Última atualização: Fanfic finalizada.

Capítulo Único

Don't wanna be fool, wanna be cool, wanna be loved
너와의 same love, baby, I want it.


Conquistar as pessoas ao seu redor nunca foi uma coisa simples para Kim Namjoon. Pelo contrário, sempre pareceu tudo muito difícil e controverso para ele. Sua gagueira o tomava dos pés à cabeça, resultando em um nervosismo e um medo desenfreados. Suas mãos tremiam e suas pernas ficavam bambas sempre que precisava falar com qualquer desconhecido, apresentar algum projeto na escola e, principalmente, na hora de cortejar as pessoas que chamavam sua atenção. Nunca foi bom em flerte e conversas descontraídas, e vivia em constante ansiedade, a ponto de sentir dor no peito. No entanto, com o passar do tempo, decidiu que não queria mais viver desse jeito. Em uma noite de bebedeira ao lado de Hoseok, seu melhor amigo, Namjoon decidiu que levaria a terapia a sério e melhoraria antes de concluir a faculdade de Psicologia — uma graduação completamente irônica e que, teoricamente, não funcionaria para si.
A surpresa foi grande quando Namjoon não só chegou ao fim do curso, mas como também entregou um TCC de honras e foi aprovado para um mestrado nos Estados Unidos logo em seguida com uma pesquisa sobre o comportamento humano e as causas da ansiedade por causa da pura e simples comunicação. Usando-se de exemplo para concluir seus estudos, as coisas magicamente se tornaram fáceis. Quer dizer, não fáceis, ele ainda ficava nervoso, sentia as mãos suarem e entrava em uma espiral de crises ansiosas uma vez ou outra. Mas as coisas ficaram mais tranquilas depois do tratamento e dos estudos aprofundados. Entender a mente humana sempre foi um desafio, e agora não parecia mais tão complicado assim. Havia entendido o sentido de várias coisas e pôde ajudar muitos outros que sofriam como ele.
Tornar-se terapeuta que falava sobre autoconfiança ao mesmo tempo que tentava moldar uma “nova personalidade” nos pacientes não era um plano. Na verdade, acabar a faculdade não era um plano; ele queria ser músico, mas por pressão externa acabou deixando-se levar para a Psicologia, que era uma área que o interessava. No fim das contas, Namjoon não conseguia se ver em outra área mais. Sentia-se em casa toda vez que chegava em seu consultório e encontrava um homem como ele; principalmente em sua versão jovem.
Namjoon era chamado de várias coisas ao redor do mundo; trapaceiro, charlatão, inteligente, sensível, idiota, incrível… Uma chuva de adjetivos ofensivos ou não. Ele era conhecido em seu ramo, e seus amigos consideravam-no o único, porque, de acordo com eles, ninguém queria ser um “terapeuta exclusivo para fracassados que não conseguiam conquistar as pessoas amadas”. Bom, ele não se importava de ter de lidar com “fracassados que não conseguiam conquistar as pessoas amadas”, ele até gostava — já havia sido um daqueles fracassados um dia.
As pessoas costumavam dizer que Namjoon era só uma espécie de coach com o diploma de psicólogo comprado e justificavam dizendo que não era normal um homem tão inteligente e com tantas certificações na bagagem “perder tempo” tratando de pessoas que não sabiam como conquistar as outras. Mas afinal: o que era ser normal? Ele não sabia, tampouco queria saber. Só queria fazer com que todos ao redor aceitassem seu próprio normal, seu próprio jeito e encontrasse a confiança necessária em si mesmo. Se a única forma de ajudar essas pessoas era ensinando-as sobre como conquistar alguém, como parecer mais firme e tomar decisões amorosas, poxa, ele faria. E faria com orgulho.
Namjoon não sabia precisar quantas pessoas já haviam mudado de vida por conta de suas sessões e conselhos. Ele tentava ser sutil, ajudar e entender verdadeiramente. Se alguém o procurasse em busca de soluções para conquistar seu grande amor, ele mostraria os caminhos falando sobre como era importante olhar para si mesmo primeiro. O que era necessário mudar? Por que estava sendo mudado? A pessoa “amada” valia mais do que a si mesmo? Por que priorizar outra pessoa? Para que aprender a dialogar com terceiros? Namjoon gostava de invadir a mente alheia e fazer com que o paciente percebesse as motivações de tudo o que aconteceria a seguir e, com carinho, fazia-o notar que quem deveria ser prioridade era ele, não outras pessoas. Era necessário conquistar a si mesmo para conquistar o outro.
Mas nem todo mundo conseguia perceber isso e simplesmente julgava-o como um mentiroso e coach de, principalmente, homens de meia idade que não sabiam como flertar e precisavam de uma falsa ajuda, tal qual Hitch, com Will Smith — e um dos seus filmes favoritos, aliás. Era até uma honra ser comparado ao Hitch, ele se identificava com as motivações do personagem, embora não concordasse com ⅓ dos métodos utilizados por ele. Mas, bem, foda-se, era só mais uma comédia romântica que ele adorava e se divertia enquanto assistia — além de aprender algumas táticas básicas de flerte, porque isso era bem explícito no filme, táticas que ele ainda se perguntava por que as pessoas não pensaram naquilo antes.
— Eu achei que você nunca fosse sair do avião — a voz melódica de Hoseok invadiu seus ouvidos, tirando-o de seu devaneio. Namjoon estava tão imerso em seus pensamentos que sequer notou que andava automaticamente pelo aeroporto Internacional de Incheon.
— Não demorei tanto assim, vai — respondeu, sorrindo para o amigo com carinho. Em questão de segundos, foi puxado para um abraço caloroso. — Também senti saudades, Hobi.
— Eu não consigo entender por que você não volta de vez para cá — Hoseok voltou a falar, afastando-se e pegando uma das malas do amigo. — Vai ficar um semestre inteiro aqui para depois ir embora de novo… A troco de quê?
— Tenho que te fazer conseguir esse noivado, cara — Namjoon sorriu. — Vim também para fazer uma imersão para o doutorado. Sabe como é, os estudos nunca param.
— E as palestras? Não finja que sou tão importante assim para te tirar do seu mundinho cor-de-rosa estadunidense.
— Isso, também tem as palestras. Para de ser idiota, você sabe que eu largaria tudo por você.
