Postada em: 25/10/17

Capítulo Único

Hold up, they don't love you like I love you
Slow down, they don't love you like I love you

Agacho meu corpo destrambelhado dentro do closet, a respiração ofegante e recortada, péssima hora para me sentir claustrofóbica. Pernas de calças e mangas de blusas esbarrando no meu rosto na medida em que eu tentava me encaixar em algum canto. Bom, ao menos eu iria ter algo com que enxugar minhas lágrimas. Rio decepcionada ao mesmo tempo em que preocupada. Você deve estar se perguntando o que diabos eu estava fazendo escondida ali. Vou te ajudar na atualização dos fatos.
Tudo começou há mais ou menos um ano atrás, o maldito e glorioso dia em que Armellin foi transferido para a sede central da empresa de marketing na qual agora trabalhávamos juntos. Eu devia ter previsto no momento em que coloquei meus olhos naquele um metro e noventa de homem que ele era chave de cadeia. Quer dizer, esse tipo de coisa não vem tatuada na testa da pessoa, mas você apenas sente em seu íntimo, e no olhar quarenta e três do sujeito. A vida bem que tentou me alertar, mas eu escolhi pagar para ver.
No início ele queria agir todo general para cima de mim – irritantemente gostoso, diga-se de passagem, ia para casa totalmente frustrada sexualmente todo santo dia – era novo na empresa e queria firmar o nome, e eu o odiava.
Até que logo cortei a palhaçada e resolvi ser franca sobre suas atitudes. Foi em uma bela tarde após ver ele sendo duro além da conta com um funcionário que havia chego atrasado. Entrei em rompante na sua sala, tão bufante como um rinoceronte e soltando fumaça pelos ouvidos. Joguei na sua cara o quão babaca ele vinha sendo com todos os funcionários em nome de algo tão estúpido, todos já sabiam qual era a sua posição ali dentro, que o deviam respeito, mas aquilo era uma empresa, não alguma divisão louca do exército. Aparentemente aquilo o acordou, nas semanas que se seguiram eu o vi mudar de comportamento e até mesmo pedir desculpa a uma ou duas pessoas em que ele sentia ter passado dos limites, e estranhamente – ou nem tanto assim – foi a partir dali começaram os flertes, e então tudo foi evoluindo para algo mais casual.
Eu sempre soube que não era a única na vida dele, e no início não tive problemas com isso, também saia com outros caras, e ambos levávamos a situação tranquilamente. Claro, nós não realmente conversávamos sobre isso.
“Nossa, ontem eu peguei um moreno que Jesus... Que homão!”
“Sério? Eu devo ter saído com a irmã dele então, porque porra, maravilhosa”.
Não mesmo! Caso assim fosse eu já teria me enterrado viva de tanto ciúme, em minha opinião ele também. Isso porque toda vez que saímos e encontrávamos algum ex-encontro meu sua feição não era das melhores, nessas ocasiões o sexo depois era sempre o do melhor tipo por sinal.
Era fato que faltava um pouco de diálogo sobre isso, no entanto, eu acreditava ser um acordo implícito na nossa relação, que de primeira me agradava muito... Quer dizer, ter o homem dos seus sonhos a sua disposição e ao mesmo tempo poder trocar beijos com um estranho gato na balada? Como já diria Hannah Montana “você tem o melhor dos dois mundos”.
Acontece que há pouco mais de dois meses eu me vi em uma situação insustentável. Fato é que, meus ciúmes por ele não eram algo totalmente desconhecido por mim, mas foi bem pior quando eu descobri que uma das mulheres com que ele estava saindo era a minha prima!
Sabe aquela prima que todo mundo tem e odeia simplesmente porque parece que ela quer competir e parecer melhor do que você em absolutamente tudo e isso te irrita tanto que traz toda a merda para o ventilador? Pois é... Imagine minha surpresa quando paramos para cumprimenta-la e logo em seguida eu lhe questionei de que lugar eles se conheciam e o me respondeu que havia sido de um encontro às cegas.
Lógico que na hora eu sai puta dali com vontade de quebrar tudo, inclusive aquela maldita cara linda que os deuses haviam lhe dado. Foi a partir dali que tão somente comecei a pensar sobre o que estávamos fazendo um ao outro. Daquele dia em diante meus garotos brinquedos começaram a parecer cem por cento sem graças, e as garotas com quem ele saia deixaram de ser apenas irritantes e passaram a ser minhas inimigas secretas. Que o feminismo um dia nos cure dessa doença, irmãs, amém. Eu sabia que elas não tinham culpa alguma, nem ele, nem eu. Ou todos tínhamos? Arg! Estão vendo só? Estou completamente confusa, não sei sequer me entender. Logo eu que sempre achei ser toda dona de mim mesma e do que sentia.
Aí!
Deixei escapar enquanto me ajeitava e sem querer prendi o cabelo no cabide. Oh céus... Dava para aquele dia piorar?
Sim!
Foi a lógica e irônica resposta que recebi do destino a começar escutar vozes se aproximarem dali.
Ah não... Não não não!
Ele não vai fazer sexo com outra mulher comigo aqui dentro escutando tudo, não mesmo, nem que eu tenha que me humilhar e sair arrombando a porta que me separa do seu quarto. Entrando ali como a própria princesa do Shrek, bem a la Fiona ogrona mesmo.
Mas e se eles já estivessem sem roupa? Eu definitivamente também não ia querer ver aquilo, se fosse ele sozinho ótimo né? Contudo não tinha chegado ao nível de elevação espiritual para me juntar a ele em um ménage com uma completa estranha ainda, quem sabe um dia... O que eu faria agora?
No meio de todas as questões transitando em minha mente comecei a me lembrar do infeliz caminho de hoje, a estrada feita de cacos de vidro que havia me levado até ali.
O dia no trabalho tinha sido normal. Café quente, torrada com manteiga, conversa fiada nos intervalos, e eu, que estava por um milagre, completamente preparada para lhe confessar tudo. Ia falar sobre não querer mais sair com outras pessoas, e nem também o ver saindo. Estava farta daquele relacionamento aberto. As opções que iam ser postas na mesa era: ou fode ou sai de cima.
Não podia ficar me prendendo a vida toda em algo que não iria para frente. Suponho que existem aqueles que não veem problemas em relacionamentos abertos longos, duradouros, e felizes, mas eu não era uma destas, por que né...? Ia ser tudo tão mais simples, bastava continuar as coisas com ele do jeitinho que estavam. Contudo, ele teria que escolher entre ficar comigo ou me largar de vez. Eu rezava para que fosse a primeira opção.
Nós dois apenas fazíamos sentido, éramos lógica, tal qual um mais um dava dois, matemática puta aplicada. Eu já conhecia tudo sobre ele, cada pedacinho, desde sua cicatriz no abdômen até suas entradinhas nas costas. Conhecia suas histórias mais engraçadas, e cada uma delas havia feito minhas bochechas ficarem doloridas de tanto rir. Ele também conhecia todas as minhas. Dividíamos esses pequenos segredinhos, como o fato de que eu sentia cócegas nas costelas e ele se tremia todo se eu passasse a mão em sua nuca.
A mãe dele era um amor de pessoa e me adorava, o padrasto era um turrão que tentava acobertar o coração de manteiga que guardava, o irmão era doidinho e super animado. Nós sempre dizíamos que erámos amigos para as nossas famílias, ninguém comprava muito a história (sendo um pouco a advogada do Diabo e indo contra mim mesma, nós também disfarçávamos muito mal, qual é... Amigos que dormem no mesmo quarto e andam de mãos dadas?), porém era mais fácil do que ter que explicar toda a situação que, com certeza, seria uma em que nada agradaria o meu pai. Mesmo sem ele saber disso já não gosta muito do , vive me dizendo que eu estou sendo enrolada.
Sempre achei aquilo uma tremenda bobagem, afinal, se ele estava me enrolando, eu também o fazia de volta. Agora, entretanto, meu ponto de vista vinha mudando, talvez estivéssemos mesmo adiando o inevitável e empurrando o outro com a barriga.
Todo esse montante de nóias cem por cento nocivas a minha mente ainda não foram o suficiente para me fazer superar o medo e a insegurança de ir conversar com ele esta tarde. Cheguei à frente da sua porta, lendo seu nome, parada, relendo, analisando a grafia da letra, olhando para os lados, pensando no fato das pessoas passando por ali e provavelmente se perguntando “o que essa maluca está fazendo a meia hora parada na frente da porta do chefe?”.
Por fim que me convenci que iria tomar um café e então sim lhe confessaria tudo. Só que ao invés disso, depois de tomar a bebida quentinha, voltei para todo o trabalho acumulado em pilhas na minha mesa, não que tenha adiantado muita coisa tentar focar naquele montante, minha cabeça estava em outro lugar bem longe dali.
O expediente acabou, ele me convidou para sair, eu recusei por estar fora do clima, mesmo com o coração implorando por um esforço da minha parte e ficando encolhidinho ao ver a porta do elevador se fechar com ele dentro. Arrumei minhas coisas e fui para o minha casa me aconchegar com Zezé, meu gatinho preferido do mundo, a história dele era linda e de dar inveja a qualquer felino.
Algum tempo atrás, na comemoração de seis meses que já estávamos saindo, decidimos juntos incluir mais um membro nessa bagunça nossa. Com total responsabilidade claro, era um acordo nosso que independente do rumo que as coisas tomassem Zezé tinha que ser priorizado.
Foi ali que surgiu a ideia de ir a um abrigo que resgatava animais de rua, cuidava deles, e então os colocava para adoção. O trabalho do abrigo era maravilhoso. Zezé era o último de sua ninhada, rejeitado pela cor de sua pelugem negra, todos os irmãos e as irmãs haviam sido adotados, mas aparentemente as pessoas ainda eram supersticiosas demais para conseguir enxergar que ele jamais traria azar, por um lado foi bom para nós, afinal ele ficou ali guardadinho, nos esperando com aqueles olhinhos grandes verdes e super fofos, além de pidões. Quando eu bati o olho não resisti a fofura, o mesmo aconteceu para o .
Entrei em casa e larguei a bolsa no sofá enquanto sentia meu peludinho se enroscar no meio das minhas pernas me dando boas-vindas, logo tirei os sapatos sentindo o alívio de ter os pés descalços, em seguida tirei o sutiã de baixo da blusa o largando em qualquer canto e fui checar se ele ainda estava com ração em sua vasilha.
No meio do caminho encontrei uma foto pendurada com imã na minha geladeira, uma que com certeza não estava ali antes. Sorri com o coração se enchendo de alegria e quase explodindo feito balão de festa de criança. Era uma foto minha com Zezé e esparramados no sofá daqui, no nosso primeiro dia juntos. possuía a chave do meu apartamento e eu tinha a do seu, ele só podia ter passado ali sem que eu visse e ter me feito aquele mimo, e eu sequer sabia que ele era do tipo que revelava fotos.
Era mesmo um príncipe aquele meu chefe, quem hoje em dia ainda se dava ao trabalho?
Levei a mão ao peito e suspirei. Oh céus, eu estava mesmo apaixonada não é? Perdidamente e completamente. Precisava desesperadamente falar com ele, sentir seu cheiro, seus braços envolvendo meu corpo e seus lábios nos meus. Foi por isso que, logo em seguida, dei um último cheiro e aperto em Zezé para boa sorte, escutei um miado seu e tomei como incentivo, calcei novamente minhas sandálias recém-tiradas, pegando minha bolsa, sutiã e indo rumo a sua casa.
Eu deveria ter escutado melhor o miado do Zezé, porque ele havia sido o contrário de um incentivo. Bem que meu gatinho tentou me avisar que aparecer na casa de hoje não era a melhor ideia, infelizmente eu estava cega e surda de amor e mal pude ver o que vinha bem na minha direção.

