Capítulo Único
Ele era super popular, além de capitão do time de hóquei, ainda era líder de turma e parte do Grêmio acadêmico, ao qual ficava responsável pelos eventos mais badalados dentro e fora do colégio. Além de tirar boas notas, conseguia viver uma vida social onde ele era quase um Deus, tinha beijado praticamente todas as meninas da escola e até - mesmo que não gostasse muito de sair dormindo com várias pessoas só para colecionar transas - tinha levado algumas delas para a cama, era como se nada pudesse o atingir, era seu último ano no ensino médio, estava escolhendo para qual faculdade iria e com o histórico, conseguiria uma bolsa tanto por ser atleta, quanto por suas notas.
Ele pensava muito em ir para outro país e tentar a sorte por lá, mas a vida não é feita somente de flores e tudo mudou, na manhã daquela quarta feira, primeiro dia de aula do terceirão.
— Bom dia alunos, bem, começamos mais um ano juntos e espero que esse ano seja um ano maravilhoso e realizante para todos vocês, afinal, é o último ano de vocês e vocês estão ah um passo de se tornarem adultos. — A professora que era a mentora da sala disse animada, ela sempre fora muito animada, mas os alunos podiam sentir que aquele ano, talvez por finalmente se livrar deles, ela estivesse um pouco mais feliz. — É muito bom ver as carinhas já conhecidas de vocês, mas esse ano, temos um aluno novo, então já sabem, o acolham bem.
Apontou para a porta e aquele era o sinal que ela tinha combinado com o aluno novo, para que ele entrasse e se apresentasse.
— Ãh, oi, meu nome é Haechan, e eu me mudei recentemente com a minha família para cá, por isso estou entrando em uma escola nova, no último ano, o que parece que vai ser super legal — Disse a última frase com deboche.
Todos, inclusive ele sabiam, que mudar de escola no último ano, era quase como um suicídio social, mas não tinha nada o que ele pudesse fazer. O pai recebeu uma proposta maravilhosa, e como não tinham só ele de filho, eles tiveram que pensar a longo prazo, e ali estavam, de mala e cuia em uma cidade longe do mar, que teriam de remontar suas vidas. Sua mãe teve de deixar o emprego de chefe de seção em uma empresa de mídia, porque demandava que ela estivesse com os clientes pessoalmente, durante toda a campanha, e seus irmãos menores, assim como ele, tiveram de começar o ano letivo em escolas novas, e consequentemente fazer novos amigos. Haechan não se apegou muito naquilo, porque logo estaria fora do país cursando a faculdade, então, diferente do resto de sua família, tentaria não criar raízes ali.
O que não aconteceria, não depois de colocar os olhos em Mark.
Hae era assumidamente homossexual, tinha um bottom com uma bandeira do orgulho grudada em sua mochila e não que saísse divulgando sua orientação sexual por aí, mas se perguntassem, ele responderia que sim, gostava de homens!
Mark por outro lado, não tinha se definido, na verdade ele achava que era hétero, mas ele não era como os amigos do time de hóquei ou de outros ciclos que ele frequentava, não saia sexualizando as meninas - e não fazia isso porque sabia que era errado - não ficava contando vantagem sobre suas aventuras - mesmo que as pessoas soubessem de alguma forma, tudo o que ele fazia - e nem gostava de dar em cima de pessoas que não conhecesse. As meninas com quem tinha ficado na vida, foram pessoas que ele se aproximou antes, levou para um encontro e só depois se beijavam ou algo mais íntimo. Talvez aquilo o tenha deixado mais popular, afinal, ele tinha se interessado pelo que as pessoas tinham para contar e por suas vidas no geral.
— Perfeito, senhor Haechan, seja muito bem vindo e pode se sentar ali, naquela carteira vaga, ao lado do Mark. — A professora que fingiu não ter escutado o tom de deboche do novo aluno, disse ainda feliz, indicando onde ele se sentaria, talvez tivesse prevendo alguma coisa ou só tivesse naquela vibe mesmo.
Sim, vocês acham que o destino seria bonzinho e colocaria um em cada canto da sala, para que aquela energia não atrapalhasse os planos que tinham para aquele último ano?
— Que chato entrar em uma escola nova, no último ano. — Mark foi o primeiro a falar, quando a professora começou a fazer o mesmo discurso de boas vindas e sobre as coisas extracurriculares que teriam aquele ano - que eram as mesmas de sempre.
— Faz parte de tentar uma vida melhor, foi o que me disseram. — Hae ainda tirava o material da mochila, enquanto respondia sem ânimo o colega.
— Deve ser uma droga passar o ano mais difícil do colégio longe dos amigos. — Mark disse quase em um suspiro, olhando para alguns de seus amigos, que a professora chamava a atenção, por estarem fazendo palhaçada.
— É, e não é! — Haechan se deu o direito de olhar para o rapaz, já tinha organizado tudo em sua carteira. — É complicado, porque é legal ter os amigos por perto, mas ao mesmo tempo, acho que facilita, porque eu pretendo estudar fora e aí já vou cortando o vínculo de agora. — Sorriu e olhou para a frente, prestando atenção na professora.
— Mark, já que o papo entre vocês está tão bom, que estão ignorando tudo o que eu estou falando, você pode apresentar a escola para Haechan, mais tarde? — A professora disse, fazendo com que todos os alunos da sala olhassem para eles.
— Não é como se eu não tivesse que fazer isso, por ser o presidente da turma. — Mark murmurou, mas Haechan pode ouvir e não conseguiu segurar a risadinha.
— O que disse senhor Lee? — A professora perguntou em tom de repreensão.
