ergueu uma sobrancelha.
— Você acha que eu preciso ser humanizado?
deu uma risadinha.
— Acho que todos os ídolos precisam. Quando você está tão alto, é difícil para quem está lá embaixo te ver como um igual. A partir do momento em que eles conseguem se identificar com você em mais de um aspecto, a conexão fica maior ainda.
Ele pareceu refletir por alguns segundos antes de responder.
— Você quer beber alguma coisa antes de começar? – Ele perguntou e ela negou, agradecendo. Então, ele colocou Holly de volta no chão. – Acho que já sei o que eu quero mostrar. Pode pegar o que precisa e deixar sua bolsa no sofá.
fez o que ele sugeriu, encontrando a câmera, a lapela e seu celular, deixando o caderno para mais tarde. Depois de entregar a lapela para para que ele a prendesse na camiseta, com a câmera em uma mão e o celular gravando em outra, ela o seguiu até uma das paredes e eles pararam em frente ao maior de todos os quadros.
Levou alguns segundos até que ela percebesse o que estava vendo. Sua boca se abriu um pouquinho.
— São cartas de fãs. – Ele começou a explicar, as mãos nos bolsos da calça de moletom preta que vestia. – Não cabiam todas aqui, mas essas são as minhas favoritas. São desde o meu primeiro ano de carreira até algumas semanas atrás, quando eu pedi para trocar algumas pelas novas que chegaram. Você falou sobre identificação e conexão e acho que isso aqui é a maior prova que eu tenho de que isso já existe. Porque apesar de eu me sentir assim muitas vezes, eu nunca achei que eu realmente não conseguia falar o que eu queria, eram só as pessoas que não ouviam. Mas sempre teve quem ouvisse. Sempre teve quem se importasse, quem visse que eu nunca me coloquei lá em cima, mas eu aceito essa posição se isso significar que eu posso representar todos que estiveram lá embaixo comigo.
assentiu, absorvendo aquilo em silêncio enquanto se aproximava mais um pouco para observar o conteúdo das cartas. Ela sorriu.
— Você tem alguma favorita?
— Todas. – Ele fez uma careta, mas apontou para uma. – Essa aqui, eu acho.
A jornalista leu a carta. Era de dois anos atrás, de um garoto de 18 anos de Daegu, chamado , que contava sobre como a música de o ajudava a enfrentar a depressão e a passar por crises de ansiedade. Em uma das crises, uma das piores, segundo ele próprio, o garoto estava dirigindo sozinho e precisou encostar. Sem saber o que fazer para se acalmar, ele se lembrou de repente de uma das letras de , onde ele falava sobre alguns momentos como esse, e a colocou para tocar. Aos poucos, o garoto foi se acalmando. Ele terminava a carta agradecendo o rapper sempre colocar em suas músicas aquilo que ele precisava ouvir e por fazê-lo se sentir que ele não estava tão sozinho assim no mundo.
— Depois que eu recebi essa carta, eu decidi que era hora de focar na minha mixtape. Dar mais de mim, dar o meu eu completo, não só mais algumas partes, porque em algum lugar de Daegu tinha um garoto que precisava disso.
— Você já foi esse garoto de Daegu? – Ela perguntou, se virando para olhá-lo.
— Acho que nunca deixei de ser. é , é Daegu, é tudo o que eu já fui e o que sou. – Ele respondeu, a encarando de volta. – Eu também precisei da música para me encontrar, e ainda preciso. Eu também já estive dentro de um carro, em pânico, sem saber o que fazer.
assentiu. Assim como no dia anterior, a conversa com levava à entrevista de uma forma natural, fácil, que a desarmava um pouco. Mas ali estava uma questão que ela pretendia abordar mais cedo ou mais tarde, e ela sabia que seria um ponto delicado. Talvez um daqueles que finalmente fizesse recuar. Ela não precisou de seu caderno para se lembrar das perguntas que iria fazer.
— Você falou sobre vários desses momentos em algumas músicas. Sobre depressão, fobia social, ansiedade e pensamentos suicidas. É uma forma de confortar as outras pessoas ou de desabafar?
a encarou profundamente com a expressão indecifrável, provavelmente decidindo se respondia ou não àquela pergunta. Por fim, assentiu.
— Os dois. Eu me conforto confortando outras pessoas, sabendo que posso transformar tudo o que passei em alguma coisa boa, útil. E eu também faço isso por mim, porque eu preciso tirar tudo isso de dentro da minha cabeça de alguma forma.
— Exige muita coragem para se expor desse jeito em um país onde a saúde mental ainda é um tabu. – pontuou e ele concordou.
— Sim, mas vale a pena. – Ele apontou com a cabeça em direção ao quadro e ela entendeu. tomou alguns segundos de reflexão, aproveitando para fotografar o quadro. – Acredito que você tenha algumas perguntas sobre isso. – Ele comentou, a observando.
— Se você não se importar, sim.
Ele deu um sorriso fechado e caminhou até um dos sofás.
— Então acho melhor nos sentarmos.
sorriu de volta, indo até ele e, antes de se sentar, pegando o pequeno tripé que trouxera e o apoiando em cima da mesinha de centro, encaixando ali a câmera e a angulando para focar em . Quando encontrou uma posição boa, se sentou no sofá lateral, de frente para ele. Por hábito, pegou seu caderno e sua caneta.
— Os momentos que você abordou nas suas músicas, eles são passado ou ainda parte do seu presente? – Ela perguntou, sabendo que de nada adiantaria rodear se já estava ciente do que estava por vir.
— Uma parte está no passado, mas outra ainda é presente. São coisas complicadas, que exigem mais do que colocar para fora em uma música para deixar isso para trás, mas que eu estou trabalhando para que não façam parte do futuro.
— Como você concilia esse lado com a sua carreira?
deu de ombros.
— Eu aprendi a lidar. Isso é o que eu quero para a minha vida, estar em cima dos palcos, fazer música, é quem eu sei ser. Se eu quero continuar fazendo isso, preciso enfrentar todo o resto.
— Você precisa lidar com muitas críticas pesadas pelo modo como se expressa e como construiu sua imagem pública. Isso deixa esse processo mais difícil?
— Não deixa mais fácil, mas já foi pior. No começo eu realmente me abalava com algumas coisas, me perguntava se eu não estava fazendo tudo errado, se eu não deveria voltar para a caixa. Lá era mais seguro, mais tranquilo, mas não era eu. É óbvio que não foi simples assim, eu passei por muitos dias horríveis lutando contra a ansiedade e o pânico, contra a vontade de largar tudo, mas eu tive muitas pessoas que me ajudaram a colocar a cabeça no lugar. Agora sei que a maior parte das críticas não são sobre mim, mas sim sobre o que eu represento, e isso só me deixa puto, e com a raiva eu sei lidar muito melhor.
sorriu um pouco.
— Essas pessoas que te ajudaram nesses momentos, quem são?
— Meus amigos e meu irmão, principalmente. Eu morei por mais de dez anos com o , então nos tornamos uma família, assim como os nossos melhores amigos. E o kook) foi a primeira pessoa que ouviu uma música minha, a primeira pessoa para quem eu contei sobre o meu sonho. Sempre fomos muito próximos desde crianças e, mesmo ele sendo o irmão mais novo e muito diferente de mim, ele sempre foi a pessoa que mais me motivou e me incentivou a correr atrás do que eu queria. A maioria das coisas que faço hoje são por ele. Quando as coisas começaram a ficar mais complicadas, todos eles continuaram ao meu lado.
— Você sempre teve o apoio da sua família?
Os olhos de faiscaram por um segundo.
— Sempre tive o apoio do meu irmão. — Foi o que ele respondeu e notou rapidamente que tinha tocado em alguma coisa, só não sabia o que, exatamente.
— E com seus pais? – Ela perguntou, sabendo que nem a sua curiosidade jornalística e nem a pessoal a permitiriam deixar aquilo passar.
estendeu a mão, acariciando Holly que estava deitado no sofá ao seu lado, quieto.
— Eu não vou falar sobre isso. – Foi o que ele respondeu, sem desviar os olhos de e sem parar de fazer carinho no cachorro.
Ali estava. O ponto em que finalmente batia no limite de pela primeira vez. E ela não estava surpresa por ter sido exatamente nesse momento; esperava por isso, aliás. Durante suas pesquisas para se preparar para a entrevista, não havia encontrado absolutamente nada sobre os pais de . Ela sabia sobre kook), o irmão, porque ambos já haviam sido vistos juntos várias vezes, embora o rapper nunca tenha falado publicamente sobre ele. Mas com os pais, nenhuma foto, nenhuma menção.
E ela sabia que, diferente de algum outro jornalista que pudesse ver isso como uma oportunidade para insistir e arrancar alguma coisa de , esse era o momento de recuar. E foi o que ela fez.
Assentindo, ela perguntou:
— Você tem um piano maravilhoso aqui. Foi onde algumas das músicas que conhecemos nasceram?
assentiu, parecendo nenhum pouco afetado pela resposta que dera e pela mudança no assunto.
— Algumas, sim. O piano é mais como... um escape. A maioria das músicas que eu faço aqui eu não lanço ou mostro para muitas pessoas, é mais para mim mesmo do que para os outros.
A imagem de ao piano invadiu a mente de de repente, seus olhos caindo sem que ela percebesse sobre a mão livre dele, em cima de sua perna. Ela imaginou os dedos longos e finos tocando as teclas com suavidade e precisão e algo na imagem fez com que engolisse em seco, sentindo sua cabeça um pouco aérea. Foi um pensamento que a pegou tão de surpresa que, quando ela percebeu o que tinha acontecido, seus olhos se voltaram para os de um pouco arregalados.
Ela precisou de mais alguns segundos e de checar em seu caderno qual rumo deveria tomar, torcendo para que aquele momento tivesse passado despercebido por ele. Limpando sua garganta, ela retomou:
— Você tem uma coleção surpreendente de pôsteres de diferentes bandas e artistas. Rolling Stones, Queen, Michael Jackson, Frank Sinatra... Como esses artistas te influenciaram durante os anos?
a observou por um tempo, como se tentasse resolver alguma fórmula matemática complexa, antes de, por fim, responder.