What's worse, lookin' jealous or crazy?

Ali eu já deveria ter previsto que a coisa toda ia desandar de vez. Eu não era a das mais sortudas, e outra característica minha era ser um tanto quanto atrapalhada. Quase nada. Imagine só... Eu apenas havia entrado em sua adorável casa usando minha própria reserva, trancado a porta atrás de mim, e de tão animada que estava para encontra-lo ali, acabei perdendo aquele diabo de chave, para melhorar tudo ele não estava em casa.
Mas de repente, depois de eu fuxicar algumas coisinhas sua. – Vamos lá, não sou tão ciumenta, mas ninguém é de ferro também né? Às vezes bate uma curiosidade, afinal, o que ele faz quando não estamos juntos? Eu não andava fazendo nada de muito útil, estava mais para netflix e pipoca, na verdade, pensando bem não era tão diferente do que eu fazia com ele, tirando o sexo que costumava vir depois – Ouvi o barulho de vozes e passos chegando cada vez mais perto, a dele e de uma mulher. Constrangida e querendo me enterrar viva resolvi que a melhor opção seria me esconder.
Eu comia adubo de café da manhã? Em que mundo aquilo seria uma boa ideia? Certamente não neste.
Nós nunca antes havíamos nos visto em outro encontro. A gente sabia dos enrolos, mas como eu disse, não realmente falávamos sobre isso. Eu e ele tocávamos essa história de relacionamento aberto exatamente como tocávamos violão, exceto que não sabíamos tocar violão.
Daí você pensa “pior do que está não pode ficar”, mas adivinha só? É a famosa lei de Murphy tudo que pode dar errado vai dar errado. Vocês sabem que lugar escolhi para me esconder, porém o que alguns já deduziram e outros descobririam apenas agora é que: a única coisa que separava o closet de seu quarto era uma porta, caso ele resolvesse a levar para o seu habitat natural eu estaria ali, a cinco metros de distância. Minha mãe sempre me alertou “você tem que achar um rapaz certinho para você”, mas mamãe, eu gostava tanto daqueles que não jogavam pelas regras.
Ouvi mais um barulho seguido de um “aqui”.
O que era aquilo? Ele podia sei lá, estar apenas mostrando algo, ou, ou, OU... Deus do céu! Eles estavam? Ah não... Mas não estavam mesmo. Tentei me desvencilhar daquele monte de roupa, metendo o meu dedo mindinho no assoalho sem querer e urrando, a essa hora talvez eles já suspeitassem de um bandido na casa. Parei diante da porta ofegante. Era isso. Agora ou nunca.
Escancarei a porta jogando esta com tanta força que a fez bater na parede e voltar para cima de mim, me apanhando de volta. Meus olhos cheios de fúria ao mesmo tempo em que estatizados. Eles, definitivamente, não pareciam como duas pessoas prestes a ter sexo selvagem, não que para isso tivesse que ter cara. Estavam tão vestidos, com tanto pano e tão executivos...
– AAH! – A mulher gritou dando um pulo para trás e deixando sua prancheta cair.
– Que isso?! – perguntou também assustado. – ? O que diabos você está fazendo aqui? – Pausou franzindo a testa em confusão. – No meu closet? – Minhas bochechas de repente se fizeram quentes, seu olhar atordoado e também envergonhado se manteve sustentado em mim, suas sobrancelhas enrugadas.
– E-e-eu... Meio que entrei aqui para... – Pensa rápido merda. Você é tão criativa quando se trata de comercializar os produtos da empresa, me deem uma lata velha e eu farei uma resenha de como reutiliza-la da forma mais gratificante e sustentável, mas quando se precisa sair de uma cilada dessas nada né bonita? – Ah, sim. Eu vim pegar uma coisa que pensei ter esquecido aqui, só que perdi minhas chaves.
– Desculpa, senhor Armellin, mas vocês não trabalham juntos? – Ela o encarou cruzando os braços parecendo repreendê-lo.
– E o que é que você tem a ver com isso? – Questionei curta e grossa querendo tirar a atenção de cima dele, não sabia o que estava acontecendo direito ali, mas já que eu iria me ferrar era melhor que a culpa recaísse toda sobre mim logo. Ela imediatamente ajeitou os óculos no rosto e estufou os peitos se aprumando como uma pomba antes de pegar sua prancheta do chão.
– Bem, desde que um dos sócios majoritários da empresa me mandou pessoalmente aqui para discutir negócios com o senhor Armellin e, a empresa tem uma política de reprovação a relacionamento entre funcionários... Penso que absolutamente tudo! – Disse me fazendo ficar quieta por um segundo, mas aquilo não era verdade, era?
Engoli em seco apertando meus lábios e fechando os olhos me permitindo um segundo para tentar me recompor internamente e voltar com toda a fodida mente ao seu lugar.
– Uhum, sei, e vocês iam discutir negócios no quarto? – Levantei uma das sobrancelhas não plenamente convencida daquela explicação, não podia ser tão ruim, vamos lá, eu não era tão azarada também.
– Desculpe, mas a senhorita está insinuando que eu e o Sr. Armellin... – Antes que ela tivesse a oportunidade de completar sua fala foi interrompida.
– Hrum. – coçou a garganta antes de se pronunciar. – Eu vim aqui no quarto para pegar isto. – Indicou uma pilha de documentos em cima da sua cômoda. – Já estávamos nos dirigindo ao escritório quando... – Insinuou deixando a frase morrer.
Merda!
O que eu falava agora? Contra fatos não há argumentos. Mas ele também não podia reclamar de nada, era tudo sua culpa, se ele não me deixasse tão louca varrida assim, então tudo isso teria sido evitado.
– É... Vocês por acaso viram minha chave perdida por aí? – Foi a pergunta mais rápida na qual pude pensar e então vi a senhora sei lá quem me dar um olhar muito feio para ser comparado ao de um cão raivoso, já que cachorros eram bem mais fofos que aquilo.
Pelo visto, além de tudo, eu também ia ser demitida, mordi meus lábios e passei a mão na testa. Pesadelo. Esta palavra descrevia bem o momento.
– Não. – respondeu. – Mas eu posso te acompanhar até a porta, que tal? – Sugeriu.
Ele parecia bravo, e também não havia se levantado para me defender, ou dizer algo em meu favor, em uma escala de zero a dez minha decepção por isso se encontrava nos auge de seus cem. Ultrapassando todos os limites.
– Claro. – Consenti balançando os ombros que agora pareciam pesar mil toneladas.
– Senhorita Olívia, me desculpe por toda essa situação, peço, caso eu não esteja exigindo demais de sua boa vontade gostaria que, por favor, me aguarde no escritório apenas por um minuto. – Sorriu receoso para ela que assentiu. Revirei os olhos, para ele era tão fácil conseguir coisas de mulheres, bastava um mero e simplista “sinto muito” e pronto. Tão injusto.
– Claro, sei que essa situação não é sua culpa. – Isso, nossa, que legal, jogue a culpa toda para cima de outra mulher, a irmandade morreu mesmo, o feminismo foi enterrado.
Tudo bem que eu no lugar dela faria o mesmo, mas não vamos nos enganar, eu era a vítima dessa situação. Ela chegou aqui e teve que lidar com uma louca saindo feita ogra de dentro de um closet que nem era para estar, e ainda por cima teve a audácia de lhe confrontar e fazer o mesmo com o dono da casa. Isso tudo versos eu aprendendo a lidar com meus sentimentos.
Por favor né.
Tá, ok, talvez a primeira opção fosse pior.
– Vamos? – perguntou ao se aproximar e estendeu o braço indicando a porta do cômodo, passei ao seu lado para atravessa-la, sentindo aquele mesmo perfume que antes me dominava no meio de suas roupas. – Só um segundo. – Me parou puxando delicadamente meu braço, quase me joguei para cima dele ali mesmo sem pensar.
Oh Deus! Seria agora que ele se ajoelharia e diria foda-se tudo e todos para logo depois me convidar a fugir daqui para uma ilha paradisíaca? Por que será eu nunca pensava ao seu redor? O que é que tinha naqueles olhos que me recordavam tanto do mistério do infinito?
Então sua mão fez um movimento até minha cabeça e tirou uma... Meia. De cima dela.
Oh céus, eu era ridícula. Abaixei a cabeça enquanto me visualiza afundando no chão como em um desenho animado, certamente eu não era o Jerry, tão pouco o Papaleguas ou o Pernalonga. Eu era os inimigos que sempre se ferravam.
A única coisa que aliviou um pouco a situação foi ver o vislumbre de um sorriso no seu rosto. Eu era assim, toda maluca mesmo, completa, redondamente, e absolutamente desvairada, mas e daí? Ele gostava de mim assim. O que era sensacional.
– Obrigada. – Sussurrei, odiando internamente que a Olívia estivesse ali, coitada, mas eu precisava ficar a sós com ele. Tinha sido justo aquela necessidade que me levara ali em um primeiro momento.
Seu sorriso sumiu conforme caminhávamos para fora, a tensão de nossos corpos de fazia presente a cada passo dado, não ousei olhar para o lado. Já estávamos bem mais perto da saída e ele finalmente abriu a boca, o que foi um alívio ao mesmo tempo em que horripilante.
– Tá. Tudo bem. O que você estava fazendo aqui? De verdade! – Questionou sério, de braços cruzados e olhar nublado.
– Já disse, esqueci uma coisa e vim pegar. – Resolvi sustentar a mentira e dei de ombros desviando de seu rosto, eu achava tão difícil encarar alguém quando estava mentindo descaradamente.
– E por que não me pediu para procurar? Eu não caio nessa, fala logo. – Insistiu. – Aconteceu alguma coisa? – Seu tom agora era preocupado.
– Não, juro. – Que coisa feia . – O que ela está realmente fazendo aqui? Pensei que tinha me convidado para vir hoje, imaginei que isso se dava ao fato de você não ter compromisso algum. – Recordei ainda estranhando a presença dela.
Se aquilo acontecesse há uns dois, três meses atrás eu não importaria tanto assim, mas agora só a mais leve impressão de que eles podiam estar juntos cortava e estilhaçava o meu coração por inteiro. Parecia que eu tinha sido pega de surpresa em um atropelamento, acontece que a pessoa que dirigia o carro não parecia gostar muito de mim, então deu ré e passou por cima de novo, só para ter certeza de que eu estava realmente acabada e estatelada no asfalto.
– E eu não tinha, foi algo de última hora, e como você não quis vir nada me impedia de fazer negócios, até onde sei. – Justificou. – Mas por que isso importa?
– Por nada. – Respondi jurando ter visto um raio de decepção cruzar seu semblante rapidamente. Acontece que do jeito que eu me encontrava, não fazia ideia se minha mente criara aquilo para me consolar, ou se realmente, havia a mínima possibilidade, de que ele também não se sentia mais confortável levando as coisas daquele jeito.
– Não se preocupe com ela, eu vou salvar sua linda bunda. – Sorriu safado de lado.
– O que?
– Seu emprego, a política de não relacionamento entre funcionários na empresa... – Me lembrou.
– Ah sim, claro. – Disse me dando conta de que todos os males, eu tinha chegado ao ponto em que, na minha cabeça, perder meu emprego era o menor deles se significaria estar com para sempre.
– Se você quiser esperar aqui, quando eu acabar a reunião nós podemos fazer alguma coisa. – Sugeriu.
Por que é que ele tinha que ser tão bom para mim? Mesmo quando eu estragava tudo, quando colocava sua reputação e emprego em risco, quando colocava a minha própria. Invadia sua casa e fazia mil perguntas como se fosse a polícia, quando francamente era nem deveria estar ali. Quando para começo de conversa eu estava mentindo.
– Acho melhor não. – Não consegui forçar sequer um levantar de lábios, um sorriso fingido e amarelo. Apenas o respondi me colocando nas pontinhas dos pés e me apoiando em seu peito para lhe dar um beijo no rosto antes de abrir a porta com pesar e sair.
Um beijo no rosto, um simples gesto que fora o suficiente para levar todo meu ar junto consigo, e eu saindo dali querendo mais uma vez ficar, sentindo que meu coração havia sido deixado para trás com ele, junto com a minha dignidade, só para variar. Desejando que houvesse alguma forma pela qual eu pudesse fazê-lo entender.


