Última atualização: 29/04/2021

Capítulo Único

corria o risco de vazar pelo teto do vizinho do andar de baixo, a qualquer momento, desde que resolveu ligar para avisando que eles precisavam ter uma conversa muito séria. Assim que desligou o aparelho, olhou a hora e começou a fazer os cálculos de quanto tempo o rapaz levaria para chegar à sua casa, levando em consideração que ele foi despertado pela sua ligação, pois a The Neighbourhood fez um show na noite anterior que terminou na madrugada. Cruzou os braços e começou a andar de um lado ao outro do seu pequeno apartamento, bastavam apenas quatro passos para percorrer toda a sala e cozinha em estilo americano. Sua mente estava a mil, pensando em todos os argumentos para resolver as coisas entre eles, sem ferir mais a ambos.
Quase morreu de alívio ao ouvir a campainha, mas um risco de arrependimento começou a borrar a coragem do que estava postergando há meses, por isso ainda perdeu uns minutos com a mão na maçaneta e a sua cabeça berrando “Coragem! Coragem!”, até que resolveu abrir de uma única vez, a melhor forma de arrancar um band aid de cima da ferida. — Pensou irônica.
Entretanto, tudo foi pelo ralo no momento em que viu encará-la com a cara de sono. Os cabelos escuros no comprimento até o pescoço estavam bagunçados pelo vento, o olhar dele era de preocupação mesmo enquanto sorria. Cara-a-cara tornava a prática mais difícil, principalmente quando não conseguia resistir ao homem à sua frente.
— Hey, babe.
— Hey — ela cumprimentou com indecisão. Não sabia se deveria abraçá-lo antes de soltar tudo que estava a matando, por isso resolveu fingir que tudo estava bem e o abraçou forte, inalando o cheiro da loção pós barba. Fechou os olhos e focou-se em recordar sensações daquele momento. Chegava a ser irônico como saber que poderia ser a última vez tornava a percepção e valorização dos momentos diferente.
— Nossa! — Ele começou, dando uma leve risada ainda com a mulher envolta em seus braços, mas estranhando um pouco a situação. — Está tudo bem? — Riu.
— Só mais um pouquinho — ela murmurou, ainda descansando o queixo no ombro dele, os olhos fechados na mais pura contemplação.
— Ok. — Riu, envolvendo-a mais forte.
Permaneceram em silêncio nos braços um do outro por mais alguns minutos até que ele resolveu se pronunciar enquanto bocejava.
— Sabe que amo ter você em meus braços, mas estou tão cansado que vou acabar dormindo em pé e te derrubando junto. — Bocejou, soando divertido.
— Claro! — Ela riu sem graça e se afastou, seguindo até próximo ao sofá de couro preto, mas não se sentou. Observou-o trancar a porta, sentiu a pontada de dor no peito ao ver a camisa social berinjela que ele usava, alguns botões abertos revelando a regata branca por baixo, um presente de aniversário que havia dado a ele. Ela amava o estilo dele e que nenhuma outra pessoa conseguia ter. Ou era apenas os olhos enfeitiçados pela paixão que fantasiava tudo.
— Você disse que precisava conversar… — comentou curiosamente, enquanto ocupava um lado do sofá, uma perna cruzada e os braços com algumas tatuagens descansavam no encosto. Tinha a atenção totalmente voltada para ela.
O coração dela bateu acelerado, quase estourando o peito. Umedeceu os lábios com a língua, prendendo-os com os dentes enquanto encarava-o diretamente, insegurança presente em seu tom.
— Eu preciso terminar — revelou. Cruzou os braços e desviou o olhar para o chão, a tristeza estampada em seu rosto.
— Uau! — Soltou parecendo desnorteado enquanto coçava um dos olhos.
Quando voltou a encará-lo, percebeu que a mirava de volta diretamente, o corpo inclinado para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos cobriam ambos os lados do rosto.
Percebendo que ela não diria mais nada, ele forçou-se a perguntar:
— Foi algo que eu fiz?
Ela negou desolada e cobriu o rosto com uma das mãos, uma risada incrédula escapou.
franziu a testa em confusão, nunca viu a namorada agir daquela forma.
— Você vai achar maluquice da minha parte! — Falou envergonhada, as mãos caindo ao lado do corpo. — É! Só posso ter enlouquecido — disse mais para si mesma.
— Fala comigo, baby — ele pediu ao se levantar e segurá-la pelos ombros, o olhar calmo, mesmo que estivesse lutando com as próprias emoções.
Viu-a suspirar derrotada, os ombros caídos, mas decidiu que iria ser sincera por mais doido que fosse.
— Lembra que você me disse uma vez que a banda era a sua vida, quer dizer, fazer música era a sua vida. — Ela pausou, recebendo uma confirmação de cabeça e continuou, a boca seca pelo nervosismo. — Que você e os meninos buscavam transmitir sentimentos, pensamentos através das composições. — Pausou novamente e recebeu mais uma afirmação. — Então, quão louco seria se eu dissesse que uma delas me tocou muito forte hoje e que está sendo o motivo desta conversa?
A jovem fez uma careta insegura enquanto aguardava uma reação, mas ficou insegura com o outro, pois ele encarava-a com a boca aberta feito um peixe fora d'água, as mãos ainda pesavam em seus ombros.
Ela deu todo o tempo que ele parecia precisar para absorver aquela loucura. Até quando ouviu saindo de sua boca, pensou que realmente era um outro nível de maluquice. Quem termina um relacionamento por causa de uma música?
— Deixa eu ver se entendi bem, . — Ela fez uma careta preocupada ao ouvir seu nome e não o apelido carinhoso, soube que as coisas não estavam indo bem. — Você resolveu terminar comigo por causa de uma música?
Ela confirmou com um gesto envergonhado.
— Eu sei que parece loucura, mas faz todo sentido — tentou argumentar enquanto gesticulava.
— E qual é o sentido? — Perguntou cético.
We need to fly ourselves before someone else tells us how* — cantarolou baixinho. — Something is off, I feel like prey, I feel like praying.* Nós temos que voar por nós mesmos antes que alguém nos diga como. Algo está errado, eu sinto como uma presa, eu sinto que preciso rezar.*

