Capítulo Único
Depois de várias gerações terem passado pela cadeira da diretoria, o Grupo Ethos estava finalmente aceitando submissão de projetos e possíveis ideias dos funcionários para estampar as próximas passarelas e vitrines do país.
— Isso aí é golpe para roubar ideia fácil do proletariado sem precisar pagar a mais. — ouvia a colega mais próxima comentar após dar um gole do café aguado que buscou instantes atrás na copa.
— Não é muito animador ficar te ouvindo falar assim das coisas, sabendo que vou usar a oportunidade para mostrar meu portfólio aos chefões, Lana. — Tinha um olhar entediado.
— , você é inteligente o suficiente para saber que o que estou dizendo está certo.
— Não importa, se isso servir para eles me darem um aumento e uma promoção… — Deixou a frase no ar.
— Ih, então boa sorte! — Foi a última coisa que a outra disse antes de começar a se afastar gradativamente para o próprio lugar.
Dentro da empresa, quanto mais alto fosse o andar de sua mesa, mais influente sua posição era. Estar onde Alana e estavam era o mesmo que denunciar que elas eram o começo da cadeia alimentar: não tinham relevância demasiada, apesar de fazerem o trabalho que muitas vezes carregava os superiores nas costas. Apesar do mundo injusto onde viviam, a mulher tinha certeza de que tudo que precisava era apenas uma oportunidade, que, no momento que botasse os olhos nos seus modelos, a luz chegaria.
O homem era um dos chefões e era apaixonada por ele, mais precisamente pelo modo de trabalho dele. Tais sentimentos não eram como os das demais funcionárias que entravam e só depois caíam de interesse. Ela o conhecia desde os tempos da universidade, onde constantemente aparecia para dar palestras sobre empreendedorismo e mercado consumidor para o curso dela. Então, foi a partir dali que decidiu que seu futuro estaria no Ethos.
[...]
Os dias de expediente na empresa eram quase sempre bem previsíveis. sabia quando Alana, na mesa da frente, se levantaria para dar uma volta até o banheiro e retornaria com um copo fumegante de café extra forte coado; ou quando a moça do financeiro pararia no andar deles para buscar a relação de alguns pedidos aos fornecedores; e também ainda o horário que atravessaria o setor deles para checar se estava tudo nos eixos ou se alguém precisava de algum auxílio.
havia acordado cedo naquele dia, determinada a submeter algumas das suas melhores ideias do portfólio para ter a chance de ganhar uma campanha. Os materiais estavam todos bem organizados, separados por conceitos e estilos em pastas, tudo dentro de um pen-drive.
Ninguém em pleno século XXI ainda usava aquele treco, mas era o melhor, e único, plano dela. Antes de fazer a inscrição, aproveitaria o horário de vistoria de no setor para pedir por um olhar profissional de fora nos projetos autorais. Em casa, ela havia revisado as informações uma dezena de vezes e já não havia mais nada que gostaria de mudar. Entretanto, se o chefe dissesse que não estava bom, ela mudaria tudo.
admirava aquele homem mais que qualquer outro profissional debaixo da Ethos. Era a articulação, a maneira de vender as ideias… Aquele homem era o profissional que ela queria ser e estava aonde ela queria chegar, pena que as realidades ainda estivessem bem distantes.
Ela não sabia que fenômeno era aquele que se apossava do corpo dela toda vez que o diretor se aproximava. A mente pedia para que ela o chamasse logo, gritasse, mas só o que sentia era a garganta secar e os batimentos dispararem como um motor bem potente.
Qual é, ela havia planejado por longos minutos dentro do caminho do ônibus e ninguém, além dela, havia fugido do script.
“Reage. Chama ele. Agora. Chama. Chama. Chama.”, o interior piscava insistentemente e ela não conseguia. De repente, ele havia passado pela mesa dela e só o que soube fazer foi murchar. Ela não conseguiu outra vez.
Mais tarde, nesse mesmo dia, vestiu uma capa de coragem e marchou em direção à sala de . Justo quando resolveu ir, deparou-se com ele acompanhado de uma das colegas, dos andares sobre o dela, conversando muito contentes. Recuou no mesmo instante, pressionando o pequeno objeto que tinha nas mãos até os dedos ficarem esbranquiçados.
Não era raiva o que sentia. Aquele monstrinho sugando a luz e as esperanças dela soavam mais como ansiedade. De repente, não parecia mais tão essencial ter uma outra visão para os temas dela.