Know that I kept it sexy, and know I kept it fun
There's something that I'm missing
Maybe my head for one

Mais um dia dentro daqueles corredores e paredes com janelas que tinham, em sua maioria, vistas de outros prédios, graças a Deus a minha não era uma destas, e dali eu sentia que podia ver quase a cidade inteira e tê-la aos meus pés, não que hoje eu tenha apreciado muito disto.
Um de muita correria e desastre me encontrou assim que coloquei os pés para dentro da empresa, todos estavam de um lado para o outro correndo afoitos, tudo isso porque havia ocorrido um erro de última hora com um de nossos novos projetos, a versão anterior a final havia sido encaminhada e divulgada, agora tínhamos que consertar aquilo o quanto antes. A diferença não era tanta assim para quem era leigo no assunto, mas para nós, como companhia era um erro que talvez a concorrência e os olhos maldosos não deixassem passar em branco.
Totalmente estressante e nenhum pouco animador. Eu amava meu trabalho! Ri em escárnio. É só que existiam dias nos quais eu queria sair correndo dali e nunca mais voltar. Principalmente nesta semana em que eu havia mantido meu emprego por um fio, pois dera um jeito de explicar toda a situação de forma plausível, fazendo com que nosso chefe visse mais vantagem em nos deixar em paz do que chutar nossas lindas bundas para fora nos jogando a concorrência.
Em meio a tudo isso minha cabeça ainda parecia – lutando contra todas as possibilidades – gostar de manter um espaço reservado para o homem que atualmente me atormentava e inquietava. Enquanto toda aquela confusão rolava e eu o via andar de um lado para o outro, escutando os berros de dentro de sua sala, o telefone soando constantemente e ele prestes a ter um ataque, eu me vi com vontade de ir até ele e lhe acalmar, fazer uma massagem...
O único elefante da sala era que aquilo não seria muito profissional, afinal, meu telefone também não parava, e a todo instante os funcionários vinham até a mim tentando entender o que estava acontecendo, de quem era a culpa, ou o que eles tinham que fazer. O que me dava uma vontade súbita de berrar na cara deles.
Não é que eu seja má, mas a situação me tirava do sério, nós tínhamos um alerta vermelho a nossa frente e o povo estava todo preocupado com fofoquinha, fala sério.
Naquele dia a hora extra já era certa.
Dito e feito, a maior parte da empresa funcionou até bem mais tarde que o usual, felizmente conseguimos resolver o problema da melhor maneira que foi possível, no entanto, tinha certeza que o futuro não seria tão inspirador e sim muito mais complicado já que no início daquela mesma semana eu arranjei confusão, e agora mais essa, que não me fazia ter dúvidas de que: iria sobrar para mim, por mais que nessa sujeira em específica meu dedo não estivesse.
Já esgotada e pronta para ir embora comecei a arrumar minhas coisas. O mais triste era que eu podia ir para casa, tomar um banho relaxante e cheio de sais, para depois deitar plena em minha cama, mas apenas o cansaço físico iria ser curado, o mental continuaria. Não que fosse surpresa, o maior causador da minha insanidade continuava muito bem vestido em sua sala, de todos os meus infortúnios aquele era um que eu ainda não fazia ideia de como resolver.
Após terminar de guardar tudo e desligar o computador fui caminhando até a porta mágica que representava aquela do elevador, a que parecia a passagem para o paraíso e saída do inferno em dias assim.
Apertei o número e me encostei ao vidro atrás de mim aproveitando-me do milagre de estar sozinha para relaxar meu corpo, já que, normalmente, este estava sempre lotado, com cada um apertando para um andar diferente e, cheios de olhos observadores para comentar sobre minha aparência e estado eventualmente. Não estou me dizendo santa, eu também me permitia a eventuais comentários sobre meus chefes na época de estágio, mas agora eu sabia o quão malditamente irritante aquilo era, o que aparentemente não me impediu de confrontar Olívia, nem de ficar fula vez ou outra com alguém acima de mim na empresa. Quando a porta se encontrava prestes a fechar vi uma mão se infiltrar segurando a mesma.
– Pretendia me deixar para trás? – Brincou com o seu sorriso relaxado despretensioso de lado, completamente o oposto de como eu me sentia agora. Porém, o seu cabelo bagunçado não deixava ninguém esquecer que aquele não tinha sido o humor dominante durante o dia corrido de hoje.
Como sempre, quando ele estava a minha volta, me trazia luz. Diferente de todas as outras vezes, comecei a me questionar o porquê daquilo e lembrei de ter lido, alguma vez, em algum lugar, que nós sempre deveríamos escolher aquela pessoa que faz de nós melhores, eu não estava certa de que fazia isso por mim. Dito isto, só a sensação de que eu fazia isso por ele, de que toda vez que ele me via seus olhos se iluminavam... Eu esperava que não fosse tudo invenção da minha mente maluca, porque eu amava a ideia de fazê-lo um homem melhor, talvez consequentemente por isso, eu me tornava melhor.
– Claro! – Joguei de volta dando de ombros.
– Desculpa, mas como?! – Entrou rindo e foi se aproximando conforme as portas novamente se fechavam.
– Olha, Sr. Amerllin. – Disse teatralmente. – Você sabe que é política dessa empresa não permitir o relacionamento entre funcionários, não me sinto bem desrespeitando isso, e você tem sido extremamente insistente, caso continue eu vou ser obrigada a te denunciar por assédio. –Terminei enquanto ele ria cada vez mais e se aproximava me encurralando entre a muralha que era o seu corpo e a parede de espelho.
– Bem... Então temos que dar um jeito de resolver essa regra ridícula. – Pausou antes de depositar um beijo na base do meu pescoço arrepiando todos os pelos do meu corpo e me fazendo revirar os olhos totalmente extasiada, imediatamente ele largou sua pasta ali, eu também deixei que minha bolsa fosse ao chão sem me importar muito com as consequências de meus atos. Eu já tinha passado a muito tempo daquela fase, foram muitos pés metidos pelas mãos ao longo da vida para que eu me importasse tanto assim, preferia deixar ser, depois eu dava um jeitinho e arrumava tudo. – Ou então... Podemos simplesmente manter isso entre nós dois, particularmente acho a segunda opção bem mais excitante. A adrenalina de ter que se esconder e o risco de sermos pegos são... Tentadoras eu diria. – Seu braço se afastou de mim apenas para que pudesse apertar o botão vermelho e fazer o elevador parar.
! – Arregalei os olhos rindo, ele aproveitou para depositar um beijo na minha boca sorridente. – Outras pessoas querem ir embora também, não podemos ficar aqui. – Continuei a me explicar sem cessar minhas risadas.
– Dane-se os outros, o prédio tem escadas. – Falou antes de deixar um novo beijo na minha clavícula, desse jeito ficava difícil resistir né moço.
– Ah sim, ótima notícia para quem trabalha no trigésimo andar. – Respondi incrédula, mas surpresa ainda de que eu iria entrar na dele.
Oh céus, nós erámos pequenos diabinhos.
– Eu e você tivemos uma semana do cão e merecemos isso. Você especialmente.
– Obrigada? – Pautei rindo.
– Eu devo ir à casa dos meus pais esse final de semana, que tal se você fosse comigo? Ia ser ótimo, poderíamos curtir a praia, meu quarto... – Sugeriu com seu olhar cafajeste de lado me tentando, logo em seguida me seduzindo com mais um beijo no pescoço, não que aquilo fosse necessário para me convencer.
– Vou ver o que posso fazer por você. – Foi a última frase racional que me ocorreu antes que eu lhe puxasse pelo colarinho e envolvesse sua nuca com os meus braços, em instantes suas mãos me envolveram pela cintura e nos aproximaram mais, então seus beijos enlouquecidamente apaixonados começaram a se distribuir.
Meu corpo foi mais arduamente imprensado contra o metal frio daquele elevador, em meio aquilo minha respiração se desfazia, atordoada demais com aquela sensação que contrastava em muito com o calor do meu corpo. Os botões da minha blusa iam se abrindo de um a um nas mãos ágeis e habilidosas do meu chefe, cada esbarrão em meus seios e minha pele me levavam a loucura, fazendo com que eu praticamente urrasse em protesto para que deixássemos a roupa para lá e apenas levantássemos minha saia.
Claro que nossos beijos não paravam, praticamente sem cortes continuávamos a puxar nossos lábios um para o outro como se aquele fosse o último beijo que teríamos. Sim. Toda vez em que nós transávamos o rumo seguia dessa forma, atos loucos e apaixonados, vivenciando cada toque como se depois daquilo fossemos ambos tomar caminhos separados, o que talvez fosse um medo escondido dentro de mim, mas também significava que sexo com ele nunca era menos do que estupendo.
, ou como eu da forma mais politicamente correta na brincadeira a pouco o chamaria, Sr. Armellin ainda vestia seu terno, e como amava um belo homem de terno. A sensação que passava era estranhamente prazerosa, me deixando a mercê do mesmo. Não sabia se existia um nome para mulheres que se excitavam ao ver um homem dentro de um belo Armani, mas se sim... Muito prazer, eu.
Ok, por mais que amasse vê-lo vestido todo certinho daquele jeito, melhor ainda era a parte onde eu podia bagunçá-lo inteiro, só para mim. E assim prossegui. Logo adentrei o seu blazer, passando minhas mãos pelos seus ombros largos em direção a seu bíceps fazendo com que em um piscar de olhos o paletó fosse ao chão. Não hesitei em aproveitar para puxá-lo mais para mim pelos ombros, apertá-lo, e arranhá-lo ainda por cima da blusa. Eu sabia que ele amava quando eu fazia isso. Um ato que talvez passasse despercebido para muitos, e outros talvez nem ligassem tanto assim, mas nós conhecíamos os corpos um do outro muito bem, sabíamos nos ler como mapas.
Suas mãos também não conseguiam parar quietas e serem mantidas para si, elas puxavam minha saia para cima e rodeavam toda extensão da minha perna, levantando uma delas causando uma fricção tentadora. Eu sentia o volume dentro da sua calça e então via preto, parava de pensar, agia da forma mais animalesca e selvagem possível.
Eu fui abrindo todos aqueles botões chatos também, sem muita paciência para aquilo, provavelmente arrebentando um ou dois deles no caminho e escutando sua risada gostosa ressoar baixa perto do meu ouvido.
Foi só ele colocar a mão na minha traseira que eu logo o envolvi lhe dando uma chave de coxa. Ele que me imprensando contra o elevador conseguiu, de alguma forma, manejar sua mão até minha virilha. Seus dedos mesmo antes de chegar ao local esperado já me causavam fraqueza no decorrer daquele percurso que pareceu demorar uma eternidade. Eu não pude evitar me segurar no seu pescoço e esconder minha cabeça ali naquela curva já sabendo o que estava por vir. E... Vamos apenas dizer que eu não era realmente muito boa em me conter.
Então quando ele começou a movimentar seu dedo médio e indicador enquanto beijava meu pescoço, eu senti como se fosse, quase que literalmente ao delírio. Se fazer promiscuidades antes do casamento era estar errada eu não queria nunca estar certa.
Eu amava seu toque. Quando me dei conta já estava rebolando em seus dedos o ajudando e incentivando. Eu sabia que não podia gritar, não seria adequado, e se estivéssemos parados no meio de algum andar? Mas eu compensava todo aquele desejo contido morrendo-lhe o pescoço de forma que provavelmente deixariam marcas na manhã seguinte.
Ouvi um barulho e então um baque. Meu Deus!
! O elevador. – Disse sem realmente ter forças.
– Eu sei. Não pensa nisso, só se concentra. – Ele disse sem se importar muito que o elevador tinha voltado a se mexer.
Meu Deus. Ele estava completamente maluco. O pior era que eu não podia falar muito, não demorei a constatar, já que lhe dei ouvidos e continuei como se nada tivesse acontecendo.
Fomos intensificando os movimentos cada vez mais e mais, até que eu senti espasmos tomarem conta do meu corpo. Lhe dei um último beijo.
A porta do elevador abriu. Eu arregalei os olhos assustada e rapidamente a contragosto saltei de seu colo ajeitando minha roupa. Contudo, para a nossa sorte não havia ninguém naquele andar, quem quer que tenha chamado, ou resolvido o problema, havia cansado e dado no pé dali.
Olhei para o rosto do cara a minha frente que pelo espelho já tinha conseguido ver o hall vazio e agora sorria safado para mim.
– Eu gosto tanto dessa adrenalina, você não? – Perguntou descarado me fazendo rir.
– Vamos para o carro Sr. Armellin, acho que podemos experimentar algo novo por lá. – Pisquei um dos olhos brincando e tentando ser sexy antes de sair a sua frente e lhe chamar com o dedo.
Mesmo que de pernas ainda um pouco bambas o puxei pela gravata quando já estava mais perto sem dar tempo para que ele se ajeitasse muito e o conduzi, tentando o esconder para que nenhum desavisado que passasse por ali visse o que acontecia nos seus países baixos.

