Finalizada em: 20/05/2021

Parte I: O Convite

Nova York, NY
Três dias antes
Eu estava à beira de um colapso.
Não havia expressão que soubesse descrever com mais facilidade o pânico que tomou conta de meu corpo quando eu li a notificação consumir a tela de meu celular. Engoli em seco, finalmente abrindo o aplicativo de mensagens apenas para ver duas mensagens na conversa de Nikol: um print e uma mensagem acompanhada de letras aleatórias que facilmente poderiam denunciar que ele havia apenas batido sua cabeça contra o teclado até que as letras saíssem.

[09/21 10:56:37] Niky Romero: Você viu? confirmou presença no encontro de dez anos da Marlborough.
Boa sorte OSDNLDNSNFJDSFDNJSDFNJ

Engoli em seco, abrindo o print que Niky havia me enviado. Dentre nomes notáveis como Rixton, a foto de perfil de gritava entre as miniaturas dos ex-alunos que haviam confirmado presença na pequena reunião que aconteceria em Los Angeles dali três dias. Amaldiçoei mentalmente o universo pela ironia, me jogando contra o encosto da cadeira de meu escritório
era o meu karma. Não que a ruiva fosse alguém ruim, muito longe disso. Ela havia sido a minha uma grande responsável pelo descobrimento da minha sexualidade como uma mulher lésbica e orgulhosa. foi minha primeira paixão, meu primeiro beijo e, consequentemente, meu primeiro coração partido. Namoramos durante todo o fim do ensino médio e durante o primeiro ano de faculdade, quando manter um relacionamento a um país de distância começou a ficar complicado demais. havia escolhido Harvard; eu havia escolhido a UCLA.
Quando as visitas começaram a diminuir, as responsabilidades aumentaram e as agendas já deixavam de se encaixar, resolvemos terminar o nosso relacionamento. Foi a pior dor que já senti. Meu coração havia sido destroçado e eu não podia culpá-la, pois estaríamos apenas adiando o inevitável. Combinamos de continuar amigas, mas a amizade só durou alguns meses antes de pararmos de nos falar com tanta frequência. Sem brigas nem ressentimentos, apenas o distanciamento de duas pessoas adultas que tomaram caminhos diferentes na vida.
A questão era que não havia aparecido nos últimos encontros do ensino médio. Os encontros aconteciam em um espaço de dois anos desde o fim do colegial, e, mesmo estando de visita em L.A. em todos eles, a ruiva nunca confirmava ou aparecia, o que me deixava levemente aliviada por não ter que lidar com a ideia de rever minha ex depois de tanto tempo sem contato.
Soltei um suspiro pesado, encarando a captura de tela por longos minutos antes de deixar meu espírito de adolescente tomar o melhor de mim e entrar na página do Facebook na qual o evento estava hospedado, clicando na categoria dos que confirmaram presença. Não levou muito tempo até que o perfil de aparecesse em minha tela. Cliquei em cima de seu nome. Ela ainda fazia parte do meu seleto grupo de amigos naquela rede. A foto mostrava claramente como sua vida havia mudado nos últimos anos: ela estava sentada em um estande com diversos exemplares de livros e um banner enorme que dizia “A Lista de Assassinatos de Alice Romanov”, que era sua obra de estreia como autora.