— Esse aqui foi o último que eu ganhei, no começo desse ano. Foi na premiação onde tentaram me boicotar, mas eu acabei ganhando dois dos três principais prêmios da noite e eles não puderam fazer nada.
apontou para um dos troféus na estante e riu.
Depois de mais de uma hora de conversa, a entrevista finalmente havia chegado ao fim. Mesmo depois de tudo isso, sentia que ainda havia tanto de para se descobrir... Mas por mais que a sua curiosidade por ele fosse grande, isso não cabia mais a ela. Seu trabalho ali já tinha sido feito.
— Eu me lembro dessa premiação. Escrevi uma nota sobre você ter mostrado o dedo do meio e mandado metade do país se foder durante o discurso de agradecimento ao vivo em rede nacional. Foi um dia divertido no trabalho, obrigada. – Os dois riram e franziu o cenho. – Aqui só tem um dos troféus, o que aconteceu com o outro?
— Dei de presente pro Holly. – apontou para o canto da sala, onde Holly estava deitado em uma caminha colorida. Ao lado da caminha, um pote com água e outro... gargalhou. O troféu, que tinha a base achatada e uma espécie de cuba dourada por cima, estava servindo de potinho de ração para Holly.
— Holly deve estar muito orgulhoso por ser o melhor rapper do ano. – comentou, ainda rindo, e imaginou a reação das pessoas se pudessem ver aquilo.
sorriu, como se lesse os pensamentos dela.
— Você pode fotografar se quiser. – Ele se apoio no piano, relaxado, e se aproximou para capturar o objeto em diversos ângulos diferentes. Quando ela se virou para ele novamente, a imagem de relaxado encostado no piano a fez sorrir e ela apontou a câmera para ele.
— Posso? – Ela perguntou.
apenas assentiu, sem mudar a expressão, e deixou que a jornalista o fotografasse. tornou a sorrir satisfeita quando terminou.
— Essas ficaram muito boas. – Ela comentou, animada, enquanto olhava o visor da câmera para conferir os registros de algumas partes da casa, distraída. – Esse piano é incrível, acho que é a parte mais legal do seu apartamento. Tem tanto de você nele, eu não esperava por isso.
ergueu o olhar, as sobrancelhas levemente arqueadas, surpreso com o comentário, mas ela não olhava para ele, parecia que nem havia percebido o que tinha dito. Isso o fez franzir um pouco o cenho e, alguns segundos depois, ele se sentou no banquinho em frente ao instrumento, apoiando os dedos delicadamente sobre as teclas.
recebeu a primeira nota com exasperação, levantando a cabeça para observar a cena que deu vida aos seus pensamentos de mais cedo. não toca o piano como ela imaginava. Era muito melhor.
Os dedos, ágeis, precisos, encontravam as teclas com uma suavidade que contrastava com o ar caótico e violento de , fazendo uma música grave e forte soar por todo o local. Como ele conseguia ser assim? Carregar aquela dualidade absurda? Ela já tivera tempo mais do que suficiente para entender que tinha camadas – e muitas –, mas a cada pequeno vislumbre que ela tinha de alguma dessas camadas, ela era obrigada a pensar... e pensar... e pensar. Não sabia no que pensava, exatamente, mas sua cabeça trabalhava feito louca para tentar encontrar repostas para perguntas que ela nem sabia quais eram. Um pouco trêmula, ergueu a câmera para registrar uma única foto daquele momento e alguns segundos de vídeo. Aquilo precisava ser documentado, visto, lembrado.
As notas finais chegaram, depois de horas ou minutos, e ainda estava estática no mesmo lugar, sem saber muito bem o que fazer. Aquilo tinha sido tão inesperado, tão surreal, que ela tinha receio de ter sido transportada sozinha para uma bolha fora de seu ambiente profissional. Mas ela sabia muito bem como se manter em seu papel, então forçou um sorriso contido e ignorou o barulho ensurdecedor que seu coração fazia.
a observava calado.
— Acho que isso encerra perfeitamente a nossa entrevista, . Obrigada por mostrar isso também, seus fãs irão ficar extasiados. Você toca muito bem. – Ela falou, educada e polida, mas a troca incessante do peso do corpo entre seus pés denunciava sua ansiedade interna.
acenou.
— Imaginei que fosse gostar. – Ele respondeu, simples.
sorriu e tomou coragem para se mexer, desligando a câmera e colocando os cabelos atrás das orelhas, inquieta, enquanto ia até o sofá.
— Vou te encaminhar uma cópia da entrevista antes de enviar para meu editor, então eu agradeceria se você me mandasse uma mensagem mais tarde com algum e-mail. – Ela falou enquanto guardava seus equipamentos, concentrada. – Não é comum, mas eu me sentiria um pouco mais confortável dessa forma, já que você está sem assessoria.
— Não precisa. Eu confio no seu trabalho.
levantou os olhos e, antes que pudesse responder qualquer coisa, um raio cruzou o céu através da grande parede de vidro e, alguns segundos depois, ela se assustou com o barulho alto de um trovão.
Ela franziu o cenho.
— Não tinha percebido que estava chovendo. – Comentou, assustando-se com a visão do céu escuro e chuvoso do lado de fora.
se virou para olhar, parecendo também um pouco surpreso com a mudança no tempo, a tempestade batendo forte contra a piscina.
— Bom, então é isso. – sorriu, se levantando e recolhendo seus pertences. – Muito obrigada, . Espero que você fique satisfeito com o resultado.
se levantou, dando um sorriso fechado.
— Eu também espero. – Ele a acompanhou até o elevador, esperando curioso por alguns segundos enquanto se despedia de Holly, que havia acabado de acordar. – Eu te acompanho até seu carro.
balançou a cabeça.
— Obrigada, mas não precisa, não vim de carro. Vou chamar algum por aplicativo lá embaixo.
O rapper arqueou as sobrancelhas.
— Você não vai conseguir um carro nesse bairro com uma chuva como essa tão fácil assim.
deu de ombros.
— Não tem problema.
revirou os olhos. Para a surpresa total de , ele se colocou para dentro do elevador.
— Eu te levo.
Uma risada incrédula escapou da jornalista.
— O que?
— Eu te levo. Anda. – Ele repetiu, impaciente.
Ela não andou.
— Isso é... , muito obrigada, mas não precisa mesmo se incomodar. Tenho certeza de que não vai demorar tanto assim para encontrar um carro.
Ele a encarou como um adulto encara uma criança teimosa.
— Eu preciso sair de qualquer forma. Vamos.
abriu a boca para retrucar mais uma vez, mas o olhar dele a calou. Suspirando, ela apenas balançou a cabeça, concordando, e entrou no elevador.
Aquela entrevista definitivamente estava proporcionando à jornalista momentos peculiares, para dizer o mínimo. Mas, honestamente, o que, vindo de , era comum? Ela tinha certeza de que só conseguiria digerir tudo horas depois, quando estivesse em sua casa, sozinha.
Quando chegaram ao subsolo, a guiou até uma parte reservada do estacionamento e não se surpreendeu ao observar que era uma área exclusiva para os carros deles. E ela não saberia nem dizer quais eram todos os modelos de luxo ali, mas só de ver as marcas de cada um – Bugatti, Jaguar, Mercedes, Lamborghini, Ferrari, Tesla –, ela sabia que qualquer um na editoria de automóveis gostaria de estar em seu lugar. até considerou por alguns instantes se não valia a pena fotografar isso, mas concluiu que, perto de tudo o que descobrira sobre hoje, milhões em carros não eram tão interessantes assim.
Em um painel na parede, ele retirou uma chave e andou até o modelo mais discreto da coleção, uma Range Rover preta.
— Você poderia ter me contado que também coleciona carros além de camisas de basquete. – comentou, arqueando as sobrancelhas.
deu de ombros, abrindo a porta do motorista e esperando que ela desse a volta no carro até o outro lado.
— Me dou o luxo de ter alguns brinquedos além do meu PlayStation. – Ele respondeu enquanto ela se sentava no banco do passageiro, rindo.
— Justo. – colocou o cinto de segurança e ajeitou suas coisas em seu colo. – Se eu tivesse esse poder, também me mimaria um pouquinho. Coisas simples também, só o básico.
riu baixinho, ligando o carro e dirigindo até a saída do estacionamento.
— E quais seriam seus mimos?
— Hmm... – desviou o olhar assim que percebeu que a visão de dirigindo era interessante demais para seu próprio bem psicológico. Ela colocou a mão no queixo, pensativa, e o carro saiu do prédio, sendo recebido pelas fortes gotas de chuva enquanto seguia em direção ao endereço que a jornalista havia dito no elevador. – Não sei, na verdade. Acho que nunca nem pensei sobre isso. A minha mente só consegue pensar que eu teria uma banheira gigante, uma adega de vinhos obscenamente caros e uma estante com todos os livros que eu quisesse. Então, eu leria tal qual uma madame enquanto bebia vinho na banheira cheia de espuma.
riu um pouco mais alto, balançando a cabeça, e o acompanhou.
— Já seria um mimo melhor do que o do , pelo menos.
— Por quê? A coleção de carros dele não faz seu estilo? – Ela perguntou, curiosa.
— Coleção de bicicletas. E plantas. Ele não sabe dirigir. – respondeu, um sorriso divertido nos lábios, e abriu a boca.
— O que?! – Ela exclamou, chocada. – Eu já vi várias matérias sobre os carros dele... Não acredito nisso.
riu.
— Espero que o seu faro jornalístico seja melhor do que o de quem escreveu essas matérias então, porque... – Ele deixou a frase no ar e revirou os olhos, rindo.
A música baixa que vinha do som do carro embalou a conversa tranquila dos dois durante o trajeto e só percebeu que estavam chegando quando avistou seu prédio no final da rua. parou o carro em frente à portaria alguns segundos depois.
— Muito obrigada pela carona. Você não precisava mesmo ter feito isso, foi muita gentileza. – Ela agradeceu educadamente, ajeitando novamente seus pertences no braço para poder sair.
acenou.
— Não foi nada.
— Bom, eu te envio tudo conforme falei mais cedo. Qualquer coisa pode me mandar mensagem. Boa tarde, , e obrigada mais uma vez. – Ela sorriu e se virou, abrindo a porta e soltando um suspiro pesado quando as gotas pesadas atingiram seu braço.
— Espera.
Ela se virou para a voz de , o encontrando debruçado sobre o banco para alcançar alguma coisa no banco traseiro. Quando ele voltou, estendeu uma jaqueta de couro para .
— Toma.
encarou a peça de roupa, confusa, e ele suspirou, olhando para a rua pela janela.
— Tá uma puta chuva do caralho. Se você molhar suas coisas, eu não vou refazer essa merda toda. – Ele avisou e riu anasalado.
— E eu achando que você tinha adorado a experiência. – Ela zombou.
fez uma careta.
— Só porque não foi infernal como das outras vezes, não quer dizer que eu tenha deixado de odiar entrevistas.
estreitou os olhos.
— Vou levar isso como um elogio. Mas não precisa, são menos de cinco metros até a portaria, não é como se fosse inundar minha bolsa nesse tempo.
bufou e jogou a jaqueta no colo dela.
— Eu nem vou conseguir te devolver depois, não precisa mesmo.
— Porra, , só aceita essa merda. E eu sou de Daegu e sei teu endereço, não vou deixar você me roubar, não se preocupe.
A jornalista revirou os olhos, vencida pelo cansaço e colocando a jaqueta de couro em cima da cabeça antes de sair do carro.
Eu sou de Daegu... Vou colocar na entrevista que você ameaçou a jornalista. – Ela resmungou enquanto colocava o corpo para fora do carro, fechando a porta e correndo até a cobertura da portaria.
riu e, depois de ver acenando para ele já do lado de dentro do prédio, arrancou com o carro de volta para casa.