Can’t you see there is no other man above you?


Areia quentinha massageando meus pés, óculos escuros no rosto, deitada na canga que havia estendido, um livro e uma água de coco para me acompanhar, não queria nunca mais sair dali. Esperava que dessa vez eu finalmente ficasse com uma marquinha, por mim eu torraria ali, mas sei que me arrependeria completamente depois de tão ardendo que ia ficar. Dito isto, eu tinha alguém que parecia muito disposto em ficar ali ao meu lado o dia inteiro, e insistia em se oferecer para passar o protetor solar em mim.
– Você acha que já está na hora de passar de novo? – Perguntou deitando-se ao meu lado, me fazendo rir brevemente pela sua insistência, isso antes que fosse possível eu reparar no seu corpo molhado de água do mar, que ia escorrendo e... Céus.
Malditas gotinhas que me deixavam louca e me faziam ter vontade de sugar cada uma delas com a boca.
– Não, obrigada. – Ri imediatamente da sua feição de desgosto. – Mas acho que deveríamos voltar para casa dos seus pais e lanchar, estou morrendo de fome, parece que vir para praia sempre me deixa morta de cansada. – Reclamei insatisfeita.
– Espero que não cansada demais. – Disse piscando um de seus olhos.
– Você não tem jeito. – Neguei com a cabeça rindo enquanto o observava já sair correndo para juntar suas coisas. – Não que eu queira que você tenha. – Abaixei as asas dos óculos para lhe encarar rindo.
– Perfeito! Se eu chegar primeiro você toma banho comigo.
– E se eu chegar primeiro? Você pode ficar surpreso com o quanto eu estou em forma. – Seu olhar me correu de cima a baixo antes que ele se pronunciasse.
– Ah, com certeza não paro de me surpreender com isso. – Sorriu safado. – Se você chegar primeiro eu faço o sacrifício de tomar banho com você. – Deu de ombros antes de estender a mão para me puxar para cima e me ajudando a guardas todas as coisas.
Nós fomos conversando durante o caminho sobre todas as coisas bobas que nos vinham à mente, desde séries que amávamos e estávamos assistindo juntos ultimamente como "How to Get Away with Murder".
– Simplesmente inacreditável que tenha sido o pai dela. – Comentávamos indignados.
Até como o doido tinha sem querer ficado com marcas de havaiana nos pés, como se fosse um desses turistas, pagando micão, mas quem nunca, não é?
Porém nenhum dos nossos bate papos fora longo já que seus pais moravam realmente perto da praia. Em determinado momento comecei a sentir meus próprios pés descalços queimarem e então ele me pegou no colo e ficou brincando, fingindo a todo o momento que ia me derrubar. Eu tinha trazido meus chinelos, mas ele – é claro – achava muito mais divertido esconde-los de mim.
Em determinado ponto ele cansou e os devolveu para mim. Em meio a brincadeiras e falas tolas e leves, decidimos juntos que seria uma boa ir à sorveteria que ficava na esquina de sua rua primeiro, e assim o fizemos. Acontece que melhor ideia mesmo teria sido ir direto para casa. Já que assim que colocamos nossos pés para dentro do local encontrei um velho conhecido. Meu querido maldito ex-namorado.
?! – Chamou, aquela voz que eu bem conhecia.
Fiquei estática, sem saber muito bem o que fazer, fazia um bom tempo que não o via e as coisas não tinham acabado nada bem entre nós dois. Acontece que o Eric era um imbecil de primeira linha, mas eu conseguia ser pior porque após o nosso termino ainda fiquei um ano inteiro chorando as pitangas e sem me envolver com ninguém, praticamente ganhando minha virgindade de volta, se é que isso era possível. A definição de trouxa, mas novamente pergunto: quem nunca? Como em high school musical “we’re all in this toghether” estamos todos juntos nesta.
Olhei para o meu lado virando meu pescoço como o de uma coruja, com cara de espantada e parecendo o exorcista. matinha a feição tranquila, sem ligar muito para a situação, bem, ele não sabia os termos do nosso termino, na verdade ele só conhecia Eric por eu tê-lo apontado uma vez na rua e dito “é ele mesmo que terminou comigo e não deu uma semana já estava namorando outra”. Sim, um idiota, eu sei.
Talvez simplesmente não se lembrasse dele então resolveu ignorar o encontro começando a pegar seu sorvete enquanto eu parava para conversar com aquele ser humaninho irritante.
– Nossa! Quanto tempo! – Exclamei surpresa.
– Como você vai?
– Bem, e você? – Perguntei sem saber muito o que falar, percebendo que havíamos nos tornado dois estranhos. O que era bizarro, ao mesmo tempo em que glorioso, ter a certeza de que superou alguém podia ser realmente enaltecedor. – Sua família? – A situação se tornara ainda mais constrangedora assim que eu me dera conta de estar usando apenas biquíni e uma saída de praia bem curta além de, praticamente, transparente.
– Eu estou bem sim. Todo mundo também. A Gabi está tão crescida, cada dia mais engraçada. – Respondeu me lembrando da sua sobrinha, uma pequena muito fofa na qual eu era grudada quando ainda saíamos.
! Vai pegar seu sorvete logo! – chamou autoritário me apressando, eu jurava que seu humor tinha mudado completamente, mas talvez ele realmente só estivesse impaciente.
– Ah, desculpa, seu namorado deve estar com pressa.
– Ele não é meu namorado. – Respondi de imediato.
Foi como se um diabinho sussurrasse no meu ouvido que seria uma boa ideia tentar fazer ciúmes no e assistir o que aconteceria. Ele talvez não se lembrasse do Eric, mas certamente perceberia algo.
Nós nunca fazíamos aquilo, nunca provocávamos o outro, em parte porque sabíamos que poderia gerar um incomodo, por outro lado, agora, atormentá-lo era exatamente o que queria fazer. Precisava saber até onde gostava daquilo que tínhamos, e se talvez, ele estaria disposto a algo diferente. Deus sabe que essa não era o melhor meio para os meus fins, mas a gente tem que usar as armas que a vida nos da.
– Ah, desculpa de novo então. – Pediu, dessa vez me olhando melhor, talvez achando agora que tivesse alguma chance, tadinho dele, sonha, talvez na próxima vida amor. – Mas o que você está fazendo por aqui? Pensei que estivesse morando em...
– Sim sim. – O interrompi já começando a me entediar. – Estou aqui visitando uns conhecidos.
Em outros tempos eu estaria com o coração na mão, porque a paixão deixa a gente tão estúpido? Mesmo agora com , eu sabia que ás vezes agia inconsequente, a maior e significante diferença estava na reciprocidade, tudo que eu lhe dava ele me dava em dobro, e então eu lhe dava mais, e ele devolvia maior, e ficávamos os dois nesse jogo infinito e mágico.
Eric continuava a minha frente enquanto meus pensamentos voavam, balbuciando coisas que eu não prestava realmente muita atenção, apenas o suficiente para balançar a cabeça em sim ou não. No meio de uma frase e outra eu espiava de canto de olho onde estava, e o peguei uma ou duas vezes olhando de volta.
– Qualquer dia desses se você estiver livre... – Escutei Eric ao longe, mas antes que ele pudesse terminar, ou eu o impedisse desviando o assunto, apareceu o interrompendo.
– Aqui, resolvi pegar para você também, sei que você gosta do de chocolate. Agora... Vamos logo? – Disse rápido, quase sem parar para respirar, e sorriu amarelo antes de ir me guiando para fora com o braço ao meu redor.
– Tchau! – Gritei a Eric por cima do ombro. – Nossa, não precisa correr também. – Reclamei.
– Aquele lá não é o imbecil do seu ex? – Questionou com os olhos cerrados, cheios de fúria, talvez algumas mulheres odiassem aquilo, eu achava excitante. Ciúmes demais é doença, mas um pouquinho só... Ah, não ia machucar ninguém, ia? – Pensei que você o odiasse. – Reclamou.
– Ah, águas passadas, a gente não pode passar a vida odiando alguém assim. – Fingi não ligar.
– Você... Você... – Começou a falar atordoado, sua mão se apertando cada vez mais na minha cintura. – Ainda quer terminar esse sorvete?
– Perdi a vontade. – Respondi sorrindo.
– Ótimo! – Falou antes de jogá-lo na lata de lixo para mim e ir me puxando pela mão para dentro de casa e depois direto ao segundo andar.
! – Sua mãe gritou nos vendo passar como um vento pela sala.
– Ocupado! – Foi o que ele se limitou a responder gritando de volta.
Eu não podia me ver, mas certamente aquilo havia deixado meu rosto roxo de tanta vergonha.
Assim que chegamos ao seu quarto jogamos todas nossas coisas no chão, sem nos importar muito com a bagunça, e como o prometido fomos direto ao chuveiro, caminhando conforme tirávamos peça por peça de nossos corpos.
Já nus e dentro do box ele me encostou contra a parede e sussurrou.
– Você queria me provocar lá? – Beijou meu ombro nu.
– Talvez – Murmurrei de volta.
– Bem... Parabéns! Conseguiu. – Seu olhar escorreu até minha boca e logo ele mordeu meu lábio inferior o sugando para si.
Em seguida levantei minha perna direita, puxando seu bumbum pelado para mais perto de mim com a panturrilha e rindo levemente da travessura que cometíamos. Não demorou até que ele voltasse aos meus lábios cessando meu sorriso, os tomando para si como se a ele pertencessem. E se encontrava cheio de razão, pois naquele momento eu diria que sim, com toda certeza do mundo cada parte do meu ser lhe pertencia.
– Você acha que me fazer ciúmes é engraçado? – Perguntou enquanto seus toques continuavam, deixando faíscas furiosas que corriam minha espinha, descarga elétrica e adrenalina pura.
Eu mal conseguia formar uma única frase concreta, então deixei que minha resposta fosse um simples arfar. Minhas costas batiam contra o azulejo frio da parede e claro que o contraste com o corpo quente deixava tudo mais excitante. Eu não sabia o que havia sobre gelo e fogo, frio e calor que me levava ao limite. Minha pele parecia ficar extremamente sensível me fazendo perceber até a mais leve brisa entrando pelo basculante.
Talvez fosse estranho para muitos, ou eu simplesmente estivesse na minha TPM sem saber, mas de alguma forma esquisita toda aquela fragilidade do meu corpo diante do seu fez com que eu me recordasse dos meus temores em perdê-lo, constantemente me assombrando. O pensamento cruzou minha mente como um flash e logo eu fui capaz de fazê-lo se esvair, porém, o resquício de seu gosto continuava em mim, amargando minha boca.
Ao invés de vontade de chorar, cresceu dentro de mim o desejo por ele, em estar com ele, em ter cada átomo seu ligado aos meus – se é que isso era possível. Queria nossos corpos fundidos um no outro, o mais perto humanamente possível, parecia que só assim minhas dúvidas desapareceriam.
Então não me contive em mover meu corpo no ritmo do seu enquanto o beijava incansavelmente, se nossa transa tivesse uma trilha sonora esta carregaria a o suingue do reggae dentro de si.
– Você já parou para pensar na sorte que temos? – Deixei sair em meio aos nossos atos, sua resposta também veio como a minha: não em palavras, porém em atos.
Suas mãos viajavam nas minhas pernas, seus lábios beijavam minha clavícula e desciam em direção a minha barriga que tremia com espasmos ansiosos, eu não podia evitar fazer outra coisa senão segurar sua cabeça puxando e agarrando os seus cabelos curtos enquanto estendia meu pescoço em meio a suspiros. Foi assim que olhei para a ducha acima de nossas cabeças e pensei no quão incrível seria ter aquela água escorrendo pelos nossos lábios, tórax e abdômen enquanto nos beijávamos.
Assim que a liguei e desci meus olhos para percebendo que ele também havia gostado daquilo. Então como imaginei nos beijamos molhado, só que a realidade se fez muito melhor do que a minha leviana imaginação. Eu não dava crédito suficiente ao homem diante de mim.
Levei a mão até o seu membro o massageando para cima e para baixo em retribuição, a cara de tortura em seu rosto era tentadora, por isso não aumentei a frequência do gesto, gostava de enlouquecê-lo. Eu, particularmente, não era adepta ao sadomasoquismo nem nada assim, contudo, era uma sensação muito boa essa briga de gato e rato que montávamos, observando quem ia aguentar por mais tempo, quem ia quebrar e ser o primeiro a desistir.
– Você é incrível, mas também terrivelmente má. – Ri me fazendo de inocente diante de suas palavras e dando os ombros.
Sua testa logo se encostou a minha e ali nós não partíamos o contato visual, ele me encarava sem parecer ter ruído, completamente firme em seu olhar, e eu devolvia o fitando da mesma forma, como se a demora em tê-lo em mim não estivesse me corroendo por dentro, tudo isso porque tanto eu quanto ele gostávamos de por nosso orgulho em primeiro lugar.
A parte mais fascinante, no entanto, era o exato segundo em que um de nós dois ruía e se entregava, não só pelo sentimento de conquista do outro, mas porque no nosso caso sabíamos que isso só acontecia porque confiávamos o suficiente no outro para lhe dar o controle e deixar guiar as rédeas da situação.
Ele sabia jogar, então não foi surpresa que não tenha demorado até que seus dedos estivessem em mim, entretanto, eu havia feito à primeira jogada e ele, apesar da tentativa, sabia que aquele era jogo perdido.
Conforme seus dedos se moviam eu mordia minha boca e bochechas na tentativa de conter meus suspiros e gemido, ele agia da mesma forma com seu maxilar travado.
– Acho que já deu por hoje. – Sussurrou perto do meu ouvido e cansado das brincadeiras nos afastou só para que pudesse me puxar de novo e virar de costas deixando minha bochecha imprensada contra a parede.
Empinei minha bunda enquanto o espiava de canto de olho. Suas mãos seguravam meu cabelo. Primeiro ele apertou minha nádega e então depois mordeu meu ombro, meu pescoço, e levou seu nariz até meu cabelo aspirando seu aroma.
– Eu amo o cheiro do seu cabelo.
– Para de ser mentiroso, nós acabamos de voltar da praia. – Comentei rindo desacreditando nele.
– Nunca menti para você, não ia começar agora. – Disse antes de finalmente com uma das mãos afastar minhas pernas e me penetrar.
– Ah! – Deixei o gemido sair sôfrego de dentro de mim.
A princípio ele não foi até o final, foi apenas até a metade do caminho e saiu novamente, me deixando mais maluca que o chapeleiro maluco. Então estimulando meu clitóris com os dedos voltou a me penetrar, dessa vez indo até o fim, fazendo me ficar ainda mais imprensada contra a parede.
– Você. É. Incrível. – Declarou com sua respiração entrecortada.
. – Choraminguei clamando pelo seu nome, para ele voltar a me dar o que eu mais desejava no momento.
E assim ele o fez, indo para cima e para baixo dentro de mim continuamente, sua mão ora estava perdida no meio das minhas pernas, ora massageando meus seios. Seus lábios não casavam de beijar e morder minhas costas e ombros enquanto permanecíamos naquele movimento de vai e vem, eu revirava meus olhos sem conseguir mantê-los abertos, o deleite de estar tão conectada a ele me levando ao delírio.
A fricção das nossas peles era o suficiente para que eu me visse viajando pela galáxia. Rebolei nele e escutei seu resmungo.
... – Me repreendeu mordendo o lóbulo da minha orelha em seguida, mas eu não dei ouvidos, continuei até que estivesse contente, contudo parecia ter outros planos.
Ele aumentou o compasso e quando eu percebi nós dois gemíamos freneticamente, nos segurando para não gritar e fazer alguém escutar mais do que deveria. Um segundo depois minha cabeça estava jogada para trás em seu ombro enquanto recuperávamos nosso ar. O orgasmo nos atingindo em cheio e fazendo com que suássemos mesmo no banho.
– O que eu devo fazer para você ser só minha? – O escutei questionar e ainda de olhos fechados na mesma posição sorri.
– Eu já não sou?

