Finalizada em: 08/08/2020

Capítulo Único

estava de saco cheio de esperar terminar de fumar seu cigarro. Tinha acabado de sair de uma das suas habituais corridas e a daquela noite havia sido uma das mais difíceis de toda a sua vida.
só queria tomar umas cervejas e relaxar. O clima e os acontecimentos não estavam a seu favor e aquela sensação deixou tudo mais tenso ainda.
― Que cigarro eterno é esse, ? ― disse, impaciente.
― Calma, flor do pântano, já estou acabando. Você sabe que é humanamente impossível fumar enquanto você corre. Não gosto de perder nenhum detalhe. ― O amigo disse, dando a última tragada e jogando a bituca de cigarro no meio fio.
Os dois estavam em frente ao bar preferido deles. O “REIK” era um bar bem íntimo, mas bastante frequentado. O clima era ótimo e as pessoas adoravam a cerveja barata. Depois de todas as corridas, fossem elas boas ou não – o que quase nunca acontecia, negativamente –, eles iam ali para beber, relaxar e analisar tudo para o próximo evento.
― Até que enfim. Você deveria largar essa merda! ― disse, áspero, e entrou no local.
foi logo atrás dele. O clima do lugar estava excelente, como sempre. A luz baixa, o som de reggaeton antigo deixava o lugar ainda mais aconchegante. Era um bar no estilo mexicano. O diferencial, além da música e do ambiente, eram as comidas e bebidas do país que ficava a quilômetros de distância dali.
Era terminantemente proibido fumar ali e, por esse motivo, mais que tudo, era o bar preferido de .
― O que os senhores vão querer?
A garçonete, que os conhecia muito bem, chegou com um grande sorriso nos lábios, que estavam pintados de vermelho.
― Oi, meu amor! ― disse, galante.
― O de sempre, por favor. ― Disse . ― , para de dar em cima da moça, ela já disse que é casada. ― Ele finalizou, rindo da cara emburrada do amigo.
― Ok! Eu já volto! ― Ela respondeu, solicita e sumiu da visão deles.
, como de costume, observou o lugar. Alguns rostos conhecidos e outros novos, o que era absolutamente normal para o REIK. Mas, naquela noite, algo chamou sua atenção. Um pouco mais afastado, viu um rosto que conhecia muito bem, porém nunca naquela região. Ou naquele bar.
O homem, com anos consideráveis há mais que ele, vestia um terno preto bem alinhado, com uma camisa de seda verde água, que era sua marca registrada. Ele falava avidamente ao telefone, algo que aquela distância era impossível de distinguir.
― Aqui! Dois chopps e duas doses de tequila. ― A garçonete interrompeu os devaneios de .
― Obrigado, docinho. ― agradeceu a mulher, que rapidamente sumiu em meio a outras mesas.
. ― disse, levando sua cerveja até a boca.
― O quê? ― ficou momentaneamente confuso.
― Ali no canto! ― apontou com a cabeça.
― Por essas áreas? O que será que está rolando? ― ficou igualmente curioso.
― Ouvi dizer que ele está tentando abrir algumas Morin’s por aqui. ― continuou prestando atenção na bebida a sua frente.
― Mas a área é do , as oficinas dele que tomam contam do pedaço. ― O outro pontuou bem a situação.
Há muito tempo, vinha dominando boa parte da cidade com suas oficinas mecânicas. O lado norte e oeste eram o “seu” lado da cidade, depois de um acordo com os Lee, para que não houvesse conflitos maiores no ramo, já que a Morin’s e os Lee eram as duas maiores e mais fortes redes de oficinas da cidade.
Aquela região, onde ficava localizado o bar, era uma das poucas nas delimitações da Morin’s em que não havia conseguido abrir uma filial e estabelecer um território.
fazia de tudo, desde depredação ao estabelecimento, até ameaças aos clientes que optassem por usar os serviços que não fossem os dele. Muitos corredores, colecionadores e donos dos mais variados automóveis achavam aquela postura péssima. Chegando a levar as reclamações até Choi, que era quem cuidava de toda a cidade, o que coordenava tudo para que nada saísse dos eixos.
Talvez estivesse no REIK e na região para uma última tentativa de acordo e conciliação com ou caindo em alguma emboscada do outro. Era típico de , atrair os “adversários” e tratá-los de maneira desonrosa. Sempre que alguém entrava em seu caminho, ele era desleal e sem um pingo de escrúpulos. Todo mundo que era mundo naquela cidade, sabia daquilo.
Quando e estavam na terceira rodada de suas bebidas, notaram uma movimentação estranha no fundo do bar. tinha chego com mais quatro homens e sentado-se à mesa em que e mais um dos homens dele estavam sentados há algumas horas.
― Veio em reunião. ― disse e depois virou de uma vez o shot de tequila que estava na sua frente.
, sai de mansinho e tenta achar algum dos homens do Choi aí pela rua. ― disse, sem tirar os olhos do grupo de homens, que aparentemente conversava de forma amistosa.
― Mas, , por quê?
não estava entendo muito o amigo, já que o papo ali parecia amigável.
, é uma emboscada.
ficou em alerta.
― Como? ― perguntou, meio atordoado. Realmente não estava entendendo.
― Só vai, por favor! ― disse, agoniado e, pela luz que o iluminava, queria estar errado.
Pouco tempo depois que saiu, se levantou e levou as comandas até o caixa do bar, para pagar as bebidas e poder chegar mais perto da mesa em que a reunião acontecia e poder sondar realmente o que estava rolando.
― Então por que me chamou, ?
Escutou perguntar de maneira calma, enquanto bebericava seu whisky.
― Você não faz idéia, ?
O sorriso nos lábios de era diabólico.
― Moça, se esconde lá atrás, pede para que ninguém vir aqui pra frente, por favor. ― disse baixo, olhando para a mesa ao lado, discretamente.
A atendente já estava acostumada com aquele tipo de situação. Claro que não ocorria sempre, mas vira e mexe eles tinham que se esconder nos fundos ou chamar a polícia para os momentos tensos demais.
O bar estava quase vazio. Nele só tinham os sete homens sentados a mesa e . A mulher chamou discretamente os outros garçons e atendentes que limpavam as mesas ou lavavam alguns copos no balcão e sem que ninguém percebesse, foram para os fundos.
fingiu que ia embora, virou a placa de “aberto” para “fechado” e antes de se virar novamente ouviu o som de tiros. Assim que avistou a mesa, dois dos quatro homens de estavam caídos no chão, bem como que segurava um sangramento na perna.
Antes que pudesse pensar, pegou duas canecas pesadas de chopp vazias e as jogou com toda a força na cabeça dos comparsas de , fazendo com que ficassem momentaneamente desnorteados, e, assim que o próprio se virou para ver de onde o ataque vinha, alcançou uma cadeira e a jogou contra o mais velho para que ele caísse no chão.
