02. Sparks Fly

Última atualização: 10/02/2016

Prólogo

A tão influente família estava falindo. O pai de havia sido trapaceado pelo próprio irmão, lhe deixando diversas dívidas que lhe custou a perda de muitos bens e terras. E esta família que estava presente a várias gerações, perdia pouco a pouco o seu prestígio entre os habitantes de Pensford.
Fazer uma aliança com o Richards, família esta que pertencia à elite e era provinda de boas terras e renda, salvaria a família de das ruínas.
Já fazia algum tempo que Adelaide, a antiga e fiel governanta dos , estava no quarto ajudando a se aprontar para o baile que aconteceria naquela noite. Baile no qual seria apresentada a sociedade como a futura esposa de James Richards.


Capítulo 1

Adelaide, ou Ad, como a chamava carinhosamente, saiu do quarto me deixando em frente ao espelho. Naquela noite eu estava com um dos meus vestidos preferidos, da cor azul marinho de renda e com a parte do busto bordado com pequenas pedras de diamante. Fitei meu reflexo sabendo que minha aparência agradaria a todos. Pena que eles não podiam ver como eu me sentia por dentro. Eu estava indo conhecer meu futuro marido contra minha vontade e não havia nada que eu pudesse fazer para que mamãe mudasse de ideia. Era assustador ver o quão minha família era obcecada por poder e dinheiro.
Relutante, resolvi deixar o quarto e ir para o baile que já acontecia no andar de baixo. Um dos únicos bens de maior valor que ainda nos restava era nossa casa. E era grande o suficiente para que nosso salão principal estivesse repleto de burgueses e nobres vestidos elegantemente com aquele ar de superioridade. Fui descendo as escadas lentamente a princípio sem ser notada, até que , minha melhor amiga, viesse até mim e me abraçasse.

- Eu adoro quando você usa este vestido. – ela me mediu rapidamente - Está pronta para conhecer seu futuro marido?
- Você está linda também, e não estou preparada. Você sabe que nunca quis isso. - disse desanimada e agarrei seu braço para que pudéssemos andar juntas pelo salão.
- Eu sei que não, , e não fica assim. Nós duas sabemos que apesar de tudo isso estar sendo arranjado para sua família se reerguer, sua mãe não ia escolher qualquer um. - ela me disse afetuosamente.
- Eu sei que é minha família, mas não quero carregar essa obrigação nas costas - paramos de andar e soltei seu braço passando a mão pelo rosto frustrada – Ele veio? – perguntei a ansiosa enquanto olhava ao redor.
- Não o vi ainda, mas sei que a família já está aqui – ela disse também procurando por ele.
A família é composta pelo Sr. e Sra. e pelos filhos Katie e . É uma família de comerciantes e mesmo não tendo tanto prestígio aos olhos dos mais nobres, não os impedia de ser uma das melhores famílias da vila, e que jamais havia cometido algum deslize moral.
O baile seguiu conforme o planejado e fui apresentada a James Richards e sua família. James tinha 25 anos, o que não era surpresa, já que os homens só poderiam desposar alguém após completarem seus estudos. Em uma breve conversa, acabei descobrindo que ele se formara recentemente em medicina, seguindo assim a tradição dos homens de sua família. Grande coisa, pensei comigo. James era um belo rapaz, dono de cabelos e olhos claros, porém a atitude esnobe e fria que ele possuía me fez querer ficar longe o mais distante possível.
Após um breve discurso que papai fez anunciando o noivado aos convidados, estava a procura de quando senti uma mão tocar meu ombro e me virei. Era Sra. elegantemente vestida em um longo vestido vinho.

- Ah, , como você está linda! – ela me abraçou carinhosamente – Olhe, Robert, veja como ela está uma mulher – Anne disse radiante ao seu marido – Te desejo toda a felicidade do mundo, querida. Que você seja muito feliz ao lado de seu marido – e me abraçou novamente.
- Obrigada Sra. – a agradeci e num breve cumprimentar de cabeça ao Sr. , Robert e Anne se afastaram.
- Oi – ele me disse assim que seus pais se afastaram e o primeiro sorriso sincero da noite surgiu em meus lábios – Minha mãe tem razão, você está realmente linda. Parabéns pelo noivado – disse sincero e o olhei confusa – Apenas mantendo as aparências, eu te prometi que iríamos dar um jeito e nós vamos dar – ele sussurrou próximo ao meu ouvido antes de me dar um beijo no rosto e sair rapidamente.

