Última atualização: Fanfic finalizada.

Capítulo Único

— Papai… Você pode brincar comigo? Estou entediado…
Dimitri Eric Wyndham sentia falta de sua mãe. O amparo maternal, gradativamente, fez-se menos presente na residência em Oxford. Nem o cãozinho, Dempsey, podia mais brincar com o pequeno Dim desde os últimos experimentos que seu pai aplicara no mesmo. O sentimento de solidão dominou-lhe enquanto passeava sem rumo pelo enorme perímetro da casa, sem vizinhos ou seus progenitores para fazer-lhe companhia. Apenas Tommy, seu bichinho de pelúcia, que arrastava pelo chão conforme caminhava, o acompanhava em todos os momentos.
Herbert, por sua vez, olhou para trás com desprezo, bufando ao notar que o garoto sujara o ambiente estéril. O filho estava se tornando um empecilho desagradável, tal como a ex-esposa fora. Precisava se livrar daquela criança mimada se quisesse realmente evoluir com os experimentos; era difícil conseguir focar em seus objetivos imensamente grandiosos com distrações tão inoportunas.
— Vá fazer algo útil, Dimitri, eu estou ocupado. Não é momento para brincar. — ele ajeitou o jaleco branco, pegando uma seringa com a mão livre, desviando de um grunhido de Dempsey (que fora colocado na sua máquina em fase de testes). — Saia do meu laboratório, agora.
Dimitri soltou um muxoxo, triste por ter atrapalhado mais uma vez o pai. Ele odiava ficar sozinho, mas não queria irritar o progenitor, afinal, sabia do que o mesmo era capaz quando estava com raiva. Era uma criança particularmente acuada e estudiosa, com um nível de inteligência e perspicácia bem semelhante ao de Herbert — embora o pai não lhe desse a atenção necessária.
— Não irei repetir, Eric. — a voz do mais velho fez-se presente novamente, dominando o local.
O filho pequeno, suspirando em frustração, apenas deixou os fundos da casa, retornando sua atenção para o jardim externo. Sentou-se do lado de fora, entristecido, com a cabeça entre as pernas.
O cheiro de grama recém molhada era delicioso, graças às chuvas em Oxford. Ele adorava saltar em poças e brincar, mas seu pai detestava e desprezava esse tipo de atitude. Dim lembrou-se da mãe, do carinho e da saudade que sentia da vida com ela. Ele mal sabia onde e como ela estava, nem porque ela partira tão repentinamente.
Ele fungou levemente seu nariz e algumas lágrimas rolaram pelo rostinho pálido e alvo. O garoto estava subnutrido, recluso de toda sua vida e sentindo um enorme vazio em seu peito. A única coisa que conseguia fazer, era implorar baixinho para que aquilo acabasse e ele finalmente reencontrasse a única pessoa que o amava naquele mundo.