Hoseok deu de ombros, fazendo-se de sonso. No fim, continuaram andando lado a lado e rindo, matando as saudades, até chegarem ao carro de Hoseok, o qual Namjoon seria capaz de reconhecer a quilômetros de distância, por se tratar de um trambolho enorme em um tom chamativo de amarelo que o amigo insistia em chamar de uma caminhonete clássica dos anos ‘80.
Ao abrir a porta de carona da caminhonete enquanto Hoseok terminava de jogar suas malas na caçamba, Namjoon sentiu-se travar. Logo atrás do volante, com cabelos tão escuros quanto o céu do inverno soltos e esvoaçantes, óculos escuros e um sorriso de puro escárnio na boca de lábios finos, estava ela. A mulher que era o motivo de suas gagueiras mais intensas, seu pontapé para a psicologia e o seu maior sonho de consumo em todos aqueles anos que era amigo próximo da família : , a irmã mais velha do seu melhor amigo.
— Ah, eu esqueci de dizer: a noona veio comigo, porque perdi minha habilitação e não posso dirigir — foi o que Hoseok disse ao parar atrás do amigo, empurrando-o para adentrar a caminhonete de uma vez.
Com as bochechas coradas, a boca seca e toda a sensação de quando era adolescente de volta, Namjoon sorriu e adentrou o trambolho amarelo torcendo para que não ficasse tão óbvio o seu nervosismo — mesmo que no fundo soubesse que ela já tinha notado; era impossível não notar, e ela sempre sabia das coisas.
— Bem-vindo de volta, Joonie. Senti saudades — murmurou de forma provocante, olhando-o de soslaio e apoiando os óculos escuros na ponta do nariz, lançando-o uma piscadela. — Pronto para mais uma aventura? Algo me diz que sua estadia desta vez será inesquecível.
Namjoon apenas suspirou e assentiu positivamente, perguntando-se quem diabos conseguia perder uma carteira de habilitação em pleno ano de 2021, onde era possível ter tudo por aplicativos. Hoseok era mesmo um antiquado do caralho e, um dia, seria o motivo de seu colapso também.
O motor da caminhonete roncou de forma clássica e logo foi posta em movimento, deixando o aeroporto e a alma de Kim Namjoon para trás.

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Não era segredo para Namjoon que a irmã mais velha de Hoseok mexia com seus sentimentos de forma inexplicável. Quando era mais novo, achava que tinha uma paixonite simples e que ia passar; era normal ter uma queda por irmãs de amigos, Hoseok até mesmo já havia dado uns beijos em sua irmã mais nova — e ele ainda tinha suas suspeitas que a menina com quem Hoseok perdera a virgindade havia sido ela; mas era melhor não pensar muito sobre isso, beirava ao desesperador imaginar tal momento. O problema real surgiu quando a paixonite por não passou como todas as outras paixonites que teve ao longo da juventude. Sempre que a via, seus lábios travavam em um sorriso idiota e as mãos tremiam empapadas de suor automaticamente, demonstrando todo seu nervosismo.
Ver era quase como apresentar um trabalho cheio de dados científicos para sua banca de TCC. A diferença era que ela era uma mulher extremamente bela e ele não podia analisá-la por aí e divulgar os dados que descobrira ao longo do estudo. Tampouco criar um artigo sobre seus mínimos detalhes e como a cor dos seus olhos pareciam uma fruta rara e docinha — embora ainda tivesse guardado um par de poemas que escreveu pensando nas duas jabuticabas brilhantes que ela ostentava; ninguém precisava saber.
— Espero que não tenha problemas para você e sua paixonite pela minha irmã ter que dividir o apartamento com ela — Hoseok implicou assim que chegaram em casa, onde Namjoon ficaria hospedado até encontrar um apartamento (ou não, já que adorava ficar sob o mesmo teto que o melhor amigo).
— Você sabe que isso não existe mais, Hoseok — Namjoon se defendeu, bloqueando a tela do celular rapidamente para que o amigo não o pegasse no flagra enquanto stalkeava no Instagram.
— Eu vou fingir que não vi você olhando o perfil dela para ter certeza de que ela está solteira — Hoseok deu de ombros e Namjoon revirou os olhos; era sempre pego no flagra. — Mas sério, irmão… Tá tudo bem. Eu só espero que você tenha paciência, ela anda totalmente fora de si desde que terminou o noivado com aquele babaca.
— Não vou tentar ficar com sua irmã, se é isso que te preocupa — Namjoon jogou-se na cama, sendo seguido por Hoseok. — Já passou, de verdade.
— Essa não é a questão. Você sempre tentou ficar com ela, isso não é o problema. É que ela realmente ficou abalada com tudo o que aconteceu, é para você tomar cuidado.
— Que tal falarmos de você e do que realmente precisa? — Namjoon mudou de assunto. — Me fala mais sobre o que tá acontecendo, o que você tem como objetivo…
— Não precisa me analisar, Namjoon — Hoseok deu uma risada fraca. — Eu juro que não tenho nenhuma questão interna e tudo o que eu quero é conseguir dar o passo seguinte no meu namoro… Se é que podemos chamar assim.
— Você não sabe se está em um relacionamento?
— Não é como se o Jeongguk deixasse as coisas claras para mim. Veja bem, estamos saindo há quase um ano. Eu só quero que ele enxergue que estou apaixonado.
— Já tentou falar sobre isso com ele?
— O que você acha? — Hoseok revirou os olhos. — Ele muda de assunto ou finge que não entendeu o que eu disse. Acho que ele tem medo de se assumir.
Namjoon soltou um suspiro fraco e fitou o teto. Para Hoseok as coisas eram muito naturais; sua atração por pessoas independentemente do gênero, sua facilidade para falar sobre sentimentos, sua forma de amar rapidamente e como se dedicava aos outros. O problema era que ele não percebia que, às vezes, aquelas coisas eram apenas particularidades suas e as pessoas não eram obrigadas a entender ou atender suas expectativas. Hoseok costumava se sentir mal por não saber lidar com as pessoas ao mesmo tempo que o fazia muito bem. Ele era uma bolha de paradoxos que Namjoon sempre quis se aprofundar e entender melhor, porém entendia que não era recomendado tratar pessoas do seu círculo de convívio por motivos óbvios. Ainda assim, queria poder fazer algo pelo melhor amigo e ajudá-lo a se entender com seu pseudonamorado.
— Que tal você esquecer a história do casamento e tentar conversar com ele sobre aceitar a si mesmo? — Namjoon sugeriu. — Da forma que você falou, eu pensei que já tinha tudo sob controle — ele riu. — Você é completamente maluco e iludido, cara.