O livro contava a história de uma assassina cujo objetivo era eliminar todos aqueles que haviam acabado com a sua vida. O livro foi um sucesso, carregando o título de best-seller pelo The New York Times e estava próximo de conseguir uma adaptação cinematográfica. Eu havia acompanhado o processo de escrita desde o começo e lembrava perfeitamente da sua ligação para contar que havia conseguido um contrato razoável com uma editora para a publicação.
Sorri de canto, tocando na tela para que ela voltasse a se iluminar e acidentalmente esbarrando meu dedo na opção de curtir na foto. Fechei meus olhos com força, repreendendo-me mentalmente por ser tão idiota. A foto havia sido alterada cerca de dois anos atrás, então obviamente ela saberia que eu estava a stalkeando. Bufei, largando meu celular em cima da mesa de madeira antes de finalmente me afundar contra o estofado da cadeira giratória.
Massageei minhas têmporas, me esticando o suficiente em direção ao ramal de minha mesa para discar o número de Richard, meu secretário. Observei-o fazer uma cara de assustado do outro lado do corredor, graças às paredes de vidro do andar, e ri comigo mesma quando em menos de dois toques ele atendeu o ramal e se curvou contra a mesa com uma caneta e um papel em mãos.
Senhora Morrisen, no que posso ajudar? — sua voz era baixa e tímida, quase como se ele não tivesse saído da puberdade.
— Richie, oi — olhei para a tela do celular. — Você poderia ligar para o Niky e pedir para que ele venha até aqui, por favor? Também vou precisar que você cancele as reuniões pelos próximos cinco dias.
Claro, senhora — eu conseguia enxergar sua mão se movendo rapidamente pelo papel. — Algo mais?
— Aproveita e pede almoço no Romero’s. Pode pedir para você também — sorri de canto. — Não tenho preferências.
Sem carne, correto?
— Isso.
Ok, vou ligar.
— Obrigada, Richie.
Richard agradeceu com um maneio de cabeça do outro lado do corredor, ciente de que eu o observava de longe. Ele desligou a chamada e eu voltei o telefone no gancho, pegando meu celular uma vez mais enquanto eu fechava todos os aplicativos e deixava apenas o app de mensagens aberto. Longe de qualquer possível vergonha e longe de com seus lindos cabelos cor de fogo.
Ao menos era isso que eu esperava. Poucos segundos depois, a tela do aparelho voltou a se acender, registrando na tela uma nova mensagem. Engoli em seco, desbloqueando a tela e arrastando o dedo pela central de notificações apenas para enxergar o apelido de invadir a tela do celular com duas notificações.

