Fanfic Finalizada

Capítulo Único

Não aguentava mais ficar presa entre aquelas paredes. O estúdio sempre foi meu refúgio, mas depois de ficar ali por quase 48h eu mataria para ver ao menos a luz do sol.
Respiro fundo quando chego ao estacionamento, sentindo o vento balançar meu cabelo embolado, mas minha paz dura meros segundos antes de ouvir uma voz atrás de mim. Uma voz que conheço muito bem, angelical e irritante ao mesmo tempo.
— Você acha que está em um filme de romance, ? — continuo de olhos fechados e resolvo ignorá-lo na esperança de que vá embora. — Eu sei que me ouviu. — sinto seus dedos mexerem no meu cabelo embolado. — Você quer um pente de presente?
Bato seus dedos para longe e me viro em sua direção. Desgraça de homem bonito. A mesma proporção que tem de beleza tem de babaca.
— O que você quer, ?
— Só apreciar esse seu rostinho bonito.
O xingo baixo e começo a caminhar em direção ao meu carro. me acompanha e o observo de rabo de olho.
— Não preciso de guarda-costas.
— Alguém pode te assaltar.
— Duvido. Eu sou do Rio de Janeiro, não sou otária. — ouço sua risada e não consigo evitar um arrepio por meu corpo.
Abro a porta traseira do meu carro e jogo minha bolsa lá dentro junto com algumas pastas de partituras. Antes que possa abrir a porta do motorista, já está ali, impedindo minha passagem.
— Licença.
— Por que você é sempre tão brava?
— Por que você é sempre tão irritante?
Empurro sua mão e ele perde o equilíbrio, mas consigo abrir a porta do meu carro e entrar. Ligo o motor e baixo a janela para olhá-lo.
— É sempre um prazer estar com você, .
— E é sempre um desprazer estar com você, . — engato a ré e quando passo por ele não consigo evitar de mostrar o dedo do meio. O vejo sorrir enquanto dirijo para longe, o que só aumenta ainda mais minha irritação.
Ligo o rádio para me distrair e me arrependo no mesmo instante quando a voz de toma conta do meu carro. Estico o braço de novo para trocar a estação, mas parece que o universo conspirou contra mim e fez o favor de travar o rádio, me deixando com a única opção de ouvir cantar. É inegável que ele é talentoso, sua voz é linda e sempre afinada. E também é inegável que quando atinge timbres mais baixos eu fico meio… não sei, envolvida, talvez. Mas claro, apenas pela sua voz. Já produzi tantas músicas para ele que se tornou rotina ouvi-lo cantar.
Mal reparo quando começo a cantar e batucar os dedos no volante, mas paro assim que percebo. Claro que a música é boa, fui eu que escrevi, compus e produzi. Não vou deixar de me gabar pelo meu talento, nem ferrando. Sei que sou boa, não vou me diminuir.
A viagem até em casa é tranquila, e durante todo o percurso tudo o que penso é em um banho bem quente, um hambúrguer bem gorduroso e uma coca-cola bem gelada. Já consigo até me imaginar deitada abraçadinha com Josh enquanto assistimos algum romance meloso que ele com certeza iria detestar.
Suspiro cansada quando abro a porta de casa e tiro os sapatos no meio do corredor, já estranhando o silêncio.
— Josh? — chamo, mas não tenho uma resposta. Começo a subir as escadas e escuto uma música na direção do meu quarto, e assim que abro a porta, desejo que nunca tivesse feito isso.
Olho para meu namorado deitado na cama, completamente nu, com uma mulher em cima dele, também completamente nua. Os dois me encaram, e eu encaro os dois. Começo a me virar para ir embora e ouço Josh chamar meu nome, o que me faz acelerar meus passos. Desço as escadas praticamente correndo e alcanço o sofá, onde tinha acabado de deixar minha bolsa. Mal chego à porta da frente e Josh já está atrás de mim, segurando meu braço.
— Não é nada disso do que você está pensando, !
— Ah, por favor! Não venha com essa frase pra cima de mim! — puxo meu braço do seu aperto. — Volta lá e enfia seu pau naquela ruiva peituda.
… — ele tenta me segurar de novo, mas o empurro para longe.
— Quero você fora da minha casa até amanhã.
— Amor… — ele tenta me segurar mais uma vez, e agora não seguro a raiva, dou um belo tapa em seu rosto perfeito.
— Você perdeu o direito de me chamar assim quando resolveu gravar um pornô na minha cama, dentro da minha casa. — abro a porta e dou um passo para fora. — Eu quero você fora até amanhã. — repito meu pedido e fujo tão rápido que não consigo nem raciocinar para onde vou.