— Olha só, não me julgue, não — Hoseok riu também. — Eu estava meio chapado quando falei com você aquele dia, nem pensei que me levaria a sério. Não quero me casar agora, quero que ele assuma ser meu namorado. Entendo que não é algo comum e que a profissão dele talvez atrapalhe tudo isso, mas eu quero poder ser levado a sério da mesma forma que eu o levo a sério.
— Começa com a conversa, depois a gente vê o que mais dá para fazer.
— Certo. Vou te deixar descansar — Hoseok respondeu e se levantou da cama, pulando para fora do móvel.
— Beleza, amigo, obrigado.
— Não há de quê, parceiro — ele piscou um dos olhos. — E Namjoon? — chamou.
— Hum?
— Pare de ficar no Instagram da . Isso é um pouco assustador. Que tal usar seus conselhos para sua própria vida?
Após dizer isso, Hoseok saiu do quarto. Não fazia questão de uma resposta, porque sabia que não receberia nada além de um revirar de olhos e uma frase negativa sobre já ter superado a paixonite idiota na irmã mais velha do melhor amigo. Hoseok estava cansado daquele discurso, e sabia que sua irmã também.
Após alguns minutos sozinho naquela cama grande e confortável, Namjoon voltou a pegar o celular. Pensou e repensou no que o amigo disse antes de sair, mas não conseguiu fazer muita coisa para mudar o fluxo de ideias confusas e desanimadoras que rondavam sua mente naquele momento, causando uma ansiedade que não sentia havia algumas semanas. Queria poder e conseguir fazer tudo o que dizia para seus pacientes, mas raramente seguia um conselho próprio — não se sentia capaz de reproduzir nada daquilo que falava, embora trabalhasse bastante esse assunto em sua própria terapia.
Enquanto fitava a tela do celular, onde exibia uma foto de sorrindo, Namjoon sentiu seu estômago revirar como se estivesse em queda livre. Sorriu fraco e piscou os olhos devagar. Era mesmo um idiota. Jamais conseguiria sair do Instagram e fazer com que o olhasse de verdade.
Com um suspiro cansado escapando de seus lábios, Namjoon acariciou a tela do celular com a ponta do dedão e rendeu-se à vontade de dar dois cliques sobre o sorriso de , fazendo com que um coração surgisse diante de seus olhos rapidamente, mostrando-o que havia dado um primeiro passo importante: um like em uma das suas fotos favoritas no mundo inteiro.
Namjoon só não notou que era uma foto publicada no ano de 2018 e que ela perceberia que ele era um stalker idiota, além de ser só mais um número dentre tantos outros que a admiravam nas redes sociais.

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Os aplausos continuaram a ecoar pelo salão por longos segundos, mesmo que Namjoon não estivesse mais sobre o palco. A sua primeira palestra havia sido concluída com sucesso, tendo seus familiares e amigos próximos na primeira fila de assentos, todos sorrindo e emocionados, sentindo orgulho do homem que ele tinha se tornado. Foram longos anos de estudos, tratamentos e pesquisas profundas acerca do assunto que ministrava com destreza. Quem o via atualmente, sobre um palco e com centenas de pessoas — desde pacientes a estudantes e colegas de profissão —, não diria que ele havia sido um jovem introvertido e com um nível de ansiedade preocupante.
Namjoon exalava confiança, beleza e inteligência, era extremamente sociável e cativava quem quer que o olhasse por míseros segundos. Ainda assim, depois da palestra de sucesso, ele se sentia nervoso, temeroso e tenso. Tentava não transparecer, mas quem o conhecia bem notava claramente. Sua testa franzida entre a franja castanha e bem dividida o entregava totalmente. Mas obviamente todos achavam que era por conta do trabalho e estudo em excesso — estar naquele nível de apresentação antes de finalizar o doutorado era algo raro, então a pressão era o que, teoricamente, o deixava de pernas bambas.
— Uma taça de champanhe para o palestrante mais incrível que temos em Seul — a voz suave e firme de invadiu seus ouvidos, lembrando-o o motivo de seu nervosismo. — Você foi muito bem, gostei das suas pesquisas.
— Obrigado — Namjoon murmurou, aceitando a taça. Bebericou e sorriu, olhando-a com atenção; ela estava tão bonita. — Aposto que você não conhecia meu trabalho de verdade.
— Devo confessar que ainda tenho algumas perguntas ignorantes sobre, mas não quero ser julgada — ela riu. — Afinal, você é ou não coach de homens desiludidos e com problema de autoestima? — caçoou.
Namjoon riu e revirou os olhos, bebendo mais do drinque alcoólico para ignorar o tremor nos dedos e o coração que batia tão forte que ele era capaz de ouvir ao pé do próprio ouvido.
— Nunca mais me ofenda assim, noona — ele pediu, ainda rindo. — Não sou um coach. Apenas ajudo pessoas que têm problemas de confiança, não somente homens, mas, bom, eles são a maioria dos meus pacientes. Eu só os ajudo a enxergar que, às vezes, é necessário se abrir e encarar os problemas de frente. É uma jornada de autoconhecimento e cuidado psicológico, todos nós precisamos disso e ter alguém para traçar o caminho acaba sendo mais tranquilo e fácil de suportar. Eventualmente acontece de eu ter que ajudar alguém a se relacionar com outro alguém.
— E a como conquistar as pessoas também, eu suponho — sorriu maravilhada com a explicação, bebericando a próprio champanhe. — Isso é interessante.
— É, eventualmente, é isso… Mas nem sempre funciona.
— Entendi. Mas e você, é um bom conquistador?
Namjoon estranhou a pergunta, encarando-a sem entender muito bem para onde estavam caminhando com aquela conversa aleatória.
— Desculpe? — soou confuso e riu.
— Quero saber se você é bom em realizar seus próprios conselhos.
— Eu… — ele hesitou por um segundo, coçando a nuca e desviando o olhar por alguns segundos. — Para ser honesto, eu não sei. Superei muitos medos do passado e sei que sou um novo homem. Mas um bom conquistador e seguidor do meu próprio trabalho? Não faço a menor ideia.
— O que acha de descobrir? — se aproximou um pouco mais, a fim de diminuir o tom de voz, e o fitou nos olhos.
— Como? — Namjoon, hipnotizado, murmurou de volta.
— Tente me conquistar, Kim Namjoon. Vamos ver se você é tão bom quanto parece.