————— ω —————

— Por que tenho que ficar aqui? Por que não posso ir com você? — o mais novo pronunciara em um tom de voz completamente desesperado, com a voz trêmula e ansiosa.
A relação entre Dimitri e Herbert não havia melhorado. O pai, como sempre, bitolado demais em seus experimentos científicos, mal tinha tempo para acompanhar o crescimento do pequeno Wyndham. Dim permanecia frustrado, e ficou ainda mais tenso quando se deparou com aquela cena: seu progenitor organizando suas malas e pegando suas coisas da casa, para ir embora dali.
E sem pretensão nenhuma de ter alguém o acompanhando.
— Vou resolver problemas de adulto, Eric. Você não pode ir comigo. — a resposta proferida por Herbert fora rispidamente dolorosa em Dimitri, que sentiu-se descartado, como se nada valesse.
Nunca mais vira a mãe após aquela fatídica data. Sequer tinha notícias dos avós ou quaisquer outros parentes que podiam contatá-lo. E seu pai pretendia realmente deixar-lhe? Ele era tão novo, imaturo! Não conseguia nem entender a complexidade da situação em que se encontrava. Sequer compreendia os motivos de seu pai em ser tão duro consigo.
Herbert considerava-se grandioso. O famoso geneticista havia finalmente atingido seu ápice, sua perfeição: evoluíra seu cão, para uma figura praticamente humanoide de ampla inteligência. Seu filho, tolo como era, mal conseguiria compreender. Mas ele… Ah sim, ele sabia como seu marco era grandioso, ao passo que tornava-se perigoso. Afinal, o pequeno Dempsey fora perseguido e morto há pouco tempo. Em breve, saberiam que Wyndham era o responsável e ele temia o que podia ocorrer.
E, por isso, ele não podia mais permanecer ali. Levar o filho não era uma opção sequer viável, em vista da ambição que o movia. Ele não amava Dimitri, tal como não amou sua mãe. O único afeto que Herbert era capaz de nutrir, era por si mesmo.
— Você vai voltar? — Dimitri suspirou, encarando o mais velho, que colocara as malas no chão.
Herbert respirou fundo, encarando o filho nos olhos, sem um pingo de emoção aparente. Não respondeu-lhe sequer uma palavra; apenas pegou as malas e retirou-se do ambiente, saindo pela porta principal. Sem remorso, sem lágrimas ou sentimentos. Apenas se fora.
A imprudência era gigante. Dimitri Eric Wyndham era apenas um pré-adolescente quando foi deixado para trás por seu pai cruel. Desamparado, com pouco dinheiro e sem nenhuma instrução. Ele teria que lutar por si mesmo, mas era apenas uma criança.
E naquele momento, ele sequer conseguia agir. Ficou olhando a porta entreaberta durante um período. Mesmo com a relação conflituosa e nada carinhosa que possuía com Herbert, Dimitri sentia uma falsa sensação de segurança na presença de seu denominado “pai”. O admirava por parecer tão perspicaz e batalhar todas as suas ambições, até às que davam errado.
Todavia, todo esse sentimento fora devidamente substituído por uma raiva descomunal e furiosa. As coisas não ficariam desse jeito.
Dimitri levantou-se abruptamente quando uma ideia lhe atingiu. Talvez tivesse alguma pista de onde o pai poderia estar, ele podia ter deixado algum sinal em algum local da casa. Não sabia ao certo se o seguiria ou não. Mas queria ao menos entender um pouco a cabeça doentia de seu progenitor para deixar-lhe.
Algumas pessoas eram naturalmente ruins. Mas Eric preferiu acreditar que aquele não era o caso de seu pai. Talvez houvesse salvação.
Revirou sua cama, seus lençóis, e até mesmo, onde ele havia tomado café da manhã. Nada de útil por ali. Suas gavetas não possuíam nada que denunciasse uma presença anterior ali, pois o mesmo havia levado todos os seus pertences, até os mais minuciosos. Isso fez o rapaz suspirar, confuso.
Era apenas uma criança perdida e sem instrução. Cresceu recluso até para desenvolver-se e tomar decisões coesas.
Mas, por último, resolveu olhar no lixo da cozinha. Talvez lá houvesse algo que pudesse ajudar o pobre garoto. Entretanto, nada havia no local, exceto por um grande chumaço com de papéis de rascunho. Curioso, ele pegou em mãos o enorme documento, observando as características do mesmo. As letras em vermelho eram extremamente chamativas, mas em nada poderiam guiá-lo. Não naquele momento.

“Alpha & Omega: Iniciação.”