Era isso: ela só escreveria, dispararia o e-mail e aguardaria ser chamada. Ou não.
[...]
Todo mundo que fez a submissão para o banco de ideias da empresa recebeu um horário marcado com os executivos do grupo para defender as ideias e também mostrar um pouco do que eram e faziam no Ethos. Para o bem ou o mal, seria uma das últimas. A ordem estava acontecendo dos andares de cima para baixo, quase como um infeliz sistema de castas. Ela só esperava que eles não tivessem favoritos pré-estabelecidos antes de todos terem a oportunidade de mostrar.
— Ótimo. — Um dos executivos deu o sinal para que ela iniciasse a apresentação.
Os olhos ágeis de passearam pelo ambiente rapidamente e se depararam com apenas três pares de olhos curiosos sobre si. Mais da metade da mesa de reunião estava distraída com discussões fúteis e nada discretas.
— Você pode começar. — Recebeu um incentivo e fraco sorriso de .
No entanto, tudo que fez foi bater o pé dramaticamente.
— Prefiro aguardar até que os outros assuntos estejam resolvidos — alfinetou, encarando com desdém o grupo que mais parecia estar de enfeite na reunião.
A sala não demorou a ganhar um ar de constrangimento. Pessoas de cima não gostavam de serem confrontadas mesmo que estivessem erradas. estava incerta se a boca gigante havia acabado com as chances dela antes mesmo de terem começado.
Depois de finalizar, todos os diretores decidiram sair para uma pausa breve de poucos minutos antes de finalizarem as chamadas. ficou para arrumar o projetor e recolher todos os materiais que havia distribuído para deixar o ambiente pronto para os próximos colegas.
Em meio à arrumação, ela só conseguia pensar que talvez não fosse dessa vez, talvez nem a próxima, contudo não importava. Ela sempre iria tentar.
Até alcançá-lo.
— Isso aí é golpe para roubar ideia fácil do proletariado sem precisar pagar a mais. — ouvia a colega mais próxima comentar após dar um gole do café aguado que buscou instantes atrás na copa.
— Não é muito animador ficar te ouvindo falar assim das coisas, sabendo que vou usar a oportunidade para mostrar meu portfólio aos chefões, Lana. — Tinha um olhar entediado.
— , você é inteligente o suficiente para saber que o que estou dizendo está certo.
— Não importa, se isso servir para eles me darem um aumento e uma promoção… — Deixou a frase no ar.
— Ih, então boa sorte! — Foi a última coisa que a outra disse antes de começar a se afastar gradativamente para o próprio lugar.
Dentro da empresa, quanto mais alto fosse o andar de sua mesa, mais influente sua posição era. Estar onde Alana e estavam era o mesmo que denunciar que elas eram o começo da cadeia alimentar: não tinham relevância demasiada, apesar de fazerem o trabalho que muitas vezes carregava os superiores nas costas. Apesar do mundo injusto onde viviam, a mulher tinha certeza de que tudo que precisava era apenas uma oportunidade, que, no momento que botasse os olhos nos seus modelos, a luz chegaria.
O homem era um dos chefões e era apaixonada por ele, mais precisamente pelo modo de trabalho dele. Tais sentimentos não eram como os das demais funcionárias que entravam e só depois caíam de interesse. Ela o conhecia desde os tempos da universidade, onde constantemente aparecia para dar palestras sobre empreendedorismo e mercado consumidor para o curso dela. Então, foi a partir dali que decidiu que seu futuro estaria no Ethos.
Os dias de expediente na empresa eram quase sempre bem previsíveis. sabia quando Alana, na mesa da frente, se levantaria para dar uma volta até o banheiro e retornaria com um copo fumegante de café extra forte coado; ou quando a moça do financeiro pararia no andar deles para buscar a relação de alguns pedidos aos fornecedores; e também ainda o horário que atravessaria o setor deles para checar se estava tudo nos eixos ou se alguém precisava de algum auxílio.
havia acordado cedo naquele dia, determinada a submeter algumas das suas melhores ideias do portfólio para ter a chance de ganhar uma campanha. Os materiais estavam todos bem organizados, separados por conceitos e estilos em pastas, tudo dentro de um pen-drive.