Namjoon não conseguiu segurar o sorriso com resquícios de timidez, encarando-a sem acreditar no que ouvia. estava disposta a ser conquistada por ele, finalmente, depois de tantos anos. O interesse era mútuo e isso ainda parecia um sonho para o terapeuta.
Antes que ele pudesse responder, o deu as costas e seguiu em passos suaves em direção à saída, deixando para trás a sensação de proximidade e seu cheiro floral. Diante da ausência da mulher provocante e intensa que ela se mostrava ser, Namjoon se pegou pensativo e apreensivo, embora a esperança e a felicidade brotassem em seu peito de forma crescente, mostrando-o que ainda tinha uma chance — era só não gaguejar nem beber demais desta vez.

Mais tarde naquela noite, Namjoon acompanhou os amigos e a família em um jantar de comemoração e boas-vindas. Sentou-se coincidentemente de frente para , ficando ao lado de Hoseok e Jeongguk — o tal quase namorado que fingia não estar em um quase namoro. Sua missão era conhecer e entender um pouco mais o jovem cantor que Hoseok havia se apaixonado, mas não conseguia se concentrar tão bem nas informações que ele dava; o sorriso de o distraía e desconcertava por completo.
— E então? — Hoseok perguntou baixinho para o melhor amigo, que o olhou com uma expressão de confusão. — O Jeongguk. O que achou?
Namjoon suspirou e tentou se concentrar por alguns segundos.
— Ele é um bom rapaz — começou. — Acho que ele está tão assustado quanto você em relação a tudo isso. Mas ele aceitou vir aqui, não aceitou? Tenho certeza de que a palestra o tocou de alguma forma. Agora você precisa se controlar, não apressar as coisas e entender o que se passa dentro de você antes de qualquer coisa.
— Eu acho que você deveria parar de se preocupar e conversar com ele — a voz de se intrometeu na conversa, e só então notaram-na ali, na cadeira vaga ao lado de Namjoon. — Desculpe, eu sabia que iriam começar a falar disso a partir do momento em que o garoto foi ao banheiro.
— Você é uma fofoqueira, isso, sim — Hoseok rebateu, sentindo-se exposto e envergonhado.
— E você é um idiota — ela respondeu.
— Sem brigas — Namjoon interveio. — Ele está voltando.
Em questão de segundos, voltou para o seu lugar e Jeongguk sentou-se ao lado de Hoseok novamente, dando um sorriso bonito para ele.
Automaticamente, Namjoon o analisou em silêncio. Ele parecia um jovem comum, com alguns trejeitos esquisitos da forma que Hoseok gostava. Era aparentemente talentoso, falava baixo, observava todos ao redor e era um tanto quanto introvertido — Namjoon havia simpatizado tanto com o garoto que não sabia como descrever. Já fisicamente, ele parecia ter saído de uma das revistas que estampavam ídolos teens super famosos. Os cabelos bem alinhados e que batiam em seu ombro, piercings nas orelhas, tatuagens escondidas sob o tecido da manga longa da camisa que vestia, unhas pintadas de preto e um surface na sobrancelha que fechava com chave de ouro o combo de bad boy com um coração meloso.
O mais bonito de observar Jeongguk, era reparar no olhar que ele lançava para Hoseok, principalmente quando este colocava mechas dos cabelos por trás de suas orelhas. As bochechas bonitas tomavam uma coloração avermelhada, o sorriso vinha de forma automática e os olhos escuros brilhavam. Diante daquilo, Namjoon não entendeu o porquê de seu amigo pedir ajuda. Não precisava.
Por um segundo, pegou-se pensando se era daquele jeito que ele ficava quando olhava para . Sentiu-se ferver de vergonha somente de imaginar, o que o fez tomar um longo gole do vinho que se encontrava em sua taça. Em seguida, seu olhar automaticamente foi direcionado à dona de seus pensamentos e um suspiro lhe escapou quando foi pego no flagra. Mas, ao contrário do que sua ansiedade tentava forçá-lo a fazer, não fugiu e sustentou o olhar até que, desta vez, corasse e desviasse o olhar. Feliz, Namjoon riu baixinho e voltou a dar atenção à irmã mais nova que, do outro lado da mesa, o chamava sem parar a fim de tirar dúvidas sobre questões que ele sequer sabia se ainda se lembrava.
Com o coração quentinho e de esperanças renovadas, Namjoon aceitou o quão longa aquela noite seria.

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Na manhã seguinte, Namjoon acordou mal-humorado. Ele adoraria dizer que teve uma boa noite de sono, que sonhou que conquistava e que ainda era bem-sucedido em sua carreira. Mas a verdade era dura e clara: não dormira nada e ainda precisou lidar com os gemidos que não eram nada abafados de Hoseok e Jeongguk no quarto ao lado. Mesmo que o apartamento fosse espaçoso, algumas coisas eram quase impossíveis de serem disfarçadas e ignoradas.
Após o jantar, voltaram todos para casa animados e risonhos, todos altos por conta da quantidade de álcool que haviam ingerido. No meio do caminho, decidiu ir para a casa de uma amiga que ficava ali perto, a fim de dar um “oi” para uma “social” que acontecia lá. E sobrou para Namjoon ir embora com o casal jovem e forte que eram Hoseok e Jeongguk. Ele até cogitou que o amigo não transaria sabendo que ele poderia escutar tudo; mas lembrou-se que Hoseok pouco se importava com qualquer tipo de pudor quando colocava qualquer gota de álcool na boca — ele se transformava em um completo depravado quando estava levemente alcoolizado e, pelo visto, Jeongguk era exatamente igual.
Além do momento do casal, Namjoon também não conseguia parar de pensar em e no diálogo que tiveram após a palestra. Queria ter certeza de que ela não estava caçoando dele ou qualquer coisa do tipo, afinal: por qual outro motivo uma mulher como ela olharia para um homem como ele e tentaria investir? Namjoon queria acreditar que esses questionamentos idiotas eram só seu antigo ser voltando à tona para fazê-lo parecer um adolescente inexperiente, mas a dúvida parecia gritar em sua cabeça e mesmo um homem como ele, formado em comportamentos como aqueles, não conseguia ignorar e seguir em frente. Sabia que, em partes, aquilo vinha de um antigo trauma, onde havia colocado na cabeça que se declararia para e bebeu até que tomasse coragem. O resultado não foi dos melhores, óbvio que não. No fim das contas, depois de falar sobre seus sentimentos de forma vergonhosa e enrolada, mesmo sabendo que tinha um namorado que era duas vezes maior do que ele. A garota não soube como agir, mas Namjoon lembrava de vê-la sorrir, não sabia se por achar a situação engraçada ou por ter achado minimamente fofo. Mas o que aconteceu no segundo seguinte, estava longe de ser fofo. Ele tossiu uma, duas, três vezes e virou para o lado a fim de vomitar. Ao falhar na missão de bêbado, desmaiou em um sono profundo no chão mesmo. Chão imundo do quarto da casa de algum veterano que ele sequer lembrava o nome ou o curso do cidadão.