O mais novo saiu correndo e foi até , o pegando e ajudando andar até o estacionamento, enquanto o homem que estava com ele ficou segurando as pontas lá dentro.
Pouco tempo depois que eles saíram do bar, um SUV preto chegou ao local, com mais três homens armados, que aparentemente não os viram ali. Dois deles entraram no bar e o outro ficou por ali, andando sorrateiramente para pegar quem quer que fosse que estivesse por ali e pudesse ser testemunha, ou até mesmo comparsas de .
e estavam escondidos atrás de um carro, observando a movimentação.
― Seu carro está muito longe? ― perguntou baixo para , que só apontou o automóvel verde escuro que estava estacionado a poucos metros de onde estavam. ― Perfeito! ― Ele finalizou, procurando algo na cintura do mais velho.
― O quê? ― perguntou baixo, com dificuldade, devido a dor que latejava na perna. Estava curioso sobre o plano do outro, que tinha acabado de pegar sua arma extra.
― Quando eu contar até três, você vai correndo para o carro, entendido?
olhou ao redor, enquanto destravava a arma.
― Você está louco?
mal conseguia se manter sentado, como ele iria conseguir correr?
― Olha, senhor , ou o senhor tenta correr até o carro, senta no banco do carona e me espera lá ― o mais novo disse, baixo, mirando no homem de que ainda estava por lá à espreita. ― ou a gente fica até sermos mortos pelos capangas dele.
não sabia o porquê, mas sentia que podia confiar naquele rapaz. Ali, com a perna latejando e pingando sangue, já tinha se amaldiçoado mais de um milhão de vezes, por não ter levado mais homens consigo. Às vezes esquecia como as pessoas eram traiçoeiras e desleais.
“Honrar a palavra”, ele pensava com raiva sobre sua ação, sobre não ter bolado um plano, ou se quer imaginado que cairia em uma armadilha daquelas.
― Estamos combinados, ? ― perguntou, afoito. Estavam perdendo tempo demais com aquela conversa toda, já tinham perdido três chances durante toda aquela conversação.
― Certo, garoto, minha vida está em suas mãos. ― O mais velho disse e se preparou para tentar ser o mais rápido que poderia ser.
― Destrave o carro, só quando estiver lá e deixe a porta do motorista aberta se possível. ― O outro disse, concentrado em seu alvo. O que deixou aliviado, gostava de comportamentos como aquele.
― Entendi!
se preparou e ficou esperando pelo comando do mais novo.
― Agora! ― disse em um tom mais alto que o de antes, atraindo a atenção do comparsa de para si.
aproveitou que o homem que os procurava estava indo em direção de e seguiu o mais rápido que pode para o carro. Estava mais forte do que imaginava – talvez a adrenalina do momento estivesse ajudando naquele momento –, mas chegou ao veículo sem maiores problemas e fez o que o rapaz disse.
Assim que terminou de enfiar a chave na ignição e abrir a porta do motorista, ouviu barulhos de tiros e automaticamente se abaixou no banco, para que nenhum daqueles projéteis o atingisse. Também não queria ver o que tinha acontecido, quando o barulho parou. Esperava que não tivesse sido abatido.
De toda forma, depois de alguns minutos em absoluto silêncio, não quis arriscar, pegou a arma que levava sempre de reserva presa embaixo do banco do motorista e esperou que fosse um pouco mais seguro olhar, respirou fundo. Se fosse um cenário desfavorável, pelo menos estaria preparado para atacar.
― As chaves! ― escutou uma voz conhecida ao longe ainda.
― No contato, vamos! ― Ele respondeu ao mais novo, que demorou longos minutos ao ver de a chegar a seu campo de visão e ele constatar que estava tudo bem com o rapaz.
entrou rápido no carro e logo após bater com força a porta, saiu em disparada pelo estacionamento, fazendo o retorno para chegar até a saída do local.
Com os barulhos dos disparos, os dois sabiam que, mais cedo ou mais tarde, quem quer que estivesse lá dentro, sairia para tentar matar eles. E foi exatamente o que aconteceu. Dois homens apareceram na porta de acesso do bar para o estacionamento, atirando sem parar contra o carro – que felizmente era muito bem blindado.
estava coberto de sangue e mancava muito e um de seus homens estava com ele, efetuando os disparos. Quando virou para ter acesso a saída para a rua, percebeu que ela infelizmente ficava perto demais da porta de acesso ao bar. Enquanto ele guiava o volante com uma das mãos, usou a outra mão livre para efetuar apenas dois disparos. Ambos certeiros. Um na cabeça de e outro no peito do comparsa.
Não deu tempo nem de ter certeza que os homens haviam morrido, arrancou com o carro em alta velocidade e minutos depois já estavam fora da “área” que pertencia a .
ficou extremamente impressionado. Nunca antes tinha tido contato com aquele jovem em toda a sua vida e ele era simplesmente TUDO que o mais velho precisava para fazer parte de sua equipe. E mais do que isso, em sua confiança.
― Vamos pra onde, senhor? ― perguntou, já dirigindo em uma velocidade mais aceitável.
― Você sabe onde fica a matriz da Morin’s? ― rebateu com outra pergunta, pressionando a perna, preocupado com o sangue que perdia do ferimento.
― Não vamos chegar com o senhor consciente, se formos para aquele lado da cidade. ― disse, aumentando a velocidade e seguindo para o extremo norte.
― Você tem razão, continue seguindo para o norte, vamos dar um jeito.
pegou o celular do bolso com dificuldade, para fazer uma ligação, que não conseguiu prestar a atenção, já que o próprio celular começou a tocar freneticamente.
― Fala, ! ― disse, colocando a ligação em viva voz, para conseguir prestar a atenção na estrada.
― Santo Deus! Você está vivo. ― se sentiu aliviado. ― Acho que o foi levado por alguns dos homens do , depois de matar ele. ― Ele falou um pouco chateado. ― Sinto muito, chegamos muito tarde.
, você ainda está com o Choi? ― perguntou, sem dar muita atenção ao que o amigo disse um momento antes. Tinha tido uma ideia que poderia salvar a vida de .
― Estamos arrumando a bagunça aqui no bar. ― disse, alarmado.
― Amigo, eu te conto tudo com detalhes depois, mas o senhor está aqui ao meu lado, estamos no carro dele. Fui eu que meio que matei o . Preciso falar com o Choi, por favor!
olhou rapidamente para , que tinha seu telefone ainda na orelha, mas não estava mais falando, para conseguir ouvir o que o outro iria falar para Choi.
― Senhor Choi, sou eu ...
“Então esse é o nome dele”, pensou.
― ... longa história, na verdade. Mas eu meio que preciso de um favor.
, está muito machucado? ― Choi perguntou, realmente preocupado.