A cabeça de estava pegando fogo.
Todo o peso do que aconteceu nos últimos dias pareceu cair como uma bigorna gigante sobre seus ombros no exato momento em que ela se sentou em sua mesa de trabalho dentro de seu quarto e ligou seu computador. Nem o banho que ela tomara minutos antes e o pijama quentinho pareciam confortá-la agora.
Enquanto a câmera descarregava as fotos e vídeos dos dois dias, sua mente tentava processar todas as novas informações. Não era apenas sobre o que ela descobrira de durante a entrevista, mas sim sobre o que foi além disso.
sabendo quem ela era. a escolhendo pessoalmente para entrevistá-lo. aceitando falar sobre sua vida profissional e pessoal. a recebendo em seu estúdio e em sua casa. a deixando em casa.
mordeu o lábio, nervosa. Puta merda, será que ela tinha perdido a noção das coisas e tinha passado completamente dos limites? Como ela foi capaz de aceitar que seu entrevistado lhe desse uma carona?!
E ela sabia que ele a havia escolhido para essa função por sentir que ela conduziria a entrevista de uma forma que ele julgava mais adequada, mas será que ela fez isso?
Ouvindo os áudios da conversa entre os dois, podia notar claramente que a entrevista fora sim a mais natural que já fizera e ela estava bastante orgulhosa por ter feito se sentir tão à vontade assim, mas alguma coisa em sua mente gritava alerta.
Ela selecionou a foto de ao piano e respirou fundo, sentindo a mesma sensação de quando presenciou a cena horas atrás. era um ser humano fascinante em todas as nuances que ele demonstrara, e ela sentia que tinha muito mais para se ver. Para a entrevista, o que ele mostrou era mais do que suficiente. Mas o alerta que gritava na mente da jornalista estava ligado ao fato de que seu interesse em descobrir as outras faces do rapper não tinha nada a ver com seu lado profissional.
decidiu que não era hora para se preocupar com aquilo; estava em um excelente estado de humor e foi apenas isso, era ela quem estava se deixando levar por uma bobeira. Agora, ela tinha uma entrevista gigante para editar. Então, deu play novamente no áudio do primeiro dia e começou a transcrevê-lo.



Três dias depois, estava pronto.
Eram seis da manhã de segunda-feira quando terminou de escrever e revisar a entrevista e o artigo completo. Suas costas doíam, sua mão estava um pouco inchada, ela já havia tomado três latinhas de energético e uma caixa de pizza estava vazia em cima da mesa, mas estava feito. O vídeo estava editado. As fotos, tratadas e selecionadas.
E era, de longe, seu melhor trabalho até agora. Ela nunca se entregara tanto em um texto, mas relendo-o incansáveis vezes, ela podia ver que tinha valido a pena. Colocar em palavras não havia sido um trabalho fácil, mas algo dizia que ela tinha acertado. estava orgulhosa. Estava perfeito.
Ela esperava que os leitores também achassem isso. E .
Só faltava mostrar para Yeonbun. E essa era a parte que a preocupava.
conhecia Yeonbun. Sabia que aquela entrevista seria como um presente divino em suas mãos. Uma vez que ela dissesse a ele o que tinha, ele tentaria arrancar isso dela a qualquer custo, mas não queria vender sua entrevista sem saber o que seria dela depois. Porque Yeonbun jamais iria financiar sua conversinha inútil.
Então, ela imprimiu todo o artigo e colocou as mídias em um pen drive.
Tomou um banho para recarregar as energias e, mesmo tendo virado a noite, se trocou para ir trabalhar.
Antes de sair de casa, mandou uma mensagem para Peter.


Park: Peter, você pode me fazer um favor?

Peter Daley: O que você não me pede chorando que eu não faço sorrindo, meu anjo?

Park: Te amo. Sabe aquele seu amigo que trabalha com TI?

Peter Daley: O que já foi preso algumas vezes por invadir contas de bancos?

Park: O próprio.



04. I'm D boy because I'm from D

— Como você conseguiu isso? – Yeonbun encarou com o olhar tão raivoso quanto o de um lobo faminto, segurando as folhas com a entrevista.
respirou fundo.
— Isso não importa, Yeonbun. O que importa é que eu tenho provavelmente a melhor entrevista da carreira do e estou oferecendo uma chance para que ela seja publicada na Korea Times.
Yeonbun riu.
— Você trabalha para mim, Park.
— A entrevista não foi para o jornal, foi para mim.
— E qual a porra da diferença?
arqueou a sobrancelha.
— Você quer que eu te explique em termos legais?
Ele bufou.
— Eu quero que você me explique como caralhos conseguiu passar dois dias com o quando nós estávamos há mais de meses tentando contato com esse merdinha e ele nos ignorando. Deu pra ele pra conseguir isso, Park?
A expressão de não se alterou.
— Eu acho bom você me respeitar, Yeonbun. E eu não tenho culpa se você colocou incompetentes para lidar com ele. Vai querer ou não publicar a entrevista?
— Eu não vou te pagar por ela, .
— Tudo bem, eu vendo para outro veículo. – pegou as folhas da mão dele e se virou, pronta para sair.
— Porra, espera, caralho! – Ele gritou e ela se virou para ele, a expressão tão neutra quanto a de . – Quanto você quer por essa merda?
tirou de sua bolsa um papel com o valor da notícia e estendeu para ele. Yeonbun riu.
— Tá brincando com a minha cara? Tá achando que vale tudo isso?!
— Você sabe que vale muito mais.
Yeonbun grunhiu.
— Me manda tudo o que você tiver, quero revisar antes de publicar. Vou falar pra alguém do financeiro acertar o pagamento com você.
— Eu já fiz a revisão, Yeonbun, não precisa se preocupar. Eu farei a publicação.
Ele riu, ácido.
— Esqueceu quem é o chefe aqui, ? E você ainda está de castigo, não é por causa de uma entrevista que você vai voltar.
suspirou.
— Yeonbun, eu não quero nenhuma alteração no conteúdo.
— Isso quem decide sou eu.
— Não, não é. Eu estou te vendendo a entrevista como ela deve ser publicada, se não, nada feito.
— Eu ainda vou precisar revisar tudo antes de publicar, Park.
Era isso. Ali estava o beco sem saída que sabia que Yeonbun a levaria. Respirando fundo, ela assentiu, tirando o pen drive da bolsa e o entregando a ele junto com o termo de uso da entrevista.
— Muito obrigado. – Yeonbun agradeceu, irônico, pegando o objeto. – Pode sair agora.
Travando o maxilar, saiu da sala.



— O filho da puta está editando o arquivo.
conteve um grito de ódio, observando a tela do notebook de , o amigo de Peter que havia instalado um programa no pen drive de e que agora permitia que eles acompanhassem tudo o que Yeonbun ou qualquer um que recebesse os arquivos fizesse em seu computador.
Os quatro observavam Yeonbun alterar o título da entrevista de “Os lados A e B do garoto de Daegu” para “BOMBA: As duas caras de reveladas em entrevista exclusiva”.
— Eu sabia que isso ia acontecer. Não sei nem como eu tive esperança de acreditar que ainda poderia dar certo. – Ela respondeu frustrada, cruzando os braços em cima da mesa do café do prédio da redação onde ela, , Peter e Jae estavam reunidos.
— Pelo menos agora você pode meter um processo no cu desse babaca. O termo era bem claro em relação ao conteúdo ser publicado na íntegra. – Jae disse, tão raivoso quanto .
— Como se eu tivesse dinheiro para processar alguém.
— Eu conheço ótimos advogados, posso te indicar algum. E se você precisar de dinheiro, eu conheço um cara que-
, pelo amor de Deus, a não vai se meter com agiota. – Peter o cortou, horrorizado.
ergueu as mãos, rendido, e riu. O rapaz era tão surreal, com seus cabelos loiros e seu rosto absurdamente lindo e angelical, que era difícil acreditar que era um gênio do crime cibernético.
— Muito obrigada, , mas acho que vou recusar. Você consegue deletar os arquivos, certo?
— Claro. Vou fazer isso agora e... Espera, olha só.
apontou para a tela e os quatro acompanharam a troca de mensagens entre Yeonbun e Choi.


Yeonbun: Quero que publique isso daqui no site hoje de madrugada, sem falta. Manda pra alguém fazer a diagramação pra primeira página do jornal de amanhã.

Choi Zyang: Sim, senhor. É a publicação da Park? Devo manter os créditos, senhor?

Yeonbun: Não é a publicação da Park, é minha. Pode assinar com meu nome. Depois eu dou um jeito naquela garota. Apenas faça o que eu mandei.



— Ele realmente roubou a sua entrevista.
respirou fundo, sentindo o ar queimar seus pulmões enquanto Jae encarava a tela boquiaberto.
— Deleta todos os arquivos, .
assentiu e começou a digitar rapidamente no notebook, concentrado.
Peter segurou nas mãos de em cima da mesa.
— O que você vai fazer agora, meu anjo?
deu de ombros.
— Eu não vou aceitar isso, Peter. O Yeonbun age dessa forma nojenta há anos, eu tô cansada de aceitar essas coisas vindo dele. Se ele não vai publicar a entrevista que eu fiz, não vai publicar entrevista nenhuma.
— Você sabe que ele vai ficar puto com isso, certo? – Jae perguntou.
— Eu sei.
— E sabe também que as chances de ele fazer algo pior do que te deixar de castigo no matagal são enormes, certo?
— Eu sei. E tudo bem. – Ela respondeu resignada, porém seu olhar mostrava que a decisão já estava tomada. – Eu já esperava por isso, Jae. Quando eu aceitei toda essa história de entrevista, eu sabia que só teria um final possível.
Jae assentiu, entendendo.
— Pronto, está feito. Todos os arquivos foram apagados, incluindo a cópia que ele fez e o anexo que mandou por mensagem. E só pra constar: o histórico de navegação desse cara é podre. Devo ligar pra polícia? – perguntou, apontando um dedo para a tela do notebook.
No mesmo instante, o celular de começou a tocar em cima da mesa. Yeonbun.
Ignorando a chamada, ela respirou fundo e se levantou, pegando seus pertences.
— Vou subir e terminar isso de uma vez.
— Tem certeza de que vai mesmo fazer isso? – Peter perguntou.
— Absoluta.
— Então trate de mandar aquele babaca para a casa do caralho. – Jae piscou para ela, que riu.
— Muito obrigada pela ajuda, .
O rapaz sorriu.
— Por nada. Boa sorte e sempre que precisar é só chamar.
sorriu antes de se virar e sair da cafeteria.