Desde então, Namjoon finge que não se lembra e que aquela noite nunca aconteceu. parecia fazer a mesma coisa, ou talvez ela sequer se lembrasse mesmo já que fora uma situação tão ridícula e que não havia agregado em nada em sua vida.
— Bom dia — a voz rouca de Hoseok invadiu seus ouvidos, fazendo-o revirar os olhos automaticamente. — Não faz essa cara para mim, Namjoonie. Desculpa por ontem.
— Eu nem falei nada — Namjoon deu de ombros.
— E nem precisa dizer — Hoseok riu baixinho. — Não foi de bom tom o que eu e Jeongguk fizemos ao longo da noite. Tenho certeza de que essas suas olheiras são por nossa causa.
— Antes fosse só isso — Namjoon bocejou e deu um gole em seu café. — Cadê seu namorado?
— Ainda está dormindo — Hoseok respondeu automaticamente, servindo-se de uma caneca de café também. — O que aconteceu?
— Antes de mais nada, gostaria de dizer que você precisa urgentemente parar de se preocupar com Jeongguk e buscar uma terapia — Namjoon foi direto. — Não tem nada de errado com você e o que vocês dois construíram juntos. Acredito que o Jeongguk também precise de uma análise profissional para aprender a lidar com os próprios sentimentos e o que ele é como ser humano. A orientação sexual dele não quer dizer nada; ou não deveria, ao menos; é só mais uma característica como outra qualquer. Eu acho que ele é inseguro e tem medo de encarar as pessoas ao redor. Mas não posso afirmar nada, já que só conversei com ele sobre você, sobre música e como a mente humana é naturalmente perturbada.
— Uau — Hoseok riu. — Você deduziu tudo isso sobre nós dois em apenas um jantar regado a bebida?
— Não é muito difícil ler pessoas inseguras como vocês dois. Você deveria dar o primeiro passo já que ele aparenta sentir tanto medo de um relacionamento. O diálogo é a base de tudo, e cabe a vocês dois decidirem se querem ou não um relacionamento sério e exposto às famílias.
— Eu o chamei de namorado ontem, Namjoon — Hoseok sorriu bobo. — Pela primeira vez, sabe? Automaticamente. Eu não soube nem como agir na hora e até tentei me desculpar. Sabe o que ele fez?
— O quê? — Namjoon questionou baixinho e sorrindo, sentia um certo orgulho da coragem súbita do amigo.
— Riu e me beijou — ele suspirou. — Depois disse que achava que eu não queria um relacionamento e só estava curtindo todo esse tempo.
— Então todo esse caos que você me causou nos últimos meses foi por pura bobagem? — Namjoon perguntou retoricamente, aumentando o sorriso em seus lábios. — E eu estava certo esse tempo todo?
— Eu odeio como você está sempre certo.
— Eu amo estar sempre certo.
— Eu te odeio, Kim Namjoon.
— Cala a boca, seu otário, agora aproveite seu namoro e busque uma terapia. Não posso te salvar e aconselhar para sempre.
— Achei que esse fosse seu trabalho, sabe…
— Exatamente, amigo: trabalho, e ele não se aplica às pessoas que tenho contato direto — Namjoon piscou um dos olhos. — Agora preciso que me ajude em uma coisa.
— O quê?
— Sua irmã.
— Cara, o conselheiro amoroso aqui é você.
— Exatamente. Mas ela quer que eu prove que consigo conquistá-la como faço meus pacientes conseguirem.
Hoseok riu, achando aquilo uma grande bobagem. Ao perceber o silêncio do amigo, parou de rir.
— Espera. É sério? A pediu para você conquistá-la?
— Sim.
— Meu Deus, o jogo virou mesmo, Joon. E você não está em vantagem, tipo, você não tem nenhuma vantagem. A é seu sonho de consumo desde que você tinha dezesseis anos.
— Eu sei, Hoseok. Agora preciso que me diga os lugares que sua irmã gosta de ir hoje em dia, o que ela gosta de comer…
— Eu não acredito nisso… — Hoseok riu de novo. — Beleza, eu te ajudo. Duzentas pratas na minha mão e a vai ser sua.
— Hoseok, o profissional sou eu e eu te ajudei de graça.
— Azar o seu, deveria ter cobrado.
— Hoseok…
— Se continuar choramingando, vou cobrar trezentas.
— Caralho, irmão, eu te odeio.
Hoseok sorriu e deu de ombros.
— Bom, eu já estou namorando e não preciso conquistar mais ninguém. A escolha é sua.
Namjoon bufou ao ouvir a resposta do amigo, revirando os olhos em seguida. Com os pensamentos girando a milhão, encarou Hoseok novamente. Ele ainda sustentava um sorriso ridículo e zombeteiro, enquanto o olhar venenoso contrastava com suas expressões angelicais.
— Tá bom, pago quando conseguir conquistar a .
— Fechado.

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Namjoon nunca pensou que precisaria pedir ajuda ao melhor amigo para conquistar alguém novamente. Quer dizer, alguns hábitos nunca mudavam… Certo? E as ideias de Hoseok eram sempre muito boas e costumavam funcionar, o problema da época era que Namjoon era totalmente desajeitado e idiota — ele não sabia fazer nada direito e morria de medo de sequer olhar para as pessoas por quem se apaixonava.
— Olha, ela tá cansada de coisas comuns — Hoseok voltou a falar depois de horas tentando fazer com que o amigo entendesse que estava totalmente diferente do que haviam conhecido um dia; afinal, era uma mulher no auge dos trinta e oito anos, ela definitivamente não era mais como Namjoon fantasiou durante toda a adolescência. — Apenas… Seja o você de agora, ok? Jantar legal, papo legal, surpresa no final da noite e pronto, você já vai causar uma boa impressão.
— Você está se esquecendo que eu sou o expert no assunto — Namjoon comentou, revirando os olhos e abotoando a camisa social branca por cima do colo desnudo e inchado após uma hora e meia de treino.