Mordo meu hambúrguer mais uma vez e suspiro pesado, jogando a cabeça contra o encosto do sofá. Desde que saí de casa não chorei, gritei, não tive reação alguma.
— Será que eu sou uma psicopata? — murmuro para mim mesma.
— Ah, eu tenho certeza que sim. — levanto a cabeça assustada e encontro parado na porta.
— O que você quer? — pergunto de boca cheia.
— Sabia que damas deveriam ter um pouco mais de etiqueta do que isso? — ele provoca com um sorrisinho de canto enquanto encosta o corpo no batente da porta.
Abro ainda mais a boca e mostro minha comida mastigada. Acho super nojento falar de boca cheia, mas no momento estou pouco me fodendo para etiquetas.
— O que você quer? — pergunto de novo. apenas entra no estúdio e se senta na cadeira da mesa de mixagem à minha frente.
— Vi a luz acesa, vim ver se estava tudo bem.
— Está tudo bem, pode ir embora. — aponto a mão com o hambúrguer para a porta.
Mas ele não vai embora, apenas continua a me observar. Mantenho o contato visual, esperando que ele encontre o que tanto busca em meu rosto e me deixe logo sozinha.
— Você está bem? — ele pergunta de novo, agora com a voz suave.
Não sei porque, mas essa pergunta era o que faltava para meu choro começar. Meus soluços tomam uma força tão grande que começo a sentir meu corpo balançar e de repente não consigo respirar. Sinto meu coração bater tão rápido que parece que quer sair do meu peito, parar essa dor latente, fugir da rejeição.
O sofá afunda do meu lado e sinto braços musculosos me envolverem em um abraço apertado. Nesse momento não me importo que me abrace, não me importo que ele me veja chorar, não me importo com as piadas que vou ouvir no dia seguinte; apenas afundo meu rosto em sua camisa e choro ainda mais.
Demoro um pouco para me acalmar, mas consigo respirar fundo algumas vezes e controlar meu choro. A mão de é suave em meu cabelo, quase como se eu fosse uma boneca de porcelana e ele tivesse medo de me quebrar, seus braços continuam ao redor de meu corpo. De repente, me sinto envergonhada de chorar na frente do homem que sempre arruma pretexto para me zoar.
Me solto do abraço e limpo meu rosto, desviando do olhar de .
— Desculpa. — dou uma fungada e seco mais algumas lágrimas. — E desculpa pela sua camiseta também, eu compro outra para você. — aponto para seu corpo, o tecido branco manchado com o resto de rímel da minha maquiagem.
— Não me importo com a camiseta. O que aconteceu? — ele diz baixo, sua voz com um tom preocupado. Quase acredito.
— Nada demais. — me levanto e prendo meu cabelo em um coque — Vou pedir à sua agente o número do seu manequim e amanhã te dou uma camiseta nova.
— Não preciso de uma camiseta nova, eu preciso saber o que aconteceu. — sua voz é firme e seu pedido soa mais como uma ordem.
— Nada demais, já falei — aperto os dedos contra meus olhos na vaga esperança de que se desejar muito, tudo isso não vai passar de um pesadelo. — Amanhã mesmo eu te entrego a camiseta, desculpa-
— Caramba, , eu não estou nem aí para a camiseta, eu quero saber o que aconteceu. — ele me interrompe e se levanta, caminhando até parar na minha frente — Por que você estava chorando?
Crio coragem de olhá-lo, e ao invés do que esperava, não vejo nenhum vestígio de ironia, apenas preocupação. Abro a boca para falar, mas não consigo. A humilhação de contar para que meu namorado, agora ex-namorado, me traiu é grande. Nunca me importei realmente com as piadinhas que ele jogava em minha direção, mas sei que não aguentaria ouvir nenhuma sobre o assunto.
… — seu toque é tão leve em meu rosto que parece que o imaginei, e mal percebo que ele usou meu apelido ao invés de meu nome.
— Eu… — engulo em seco, as palavras presas na minha garganta. — Josh…
— O que ele fez? — seus olhos parecem ficar mais escuros e sua voz mais dura, mas provavelmente é minha imaginação.
— A gente terminou. — desvio o olhar e solto o ar devagar. — Peguei ele com outra na minha cama.
Dou de ombros. Não é a primeira vez que isso acontece. Nunca vou esquecer de como encontrei meu ex fodendo uma garota de fraternidade no banheiro de uma festa. Ele nem tentou se defender, apenas disse que queria transar e eu não estava a fim, então foi procurar alguém que quisesse. Quando contei isso para Josh, ele prometeu que nunca faria algo assim comigo, que ele me amava demais para me machucar. É, realmente, ele deve me amar demais mesmo.
me olha intensamente, mas não consigo decifrar o que pensa. Provavelmente está maquinando alguma piadinha sobre meu sofrimento.
— Eu realmente apreciaria se você não me zoasse agora. Me dá pelo menos um prazo de 10 horas para não chorar mais na frente de ninguém. — forço um sorriso, mas ele não corresponde.
Fico ainda mais constrangida com a situação. Busco meu hambúrguer no sofá, mas o encontro caído no tapete empoeirado e sinto vontade de chorar de novo.
Derrotada, me jogo no sofá e deito a cabeça no encosto.
— Você achou que eu ia tirar sarro de você? — a voz de é um mero sussurro.
— Não é o que você sempre faz? — levanto a cabeça para olhá-lo. — Já acostumei.
— Eu-
Ele começa a dizer, mas parece mudar de ideia e fecha a boca.
— Tudo bem, , relaxa.
— Não. Você achou-
— Já disse, está tudo bem. — tento sorrir de novo, mas sei que parece uma careta de dor. — Só queria comer, mas até isso o universo tira de mim.
Jogo o braço sobre os olhos quando volto a deitar a cabeça no encosto. Estou tão cansada que quero simplesmente dormir nesse sofá desconfortável.
— Levanta. — descubro meus olhos e encontro me encarando.
— Que?
— Levanta. — ele ordena mais uma vez, e puxa meu braço, tentando me fazer ficar de pé.
— Por que? — me solto de seus braços e ele coloca as mãos na cintura igual uma mãe brava.
— Porque você precisa comer. E parar de chorar por um babaca que nunca te mereceu.
Não consigo organizar um pensamento sequer. Continuo a olhar sem ter a mínima ideia do que responder.
— Vai levantar sozinha ou vou ter que te pegar no colo? — abro a boca para falar, mas ele é mais rápido. — Nem me diga que eu não ousaria. Nós dois sabemos que eu ousaria sim.
Estreito meus olhos em sua direção. Ele com certeza me pegaria no colo só para provar seu ponto. Levanto bufando e cruzo os braços enquanto o olho, ainda com suspeita.
— Você vai me dar comida de cachorro? — ele revira os olhos antes de pegar minha bolsa no chão.
— Vamos logo. — ele não me espera, apenas se vira e sai da sala, me deixando igual a uma doida tentando arrumar tudo e correr atrás dele.
— E para onde vamos? Vai me deixar no meio da rodovia?
— Comer. — ignora a última pergunta e aperta o botão para chamar o elevador. Ele olha para meus pés e franze o cenho — Cadê seus sapatos?
— Ah. — agora que reparo que estava de meias. E não são nem meias bonitas, consigo até ver meu dedão pelo buraco no tecido. — Eu não coloquei meu tênis… Só queria sair de casa logo.
respira fundo, suas narinas dilatam e seu maxilar se cerra com força. Ele está com raiva?
— Vamos buscar alguma coisa para você calçar.
— Não! — sinto um pânico subir pela minha garganta.
A última coisa que quero agora é voltar para casa e encontrar Josh no meu sofá. Ele me ligou pelo menos umas 50 vezes desde que o peguei no flagra, mas não desliguei meu celular, quero que ele saiba que o estou ignorando de propósito. Infantil? Talvez, mas não me importo.
— Não quero voltar para casa agora.
— Vamos para minha casa. — responde e concordo com a cabeça, sem ligar para o fato de que ele deve me achar patética nesse momento.
O silêncio no elevador é reconfortante. parece saber que não quero conversar e que preciso de um tempo, e o agradeço por isso. Não demoramos para chegar ao térreo, e assim que saímos da recepção ele caminha em direção ao seu carro.
— Eu estacionei do outro lado. — aponto para a direita. — A gente se encontra-
— Não. — ele diz e me dá as costas, voltando a andar.
— Não? — corro atrás dele. — Como assim ‘“não”?
— Não.
— Por que “não”? — me vejo indignada com ele me tratando igual a uma criança birrenta.
— Por que eu disse não.
— Dá para me responder?
— Eu já respondi. “Por que não”.
— Isso não é resposta. — ok, talvez eu esteja agindo como uma criança birrenta.
— Claro que é.
não me olha, apenas coloca minha bolsa no banco de trás e abre a porta do carona para eu me sente.
— Você vai me responder? — pergunto de braços cruzados. suspira e joga a cabeça para trás, esfregando o rosto com as mãos.
— Por favor, só entra no carro, . — ele indica o assento e dessa vez não compro briga.
Me sento no banco e vejo dar a volta no carro. Não digo nada enquanto o observo sair da vaga e entrar na rodovia. Sua postura é dura, como se não estivesse confortável.
— Por que está me encarando? — sorrio de lado. Então ele realmente está desconfortável.
— Nada. — dou de ombros e olho pela minha janela.
— Nada? — ele me olha rápido antes de se virar para a estrada de novo. Continuo
em silêncio. — Fala logo, .
— Por que você me chama de ? — me arrependo na mesma hora em que ouço minha pergunta idiota.
— Porque é o seu nome. — ele responde como se fosse óbvio.
— Todo mundo me chama de . — foda-se, se está na chuva é para se molhar.
— Eu não sou todo mundo. — me olha como se quisesse me dizer mais alguma coisa.
Sem saber como responder, volto a olhar para a janela. Meus dedos batucam sobre minha perna, e só percebo que estava nervosa quando a mão de repousa sobre a minha.
— Para. — sua voz é firme.
Quase que com relutância, ele quebra o contato físico e segura o volante com força. Estudo seu perfil por um tempo, tentando decifrar porque ele está sendo tão legal comigo. É tudo parte de uma grande piada? Ele vai postar isso em algum site de fofoca? Posso até não ser tão famosa quanto Josh, mas ainda tenho certo reconhecimento na indústria musical.
— Tem um paparazzi seguindo a gente.
— O que? — olha pelo retrovisor interno e solta o ar pelo nariz.
— Estão seguindo a gente desde que saímos do estúdio.
— Sério? — tento olhar pelo retrovisor e reconheço o carro preto atrás de nós. — Estão nos seguindo desde que saímos da gravadora?
não responde, mas pelo jeito que está agindo a resposta é sim. E ele parece bem puto da vida por não ter percebido antes. Mas antes que eu possa fazer outra pergunta, ele apenas aperta um controle e o portão da garagem se abre. entra com o carro e no mesmo momento a porta do carona de nosso stalker se abre e um homem com uma câmera avança em nossa direção.
— Que inferno de vida de famoso, hein? — salto do carro no mesmo momento que ele.
Sigo por um curto corredor e chegamos em uma cozinha que tem abertura para uma sala aconchegante. Diferente do que eu imaginava, a casa de não tem nada de impessoal; sempre pensei que ele morava entre quatro paredes brancas e só isso.
— Não se sinta em casa, não vamos demorar. — ele diz, já desaparecendo no topo das escadas.
Ao contrário do que ele mandou, eu me sento no sofá e encosto a cabeça em uma das almofadas, fechando os olhos e tentando imaginar que minha vida não está caindo aos pedaços ao meu redor.
Queria dizer que não esperava isso de Josh, mas seria mentira. Nosso namoro não estava bem há um tempo, mas ignoramos os sinais e fomos empurrando com a barriga. É claro que isso não é desculpa para traição, mas deveríamos ter conversado sobre tudo antes e agirmos como adultos. Acho que vou sentir mais falta da vida estabelecida que eu tinha, da minha rotina, do que de Josh em si. E eu sei que isso é um pensamento bem merda, mas o que eu posso fazer se é verdade?
— Consegui achar esses tênis da minha irmã. — me sobressalto com a voz de . — Você estava dormindo no meu sofá?
— Sim, ele é muito confortável. — dou de ombros e pego os sapatos que ele me estende. É impossível reprimir o gemido que me escapa quando piso nas solas. — É como se eu andasse sobre nuvens.
— Acho melhor a gente ir. — limpa a garganta e sua voz sai um pouco rouca.
— Você me prometeu comida. — pego uma almofada e a aperto contra meu rosto. — E seu sofá é realmente confortável. Prefiro ficar aqui.
me observa em silêncio. Não consigo decifrar o que pensa, mas imagino que deva estar sentindo muita pena da chifruda aqui, porque ele concorda.
— Vou pedir pizza. — ele tira o telefone do bolso. — Pepperoni?
Concordo com a cabeça e jogo os sapatos no chão, agora me deitando por completo no sofá, enquanto ele faz a ligação. apenas arqueia as sobrancelhas e vai para a cozinha fazer o pedido. A próxima coisa que sei é que sou acordada com o barulho da campainha e um cheiro delicioso de pizza.
— Você parece um cachorro. — ri e coloca a caixa de pizza na mesinha de centro. — Só foi mexendo o nariz até acordar por completo.
— Eu vou ignorar o que você disse só porque você me comprou comida.
Abro a caixa e pego uma fatia, comendo tudo tão rápido que nem sei como não passo mal. também se serve e ficamos em silêncio.
Meu celular começa a vibrar debaixo de uma das almofadas e vejo o nome do meu querido ex aparecer na tela. A ligação vai para a caixa postal e soma às outras dezenas de ligações perdidas. Ele não vai desistir nunca?
— Ele está te ligando? — tenta olhar meu celular, mas viro o aparelho para longe.
— Não importa.
— Importa sim. — ele pega o celular da minha mão e atende a ligação.
— Não! — tento pegar o aparelho de novo, mas segura minha mão.
Alô? — ouço a voz de Josh do outro lado da linha. — Amor?
— Ela está um pouco ocupada agora.
Quem está falando?
. — o babaca sorri largo quando a linha fica silenciosa.
Você já está fodendo outro, ? — Josh grita no telefone e quando tento pegar o celular mais uma vez, se afasta.
— Cuidado com essa língua, Taylor, ou vai ficar sem ela.
Josh não tem oportunidade de responder quando desliga a ligação e coloca o celular sobre a mesa. Sua mandíbula tensa, os olhos estreitos, as mãos em punhos… ele parece pronto para uma briga.
— Você devia ter me deixado responder.
— Para ele falar mais merda para você? Não mesmo. — respira fundo e toma um gole do refrigerante que serviu para nós e eu nem reparei.
Voltamos a comer em silêncio e eu não sei o que fazer. Fico realmente aliviada que respondeu à ligação, então agora Josh vai parar de me perturbar, mas não consigo me livrar da sensação que tem algo errado com .
— Você está bem? — ele não me olha, continua a comer olhando para o chão. Quando desisto de esperar por uma resposta, ele resolve falar.
— Por que você ficou tanto tempo com um cara que nem parece te respeitar?
— Eu-
A pergunta me pega de surpresa, então resolvo responder de forma sincera.
— Não sei. Acho que fui me acomodando.
Mais uma vez o silêncio retorna, só que agora ele não incomoda, ele é bem-vindo.
Quando terminamos de comer e ajudo a juntar a bagunça e levar para a cozinha, me leva de volta para a sala e aponta para as escadas.
— Primeiro quarto à esquerda é o de hóspedes, você pode dormir lá. Tem uma escova de dentes nova embaixo da pia no banheiro do corredor.
— O que? — pergunto confusa. — Eu não vou dormir aqui.
— E vai dormir onde? No sofá da gravadora?
O sorriso esperto dele me mostra que ele decifrou meu plano. Não preciso nem pensar em minhas opções para saber que essa é a melhor.
— Vou deixar umas roupas em cima da cama para você caso queira tomar um banho também.
— Obrigada. — começo a subir as escadas mas paro no meio. — Obrigada por hoje, .
Quando me viro para olhá-lo, sua atenção já está concentrada em mim, e ele apenas acena com a cabeça. Dou meia volta e sigo suas instruções, fazendo tudo no piloto automático até que me deito na cama e viajo para o mundo dos sonhos.