— Onde você se meteu, porra?! Eu estava te procurando que nem louco! – Yeonbun gritou quando entrou na sala dele. – Que merda é essa que você tá carregando? Foda-se, não importa, preciso de outra cópia dos arquivos agora. Urgente!
respirou fundo e colocou a caixa com seus pertences em cima da mesa de Yeonbun com força, fazendo-o se sobressaltar.
— Não.
— Não o que? E tira isso da minha mesa.
— Não, eu não vou te dar cópia de nada. Você perdeu sua chance de publicar a entrevista, Yeonbun. Eu avisei que não queria que ela fosse editada.
— Do que você tá falando?!
— Não se faça de sonso. Você ia publicar a entrevista alterada e ainda ia levar os créditos por ela. Você acha que eu sou trouxa, Yeonbun? Eu já aguentei muita merda vinda de você, mas chega. Pra mim já deu.
, a entrevista. Agora.
— Não, Yeonbun. Não vai ter entrevista nenhuma.
Os olhos dele faiscaram.
— Se você não me der essa bosta agora, eu vou-
— Vai o que, seu merda? Me demitir? – riu e apontou para a caixa em cima da mesa. – Pois não seja por isso. Eu tô fora, tá legal? Chega. Não vou mais trabalhar desse jeito e ser desrespeitada assim.
Yeonbun gargalhou.
— Você tá maluca? Você não vai encontrar nenhum emprego se sair daqui, Park. Se você não me entregar essa entrevista, eu faço questão de acabar com seu nome em todas as redações de Seul.
revirou os olhos.
— Eu consegui sozinha sem usar o nome da Korea Times uma entrevista com a celebridade mais requisitada do momento e você acha que eu vou ter medo de alguma ameaça sua? Acha mesmo que eu não sou boa o suficiente?
— Você só pode estar brincando com a minha cara.
— Eu nunca falei tão sério na minha vida.
Yeonbun apoiou as mãos na mesa, curvando o corpo e encarando furioso.
— Você vai se arrepender disso, Park. – Ele ameaçou.
— Vou pagar pra ver. Mas fora daqui. Vai se foder, Yeonbun. Espero que você e todos os jornalistas imorais desse país vão para a puta que pariu. Vocês estão com os dias contados, esse sensacionalismo barato não vende pra mais ninguém além de outras pessoas podres como você.
Yeonbun rosnou.
— Sai da minha sala, desgraçada.
— Com prazer. – sorriu, pegando seu crachá e jogando em cima da mesa de Yeonbun. Pegou sua caixa e se virou, indo em direção à porta. Antes de abri-la, parou: – Ah, esqueci de te dar uma coisa. – Ela levou a mão livre até a abertura da caixa, pegando algo lá dentro e a erguendo novamente na frente de Yeonbun. Quando abriu a mão, levantou seu dedo do meio.
— Fora! – Yeonbun gritou e saiu, gargalhando.



Então era isso, pensou enquanto descia dentro do elevador, observando suas coisas dentro da caixa que ela havia organizado antes de ir até a sala de Yeonbun, já ciente do que aconteceria em seguida, com seus cadernos, notebook, arquivos, decoração de mesa. E Pepito. Sua vizinha de mesa da editoria de jardinagem havia dado o cacto de lembrança para e ela, apesar de comovida com a atitude, encarava Pepito com desconfiança.
suspirou, fechando os olhos e apoiando a cabeça na parede do elevador atrás de si. Bom, ela estava oficialmente desempregada. Ela ainda não sabia muito bem como se sentia sobre isso, mas sabia que havia sido a decisão certa.
Antes que ela pudesse refletir um pouco mais, as portas se abriram e ela atravessou o hall do prédio, saindo para a calçada. apoiou a caixa em um muro baixo e alcançou seu celular para pedir um carro, mas uma buzina a fez levantar a cabeça em reflexo.
Parado em frente à calçada em que estava, uma Range Rover preta muito familiar chamou a atenção dela. Ela franziu o cenho, curiosa, mas os vidros negros a impediam de ver qualquer coisa em seu interior. Então, a buzina soou mais uma vez, vinda daquele carro, e ela ergueu as sobrancelhas.
Não era possível.
Era?
Como se adivinhasse os pensamentos de , seu celular vibrou em sua mão com uma notificação.


: Espero que a minha jaqueta esteja dentro dessa caixa, eu disse que não ia deixar você me roubar.



riu, balançando a cabeça em negação e se virou para pegar a caixa novamente. Ela andou até o carro e abriu a porta do carona, entrando.
A expressão de era neutra, mas já conseguia perceber algumas coisas sobre ele.
— Como você sabia? – Ela perguntou, certeira, e ele deu de ombros.
me contou.
? – Ela questionou, confusa.
— Aparentemente ele e seus amigos do outro dia no café ficaram mais próximos do que eu imaginava enquanto nós conversávamos. Eles têm um grupo para falar sobre dicas de plantas e fofocar. Seus amigos falaram pra ele e ele me contou.
riu.
— Eu queria dizer que não acredito nisso, mas isso é tão a cara do Jae e do Peter... – Ela riu mais uma vez. – Bom, isso não explica por que você veio até aqui. – Ela completou, sem medo de soar rude.
ergueu o lábio em um sorriso torto, um pouco desconfortável.
— Quando eu te propus essa entrevista, não imaginei que te colocaria nessa situação. Sinto muito.
arregalou um pouco os olhos, surpresa.
— O que?
— Se eu soubesse que você poderia perder o emprego por minha causa, não teria sugerido nada disso.
prendeu seu olhar ao dele, sorrindo.
, quando eu aceitei fazer isso, eu tinha plena consciência do que estava fazendo. Eu sabia muito bem o que Yeonbun poderia fazer, isso não foi nada inesperado. Você não precisa se sentir de forma alguma sobre isso porque não tem nada a ver com você, foi uma decisão minha. – Ela disse, firme, e ele suspirou.
— Você perdeu seu emprego por minha causa. – Ele repetiu, resignado como uma criança teimosa e riu.
— Não, eu me demiti por causa de Yeonbun e da forma como ele conduzia aquela redação. , há anos que eu me questiono se aquele lugar realmente é pra mim, se eu me encaixava mesmo lá. Eu fiquei muito tempo sendo marionete do Yeonbun e quando eu comecei a acreditar que estava tendo mais autonomia, percebi que era só mais uma forma dele me controlar. Tudo o que aconteceu foi uma ótima oportunidade pra eu perceber que eu quero muito mais do que aquele lugar podia me oferecer. Eu valho mais do que aquilo e consigo fazer muito mais se tiver a oportunidade certa. E isso eu devo a você, por ter me dado essa oportunidade. Não sei se eu teria vivido isso se não fosse por você e te agradeço por ter me escolhido.
sustentou o olhar dela por alguns segundos, em silêncio. Então, virou o rosto para a janela.
— Não muda o fato de que você está desempregada.
gargalhou.
— Bom, é, ok, isso é uma merda, mas eu já estive desempregada antes e vou sobreviver. Se a sua preocupação é com a minha situação na estatística dos empregados do país, pode ficar tranquilo que eu fiz bons contatos durantes os últimos anos, devo conseguir alguma coisinha em algum lugar. – Ela sorriu e ele riu, baixinho.
— Então quer dizer que nem sempre você está brigando com seus colegas de profissão.
— Nah. Eu também brigo com eles.
Os dois riram juntos e sorriu. Gostava de ver rindo porque gostava do som que ele fazia ao puxar o ar e de como seus dentes e gengivas ficavam à mostra quando era um sorriso genuíno. Ele parecia absolutamente inofensivo desse jeito, o olhar felino se transformando em um gatinho, mesmo com os anéis nos dedos e correntes em volta do pescoço.
— Eu acho que também tenho um contato que pode te ajudar. – Ele disse, sorrindo, e arqueou as sobrancelhas.
— Vai me deixar entrevistar o Holly para conhecer um lado C de ? – Ela brincou e ele riu novamente.
— Melhor. , da Rolling Stone em Seul.
franziu o cenho.
— Eu conheço o nome, mas não a pessoa. Como ele poderia me ajudar?
— Ele entrevistou o ano passado e desde então vem tentando uma entrevista comigo também. Na verdade, ele se tornou amigo do e nós costumamos sair juntos algumas vezes para beber e comer. Ele é um cara bem legal, meio agitadinho demais, mas o trabalho dele é ótimo e ele se interessou pela entrevista.
Havia muita coisa para processar na fala de , mas focou em apenas uma:
— Se interessou?
deu um sorriso ladino.
— Espero que você não se importe, mas eu enviei a entrevista para ele pouco tempo depois que o me avisou o que tinha acontecido.
franziu o cenho.
— Mas eu não te mandei a entrevista. Você disse que não queria ver antes de ser publicada.
— Não, mas um cara chamado me mandou depois que eu pedi pro perguntar pros seus amigos se eles tinham como me enviar.
arregalou os olhos.
hackeou meu computador?!
— Você pode decidir se agradece ou processa o cara depois, o que importa é que o quer conversar com você, .
Ela respirou fundo, perdida.
— Ok, quando?
ergueu o pulso e olhou seu Rolex prateado.
— Hm. Agora.
— O que?! – Ela exclamou um pouco alto demais.
a ignorou e ligou o carro.
— Coloca o cinto.
— Você vai me levar lá? – Ela perguntou sem necessidade, já que já estava dirigindo. Ele apenas deu de ombros e ela riu. – Desse jeito eu vou ficar muito mal-acostumada, nunca mais vou querer entrar em um Uber na minha vida. Quando eu precisar ir ao mercado, vou só te mandar uma mensagem. – Ela brincou.
— Você não é tão ruim assim para uma jornalista, Park, mas não exagera.
— E você não é tão ruim assim para o terror da família tradicional coreana. – Ela devolveu e os dois riram.



Duas horas depois, duas batidas na janela do carro acordaram , que dormia no banco do motorista dentro do estacionamento do prédio onde ficava a redação da Rolling Stone.
— Eu não acredito que você ficou esperando. – falou ao entrar no carro.
coçou os olhos.
— Você não mandou nenhuma mensagem, eu imaginei que estivesse no meio de alguma conversa, então também não mandei. – Ele respondeu, simples.
sorriu, culpada.
— Me desculpa, eu estava sim.
Ele a encarou, esperando que ela falasse, mas ela continuou quieta e sorrindo. Ele revirou os olhos, impaciente.
— Então...?
O sorriso de se alargou.
— Parabéns, , você vai sair na edição deste mês da Rolling Stone. Que, por sinal, está sendo fechada hoje para ser veiculada depois de amanhã.
riu, fechando os olhos ao jogar a cabeça para trás. Antes que ele pudesse abrir a boca para dizer alguma coisa, falou:
— Calma, tem mais. – Ela riu com a sua reação. – Um dos dois motivos pelos quais eu estava lá até agora é que a entrevista não vai sair apenas na versão coreana da Rolling Stone. – Ela fez uma pausa para balançar a cabeça, como se nem ela estivesse acostumada com a ideia ainda. – Vai sair na versão norte-americana também. Nós estávamos resolvendo toda a questão da tradução da entrevista, ela vai sair na versão física e na online, já amanhã. É meia-noite agora em Nova Iorque e tem pelo menos três pessoas correndo para fazer isso acontecer.
A boca de se abriu.
— O que? – Pela primeira vez, era ele quem parecia surpreso.
— Uhum, senhor ingressos mundialmente esgotados. Aparentemente não é só a Coreia que anda de olho em você, e sim o mundo todo. – sorriu e ele revirou os olhos, porém continuou sorrindo.
— E o outro motivo? – Ele perguntou.
se ajeitou no banco e mordeu o lábio antes de responder.
— Eu devo ter quebrado algum recorde de tempo mínimo de desemprego do país. – Ela começou dando uma risada nervosa e ele arqueou as sobrancelhas. – O me fez um convite para fazer parte da equipe dele, . E eu aceitei.
parecia mais surpreso do que antes, a boca aberta sem falar nada e os olhinhos arregalados. Então, na expressão que julgou ser a mais fofa que já o vira fazer até o momento, ele soltou uma risadinha baixa, fazendo um barulhinho engraçado.
— Isso é... incrível. – Ele chacoalhou a cabeça, as gengivas à mostra.
sorriu de volta, presa no olhar dele.
— Eu sei. – Ela riu, empolgada. – Acho que de todas as reviravoltas que o meu dia poderia ter, essa foi a mais surreal de todas. Muito obrigada, , de verdade. Eu nem sei como te agradecer. Se não fosse por você, eu-
— Não me agradeça, Park. – Ele a cortou, suave. – Isso é cem por cento mérito seu e do seu trabalho, não tem nada a ver comigo.
riu, sem graça.
— Você me procurou, confiou em mim, me deu a entrevista, conversou com o , me trouxe aqui... – Ela deu de ombros. – Parece que fez o bastante, pra mim.
— Eu só estava tentando garantir que não tinha fodido a sua vida de alguma forma. – Ele piscou e ela revirou os olhos.
— Bom, parece que tudo terminou muito bem a meu ver. A entrevista vai ser publicada aqui e nos Estados Unidos, me livrei do pau no cu do Yeonbun e ainda começo no emprego novo semana que vem. Pode dormir tranquilo hoje.
riu.
— Fico feliz com isso.
— Eu também. – Ela sorriu de volta.
Os dois sustentaram os olhares e os sorrisos por alguns segundos, até que sentiu a necessidade de dizer algo quando percebeu que estava se perdendo na expressão bonita de .
Ela piscou algumas vezes para acordar.
— Eu agradeço mesmo por tudo, , mas não vou mais tomar seu tempo. Já te dei trabalho demais nesses últimos dias e peço desculpas por isso. Você é uma ótima pessoa e eu espero ter conseguido passar pelo menos um pouco disso na entrevista.
a encarou da mesma forma como fizera no apartamento quando ela falara sobre o piano antes dele começar a tocar. Ele deu um sorriso de lado.
— Acho bom ter conseguido passar isso mesmo, ou então o seu primeiro salário aqui vai ser para pagar um advogado para lidar com o meu processo.
riu.
— A culpa é sua por não querer ler antes. Eu avisei.
— Isso que dá querer confiar em jornalistas. – Ele riu. – Mas eu te dou uma carona mesmo assim.
Ela suspirou.
— Eu realmente não quero incomodar mais, . Eu já estou meio sem graça por abusar tanto.
— Se você estiver desconfortável, eu não vou insistir. Mas se o seu desconforto for por achar que está me incomodando, saiba que isso não é verdade e que eu realmente não me importo.
Ela tentou procurar por algum sinal de mentira nos olhos dele, mas sabia que não iria encontrar nada. não era assim, ele não era o tipo de pessoa que se dava o trabalho de mentir só para confortar uma estranha.
Então, ela sorriu tão genuína quanto ele.
— Ok, eu aceito.