Let's imagine for a moment
That you never made a name for yourself
Or mastered wealth
They had you labeled as a king
Never made it out the cage
Still out there movin' in them streets
Never had the baddest woman in the game
Up in your sheets

Exaustos depois da praia e de um banho mais quente do que esperávamos eu e não pudemos evitar fazer outra coisa senão dormir. Deitamos os dois na cama, os lençóis frios chamavam meu nome, logo aconchegamos nossos corpos em um casulo perfeito, sua coxa quente encostando-se à minha, e sua respiração batendo levemente no meu pescoço.
Casa.
Em todos os lugares as pessoas que conheço costumam dizer que sua casa não era um endereço, seu lar era onde seus amigos e aqueles que você ama estavam. Um cantinho de alguma forma especial para você, que lhe causava um bem-estar instantâneo, e eu sempre entendia isso quando estava com o homem ao meu lado.
Quando era mais nova e me mudei do meu pai, a princípio foi tudo ótimo, era festa vinte quatro horas nos sete dias da semana. No entanto, os dias foram passando e as coisas começaram a perder o sentido, eu comecei a ficar totalmente sem grana e cansada de ter que cuidar das minhas próprias coisas, foi como se as paredes e os móveis ficassem de pouquinho em pouquinho mais cinzas. Finalmente descobri que envelhecer era um porre daqueles que te deixava morrendo de dor de cabeça no dia seguinte e lhe fazendo sentir como se tivessem passado areia nos seus olhos.
Fora do meu apartamento, por aí bebendo, dançando, beijando e me esbaldando sem ter que dar satisfações, me sentia ótima. Porém, eram em dias de chuva e ficar em casa assistindo filmes que eu sentia o coração de doer e ficar apertadinho, todo encolhido dentro do peito. Tudo isso de saudade da pipoca do meu pai, da briga pelo controle remoto da televisão, e o ronco de quem tinha pegado no sono no meio da sessão da tarde.
Nessas horas eu constatava que, realmente, lar é onde o seu coração faz morada. trouxe esses momentos de volta para mim quando começamos a sair e ele ia para lá para o meu apartamento gastar tempo comigo enquanto fazíamos vários nadas. As paredes ganhavam cor novamente, os móveis, de repente, se faziam mais atrativos, as almofadas, contudo, devo confessar que continuaram demasiadamente chatas, afinal de contas, muito melhor era encostar minha cabeça em seu ombro, ou no seu peito, sentindo sua respiração para cima e para baixo enquanto ficávamos ali assistindo qualquer coisa que passasse.
Logo sua casa também virou a minha, e acredito que até mesmo ficou um pouco mais dele. Ao menos comigo foi assim, se tornou mais real, mais meu, mais amável. Pode ser que talvez fosse um pouco abusado da minha parte pensar assim até mesmo na casa de seus pais, e por conta disso quem sabe ficar mais à vontade do que o apropriado.
Mas é que eu escutava os gritos da sua mãe lá de baixo e não conseguia me impedir de sorrir, via seu irmão revirar os olhos com as implicâncias de e imediatamente me fazia sua cúmplice, só de imaginar escutar seu padrasto com mais uma engraçada história na ponta da língua para me contar sobre, um sorriso leve e desavisado me surgia à face.
Tudo aquilo era lindo e mágico, porém ao mesmo tempo em que horripilante.
Porque eu não queria que tivesse fim, e viver na incerteza me matava cada dia mais. Todo mundo diz: não vá por esse caminho de pensar nos “e ses” da vida, pois só vai te causar problemas e colocar pulgas atrás das orelhas, e eu concordava plenamente, mas era tão difícil.
E se no final de tudo ele não quisesse largar toda aquela comodidade da vida que levávamos por mim?
E se eu não fosse o suficiente?
E se ele não me amasse?
E se depois de todo esse tempo, tudo o que iria conseguir levar comigo dessa relação era o tempo perdido e meu coração partido?
Eu não queria ser chata, nunca quis ser a garota que faz alguém escolher e diz “ou é isto, ou sou eu”, acontece que ou era aquela vida, ou eu.
Quanto acordei mais tarde resolvi descer para tomar um café e comer um lanche já que, mesmo morrendo de fome, me limitei a apenas comer um pouco de sorvete e cai na cama de tão cansada considerando os eventos, sem forças para me locomover até a cozinha no primeiro andar.
Sua mãe, Raquel, estava lá, aparentemente terminando de tirar uma torta do forno. Perfeita hora para descer não?
– Hm... Está cheirando muito bem. – Disse como quem não queria nada rindo logo em seguida.
– Os pombinhos já acordaram? – Ela questionou gargalhando com o meu comentário, logo enquanto colocava a forma quente em cima do balcão, fiquei morta de vergonha de lembrar nossa falta de educação ao chegarmos apressados e agora mais esta “pombinhos” a essa altura eu já deveria ter me acostumado, mas não tinha.
– Bem, seu filho ainda está dormindo como uma pedra. Não sei se deveria acordá-lo para comer, com certeza ele está morrendo de fome, mas você sabe como ele ficar super rabugento quando alguém o acorda.
– Menos quando você o faz. – Se pronunciou certeira, que língua afiada a daquela mulher.
Mais uma vez senti meu rosto quente e ri constrangida, pretendendo disfarçar meu embaraço com a situação, o que não funcionou muito.
– Sra. Armellin! – A chamei com a voz esganiçada a repreendendo e brincando ao mesmo tempo olhando em volta da cozinha e suas paredes azuis claras, as prateleiras todas lotadas de produtos e livros de receita.
– Oh, querida, não sei o porquê essa surpresa, não está óbvio ainda que ele se encontra aos seus pés? Não vê que sempre que vocês estão juntos ambos se iluminam? Reconheço paixão de longe, vocês não me enganam! Não sei o que acontece direito entre os dois, mas não se deixem enganar, formam um par perfeito. Vivo brigando com e dizendo que ele já deveria ter te proposto em namoro, quiçá casamento, antes que algum engraçadinho chegue por aí e tenha a audácia de tentar roubar você de nós. – Sua voz era amável e soava como música para os meus ouvidos, ela era tão gentil que fazia com que eu desacreditasse que fosse real. podia ter lá os seus problemas particulares com a mãe hora ou outra, mas a mulher sempre havia sido nada além de maravilhosa comigo.
– Ah, mas então quer dizer que o seu filho anda tentando escapar de mim e de um casamento e eu não estava sabendo de nada? – Fingi indignação e rimos divertidas. De repente me dei conta da seriedade do assunto e fiz questão de me esclarecer – Não que eu queira casar, eu não quero. – Levantei minha mão gesticulando agitada. – Eu estou bem, estamos bem.
– Não se preocupe, é o nosso segredinho. – Ela piscou tornando meu rosto roxo.
Jesus! Estava tão óbvia assim minha insatisfação com a atual condição das coisas? Não que eu quisesse por um anel neste dedo, isso não, eu tinha outros objetivos a serem alcançados primeiro, quer dizer, nossas carreiras ainda tinham muito pela frente. Não que um casamento amarrasse os dois pés da pessoa no lugar, contudo, definitivamente, não era uma prioridade na minha vida agora.
– Obrigada! – Sussurrei agradecendo mesmo assim, sabendo que apesar da cabeça daquela doce mulher estar aumentando um tantinho às coisas, em parte, ela me entendia, e como entendia.
– De nada. – Respondeu antes que o irmão de entrasse na cozinha como um ogro já reivindicando a torta para si.
Em seguida cortamos uma fatia da torta e emendamos em outros tópicos, nossas risadas corriam soltas e toda vez que eu lhe olhava era como se estivesse a confessando, compartilhando, um segredo, o que na verdade, estava.
– Vocês duas estão muito espertinhas, ficando aqui na encolha com a torta né, nem iam chamar, isso aí mesmo, assim que a gente descobre.
– Para de ser bobo, menino. – Raquel disse antes de lhe bater no braço com o pano que segurava, engraçado como uma mulher de um metro e meio tinha tanta influência, respeito, e estranhamente causava medo naqueles brutamontes que eram seus filhos.
– PAI! A MÃE E A ESTÃO COMENDO A TORTA! – Berrou chamando seu pai, padrasto de , quase estourando nossos tímpanos. O escutei vir caminhando bufando com seus passos pesados e comecei a rir incansavelmente. Pronto, confusão formada, e como eu gostava de fazer parte disso.

(...)