FLASHBACK ON

Tínhamos passado a tarde entre terminar nosso projeto de literatura e entre beijos e amassos.
Quando nuvens grandes e cinzas começaram a se aproximar anunciando a tempestade que logo viria, resolvemos deixar nosso lugar secreto e voltar para casa. Já estávamos próximos de minha casa quando comentou sobre o próximo baile que minha família daria em menos de uma semana.
- Então sua mãe vai dar mais um baile, é? – ele falou rindo - O convite do baile chegou ontem à tarde em casa – ele disse despreocupado enquanto caminhávamos lentamente em direção ao jardim que havia nos fundos de casa.
- Já? Mamãe não perde tempo mesmo – disse enquanto chutava algumas pedrinhas do chão.
- O quê foi? – paramos e recebi um beijo carinhoso em meus cabelos.
- Nada, é só que.. – suspirei e o encarei – Eu preciso te contar uma coisa.
- Pode falar – ele disse e segurou meu rosto com as mãos – Estou te ouvindo.
- O baile tem um motivo especial dessa vez – falei desviando meus olhos daquelas duas esmeraldas que me encaravam.
- Qual motivo? – ele me soltou colocando a mão nos bolsos.
- O baile será para anunciar meu noivado – falei por fim.
- Noivado? Espera! – ele deu um passo para trás e me encarou furioso - Você está com outro quando não está comigo?
- Não! Claro que não! – me aproximei quando ele fez menção de se afastar mais - Por favor, me escuta. Deixa eu te explicar - supliquei e algumas gotas de chuva começaram a cair – Não sei como aconteceu, mas minha família está falindo, – vi seus olhos se arregalarem um pouco – Estamos perdendo tudo aos poucos, meu pai está ficando doente e minha mãe enlouquecida. Você sabe como ela é – disse aflita.
- E você vai aceitar assim? - ouvi ele me perguntar após eu terminar de contar a história.
- Mas o que eu posso fazer, ? Você sabe como as coisas são! Eu implorei a mamãe, disse que poderíamos arranjar outro jeito, mas nada vai lhe fazer mudar de ideia – e quando a chuva começou a cair se misturando com as lágrimas que escorriam em meus olhos, senti dois braços me abraçando.
- Nós vamos dar um jeito, eu te prometo – e aquele par de olhos verdes foi a última coisa que vi antes de ser tomada por um beijo.


FLASHBACK OFF

e eu nos conhecemos quando estávamos no último ano do colégio e acabamos sendo dupla em um projeto de literatura. Eu havia gostado dele logo de cara. , assim como sua família, era um ótimo garoto, era inteligente, engraçado e dono de um par de olhos verdes hipnotizantes e de um sorriso encantador que me deixava de pernas bambas.
Num certo dia, entre uma aula e outra acabei encontrando no meio de um livro um pequeno bilhete anônimo cuja pessoa me pedia para esperá-lo próximo a uma grande árvore que havia ao lado do colégio. Eu não fazia a menor ideia de quem era o dono do bilhete, mas discretamente fui até a árvore mencionada. Não era muito distante dos portões do colégio, então caso algo estranho acontecesse, eu poderia sair correndo e gritar por ajuda. Chegando próximo a árvore procurei ao redor o dono do bilhete e me assustei quando ouvir alguém me perguntar:

FLASHBACK ON

- Está procurando alguém? – olhei em direção a voz e encontrei sorrindo.
- Hã... não, eu não – disse rapidamente e o vi prender o riso – E você, o quê faz aqui? – perguntei com uma sobrancelha erguida.
- Ao contrário de você, eu estava esperando por alguém – e antes que eu pudesse comentar qualquer coisa, o que ele falou em seguida me fez parar no lugar – Eu deixei um bilhete com essa pessoa. Só que não assinei. – ele sorriu e um friozinho tomou conta da minha barriga.
- Sério? - perguntei enquanto começamos a caminhar - Mas será que ela vem? Se você não assinou como ela vai saber que é você? – o olhei de relance e ele ainda estava sorrindo. Sorri também.
- Eu andei a observando e ela é bem curiosa. Aposto que ela ficou o tempo inteiro tentando descobrir o dono do papel. Então acho que ela vem sim. - ele disse despreocupadamente como se tivesse dito as horas e não que me observava. Que me observava!
- Você me observa? - perguntei surpresa demais e paramos de andar.
- Sim. Foi assim que descobri o quanto você é curiosa. Sempre querendo saber o porquê, quando, quem e onde. Descobri o quão inteligente você é, não que eu achasse que não fosse - ele disse e nós rimos – Descobri que você não consegue ler um livro sem fazer caras e bocas - E.. - ele fez um sinal de mais uma coisa com o indicador - o quanto me observa também - corei violentamente - E por isso queria saber se tem algo de errado comigo, porque não é possível alguém me observar tanto se não tivesse nada de estranho na minha cara. - ele riu e eu tinha certeza que todo o sangue do meu corpo foi parar no rosto. Eu ri nervosa sem acreditar nas coisas que havia acabado de dizer. Eu estava surpresa demais para falar qualquer coisa e percebendo isso, continuou.
- Então, eu queria te perguntar se você está livre hoje para podermos começar nosso projeto e quem sabe, me dizer o que há de errado comigo.
- Agora? - perguntei quando minha voz resolveu dar as caras - Não sei se é possível, . Acho que minha mãe está me esperando para acompanhá-la nas compras.
- Prometo que não vamos tomar muito tempo. E também não é muito longe de nossas casas. - ele me olhou com uma carinha extremante fofa e um meio sorriso, que me fez saber que estaria perdida dali em diante.

me levou ao que ele o chamava de lugar secreto. Era um campo-jardim que pertencia à família Harrison, mas como era um pouco afastado da casa, dificilmente alguém aparecia por ali. Enquanto caminhávamos, me contava que havia encontrado aquele lugar quando ajudava seu pai a levar algumas mercadorias para um cliente de outra vila. O chão era coberto por uma grama bem verdinha e ali havia algumas árvores que faziam vastas e refrescantes sombras. Havia também um riacho próximo de onde estávamos e se caminhássemos um pouco mais, chegaríamos a estradinha que interligava as vilas. Era um lugar totalmente calmo, escutava-se apenas o balançar das folhas que se mexiam conforme o passar do vento e nossas vozes contidas. Sentamos lado a lado nos encostando-se a uma das árvores e despreocupadamente conversamos sobre tudo e sobre nada. Ríamos a cada piada feita e tomávamos alguns minutos de um silêncio gostoso onde se podiam ouvir apenas duas respirações entrecortadas. Depois de muita relutância decidimos ir embora. se levantou e me estendeu sua mão para ajudar a me levantar.

- Obrigada. Eu adorei o dia de hoje - falei sincera encarando-o. Ele sorriu e se aproximou colocando uma mecha de cabelo para trás de minha orelha e me beijou. Nosso primeiro beijo foi calmo, sem pressa, estávamos nos descobrindo. O caminho de volta foi silencioso, porém ali havia uma promessa não dita em voz alta que aquele lugar logo seria visitado novamente e passaria a se tornar o nosso lugar secreto.


FLASHBACK OFF


Após o ano escolar ter acabado, passou a ser a intermediária entre meus encontros com . A família era dona de uma grande loja de especiarias e condimentos que ficava no centro da vila, nosso comércio local. Como nossas famílias sempre foram muito próximas, e eu éramos amigas desde pequenas e tínhamos total intimidade, tanto que mamãe não se importava se às vezes eu fosse passar o dia com na loja. E por coincidência ou não, era sempre nos dias eu ia ajudá-la que ele aparecia. não era totalmente a favor do nosso relacionamento totalmente proibido, sabíamos que ela estaria bem mais encrencada do que eu se alguém descobrisse, mas como melhor amiga, ela parecia enxergar o quanto eu ficava feliz quando estava com .