— A última vez que eu ouvi isso, você vomitou no pé da minha irmã e desmaiou — Hoseok rebateu, parando de secar os cabelos e pendurando a toalha no próprio ombro.
— Eu tinha dezenove anos — defendeu-se Namjoon, ofendido.
— O você de dezenove anos e o de trinta e dois, pra mim, são a mesma pessoa. Não vejo diferença do antes e do agora quando se trata da . Você está completando a porra de um doutorado na área de relações humanas e ainda precisa da minha ajuda.
— Porque ela é sua irmã! Eu fiquei anos longe daqui, não tem como conhecê-la tão bem.
— Enquanto profissional, você deveria saber improvisar. A questão não é se ela é minha irmã ou não, e sim que você ainda se cega em relação a si mesmo e só se preocupa com os outros — Hoseok parou em sua frente, olhando-o nos olhos. — E isso é lindo, irmão, mas não é o melhor estilo de vida. Tenho certeza de que todos os seus pacientes são muito agradecidos por tudo que já fez, assim como eu também sou, mas, porra, olhe para si mesmo.
— Tudo bem, entendi.
— Ótimo. Agora, arrasa. Você está lindo e cheiroso, só isso já é meio caminho andado. gosta de homens higiênicos e inteligentes, você tem sorte de se encaixar nos dois, ao contrário daquele ex dela.
— Eu ainda me pergunto como ele conseguiu fazer com que sua irmã aceitasse se casar com ele.
— Ele teve atitude, Namjoon.
— E eu não?
— Preciso mesmo responder?
Namjoon suspirou e manteve-se em silêncio — de fato, não tinha atitude nenhuma; seu foco sempre fora os estudos e a vontade de se livrar do medo e ansiedade, e quando se deu conta a vida já tinha passado.
— Dois botões abertos e você já dá a largada em vantagem — Hoseok comentou após alguns minutos de silêncio, dando-se a liberdade de desabotoar os dois primeiros botões da camisa de Namjoon. — Você treinou o peitoral hoje, amigo. Aproveite o inchaço e mostre para o que veio.
— Você sim daria um ótimo coach amoroso — Namjoon disse, rindo.
— Deus me livre, cara — Hoseok revirou os olhos. — Eu só não aguento mais essa novela. Nós crescemos juntos e você ainda é apaixonado pela minha irmã, eu só quero que isso acabe de uma vez por todas.
— Uau, amei o apoio moral.
— Joon, é o seguinte — Hoseok adotou uma postura mais séria, voltando a falar após um suspiro: — Você só vai ficar aqui por seis meses. Quero que você aproveite e se liberte de quaisquer medos que ainda te restam, você é muito além deles e sabe disso, só precisa se soltar. Além disso, quero que minha irmã seja minimamente feliz depois do pesadelo que ela viveu nos últimos meses. Não cabe a mim te contar o que aconteceu, então não irei falar mais nada sobre. Só se permita viver ao menos uma vez e faça com que ela se permita também.
— Ela está em boas mãos, Hobi.
— Eu sei, é por isso que estou aqui te ajudando.
— Na verdade você está ajudando pela grana.
Hoseok riu e assentiu positivamente.
— Isso também. Mas a felicidade de vocês em primeiro lugar.
— Vai dar tudo certo. Na pior das hipóteses, eu tomo um porre e vomito nela de novo.
— Meu Deus, nunca mais repita isso. Agora vai embora, ela não vai te esperar.
Namjoon riu e revirou os olhos, não perdendo mais tempo ali e se retirando do quarto. Óbvio que ela não esperaria; ela sequer sabia que ele estava indo até o seu local de trabalho.
Primeira coisa: se impressionava com situações inesperadas e amava relaxar após um dia cansativo em uma das maiores emissoras do país.
Segunda: Ela era apaixonada por massa e comida apimentada, principalmente de um restaurante caseiro no subúrbio de Seul, onde ela costumava fazer coberturas de matérias investigativas no início da carreira de repórter.
Namjoon soube aproveitar bem as dicas iniciais que Hoseok o havia dado. Em questão de minutos, estava parado na frente de uma das sedes da KBS, observando o fluxo de pessoas que passava pelo local. Apoiado em seu carro, observou o relógio caro em seu pulso, suspirando em seguida. Teoricamente saía às 19 horas, mas ainda não havia tido sequer um sinal da repórter.
Por um segundo, sentiu-se inseguro e imaturo. Quem diabos fazia aquilo em pleno 2021? Por que havia decidido aquilo do nada? Por que não pôde enviar uma mensagem como um ser humano normal tentando marcar um encontro? Estava novamente agindo feito um garoto bobo e apaixonado, a fim de surpreender para parecer mais “descolado” quando podia simplesmente tentar soar mais adulto e firme.
— Namjoon? — a voz doce e, agora, um tanto rouca invadiu seus devaneios ansiosos. — O que faz aqui?
— Ei, , boa noite! — ele sorriu, aproximando-se da mulher na calçada. — Eu estava por aqui resolvendo umas coisas e decidi te dar um “oi”. Como não sabia se poderia te chamar lá dentro…
— Decidiu esperar aqui sem nem saber se eu já tinha ido embora ou não?
— Exatamente.
— Que loucura, sinto cheiro de Hoseok nisso aí.
— Confesso que perguntei ao seu irmão se você ainda estava no trabalho.
sorriu e balançou a cabeça, voltando a falar:
— E o que tem em mente?
— Que tal irmos comer em algum lugar calmo? Dar uma relaxada, beber uma cerveja, não sei…
— Não sei se beber com você é uma boa ideia — ela fez suspense, falando em um tom sério. — Não vai vomitar em mim de novo, vai?
— Meu Deus… — Namjoon riu de nervoso, passando as mãos pelos cabelos bem penteados. — Você se lembra disso?
— Eu me lembro de tudo relacionado a você, Namjoon — ela foi sincera, olhando-o nos olhos. — Mas vamos jantar. Tem problemas em visitar o subúrbio da cidade?
Namjoon sentiu-se travar por um momento, mas sorriu ao responder:
— Não mesmo. Estou à disposição.
— Então vamos. Eu dirijo!
— Mas o carro é meu!
— Minha vez de te surpreender, Sr. Conquistador.
E sem hesitar um segundo sequer, Namjoon sacou o chaveiro de patinhos e entregou-o nas mãos de , que fez questão de rir do apetrecho tão bonitinho.