― Está perdendo muito sangue, não vamos conseguir chegar até a Morin’s com ele consciente, e, sabe, se perder sangue demais pode ser irreversível. Acredito que o senhor precise de algumas respostas sobre essa bagunça e ele precisa urgente de cuidados. ― O tom de era sério e profissional, havia respeito pela hierarquia naquela ligação, passava a imagem de trabalhar há muito tempo com aquele tipo de coisa.
― Tem uma clínica minha há duas quadras de vocês, estávamos rastreando o carro do há algum tempo, para caso ele tivesse sido levado por alguém. Vou mandar a localização pra você, espero por vocês lá.
Choi desligou e, automaticamente, olhou para , que assentiu positivamente com a cabeça e, então, seguiu para o endereço que apareceu na tela de seu celular.
, você ouviu? ― perguntou ao telefone que ele ainda segurava contra a orelha. ― Isso, minha filha. Mande meu médico e mais três... Três não, seis homens, isso. De forma alguma, você fica aí. Não, , o tio disse não. Menina, se você aparecer aqui conto para sua mãe que está envolvida nas corridas... Não quero saber... ― parecia se divertir falando daquela forma com a mulher. ― Olha aqui, , eu já disse que não, mande meus homens e não conte nada a sua mãe...
continuava a toda velocidade, até o local indicado por Choi.
― ... Com quem você aprendeu a ser assim, menina? ... Eu não te quero por aqui. Mande que eles sejam rápidos, vou mandar a localização por mensagem, tchau!
Assim que encerrou o contato, mandou a mensagem para a sobrinha com o endereço por mensagem.
Longos minutos depois, eles tinham chegado ao local e foram prontamente atendidos. Choi chegou pouco tempo depois e esperou na sala de espera junto com , depois que limparam seus machucados e fizeram alguns curativos.
foi medicado, o sangue estancado e ele precisava de uma operação para a remoção da bala, operação essa que aconteceria em breve, eles só estavam esperando pelo médico de confiança do homem, que fazia questão de tê-lo ali na hora da remoção.
― Onde ele está?
ouviu uma voz feminina meio desesperada e sorriu, pois sabia que a mulher do telefone tinha desobedecido o mais velho
― Choi?
A voz estava mais perto.
― Ele está lá!
apontou para a grande porta branca que dava acesso ao centro clínico.
― Doutor, vá. Você e você também. ― Ela disse, apontando para dois homens enormes de terno que estavam perto dela. ― Fiquem de guarda, se alguma coisa acontecer ao lá dentro, vocês já sabem. Vão, rápido.
Sem titubear, os três homens foram em direção ao longo corredor que ficava atrás das grandes portas de madeira.
― Vocês, quero dois lá fora. ― Ela voltou a apontar para dois dos quatro homens que restaram logo atrás de si. ― Não deixem que ninguém entre ou saia sem meu consentimento. ― Olhou para os últimos dois homens dos quais chegaram com ela, que sobraram na sala. ― Vocês fiquem por aqui, de olho. ― Finalizou, firme e, assim como os outros três, todos os homens ali acataram as ordens sem nem pestanejar.
― Uau! ― disse, olhando de cima a baixo.
― Tô sem saco e tempo para lidar com macho escroto. ― disse, revirando os olhos.
não conseguia tirar os olhos da mulher. Toda aquela beleza mística, e aquele poder que ela emanava de cada poro do corpo, o deixaram sem ar.
! ― A voz de Choi foi ouvida na sala. Os dois se cumprimentaram com beijos na bochecha.
― Choi, como ele está? O que aconteceu? ― baixou a guarda diante do mais velho e ali ela parecia como uma criancinha assustada e indefesa, totalmente diferente da postura que tinha segundos atrás.
― Seu tio vai te matar por estar aqui, você sabe disso, não sabe? ― O mais velho disse de forma terna.
― Foda-se o que meu tio quer que eu faça! Você me conhece, acha mesmo que uma ligação me deixaria em paz? ― estava um pouco mais autoritária naquele momento.
― Teimosa e impulsiva, uma verdadeira ! ― Choi riu. ― Então, pelo que parece, aquele homem ali. ― Ele apontou em direção a e .
― Qual, o babaca ou o com cara de pastel? ― A mulher perguntou, olhando em direção a eles e Choi riu com o comentário dela.
― O com cara de pastel mesmo, o nome dele, ele não só salvou a vida do seu tio, trazendo-o até aqui, como matou . ― Ele disse sério, o que deixou perplexa.
― Como assim matou ? ― Ela perguntou, surpresa, não conseguia tirar os olhos de cima de depois daquela informação.
Todas as gangues e pessoas do “submundo” da cidade sabiam que era quase intocável. Seus homens eram fortemente treinados e ele era ardiloso como o demônio. Em diversas situações de risco e perigo, principalmente quando fazia emboscadas para gente “grande” – e essas pessoas não eram tão ingênuas ou burras como – que levavam uma boa comitiva com eles, o homem conseguia realizar o trabalho e ainda sair ileso.
Como aquele homem, com cara de pastel amanhecido, tinha conseguido aquela proeza?
― Pois é, segundo seu tio, o pastelzão de feira aí, evacuou todo o pessoal que trabalhava no bar e atacou e seus homens quando eles estavam prestes a matar o , que já tinha sido alvejado. Depois, matou , dois de seus sete capangas e ainda é um piloto de fuga incrível. ― Choi disse, olhando também para , que continuava olhando para e vice versa. ― Eu não acreditaria em uma só palavra se não tivesse as ouvido sair da boca do . ― O homem finalizou.
― Eu disse para aquele jumento! Aquela reunião com era um bote daquela cobra. Agora me diz, o que eu faço com aquele homem, Choi, me diz? ― estava visivelmente irritada com a atitude do tio.
― Agora ele vai fazer a cirurgia para a remoção do projétil. vai ficar aqui até que ele se recupere, a pedido do próprio e eu vou terminar de limpar a bagunça e colocar ordem nos caras do , quem a essa altura, devem achar que essa porra é a Disneylândia.
Choi finalizou a conversa, se despediu de todo mundo e saiu, deixando os cinco ali na sala de espera, sozinhos.
Durante as duas primeiras horas, ninguém disse uma só palavra, o único som no ambiente era da televisão, que estava em algum canal qualquer que só passava programas de variedades. Mas era um clima confortável.
― Vou comprar alguma coisa para comer. ― Anunciou , se levantando de onde estava praticamente deitado. ― Alguém vai querer?
Já estava morto de fome e tédio em esperar, precisava de uma bebida energética e esticar as pernas.
― Quero, mas isso você já sabe, a última vez que comi foi com você. ― disse para não deixar o amigo no vácuo.
― Eu também vou querer, por favor, aquele cara ali vai com você! ― disse, indicando um de seus homens que estavam sentados perto da porta.
― Claro, majestade. ― disse, brincando e levando um olhar fuzilador de .