Capítulo 2

Naquela tarde mamãe me acompanhara até o centro, onde me deixaria na loja dos antes de resolver alguns assuntos relacionados ao casamento. Um noivado durava em média de um a três meses, o meu já estava se aproximando dos dois meses, mas ainda não tínhamos uma data marcada. O que eu agradecia; por um lado porque ainda não tinha ideia de como acabar com aquilo, mas por outro lado, estava receosa. Papai havia pegado uma forte gripe e estava de cama há oito dias e por este motivo provavelmente iríamos acabar estendendo o noivado. Talvez fosse por esse motivo que as pessoas naquele dia passavam por mim e mamãe nos olhando estreito e cochichavam sobre nós.
Fui recebida com um abraço rápido pela Sra. que saía da loja, o que estranhei, ela sempre ficava feliz quando me via e me envolvia em abraços calorosos. Segui para os fundos para me encontrar com e a forma como fui recebida também não havia sido das melhores.
- Está tudo bem? – eu perguntei enquanto ela passava as mãos pelo vestido antes de sair para ficar no lugar de sua mãe.
- Sim, está – ela me disse num tom baixo sem me encarar – já chegou, está te esperando no mesmo lugar de sempre – a vi suspirar - Posso te perguntar uma coisa? – ela finalmente me olhou e logo continuou quando afirmei com a cabeça – Por que você não aceita logo esse noivado, ? Quer dizer, parar de se encontrar com e aceitar o James como seu futuro marido. Você não tem medo de ser descoberta? Do que possa acontecer se alguém descobrir que você tem um relacionamento secreto com outra pessoa?
- Por que você está falando isso? , eu amo o . Eu não consigo e não quero me afastar dele. E é até encontrarmos uma solução, algum jeito de fazer mamãe mudar de ideia e desistir desse casamento.
- Nunca passou pela sua cabeça que talvez você possa se apaixonar pelo seu noivo? – ela me fitou e eu achei que tinha entendido onde ela queria chegar.
- Você não quer mais me ajudar, é isso? Eu sei que parece loucura, mas o quê sinto por ele é real, . E só Deus sabe o quanto eu sinto medo de ser pega! Medo por mim e por você, eu sei das consequências. Mas eu te prometo, amiga – eu peguei em suas mãos e a encarei - eu vou dar um jeito nisso.
- Tudo bem. – grunhiu – Vai, já deve ter gente me esperando lá fora – ela virou-se em direção a saída mas se deteve quando a chamei.
- Obrigada, de verdade. – e a abracei antes de deixá-la ir.

Saí pela porta dos fundos e logo fui de encontro a , que me esperava em um dos pequenos becos que separavam as lojas do comércio. Eram becos estreitos, que para mim, passavam despercebidos aos olhos das pessoas. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, me puxou ao seu encontro me tomando para um beijo rápido.

- Achei que fosse ter que esperar mais por isso – ele disse baixinho tirando uma mecha de cabelo que caía em meu rosto.
- Me desculpe, e eu tivemos uma conversa estranha, por isso demorei – quando vi suas feições mudarem para preocupação logo tratei de acalmá-lo – Não é nada que precise se preocupar, já está tudo resolvido – assegurei e vi aquele sorriso que me deixava de pernas bambas aparecer em seu rosto.
- Então vamos, há algo esperando por nós – ele entrelaçou nossas mãos e antes que pudesse fazer qualquer comentário o ouvi dizer: - É surpresa.

Chegamos ao nosso lugar secreto com me tampando os olhos, o que me impedia de enxergar qualquer coisa.