Já era dia de ir embora, e eu havia me prolongado por mais tempo que o esperado a minha conversa com , foi por isso que naquela manhã o chamei para conversar no jardim, longe dos ouvidos curiosos da sua família.
– O que você queria tanto me falar? – Perguntou rindo enquanto caminhava, eu de forma não muito surpreendente olhava para todos os cantos dali tentando acalmar meus nervos e convencendo-me de que aquilo não era algo tão grande como eu estava fazendo ser.
Meus chinelos esmagavam a grama embaixo dos meus pés, o vento batia calmo e meu cabelo resvalava no meu rosto causando cócegas, a macieira e o balanço do jardim se mexiam em harmonia, quase como se fosse orquestrado.
– Eu acho que te amo. – O escutei dizer de súbito e senti meu coração tremer quase pulando uma batida, devagar levei meu olhar até o seu, reparei em seus ombros baixos e a boca tremula nunca ficava nervoso, mas mesmo assim meus olhos não me enganavam, ele estava nervoso. – Por exemplo, agora mesmo, eu vejo céu azul, vejo a grama, a árvore, e vejo você e em como combina com a paisagem e não consigo evitar a vontade de te deitar na grama para nos beijarmos até o seu se pôr e então seguirmos para dentro de casa na cama até o sol raiar. Eu não sei o que você tem, mas é... Diferente de tudo o que eu já vi. – Deu de ombros.
Continuei com minha boca aberta, embasbacada e sem ter o que lhe responder. Era algo assim que eu queria vindo dele, certo? Errado! Eu precisava de mais, e me doía constatar aquilo, me machucava ver que por mais amor que estivesse ali, a verdade era universal “as vezes só amor não é suficiente”. Afinal, palavras o vento facilmente levava daqui, já em relação a atitudes a história era outra. Ali se encontrava o meu precisar: nas mudanças de seus atos, dos meus, do nosso relacionamento.
Indiscutivelmente eu tinha medo de perdê-lo no segundo em que expusesse minhas ideias, mas isso já não acontecia agora? Em momentos como este em que eu me segurava para não dizer o mesmo, para não pular em seu pescoço, tudo isso para tentar manter comigo o mínimo de dignidade se um dia tudo fosse pelo ralo.
– Eu não sei bem se você vai gostar do que tenho para lhe dizer. – Confessei nervosa sem saber bem como reagir diante de seu comentário e observei sua expressão murchar.
– Então diz... – Insistiu inquieto, deitando em meio da grama fresca, eu o acompanhei me sentando.
– Eu queria te perguntar, queria saber se... Você não cansa às vezes?
– De nós? Onde você está querendo ir com isso? – Exaltou em sua pergunta tirando conclusões precipitadas e não me deixando terminar. – Se for isso apenas bote a merda para fora logo e vamos resolver o quanto antes.
– Não é isso! – Exclamei um tanto quanto impaciente. – Se você me deixar terminar de falar e escutar.
– Não vou deixar você dizer qualquer besteira que possa se arrepender, se isso aqui for você terminando...
– Cala a boca, ! – Levantei o tom de voz impaciente. – Pare de ser tão teimoso e de ficar tão na defensiva e pelo amor de Deus me deixe terminar, eu quero uma conversa decente. – Continuei nervosa arrancando todos pedacinhos de grama do chão com as minhas mãos.
Aquilo nem tinha começado, mas já estava correndo muito pior que o esperado. Quanto ele continuou se mantendo quieto e olhando para o céu respirei fundo acompanhando seu olhar e pedindo a qualquer ser todo-poderoso forças e calma do além para continuar.
– Você... Alguma vez já vivenciou a sensação de... Não querer estar com alguma garota, ou de sentir ciúmes em momentos que você não deveria?
– O que isso tem a ver com nós dois? Você está interessada em outro cara? Isso é por causa do seu reencontro com o ex-namorado?– Questionou e eu juro que ia brigar com ele por me interromper mais uma vez, mas a dor em seus olhos me fez voltar atrás.
Por que é que ele estava tirando todas as conclusões erradas? Ele não conseguia ver que não existia nenhum outro homem para mim? Isso não se fazia óbvio? Bem, talvez a mãe dele estivesse corretíssima quando afirmou que nenhum de nós dois enxergava um palmo a frente de nossos narizes, pois agora, tudo o que minha insanidade questionava era se ele realmente me amava ou se só dependia de mim, se havia se acostumado.
– Não. – Prossegui com pesar na fala e voz começando a embargar. – Isso é sobre escutar que você me ama, mas sentir que você não me merece.
– Eu não estou entendendo, por favor, me explica. – Ele se virou para mim e me envolveu em seu abraço de urso, deixando um beijo em minha testa e outra na minha bochecha logo antes de sussurrar pedinte. – Por favor.
– Você quer que eu seja honesta? – As palavras saíram duras conforme eu me afastava para olha-lo nos olhos e confrontá-lo.
Como podíamos ser tão intensos? Uma hora calmaria, um segundo depois tsunami. Parecíamos ser infinitos em nossos sentimentos, tão instáveis como todo o universo ainda não descoberto, ao mesmo tempo em que a finitude parecia estar ali, nos pressionando e cutucando, o medo de que o infinito fosse só ilusão e que aquela imensidão tivesse fim nos paralisava e fazia com que agíssemos feito loucos. Eu não era mais eu, ele não era mais meu.
– Não tenho certeza. – Aquilo fez com que eu o odiasse por um instante, mas fez com eu que me detestasse muito mais.
Claro! Jogue a culpa para cima de mim, confesse que prefere a mentira que consola a verdade que dói, e então me culpe por desperdiçar esse lindo amor.
– A verdade é que: você está partindo meu coração, logo no momento em que precisava que você me escutasse. Bem quanto estou aqui, parada, a sua frente, prestes a te dizer que basta! Pronta para fazer uma decisão.
– Não pode fazer isso, não é só sua escolha! Eu não queria dizer isso porque me faz ter raiva de mim e também de você, mas, não está claro ainda que... que também... – Engoliu em seco. – Merda! Também estou com a droga do coração magoado. – Suas palavras saiam em fúria e ele socou a grama ao seu lado antes de levar a mesma a cabeça.
Por que estávamos agindo daquela forma? Éramos péssimos em lidar com sentimentos, porém já havíamos discutido antes e sempre soubemos ouvir, será que ele também vinha sentindo algo mudando? Empurramos com a barriga enquanto deu, mas nada realmente era o mesmo. Quando estava tudo bem, estava tudo bem, mas quando tudo estava mal... Estava péssimo.
– É minha escolha sim! – Gritei de volta. – Eu não quero mais isso. Não quero ficar me mordendo de ciúmes, não quero ver você por aí sem que você seja realmente meu. Não quero mais outros homens também. E principalmente. Eu. Não. Quero. Mais. Desperdiçar. Meu. Tempo. Eu sei que é bobo e que eu nunca fui muito de falar do futuro, apenas passado e presente, afinal o futuro é sim incerto, eu admito! Mas eu também tenho sonhos poxa, eu quero algo sólido. Não quero ter medo de que você vá se apaixonar por outro alguém por aí e tchau tchau, . Eu sempre estive aqui por você, eu nunca te virei às costas, desde quando você chegou à empresa até agora que já se estabeleceu, praticamente fiz uma campanha em seu favor a partir do momento em que começamos a conversar naquela companhia, imagine sua vida sem mim, ela seria pior? Talvez. Melhor? Quem sabe. No entanto, certamente seria diferente, e eu sei que você ama a vida que tem agora – eu também adorava as coisas do jeito que eram – e que acha que me ama, mas eu não consigo mais continuar com isso, eu preciso o mesmo de você, dessa vez preciso que você cubra a minha retaguarda. É isso que eu tinha para te falar, não é muito, não é complicado, é a verdade nua e crua: ou a gente acaba com esse relacionamento distorcido aberto que temos e ficamos apenas um com o outro, ou... – Pausei e tomei um tempo para retomar meus nervos aos seus devidos lugares para que pudesse me levantar dali e sair. – Vou te dar um tempo para pensar sobre isso porque eu também preciso, não quero realmente terminar essa conversa agora. – Estou apavorada com a sua possível resposta. Foi a última frase que mantive para mim conforme levantava batendo a terra molhada da minha bunda.
– Mas, ... – Ele segurou minha mão antes que eu pudesse ir.
– Não agora, estou indo para casa sozinha.
– Não! Você precisa me escutar também, não é só você que tem coisas a falar.
– É dessa forma que vai ser, desculpa. Você pode falar sobre isso comigo amanhã.
Me retirei começando a pensar em como idiota aquilo tinha sido, eu deveria ter estabelecido uma semana, assim teria tempo de me preparar e não faríamos aquilo provavelmente no trabalho onde e não teria lugar para pirar e chorar até cansar.
Bom, estava feito.