O rapaz saiu, seguido do outro homem e se jogou exausta na cadeira. Estava, antes de chegar ali, em uma reunião longuíssima com os parceiros de negócios e em videoconferência com futuros aliados. Tudo que ela queria fazer quando recebeu a ligação de seu tio era misturar todos os sais de banho que tinha pela casa e virar um crustáceo dentro da banheira.
― Ele é legal no fundo. ― disse, rindo ao perceber a expressão que a mulher fez pro amigo. ― Eu juro!
― Não consigo imaginar isso. ― respondeu, rindo e soltando um longo suspiro depois.
― Seu tio vai ficar uma fera quando souber que você veio. ― olhou para e ela abriu um sorriso sacana.
― Eu não ligo. ― Ela recostou na cadeira e ficou olhando para o teto branco com luzes fluorescentes ― Ninguém mandou ser burro. Eu disse pra ele, que queria foder tudo, mas aquele cabeça dura de coração mole ainda espera o melhor das pessoas.
O tio era um grande cabeça oca às vezes, seu avô brigava vez ou outra com ele por esse motivo, aquilo o deixava vulnerável e isso era uma coisa que ele não podia ser, não, pelo menos, nos negócios. Era arriscado demais esperar o melhor das pessoas nesse meio.
― Não tem problema ter um coração mole. ― comentou, olhando para os próprios pés.
― Tem, quando se está a frente de um negócio e lida com pessoas tão horríveis e mesquinhas diariamente. ― focou no rosto do rapaz. ― Um coração mole levou o grande para uma cama de hospital e sabe-se lá Deus onde ele poderia ter parado se você não estivesse lá.
― Você tem um ponto muito bom. ― Ele disse, pensando que aquelas palavras eram reais e riu.
― Falando em ponto, onde aprendeu a matar pessoas? ― perguntou, curiosa. Queria fazer aquela pergunta desde que descobriu que aquele homem tinha matado .
― Longa história! ― Ele disse, subindo o olhar ao dela.
― Aparentemente temos tempo. ― disse, levantando de onde estava e se sentando na cadeira vaga ao lado dele.
― Hum... ― ajeitou a postura e se virou em direção a mulher. ― Lá em Mokpo, de onde eu venho, as coisas eram complicadas. Minha “família” ― ele fez aspas com os dedos ― aplicou alguns golpes e se envolveu com pessoas erradas. Enfim, eu fiz muita coisa errada para livrar a cara deles, me envolvi com o pior tipo de gente que aquele lugar tem e em consequência aprendi algumas coisas. Boa parte delas legais até...
― Como matar pessoas? ― o interrompeu e completou o raciocínio.
― Matar pessoas que julgo ruins, sim, isso também. Mas aprendi o que é lealdade, trabalho em equipe, como dar um tiro certeiro, lutar, não só para promover cenas de pancadaria. Treinei por alguns anos lutas com algum tipo de disciplina e tomei gosto por isso. ― Ele suspirou. ― Além de ser um bom piloto de fuga, o que me proporcionou também ser muito bom em corridas. ― Olhou amistoso para o rosto dela. ― Algumas dessas coisas me ajudaram quando eu fu... saí de Mokpo. ― Ficou visivelmente incomodado com alguma coisa. ― Como, por exemplo, o que eu faço para sobreviver aqui em Seul, que é competir em corridas, digamos que clandestinas.
― Uau, eu imaginei um cenário quase como esse mesmo. ― estava realmente impressionada. ― Quando ouvi seu nome tentei associar a alguém ou algo que eu conhecesse, mas nada. E não é querendo me gabar nem nada, eu conheço todas as pessoas interessantes e relevantes, como as que fazem coisas perto das que você fez. ― Ela riu ― Então, você corre? ― Continuou, olhando fixamente para ele.
― Sim, geralmente lá pelo sul, não tenho equipe, nem nada do tipo, então não consigo e nem quero competir em grandes eventos. Mas Choi tem ótimas corridas para mim. ― Os olhos dele brilhavam enquanto falava das corridas.
conseguiu perceber que correr era uma de suas paixões, o que o rapaz deixou mais evidente naquela conversa pelo menos.
― As pistas são incríveis, não são? ― disse, dando um longo suspiro. ― Então a senhorita corre mesmo? ― começou a rir da expressão de espanto dela. ― Tinha ouvido falar, mas achei que era mentira.
― Minha mãe detesta, inclusive ela nem sonha que eu ainda faço isso. ― riu do quão patético aquilo pareceu.
― Eu amo as pistas. ― disse, relaxando o corpo na cadeira.
― Eu também. ― também se deixou relaxar no assento.


― Então, aquela jogada foi claramente falta...
A voz de invadiu a sala.
― Demorou tanto, por acaso estava cozinhando nossa comida com as próprias mãos? ― disse, protestando. Estava morrendo de fome.
― Ai, , cala a boca! ― disse, rindo e praticamente jogando o saco com o sanduíche na cara do amigo.
As horas foram longas daquele lanche até que se recuperasse e acordasse da cirurgia. Outras conversas aleatórias sobre futebol e corridas foram feitas para passar o tempo entre todos que estavam ali naquela sala de espera.
― Bom! ― O médico começou a falar. Estavam dentro do quarto de , todos: Choi, , e . Todos, inclusive o próprio , prestando a atenção em todas as orientações. ― O senhor precisa descansar por alguns dias. Conversei com o senhor Choi e ele pode e eu aconselho que ele fique por aqui durante essa recuperação. Isso não levará mais que uns dias e eu venho sempre ver como ele está.
O doutor era uma pessoa de muita confiança dos e, por esse motivo, eles levavam muito a sério tudo o que ele falava em relação a saúde deles.
― Certo doutor. O senhor cabeça oca aqui, vai seguir as recomendações direitinho. ― disse, sorrindo e o médico sorriu logo deixando o local.
, tenha respeito na frente das pessoas! ― Apesar de fraco, o tom de era sério e autoritário.
― Ai, , não é como se todas as pessoas nessa sala não soubessem. Eu nasci com você. O Choi vem aturando há anos suas cagadas, salvou sua vida, depois da que eu suspeito ser a maior burrice que você cometeu em todos os tempos, até aqui. ― se sentou em uma cadeira que estava perto da cama de seu tio. ― E já escutou isso tudo mais de uma vez, então já está a par de tudo também. ― Ela riu e pegou a mão do mais velho. ― , você tem noção do quão imprudente foi? ― Disse em um tom terno, porém sério.
― Você está parecendo sua mãe. ― Ele tentou sorrir com seu próprio comentário, mas sabia que a sobrinha estava coberta de razão.
― As pessoas que te amam se preocupam com você! ― Ela acariciou a mão do mais velho. ― Nunca mais, e eu disse, NUNCA MAIS faça uma coisa dessas sem pelo menos me avisar, ok? Se eu vou herdar essa bagaça, quero que confie mais em mim e que tomemos decisões como essas em conjunto, por favor. ― Olhou diretamente nos olhos dele enquanto falava.