[09/21 11:05:12] Troublemaker: Oi, estranha
[09/21 11:05:30] Troublemaker: vc tava me stalkeando?

— Ah, merda.
Fechei os olhos, me jogando contra o estofado da cadeira enquanto encarava atentamente o celular. O que eu diria? Que havia sentado em cima do aparelho e acidentalmente entrado no perfil dela? Realmente, não havia um minuto de paz para os gays.

[09/21 11:08:58] Morrisen: Ei, já faz um tempo, né?
[09/21 11:09:10] Morrisen: Vi que você tinha confirmado o convite do encontro de formandos, precisei entrar no perfil porque ñ tava acreditando. Foi mal. :/

Honesto e sem muitas informações. Pelo menos era menos vergonhoso do que dizer que eu estava cogitando desistir do encontro porque não saberia lidar com o fato de ela estar no mesmo lugar que eu depois de tanto tempo. Muito menos dizer que não havia a superado depois de tudo. O celular vibrou novamente.

[09/21 11:11:30] Troublemaker: Entendi
[09/21 11:12:00] Troublemaker: Eu não fui aos outros porque estava ocupada com o livro, publicações e distribuições. Nada pessoal, tá? (:
[09/21 11:13:30] Troublemaker: Saudades, aliás! Você já veio para Los Angeles ou vai vir junto com o Niky?