I'm D boy because I'm from D: Os lados A e B do garoto de Daegu
Passar dois dias com parece não ser o bastante para sequer começar a desvendar como funciona a mente genial e a alma inquieta do rapper mais famoso da Coreia, mas é o suficiente para sabermos que ele veio para ocupar um lugar que é seu por merecimento. E nós precisamos dele neste lugar.
Em uma entrevista exclusiva, fala sobre sua vida profissional e pessoal e mostra porque fascina e incomoda tanta gente com a mesma intensidade. Por Park

05. Tongue technology

fechou a porta de vidro da sala de e se sentou na mesa, de frente para ele.
— Foi um primeiro dia e tanto, . – Ele disse, sorrindo aberto, e ela sorriu de volta para o moreno.
— Acho que foi o melhor primeiro dia de trabalho que já tive na minha vida. Me senti como uma criança chegando na escolinha pela primeira vez e encontrando o parquinho. – Os dois riram.
— Bom saber disso. Acho que você já sabe, mas fechamos o quinto dia como o site mais acessado do país e com a edição mais vendida do ano. O nosso site passou os dois primeiros dias depois da publicação da entrevista instável por conta dos acessos e nossas redes sociais estão explodindo de comentários até agora. A entrevista ficou três dias nos assuntos mais comentados mundiais e ainda estamos esperando um relatório dos dados de vendas e acessos norte-americanos, mas já sabemos que foram muito positivos. Isso é muito significativo e mostra que acertamos na sua contratação. É óbvio que nós não esperamos que seja sempre assim, mas foi um acerto e esperamos continuar no caminho certo. Acho que você pode nos ajudar muito nisso.
se segurou para não pular pela sala. Seus últimos dias desde a publicação da entrevista haviam sido absurdos. Além de ter recebido convites de trabalho para mais de quatro lugares diferentes, a melhor, e mais tranquilizante, parte, tinha sido receber uma cesta de café da equipe de assessoria de no dia seguinte, com um rápido bilhete que mostrava que, apesar de descontentes com a travessura dos dois, o resultado havia sido aprovado.
— Eu não sei nem o que dizer, de verdade, mas fico muito feliz por saber que fiz parte disso. Vou me esforçar para melhorar e poder contribuir com a revista.
— Tenho certeza de que vai. Hoje foi um dia muito corrido para te ambientar, mas amanhã quero sentar com você para discutirmos algumas pautas. Temos alguns projetos engavetados que eu acho que pode ser a hora perfeita para colocá-los em prática. Também temos uma possibilidade de uma cobertura exclusiva dos preparativos da nova turnê do e acho que você poderia gostar de fazer parte disso.
Dessa vez, ela não se conteve. Deu um pequeno gritinho animado, empolgada.
— Meu Deus, é óbvio que eu vou amar! O é apenas o maior idol da geração... Caramba. Amanhã vou chegar duas horas mais cedo só para podermos conversar, .
riu, uma risada alta e escandalosa que ecoou pela sala e confirmou aquilo que já tinha percebido no dia em que conversaram pela primeira vez: era energia pura e contagiante, e ela se sentia absurdamente cativada por ele.
— Ótimo, estamos começando bem, então. Te vejo amanhã, Park. Qualquer dúvida que você tiver, ou ideia, ou seja lá o que for, pode me chamar sem problemas.
Ela sorriu e se levantou para se curvar ligeiramente, agradecida. Meu Deus. O contraste entre e Yeonbun era tão gritante que se sentia como uma pessoa que havia ficado presa em uma caverna escura por anos e estava revendo a luz agora pela primeira vez.
— Obrigada, . Se precisar, pode me chamar também. Até amanhã.
Ele assentiu de volta, sorrindo, e ela saiu da sala.



Son Jae: Pq vc ainda não mandou mensagem contando como foi o primeiro dia, Park?!

Peter Daley: já contou para que contou para que contou pra gente que você já terminou de falar com ele há mais de quinze minutos então PQ PORRAS VC AINDA NÃO CONTOU TUDO PRA GENTE CARALHO????

Park: MEU DEUS???

Park: Primeiro: eu tava no banheiro. Segundo: fiquei conversando com uma das minhas novas colegas de trabalho e sendo legal pq EU PRECISO FAZER NOVOS AMIGOS. Terceiro: tô no elevador, quando eu chegar em casa conto tudo pras bonitas, adeus.

Park: Obs.: Vocês parecem um bando de velhas fofoqueiras.

Son Jae: Eu sabia que vc ia trocar a gente na primeira oportunidade.

Peter Daley: Eu espero que a sua nova colega seja pior do que a louca dos cactos.



riu lendo as mensagens em seu celular ao mesmo tempo em que as portas do elevador se abriram. Peter e Jae haviam a atordoado o dia inteiro para saber tudo sobre o emprego novo, mas não conseguira tempo para contar nada com tanta coisa acontecendo.
Em vez de guardar o celular, parou no hall do prédio por alguns segundos e abriu rapidamente a conversa com .
Depois da última vez em que se viram, na semana passada quando ele a trouxera até a Rolling Stone para falar com , eles passaram a se falar todos os dias. Começou com o questionando por mensagem se ele tinha lido a entrevista publicada, o que resultou em simplesmente a ligando para responder e eles engatando uma conversa de quase três horas sobre a publicação – que ele não só lera como também aprovara, e muito – e outros assuntos. No dia seguinte, mandara para ela alguma coisa sobre o Foo Fighters, banda que havia comentado ser sua favorita em algum momento durante as entrevistas, e ela respondera com um áudio de quase seis minutos. No outro dia, mandou logo pela manhã uma foto de Peter, Jae e em um mercado de plantas, e eles só pararam de se falar quando precisou entrar em uma reunião. E a mesma coisa se repetiu durante todos os outros dias, e fingia não perceber o sorriso que dava a cada notificação nova que chegava em seu celular.


Park: E depois você diz que não é fofoqueiro.

: Boa noite?



riu e enviou o print da conversa com os amigos de minutos atrás e, alguns segundos depois, recebeu a resposta de .


: A :D



Ela riu, balançando a cabeça, e finalmente guardou o celular na bolsa e voltou a caminhar para fora do prédio, sendo recebida pelo comecinho da noite.
Mas parou de andar quando, com uma sensação de déjà-vu absurda, viu a Range Rover preta parada exatamente no mesmo lugar onde estava na semana passada.
arqueou as sobrancelhas, não precisando que o dono do carro buzinasse dessa vez para chamar sua atenção, e andou até o veículo.
A porta se abriu quando ela estava perto o suficiente e ela entrou, sentando-se e fechando a porta atrás de si antes de se virar e encarar a visão mais bonita que já teve em toda sua vida.
não estava brincando quando disse que era meio ansioso sobre suas mudanças de visual, mas ela não esperava que fosse acontecer tão rápido assim. Porém, que Deus abençoe sua decisão.
Os cabelos, agora verdes menta de , moldavam seu rosto em uma franja rebelde, contrastando com brincos de argolas pretas, uma camiseta branca lisa e uma jaqueta escura. Pela primeira vez desde que estivera em um carro com ele, se sentiu inebriada pelo perfume que exalava, um aroma cítrico e refrescante, quase marinho, que fez a cabeça de girar.
Puta que pariu, quem aquele homem pretendia matar daquele jeito?!, se questionou, tentando encontrar sua voz e falhando da forma mais miserável possível.
— A minha fofoca tem sempre um propósito, Park. E eu prefiro chamar de apuração de informações, igual vocês, jornalistas. – foi o primeiro a quebrar o silêncio, lançando um sorriso despreocupado que mostrou que, se ele reparou na forma como estava em completo pane interno, ele não pareceu se importar.
riu, tentando recobrar os sentidos.
— E o propósito dessa apuração de informações entre meus dois melhores amigos, meu novo chefe e dois dos maiores rappers do país seria exatamente qual, posso saber?
Ele deu de ombros.
— Eu precisava saber que horas terminava seu primeiro dia de volta ao mundo dos assalariados. Espero que esteja com fome e não tenha nada marcado para agora.
— O que isso quer dizer? – Ela perguntou sem entender, vendo-o ligar o carro e começar a dirigir.
— Quer dizer que eu sou uma ótima pessoa e achei que, já que você está nesse novo emprego incrível graças a mim, seria adequado comemorar a conquista se acabando de comer na melhor companhia do mundo: a minha e a do Holly.
gargalhou.
— O que aconteceu com o “você perdeu o emprego graças a mim e conquistou o novo porque é uma jornalista foda pra caralho”? – Ela provocou.
— Não faço ideia do que você está falando. – Ele respondeu sem tirar os olhos da rua e negou com a cabeça.
— E se eu tivesse um compromisso?
— O que poderia ser mais importante ou interessante do que essa oportunidade única, Park? – Ele parou em um semáforo e aproveitou para encará-la, arqueando as sobrancelhas. – Qualquer pessoa largaria tudo o que estivesse fazendo para aproveitar essa chance.
— Uau, esse é aquele momento em que eu digo que eu não sou qualquer pessoa? – piscou para , que gargalhou daquele jeito leve e gostoso que ela gostava, fechando os olhos e jogando a cabeça para trás, fazendo um barulhinho com a boca e com as gengivas à mostra. sorriu abobalhada por alguns segundos, sendo levada de volta para aquela bolha inicial de quando entrou no carro enquanto ele a encarava daquela mesma maneira que sempre fazia quando parecia tentar entender alguma coisa. Quando um carro buzinou atrás deles, indicando que o sinal estava aberto, desviou o olhar para voltar a dirigir, mas ele ainda sorria.