A partir daquela noite tudo mudou. Namjoon não se sentia mais inseguro com ao seu lado, tampouco se importava com o que as pessoas pensariam dele e sua sina por aquela mulher que era tão maravilhosa perante os seus olhos. Ir até aquele restaurante caseiro em uma noite aleatória fora a melhor de suas escolhas em anos; havia se reaproximado da mulher por quem fora apaixonado durante toda a adolescência e início da vida da adulta, sentia-se mais confiante e solto para falar o que pensava, até mesmo sobre seu trabalho.
Sem ao menos perceber, Namjoon estava seguindo o passo a passo criado por ele mesmo, o que costumava passar para os homens inseguros que atendia. A autoterapia jamais fora uma opção, mas seguir suas próprias ideias para tentar conquistar estava funcionando — e ele havia feito uma nota mental para voltar à terapia assim que retornasse aos Estados Unidos; inclusive participara de uma consulta à distância para se reconectar com sua psicóloga e evitar possíveis crises de ansiedade.
Ao longo das três semanas seguintes, Namjoon conseguia contar nos dedos quantas vezes não havia se encontrado com . Era uma sensação indescritível, até mesmo quando a encontrava totalmente irritada ou triste; ele descobriu, também, que era bom em confortá-la e fazê-la sentir-se bem. Bastava uma caneca de meio litro de chope e um chocolate no meio da madrugada para que ela abrisse um sorriso enorme e bonito para ele, agradecendo-o com a voz aveludada — voz esta que ela jamais usava, de acordo com Hoseok, já que ela era uma ogra. A única coisa que Namjoon fazia ao perceber que era o felizardo em ouvir a voz aveludada de , era sorrir bobo e apaixonado; aquela mulher era simplesmente seu tudo.
— Estou surpreso com a sua calma — Hoseok comentou, sentando-se ao lado do amigo no sofá da sala. — Você tem um jantar daqui a pouco com a minha irmã e está aqui na santa paz, sentadinho, fingindo que está trabalhando.
— Na verdade, estou lendo um artigo para o doutorado — Namjoon o corrigiu com tranquilidade. — Eu não tenho mais motivo para ficar nervoso antes de encontrar a , Hobi.
— Isso só prova que o seu método funciona mesmo — Hoseok zombou e sorriu em seguida, mostrando-se verdadeiramente feliz. — Já está pronto para o próximo passo: o beijo.
— E quem te falou que não nos beijamos, Hoseok?
— Isso é óbvio porque você já teria me contado.
— Quem te garante isso?
— Sua alma de fofoqueiro, meu amigo, essa é a minha garantia. Agora, se eu fosse você, levantaria e iria me arrumar. Chegar atrasado na noite especial do beijo não passa boa impressão.
— Ainda estou no horário e não existe isso de noite especial do beijo, cara.
— Você não marcou de buscá-la no trabalho às 19 horas, irmão?
— Sim. Mas ainda são… — Namjoon olhou para o relógio e sentiu todo o corpo gelar de susto; o relógio marcava 18h40. — Puta que pariu!
Hoseok riu do amigo e assentiu de leve, murmurando um “de nada”, enquanto Namjoon simplesmente largava tudo e saía correndo.
Por questões de segundos, Namjoon não se atrasou. Seu coração ainda estava acelerado e suas mãos tremiam levemente. Ainda assim, estava bem-vestido, cheiroso e com seu melhor relógio no pulso; queria impressionar de uma vez por todas. Embora não assumisse, sabia que Hoseok estava certo e aquele era o momento certo para pedir um beijo de e sair saltitando por toda Seul depois de uma resposta positiva. Era sua noite de glória, ele podia sentir.
Assim que passou pelas portas de vidro do prédio da emissora, Namjoon sentiu-se levitar. Ela era tão bonita que ele sempre perdia o ar quando a via caminhar angelicalmente em sua direção.
sorria e se despedia dos colegas de trabalho de forma calorosa, brincando e falando alto, ao mesmo tempo que lançava beijos e corações para todos. A roupa social desenhava seu corpo perfeitamente, o salto a deixava quase, apenas quase tão alta quanto Namjoon, e os cabelos voavam conforme andava. Por um segundo, Namjoon jurou que tudo aquilo se desenrolava em câmera lenta diante de seus olhos.
— Te ver assim até faz eu me sentir mal — a voz de invadiu os ouvidos de Namjoon, tirando-o do transe.
— O quê? — ele perguntou baixinho, piscando os olhos para se situar no mundo real. riu baixinho e botou uma mecha do cabelo para trás da orelha, logo respondendo:
— Você está todo arrumado e eu assim, depois de um dia de trabalho exaustivo, descabelada, com roupa amassada…
— Você está perfeita — Namjoon a cortou e sorriu. — Você está sempre perfeita.
— Não é a hora de tentar me conquistar ainda, Kim Namjoon — ela murmurou, tentando fingir não estar corada e sem jeito.
— Só disse a verdade — Namjoon respondeu, levando a ponta do dedo em direção ao queixo de , puxando-o em sua direção para que pudessem se olhar nos olhos. — Não importa o que esteja vestindo, se está com um penteado estrondoso nem nada do tipo. Você está sempre perfeita, .
não sabia dizer por quanto tempo ficou encarando os olhos escuros e penetrantes de Namjoon; mas sabia que sua respiração estava lenta, quase parando. Seu coração batia forte, tão forte que ela se perguntou se as pessoas ao redor não eram capazes de escutar o escândalo que ele fazia dentro do seu peito. Era diferente e novo a forma que Namjoon a fazia se sentir. Pela primeira vez na vida sentia-se valorizada e realmente amada por um homem; era mais do que a repórter bonita da televisão, era mais do que um pedaço de carne pronto para ser devorado; sentia-se realmente bem, querida e adorada. Aquele sentimento era indescritível, mesmo que soubesse que o mais novo a via daquela forma desde a adolescência — ela nunca deu muita atenção para alguns sentimentos quando era mais nova, mesmo que tivesse plena consciência que Namjoon chegou a mexer consigo, porém, por que ela deveria parar para pensar sobre sentimentos por um garoto mais novo e melhor amigo do seu irmão? Tê-lo ali, tocando a ponta de seu queixo, dizendo coisas bonitas e a olhando nos olhos foi o que a fez entender toda a trajetória que tiveram. Poderia ter sido diferente, poderiam ter feito aquilo acontecer antes, mas ambos eram imaturos demais para isso e ela namorava um cara babaca da sua turma de inglês — e não que ele fosse um empecilho, não fora; na noite em que Namjoon desmaiou em seus pés de tanto beber, ela estava disposta a deixar o namorado para que pudesse provar dos lábios de Namjoon, que tanto admirava.