I always keep the top tier, 5 star
Backseat lovin' in the car

Acordei me sentindo doente e sem vontade alguma de ir para o trabalho. Depois da minha conversa com comprei uma passagem de ônibus para casa – nem tudo nessa vida é glamour. Não queria ter que passar duas horas sentadas ao seu lado fingindo dormir ou simplesmente o ignorando, tal atitude apenas ia me fazer sentir mais miserável.
Claro que vários questionamentos irrompiam em mim durante todo o caminho, e eu que geralmente dormia fácil em viagens me vi sem conseguir pregar os olhos. Cada barulho mínimo me deixando mais irritada que o normal. A própria bruxa do setenta e um, totalmente ranzinza.
Levantei da minha cama escutando Zezé miar a contragosto. É... Eu entendia meu felino, meu o humor não estava muito diferente do dia anterior. Os olhos inchados depois de chorar agarrada ao travesseiro. Eram nesses instantes que eu começava a me questionar se tudo aquilo que eu estava passando valia a pena. Será que não ligava nenhum pouco para mim e eu não percebia? Felizmente ainda tinha meu amiguinho para ronronar e se enroscar em mim, não estava só.
Peguei o celular ao lado da cama só constatando naquele instante que ele havia acabado a bateria na viagem e eu tinha esquecido de por para carregar. Me espreguicei e levantei da cama, saindo do quentinho do cobertor a contra gosto, o liguei na tomada e fui tomar um banho para me aprontar para o trabalho.
Novamente, com a água escorrendo em mim tornei a chorar. Abracei meu próprio corpo enquanto as mesmas perguntas sem respostas de ontem me voltavam à cabeça. Mais uma vez eu me via duvidando de seu amor. Quem sabe esse tempo todo eu não tenha servido apenas de brinquedo para ele? Pior, talvez as coisas entre nós ficassem tão ruins que eu teria que sair do meu emprego. Ah não, foda-se ele, foda-se esses sentimentos ruins dentro de mim. Foda-se, foda-se, foda-se, mil vezes foda-se!
Minhas lágrimas que agora desciam eram cheias de puro ódio, de tudo e de todos. Eu tinha vontade de abrir a janela e gritar ao mundo minha raiva, vontade de socar alguém, de quebrar algo, mas não dava, então me limitei a dar um soco na parede do box.
Eu precisava me recompor, precisava engolir aqueles sapos e empinar novamente o queixo. A vida te deu limões? Faça limonadas.
Eu era muito mais do que um homem, do que um relacionamento. Mesmo que todos aqueles questionamentos de filme de terror fossem respondidos na afirmativa, por mais que eu descobrisse não ser nada para ele, eu ainda era muito para mim mesma.
Eu era forte, corajosa, poderosa. Eu podia muito bem terminar esse banho, colocar minha roupa, e aparecer lá com o maior sorriso do mundo, eu conseguia, sabia que sim, eu só precisava de um momento, instantes, segundos para chorar, espernear, gritar e deixar tudo ir para fora, então estaria pronta para outra.
Sequei meus cabelos, passei uma maquiagem que usualmente não usava já que meus olhos estavam inchados. Não queria ir arrumada demais como se tivesse algo a provar a ele, mas também não iria desleixada como se para mostra-lo “olha só o que você fez”.
Liguei meu telefone quando já estava pronta para sair de casa. O que eu não esperava era ver mais de CEM chamadas perdidas. Quando isso havia ocorrido e em que mundo eu estava? Distraída tranquei a porta atrás de mim e no elevador fui checando se cada uma delas eram realmente de , e tirando duas da minha operadora chata para caralho, todas, absolutamente todas, eram do homem que eu amava.
Eu cheguei à empresa com um sorriso indo a cada canto da orelha, pronta para conversar com ele e tomando aquilo como um ótimo sinal. Só alguém que se preocupava muito se dava ao trabalho de ligar tantas vezes assim. Conforme caminhava me agarrava àquela esperança.
A vi murchar um pouco quando segui para a sua sala e não o encontrei. Tudo bem, disse a mim mesma, talvez ele só estivesse atrasado. Acontece que horas e horas foram se passando e nada, o meu coração batia a mil o tempo todo, a cada vez que a porta do elevador se abria eu tinha esperança que fosse ele chegando.
– Ei, você sabe por que o Sr. Armellin não veio hoje? – Fui até uma das minhas colegas de trabalho mais próximas perguntar, seu nome era Fabiana, ou Fabi.
– Se você não sabe, como eu saberia? – Respondeu rindo, seu comentário parecia ser uma alfinetada, porém eu tinha consciência que não era a intenção. Ela não fazia ideia do que estava acontecendo e apenas brincava por estar ciente de nosso relacionamento. Acho que muitos, mesmo os com quem eu mal trocava uma palavra, se encontravam assim considerando a bronca pública que nosso chefe havia nos dados depois do episódio no apartamento de . – Por que está tão nervosa hoje? Aconteceu alguma coisa? – Sua feição mudou para uma preocupada, mas eu podia jurar que tinha algo errado com ela hoje.
– Não é nada... – Balancei a cabeça negando. – Só precisava... Bem, deixa para lá, posso falar com ele depois. – Tentei me explicar sem realmente dar muito detalhes, não estava com um humor muito bom para conversas.
– Você que ir almoçar comigo hoje? De qualquer jeito eu já ia te chamar. Todos da empresa estão com compromisso hoje, estou supondo que irão fazer um lanche com todo mundo junto, e você acredita que não me convidaram? – Sua face expressava indignação.
– Também não fui chamada. – Comentei sem realmente dar muita importância para isso, mas ao recordar da possibilidade de estar nesse almoço voltei a me intrigar. – Talvez devêssemos ir de penetra.
– É talvez... – Comentou sem muito entusiasmo.
Nós continuamos a conversa um pouco mais antes que eu tivesse que voltar correndo para o meu trabalho, afinal, existiam coisas a serem feitas. O mundo não parava para te dar um tempo de bad, ele era cruel e continuava sem pena nem dó, mesmo que a contragosto precisava acompanha-lo, caso contrário...
Quando já era hora do almoço nos reunimos novamente, e ela tinha razão, a empresa estava estranhamente vazia. Ao passo que íamos caminhando eu me pegava ultra analisando cada cantinho do escritório, me recordando de cada beijo roubado escondido, as pausas para o café, entre algumas outras coisas um pouco mais pervertidas.
Descemos o elevador e no hall encontramos Eric, um dos estagiários da empresa. Vi Fabi pegar o celular de dentro da bolsa e começar a filmar, Eric deu alguns passos até nós, pronto para dizer algo enquanto eu me encontrava completamente absorta ao que acontecia. Por que Diabos ela estava filmando aquilo? Eu só rezava internamente para que aquilo não fosse uma daquelas pegadinhas que me fizessem passar vergonha pública e fossem parar no email de todos os funcionários.
– Eric? – Indaguei.
– Sra. Belgard. – Ele tirou a mão das suas costas e me ofereceu uma linda rosa vermelha, senti minhas bochechas corarem constrangidas.
– Desculpa, eu não posso... – Tentei recusar.
– Não tem espinhos, completamente seguro.
– Aceita! – Fabi gritou. – Vai por mim, só aceita e continua andando.
– Você sabe o que está acontecendo aqui? – Minhas sobrancelhas se franziam cada vez mais em confusão.
Aceitei a rosa da mão de Eric e sussurrei um "obrigada" antes de voltar a caminhar e logo em seguida encontrar outras duas pessoas atrás de uma parede que antes eu não havia visto. Todos os dois trabalhavam na nossa companhia, e cada um deles segurava outra rosa para mim.
– Tudo bem, o que está acontecendo aqui? – Comecei a rir nervosa.
– Alguém especial nos pediu para entregar isto a você. – Arregalei os olhos engolindo em seco e sentindo meu coração imediatamente acelerar.
Não ele não... Ele não podia, mas será que ele...
Eu devia ter perdido a cor dos lábios neste exato momento de tão nervosa que me encontrava. Só que aquele era um nervosismo bom, o melhor que já havia sentido, era um furacão no estômago, já havia passado de borboletas a essa altura.