— Você realmente acha que vamos comer tudo isso? – questionou de boa cheia, jogada no tapete felpudo da sala de em volta da mesinha de centro onde as duas caixas de pizza e as latinhas de refrigerante estavam. Ao seu lado direito, Holly dormia tranquilamente. A sua frente, agora sem a jaqueta, devorava mais um pedaço de pizza.
— Você fala isso depois de comer uma caixa inteira? – Ele provocou e ela jogou uma bolinha de guardanapo nele, que desviou rindo.
— Tenha mais educação comigo, eu sou visita. E eu só comi dois pedaços.
— Só se for de cada sabor.
— Olha, em minha defesa, essa pizza da Coreia parece uma folha sulfite de tão fina. As pizzas brasileiras parecem uma torta de tão recheadas, lá eu como duas e já quero morrer. Aqui eu preciso comer mais para compensar, só isso.
riu mais uma vez.
— Isso explica mais uma coisa que eu estava curioso sobre você.
franziu a testa.
— O que?
— Seu nome. Aquele dia, na coletiva, você se apresentou como Park, e não Park . Depois, quando achei seu crachá, percebi que você tinha um outro sobrenome diferente.
sorriu, esticando as pernas e ajeitando seu vestido preto de alcinhas.
— Geralmente as pessoas perguntam logo de cara quando olham pra mim ou quando ouvem o .
— Eu não queria ser invasivo. – Ele deu de ombros.
— Não seria. – Ela tranquilizou, terminando seu refrigerante. – Minha mãe é brasileira e meu pai é coreano. Eles se conheceram e se casaram no Brasil quando ele trabalhava lá, então eu nasci lá e nós só viemos para cá quando eu tinha dezessete anos e meu pai foi transferido na empresa. Morei em Busan com eles até vir fazer faculdade em Seul e depois acabei ficando por aqui.
assentiu, prestando atenção.
— E você não sente saudade do Brasil?
fez uma careta.
– Não do país, em si, mas mais das pessoas, eu acho. Gosto mais desse jeito espontâneo deles de ser, de menos formalidade, de mais calor. Mas eu gosto de morar em Seul.
riu.
— Faz sentido.
cerrou os olhos.
— Desenvolva.
— Ao mesmo tempo em que você aprendeu a viver em Seul e sabe como as coisas funcionam aqui, você tem um jeito espontâneo que faz as pessoas prestarem atenção. – Ele sorriu um pouco. – Você tem esse calor que é difícil de se ver por aqui. Eu gosto disso.
sentiu as bochechas esquentarem em uma velocidade absurda. Ela abaixou a cabeça, envergonhada como uma adolescente idiota, e isso fez rir.
— Cala a boca. – Ela murmurou, rindo baixo.
— Ah, eu me esqueci de uma coisa. – Ele se levantou abruptamente e caminhou até a cozinha, sumindo pela entrada e deixando confusa, esperando. Quando retornou, tinha nas mãos uma sacola de papel preta, que balançava conforme ele andava. Ele se sentou ao lado de desta vez e ergueu a sacola para ela, que a segurou confusa.
— O que é isso?
— Abre, ué.
revirou os olhos e cruzou as pernas com cuidado, cobrindo-as com o vestido, e colocou a sacola sobre elas para poder ver o que tinha dentro.
A primeira coisa que ela retirou de lá de dentro foi uma garrafa de vinho Domaine Leroy Richebourg e ela quase deixou a garrafa cair com o susto que levou ao perceber o que tinha em mãos. Ela estava pronta para bombardear com perguntas quando ele apenas fez um gesto para que ela pegasse o próximo item na sacola, e ela o fez.
A segunda coisa era um livro e não conteve um “!” chocado ao ler o título: Hibisco Roxo, da Chimamanda Ngozi Adichie. Seu livro favorito, que ela havia perdido na última viagem que havia feito para o Brasil para visitar a avó. Ela havia comentado isso com ele em alguma das conversas que tiveram, mas nem ela se lembrava mais disso.
... – Ela repetiu, pasma. – Porque... Como... !
Ele riu, dando de ombros.
— Eu não consegui embrulhar uma banheira, mas eu posso alugar a minha algum dia desses para a madame.
Subitamente, ela se lembrou da conversa que eles tiveram quando ele a levou em casa pela primeira vez após a entrevista naquele mesmo apartamento e ela brincou sobre os mimos que se daria caso tivesse o mesmo poder aquisitivo que ele. “[...] uma banheira gigante, uma adega de vinhos obscenamente caros e uma estante com todos os livros que eu quisesse. Então, eu leria tal qual uma madame enquanto bebia vinho na banheira cheia de espuma.”
não sabia o que dizer.
Desde que conheceu – não o primeiro momento em que ouvira falar dele como artista, pois isso ela nem saberia dizer quando foi que aconteceu, mas sim o primeiro contato que teve com ele pessoalmente depois da coletiva, quando ele a abordou no café –, se manteve focada sobre qual seria o relacionamento que ela teria com ele – com . Ele seria seu entrevistado e apenas isso. Apenas mais um relacionamento profissional que ela teria em sua carreira e, se ela tivesse sorte, o manteria de uma forma positiva para que pudesse usufruir dele caso fosse profissionalmente conveniente para a carreira de ambos. E, até certo ponto, isso esteve bem claro em sua mente.
Mas ela sabia que as coisas tinham ficado um pouco embaralhadas em algum momento.
Talvez fosse o jeito fácil que os dois se entenderam logo de cara, o modo como nem precisava avisar que a entrevista começaria pois isso acontecia de um modo tão natural que mais parecia uma conversa entre dois amigos, o jeito que ela conseguiu entender quais eram os limites de sem nem precisar chegar perto de todos eles.
Ela se sentia culpada por deixar sua cabeça tomar rumos tão inapropriados com seu entrevistado. Isso nunca tinha acontecido. Mas, ao mesmo tempo em que eram algumas atitudes de que alimentavam essas suas confusões, ela não se sentia invadida ou desconfortável com o comportamento dele. Pelo contrário. Em poucos dias, a presença de em sua vida se tornou tão confortável e deliciosa que, quando ele estava em algum compromisso e não podiam se falar, ela se encontrava um pouco frustrada.
Porém, aquilo era demais para ela. descobrindo que horas ela sairia de seu primeiro dia de trabalho para ir buscá-la. trazendo-a para seu apartamento para que eles comessem juntos. presenteando-a com coisas que ela nem se lembrava mais de ter dito. tinha muitas perguntas guardadas há tempo demais e estava na hora de buscar respostas para algumas delas.
— Eu posso te perguntar uma coisa, ? – perguntou, a voz suave, e colocou os presentes cuidadosamente no chão ao seu lado.
— Claro.
respirou fundo.
— Você me disse aquele dia que você conhecia o há muito tempo e que você o achava um ótimo jornalista, que gostava muito do trabalho dele, inclusive da entrevista que ele tinha feito com o . Por que você não pediu para ele fazer a sua entrevista? Por que pediu pra mim? – perguntou, prendendo o olhar felino de ao seu.
deu um pequeno sorriso de lado, como se esperasse por essa pergunta.
— Eu te disse que fiquei curioso sobre você naquele dia da coletiva. Aquela foi a minha primeira coletiva depois que eu lancei a mixtape e a primeira entrevista que eu dava depois daquela que eu abandonei. Você me perguntou se eu estava me controlando na coletiva e eu precisei fazer isso para tentar acalmar o clima entre a imprensa e eu, mesmo que eu quisesse que todo mundo se explodisse, mas não era uma coisa que eu poderia decidir sozinho. Mesmo assim, todo mundo lá parecia disposto a me tirar do sério com todas aquelas perguntas ridículas. Então, você não somente corta uma das jornalistas que mais me perseguem como também me dá o único momento decente da coletiva. Mas eu só fui ter a certeza de que queria mesmo fazer a entrevista com você lá no café, quando nos encontramos.
Isso pegou de surpresa.
— Como assim? Você disse que-
— Mesmo que eu já tivesse considerado antes te conceder essa entrevista por causa da insistência do Korea Times e tivesse desistido quando quem entrevistou o foi aquele outro cara, eu mudei de opinião depois que seus amigos falaram sobre você ter discutido com Lee Sana após a coletiva e depois de saber que você foi punida por isso. Isso me fez te ver com outros olhos porque eu percebi que você não era alguém que abaixaria a cabeça para qualquer coisa e que, mesmo sabendo o que poderia acontecer, não se deixou intimidar.
negou com a cabeça, absorvendo tudo aquilo.
— Mesmo assim... Você ainda poderia ter dado a entrevista para o , não para mim.
— Poderia, mas eu sabia que você era boa. O já tinha me mostrado seu trabalho, eu sabia que não perdia nada para o do . E tinha alguma coisa na minha cabeça que simplesmente gritava para eu fazer isso. Que eu deveria tomar essa decisão ali, naquela hora. Que eu deveria confiar em você. Então, eu confiei.
...
— E eu ainda confio, . Foi uma das melhores decisões que eu tomei.
O olhar de queimou sob o de , arrepiando a pele da jornalista, e ela entrelaçou os dedos sob seu colo para conter o nervosismo que tomou conta de sua mente.
— Obrigada por confiar em mim. – Ela murmurou, sorrindo.
sorriu de volta.
— Eu posso te perguntar uma coisa? – Ele devolveu a primeira pergunta que fez e ela riu.
— Claro. – Ela repetiu a resposta que ele dera.
afastou o livro e o vinho e se aproximou de , o rosto ficando tão próximo ao dela que, se um dos dois se movesse dois centímetros, seus narizes se tocariam. O coração de parou.
— Você confia em mim? – Ele perguntou baixinho sem desviar o olhar.
não soube como teve a capacidade de responder “sim”, mas a palavra saiu de seus lábios de forma alta e clara o suficiente para que desse um sorriso que fez seu corpo todo entrar em alerta.
Então, ele a puxou pela cintura e, com a outra mão em seu rosto, esperou que desse o sinal para que ele avançasse. E quando ela afundou seus dedos nos cabelos verdes dele, colou seus lábios.
Ali estava, a resposta para um monte de perguntas que não chegara a fazer, mas que ela se sentiu mais do que aliviada por finalmente sabê-las.
E os primeiros segundos de calmaria do beijo foram para o espaço quando passou a língua pelos lábios de e ela concedeu passagem, sentindo-o invadir sua boca com fome e desejo.
apertou os dedos nos fios de e os puxou um pouco, fazendo o rapaz arfar contra sua boca e apertar sua cintura de volta, amassando seu vestido. A outra mão de foi rapidamente para os braços descobertos de e ela quis gritar de felicidade por poder passear as mãos livremente por aquela pele macia.
A mão de que estava no rosto de desceu pelas costas dela, traçando um caminho, e quando eles ficaram sem fôlego – provavelmente apenas , já que a outra pessoa era exatamente –, mudou seus beijos para o pescoço dela, lambendo e mordendo a pele sem dó, fazendo-a gemer sem pudor por ter seu ponto fraco encontrado tão rapidamente. apertou os braços de em reflexo e ele a puxou contra ele, as mãos na cintura e nas costas dela a trazendo rapidamente para seu colo.