— Você não deveria guardar as palavras bonitas para depois do jantar? — ela perguntou baixo, sentindo a garganta seca.
— Eu tenho um arsenal de palavras bonitas para você, noona — ele soprou baixinho, se aproximando um pouquinho mais para que pudesse sussurrar: — Mas, se quiser acreditar em mim: nenhuma palavra é bonita o suficiente para te descrever. Eu posso fazer a noite inteira dizendo tudo o que me vier à cabeça, mas nada jamais chegará aos seus pés.
engoliu a seco e passou a língua pelos lábios automaticamente, sentindo-se tremer sutilmente. Suas mãos já estavam suadas e suas unhas afundavam levemente na palma molhada, lembrando-a de manter-se firme e não se deixar derreter e bambear; ainda não era hora de mostrar-se tanto para Namjoon.
— Por que está dizendo essas coisas agora? — perguntou em um sussurro fraco, tão baixo quanto um suspiro.
— Porque quero garantir que você jamais vai se esquecer do quão maravilhosa e preciosa é — Namjoon respondeu no mesmo tom de voz. — Eu perdi muito tempo escondendo o que eu sentia e achava de você. Não quero cometer o mesmo erro de novo e me arrepender.
— Algo me diz que você só quer garantir um beijo no final da noite — brincou baixinho, tentando quebrar o clima e recuperar o controle da situação. — Não se atreva a mentir para mim, Kim Namjoon.
Namjoon riu e assentiu levemente, voltando a encará-la nos olhos.
— Nosso beijo já estava garantido desde a primeira vez que aceitou sair comigo — ele deu de ombros. — Não pense que sou como os outros homens com quem se envolveu. Não estou aqui apenas por desejá-la.
— Então por que está aqui, Namjoon?
— Porque eu quero muito mais do que um simples beijo — ele respondeu sem hesitar. — Porque eu quero que você se sinta bem, porque quero que se lembre que sempre fui apaixonado por você, porque quero que saiba que o que eu sinto vai muito além de um desejo carnal. Eu não quero apenas tocá-la e deixá-la de lado, não quero beijá-la e voltar para os Estados Unidos como se nada tivesse acontecido. Quero conquistá-la, torná-la minha, amá-la com tudo o que sinto. Eu quero muito mais do que um simples beijo de fim de noite, . Eu estou aqui por estar cegamente apaixonado, como se eu ainda tivesse dezesseis anos.
— Você não existe, doutor Kim.
— Eu existo, e estou aqui por você.
sorriu e desviou os olhos por alguns segundos, procurando saber se alguém os observava ou não. As pessoas passavam ao redor como se eles não estivessem ali, parados no meio da calçada àquela hora da noite, em pleno rush, onde as luzes estavam fortes e as pessoas andavam apressadas, umas gritando no celular, outras apenas correndo para não perder o próximo metrô. Tudo normal demais, onde ninguém parecia prestar atenção em um casal aleatório próximo demais um do outro, de um jeito que seria tão julgado se percebidos.
Quando voltou a fitar os olhos de Namjoon, tão transparentes e brilhantes, não se importou se ainda tinham um jantar para ir, se as pessoas julgariam suas atitudes e a proximidade em que estavam, se era óbvio ou não a diferença de idade entre eles; nada mais importou e tudo, de repente, se silenciou ao redor. Não havia mais pessoas, músicas, comerciantes aos berros, correria e tampouco o risco de julgamento; só havia ela, Namjoon e os seus sentimentos ali. Sem esperar por mais um segundo que fosse, jogou-se contra o corpo forte e másculo à sua frente, acabando com qualquer resquício de distância que existisse entre ambos. Os lábios se colaram logo em seguida num selar casto, apenas para sentir a maciez da boca alheia. Mas não demorou muito para que os lábios grossos de Namjoon se movessem para que pudessem se encaixar nos seus. Por um milésimo de segundo, achou que derreteria sobre o chão. A boca de Namjoon parecia ter sido feita para encaixar-se na sua, era uma sensação tão gostosa e bonita que suas pernas tremeram, fazendo-a agarrar-se contra os ombros dele e segurá-lo com força, ao mesmo tempo em que as línguas se esbarravam timidamente pela primeira vez.
— Achei que fôssemos esperar o jantar — Namjoon sussurrou contra os lábios de , que estavam tão vermelhos quanto os dele. — Você não me deixou outra opção depois de dizer coisas tão lindas — respondeu baixinho, permitindo-se rir um pouco da situação. Estava levemente envergonhada, mas não se importava nem um pouco.
— Parece que, no fim das contas, era você que queria me beijar todo esse tempo.
— Eu queria mesmo, mas você estava empenhado demais em me conquistar primeiro.
— Sou um homem tradicional — Namjoon brincou e selou seus lábios outra vez. — E você pediu para que eu a conquistasse, isso quer dizer que eu consegui completar minha missão.
— Você não precisou nem se esforçar muito — o olhou nos olhos. — Eu já havia sido conquistada, Namjoon, há muito tempo. Mas não tive coragem de dizer. Dessa vez eu só não quero que você escape de mim de novo. Ao menos não tão facilmente.
— Eu não vou fugir de novo, prometo.
— Eu acho bom mesmo, não quero ter que ir para os Estados Unidos buscar o amor da minha vida…
Namjoon riu e revirou os olhos, puxando-a para um abraço terno. Com carinho, deixou um beijo sobre os cabelos de e sorriu de novo — sentia-se realizado, mesmo que as coisas tivessem saído diferentes do que havia planejado; estava feliz.
— O amor da sua vida não vai ficar longe de você… Nunca mais.
riu e apertou-o mais contra o corpo.
— Que bom, porque um beijo de fim de noite não é o suficiente para me saciar.
Namjoon travou por um seguro e se afastou para encará-la, e apenas sorria inocentemente.
— Vamos jantar — ele pediu apressadamente, fazendo-a gargalhar.
— Vamos, já perdemos tempo demais e quero te apresentar à cama do meu quarto ainda hoje.




FIM



Nota da autora: Sem nota.



Nota da beta: Meu Deus do céu, o que foi essa fic??? Começa já pelo fato que é com o Namjoon, e EU AMO ESSE SER!!!!!! Nessa história ele ficou ainda mais apaixonante, foi uma leitura muigto fluída e deliciosa de se fazer, eu adorei! Parabéns pela criatividade, Sam!!! Beijos :*

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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