- Surpresa! – ele exclamou tirando suas mãos de meu rosto e ao ver o que era, um largo sorriso surgiu em meu rosto.
- Um piquenique!? Uau, , obrigada. – eu disse sincera enquanto me sentava acompanhada de . Um silêncio gostoso tomou o lugar enquanto comíamos, tornando possível escutar apenas o chacoalhar das folhas enquanto uma leve brisa passava por nós. encostou-se na árvore próxima de nós e me fitou com uma expressão séria.
- Fiquei sabendo do seu pai. Espero que ele possa se recuperar logo.
- Obrigada – falei enquanto me aproximava e sentava entre suas pernas encostando minhas costas em seu peito largo – Eu também espero, me mata vê-lo naquela cama – suspirei e encostei minha cabeça entre o vão do seu pescoço. Ficamos assim por um tempo até que o cortasse o silêncio e me deixasse em estado de alerta com o que disse.
- Você acha que a seria capaz de contar sobre nós para alguém? – eu me sentei ereta e o olhei sobre o ombro.
- Q-quê? Claro que não. Por que está me perguntando isso? – e senti um dejávu ao lhe fazer aquela pergunta. Rapidamente me lembrei da conversa com antes de me encontrar com . – Espera, hoje a me perguntou algo muito parecido. Vocês estão sabendo de alguma coisa que eu não estou sabendo? – me virei de frente à ele e vi algo em sua expressão que não pude identificar.
- Não! – ele disse rápido e apreensivo demais e o encarei questionadora – Foi apenas uma curiosidade. Só isso.
- , é minha melhor amiga desde sempre. Ela nunca faria isso – respondi um pouco ríspida e logo entrelaçou nossas mãos se desculpando.
- Desculpa, , eu não quiser disso. Por favor, esqueça isto – ele suspirou e olhou fixamente para algo atrás de mim – Que tal se entrássemos no riacho?
- Quê!? – perguntei acompanhando seu olhar. já estava de pé e me puxava para cima – , não. Eu na..
- O quê? – ele me interrompeu – Não há ninguém aqui que possa nos ver, vem – ele saiu me puxando – E não é como se o tempo não pedisse por isso, uh? – ele parou quando estávamos próximos a beira do riacho e me olhou.
Olhei para cima e vi que tinha razão. O céu estava completamente azul e não havia nenhuma nuvem e muito menos sinal de que sequer apareceria alguma. E o calor que eu estava sentindo com aquele grosso vestido cujo tecido me pinicava não ajudava em nada, sequer pensar na possibilidade de negar sua pergunta. Quando voltei a encará-lo, já estava se despindo. Ele retirou a camisa jogando-a no chão e me deixando deslumbrada ao vê-lo despido. Seu porte físico era simétrico e possuía os ombros largos e uma cintura estreita. Seus músculos não eram tão definidos, porém já eram existentes, talvez por ajudar seu pai a carregar mercadorias. Quando este começou a desabotoar as calças, me virei abruptamente tampando meus olhos com as próprias mãos.
- ! – o censurei e pude ouvir uma risada baixinha. Esperei ele responder mas suspeitei que já havia entrado no riacho quando escutei um barulho de água. Lentamente me virei ainda com os olhos tampados, porém abri uma frestinha pelos dedos.
- Qual é! Vem, logo. A água está uma delícia – ele disse me chamando.
- , e-e-eu não tenho roupa de banho – eu disse alto para que escutasse.
- Eu também não! Sua cara não nega que você quer entrar. Não me obrigue ir até aí te buscar – ele foi se aproximando da borda e eu paralisei.
- Não! – arregalei os olhos – Tá bom, eu entro – disse rendida e vi seu sorriso se espalhar pelo rosto – Mas vire-se para que eu possa me despir. E não ouse olhar! – esbravejei e rindo, virou-se. Rapidamente retirei o vestido deixando-o ao lado de suas roupas e lentamente me aproximei do riacho. Aquilo era loucura, totalmente. Se estando noiva eu nem podia ficar um segundo sequer sozinha com meu noivo, imagine estar nua, na beira de um riacho com alguém que eu mantinha um relacionamento escondido do mundo e que ninguém poderia saber da existência!
Eu não raciocinava direito quando estava com . Minha mente esquecia de me lembrar que estar com ele não era certo, mas eu não conseguiria me manter afastada. Aqueles olhos verdes me atraíam tanto quanto me assombravam quando as luzes se apagavam ou quando não estavam por perto.
Agachei-me na grama e pé por pé, sem querer fazer barulho, fui entrando na água, que se encontrava quentinha. Porém minha tentativa de entrar despercebida falhou, quando ao perceber a água se mexendo, virou-se para mim com um brilho diferente nos olhos e corei violentamente.
- Satisfeito? – ergui uma sobrancelha e numa atitude de mantê-lo afastado, o ataquei com água.
- Você não devia ter feito isso – ele falou ameaçador e veio na minha direção enquanto eu tentava me afastar.
- , não! – eu gritava e ria tentando inutilmente me manter longe, mas num gesto rápido conseguiu me prender na borda mantendo um braço a cada lado de meu corpo.
Ele me olhou nos olhos por alguns segundos e depois se deteve em meus lábios. Lentamente, se aproximou acabando com qualquer distância que pudesse haver entre nós. Senti algo me cutucar próximo à minha intimidade e prendi a respiração. Notando minha tensão, sussurrou em meu ouvido:
- Não vamos fazer nada que você não queria – e me encarou tirando uma mecha molhada do rosto.
- Eu... eu quero – disse sem pensar, arfando com aquela possibilidade.
sorriu e encostou sua boca na minha apenas dando um selinho. Um frio tomou conta do meu corpo com aquela pequena aproximação e enlacei meus braços em seu pescoço. entendeu aquele gesto como uma permissão e aprofundou o beijo, no início calmo e lento até se tornar rápido e urgente. Mãos passeavam, descobriam e acariciavam em ambos os corpos. Entrelacei minhas pernas ao redor do quadril de e quando este me encarou, lhe dei um beijo calmo que revelava tudo o que eu queria naquele momento. E era ele. Somente ele.