Acordo cansada no dia seguinte, como se tivesse sido atropelada por um caminhão de mudança. Praticamente me rastejo escada abaixo e encontro sentado no sofá com uma xícara de café na mão e o celular em outra. Sua atenção se concentra em mim quando percebe minha presença.
— Bom dia. — o respondo com um aceno de mão e me sento ao seu lado. — Tem café na cozinha e torradas prontas.
Continuo sentada ao seu lado e percebo o exato momento em que a tela de seu celular acende com uma notificação e vejo uma foto minha em um Instagram de fofoca. Meu sono vai embora no mesmo momento. Pulo em cima de e arranco o celular de sua mão, encontrando uma sequência de fotos de ontem a noite: eu saindo do estúdio com , a gente entrando no carro dele, nós dois no carro, e a última somos nós dois chegando na casa dele. Por essa perspectiva dá para se tirar algumas conclusões.
— Puta merda. — esfrego minhas mãos sobre meu rosto. — Merda, merda, merda.
— Eu já entrei em contato com os donos dessa página e eles vão retirar a postagem.
— Ok, obrigada. — jogo o celular de volta para ele.
— Você ainda está surtando. — ele constata o óbvio.
— Claro, eu que vou ser chamada de interesseira. — respiro fundo. — Pouco me importo com o que falam da minha vida, mas isso aí pode atrapalhar minha carreira.
— Nada vai atrapalhar sua carreira, . — levanta e caminha até mim. — Vai dar tudo certo, calma.
Tento acreditar no que ele diz, mas não dá muito certo. Sigo as outras instruções que ele me dá: tomar café, pegar minhas coisas e, quando vejo, já estou na porta de minha casa.
— Acho que não tem ninguém aqui. — murmuro
Abro a porta com medo de encontrar Josh sentado no sofá, mas está tudo tão silencioso que daria para ouvir uma agulha caindo no chão. Entro devagar na sala com medo dele surgir de algum lugar, mas a casa está realmente vazia.
Ouço os passos de atrás de mim e saber que ele está aqui comigo é reconfortante. disse que veio apenas porque era mais fácil me trazer aqui para trocar de roupa e ir direto para o estúdio juntos do que ter que me levar lá para depois voltar. Até faz sentido, mas tenho certeza que foi apenas uma desculpa para não me deixar sozinha.
— Não vou demorar. — digo a ele quando começo a subir as escadas.
Abro a porta do meu quarto, mas dessa vez não encontro meu namorado transando com uma mulher aleatória na minha cama. Acho que vou queimar esse colchão. Atravesso o pequeno espaço até meu armário e pego uma calça jeans qualquer, sem me dar ao trabalho de trocar a camiseta que me emprestou.
Quando entro no banheiro, sou pega de surpresa ao ver que Josh deixou uma mensagem. “Vagabunda” ocupa toda a extensão do espelho, a palavra escrita com meu batom vermelho favorito. Provavelmente ele viu minhas fotos com . Olha que ironia, ele quem me chifra e eu que sou a vagabunda?
Não sei por quanto tempo fico parada encarando o espelho, mas parece que foram horas, já que surge atrás de mim com uma feição irritada, que fica ainda pior quando lê a mensagem de Josh.
— É sério isso?
— Eu meio que esperava algo assim dele. — dou de ombros e me segue quando saio do banheiro e desço as escadas.
Termino de arrumar minhas coisas e troco de sapato, deixando o de Mia separado para deixar no carro de .
A viagem até o estúdio é tomada por silêncio, e a primeira coisa que percebo são os olhares, alguns de curiosidade e outros de julgamento.
— O que está acontecendo?
— O que eu sabia que iria acontecer. — sussurro, já me arrependendo de ter aberto os olhos hoje.
A segunda coisa que percebo são os cochichos. Odeio fofoca e detesto que meu nome já esteja rodando na boca dos outros. Estalo meus dedos com raiva, me controlando para não dar uma resposta mal educada aos outros funcionários da gravadora.
— Relaxa. — aperta meu ombro, tentando me reconfortar, e continuamos andando juntos até o elevador.
Minha esperança de tentar não chamar mais atenção morre quando Josh sai do elevador com uma mulher em seus braços. Uma ruiva. A mesma que vi ontem na minha cama. Josh sorri maliciosamente, e eu sei que vai jogar algum veneno na minha direção.
— Bom dia, . Dormiu bem essa noite?
Não respondo, apenas continuo a encará-lo, já sentindo meu corpo tenso.
— Eu dormi muito bem, obrigada por perguntar. — ele aperta mais a ruiva contra si, que também sorri. Josh não demonstra nenhum remorso e isso me decepciona, mesmo depois da mensagem carinhosa dele no espelho.
As pessoas nos encaram disfarçadamente. Tento passar por Josh para entrar no elevador, mas ele bloqueia minha passagem. Tento passar de novo, e dessa vez ele estende o braço para me segurar. Dou um passo para trás e esbarro em , que segura no meu quadril para me estabilizar. O olhar de Josh demora ao observar o ínfimo contato que tenho com , mas não afasto sua mão do meu corpo, preciso de algum tipo de suporte nesse momento.
— A fila andou rápido, né?
— Digo o mesmo para você. — levanto o queixo em direção à ruiva. Josh ri com desdém.
— Então você sabe responder. — ele passa a mão livre pela barba rala. — Sabe, eu me pergunto se você não estava fodendo com enquanto estávamos juntos.
— Cuidado. — a resposta de é rápida. — Já disse ontem, se continuar assim vai ficar sem essa língua.
— Não sou como você. — minha voz se eleva com raiva e os fofoqueiros de plantão ficam mais atentos. — Agora, licença que eu quero passar.
Tento passar pela terceira vez, e Josh chega tão perto do meu rosto que consigo ver cada um de seus poros. aperta minha cintura com um pouco mais de força e me afasta de Josh.
— Licença. — falo entre dentes.
— Toda. — ele sorri como um maníaco e se afasta aos poucos, abrindo passagem até o elevador.
Seguro a língua para não o mandar à merda e jogar mais lenha na fogueira. me solta quando aperto o botão do meu andar e respiro fundo quando ficamos sozinhos.
— Como você conseguiu namorar esse babaca?
— Não sei. — respondo sincera.
— Você está bem? — ele volta a se aproximar e apoia uma das mãos nas minhas costas.
— Ótima. — ajeito a postura e respiro fundo.
Saio do elevador sem olhar para trás, mas sei que está atrás de mim.
— Não preciso de babá.
— Que bom, porque eu não sou sua babá.
— Então porque está me seguindo? — paro no meio do corredor e giro sobre o calcanhar para encará-lo.
— Eu tenho gravação na sua cabine, . — Ah. Eu tinha esquecido isso. E pelo sorriso dele, sei que notou que eu tinha esquecido.
— Você me cansa, .

Durante meu almoço, que consiste em um sanduíche triste de peito de peru e maionese, acabo vendo um tweet de uma entrevista desta manhã de Josh para uma rádio falando sobre seu novo relacionamento e como ele está feliz. O idiota ainda respondeu que dessa vez a namorada não trabalha no ramo musical, então ele não vai servir como um degrau na escalada social de alguém. Qualquer pessoa que acompanha a vida de Josh ou entende o básico de fofocas da música americana, sabe que ele está falando de mim.
— A ousadia desse filho da puta… — jogo meu sanduíche na mesa da copa e me levanto puta da vida, decidida a descer o cacete em Josh.
No meio do caminho entre os corredores da gravadora, minha mente pula de um pensamento a outro, tentando encontrar a melhor forma de dar o troco na mesma moeda, e então eu tenho a melhor ideia possível.
Refaço meu caminho e ando decidida até o estúdio em que está gravando. O encontro sozinho na cabine de som e não bato antes de entrar.
— Você. — chamo sua atenção, que não parece nada surpreso em me ver. — Tenho uma proposta. Quero escrever uma música para você.
— Você quer o quê? — soa surpreso e cético ao mesmo tempo.
— Quero escrever uma música para você. — repito. Já trabalhamos juntos, é tão inacreditável assim que eu queira compor para ele de novo?
— Por que?
— Porque eu acho que podemos fazer sucesso juntos. — falo tudo devagar, tal qual estivesse conversando com uma criança.— Em trabalhos anteriores sempre deu certo.
— Eu sei. — ele cruza os braços e inspeciona meu rosto. — Isso não é sobre trabalho, tem algo a mais nisso.
É tão fácil assim me decifrar? Deus, preciso aprender a ser mais misteriosa. De qualquer forma, está certo, isso não é sobre trabalho, é sobre vingança. Uma vingança mesquinha? Com certeza, mas quem se importa com isso?
Eu pensei certo, a melhor forma de dar o troco é ferindo Josh onde mais dói: sua carreira. Ele sempre detestou , apesar dos dois serem da mesma gravadora, mas sempre teve mais fama e prestígio; e agora que não estou mais com Josh, posso dizer que também tem mais talento.
Foram incontáveis vezes em que Josh me acusou de me esforçar mais nas músicas de , o que convenhamos, não faz sentido algum. Sempre dei o meu melhor em cada um de meus trabalhos, seja para Josh, ou qualquer outro artista com quem possa vir a produzir.
— Você viu a entrevista do Josh?
— Vi. — cruza os braços e sua expressão se fecha como um tempo nublado. — Ele é um babaca. E você é uma idiota por ter ficado com ele.
— É, eu já percebi, não preciso de mais um lembrete. — não deixo que ele se prolongue no quão estúpida eu fui. — Eu quero fazer a música do ano, eu quero ganhar o prêmio que ele tanto sonha, eu quero Josh humilhado. Eu quero que seu ego seja tão diminuído que só será visível com um microscópio.
Não há outra saída se não a sinceridade. Essa é a minha vontade, eu quero acabar com Josh, e essa é minha forma.
— Se você não quiser eu procuro outra pessoa.
— Eu aceito. — ele responde rápido.
— Mesmo? — ele concorda com a cabeça e respiro um pouco mais aliviada. Com certeza vai doer mais se fizer parte dos meus planos.
— Mas eu quero um favor em troca. — claro, estava demorando. Ele nunca faria nada de graça.
— Qual?
— Preciso que você seja minha namorada.
A gargalhada que salta de mim é tão espontânea que nem consigo segurar. Ele virou piadista agora? Seguro minha barriga com força, tentando aplacar a dor que sinto de tanto rir. Ai meu Deus, é possível sentir dor nos pulmões? Porque eu estou sem ar já.
Começo a diminuir o riso, ainda segurando a barriga, e limpo as lágrimas.
— Acabou? — permanece sério e de braços cruzados.
— Ai. — respiro fundo e solto um riso baixo. — Acabei. Fala sério agora.
— Eu estou falando sério.
, se não quer ajudar não ajuda, mas não tente me ridicularizar não. — agora estou puta da vida. Não vou ser motivo de piada.
. — suspira e segura meu braço, me impedindo de sair da sala. — Eu estou falando sério. Minha agente quer que passe uma imagem mais madura e séria. — ele esfrega a mão na nuca. — Ela ia fazer um contrato com uma modelo novata, mas, acredite se quiser, prefiro fazer esse contrato com você.
— Por que?
— Porque eu te conheço e sei que não vou precisar te pagar. — ele sorri de canto e o encaro sem expressão. — E porque também sei que você não vai me ferrar lá na frente.
Continuo quieta, o encarando sem expressão. Tento pensar um pouco sobre o que ele disse. Faz sentido, sempre saiu na mídia como pegador (se bem que vi poucas fotos dele saindo com pessoas em público). “Namorar” com em troca de humilhar Josh é um pequeno preço a se pagar.
— Quanto tempo?
— Podemos começar agora e terminar depois da época de premiações. — é, vale a pena.
— De acordo. — estendo a mão para ele, que a aperta.
— De acordo.
É isso, Josh mal sabe o que o espera. Eu preciso ferir o ego dele. E agora eu sei o jeito perfeito de derrubar esse merdinha.