― Justo! ― concordou e recebeu um abraço da mais nova.
Era lindo ver como eles se amavam e se respeitavam como família. Os eram muito bem comentados entre todos em Seul, como uma família de verdade. Pouco se viam brigas com conflitos, claro que desentendimentos existiam, mas eles optaram por resolver tudo com conversas maduras e civilizadas, não deixam para discutir ou resolver depois. Eram rancorosos demais para isso, se ficassem corroendo dentro de si o assunto, seria mais difícil de finalizarem aquela situação. Não eram orgulhosos a ponto de não assumirem um erro, tanto entre si, quanto quando isso se transpassava em seu império e coisas comerciais. Eram assim: pessoas de bem, até que pisassem sem seus calos.
― Cena realmente linda. ― Choi disse, coçando a garganta. ― Mas, você me fez segurar esses dois aqui, por todo esse tempo, até que você acordasse e eu acho que estão cansados. Eu que saí dessa loucura desse hospital estou morto, então vamos ao que interessa. ― Ele finalizou.
― Mesmo que o senhor não ordenasse, eu não iria mesmo embora sem saber que estava realmente bem. Não se preocupe. Acho que o senhor deveria descansar mais. ― disse, olhando para e se curvando.
― Você é um bom garoto, ! ― disse, sorrindo.
― Ele é! ― Choi passou um dos braços pelos ombros do mais novo.
― É, ele é! ― disse, sorrindo orgulhosa.
― Uau, conseguiu conquistar o coração de gelo aqui, deve ser realmente alguém especial. ― O comentou sorridente.
― Olha, tio, é muito mais que um doido, que coloca a vida em risco por pessoas que ele nunca sequer teve algum contato antes ou só alguém que dirige maravilhosamente bem. ― Ela olhou para e sorriu.
se sentiu meio estranho com aquelas palavras da mulher. era com a maior certeza uma das pessoas mais lindas e interessantes que ele já conheceu na vida, porém ele não conseguiria corresponder a qualquer tipo de intenção que ela tivesse. Bem, ele pouco sabia quanto tempo uma pessoa levava para se apaixonar por outra, afinal, nunca tinha sentido tal sentimento na vida e sabia que nunca saberia aquela resposta. Não queria pensar muito sobre aquilo e esperava mesmo que a mulher não estivesse falando aquelas coisas com qualquer intenção romântica.
― Vocês conversaram muito, não foi? ― perguntou, curioso. Sabia como a sobrinha era difícil de agradar, ainda mais assim de cara.
― Você passou horas aqui, com todo esse seu lance e eu como uma ótima sobrinha que sou, fiquei preocupadíssima com meu estimado, porém burro, tio. Então sim, estávamos com tempo livre e conversamos bastante. ― riu e fez o mesmo.
― Você é péssima, , péssima! ― O mais velho concluiu.
O clima era bastante acolhedor e aconchegante quando os dois se bicavam. Mesmo quem não estivesse acostumado com aquilo, como era o caso dos rapazes, se sentiam parte daquela família de doidos.
, meu rapaz. ― O mais velho ali se ajeitou na cama, se virando levemente para o rapaz, focando nele. ― No que anda trabalhando ultimamente?
― Costumo competir em corridas, senhor. ― sorriu largo. ― E modéstia a parte, eu sou muito bom nisso.
― É mesmo! ― Choi confirmou.
― O melhor. ― completou.
― Hum, acho que nunca te vi nas pistas, é novo? ― tentou puxar na memória algumas das corridas que sua equipe participou e se já tinha o visto.
― Não teria como senhor, não tenho uma equipe, então só corro em pequenos eventos. ― sorriu amarelo.
― Está há muito tempo em Seul? ― sabia, de alguma forma, que aquele rapaz não era da cidade, mesmo com o sotaque dele sendo perfeito de quem tinha nascido por ali.
― Tem uns cinco anos senhor, cheguei por aqui com dezesseis anos. ― Ele baixou o olhar, odiava aquele tipo de conversa.
― Família? ― O gostava de saber aquele tipo de coisa.
― Todo mundo veio de algum ciclo familiar, não é? ― meio que murmurou aquelas palavras.
― Nem toda família carrega seu sangue, meu garoto. ― respondeu ao notar a expressão que carregava ao falar aquilo.
― Bom, aqui em Seul, minha única família é aquele catarrento ali. ― Ele apontou para o amigo.
Hey, seu fedelho, eu sou mais velho que você, cadê o respeito? ― respondeu.
― Hum, interessante. ― disse e ficou pensando por uns bons cinco minutos.
não sabia o porquê de tantas perguntas, mas de toda a sua vivência, já poderia imaginar que o mais velho o faria algum pedido, proposta ou algo do tipo. Ele realmente não sabia se queria voltar a receber ordens de alguém, mesmo que achasse que na Morins, seria diferente de toda e qualquer experiência passada que já teve na vida. Fora que não podia chamar muita atenção, não saiu de Mokpo de maneira pacífica.
? ― chamou o rapaz pela segunda vez, o tirando de seus devaneios.
― Sim, desculpe, senhor. ― se curvou mais uma vez.
― Desculpe, eu sei que está exausto, já já toda essa lenga lenga acaba, prometo. ― O mais velho riu. ― Eu quero saber se você quer fazer parte da família Morins. Estamos mesmo precisando de um piloto novo, já que tem que focar em mais áreas dos negócios agora. ― Ele abriu um grande sorriso, estava muito empolgado com aquele “achado”.
Teria ao seu lado, um piloto a altura de , um forte aliado e ainda deixaria a irmã feliz, tirando a teimosa da sobrinha das pistas.
― E eu preciso treinar meu futuro braço direito, também. E eu não quero mais ninguém nesse cargo que não você . ― disse, animada.
Ela sabia que, desde que tinha resolvido assumir o comando de tudo, em um futuro que julgava ser o mais distante possível, mais cedo ou mais tarde teria que deixar as corridas de lado e focar em não só aprender todas as funções dos negócios como ser a melhor a frente dele. E ser mais ativa e ficar por dentro das ações eram seus objetivos futuros.
― Eu sou muito grato mesmo. ― disse, baixando a cabeça. ― Mas eu vou ter que recusar.
Um sonoro “o que” foi dito por todos – tirando o rapaz – naquela sala. Eles todos ficaram surpresos com aquela recusa, era uma chance em um milhão na vida dele. Até , que sabia de todo o passado do amigo, ficou surpreso.
― Eu sinto muito, mas se eu me filiar a Morins, vou quebrar tudo que venho fazendo da minha vida esse tempo todo, que basicamente é ser o mais invisível possível. ― Ele baixou o olhar para os próprios pés que se mexiam inquietos e ficou encarando seus sapatos surrados.