– Obrigada! Obrigada! – Agradeci embasbacada pegando as rosas de suas mãos enquanto assistia o sorriso iluminado nos seus rostos, sorriso de quem sente que está fazendo algo bom, sorriso de gente que sabe que está espalhando amor, sorriso de gente que está colocando um sorriso no rosto do outro, no meu rosto, na minha boca.
Continuei a caminhar, dessa vez mais rápida, porém com cuidado, morrendo de medo de perder alguém da vista, ou até mesmo que estivesse escondido em algum canto por ali e eu não o avistasse.
Mais a frente parei novamente, com o porteiro do prédio, o senhor João, se encontrava das flores.
– Vocês dois tem muita sorte minha filha, por terem encontrado um ao outro. – O seu João era um dos caras mais fofos do mundo, já tinha escutado várias de suas histórias sempre que parava na portaria perto do final do expediente e aquecia meu coração que suas palavras soassem tão verdadeiras.
– Obrigada, seu João. – Agradeci emocionada com aquilo tudo e lhe dei um abraço apertado.
Fabi vinha atrás de mim ainda filmando, igualmente prestes a chorar, mas todos aqueles olhos molhados eram bons, porque aquelas eram lágrimas de felicidade.
– Vocês não têm jeito. – Disse olhando para minha amiga e para ele que mantinham um belo sorriso no rosto.
Nós continuamos para fora do prédio onde eu esperava encontra-lo, mas ao invés disso, lá, no decorrer de toda a calçada, se encontravam vários de nossos funcionários, espaçadamente parados, cada um segurando uma rosa. Abri minha boca em um perfeito “O” em choque, levei a mão até ela contendo um grito e pulos de satisfação e alegria. Como era fácil levar alguém do fundo do poço ao topo da colina em segundos não? Eu que não há muito estava querendo ser enterrada viva agora parecia fogos de artifício prestes a explodir.
No decorrer do caminho Fabi vinha atrás de mim me filmando enquanto eu ia pegando todas flores, atravessamos uma rua e elas não paravam de vir, já tinha se formado um buquê lindo, eu agradecia e cumprimentava todos pelo caminho.
Até que paramos em frente a um restaurante perto da companhia que eu conhecia bem, sempre vinha aqui comer, e fora também o lugar onde pela primeira vez eu e almoçamos juntos. O metre esperava por mim.
– Deixe-me ajudá-la com isso. – Estendeu as mãos para pegar as flores e amarra-las devidamente as embrulhando, então ele as devolveu para mim, mais lindas do que antes. – Vou guia-la até a sua mesa.
– E eu fico por aqui. – Fabi disse antes que eu fosse, me mandando um beijo. – Depois eu te mando o vídeo, vocês precisam conversar, boa sorte! – Desejou e eu mandei um beijo de volta, mesmo que não fosse o suficiente para expressar o carinho.
O metre me levou até a mesa reservada e lá, com as mãos nervosas e olhar sedutor estava o vigarista do . Eu já podia matar ele na cama? Porque certamente queria. Sentei-me a sua frente percebendo que ele segurava um caixa com bombons. Estendeu a mão para me entrega-la.
– Espero que você não ache isso tudo muito brega. – Deu de ombros.
– Eu amei. – Sussurrei sem conseguir desviar meus olhos dos seus e então estendi minha mão para pegar o seu presente. – eu não tenho palavras para...
– Antes de qualquer coisa eu gostaria que você me desse à oportunidade de te dizer o que eu já podia ter falado ontem mesmo, porque eu não precisava de tempo algum para pensar. – Respirei fundo ainda morrendo de vontade de chorar e com aquela boa energia crescendo constante dentro do meu coração.
– Eu estou me sentindo uma boba por ontem agora diante disto tudo. – Murmurei pela primeira vez desviando nossos olhares.
Nesse meio tempo um garçom chegou com um champanhe para nos servir, sorri comigo mesma, ele tinha pensado em cada detalhe, não tinha?
– Você não precisa, porque se não fosse pela sua sinceridade eu nunca teria descoberto que...
– Que eu estava enlouquecendo? – Ri desgostosa.
– Você sempre foi louca e eu sempre amei isso.
– Aí! Obrigada eu acho. – Me fiz de ofendida levando a mão ao peito antes de rirmos.
– Eu nunca teria descoberto que você também se sentia da mesma forma.
– Ham? – Questionei confusa.
, já faz mais de um mês que eu não vejo ninguém além de você, achei que tinha percebido. – Minha boca mais uma vez no dia formava um “O” belo e aberto.
Fiquei o encarando por uns cinco segundos antes de ambos caíssemos na gargalhada. Será possível? Isso era mesmo verdade ou apenas baboseira para me convencer?
– Você está falando sério?
– Não poderia estar mais. Pode perguntar a qualquer um, meu irmão, meus pais, nossos amigos... Não ficou claro que eu te queria só para mim nem depois de esbarramos no seu ex-namorado?
– Bem, não ficou claro depois que eu saí pulando do seu armário que eu queria só a você? – Como erámos dois idiotas, tanto medo que tínhamos de perder um ao outro que deixamos que este guiasse nossas atitudes e nos cegasse, mas agora eu via claro, não havia mais neblina alguma para confundir minha visão.
– Eu te amo, , só a você. – Suspirei enquanto sentia o significado daquelas palavras penetrarem fundo dentro de mim, no mesmo momento em que lembrava sua louvável atitude de hoje e o amava de um jeito que não dava mais para segurar dentro do peito.
– Eu te amo. Da maneira mais especial na qual consigo pensar, afinal de contas, uma coisa é ter uma pessoa só a quem conhecer, conviver, e por fim acabar se acostumando a ela e começar a amá-la, outra completamente diferente é quando você sabe que aquela pessoa pela qual você é apaixonada por, podia ter escolhido mil outras, mas decidiu que você era a única que queria.
– E nós somos assim. Você podia ter ficado com qualquer babaca por aí, mas aqui estamos. – Seu olhar sedutor recaiu sobre mim me atraindo como imã.
– Imagine se você tivesse acabado com a minha prima no final das contas? – O lembrei espetando de brincadeira.
– Ah não! – Jogou a cabeça para trás gargalhando. – Você já vai começar a lembrar dos meus erros? Isso foi bem rápido, estava esperando que essa atitude toda me desse crédito para pelo menos um ano.
– Um ano?! Você está brincando? Isso aqui é algo para a vida toda. Eu não vou te deixar escapar, pode ter certeza disto. – Passei minhas pernas na dele embaixo da mesa para cima e para baixo como um gatinho.
– Então somos só um casal de velhos apesar da idade não tão avançada. – Comentou com seriedade, logo antes de abrir um sorriso de sol, me cegando com sua glória. – Já podemos comemorar isso?
– Estava pensando... Acho que poderíamos conseguir um folga hoje e dar um voltinha por aí de carro.
– Seria um ótimo lugar para sexo de reconciliação.
– Ah sim, seria. – Ambos sorrimos sedutores um ao outro antes de erguermos nossas taças e brindarmos.


Fim.



Nota da autora: Sou muito fã da Beyoncé, desde os meus 12 anos dançando e imitando coreografia igual uma louca com minha irmã mais velha, e adoro a música hold up (inclusive fica aqui o apelo para que criemos um movimento “bicha cai na real e solta tudo seu no spotify que eu não tenho dinheiro para pagar tidal”). O enredo que eu pensei foi esse e eu gostei muito de escrever, me inspirei apenas parcialmente no Harvey e na Donna (quem vê a série Suits conhece) eu os amo, melhores pessoas, sete temporadas e ainda sofrendo querendo que eles se peguem haha. No mais é isso. Como já diria Beyoncé “hold up they don’t love you like I love you” essa frase fica para o crush e para Bey, que se quiser largar do Jay Z e casar comigo só vir, além disso fica para vocês também que leem, apoiam, comentam, e deixam críticas construtivas sendo um bando de amorzinhos. A vocês todo o amor do mundo e um grande beijo.





Outras Fanfics:
Finalizadas:
04. Oops / 05. Hair
Em Andamento:
Proteja-me do que Quero

Qualquer erro nessa fanfic e reclamações somente no e-mail.


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