[...]


Respiro fundo pela sexta vez e controlo a minha vontade de simplesmente socar a cara de .
Estamos sentados há horas nesse estúdio tentando compor alguma coisa juntos, mas tudo o que sugiro ele nega imediatamente. Já estou me arrependendo de ter feito esse acordo idiota.
— O baixo também tem que entrar no refrão, .
— Eu já entendi isso, , mas a letra ainda nem foi finalizada!
— E você já não tem o refrão? — ele pergunta igualmente irritado. — Escuta isso!
Ele se senta na frente do teclado e começa a marcar o tempo até começar a cantar.

I used to lie awake and let you occupy my mind
I used to put you first and always leave myself behind
And I'll admit you got real close, but I'll be sleeping fine tonight
Sorry, I don't mean to disappoint you
It didn't ruin my life


pode ser um pé no saco, mas que droga de voz bonita. E o pior? Eu sei que essa música vai ser fantástica, porque só de ouvi-lo cantar eu já fico arrepiada, só não decidi ainda se é de uma forma boa ou ruim.
Já tem três semanas que assumi meu “namoro” com , e, ao contrário do que eu imaginava, não está sendo um completo inferno. Claro, as fãs são um pouco… psicopatas, eu diria, mas meu namorado em si é suportável.
Decidimos algumas regras para esse namoro funcionar, e a primeira é óbvia: sem nenhum tipo de relação romântica. A segunda é que ninguém, com exceção da agente de (também conhecida como Mia, a irmã dele), pode saber que nosso relacionamento é falso. A número três é mais simples: parecermos apaixonados em público e demonstrar afeto.
E é isso. Desde então minha vida está se resumindo a trabalho, encontros esquisitos na gravadora com Josh e posar de namorada para . Pelo menos a música não está parada, tudo está caminhando conforme o pensado. Bom, exceto as brigas com .
— Vai me dizer que o baixo não encaixa? — ele está certo, é claro que ele está certo, mas me recuso a dar essa satisfação a ele.
— Podemos voltar para isso depois. — o sorriso dele me diz tudo. Filho da puta. — Eu tenho mais alguns rabiscos aqui, dá uma olhada.
pega o caderno de minha mão e vejo seus olhos examinarem as páginas. Nunca tive vergonha de mostrar nenhum dos meus trabalhos para ninguém, mas fico ansiosa com a avaliação que faz sobre minhas criações. Sempre o respeitei como profissional, até porque é um muito bom, mas acho que por passarmos esse tempo todo juntos e por ele ter acompanhado o drama do meu término desde o início, me deixou apreensiva e nervosa com seus comentários. Não que ele tivesse feito algum negativo, mas mesmo assim.
— Eu gosto dessa parte aqui como segunda estrofe.
apoia o caderno sobre as coxas e volta a tocar o teclado.

Why'd I let you in my head?
I never shoulda let you creep in
Every single word you said
Gotta find a way to shake it

— Tem uma parte que eu adicionei aqui, mas ainda fiquei em dúvida se encaixava ou não.
Ando até onde está sentado e me curvo sobre seu ombro, apontando para duas frases em um canto da folha. Pressiono os dedos dele sobre as teclas e canto a próxima parte.

You don't wanna let me be
You wanna see my fall to pieces


— Até que encaixa. — penso um pouco antes de virar o rosto na direção de . — O que acha?
parece tenso, sua postura está meio retesada, suas mãos, agora ambas segurando o caderno, parecem garras sobre o papel, e sua respiração está um pouco mais rápida.
— Você está bem?
— Aham. — eu sei que é mentira, ele sempre fala “aham” quando conta alguma mentira. — Estou ótimo.
É impressão minha ou ele está olhando para minha boca? Será que minha cara está suja e ele está se segurando para não rir?
Me afasto na mesma hora em que penso nisso e o ouço suspirar aliviado. Será que estou com hálito ruim? Meu Deus, essa humilhação não acaba nunca.
— Parece que Josh deixou uma maldição em mim e eu não consigo quebrar essa merda.
— É isso! — o observo de rabo de olho, com medo de me aproximar de novo e o deixar desconfortável mais uma vez.

Tryna put a curse on me
Gotta find a way to break it


Me deito no tapete no meio do estúdio enquanto o ouço encaixar as duas últimas frases e construir a primeira parte da música. Peço para ele cantar de novo, e de novo, e de novo, e de novo, e depois de novo. E faz sentido, a música está começando a tomar forma. Fecho os olhos e batuco com a mão no chão, marcando o ritmo e cantando em voz alta, tentando assentar a música e mudando algumas notas aqui e ali.
— O baixo tem que entrar mais pesado no refrão. — suspiro derrotada. — Você estava certo.
— Repete. — consigo ouvir o sorriso de quando ele fala.
— Você tinha razão, , você é um gênio da música. Satisfeito agora?
Abro os olhos e o encontro sorrindo, como já imaginava, mas segurando um celular com a câmera apontada em minha direção.
— Você está me filmando?
— Claro, eu preciso de provas concretas onde você assume que está errada e ainda ganho um bônus: um elogio super sincero.
, me dá esse celular. — fico de joelhos e estico a minha mão, mas ele só se afasta. — Droga, eu estou falando sério, para de me filmar!
— Só se pedir por favor. — quando fico em pé o desgraçado já está mais longe de mim. — Pede por favor que eu apago da câmera.
— Por favor. — apoio as mãos na cintura e o encaro. Ele abaixa o celular e mexe em algumas coisas na tela.
— Pronto. — ele guarda o celular na calça e me lança um olhar engraçado. — Vamos terminar logo aqui que eu quero comer.
Meu celular vibra e quando clico na notificação não acredito no que vejo.
— Você postou o vídeo?
— Claro, não ia perder esse momento único.
— Acho que podemos encerrar o trabalho de hoje por aqui mesmo. Pode ir, eu arrumo tudo. — suspiro fundo, coçando minha cabeça, completamente exausta.
— Não vou te deixar sair sozinha do estúdio a essa hora, .
— Eu já falei que não preciso de guarda-costas. — ele continua parado em um canto, me observando enquanto junto os cadernos e folhas de partituras.
— São duas da manhã. — ele diz como se isso fosse muita coisa, mas não discuto. Se ele quer ficar e fazer minha segurança, que faça, pelo menos tenho tempo para correr e deixá-lo para trás caso alguma coisa aconteça.
Quando a sala está organizada e tudo o que deixamos espalhado está sob meu braços, me viro para ir embora e esbarro em . Ele estava tão perto assim de mim antes?
— Espaço pessoal, por favor. — empurro seu peitoral de leve e me arrependo na mesma hora. Quem caralhos tem um peitoral tão musculoso assim? Esse homem toma bomba? Não é possível.
— Onde quer comer? — recua um pouco, mas ainda perto o suficiente para que eu sinta sua respiração em meu rosto.
— Quero ir para casa, só isso.
— Então a gente come na sua casa.
— A gente? — sufoco um riso. — Falei que eu quero ir para casa.
— E eu falei que estou com fome. — ele diz como se fosse o óbvio e chama o elevador para o nosso andar quando saímos do estúdio.
— Então come na sua casa, ué. — respondo no mesmo tom.
Descemos em silêncio até o estacionamento e me acompanha até o carro, como vem fazendo todas as vezes em que saímos tarde do estúdio (mesmo eu sempre dizendo que isso não é necessário). Estou a ponto de entrar no banco do motorista quando o vejo sentado no carona.
— O que você acha que está fazendo?
— Esperando você sentar sua bunda atrás do volante.
. — chamo.
— Não vou deixar minha namorada voltar sozinha para casa a essa hora.
Respiro fundo mais uma vez (foram tantas essa noite que já perdi a conta) e só me sento no banco do motorista. Retiro o que disse, namorar está sendo bem cansativo.
— Sushi? — ele pega o celular para abrir o aplicativo de comida.
— Pode ser. — respondo cansada. — Pede bastante-
— Molho shoyu. — ele completa minha frase e continua a mexer no celular.
— É. — não escondo minha surpresa. Como ele sabe disso? Eu sempre afogo o sushi no shoyu, acho que se o peixe ainda estivesse vivo ia morrer no meu prato. balanço a cabeça e afasto o pensamento.