Era impressão ou estava puxando assunto? Eu ri de nervoso, ponderando o que dizer quando a porta do meu escritório se abriu com um estrondo, revelando um par de cabelos platinados vestido em peças de grife com sacolas o suficiente para fazer um almoço de família em minha sala. Nikol sorriu, colocando as sacolas em minha mesa antes de puxar uma cadeira.
— Sorte sua que eu já estava vindo pra cá de qualquer forma, ou eu juro que te bateria por me fazer sair correndo do meu restaurante — ele avisou, nem ao menos me deixando falar. — Richie já está com o dele, é sua vez agora.
— Você é um amor, Niky — sorri, me curvando em direção às sacolas. — O que você trouxe hoje?
— Terrine de jaca, risoto de cogumelo paris, verrine de banana e pink lemonade. Somente o melhor para a minha rainha — Niky sorriu, tirando cada um dos itens da sacola conforme falava. — Ainda não almocei, então trouxe para mim também.
— Ótimo — eu ri, pegando um dos potes com risoto de cogumelo paris e uma garrafa de pink lemonade. Puxei meus talheres, tirei os plásticos que o enrolavam e dei uma garfada. — Voxê quem fex? — perguntei, soando fanha devido à quantidade de comida em minha boca.
— Sim, estava ensinando o chef novo — ele sorriu, tomando um gole do líquido rosado em sua própria garrafinha. — Mas voltando ao ponto, já reservei as passagens para Los Angeles. Já cancelou as reuniões?
— Pedi pro Richie cancelar tudo pelos próximos cinco dias. Claire vai ficar possessa quando eu aparecer por lá depois do último ano.
— Você pode ficar em casa, caso tenha uma companhia no fim da noite — ele sorriu, enviesado. — Pelo menos assim a sua mãe não vai surtar com o fato de você estar com uma amiga.
— Isso que Rebecca nem era um lance, foi puramente porque ela ficou bêbada demais para ir para casa sozinha — rolei os olhos, lembrando do começo de ataque cardíaco de Claire quando viu a loira saindo do meu quarto como se um caminhão tivesse passado por ela.
, estou extremamente desapontada. Essa é uma casa de família, o que os empregados vão pensar após ver uma mulher saindo aos tropeços do seu quarto com roupas amassadas?” — Niky repetiu o discurso de minha mãe, me fazendo rir levemente antes de completá-lo.
— Mamãe, não é como se isso já não tivesse acontecido antes — eu ri. — Deus, eu forneço muito entretenimento.
— De fato, no meio da noite eu me lembro dos seus perrengues e dou gostosas gargalhadas. Aliás, como está com a ?
— Era isso que eu precisava falar — parei por alguns segundos, roubando um pedaço do terrine de Niky.
— Ei! — ele protestou. — Educação faltou.
— Shiii — ralhei, levando o pedaço até a boca antes de continuar. — Fui stalkear e acabei curtindo uma foto dela.
— Você fez o quê? — ele ergueu as duas sobrancelhas, o divertimento se formando em seu rosto.
— Curti uma foto e ela me mandou mensagem.
— Ai, ...
— Aproveite o entretenimento.
Desbloqueei o celular e o entreguei em suas mãos, ávidas por informação. Nikol encarou a tela por longos segundos, apenas passando o dedo pela conversa enquanto ficava em silêncio. Ele respirou fundo, bloqueando a tela novamente antes de colocar o aparelho na superfície da mesa e empurrá-lo em minha direção.
— Ela puxou assunto e você a deixou com um “mensagem visualizada”.
— Você pode me culpar? A gente não se fala tem muito tempo, eu não sabia nem como responder a primeira mensagem.
— Mas você fez bem em responder daquele jeito — ele deu de ombros, voltando a comer. — Quem sabe vocês não acabam se ajeitando. estava cogitando se mudar de vez para Nova York por conta dos trâmites da editora.
— Às vezes eu esqueço que fui a única a cortar relações com ela — murmurei, devorando meu risoto como um homem das cavernas.
— Não é como se eu e tivéssemos mantido contato da mesma forma que eu e você. Estamos em fusos diferentes, então...
— Certo — assenti.
E, assim, permanecemos em silêncio por algum tempo, apenas aproveitando a presença um do outro enquanto eu me afundava em um limbo de pensamentos que se viravam para em toda pequena oportunidade. Eu me sentia com dezessete anos novamente, como se eu tivesse me afastado completamente dela sem aviso prévio. A diferença era que, agora, dez anos depois, o afastamento foi voluntário para ambas as partes.
Seria uma longa dor de cabeça.