― Invisível? ― perguntou, confuso.
― Mokpo? ― perguntou, olhando diretamente para o rapaz.
― Pois é, ou eu fugia ou morria. ― levantou um pouco o rosto e sorriu sem humor.
― Sinto muito, meu filho, mas podemos resolver isso. ― disse, abrindo um grande sorriso.
Os estavam acostumados com aquele tipo de situação. Tinham lidado com gangues e todo tipo de gente e/ou acordos nessa vida. Sempre que queriam alguém que julgavam boas e competentes para terem ao lado deles, não mediam esforços para aquilo.
― Eu realmente agradeço, mas não posso deixar que o senhor se envolva nisso. As pessoas de Mokpo são o pior tipo de gente que existe. ― disse, olhando no fundo dos olhos de .
― Eu já estou envolvido até o talo, meu rapaz. ― O mais velho disse em um tom calmo. ― Você salvou a minha vida, nada mais justo que eu libertar a sua e mesmo que a sua decisão seja não vir para a Morins, eu vou resolver essa sua pendência a partir de agora. ― Ele disse, olhando nos olhos de , que sentiu somente verdade naquelas palavras.
― E mesmo que decida fazer parte disso conosco, você terá passe livre para sair e viver sua vida da maneira que julgar melhor. ― disse com a mesma sinceridade do tio nos olhos.
― Isso é realmente maravilhoso, eu agradeço demais. ― disse, se curvando em agradecimento aos . ― merece tudo de bom e isso é mais que bom.
estava realmente feliz, ele acompanhou todos os anos do amigo na cidade, viu como os primeiros anos foram sofridos e difíceis. E o quanto o monstro do passado o assombrava em tudo que resolvia fazer.
! ― o repreendeu.
― Ah, faça-me o favor, ! Essa é a chance da sua vida. Não começa com esse seu orgulho uma hora dessas. Oportunidades foram feitas para serem aceitas e essa, então, você nem deveria pensar em recusar. Se não der certo, você ouviu a , é só tentar outra coisa no futuro. ― disse em um tom que conhecia muito bem, era o tom do “irmão mais velho” que usava quando queria, pelo menos, que o mais novo pensasse no que ele dizia. O mais velho estava exausto não só fisicamente, mas mentalmente também. Odiava ver o amigo naquela situação e como ele vinha vivendo a vida todos aqueles anos. ― Qual é, ?
, você acabou de me fazer pagar a língua! ― riu e riu junto do que aparentemente para os outros se tratava de uma piada interna dos dois, já que ninguém mais ali entendeu aquela fala de fora de todo o contexto naquele momento.
― Eu te disse, não disse? ― perguntou para a mulher, ainda rindo.
― Tenho que aprender a confiar mais em você! ― Ela disse, dando uma piscadinha para ele.
― Vou aceitar esse papo estranho de vocês como um sim. ― disse, sem querer saber do que aquela loucura se tratava.
― Eu não posso...
― Pode e já aceitou. ― interrompeu o amigo, que revirou os olhos. ― Eu não vou te deixar em paz, meu amigo. Não adianta revirar esses lindos olhos pra mim.
― Porque eu sou seu amigo mesmo? ― perguntou mais para si do que para que o outro ouvisse.
― Porque eu sou lindo, cheiroso, prestativo e sempre tenho razão? ― parecia realmente orgulhoso das palavras que tinha acabado de dizer.
― Melhor eu não te responder isso. ― respirou fundo. ― Bom, mesmo eu achando demais pra mim, eu aceito a oferta, mas se em algum momento eu sentir que estou sendo um fardo ou não suprir com as expectativas eu vou embora. ― Ele voltou a olhar para os pés.
Yuuuuup! soltou um gritinho animado com a resposta do rapaz.
― Parece que, se depender de , você acabou de vender sua alma para o diabo. ― Choi disse, rindo.
― É quase por aí mesmo. ― confirmou, rindo. ― Então, como já resolvemos esse impasse, quero todos, ouviu, dona ?, todos vocês fora desse hospital. Preciso descansar. ― Ele era sério. ― , fale para alguém arrumar um bom apartamento para perto da nossa pista de treinos e faça as honras da casa. Trate da parte burocrática e essas coisas. ― Olhou para a sobrinha, que tinha uma animação quase assustadora estampada no rosto.
― Eu estou tão empolgada. ― disse, não escondendo em momento nenhum a felicidade.
― Aja profissionalmente, senhorita . ― disse, esperando uma resposta mal educada da mais nova.
, , eu não vou nem te responder! Estou muito cansada pra isso. ― Ela se levantou da cadeira e deu um beijo no topo da cabeça dele. ― Se cuida, senhor profissional. Vamos, rapazes. O senhor cabeça oca tem que descansar. ― Saiu do lugar e deixou primeiro o quarto em que o tio estava.
― Muito obrigado, senhor . ― agradeceu mais uma vez e saiu do local também.
― Melhore logo, . ― Choi também se retirou.
― Eu nem sei como agradecer. ― disse, se curvando mais uma vez.
― Agradecer pelo quê, meu garoto? Você salvou a minha vida, nada que eu faça por você ou te ofereça vai pagar isso. ― foi sincero.
― Significa muito para mim, senhor . Eu vou me esforçar ao máximo para compensar bem a tudo. ― O mais novo também foi sincero.
― Confio que sim e não se assuste muito com , ela parece meio doida, mas é ótima no comando, muitas vezes muito melhor que eu. Não fale que eu te disse isso. ― Ele admitiu.
― Eu vi esse lado dela mais cedo com os fortões lá fora. Confesso que fiquei bastante impressionado. Agora eu vou deixar que o senhor descanse. Mais uma vez, muito obrigado.
saiu do quarto e encontrou e em uma conversa calorosa na sala de esperas, que ficava no final do longo corredor e dava acesso a saída do hospital.
― Você vai ser o melhor e vai ser um prazer fazer negócios com você. ― disse, dando um tapinha no ombro de .
― O prazer será todo meu. ― sorriu.
chegou perto dos dois e sorriu. Gostou como a mulher mudou o pensamento sobre seu melhor amigo e como o homem também mudou aquela postura de adolescente com os hormônios fervilhando.
― Acho que o senhor mandou que fossemos embora. ― disse.
― Eu estava te esperando. ― rebateu.
― Eu também. ― completou. ― Mas, antes, Choi acabou de passar o comando que pertencia a para , não é o máximo? ― Ela faltava explodir de empolgação.
― O quê? ― estava muito surpreso.
― Pois é, agora eu sou o chefe. ― riu. ― Te conto tudo no caminho para a casa. ― Ele finalizou.
― Falando em casa, me passa seu número. Assim que o apartamento, os equipamentos e os papéis de tudo estiverem prontos, eu te dou um toque. ― estendeu o celular para .