O som da buzina soa pela terceira vez e minha vontade de esganar aumenta ainda mais. Corro pela minha cozinha e entorno o café dentro do meu copo térmico e saio porta afora ainda calçando meus tênis. está com os vidros abaixados e me olhando pela janela do carona.
— Precisa de alguma ajuda? — sinto meu olho tremer de raiva às oito da manhã.
— Se eu estivesse indo no meu carro, eu não ia precisar sair de casa que nem uma doida.
Bato a porta do carro e me abaixo para amarrar os cadarços, mas empurra meu corpo de volta e se inclina sobre mim para colocar meu cinto de segurança. Ele acena com a cabeça, satisfeito com seu ato, e arranca com o carro. Ainda confusa, volto a amarrar meus cadarços.
— Não sei porque você insiste em me buscar todo dia.
— Porque eu não deixaria minha namorada ir e voltar para o trabalho sozinha.
Desde a noite do sushi, que ainda me deixa surpresa por saber meus gostos, ele implementou uma nova regra: ele vai me buscar e me deixar em casa todo dia. Ainda fico irritada com isso, mas se ele quer tanto ser meu motorista particular, que seja. Pelo menos economizo na gasolina e não me estresso no trânsito.
— A última gravação acontece hoje de tarde. — ele me lembra. Concordo com um murmuro e abro o Twitter no celular para ver mais uma abobrinha de Josh.
— Mais um. “É engraçado ver como uma pessoa que te jurou amor está te dando uma facada no coração.”
— Dramático. — ri e eu o acompanho. Josh continua jogando farpas em minha direção, e agora virou tradição nossa rir do que ele posta nas redes sociais. — Hoje você grava a sua parte. Preparada?
Sinto um frio no meu estômago quando lembro disso. insistiu para que eu participasse da música, já que é uma composição majoritariamente minha. Faz um tempo que não entro em uma cabine de música para cantar e isso me deixa ansiosa, mas animada também.
— Preparada. — estalo os dedos e termino de beber meu café antes de sair do carro.
Espero ele sair também e entrelaçamos os dedos, andando junto em direção a gravadora. Agora ninguém nos olha mais, nos tornamos desinteressantes depois que nosso namoro deixou de ser novidade.
Dou bom dia à quem cruza nosso caminho e abro um sorriso largo para Josh, que também espera o elevador chegar.
— Bom dia. — cumprimenta meu ex e solta nossas mãos, me abraçando pelos ombros.
Josh não responde, apenas vira de costas e anda em direção à escada. Escondo meu rosto no peito de para poder rir sem parecer muito escrota, e sinto seus braços me envolverem melhor. Ele também ri e entramos no elevador. Quando as portas estão quase se fechando, uma loira entra correndo.
— Vocês iam mesmo me deixar de fora, né? — Mia briga com a gente e sorrio largo.
Quando me apresentou à sua irmã, soube na mesma hora que iríamos nos dar bem. Encontramos a pessoa perfeita para falar mal dele sem medo de julgamento das fãs.
Mia sorri de canto e arqueia as sobrancelhas.
— Estão bem à vontade nesse namoro, hein. — ela levanta o queixo em nossa direção e percebo que ainda estou abraçada com . Me solto na mesma hora dele e ignoro a sensação de vazio ao meu redor.
— Vai acompanhar o último dia de gravação? — mudo de assunto, mexendo no meu cabelo para tentar disfarçar.
— Vou. — ela responde com uma risadinha e de canto de olho vejo quieto, com uma expressão esquisita. — Quero ouvir minha cunhadinha cantar.
Ela dá ênfase em “cunhadinha” e sinto minhas bochechas esquentarem. Mia insiste nessa história de que e eu fazemos um casal bonito e que um dia ainda vamos namorar de verdade. Eu acho que ela só está me zoando, mas ela fala com tanta convicção que parece até verdade.
— Mia. — a repreende. Ele sempre fica desconfortável quando ela fala coisas do tipo.
— Encontro vocês mais tarde. — me despeço quando as portas se abrem e corro em direção a minha sala, sem ousar olhar para trás e conferir se os dois estão indo para o estúdio.

Passo a manhã inteira me preparando para entrar na cabine de gravação e ainda assim me sinto despreparada. Me distancio do microfone e respiro fundo mais uma vez. Eu sei que nunca é o primeiro take que usamos na versão final, mas já errei tantas vezes que me sinto até incompetente.
Olho pelo vidro e vejo os outros produtores com expressões normais, mas será que estão pensando que foi uma péssima ideia me colocar para cantar? Deus, estou tão nervosa que estou até começando a duvidar do meu talento.
descruza os braços e entra na cabine. Ele anda em minha direção e olha para a janela, fazendo sinal para que desliguem o som e não possam nos ouvir.
, corta essa, você sabe que é talentosa. — abro a boca para falar mas ele me impede e segura meu rosto com as duas mãos. — Não importa quantas vezes você já cantou, você viu quando eu tive que cantar pelo menos umas dez. Então para de neurose.
O encaro em silêncio, tentando entender porque suas palavras me tranquilizam tanto e me fazem voltar a ter mais confiança em mim mesma. Concordo com a cabeça e ele me puxa para perto, deixando um beijo em minha testa. Me sinto aquecida com seu ato, mas logo entendo porque ele fez isso, temos espectadores do outro lado.
Me distancio dele, envergonhada por ter sido observada. volta para o outro lado e me preparo para cantar de novo. Dessa vez vejo todos concordarem com a cabeça e me acalmo.
— Mais uma só para ter certeza. — um dos produtores diz pelo microfone e faço sinal de positivo. Ao seu lado, vejo sorrir com orgulho e não consigo evitar refletir seu gesto.

Agradeço à maquiadora quando ela termina de passar meu batom e me libera do camarim. Encontro Mia na porta, já me esperando, e a acompanho até onde o videoclipe está sendo gravado.
— Você está linda. vai se apaixonar. — ela brinca e me empurra com o ombro. Forço um sorriso para seu comentário.
A verdade é que me acostumei com a presença constante de . Quando vejo algo engraçado, meu primeiro pensamento é mandar para ele para rirmos juntos; quando algo estressante acontece, quero compartilhar com ele e só desabafar; quando alguma coisa legal acontece, quero que ele seja o primeiro a saber.
Às vezes fico muito confusa com alguns sinais que ele manda. Tem momentos em que acho que o estou incomodando e que ele pergunta sobre meu dia só por obrigação, mas quando dou respostas monossilábicas, ele tenta a todo custo me fazer falar mais sobre o assunto.
Teve uma certa vez em que estava falando sobre uma reunião que tive online com meus amigos do Brasil e quando mencionei o nome de um ex-namorado, sua expressão fechou de uma forma que até parei de falar. Quando falei com Mia sobre isso, ela apenas riu e falou que uma hora eu ia entender. Seja lá o que ela quis dizer, ainda não faz sentido algum.
Entramos juntas no estúdio onde o cenário para o videoclipe vai ser gravado e sorrio quando vejo tudo pronto como e decorado como imaginei. Eu e conversamos por horas, decidindo como faríamos o vídeo e chegamos ao consenso que seria uma “reprodução” da minha casa, mas claro, com diferenças significativas. Ainda temos a intenção de atingir Josh e fazer o público entender que a música é sobre ele. Humilhação pública, esse é meu objetivo, que também passou a ser o de .
— Ei. — olho para trás e encontro caminhando em nossa direção. — Você está linda.
— Eu disse. — Mia sorri e se afasta, deixando meu namorado com uma cara de interrogação.
— Deixa ela para lá. — o dispenso com a mão e olho ao redor. — Já gravaram alguma coisa?
— Só as partes em que eu apareço, ainda falta a nossa estrela. — ele sorri e reviro os olhos.
Outra coisa que decidimos seria que eu estrelaria o vídeo, interpretando a mulher traída e que agora quer vingança contra o ex-namorado. Irônico, não é?
— Ainda bem que fiz um curso de teatro quando estava na escola. — tento brincar para aplacar a ansiedade e sorri.
— Você vai se sair bem. — ele segura minha mão e me arrasta pelo estúdio. Cumprimento a todos envolvidos na produção e sigo as orientações da diretora quando me posiciona para gravarmos a primeira cena.

Ao fim do dia, quando quase todos já foram embora, encontro sentado na cama do cenário.
— Oi. — sorrio quando me aproximo dele. — Tudo bem?
— Aham. — mentira.
— Mesmo? — peço confirmação, mas ele faz que sim com a cabeça e decido não forçá-lo a falar algo que não queira. — Nosso plano está dando certo.
— É. — o sorriso dele vacila um pouco.
— Está tudo bem mesmo? — pergunto mais uma vez, só para ter certeza. começa a formular uma frase, mas muda de ideia e acena com a cabeça mais uma vez.
— Só estou cansado. — ele murmura.
— Quer tomar um sorvete? Estou com vontade de comer aquele de maçã verde. — sorrio e cutuco seu braço, tentando melhorar o clima. — Eu pago.
Reviro os olhos quando ele solta uma gargalhada e fica de pé, me puxando pela cintura em sua direção. Meu riso morre e prendo a respiração quando sinto seu corpo colado ao meu, me aprisionando entre seus braços..
Estamos tão próximos que consigo distinguir a combinação perfeita da cor de seus olhos, uma mistura de castanho claro com verde. Seu olhar nunca deixa o meu, e sinto que ele quer dizer algo mas não sabe como, parece que tem receio de alguma coisa. Abro a boca para falar qualquer coisa, e meu coração ganha velocidade quando vejo seus olhos fitarem meus lábios com desejo.
se aproxima mais, quase anulando uma das leis da física e por um segundo, por um mísero segundo, acho que ele vai me beijar.
— Tem duas pessoas atrás de você nos observando. — ele diz e olha por cima do meu ombro.
— Ah. — ajeito minha postura e dou um passo largo para trás, me afastando ao máximo dele. Sorrio amarelo e desvio o olhar para qualquer outro lugar que não seja ele. — Manter as aparência, né?
. — ele me chama, tentando segurar minha mão, mas a puxo e ajeito meu cabelo, tentando disfarçar que não quero que ele me toque, mas sem dar motivo para fofoca sobre nosso “namoro”.
— Podemos deixar o sorvete para outro dia? Estou cansada, acho melhor ir para casa. — ele apenas concorda e me viro para ir embora. Sorrio para as duas últimas produtoras, que nos observavam com curiosidade e fujo do estúdio.
e eu entramos em silêncio no carro e não trocamos uma única palavra até chegarmos na minha casa. Murmuro um tchau e saio tão rápido que nem reparo se ele me respondeu.
Durante o banho, não consigo conter o sentimento de frustração. Eu achei que ele ia me beijar, e eu me peguei desejando que ele me beijasse. Talvez seja porque era um homem lindo tão perto de mim e que finge ser meu namorado, ou talvez seja porque eu só estou solteira e carente e enxergando coisas que não existem. De qualquer forma, meu coração parece um pouco mais pesado quando deito a cabeça no travesseiro essa noite.