Capítulo 3

Depois que nossas respirações se acalmaram, decidimos sair da água e meio atrapalhados e com o corpo ainda molhado, nos vestimos e caminhamos de volta à vila. me acompanhou até em casa, ainda que afastados da entrada para que ninguém nos visse, e após um beijo terno e uma troca de sorrisos cúmplices, o deixei e entrei em casa me sentindo como se fosse uma outra pessoa.

- Onde você estava? – escutei a voz firme de mamãe enquanto subia as escadas em direção a meu quarto.
- Eu estava com , na loja, como sempre – me virei para olhá-la.
- NÃO ME DIGA MENTIRAS! – seu grito preencheu a casa tornando-a silenciosa e levemente assustadora. Eu arregalei os olhos assustada, nunca tinha visto mamãe tão furiosa como estava naquele momento. E eu sabia que estava perdida após escutar o que ela disse em seguida numa voz mais contida, porém ainda a mantinha firme – Com quem você estava?
- Mãe, eu juro que não sei o que você está dizendo – tentei soar normal ainda que estivesse com a voz trêmula e me segurei ao corrimão com medo de desabar a qualquer momento.
- Eu voltei à loja meia hora depois que a deixei. E inexplicavelmente, não soube me dizer onde você estava – ela subiu alguns degraus até se aproximar de mim. Seus olhos estavam inflamados e transbordavam raiva – Mas deixa eu te contar uma coisa: não é tão esperto o quanto parece. Você achou mesmo que ninguém observa aqueles becos? Que ninguém suspeitaria de ver vocês dois se encontrando as escondidas?
- Mãe eu... – eu comecei a chorar quando outro grito dela reverberou pela casa.
- Cala a boca! Você tem ideia do que estão comentando? Do que estão falando de você, falando da nossa família?! – ela agarrou meu braço enquanto continuava a gritar – Se você não se lembra, você está noiva de James Richards! Esse casamento é para salvar o nosso futuro, o seu futuro!
- Mas eu não o amo, mãe. Eu amo o Mat... – não pude terminar a frase. Minha face esquerda acabara de conhecer a força de sua mão.
- Não ouse a dizer isso! – ela falou ríspida – Não seja ingrata. Teu pai e eu nunca deixávamos lhe faltar nada e agora que precisamos você resolve virar as costas? Quer mesmo que seu pai definhe até a morte naquela cama? – eu neguei e ela riu sarcástica - E o ama? Você acha que o amor vai tirar sua família das ruínas? – ela soltou meu braço e cambaleei para trás.
Ela desceu e ao chegar no último degrau, virou-se e me encarou friamente.
- Esse é seu dever, , não tente fugir disto. O casamento está marcado para daqui duas semanas.

Fazia uma semana desde que mamãe descobrira tudo e eu havia sido proibida de sair de casa até o casamento, então não tinha nada para fazer a não ser escutar aquelas tagarelas que se intitulavam costureira e planejadora de casamentos. Irritada, me levantei e sobre protestos de minha mãe larguei-a com as duas mulheres. Fiquei sabendo por meio de Adelaide, que havia tentado me visitar mas mamãe não permitira e acabou ouvido poucas e boas dela. O que me deixou ainda mais triste, pois não queria que minha amiga sofresse por isso mesmo sabendo dos riscos.
Entrei no quarto e me deitei, mas não havia percebido que Adelaide estava no cômodo.
- Você está bem, menina? - perguntou enquanto se aproximava.
- Sim, está tudo bem, Ad. - e lhe dei um meio sorriso.
- Tem certeza? Quer que eu lhe prepare aquele bolo chocolate que você tanto gosta? - ela me olhou carinhosamente e fiz que não. A vi então voltando a cômoda onde havia deixado uns lençóis sujos e antes que chegasse à porta, a chamei.
- Ad, posso lhe perguntar uma coisa? - ela fez que sim e fui em direção à cama, sentando. - Você já gostou tanto de alguém que se pudesse faria qualquer coisa para não magoá-lo?
- Sim, minha menina. - ela suspirou e se juntou a mim e segurou minhas mãos - Mas onde você quer chegar? Pode me contar, sabe que não sairá daqui.
- É sobre o casamento. Não quero ser a salvadora da família, não quero essa responsabilidade. Isso de manter nome é importante para os outros, mas não é para mim. A gente consegue se virar de outro jeito. Você entende?
- Sim, mas os Richards são uma boa família, minha menina, e seu noivo é um ótimo rapaz, você não terá o que se preocupar.
- Eu gosto de outra pessoa, Ad. - falei com a voz um pouco mais baixa. - Na verdade, eu o amo. É por isso que não saio de casa há uma semana. Mamãe descobriu tudo - cobri meu rosto com as mãos quando voltei a chorar.
- Como assim, outra pessoa? - A governanta perguntou confusa - Você está tendo encontros escondidos? - seus olhos arregalaram quando confirmei.
- Sim, desde o último ano do colégio. O conheci quando éramos parceiros nas aulas de literatura. No começo apenas nos falávamos nas aulas, mas eu comecei a gostar dele e o sentimento era recíproco. Começamos a nos encontrar depois da aulas e é assim até hoje, ou era, até uma semana atrás. Quando não estou com ele é como se faltasse algo dentro de mim. Eu estremeço toda vez que ele me toca e quando ele sorri, Ad, é como se eu visse fogos de artificio. E não quero ter que deixá-lo para me casar com alguem que não conheço. - olhei em sua direção e ela sorria para mim.
- Não sei como posso te ajudar menina, mas não quero te ver infeliz.
- Não há nada que você possa fazer, Ad. Os não têm tanta influência quanto a família de James. E você sabe o quanto papai está doente. Não quero causar mais complicações.
- Sabe de uma coisa? Eu nunca gostei dessas coisas de influência, poder, dinheiro. Nossa vida não pode ser resumida a isso menina. Minha família não tinha um terço do que sua família possui e meu marido muito menos, porém não éramos menos felizes por causa disso. Mas, infelizmente, é assim que vivemos – ela disse acariciando minha mão e tornou a me olhar demonstrando sinceridade – Porém, é de grão em grão que podemos fazer a diferença. Felicidade não se compra, pense nisso. - dito isso, Adelaide me deu um beijo na testa e saiu.