― Sim, senhora chefe! ― Ele sorriu e colocou seu número de celular ali.
― Se me chamar de senhora ou chefe, mais uma vez, eu te dou um tiro. ― disse, pegando o telefone e indo até o estacionamento.
e também seguiram rumo até o apartamento que dividiam, que ficava, muito, muito longe dali.


ALGUM TEMPO DEPOIS...

estava quase dormindo jogado no sofá, enquanto alguma série passava o mesmo episódio pela trigésima vez. Estava prestes a fechar os olhos quando ouviu o barulho da porta sendo destravada.
― Eu estou exausta. ― jogou a bolsa em cima do balcão que dividia a cozinha da sala de estar e foi caminhando lentamente até a sala.
― E por que passou aqui a essa hora? ― perguntou, se sentando no sofá.
― Porque eu adoro esse apartamento. ― disse, se jogando no sofá ao lado do rapaz.
― Levando em consideração que você passa mais tempo aqui do que na sua própria casa, eu diria que você ama meu apartamento. ― Ele puxou as pernas dela para seu colo e começou a massagear os pés.
― Seu apartamento? ― riu. ― Deveria chamar de nosso. ― Ela relaxou com a sensação que a massagem levou ao corpo.
― Preciso trocar a senha dessa porta urgentemente. ― Ele riu e levou uma almofadada na cabeça.
― Você não está louco! ― Ela resmungou, quase pegando no sono.
Na na ni na não. A senhora não vai dormir sem tomar banho não, dona porquinha. ― jogou os pés dela novamente para o chão. E se levantou.
― E quem disse que eu vou dormir aqui? ― Ela protestou.
―Bom, pelo fato de que a sua casa fica bem longe daqui, estar super tarde e você estar exausta... Eu dou meu cu, se você realmente for embora hoje. ― Ele riu, voltando da cozinha e levando um copo de água para que ela despertasse e fosse tomar banho.
― Você está muito abusadinho para o meu gosto. ― bebeu a água e se levantou.
― Ser o melhor piloto que a Morins já teve me dá esse poder. ― riu e desviou de mais uma almofada que foi jogada em sua direção.
― Vai se foder, , seu babaca. ― Ela mostrou o dedo do meio.
― Vai logo tomar seu banho que eu vou preparar seu jantar. ― Ele foi firme.
― Ramyun, outra vez? ― perguntou, indo em direção ao quarto.
― Na mosca! ― piscou e sorriu.
pegou um de seus pijamas, na parte do armário de roupas em que havia separado para que ela guardasse suas coisas no local. e viraram os melhores amigos, e o lance todo foi genuíno desde o momento em que ele começou a trabalhar na empresa.
Ela o ajudou com o carro e alguns macetes das corridas nos grandes eventos e ele era uma companhia e guarda costas excelente. Os pegaram muita confiança no rapaz e o tratavam como membro da família. Ele estava sempre nas festas comemorativas e até mesmo nos churrascos informais que eles davam.
tinha resolvido as coisas com as pessoas em Mokpo e agora era finalmente um homem livre. Pegou gosto pelo que fazia na Morins e com toda a equipe e amava como aquela família barulhenta e calorosa mudou totalmente sua vida e o fazia bem.
adorava passar seu tempo livre com o rapaz. Eles riam juntos e tinham gostos muitos parecidos. Bem como eram ótimas mentes juntas no trabalho, pensavam muito igual e complementavam o raciocínio para que tudo ocorresse no mais absoluto sucesso.
Quem os visse de fora e não conhecesse nenhum dos dois, podia jurar que eles namoravam há bons anos. Eles protegiam e cuidavam um do outro, além de se pegarem de vez em quando. Eles só eram os melhores amigos do mundo todo e nada mais que isso. Nada era mais importante que isso também.
― Uau, esse cheiro está incrível. ― disse ao sair do banheiro. Já estava vestida com o pijama de gatinho que tinha pego antes e secava os cabelos em uma toalha.
― Quantas vezes eu te disse para não lavar os cabelos tão tarde assim, ? ― semi cerrou os olhos, olhando para a mulher.
― Ai, mamãe, eu esqueci. ― Ela revirou os olhos.
― Não vou te falar nada, dona “eu esqueci”. Vou tomar um banho rápido, pega alguma coisa pra gente beber.
saiu do campo de visão de e foi até o quarto separar um pijama para vestir também. sabia exatamente onde tudo ficava naquele apartamento, não só porque havia encontrado, decorado e comprado o lugar anos atrás, mas também porque sempre que ficava até tarde na matriz da Morins, resolvendo todo tipo de pendência ia para lá. Era muito mais perto do trabalho do que sua própria casa, era uma ótima companhia e ela se sentia em casa. Pensou em se mudar e até chegou a alugar um imóvel na região, mas não se sentia confortável como se sentia ali.
Pegou uma garrafa de vinho que já estava aberta na geladeira dois copos e se sentou no banco da bancada da cozinha, esperando terminar o banho.
― Massa e vinho, que romântico. ― disse, rindo.
― Tudo pelo meu benzinho. ― disse, manhosa.
sorriu e se sentou a frente da mulher, que serviu o vinho, enquanto ele colocava o macarrão instantâneo nas tigelas.
― Sabe, . ― Ele começou a falar com o semblante mais sério. Há algum tempo queria entrar naquele assunto, mas não sabia como. Mais cedo no trabalho, eles tiveram um momento estranho e ele se sentia estranho às vezes ao lado dela com algumas coisas. Precisavam ter aquela conversa, mais cedo ou mais tarde.
― Fala, meu bebezão. ― disse, enfiando um pouco da comida na boca. Toda a atenção dela era para ele naquele momento.
― Você sabe que eu sou um cara maravilhoso, né? ― Ele olhou fixamente para ela que riu, quase cuspindo toda a comida da boca.
, eu achei que fosse algo sério, que ia dizer que estava morrendo ou pior, grávido. ― tomou um pouco de vinho para ajudar a comida descer pela garganta.
― Homens não engravidam, . ― Ele disse, rindo.
― Você entendeu. Mas, me diga, que crise de narcisismo gratuita foi essa? ― Ela enfiou mais comida na boca, estava faminta.
― Tenho meus motivos, viu. ― Ele emburrou. ― Então, recapitulando, todos nessa residência sabem o quanto eu sou maravilhoso e tudo mais, mas se você gostar de mim, sabe, daquele jeito eu... ― Ele respirou fundo. ― Eu não vou conseguir te corresponder, sinto muito se algum dia eu te iludi, ou passei a impressão errada durante todos esses anos. Eu só não conseguia ter esse papo, sabe, eu gosto da sua companhia e todo o resto. ― Sentiu finalmente um peso sair das costas.
― Ai, graças a Deus era isso! ― disse em um tom de alívio, dando mais um gole na bebida avermelhada. ― Relaxa, meu amor, eu não sou e nunca fui apaixonada por você. ― Ela deu uma piscadela.