Parte II: A Festa

Los Angeles, CA
O dia da festa

O Roxy estava lotado o suficiente para que uma fila considerável se formasse pelo lado de fora da Sunset Strip. O sol já havia se posto há algum tempo, e a vida noturna da famosa avenida já dava indícios de começar a aparecer, me deixando cada vez mais ansiosa para o começo da festa. Não que ela fosse muito divertida, longe disso. Na realidade, era a primeira vez que a organização havia passado o bastão e deixado que os especialistas em festas organizassem tudo.
Pela primeira vez em dez anos, eu estava ansiosa para ficar completamente fora de mim em uma festa de reencontro, e isso graças ao incentivo de Nikol. O platinado estava em um processo que consistia em deixar de consumir álcool desde o último encontro e, por isso, havia se oferecido amavelmente para cuidar de mim. E eu não iria me opor.
Após longos minutos, finalmente adentramos o interior da boate. Os antigos alunos da Marlborough estavam amontoados em um espaço de mesas do outro lado do enorme espaço destinado ao público que havia marcado presença para o show do Duckworth. O ambiente já começava a lotar, então desenhei meu caminho em direção à mesa dos meus ex-colegas de turma com as mãos de Nikol entrelaçadas nas minhas.
! Nikol! — Rebecca gritou quando finalmente nos aproximamos. — Vocês não confirmaram, achei que não viriam esse ano — ela passou seus braços sobre meus ombros em um abraço caloroso. — Você abandonou o rosa — apontou para os meus cabelos.
— É, eu precisei dar uma pausa por um tempo — justifiquei. — Mas estava pensando em voltar, só estou dando um tempo pra ele se recuperar.
— Deveria! Rosa definitivamente é sua cor — ela sorriu, parando diante de Nikol. — Oh, Niky, você está cada dia mais bonito.
— Obrigado, meu bem, você também está — ele sorriu, apertando-a contra seu peito em um abraço.
— Venham. Rix foi pegar as bebidas e petiscos.
Assenti positivamente, cumprimentando cada uma das pessoas presentes na mesa antes de me sentar no canto de um dos bancos. Eu estava levemente chocada em como dois anos eram capazes de mudar tantas coisas. Rebecca estava noiva de um cara rico que trabalhava nas produções musicais de algumas bandas grandes de L.A.
Rixton havia finalmente virado gente e assumido os negócios do pai na vinícola em Toscana, se mudando definitivamente para a Itália. Dallas havia deixado a reabilitação e estava sóbrio desde então, se limitando apenas a tomar alguns drinks sem um pingo de álcool. E, mais cedo do que eu pudesse esperar, já estava tomada pelo sentimento de nostalgia e relembrando os momentos de implicância entre Rixton e eu – a maioria deles envolvendo a energia de pinto pequeno que ele exalava com tantos músculos e pouco cérebro.
— Não, mas até aí tudo bem — Rebecca disse entre risadas. — O problema foi quando a matriarca Morrisen apareceu quando eu estava me esgueirando fora do quarto da — ela relembrou o último encontro, dois anos antes. — Ela me olhou com tanto ódio que eu senti como se fosse explodir só com a força da mente dela.
— Ah, para! — eu defendi. — Ela nem é tão ruim assim.
— Morrisen, aquela mulher te mandou para um internato de conversão, pelo amor de Deus! — Rixton balançou a cabeça. — Isso foi demais até para mim.
— Espera, ela realmente fez isso? — Mike, noivo de Rebecca, estava chocado.
— Oh, ela fez — Niky se pronunciou. — Ela não gostou nada de ver a filha trocando saliva com a melhor amiga de infância.
— E ela ainda fez a gente achar que a não nos suportava — escutei a voz melódica de invadir meus ouvidos, causando um embrulho no meu estômago. — Oi, pessoal — a ruiva sorriu, acenando com a mão timidamente.
ainda era tão bonita quanto qualquer garota que eu já havia visto em minha vida. Seus cabelos alaranjados estavam presos em um rabo de cavalo, com algumas mechas caindo por seu rosto. A maquiagem estava leve, e o batom vermelho ainda era uma marca registrada em seus lábios. Ela usava uma camiseta branca, calças mom jeans de lavagem escura dobradas nas canelas e um par de All Stars pretos, além de um blazer da Prada que deveria valer o preço de um carro.
— Eu bebi demais ou essa é realmente ? — Rixton espremeu os olhos, encarando-a.
— Engraçadinho — ela rolou os olhos. — Oi, Rix.
— Oi, ruivinha — ele se levantou, depositando um beijo estalado em sua bochecha. — Quanto tempo.
— Pois é, dez anos.