se encaixou entre a pernas dele e ele continuou o trabalho no pescoço dela por um tempo, mas logo desceu os beijos para os ombros e o colo da garota, descobertos pelas alças e pelo decote do vestido. enlaçou as pernas ao redor da cintura de e abraçou seu pescoço, fechando os olhos. Quando ele deu um chupão mais forte na parte mais baixa no decote, jogou a cabeça para trás, arfando, e apertou as pernas contra ele. Os dois gemeram.
levou as mãos até a base das costas de e apertou a carne ali, descendo as mãos sem afrouxar até chegar em sua bunda. Ele estava pronto para levantar o vestido dela quando Holly latiu, fazendo-os se separar.
riu.
— Eu não consigo fazer isso na frente dele. – Ela falou com a respiração falha.
— Nem eu. Não quero que meu filho veja o pai de pau duro.
deu um tapa no braço dele.
! – Ela exclamou, rindo.
— Não tô mentindo. Vem cá.
Ele não deu tempo para que ela respondesse, apenas se assegurou de que as pernas de ainda estavam firmes ao redor de si e tomou impulso para se levantar, fazendo-a dar um gritinho assustada.
Quando começou a andar com em seu colo e Holly veio atrás, interessado, xingou, puto, e precisou soltar para pegar Holly em seus braços e levar o cachorrinho até a enorme varanda.
— Sério que você vai fazer isso com o papai? Eu te trato como um príncipe a vida inteira para você me apunhalar pelas costas logo agora? Você é mesmo um mimadinho ingrato e... não me olhe com essa cara, conversamos depois! – fechou a porta da varanda, deixando para trás um Holly rosnando para ele.
gargalhou, se curvando de tanto rir.
— Isso foi a coisa mais fofa que eu-
Ela não terminou de falar. No segundo seguinte, tomou sua boca e a colou contra a parede da sala, fazendo a garota bater as costas com certa violência. Em vez de reclamar pela dor, gemeu em satisfação, sentindo a perna de entre as suas de uma forma deliciosa. Ele pressionou seu quadril contra o dela com força e ela perdeu o ritmo no beijo, seu instinto levando-a a se pressionar contra ele de volta.
mordeu o lábio inferior de com força.
— Desculpa, você disse alguma coisa? – Ele perguntou, irônico.
praticamente grunhiu e o puxou de volta pelo pescoço, colando os lábios novamente. riu contra a boca da garota e a conduziu às cegas até seu quarto, um caminho que nunca pareceu tão longo assim, feito aos tropeços, risadas e meio-beijos.
Quando entraram no cômodo, não se preocupou em acender alguma luz. Assim como uma das paredes da sala, aquele mesmo lado de seu quarto também era todo de vidro, permitindo que a luz da cidade abaixo de si invadisse e clareasse o quarto o suficiente para que eles se vissem.
Ele tomou a boca de mais uma vez, levando-a de costas até que as pernas dela batessem contra a cama e ela caísse deitada com ele por cima. cruzou suas pernas mais uma vez ao redor da cintura dele em busca do contato entre os dois quadris e recebeu o que queria de imediato, com causando a fricção tão gostosa que ela desejava enquanto a beijava.
Ele parou o beijo para voltar a descer sua boca pelo colo de , mas dessa vez não se contentou somente com a parte exposta pelo vestido e ergueu a peça com a ajuda dela, que ergueu o corpo para que pudesse passá-la por sua cabeça e jogá-la em um canto qualquer do quarto. Ele adoraria ter ficado mais tempo admirando a visão alucinante que era de lingerie, mas não hoje. Habilidosamente, levou uma mão até as costas de , abrindo o fecho do sutiã e se livrando daquela peça que no momento só incomodava.
— Porra.
sorria para os seios expostos de de uma forma tão pecaminosa que ela se contorceu na cama, antecipando o prazer. E foi exatamente isso que ela sentiu quando ele abocanhou seu seio esquerdo, chupando-o com vontade enquanto a mão direita se encarregava de massagear o outro seio. fechou os olhos e apertou as pernas quando, após algum tempo, mordeu seu mamilo e inverteu a posição, levando a boca até o outro seio e repetindo o processo.
Quando achou que talvez fosse capaz de gozar só com chupando-a ali, ele se deu por satisfeito e desceu a boca pela barriga dela, lambendo-a por toda a extensão até chegar no cós da calcinha. Ele passou a língua por cima do tecido, provocando , e desceu com a boca até chegar na parte mais molhada. Para a surpresa de , desviou o caminho, indo para suas pernas, e ela foi pega de surpresa quando ele mordeu sua panturrilha. E depois mordeu um pouco mais acima, e depois mais uma vez. E quando ele deu uma última mordida na parte interna de sua coxa, próximo à sua virilha, quase gritou. Foi a mordida mais forte, mas também foi a mordida mais prazerosa da porra da vida dela, e ela não estava esperando por isso. Como ele havia feito antes com seus seios, também repetiu o mesmo processo na outra perna, e teve a mesma reação. Dessa vez, ele parou para chupar o local que havia mordido, brincando com a área próxima à virilha de , chupando, mordendo e depois beijando, como um ritual. se contorcia na cama de uma forma quase preocupante; se ela estava desse jeito sem que ele a tivesse tocado propriamente falando, ela não sabia mesmo o que esperar quando de fato acontecesse.
Sem que esperasse, assoprou por cima do tecido úmido e arfou.
— Você é sensível aqui, Park? – Ele perguntou, provocando, e não sabia se queria dar um soco nele ou simplesmente dar pra ele. Ele riu da expressão que ela fez quando levantou o rosto para praticamente rosnar para ele. – Tudo bem, já entendi.
piscou para ela e jurava que ele iria fazer mais uma brincadeira sobre o estado dele, mas ele deu beijo por cima da intimidade de , calando qualquer protesto que ela poderia fazer. Ainda por cima do tecido, deu a primeira lambida e isso arrancou um suspiro pesado de .
ergueu o olhar enquanto descia a calcinha de com as duas mãos, vidrado na expressão dela. Ela sorriu para ele e ele retribuiu, terminando de tirar a peça, e então ele abaixou o olhar novamente.
O olhar de escureceu, as fendas felinas se fechando um pouco mais, e só isso foi capaz de deixar mais molhada do que ela já estava. Puta visão do caralho.
Encaixando o rosto no meio das pernas dela, ele lambeu toda a intimidade de pela primeira vez como quem degusta uma iguaria. arfou, apertando as mãos nos lençóis, e sorriu contra ela.
— Você é deliciosa. – Ele sussurrou, fazendo-a tremer da cabeça aos pés, e então verdadeiramente a abocanhou.
perdeu os sentidos em poucos segundos. não estava mentindo quando cantava que sua língua era capaz de levar alguém à Hong Kong. Se alguém a perguntasse, ela diria que estava no céu. Ela nunca tinha sentido nada igual, ninguém nunca a tinha chupado dessa forma antes. Era surreal.
circulou seu clítoris com a língua e o chupou, trazendo de volta à terra quando ela gemeu alto, se contorcendo. Ele desceu, fazendo o músculo explorar a pequena área de uma forma que ela nem achava ser possível, e então ele a fodeu com a boca, invadindo-a com a língua com precisão e arrancando dela um grito pesado e inesperado.
, porra... – Ela gemeu, se controlando para não fechar as pernas em reflexo.
Isso pareceu motivá-lo mais ainda e ele aumentou a precisão de suas lambidas, alternando agora com chupadas nos lugares que ele havia aprendido rapidamente que eram os certos para , continuando nesse ritmo prazeroso. Quando ela ameaçou fechar as pernas e ele precisou segurar as coxas delas para mantê-las abertas com um pouco mais de força, apertando-as, ele soltou uma risada baixa contra a pele dela e a vibração fez se contorcer. Ela estava no seu limite.
— Goza pra mim? – Ele pediu, manhoso.
Então, ele deu uma última lambida e passou os dentes levemente pelo clítoris dela, e isso foi o suficiente para que ela se desmanchasse na língua dele, assim, somente com a boca dele, sem que ele nem precisasse usar seus dedos, os olhos fortemente fechados enquanto gemia seu nome e ele lambia cada gota que saia de dentro dela.
— Porra, eu quero te fazer gozar todo dia para sentir seu gosto, Park. – Como se já não estivesse mole o suficiente, ainda precisava dizer isso, dando uma última lambida na intimidade dela e a fazendo se contorcer na cama, trêmula.
... – Ela tentou falar, mas sua voz estava tão baixa que ela achou que ele pudesse não a ouvir. Mas ele ouviu, colando o corpo sobre o dela novamente, sorrindo.
— Pois não? – Ele perguntou, descarado, e ela deu uma risadinha, levando os braços até as costas dele e o abraçando levemente.
— Se você quiser mesmo fazer aquele negócio de me fazer gozar todo dia, eu tô dentro. – Ela confessou, talvez ainda meio fora de órbita, e ele riu, se inclinando para beijá-la rapidamente.
— Tenho certeza de que podemos combinar isso. – Eles riram e o puxou para mais um beijo, dessa vez mais intenso, sentindo o próprio gosto na boca dele. Isso a fez se sentir quente novamente.
Ela emaranhou uma mão nos cabelos verdes dele, puxando os fios, e desceu a outra pelas costas de até encontrar a barra da camiseta dele, a puxando para cima. estava injustamente vestido demais.
Quando a camiseta voou para longe, apoiou um braço na cama e ergueu o tronco, fazendo força para inverter as posições, e rapidamente acatou sua decisão, ajudando-a a se acomodar sobre seu quadril e recebendo uma visão mais do que privilegiada de completamente nua sobre si. apoiou a mão no peitoral de e sorriu, deslizando a palma pelo abdômen até alcançar o zíper da calça. Ela espalmou a mão na ereção de , o fazendo suspirar, e se inclinou para beijá-lo enquanto acariciava seu pau por cima da calça. afundou os dedos nos cabelos de e ela sorriu no meio do beijo, por fim descendo o zíper.
ergueu o quadril para puxar a calça de e tirá-la, mas manteve a cueca. Notando a frustração dele, ela riu.
— Então o bonito fica cheio de gracinha pra cima de mim e eu não posso fazer o mesmo? Direitos iguais, . – Ela se inclinou e deu uma lambida na bochecha dele.
No instante em que ele ia protestar, rebolou no colo dele e imediatamente ele calou a boca. Ela sorriu, repetindo o movimento enquanto colava de novo suas bocas. apertou o quadril de quando ela deslizou em cima de seu pau pela terceira vez e os dois gemeram.
Para a sorte de , era muito mais impaciente do que ele. Ela desceu a boca pelo pescoço dele, passando pelo peitoral e barriga, até chegar em seu pau. Ela não perdeu tempo ao abaixar a boxer preta, sorrindo para a ereção que praticamente implorava para ser colocada na boca.