Eu odeio ir à festas com pessoas que não conheço, mas sei que é necessário. Desde que lançamos a música, e eu tivemos que ir em diversos eventos para divulgar nossa parceria. Mas eu não aguento mais ter que jogar conversa fora com pessoas desinteressantes.
segura minha cintura enquanto posamos para um fotógrafo. Quando o profissional diz que a foto ficou boa, me afasto dele como se ele tivesse alguma doença de pele.
— Foto linda, casal. — Mia surge ao nosso lado, sorridente como sempre. — Daqui a pouco são anunciados os selecionados ao Grammy. Certeza que vocês vão estar na lista.
Ela cruza os dedos e dá mais um dos sorrisos que só Mia sabe dar. Tento sorrir também, mas acho que não dá muito certo.
— Você está passando mal? — ela toca meu braço.
— Não, tudo bem. — sorrio de novo, agora de verdade. Ela acena com a cabeça e se despede para ir conversar com um engravatado.
— Champagne? — um garçom oferece e pega duas taças da bandeja, me entregando uma.
— Obrigada. — digo, agradecendo os dois ao mesmo tempo.
. — ouço a voz de . — Podemos conversar agora?
— Sobre? — me faço de desentendida e tomo um gole da minha bebida.
— Aquele dia no set do videoclipe. — eu sabia que ele iria tocar no assunto. Já tem pelo menos um mês que invento desculpas para fugir dessa conversa.
— Tudo bem, , é passado.
— Não! — ouço um certo desespero em sua voz e ele fica na minha frente, segurando meu braço. — Não é isso.
— Tudo certo, ok? — limpo a garganta. — Era para manter as aparências, eu entendo.
Ele não responde, apenas me encara por um longo período. Imagino que deve estar pensando em alguma desculpa para não me deixar mal, o que aprecio. Passamos tanto tempo juntos que acho que a implicância que ele tinha comigo morreu, acho que ele me enxerga como parceira de negócio, talvez como amiga. E tudo certo, eu que comecei a procurar coisas inexistentes para alimentar minha imaginação. Contrato, , isso é apenas um contrato, não coloque coisas na cabeça.
Pensar que daqui a um tempo tudo vai voltar ao normal me incomoda. Não sei se ele vai sentir minha falta, mas eu com certeza irei sentir a dele. Saber que não vamos mais ter essa dinâmica diária me deixa com uma sensação ruim, como se estivesse o perdendo. Mas como posso perder alguém que nunca tive?
— Já vão anunciar os ganhadores. — Mia surge ao nosso lado de novo e parece notar a tensão que nos envolve. — Querem ficar sozinhos?
— Sim.
— Não.
e eu respondemos ao mesmo tempo, e antes que Mia possa fugir, enrosco meu braço no seu e a mantenho ao meu lado. Não quero ficar sozinha com , não quero levar um fora, não quero ouvir nenhuma palavra de rejeição.
Ignoro o olhar dele e encaro o telão que já estava transmitindo outras nomeações. Observo o apresentador chamar a categoria de “Música do Ano” e começar a anunciar os indicados. Somos o terceiro nome a surgir. “Ruin My Life” está na lista. Uma música minha foi indicada ao Grammy. Eu fui indicada ao Grammy.
Mia está gritando e pulando do meu lado, todos aplaudem e comemoram com a gente.
— Parabéns, parabéns, parabéns! — Mia tenta me puxar para um abraço, mas a empurra de leve e se aproxima tão rápido de mim que quase não o vejo.
Seus lábios tocam os meus com um desespero e fome que até perco o equilíbrio. segura meu rosto com uma mão e me estabiliza com a outra, a mantendo firme em minha cintura. Meus pensamentos correm sem direção, disparando para todas as possibilidades possíveis.
Sinto começar a recuar, mas não o deixo, me inclino em sua direção e correspondo ao beijo, esquecendo o choque inicial e decido aproveitar o momento. Sei que esse beijo é encenação, que vai ser ótimo sair na imprensa dessa forma. Tento enfiar isso na cabeça, mas para mim parece real, e prefiro me segurar nessa fantasia por pelo menos alguns segundos.
escorrega uma mão para minha nuca e me prende em seus braços, como se agora quem fosse fugir sou eu; tento mostrar que não vou, abraço seu pescoço e o garanto que vou ficar aqui.
Ficamos nessa pequena bolha pelo o que parecem horas, mas tudo acaba quando Mia pirragueia e lembro onde estou, com diversas pessoas nos observando. Ainda consigo ouvir alguns aplausos e assovios.
Parto o beijo e quando abro os olhos, já me fita, sua respiração pesada e sua boca vermelha. Acho que devo estar mais ou menos da mesma forma e tento recompor minha estrutura.
— Parabéns. — limpo a garganta e forço um sorriso.
Ele não me responde, apenas me olha, e me olha, e me olha. Constrangida, me viro para abraçar Mia e comemorar com ela. Diversas pessoas surgem ao meu redor para me parabenizar e dou atenção a todas. Mesmo sentindo a presença de por perto, não me viro para saber se ele me olha ou se está falando com outras pessoas.
— Vou ao banheiro. — sussurro para Mia e saio de fininho, quase me escondendo das pessoas. Alguns reparam em minha presença mas sorrio e acelero o passo, deixando óbvio que não vou parar para conversar.
Finalmente chego no corredor do salão e empurro a porta que dá acesso à sacada. O vento joga meu cabelo para trás e me abraço com frio. Caminho até o parapeito e olho a rua lá embaixo, observando a movimentação dos carros. Nesse momento só queria ser um deles, não estar aqui, não ter esses sentimentos confusos, não sonhar com coisas impossíveis.
— Você está bem? — olho por cima do ombro para ver .
— Uhum. — murmuro e volto a apreciar a vista.
Ele para ao meu lado e coloca seu blazer sobre meus ombros.
Não puxo assunto com receio do que ele vai responder; não queria levar um fora antes, agora que não quero mesmo.
— Mais uma etapa e o plano acaba. — diz baixo. Não precisei nem abrir a boca para sentir o aperto em meu peito. Concordo com a cabeça, ainda em silêncio. — -
— Eu sei, não precisa falar nada. — o interrompo. Não quero ouvir, não quero ouvir nada.
— Não, -
. — me viro para ele. — É de mentira, não precisa se explicar. Isso aqui tem data de validade, eu já sei.
Seu rosto é quase indecifrável, mas consigo notar um pouco de dor, mas talvez eu tenha imaginado assim como fiz com todo o resto.
— Mais alguns meses e você se livra de mim. — tento fazer uma piada, aliviar o clima de merda que instalei.
— Não quero me livrar de você.
— Ainda vamos nos ver no estúdio. — dou de ombros. — Imagina sair na mídia que você ainda é amigo da sua ex?
Ele cerra o maxilar mas não me responde. Vai ver nem meu amigo ele quer ser. Tudo bem, podemos voltar para como era antes, as piadas, a implicância, a “inimizade”.
— Como você me achou aqui? — mudo de assunto, realmente confusa. — Você me seguiu?
— Não. — ele cruza os braços. — Você nunca usa o banheiro do salão, diz que é “um cultivo de bactérias”.
— Ah. — ele está certo, eu sempre falo isso. Vou sentir falta de alguém que me conheça assim. — Melhor voltarmos, então, ou vão achar que estamos nos pegando aqui fora.
— Que pensem.
— Não acho que seria legal para sua imagem, ou para a minha, rodar fofoca que fugimos da festa da gravadora para nos agarramos.
concorda com a cabeça e voltamos para o corredor que leva ao salão. Antes de chegarmos à festa, entrelaça nossos dedos e leva minha mão aos lábios, deixando um beijo em minha pele. Sem trocar uma palavra, voltamos para a multidão e somos recebidos com sorrisos e mais “parabéns”, perguntando se estamos felizes. Com certeza estou feliz, é meu maior sonho se tornando realidade. Só queria que outra coisa se tornasse realidade também.

[...]