Capítulo 4

Adelaide terminava de me ajudar a colocar o vestido de noiva. Era lindo, porém vesti-lo naquele momento não parecia certo. Ela já tinha expulsado umas quatro vezes minha mãe do quarto, esta que já chorava copiosamente desde quando acordei e a encontrei perambulando pelo corredor. O quê me intrigava era não saber o real motivo daquele chororô. Felicidade por ter uma esperança de manter nosso sobrenome ou felicidade por sua filha estar casando, o que é maioria entre as mães. Mas eu tinha quase absoluta certeza de que seria pela primeira opção. Assim que terminamos, encarei Ad pelo espelho e vi que algumas lágrimas escorriam de seu rosto.
- Ah minha menina, você está tão linda. Desculpe-me por isso. - ela riu enquanto enxugava suas lágrimas, tomando cuidado para não borrar sua maquiagem.
- Eu quero te agradecer Ad. - eu a encarei pelo espelho e depois me virei para encará-la. - Te agradecer por tudo o que tem feito por mim desde sempre. E principalmente pela aquela nossa conversa aquele dia. - e a abracei forte.
Ficamos ali abraçadas até que três batidas leves na porta nos despertaram. Ad rapidamente foi até a porta, já se preparando para expulsar minha mãe pela quinta vez quando a abriu e parou onde estava.
- Quem é, Ad? – me virei enquanto ajustava a vestido e quando levantei o olhar para a porta um misto de sensações me dominou: medo, saudade, alegria, amor – O quê você faz aqui? – perguntei encarando atônita, este que estava parado na porta me encarando da mesma forma. Vi um brilho dominar seus olhos e rapidamente aquele sorriso que me fazia sentir falta de ar, tomou seu rosto.
- Você... Uau. Você está maravilhosa. – ele se aproximou lentamente e o medo me dominou. Como ele conseguiu chegar até aqui? E se alguém o pegasse? Olhei aflita para Adelaide que voltava à realidade e surpreendentemente falou:
- Vou deixá-los a sós, estarei na porta vigiando o corredor. Só não demorem, por favor. – e saiu depois que assentimos.
- , o quê faz aqui? Você ficou louco? E se alguém nos flagra e... – não pude terminar a frase, pois os lábios de estavam sobre os meus e num misto de saudade e surpresa, passei meus braços em volta de seu pescoço e retribui seu beijo urgente.
- Eu precisava ver você, falar com você antes de tudo acontecer. Eu fui até sua casa quando me contou da sua mãe. Tentei falar com ela, mas ela sequer me ouviu. Disse que minha família não passava de meros comerciantes que vendiam bugigangas para sobreviver, que nunca seriamos da elite e eu nunca seria digno de tê-la como esposa. – ele falou atropelando as palavras enquanto tentava voltar a respirar normalmente. – Por favor, me escolha, . Eu sei que não temos herança ou uma grande fortuna, mas temos o suficiente para viver bem. E também tenho o meu amor por você e nada nem ninguém, pode tirar isso de mim.
- , eu... – mas ele logo continuou a falar.
- Eu e minha família vamos nos mudar hoje, depois do casamento.
- Q-quê? - perguntei e o que ele disse fez meu coração ficar pequenininho.
- Sim, vamos por causa de uma tia que não está bem de saúde – e abaixou os olhos – e porque não aguentaria estar aqui e te ver vivendo com outra pessoa.
Eu quis abraçá-lo, beijá-lo e dizer que eu jamais me sentiria feliz com alguém se não fosse com ele. Mas Adelaide me impediu quando abriu a porta pálida e assustada demais.
- Desculpe-me menina, mas temos que ir. Temo que sua mãe esteja subindo para apressá-la. Vamos, está na hora.
Assenti, mas antes de sair me aproximei de e lhe dei um selinho. Encarando aqueles olhos verdes que me hipnotizavam, disse baixinho:
- Eu te amo. – e relutante, saí do quarto.