Ninguém em pleno século XXI ainda usava aquele treco, mas era o melhor, e único, plano dela. Antes de fazer a inscrição, aproveitaria o horário de vistoria de no setor para pedir por um olhar profissional de fora nos projetos autorais. Em casa, ela havia revisado as informações uma dezena de vezes e já não havia mais nada que gostaria de mudar. Entretanto, se o chefe dissesse que não estava bom, ela mudaria tudo.
admirava aquele homem mais que qualquer outro profissional debaixo da Ethos. Era a articulação, a maneira de vender as ideias… Aquele homem era o profissional que ela queria ser e estava aonde ela queria chegar, pena que as realidades ainda estivessem bem distantes.
Ela não sabia que fenômeno era aquele que se apossava do corpo dela toda vez que o diretor se aproximava. A mente pedia para que ela o chamasse logo, gritasse, mas só o que sentia era a garganta secar e os batimentos dispararem como um motor bem potente.
Qual é, ela havia planejado por longos minutos dentro do caminho do ônibus e ninguém, além dela, havia fugido do script.
“Reage. Chama ele. Agora. Chama. Chama. Chama.”, o interior piscava insistentemente e ela não conseguia. De repente, ele havia passado pela mesa dela e só o que soube fazer foi murchar. Ela não conseguiu outra vez.
Mais tarde, nesse mesmo dia, vestiu uma capa de coragem e marchou em direção à sala de . Justo quando resolveu ir, deparou-se com ele acompanhado de uma das colegas, dos andares sobre o dela, conversando muito contentes. Recuou no mesmo instante, pressionando o pequeno objeto que tinha nas mãos até os dedos ficarem esbranquiçados.
Não era raiva o que sentia. Aquele monstrinho sugando a luz e as esperanças dela soavam mais como ansiedade. De repente, não parecia mais tão essencial ter uma outra visão para os temas dela.
Era isso: ela só escreveria, dispararia o e-mail e aguardaria ser chamada. Ou não.
Todo mundo que fez a submissão para o banco de ideias da empresa recebeu um horário marcado com os executivos do grupo para defender as ideias e também mostrar um pouco do que eram e faziam no Ethos. Para o bem ou o mal, seria uma das últimas. A ordem estava acontecendo dos andares de cima para baixo, quase como um infeliz sistema de castas. Ela só esperava que eles não tivessem favoritos pré-estabelecidos antes de todos terem a oportunidade de mostrar.
— Ótimo. — Um dos executivos deu o sinal para que ela iniciasse a apresentação.
Os olhos ágeis de passearam pelo ambiente rapidamente e se depararam com apenas três pares de olhos curiosos sobre si. Mais da metade da mesa de reunião estava distraída com discussões fúteis e nada discretas.
— Você pode começar. — Recebeu um incentivo e fraco sorriso de .
No entanto, tudo que fez foi bater o pé dramaticamente.
— Prefiro aguardar até que os outros assuntos estejam resolvidos — alfinetou, encarando com desdém o grupo que mais parecia estar de enfeite na reunião.
A sala não demorou a ganhar um ar de constrangimento. Pessoas de cima não gostavam de serem confrontadas mesmo que estivessem erradas. estava incerta se a boca gigante havia acabado com as chances dela antes mesmo de terem começado.
Depois de finalizar, todos os diretores decidiram sair para uma pausa breve de poucos minutos antes de finalizarem as chamadas. ficou para arrumar o projetor e recolher todos os materiais que havia distribuído para deixar o ambiente pronto para os próximos colegas.
Em meio à arrumação, ela só conseguia pensar que talvez não fosse dessa vez, talvez nem a próxima, contudo não importava. Ela sempre iria tentar.
Até alcançá-lo.
FIM
Nota da autora: Oie! Se você está lendo isso, muito obrigada por ter doado um tempo do seu dia até chegar aqui <3 Estou me sentindo bem estranha, porque nunca escrevi algo tão breve assim, mas foi o que saiu.
Não está nada bem aqui e é sobre isso também kkkkk
Bebam água e continuem se cuidando, por favor.
Beijos,
Hales
Nota da beta: A história encaixou perfeitamente com a letra em cada pedacinho! Mas me deixou super curiosa com esse final aberto hahahah parabéns!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Não está nada bem aqui e é sobre isso também kkkkk
Bebam água e continuem se cuidando, por favor.
Beijos,
Hales
Nota da beta: A história encaixou perfeitamente com a letra em cada pedacinho! Mas me deixou super curiosa com esse final aberto hahahah parabéns!
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