Me jogo na cama e fecho os olhos, suspirando quando a maciez do colchão acomoda meu corpo. Quero um desses na minha casa, será que é muito caro? A cama afunda ao meu lado e fecho os olhos, tentando ignorar a presença de .
Quatro meses se passaram desde a festa da nomeação, desde o nosso beijo. Nada é o mesmo desde então. Não conversamos como antes, não brincamos como antes, não temos a intimidade que tínhamos como antes. Também não conversamos sobre, apenas ignoramos o que aconteceu, até porque não há nada para ser dito, ambos fizemos esse acordo sabendo que era apenas um trabalho. Nada mais.
Então porque meu coração se parte toda vez que lembro que amanhã é nosso último dia?
— Vou estender meu vestido. — murmuro, levantando da cama, praticamente correndo para longe dele.
Ainda não consigo acreditar que uma música minha foi indicada ao Grammy. E ainda por cima em uma das principais categorias. Sim, esse era o objetivo, mas ver esse sonho se realizando ainda é surreal.
Josh parece uma criança fazendo birra desde que lancei “Ruin My Life” com . O Twitter virou um inferno com a música e o vídeo; todo mundo observando cada easter egg e referência ao meu relacionamento com Josh. Acho que foi um dos dias mais divertidos da minha vida.
Quando fomos indicados, Josh simplesmente saiu da festa da gravadora, causando uma fofoca tão grande que ele ficou com vergonha e sumiu da mídia por um tempo, coisa que eu nunca tinha visto antes.
Puxo minha mala até o outro canto do quarto, desdobrando meu vestido com cuidado. Penduro em um dos cabides do armário e o deixo lá, seguindo as ordens de Mia, que já avisou que acordaremos cedo no dia seguinte para nos prepararmos para a premiação.
— Eu acho que vou dar uma volta pela cidade, conhecer algumas coisas. — ainda está deitado e apenas vira a cabeça em minha direção. — Quer vir?
Quero mesmo que ele venha comigo. Nunca estive em Las Vegas e acho que não vou voltar tão cedo, então quero aproveitar essa oportunidade. Quero passear pela cidade com , passar esses últimos dias com ele, apreciar sua companhia pela última vez.
— Vamos. Eu conheço uns lugares legais.
Ele se levanta e caminha até a porta. Pego minha bolsa e vou atrás dele. segura minha mão no corredor vazio e esperamos o elevador em silêncio. Olho para onde nossos dedos se conectam e meu peito se aperta.
Colocamos nossos óculos de sol e andamos pelo hotel, parando para falar com alguns fãs; uma pediu uma foto comigo, inclusive. Chegamos na rua e ele nos guia no meio da multidão. Pensei que ele iria pedir um carro ou um motorista para nos levar aonde ele queria, mas fico feliz em irmos a pé, me passa uma sensação de maior proximidade com a cidade, se é que isso faz sentido.
Caminhamos por alguns minutos, parando para olhar algumas vitrines ou entrar em lojas de souvenirs, mas não demoramos para chegar em um aquário gigante. paga nossas entradas e sou surpreendida pela vista linda. Um túnel de vidro recebe o público logo no início; um aquário enorme com tantos tipos de animais marinhos que é impossível de contar.
— Eu sabia que você ia gostar. — quando olho para , ele já me encara com satisfação. — Primeiro lugar que meio na cabeça foi esse.
— É lindo. — confirmo o que ele diz. — Parece coisa de filme.
me leva pelo aquário, parando várias vezes para observarmos os lindos peixes do outro lado do vidro. É encantador observá-los tão de perto assim.
Em uma certa parte do caminho ele desvia do percurso e me manda ficar quieta quando pergunto para onde estamos indo. empurra uma porta com uma placa de área restrita e continua seguindo tranquilamente. Só rezo para que ninguém nos encontre e chame a polícia, eu realmente não quero ser deportada. Quando estou quase pedindo para voltar, aponta para uma pequena entrada.
— Vamos ter que ir engatinhando, não é longe. — ele se ajoelha e entra pelo mini corredor. Como sou curiosa (e cagona de ficar sozinha ali), sigo atrás dele.
E tudo vale a pena quando me vejo no centro de um aquário, quase como uma clareira envolta de vidro. É ainda mais bonito do que o aquário na entrada. Me sento ao lado de e olho abismada para os animais.
— Obrigada. — agradeço, ainda olhando ao meu redor. — Obrigada mesmo por me trazer aqui.
me dá o mesmo sorriso de quando chegamos aqui e espelho seu gesto. Ele deita no chão e faço o mesmo, conseguindo observar tudo ainda melhor.
Não conversamos por um tempo, ficamos apenas aproveitando o calor um do outro no silêncio confortável.
— No Rio de Janeiro também tem um aquário assim. Fui lá uma vez, logo antes de me mudar para os Estados Unidos. — uma arraia nada por cima de nós. — Talvez vá de novo quando for pro Brasil.
— Você vai voltar para o Brasil? — ele vira a cabeça em minha direção tão rápido quanto um chicote. — Quando?
— Acho que vou pedir férias quando sairmos de Vegas. Tenho três meses vagos.
— Você não ia me falar? — ele parece… magoado? Porque diabos ele estaria magoado?
— A gente já vai ter “terminado”. — faço aspas com os dedos, o lembrando do acordo. O silêncio volta a reinar.
Ficamos deitados por um bom tempo até que um funcionário aparece e nos expulsa antes que ele chame a polícia. Acho que nunca corri tão rápido em minha vida.
Voltamos ao hotel uma hora depois e sou a primeira a correr para o banho.
Embaixo do chuveiro me permito já começar a sentir falta de . Esse último passeio parece que foi a forma dele dizer tchau, e, apesar de ficar triste com isso, também acho bonito, porque mostra que ele se preocupou comigo.
Abro a porta para encontrar sentado na ponta da cama, estalando os dedos de forma nervosa, mas para assim que me vê.
Ele não me dá tempo de raciocinar antes de diminuir o espaço entre nós e me beijar de uma forma muito mais voraz que antes. O beijo já começa quente, sua língua pedindo passagem entre meus lábios. Sua mão segura meu pescoço de forma possessiva, me mantendo no lugar, e seguro a barra de sua camisa com força, torcendo os dedos no tecido para tentar me manter sã.
— Desculpa, eu não-
Ele começa a falar, mas puxo sua boca de volta para a minha, sem querer ouvir suas desculpas.
As mãos de descem pelos meus ombros e deslizam até meu quadril, apertando minha pele e solto um murmúrio de aprovação. Sua pegada fica mais forte e sinto seu aperto em minha bunda agora. Arranho sua nuca e puxo seus cabelos de leve, e agora é ele quem geme. Sorrio contra seus lábios e enlaço minhas pernas em sua cintura quando o sinto pedir que eu dê impulso para cima.
Comigo presa em seu corpo, separa nossas bocas e encosta a testa na minha. Sua respiração está acelerada, e sei que estou do mesmo jeito. Quando nos acalmamos um pouco, ele segura meu rosto com uma das mãos e me encara de forma terna. Ele não precisa perguntar nada, mas eu respondo com um aceno de cabeça. Sim, eu quero, , eu quero tudo o que você puder me dar.
Nossas bocas voltam a se chocar, agora em um beijo mais lento e suave, com mais carinho envolvido. caminha devagar para a cama e me deita sobre o colchão, ficando por cima de mim, soltando seu peso de forma parcial. Abraço seus ombros, o trazendo para mais perto e simplesmente me permito sentir e aproveitar esse momento sem ficar pensando no depois. O que importa é o agora.
Lentamente, começa a distribuir beijos pela minha bochecha, pescoço e colo, chegando no decote do pijama. Ele me olha mais uma vez, pedindo permissão e eu a concedo. continua a distribuir beijos por meu corpo, descendo a blusa de meu pijama até expor meus seios. Seus dedos roçam de leve meus mamilos e os massageia, fazendo meu corpo se arrepiar com seu toque. Melhor do que essa sensação somente quando envolve sua língua ao redor de meu mamilo direito enquanto belisca de leve o esquerdo, me estimulando ao mesmo tempo.
O gemido que escapa de meus lábios é involuntário e arqueio as costas em direção à sua boca, tentando aumentar o contato. começa a se afastar e mordisca meu peito antes de voltar o caminho de beijos até minha boca.
Tateio sua barriga buscando a barra de sua camiseta e começo a puxá-la para cima, passando por sua cabeça e jogando a roupa em algum canto do quarto. faz o mesmo com a parte de cima de meu pijama e nossas bocas voltam a se encontrar em puro frenesi.
Meu quadril se movimenta em direção ao seu e consigo sentir o quão duro ele está por cima da calça jeans, e não resisto a tentação de descer a mão por seu abdômen e o segurar por cima do tecido. morde meu lábio e solta o ar de forma pesada, jogando seu corpo em direção ao meu toque e sorrio satisfeita.
O empurro para a cama e troco nossas posições, agora ficando por cima. Passo a mão por seu cabelo e enrosco meus dedos entre seus fios antes de puxar sua cabeça em minha direção. Isso me excita mais do que eu imaginava: o desejo e a luxúria no olhar dele; apenas esse olhar deixa minha calcinha encharcada. Me movimento por cima dele, roçando minha intimidade contra a sua e ambos gememos no mesmo momento.
— Porra, . — suspira contra meus lábios e parece que vou derreter.
— Amo quando você me chama assim. — confesso e o beijo novamente.
espalma as mãos em minha bunda, apertando com vontade e roço com mais fervor. Ele parece começar a ficar impaciente e puxa meu shorts para baixo, me forçando a ficar de pé sobre ele para tirar a roupa.
— Porra. — ele repete, me olhando completamente nua. — Você ia dormir sem calcinha?
— Eu ia dormir sem roupa, só coloquei o pijama para passar por você.
A resposta dele é forçar meu corpo para baixo.
— Senta na minha cara. — ele ordena e eu obedeço sem nem pestanejar.
Ele não vai direto ao lugar em que mais preciso de seu toque. distribui beijos por minhas coxas internas, arranha a minha pele com os dentes, deixa chupões ao redor de minha buceta, até que finalmente encosta os lábios no meu clitóris. Jogo a cabeça para trás, enevoada com o prazer quando começa a mover a língua em toda minha extensão e me chupa com uma vontade surpreendente.
Me movimento sobre sua língua, que se concentra no meu ponto mais sensível, mantendo a velocidade certa, me levando à loucura, me fazendo gritar de prazer e me arrebatando um orgasmo de tremer as pernas. continua me chupando, “limpando a bagunça” que me deixou e terminando com beijos em toda minha pele.
Levanto de cima dele, tentando controlar minha respiração e logo ele já está cobrindo meu corpo com o seu novamente, beijando minha boca com ternura, mas ainda com um toque erótico quando mistura meu gosto no beijo.
Quando me separo dele, tiro sua calça e a cueca junto. Me preparo para descer e retribuir o orgasmo que ele me deu, mas me segura, impedindo que eu faça algo a mais.
— Se eu sentir sua boca no meu pau eu não vou aguentar nem um minuto.
Engulo um sorriso e concordo com a cabeça, mas não deixo de masturbá-lo com as mãos, esfregando toda sua extensão em minha mão com movimentos de vai e vem. fecha os olhos e movimenta o corpo, aproveitando o carinho que ofereço.
— Eu quero que você me foda. — sussurro ao pé de seu ouvido e morisco seu lóbulo, passando o dedão sobre a cabeça de seu pau e causando um espasmo em seu corpo. Sorrio satisfeita.
busca a calça no chão ao lado da cama e tira a carteira, procurando por uma camisinha. Ele volta para mim já com a camisinha vestida, se tocando para manter a ereção.
Quando se encaixa em minha entrada e me penetra, ambos soltamos lamúrios de prazer, intoxicados pelo desejo. Devagar, ele começa a se movimentar, deixando que eu o acomode dentro de mim. Cruzo minhas pernas ao redor de seu tronco e o empurro, me penetrando mais fundo.
Fecho os olhos quando ele começa a estocar mais rápido, o choque de nossos corpo criando uma sinfonia de pura sensualidade.
se apoia sobre um braço e com a mão livre circula meu clitóris, me estimulando mais uma vez e me dando o máximo de prazer possível.
Meus gemidos são tão altos que acho que o hotel inteiro pode me ouvir. Mordo o lábio inferior para impedir que faça muito barulho.
— Não. Eu quero ouvir você gritar. — diminui a velocidade e passa a me foder mais fundo e com vontade. — Eu quero você me olhando enquanto goza, .
Ele volta a meter tão rápido, a me estimular tão deliciosamente que não aguento, me desmancho de prazer mais uma vez. E gozar enquanto observo entrar e sair dentro de mim é tão delicioso que empurro meu quadril de encontro ao seu, fazendo o necessário para que ele me alcance no êxtase em que me encontro.
xinga alto quando goza, se movimentando devagar até que finalmente saia de dentro de mim e no mesmo momento me sinto vazia. Ele me beija lenta e demoradamente, nossas línguas se entrelaçando em uma dança erótica.
Ele vai ao banheiro descartar a camisinha e se limpar, e aproveito para tirar o lençol da cama e me deitar embaixo dele. volta para o quarto e deita ao meu lado, puxando meu corpo para que eu deite em seu peito.
Abraço seu tronco e deito minha cabeça na altura de seu coração, ouvindo suas batidas ritmadas. Não quero pensar sobre o que acabamos de fazer, não quero ouvir que foi um erro, não quero perdê-lo para sempre. Mas eu preciso falar.
— Quebramos a regra número um. — meu sussurro parece um grito no quarto silêncio.
Ouço nossa bolha estourar quando o corpo de retesa embaixo do meu.
— Não precisamos falar sobre isso. — ele volta a acariciar minhas costas.
Não quero que ele se sinta obrigado a dizer ou fazer algo que não quer só porque eu coloquei besteiras na minha cabeça fértil.
Dormimos abraçados e me sinto feliz, isso que importa.
Minha cama está vazia na outra ponta do quarto, e nunca me senti tão feliz em deixá-la intocada.