Os primeiros acordes da marcha nupcial começaram quando cheguei próxima a porta fechada da igreja onde papai estava. Mesmo doente, ele fizera questão de estar ali e me acompanhar até o altar.
A igreja estava lotada como o esperado. Fui desfilando no tapete olhando para os rostos sorridentes mais próximos e acenando com a cabeça para aqueles mais conhecidos. Passei pela família de e um leve tremor percorreu meu corpo. Como as boas famílias que sempre foram seus sorrisos estavam ali para me receber, mas eu sentia que eles estavam decepcionados pelo o que aconteceu e o que certamente devem ter escutado de bocas alheias e fofoqueiras que viviam naquela vila. Não pude deixar de sentir raiva de mim.
Chegamos ao altar e com um beijo na cabeça papai me entregou a James. A cerimônia se deu inicio e durante as palavras do padre, James diversas vezes me ofereceu um sorriso. Mas não era aquele sorriso que fazia minhas pernas bambearem. Ao me lembrar disso, percebi que não havia visto enquanto entrava na igreja. Rapidamente com a cabeça sobre o ombro, corri meus olhos pelos convidados mais próximos do altar, por sua família, por mais convidados, mas me detive ao vê-lo parado de braços cruzados próximo à porta que estava aberta. Um arrepio percorreu meu corpo e imediatamente voltei minha atenção ao padre na intenção de afastar uma ideia louca que havia surgido na minha mente, mas foi impossível. Eu seria capaz de fazer aquilo?
Vendo o padre terminar seu ritual, me virei para ficar de frente a James e de canto de olho pude ver uma movimentação na porta. Na verdade, alguém saindo da igreja. Respirei fundo e encarei James enquanto o mesmo dizia seus votos. Talvez fosse injusto fazer aquilo com James, mas eu só queria ser feliz ao lado de quem eu realmente amasse. E estaria dando-lhe a chance de poder encontrar alguém que ele também pudesse amar.
Então quando chegou minha vez de dizer os votos, com um pedido de desculpas a James, eu corri. Pelo meio daquelas pessoas que se levantavam e sob os gritos de minha mãe, corri para fora da igreja e o procurei. não estava lá. Ele já teria partido? Desesperada, corri em volta da igreja e o encontrei a alguns metros próximos a um carro que era ocupado por diversas malas.
- ! ! – gritei correndo em sua direção, levantando um pouco a barra do vestido para que não me atrapalhasse. Ele virou em minha direção e a surpresa tomou conta de seu rosto. Antes que pudesse me dizer qualquer coisa, encaixei minhas mãos em seu rosto e lhe beijei.
- Você fugiu? – ele me perguntou rindo assim que terminamos de nos beijar – Sua mãe deve estar furiosa!
- Eu não me importo. Ninguém pode tirar o meu amor por você – repeti aquelas palavras que ele tinha me dito antes.
- Então você quer dizer que... – ele perguntou me abraçando pela cintura.
- Sim, . Eu estou te escolhendo. É com você quer quero ficar – disse o encarando.
- Você tem certeza? – ele sussurrou.
Eu assenti e meu mundo iluminou ao ver aquele sorriso tomar conta de seu rosto. Seria por ele e pelo aquele sorriso que tudo valeria a pena.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.

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