engatou em uma maratona de cumprimentos, me fazendo franzir o cenho para a minha própria bebida durante o processo. Então realmente havia cortado contato com todos os ex-colegas, e a coisa não havia sido pessoal. Pelo menos aquilo era um indício que as coisas realmente haviam terminado de forma pacífica entre nós.
— Você tá fazendo aquilo — Nikol sussurrou.
— Quê?
— Franzindo a cara como se estivesse no meio de uma maratona de exercícios de álgebra três.
— Estava só pensando — dei um gole do meu gim.
— Nunca sai algo bom disso.
— Oi, Niky — sorriu, parando na frente de Nikol para dar um abraço caloroso no homem. Me limitei a abrir espaço para que ela pudesse se sentar entre nós, e assim ela o fez, finalmente se virando para mim. — , que saudade — seu sorriso era caloroso e capaz de enviar ondas igualmente quentes por todo o meu rosto, o que me fez agradecer a iluminação baixa da boate; assim ela não me enxergaria corar.
— Oi, — me aproximei, depositando um beijo estalado em sua bochecha. — Realmente, faz um tempo.
— Me desculpe por não manter contato, foi meio difícil — ela fez uma careta. — É seu? — apontou para o copo de gim.
— É sim.
puxou o copo da bebida para si, pegando um dos canudos no suporte e abrindo-o para pegar um pouco do gim.
— Meu Deus, isso me lembra dos nossos porres na faculdade — ela sorriu, fechando os olhos. — Parece tudo tão longe.
— De certa forma, está — dei de ombros. — Pode ficar, eu vou pedir um martíni.
Sorri de canto, pedindo por licença antes de me levantar para andar em direção ao bar. Estava sendo covarde de ao menos conseguir encarar a ruiva ao meu lado sem entrar em pânico. Mas o que mais eu poderia fazer, certo? Ela estava lá, toda sorrisos e simpatia quando eu nem sabia se ela estava solteira ou não para tentar algo. Soltei um suspiro irritado, parando diante do balcão do bar e me sentando em uma das banquetas para esperar o barman.
— O que vai ser? — ele ofereceu, se apoiando contra o balcão para me escutar com mais clareza.
— Três shots de tequila e um martíni, por favor — sorri, tirando o dinheiro da carteira e deslizando pela mesa até as mãos do homem. — Pode ficar com o troco.
Ele assentiu, voltando para o balcão de preparação. Me apoiei no mármore, batucando com os dedos contra a superfície, até sentir um chute fraco em minha perna. Me virei em direção ao responsável, pronta para xingar até a décima geração dele, antes de encarar o rosto brincalhão de . Deus.
— Você tá me evitando? — ela arqueou uma sobrancelha, me fazendo engolir em seco. Eu estava. — Eu te conheço o suficiente para saber quando você está mentindo.
— Talvez eu esteja — dei de ombros, agradecendo o barman com um sorriso quando ele colocou os shots de tequila na minha frente, junto com as rodelas de limão e o sal. — Não é nada pessoal.
— Definitivamente é algo pessoal — ela se virou em direção ao barman. — O mesmo que ela, por favor — e sorriu, escorregando a nota pela mesa. — Fala, garota.
— Nós terminamos tem algum tempo — coloquei um pouco de sal no peito de minha mão, segurando um dos copinhos. — Eu só não sei em que pé estamos com isso, entendeu? Foi normal, mas não sei se ainda tenho a mesma intimidade pra brincar como fazíamos antes. Só isso, — lambi o sal, tomando o shot e mordendo um limão logo em seguida. Senti a ardência descer por minha garganta, deixando o limão mordido no cantinho da bandeja.
— Entendi — parecia estar se divertindo. — Tá tudo bem entre nós, — ela sorriu, fazendo o mesmo processo que eu para beber a tequila. — Aliás, eu queria falar com você sobre uma questão.
— Pode falar — voltei para os meus shots.
— Eu comentei com Nikol que estou pensando em me mudar de vez para Nova York, por conta dos contratos de publicação da editora. Posso precisar de uma guia, então se você puder me ajudar, eu apreciaria.
— Oh... — eu estava levemente impressionada. — Claro, sem problemas.
— Obrigada — ela sorriu, matando o último shot de tequila antes de pegar a taça com margarita e me puxar para a pista de dança. — Vem, , é hora de relembrarmos os velhos tempos.
E, de fato, foi isso que fizemos. Logo após chegarmos na pista de dança, uma música animada começou a invadir nossos ouvidos, com melodias tão sensuais que me faziam mexer o corpo sem controle algum de acordo com seu ritmo. colocou suas mãos em meus ombros, rebolando junto comigo enquanto nos dividíamos entre rir e dar goles de nossas próprias bebidas. Não levou muito tempo para que Rebecca se juntasse a nós com Mike, Niky e Rixton, trazendo o engraçado sentimento da nostalgia dos bailes do colegial.