————— ω —————

Aquele bar era velho conhecido de Eric. Por ser ao lado de sua universidade, aproveitava o tempo livre para beber e descontrair. Mesmo sendo recluso e tímido, tinha alguns amigos que fizera durante o período da residência. Naquele dia, entretanto, estava sozinho.
Havia se tornado um homem realmente belo. A pele alva, agora, estava minimamente mais corada, contrastando com os cabelos negros e os olhos tão azuis quanto cristais. Era sedutor quase que inevitavelmente, coisa que o auxiliou e facilitou imensamente algumas coisas para si. Afinal, era muito mais fácil cativar as pessoas daquela forma.
Ignorando a melodia cantarolada pelo vocalista bêbado, virou mais um copo de shot. Outro. E outro. O gosto amargo não era mais incômodo em sua boca, já havia se adaptado àquela mania tão costumeira. Após os plantões, sempre bebera para relaxar. A vida de médico não era nada fácil.
— Que vidinha mais miserável para alguém tão jovem… Esse gin é o pior da casa. — uma voz feminina invadiu seus pensamentos, deixando-o atordoado.
Olhou para trás com curiosidade, arqueando a sobrancelha. A mulher extremamente intrometida, era uma das figuras mais belas que ele já havia visto. Os cabelos eram tão negros quanto a noite, e a pele branca contrastava com os fios longos, deixando o rosto fino em um destque ainda maior. Sua aparência era madura, e ela não parecia ser o tipo de mulher que frequentava aquele tipo de botequim.
— Perdão? Eu te conheço? — Wyndham perguntou com educação, rindo amarelo com a abordagem utilizada pela mesma.
Muita coisa havia mudado, mas ele ainda era tímido. E a maioria das mulheres, particularmente falando, não puxavam assunto tão descaradamente como a bela moça fizera. Então, ele estava, levemente acuado.
— Provavelmente não, eu presumo. A maioria de vocês nunca conhece… — ela resmungou mais para si, do que para o rapaz.
Ele ficou confuso, porém evitou perguntar mais alguma coisa. O aproximamento repentino deixou-o desconcertado, mas queria saber onde aquela situação acabaria. A bela mulher, por sua vez, sentou-se ao lado do mais velho, deixando visível seu enorme decote entre as vestes pretas. Eric tentou não encarar demais, ou babaria por aquela mulher, que mesmo em sua elegância, deixou-lhe atordoado.
— Me diga, por que está nesse fim do mundo? — a mulher indagou com curiosidade, pedindo o gin mais caro do bar ao garçom.
“Ela deve vir sempre aqui, mas por quê?” ele pensou consigo, observando a mesma bebericar um gole com classe, enquanto aguardava sua resposta. Eric riu de leve e limpou a garganta antes de continuar.
— Concluí a faculdade há pouco, graças a uma bolsa que ganhei. Achei que ia conseguir a vaga de pesquisador, mas perdi para um cara da minha turma. O senhorio está me expulsando por não pagar o aluguel… Então achei que seria uma boa ideia gastar minhas últimas libras que ganhei nos plantões fazendo algo que gosto.
— Bebendo gin barato? — os lábios carnudos dela riram em meio a ironia, deixando-o levemente incomodado.
— Você ainda não me disse seu nome… — Dimitri colocou os olhos azuis nela, curioso.
Mas, prontamente, ela rebateu:
— Nem você o seu, então…
— Sou o Dr. Dimitri Wyndham.
Seu olhar se semicerrou devagar, enquanto ela tombava a cabeça para o lado. Dimitri estranhou a atitude, porém bebera um último gole de seu gin, esperando alguma resposta.
— Você é filho do Herbert?
Aquele maldito nome. Bastou que a voz madura o pronunciasse em um tom completamente inocente, para que a fúria de Dimitri se fizesse presente. Fechou as mãos em punho, suspirando. A raiva de todas as exposições e maldades que o progenitor lhe causara durante a infância, rondaram sua cabeça por um minuto.
— Ah sim, aquele filho da puta me largou e saiu de casa quando eu tinha nove anos. Desde então, nunca mais o vi. E como você o conhece? Que desprazer…
Havia um tom amargo em sua boca quando ele citava o pai. Foi difícil superar aqueles anos de solidão; as inúmeras casas em que passara, diversas situações em que fora submetido até atingir a maioridade… Tudo aquilo lhe atingiu como uma avalanche repentina, deixando o estômago embrulhado automaticamente.
— Isso não importa… — a mais baixa resmungou, percorrendo as orbes castanhas pelos olhos azuis do homem à sua frente. — temos assuntos mais importantes aqui, não acha?
Ela estava flertando com ele? Dimitri teve seu rosto tomado por uma coloração vermelha, fazendo com que a mulher risse consigo.
— E seu nome? — sua voz pareceu levemente trêmula por ora, alterando o assunto repentinamente. — Você ainda não me disse…
A mulher compreendera a forma que Dimitri se esquivara. Afinal, ela estudou cada movimento do rapaz para estar ali, naquele momento. Nada seria em vão.
— Nêmesis.
— Igual a deusa? — ele pareceu surpreso por um instante.
Nêmesis não evitou uma risada com o comentário: — Quase isso…
O assunto, obviamente, não acabou por ali. Mais alguns goles de gin & tônica depois, ela finalmente conseguira arrancar mais algumas informações do rapaz. Finalmente beijara Dimitri Wyndham e agradeceu mentalmente por aquele humano ser tão atraente e facilmente manipulável.
Afinal, assim seria muito mais fácil de fazer seu plano dar certo.




Continua em Alphas & Omegas: A Queda dos Doze.



Nota da autora: Oiê, pessoal!
Quando ouço essa música do Slipknot, sinto que Taylor expressou sua vontade de manter-se firme e sobre as expectativas das pessoas colocadas em nós. Chegar nessa conclusão foi essencial para entender qual personagem merecia esse lugar ao sol, de tanto destaque.
Espero muito que vocês tenham gostado da leitura até aqui e que apreciem os futuros acontecimentos em Alphas & Omegas. Sei que nem tudo foi explicado aqui, mas garanto que, por ora, é o suficiente. Dimitri é, sem dúvidas, um dos meus vilões favoritos, e poder compartilhar isso com vocês é imensamente gratificante.
Além disso, estou disponibilizando meu Linktree, local em que poderão encontrar mais obras minhas, playlists, dreamcast e link para o meu grupo do WhatsApp: https://linktr.ee/sdsthais
Agradeço imensamente a todos que chegaram até o final!
Com amor,
Thaís Santos ❣






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