A manhã seguinte começa caótica. Meu quarto é tomado por tantas pessoas que parece que estou dando uma festa. Duas mulheres fazem minhas unhas, uma em cada mão; uma faz minha maquiagem; outra faz meu cabelo com a ajuda de uma assistente. E ainda tem Mia que supervisiona tudo com seu assistente; a stylist que arruma os detalhes finais do meu vestido e acessórios; um social media para criar conteúdo e um fotógrafo. Estou rodeada por uma multidão e ainda me sinto sozinha.
Acordei hoje sem na cama, o quarto silencioso. Pensei que ele talvez pudesse ter ido à academia do hotel, mas quando chequei o celular encontrei uma mensagem dele dizendo que estava em um quarto separado para poder se arrumar. Tentei não me sentir mal com isso, provavelmente sendo algo organizado por Mia, mas não pude evitar.
A noite passada foi especial para mim. Não sei se para também foi, mas espero que ele ao menos tenha saído satisfeito e que não tenha se arrependido. Por favor, que não tenha se arrependido.
Não acho que conseguiria voltar ao que éramos; se antes eu já achava difícil, quem dirá agora. Também não acho que conseguiria anular meus sentimentos quando contasse o que sinto por ele e fosse rejeitada. Talvez seja realmente melhor não termos contato algum.
E hoje é nosso último dia no acordo, logo depois da premiação já vou voltar para casa, e amanhã já peço minhas férias para visitar minha família no Brasil.
— Mia. — chamo sua atenção e aponto para uma parte mais tranquila do quarto. — Posso falar com você?
Caminhamos de braços dados até uma das grandes janelas e observo a linda vista do meu quarto. Vou guardar boas lembranças dessa cidade.
— Tudo bem? Não me diga que vai vomitar. Ai, meu Deus. — ela vira para seu assistente. — Traga algum remédio para náusea. Vai!
— Mia, calma, eu não estou passando mal. — a tranquilizo, rindo de seu desespero. — Queria falar de outra coisa.
— Relacionado à única cama bagunçada nesse quarto? — ela arqueia as sobrancelhas sugestivamente e fico com vergonha.
— Sim. — coço o pescoço. — Queria saber se tem como trocar minha passagem de avião para hoje depois da premiação. Não quero ir para after nenhum, só quero ir para minha casa.
te falou alguma coisa? — nego com a cabeça e ela diz alguma coisa em italiano que não entendo. — Por que não quer pegar o voo amanhã com a gente?
— Amanhã quero ir na gravadora pedir minhas férias. Passar alguns meses no Brasil.
Ela concorda com a cabeça. Pensei que iria enfrentar um pouco mais de resistência, mas ela parece entender meu lado. Sorrio para minha futura ex-cunhada, que logo me leva para terminar de me arrumar. Vou sentir falta de Mia.

Os flashes me cegam, mas ainda sou capaz de distinguir a silhueta de ao meu lado. As fotos disparam com ainda mais velocidade quando meu bem-em-breve ex-namorado abraça minha cintura. Continuo posando para as fotos, torcendo para que meu sorriso não pareça forçado.
— Você está linda. — ele se inclina e sussurra em meu ouvido. Meu corpo se arrepia por completo mas tento não demonstrar.
Depois da mensagem desta manhã, não entramos mais em contato. Foi difícil não enviar algum meme para ele que vi no Twitter, mas é um começo para me acostumar .
— Obrigada. — agradeço em um sussurro.
Uma das produtoras do evento indica para seguirmos no tapete e nos leva para dentro do teatro onde vai ocorrer a cerimônia. O espaço é lindo e bem decorado, com tantas mesas que chega perco de vista. Somos levados para nossos lugares e puxa a cadeira para que eu me sente. Sorrio em agradecimento e me ajeito. Ele senta ao meu lado e entrelaça nossos dedos sob a mesa, escondido de todos. Um momento só nosso, a despedida. Ele também sabe que acabou, que isso é um tchau.
Durante a cerimônia ficamos quietos, apenas rindo de ocasionais piadas e aplaudindo os ganhadores. Me sinto ansiosa quando as categorias mais importantes se aproximam e não consigo parar de torcer os dedos nervosamente.
— Calma, . — segura minhas mãos. — Esse prêmio já é nosso.
Queria confiar em sua palavra, queria confiar em nosso trabalho, queria confiar em meu talento, mas os outros artistas são tão bons, tão incríveis, que não me surpreenderia se eles ganhassem.
— A próxima categoria é de Música do Ano. — o apresentador anuncia e lista os competidores.
Meu estômago dá voltas em looping e não sei como não vomito. Aperto a mão de com tanta força que talvez tenha quebrado um osso ou dois.
— “Ruin My Life” de com ! — os aplausos são ensurrecedores.
Fico estática por um momento, absorvendo a informação de que sou ganhadora de um Grammy. me puxa para um beijo e me abraça com força, sussurrando “parabéns” e “sabia que você ia ganhar”. Acordo do meu transe e também o parabenizo.
Subimos de mãos dadas no palco e recebo o prêmio. Sinto seu peso e esboço o sorriso mais largo de minha vida, tão grande que mal cabe em meu rosto. entrega o microfone para mim, me dando a fala para discursar. Eu nem preparei nada porque não queria me decepcionar caso não ganhasse.
— Oi. — digo tímida e ainda desacreditada. — Eu queria agradecer muita gente, mas se for listar todo mundo vou ficar a noite toda aqui. — algumas pessoas riem e me sinto um pouco mais confiante. — Agradeço à pessoa que me inspirou a escrever essa música, você sabe quem é.
Ouço uma gargalhada do público e rio também. De canto de olho também vejo sorrir.
— Mia, minha amiga, obrigada por organizar tudo, você é incrível. — aponto para minha mesa e a vejo soprar um beijo para mim. — E o principal: obrigada, meu amor, por entrar nessa comigo.
Me viro para , que sorri de leve.
— Obrigada por me ajudar a produzir essa música, obrigada por cantar essa letra, obrigada por tudo. Nada disso iria acontecer sem você. — sorrio sincera e seguro o choro. — Acho que você não faz ideia da importância que tem para mim.
Ouço alguns suspiros mas não me viro para checar. Esse momento é meu e de , e de mais ninguém.
Não acho que ele realmente saiba o quanto valorizo, e talvez nunca saiba mesmo.
— Obrigada. — sinto uma lágrima escapar. — Eu te-
Interrompo minha fala antes que diga mais alguma coisa. Desvio o olhar de e entrego o microfone para o apresentador.
Logo somos dispensados do palco e seguimos por um corredor do backstage. Durante a checagem do prêmio, acabo me perdendo de , o que para mim é melhor. Peço para um dos funcionários do evento chamar o motorista que me trouxe e me levar de volta para meu hotel.
Covarde? Sim, mas não aguentaria me despedir de Mia e .
Na viagem de carro até o hotel me sinto ridícula por chorar e quase me declarar em público assim. Provavelmente seria lindo para a imagem de , mas não acho que aguentaria ver uma notícia minha dizendo “eu te amo” e horas depois ver outra anunciando nosso término.
Entro em meu quarto, e tiro o vestido, jóias e sapatos, deixando tudo organizado em um canto. Visto minhas roupas e coloco minha bolsa no ombro, preparada para seguir com minha vida.
Abro a porta apenas para dar de cara com , ainda vestindo a roupa do evento. Ele me olha de cima a baixo e encara minha mala.
— Você realmente ia embora? — ele pergunta, sua voz com tanta dor que é impossível ser fruto da minha imaginação.
— O contrato acabou. — respondo simplesmente, tentando mais uma vez controlar o choro. Não acho que importa, de qualquer jeito. Não parei de chorar desde que cheguei no quarto.
— Você-
Ele respira fundo e entra no quarto, fechando a porta atrás de si.
— Você acha mesmo que isso é só um contrato, ?
— A gente disse desde o início que-
— Não importa o que dissemos no início, o que importa é o que dizemos agora. — ele segura meu rosto entre suas mãos. — Você realmente não percebeu?
— O que eu não percebi?
— Que eu te amo? — suas palavras me acertam em cheio. Desvio do seu toque.
— Não preciso de pena, compaixão e muito menos de ironia, . — não adianta, as lágrimas transbordam dos meus olhos.
, pelo amor de Deus. — ele segura minhas mãos agora. — Eu estou falando sério. Eu nunca brincaria com seus sentimentos dessa forma.
O encaro sem saber como reagir. Ele parece sincero. Será que eu fui tão cega assim? Será que não inventei todos os sinais?
, eu te amo. — ele beija o dorso de minha mão direita. — Eu te amo desde quando você me odiava. — ele beija o dorso da minha outra mão. — Eu te amo desde que te vi pela primeira vez.
Ele volta a segurar meu rosto e deixa um beijo na minha testa.
— Você nunca percebeu? — ele pergunta, seus lábios tremem contra a minha pele. — O que você achou que foi ontem?
— Uma despedida. — decido ser sincera. — Nosso jeito de dizer adeus.
— Não. — ele volta a me olhar, desespero toma conta de seu rosto. — Eu não quero dizer adeus para você. Nunca.
Nos encaramos por alguns segundos até que me jogo em seus braços e envolvo seu tronco com força. retribui o abraço apertado e me comprime contra seu corpo.
— Eu também te amo. — digo. É bom falar em voz alta, externar esse sentimento que tomava conta de mim há um tempo. — Eu só não queria estragar essa relação que a gente tem.
— Você nunca vai estragar nada, . — sorrio contra seu peito. — Você faz o contrário disso. Você melhora a minha vida sempre que sorri para mim, sempre que me manda um meme ridículo, sempre que lembra de mim de alguma forma.
prende uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha e faz um carinho na minha bochecha.
— Você é a melhor parte de mim.
Finalmente me beija, selando nossas confissões do jeito certo, mantendo nossos segredos entre nós.
— É real? — pergunto. sorri contra minha boca.
— Sempre foi real. — ele diz antes de voltar a me beijar.
E assim acho meu lugar favorito do mundo: os braços do homem que amo.

Ainda não acredito que realmente alugou todo o espaço do aquário para comemorarmos nosso aniversário de namoro. Cinco anos juntos e ainda parece que estamos na fase lua de mel. Claro, temos algumas brigas ali e aqui, mas quem não tem, não é mesmo? Fora isso nosso relacionamento é perfeito, a comunicação é ótima, nossa amizade é mais forte que nunca, o sexo é maravilhoso, e nosso amor é implacável.
— Ok, agora fecha os olhos. — ele pede e reviro os olhos antes de aceitar o seu pedido. — Pode abrir.
A visão que tenho é linda. As luzes do corredor principal estão apagadas, somente o aquário enorme está iluminado, destacando a sombra de cada animal.
— Isso é lindo demais.
Me viro para compartilhar um sorriso com meu namorado, somente para vê-lo com um joelho no chão e segurando uma aliança.
— Sim! — grito e me jogo em cima dele, quase levando nós dois ao chão. — Sim sim, sim, sim!
— Você devia me deixar perguntar antes. — ele ri e eu concordo com a cabeça. — , eu te amo. Eu te amo tanto que nada nesse mundo é capaz de registrar. Você é o amor da minha vida e eu não sei o que faria sem ter você ao meu lado.
Sorrio entre algumas lágrimas e beijo seus lábios de leve, sussurrando um “eu te amo”.
— Você aceita casar comigo? — ele pergunta emocionado.
— Aceito, meu amor. — coloca o anel em meu dedo e deixa um beijo sobre a jóia.
— Você é a melhor coisa que já me aconteceu.
Nos beijamos apaixonadamente e me sinto feliz e completa.
E minha vida nunca fez tanto sentido.


Continua...



Nota da autora: Oieeee! Olha, confesso que escrever essa história foi uma montanha-russa, mas pelo menos foi uma bem divertida. Haha! Espero que vocês curtam o romance desses dois e que se identifiquem com um deles.
Beijo!

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