Parte III: O Beijo em Venice

Los Angeles, CA
O dia da festa

SHOTS! SHOTS! SHOTS! SHOTS!
O coro de vozes embriagadas invadia meus ouvidos como uma orquestra sinfônica enquanto eu virava o sexto shot das bebidas aleatórias que eles haviam colocado na mesa. A ideia havia surgido após uma aposta idiota de um Rixton bêbado. Não que eu estivesse muito longe disso. Já havia perdido as contas de quanto eu já havia bebido, e já sentia minha fala enrolando todas as vezes que tentava falar algo que exigisse mais que três neurônios funcionais do meu cérebro completamente embriagado.
— CHUPA ESSA, ! — berrei, apontando para a ruiva quando cheguei no último shot de cor esverdeada. Ainda faltavam dois para que ela terminasse, me declarando a vencedora da pequena aposta adolescente de Rix.
— Merda! — ela ralhou, pegando os últimos shots restantes e virando-os como se fossem água. Naquele ponto da noite, havia poucos de nós que ainda conseguiam distinguir o sabor de qualquer bebida que chegava em nossas mãos. — Quem tá sóbrio?
— Acho que eu, Mike, Dallas e Conor — eu encarei a voz de Nikol, forçando minha vista para que ele permanecesse em foco.
— Ótimo! — ela riu. — Por que não vamos pra Venice? Podemos pegar mais algumas bebidas e passar a noite na praia, como nos velhos tempos!
— Oh, deus — Nikol riu, nervoso. — Eu me sinto com dezessete anos de novo.
— Qual é, Nikooool — eu me joguei em seus braços. — Você sabe o quanto eu te amo e o quanto te admiro por ser o melhor amigo da face da Terra.
— Ok, ok! — ele levantou os braços. — Vocês topam?
— Não é um problema pra mim — Mike deu de ombros.
— Bom, não é como se eu tivesse muito o que fazer amanhã.
Dallas deu de ombros, me fazendo dar pulinhos de animação enquanto o restante de nós pegava suas bolsas e celulares, deixando o The Roxy o mais rápido que nossos pés poderiam fazê-lo diante da condição embriagada da maioria de nós. Nos dividimos em quatro carros, tomando o cuidado de passar em um posto de gasolina para pegar engradados de cerveja e refrigerante para os nossos coleguinhas sóbrios, além de comida o suficiente para que ninguém acabasse morrendo no meio do processo.
O caminho para a praia de Venice não levou mais que trinta minutos. E, graças ao horário, a praia estava tão vazia quanto nos tempos em que a pandemia havia assolado o país. Nikol estacionou o carro e abriu o porta-malas para que nós o ajudássemos a retirar as bebidas e um pano para estender na areia. Assim o fizemos, entre tropeços e risadas enquanto nos sentávamos na areia e observávamos o silêncio da noite.
— Quer um pouco? — murmurou baixinho, tirando o JUUL de dentro da bolsa e estendendo em minha direção. — É maconha.
— Quão fodida vou ficar se aceitar isso no estado em que eu estou? — arqueei a sobrancelha.
— Bastante — ela sorriu, dando um trago.
— Vou passar por agora — sorri de canto, tirando meu maço de cigarros da bolsa e levando um dos tubinhos em meus lábios para acendê-lo com certa dificuldade, graças à ventania. Dei um trago do cigarro, apoiando meu cotovelo na areia enquanto observava meus amigos brincarem próximos da água entre risadas.
— Você sente falta? — ela sussurrou.
— Do quê? — franzi o cenho, encarando-a.
— De nós, eu acho — soou quase monótona entre o som do quebrar de ondas e o silêncio noturno.
— O suficiente, mas acho que era o que deveria ter acontecido — dei de ombros, dando com os ombros mais uma vez. — Não é como se nosso relacionamento fosse fácil de qualquer forma.
— Não seríamos nós se fosse fácil — ela riu. — Estou me mudando para Nova York no próximo mês, quem sabe assim... — e deixou o raciocínio no ar, me fazendo encará-la. Contra a luz da lua, ela conseguia ficar ainda mais bonita.
— Podemos tentar por uma noite.
Ela deixou de encarar a maré agitada, finalmente me olhando nos olhos. As sardas em seu rosto ficando cada vez mais próximas, o sorriso de canto dominando seus lábios. Os cabelos acobreados batendo contra minha bochecha enquanto ela se inclinava contra mim e selava seus lábios nos meus, causando-me arrepios por toda a minha espinha durante o processo. Suas mãos pararam em meu pescoço, beijando-me carinhosamente como há muito tempo não fazíamos, e despertando sentimentos que há muito eu achava que estavam perdidos. Nos beijamos por mais algum tempo, finalmente nos separando quando a falta de ar se fez presente.
— Podemos deixar essa conversa para outro dia. Não é algo que eu gostaria de conversar completamente bêbada.
Ela sorriu, tomando distância e se levantando em um pulo. correu por mais alguns metros, finalmente se virando em minha direção enquanto tirava a camiseta e a jogava contra a areia da praia. Deixei um sorriso brincar em meus lábios, observando-a atentamente enquanto meu coração se enchia com todos os sentimentos que eu havia deixado guardado no fundo do meu peito.
— Vamos lá, Garota Problema, temos a noite toda.


Fim



Nota do autor: E voltamos com a parte II de Olivia e Hayley!
Para quem não sabe, essas duas personagens surgiram a partir de Flying Solo, uma música do Ficstape de JATP e eu amo tanto essas duas personagens que eu não resisti em fazer com que elas aparecessem por aqui novamente.
Espero que vocês tenham gostado.
Até a próxima!



Outras Fanfics:
03. Centuries [Shortfic - Finalizada]
A Song About You [Longfic - Em andamento]
The Roadie [Longfic - Em andamento]


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