reconheceu a letra de Prey e passou uma das mãos pelo cabelo. Observou a namorada atentamente enquanto absorvia aquela revelação. Tentou buscar em sua mente o que aquela música representou para ele e os meninos, o seu verdadeiro significado. Sabia que a música veio de uma inspiração do Jesse sobre uma fase difícil que ele estava vivendo no relacionamento com seus pais, onde estavam querendo que ele seguisse por outro caminho em vez da música e ele não sabia o que fazer, preso entre agradar os pais ou seguir o próprio coração. Ele tinha consciência de que algo estava errado naquela situação e, acima de tudo, a decisão de voar ou não do ninho seria o divisor de águas para o caminho do seu amadurecimento como pessoa. Quando ele mesmo leu a letra, não teve como negar que em algum momento havia se sentido da mesma forma, tendo ciência que algo estava errado e que um caminho muito mais complicado estava à sua frente, dependendo apenas da sua decisão. A dúvida era como se encaixava naquela letra e por que o relacionamento deles entrava na equação?
! — A voz mais estridente com uma leve irritação.
Ele bufou exasperado, passou as mãos pelo cabelo e descansou-as na cintura.
— Eu sei o que significa para o Jesse, até mesmo para mim. — Suspirou cansado e jogou-se no sofá, rendido. — Mas não consigo enxergar onde nosso relacionamento entra nessa história.
A mulher mordeu os lábios. Não estava mais irritada com o rapaz, afinal, ela havia tido um insight maluco e o chamado para terminar tudo entre eles.
— Eu te amo. — Sorriu e estendeu a mão para ele, que pegou e depositou um beijo carinhoso, até mesmo retribuiu o sorriso. — Quando nos conhecemos, eu era fã da banda e tinha um crush pelo baterista… — Riu divertida. — E acabei me apaixonando pelo guitarrista. — Jogou-se no colo dele e olhou diretamente, tocou seu rosto enquanto braços envolviam sua cintura. — O que eu não me arrependo, mas eu preciso de mais. Muito mais. E se eu ficar presa na Califórnia, seguindo você nas turnês, eu não vou realizar e esse é o problema. — Suspirou tristemente.
— Mas você pode fazer o que quiser.
— Eu sei.
— Não precisa terminar o nosso relacionamento por causa disso — ele sussurrou e olhou-a intensamente, tentando demonstrar todo amor e apoio que sentia pela mulher.
— Eu sei, mas não posso ficar longe e me privando das experiências, assim como você. Somos jovens, temos uma vida pela frente e muita oportunidade para crescer pela frente. Quem sabe o que o destino nos reserva? — Ela sorriu de forma encorajadora.
Ele a encarou como se fosse louca.
— Você realmente me ama? — Perguntou seriamente.
Ela aproximou seu rosto até ser capaz de sentir a respiração quente atingir seus lábios.
— Com todo o meu coração. — Encarou por mais alguns segundos. — E por isso preciso voar e encontrar meu caminho. A não é apenas a namorada do , ela é isso e muito mais, só que preciso que você esteja com o coração aberto.
O guitarrista entendeu que iria sofrer pela partida dela e o fim deles, mas ele realmente compreendeu o que a mulher sentia e, de alguma forma, ficou feliz em vê-la tomar uma atitude que mudaria a vida dela.
Cantarolou a sua resposta, um dos versos de Prey.
— I'll keep mine open too, If you don't ask, I won't tell, Just know that, just know that, It all hurts, it all hurts just the same.
nunca imaginou que uma das suas músicas levaria ao término do seu relacionamento, talvez, fosse a hora de começar a escrever uma letra que trouxesse de volta para a sua vida.

As long as you notice
Contanto que você perceba
I'm hoping that you'll keep your heart open
Eu espero que você mantenha seu coração aberto
I'll keep mine open too
Eu vou manter o meu aberto também
If you don't ask, I won't tell
Se você não perguntar, não direi
Just know that, just know that
Só saiba que, só saiba que
It all hurts, it all hurts just the same
Tudo dói, tudo dói do mesmo jeito


FIM



Nota da autora: Oi, jovem! Espero que tenha gostado da fic, vou adorar saber o que achou dela! Amo essa bandinha e esse álbum maravilhoso! Beijinhos e até a próxima! <3 E se gostou dessa fic, também confere as outras.

Outras Fanfics:
Bônus: Leaving Tonight [Ficstape #124 — The Neighbourhood: I Love You — Finalizada]
Bônus: Baby Came Home [Ficstape #124 — The Neighbourhood: I Love You — Finalizada]
Café com Pattinson [Atores — Em Andamento]
Dark Angels [Restritas – Originais – Em Andamento]

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