― Mas, e sobre hoje a tarde, com a garçonete daquele restaurante que passou o número pra mim? ― Ele parecia meio confuso, talvez se importasse demais em perder a amiga, caso ela estivesse apaixonada, que ficava paranóico com tudo.
― Ah não, ! Não não, meu deus! Eu jurava que quem era o lerdo era o , quando ele não entende que meus flertes são zoeiras. Sério, você sabe que eu faço esse tipo de coisa, porque gosto de implicar com você! Você faz comigo também. Achei que era um sentimento de implicância recíproco. ― Ela não conseguia parar de rir.
― Ah, , para de rir! Eu achava que podia ser você sendo filha da puta de graça, mas também poderia bem estar apaixonada por mim. Eu não sei como as pessoas se comportam quando estão apaixonadas. ― Ele coçou a cabeça meio constrangido.
― Coração de gelo, se lembra? Pode aceitar minhas brincadeiras numa boa. Eu ainda não acredito que achou que eu era apaixonada por você. ― Ela não conseguia parar de rir. ― Você sabe, eu amo a sua companhia. Sério, você é uma das pessoas mais incríveis e interessantes que eu já conheci. Amo também a sensação que eu tenho quando a sua pele toca na minha e nos pagamos. Mas, pode dormir tranquilo, eu definitivamente não sou apaixonada por você.
― Você realmente não existe, não é, ? ― Ele disse, rindo da forma totalmente sem tato que ela disse aquelas palavras, o jeito “Gabriela” de expressar coisas óbvias que as pessoas não notavam.
― Eu te amo demais e daria a minha vida pela sua, mas você não faz meu tipo. ― se levantou de onde estava sentada e se sentou na bancada, afastando as tigelas e a panela, ficando de frente a .
Ele se posicionou no meio das pernas dela, ainda sentado no banco em que estava. Se encaixando perfeitamente ali e passando as mãos por sua cintura.
― Eu também te amo e daria a minha vida por você, . ― Ele levantou um pouco o corpo para ficar com o rosto mais próximo ao dela. ― Você é a minha pessoa preferida na terra. ― Deu um selinho nos lábios da mulher.
― Acho que estamos muito melosos. ― Ela disse, enfiando os dedos nos cabelos dele.
― Estamos mesmo, vamos mudar de assunto. ― Ele puxou os quadris da mulher para mais perto do corpo. ― Então, quer dizer que você ama a sensação da minha pele na sua? ― Deu um beijo molhado no pescoço de .
― Você não imagina o quanto! ― Ela praticamente sibilou e lambeu os lábios.
puxou o pescoço de de leve em direção a seu rosto e iniciou um beijo lento e cheio de desejo.
E, assim, a noite deles seguiu, com muitas carícias, peles suadas e corpos exaustos. Como acontecia com certa frequência. Eles eram assim, se amavam, cuidavam um do outro, eram ótimos ouvintes, davam broncas merecidas uns nos outros e se apoiavam como os melhores amigos do mundo faziam. E, claro, tinham aquele bônus de sempre uma boca para beijar. Maduros, honestos, aquela era a melhor amizade que alguém iria querer.




Fim



Nota da autora: Olá, Deus, sou eu de novo... Não pera, começo errado. Relou everebode, como estamos? Quero dizer que eu simplesmente amei demais escrever essa fanfic, que aliás faz parte de uma trilogia que eu estou querendo lançar, a primeira de todas é Game do ficstape do Super Junior, de onde mostra Donghae sendo 100% cadelinho da PP haha, essa que é mostrando como eles se conheceram e toda a luta e fuga e sangue hahaha e a terceira é Ashley, do ficstape da Halsey que fala da Vida da PP quando toma a decisão de ficar a frente da empresa. Todas cheias de socos, força feminina e algumas com sexo, porque ninguém é de ferro. (Espero que nenhum dos ficstapes citados flopem) kkkkkkk e é isso, espero que gostem.
Um beijinho especial nessa nota para a Kad e a Lay, que aguentam meus surtos por essa PP, que é o grande amor da minha vida. Meninas, eu amo vocês demais.
ps: Ah minha lista de fic vai estar aí embaixo, mas vocês conseguem achar também, tanto clicando no ícone do Facebook que vai te direcionar ao meu grupo de autora (ta pequenininho ainda rs, não reparem), quanto clicando no ícone do Obsession, que dá acesso a minha página de autora no site. Meu tt tá sempre disponível também. Vocês podem me gritar por lá, aqui pela caixa de comentários ou onde me acharem kkkkkk
AH NÃO DEIXEM DE COMENTAR, ISSO É MUITO IMPORTANTE PARA SABERMOS SE ESTAMOS INDO PELO CAMINHO CERTO NESSA ESTRADA, AFINAL O PÚBLICO É NOSSO MAIOR INCENTIVO. MAIS UMA VEZ OBRIGADA POR LEREM, EU AMO VOCÊS.





Outras Fanfics:

SHORTFICS:
Baby How You Like That [Restritas – Kpop – Shortfics]
Baby, I Like You [Kpop – BTS – Shortfics]
Baby, I Want You Forever [Kpop – BTS – Shortfics]
Baby We Have A Happy Ending [Kpop – BTS – Shortfics]
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FICSTAPES:
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02. Nobody’s Perfect [Ficstape #122: Jessie J – Who You Are]
03. Crazy 4 U [Ficstape #148 – Move – Taemin]
03. 잡아줘 (Hold Me Tight) [Ficstape #103: The Most Beautiful Moment in Life: Young Forever]
03. Let Go [Ficstape #178 – BTS – Face Yourself]
03. Trivia: Love [Ficstape #181 – BTS – Love Yourself: Answer]
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07. OI [Ficstape #149: Monsta X – Shine Forever]
07. Dengo [Ficstape #150: AnaVitória – AnaVitória]
08. Tonight (오늘밤; feat. Zico) [Ficstape #119: Taeyang: White Night]
09. Retro [Ficstape #168 – SHINee – The Story of Light]
10. Fire [Ficstape #103: The Most Beautiful Moment in Life: Young Forever]
11. I Want You [Ficstape #168 – SHINee – The Story of Light]
12. Undercover [Ficstape #168 – SHINee – The Story of Light]
16. Not Today [Ficstape #080: BTS – You Never Walk Alone]

MUSIC VIDEO:
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MV Darling [Music Vídeo - KPOP]
MV Sexy Trip [Music Vídeo - KPOP]

Nota de Beta: Eu não resisto mesmo a uma história de "amigos com direitos"! Eu AMO essa pp, sem brincadeira. Sabe quando começa uma cena de ação e você começa a ler mais rápido? Assim mesmo que eu fiquei com essa história. AMO!
Spoiler de Ashley: tá maravilhoso demaaais!

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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