suspirou quando deixou um beijo e uma lambidinha na cabeça de seu pau e logo em seguida lambeu toda sua extensão com calma. Mas ele não estava esperando que ela colocasse de cara seu pau completamente dentro da boca, o fazendo arquear as costas de surpresa e prazer.
— Caralho, , merda. – Ele xingou.
sentiu a cabeça do pau de na garganta com um pouco de força pelo movimento dele, mas não o retirou da boca. Pelo contrário, segurou mais alguns segundos antes de soltá-lo para respirar, mas logo voltou a chupá-lo com gosto, fazendo fechar os olhos e gemer baixinho.
Ela passou mais uma vez a língua por toda a extensão, usando a mão para masturbá-lo, e chupou o pré-gozo que vazava, sorrindo.
Ela parou com os movimentos e se ergueu, puxando pela mão e o fazendo se sentar na cama. se ajoelhou ao lado dele e sussurrou em seu ouvido:
— Eu quero que você foda a minha boca.
E ela desceu da cama, se colocando de joelhos no chão, com as duas mãos apoiadas sobre as coxas, esperando. O cérebro de precisou de cinco segundos para pegar no tranco depois de admirar feito idiota a imagem perturbadoramente erótica em sua frente, mas logo ele estava de pé, segurando os cabelos de em suas mãos.
Ela abriu a boca e, em um gesto que matou qualquer resquício de sanidade que pudesse haver em , colocou a língua para fora. E ele fez o que ela pediu.
colocou seu pau na boca de , evitando toda a extensão em um primeiro momento, mas assim que sentiu o aperto dela em sua coxa, as unhas de em sua carne pedindo por mais, ele se permitiu ir mais fundo. E depois, mais forte.
E logo em seguida, estava fodendo a boca dela. virou uma bagunça de saliva, pré-gozo e arfadas em busca de ar, mas ela não se importava. Ela queria mais. Mais de . E ele estava fazendo questão de dar o que ela queria, se deixando ir fundo na garganta dela enquanto gemia e xingava, puxando o cabelo dela com força e gemendo seu nome.
— Puta que pariu, ... Isso...
Quando arfou com o pau de em sua garganta, fazendo-o tremer, sentiu que não aguentaria mais daquele jeito. Era demais para ele. era absurdamente demais.
Ele tirou o pau da boca dela e a puxou delicadamente pela mão, a ajudando a ficar em pé, e usou a mão livre para limpar o rosto da garota com carinho.
— Por mais maravilhoso que isso seja, eu tenho outra prioridade agora, Park.
riu, assentindo, e ele a puxou para um beijo, virando-a na cama e deitando-a novamente.
ergueu o tronco para alcançar a gaveta da mesinha de cabeceira e pegar uma camisinha de lá de dentro, enquanto aproveitava para distribuir beijos pelo seu peitoral e clavícula.
— Eu ainda quero que você goze na minha boca depois. – Ela disse logo após um beijo, enquanto terminava de colocar a camisinha.
levantou o olhar para encará-la inexpressivo por alguns segundos antes de se jogar em cima dela.
— Porra, ainda bem que eu não dei essa entrevista pro . – Ele olhou para o teto como se agradecesse aos céus e ela gargalhou antes dele grudar sua boca na dela mais uma vez, puxando-a pela cintura para que ela se acomodasse melhor sobre os travesseiros.
fechou as pernas em volta dele mais uma vez, sorrindo no meio do beijo quando abriu os olhos e percebeu que também a olhava. não sabia explicar, mas aquele momento parecia tão certo. Os dois pareciam tão certos, ali, presos naquela conexão. Sem parar de se beijarem e de se olharem, levou a mão que não usava para apoiar o corpo até seu pau e o guiou até a entrada de , penetrando-a de forma lenta e deliciosa. não aguentou e precisou fechar os olhos, jogando a cabeça para trás e abrindo a boca, deixando um gemido escapar.
a preencheu completamente e os dois arfaram quando ele saiu e a penetrou novamente, um pouco mais rápido. Ele continuou nesse ritmo tortuoso por pouco tempo, até levar as mãos até suas costas e arranhar sua pele.
Ele aumentou o ritmo de seu quadril, fazendo gemer a cada estocada e ele precisar se apoiar com os dois braços no colchão.
... Meu Deus...
fincou suas unhas nas costas dele quando sentiu a velocidade aumentar e seu interior queimar cada vez mais e puxou seu rosto mais uma vez para um beijo meio sem ritmo, mas ainda assim muito bom.
estocou mais algumas vezes antes de afastá-lo, sorrindo travessa, e ele deixou que ela o virasse na cama outra vez, deitando-se de costas com a cabeça entre os travesseiros.
subiu em cima dele e, sem perder o sorriso ou o olhar, desceu sobre seu pau, se encaixando por cima dele, fazendo os dois gemerem. Ela se apoiou no peito dele e começou a se mexer devagar, pegando ritmo até iniciar uma cavalgada rápida, levando-os à loucura, o quarto tomado por respirações pesadas e gemidos descontrolados.
parou o movimento por um instante para rebolar lentamente no pau de , girando o quadril e depois subindo e descendo, e então rebolando mais uma vez. Os dedos de se fecharam com força em sua cintura.
— Merda, . – Ele gemeu, sôfrego. – Senta, porra. Rebola pra mim.
Ela repetiu o movimento e os dois gemeram juntos quando ela sentou e rebolou mais uma vez, gemendo o nome dele.
... – gemeu, levando as duas mãos até os seios dela e os apertando, fechando os olhos ao senti-la se contrair algumas vezes em volta de seu pau propositalmente. – Caralho! – Ele exclamou em um gemido grave e ela riu, maldosa.
Quando ela inclinou o corpo para trás e retomou a cavalgada rápida, a auxiliou com os movimentos, estocando com o quadril, e choramingou surpresa quando o pau dele atingiu algum ponto dentro de si que a fez jogar a cabeça para trás e quase perder o equilíbrio em cima dele. , percebendo o que tinha acontecido, sorriu e firmou as duas mãos no quadril de , voltando a fodê-la da mesma forma que tinha feito antes. Ela precisou morder o lábio para conter um grito de prazer, levando uma mão até o próprio pescoço e se apertando um pouco ali. fez uma nota mental sobre aquele detalhe para questioná-la futuramente, se deleitando com a imagem mais maravilhosa que vira em toda sua vida, sentindo que, assim como ela, ele também estava muito próximo de seu prazer.
E não demorou muito para gozar violentamente pela segunda vez na noite, deixando o nome de escapar de sua boca na forma de um grito enquanto seu corpo desabava sobre o dele. Alguns segundos depois, gozou dentro dela enquanto a abraçava e ainda estocava, seu rosto entre o ombro e o pescoço de , intoxicado pelo cheiro dela.
As respirações falhas eram os únicos sons que se ouvia dentro do quarto, os dois cansados demais para falarem alguma coisa. Por algum tempo, tudo o que fizeram foi ficar ali, abraçados um no outro, com em cima de , ela passando os dedos lentamente pelos cabelos verdes dele, e ele passando os dedos lentamente pelas costas dela. E estava perfeito assim.
Somente quando um latido alto de Holly se fez ouvir foi que a bolha dos dois foi quebrada, com saindo de dentro de , fazendo-os suspirar baixinho. se ajeitou na cama, pretendendo se deitar novamente, mas congelou quando seus olhos bateram na parede de vidro.
Percebendo sua súbita mudança, acompanhou seu olhar, temerosa, e caiu na gargalhada.
Do outro lado do vidro, que agora percebera ser o acesso de uma varanda, provavelmente a extensão da área externa da sala, e não apenas uma janela, Holly encarava os dois com uma expressão de quem sabia exatamente o que tinha acabado de acontecer no quarto.
lançou um olhar mortal à .
— Meu filho acabou de pegar o pai no flagra e você acha isso engraçado?! – Ele perguntou, alarmado, e isso só fez rir mais ainda.
— Me desculpa, mas acho hilário. – Ela respondeu, se jogando de costas na cama, rindo.
bufou, mas acabou rindo.
— Eu esqueci que as duas áreas são conectadas. Sou um péssimo pai.
o puxou para um beijo.
— Ele supera.
aprofundou o beijo, tomando o cabelo de em suas mãos.
— Eu espero que sim, porque eu me lembrei de uma coisa que você disse que queria fazer e não quero deixar ninguém passando vontade hoje.
riu, jogando a cabeça para trás e balançando-a em negação.
— Pelo amor de Deus, eu só quero um banho e dormir. – Ela sorriu, divertida, e então seu sorriso diminuiu um pouco quando algo cruzou sua mente. – Quero dizer, eu vou... – Ela limpou a garganta, se obrigando a sorrir novamente. – Eu acho melhor procurar as minhas roupas.
a fitou por alguns instantes. Aquele olhar analítico. Mas, desta vez, ele sorriu.
— Você toma banho de roupa, ?
Ela revirou os olhos.
— Você me entendeu.
— E eu tenho uma ideia melhor. Sabe aquela sua visão de madame? Que tal pegarmos aquele vinho indecentemente caro e levarmos para a minha banheira cheia de espuma? Sem a parte do livro, mas eu posso compensar com outras coisas. – sugeriu sorrindo, prendendo embaixo de seus braços.
— Eu preciso trabalhar amanhã, , tenho que chegar em casa logo e dormir. – Ela respondeu, fazendo uma careta, mas ele bufou.
— Eu te levo, . Não hoje, amanhã. Dorme aqui.
De tudo o que havia acontecido até o momento, nada fez sorrir tão genuinamente quanto ouvir chamando-a de . Ele se abaixou para beijá-la mais uma vez antes de voltar a falar:
— Quer saber de uma coisa? Eu quero igualdade nessa porra. – Ele declarou e arqueou as sobrancelhas, esperando o que diabos estava por vir. – Você teve dois dias para perguntar o que quisesse sobre mim e eu ainda não tive essa oportunidade.
fez uma expressão engraçada, rindo.
— Não é bem assim.
— É bem assim, sim. Então, que tal se você fosse comigo em, pelo menos, dois encontros, pra que eu pudesse levar uma lista de coisas que quero saber sobre você?
gargalhou.
— Então existe uma lista de coisas sobre mim que você quer saber? – Ela perguntou, provocando.
— Ah, você nem faz ideia. – respondeu, sorrindo ladino e depositando um beijo rápido na boca dela. – Então, o que me diz?
— Eu não costumo sair em encontros com meus entrevistados, .
passou a língua pelos lábios de e os mordiscou.
— Sorte a minha que essa entrevista com esse tal de já foi publicada e ele não é mais seu entrevistado. Eu, , não tenho nada a ver com isso.
sorriu, levando uma mão até os cabelos verdes de e puxando os fios para trazê-lo até sua boca mais uma vez.
— Pode pegar o vinho, .



FIM



Nota da autora: Oie! Vocês não imaginam o quanto esse ficstape foi especial pra mim e o quanto essa história significou. Espero, do fundo do meu coração, que tenham gostado de lê-la tanto quanto eu gostei de escrevê-la :)
Se você quiser me fazer feliz, é só deixar aquele comentário bonitinho. Juro que isso já faz meu dia, haha! Se quiser trocar uma ideia comigo, é só me chamar lá no Twitter no @vapedotae_ que eu vou AMAR surtar com você!
Um beijão e até a próxima! Com amor, Tori 💜



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