— Nada professora, disse que será um prazer, ainda mais porque sou o presidente da sala. — Mark disse mudando o assunto.
— Acho bom! — Ela fingiu que acreditou e a aula seguiu.
Não conversaram mais até o sinal do intervalo, mas Haechan sentiu que alguém estava o observando, talvez algum curioso, ou alguns daqueles meninos com o perfil de algum time da escola, que estavam querendo encher o saco dele, por terem notado seu bottom na mochila, mas não ligou, sabia que ser LGBTQIA+ e assumir que era, naquele país, e principalmente naquela cidade, traria muitos aborrecimentos, mas ele preferia ser ele mesmo do que não se aborrecer.
— Vamos? — Depois de uma breve corrida para alcançá-lo, Mark disse um pouco ofegante e com um sorriso no rosto.
— Não precisa, você deve ter milhões de coisas para fazer. — Haechan odiava ser um inconveniente para as pessoas.
— Eu tenho, mas você é a minha desculpa perfeita. Não quero ter que contar para um monte de gente que a única atividade que eu fiz em todo verão foi ensinar minha avó a usar o tinder. — Ele riu e Chan também quis rir, era uma coisa engraçada na realidade.
— Então sua avó é um ícone da paquera? — Haechan estava mais animado com aquele papo, queria descontrair, entendeu que Mark não o deixaria sozinho.
— Ela é, pior que o perfil dela é ótimo, ela faz várias atividades e gosta de sair para dançar, você sabia que vários idosos gostam de sair para dançar? — Mark disse super animado, parecia que ele brilhava enquanto contava aquela história sobre os encontros que ajudou a sua avó a ter durante aquele período.
Eles passaram o resto do dia juntos, por sorte tinham os mesmos horários e como parte do prometido, Mark iria mesmo apresentar todo o colégio para ele. Eles se deram bem de cara. Conversaram sobre tudo, não só naquele primeiro dia de aula, mas passaram a semana toda juntos. E a amizade só se fortalecia. Claro que Haechan começou a ter amizade com outras pessoas também, já que entrou para o clube de teatro, porque precisaria de uma atividade extracurricular para atingir a média desejada, mas ele e Mark nunca se afastaram.
Meses depois da entrada de Hae na escola e eles viviam juntos, saiam aos finais de semana, estudavam juntos, jogavam games juntos e iam muito, muito mesmo um na casa do outro. E não ligavam para os comentários que rolavam por aí sobre eles. Como todos sabiam sobre a sexualidade de Haechan, sempre rolava uma piadinha ou outra e algumas vezes Mark teve que descer o soco em algumas caras.
— Isso é a maior loucura da minha vida, fora os carinhas do nct, eu nunca tinha me apaixonado por um hétero antes. — Haechan disse com um tom sem energia para a melhor amiga pela chamada de vídeo que faziam.
— E lá você pode fantasiar né, meu querido? Porque a gente não sabe de fato a sexualidade deles, mas me fala o que esse Mark Lee tem de tão especial para jogar o canto da sereia para cima de você? — Gabriela perguntou, estava realmente interessada na magia que o rapaz tinha jogado no amigo, cujo a regra de vida era "não dar espaço para hétero top, para não se apaixonar" e agora estava ele apaixonado pelo "Deus" da escola, capitão do time de hóquei, líder das festinhas e dos suspiros apaixonados de 12 das 10 garotas que cruzavam com ele por ai.
— Ele é diferen…
— Esse argumento não é válido, Hae, lembra? Ele ser "diferente" dos outros fodidos que te enchem o saco não é admirável, é só a obrigação dele enquanto ser humano. — Gabriela queria fazer o amigo perceber que talvez nem fosse paixão, às vezes era só carência e estava ABSOLUTAMENTE proibido de se apaixonar por carência. Ele sempre se machucava.
— Vou reformular então… — Parou um tempo pra pensar. — Ele me trata bem, me faz rir, almoça comigo todos os dias e não é um babaca comigo na frente dos amigos, que são uns imbecis de verdade. — Suspirou alto e fez a amiga perceber que era tarde demais, ele já estava super apaixonado.
— Pelo amor de Deus. Mas você tem certeza que ele é 100% hétero? — Gabi perguntou, tentando achar um fio de esperança naquela loucura do amigo, ele estava longe demais para que ela fosse até a casa dele, para o kit fossa, que eles tinham para aquelas situações.
— Aí é que tá! Eu não sei, eu sinto que ele gosta de mim, e eu sei, é doideira, e pode ser só meu sentimento me fazendo de trouxa, mas eu sinto que talvez ele goste da mesma forma que eu. — Estava quase derrotado em constatar aquilo, era realmente deprimente.
— Aí amigo, eu vou torcer para a sua felicidade viu, você merece demais, mas toma cuidado, uh?
Eles encerraram a ligação e Haechan passou o final de semana todo pensando sobre aquilo. Não queria acreditar que estava sendo enganado, por ele mesmo, por todo aquele sentimento, mas não conseguia não sentir. E não conseguia não fantasiar que o outro também sentisse. Tinha vários amigos e nenhum deles o tratava da forma que Mark o tratava. Durante aqueles meses descobriu que o rapaz demonstrava seu afeto por toque, ele era muito mais de demonstrar quando não gostava ou quando gostava de uma coisa, do que falando. Era assim com seus amigos, sua família e tudo ao seu redor, e, em conclusão aquilo, podia ter o fundo de esperança que tinha sobre os sentimentos alheios.
— Você vem? Comigo? — Os olhos de Mark brilhavam, e ele era bom com aquele tipo de coisa. Com um simples pedido tinha convencido Haechan a entrar para o time de Hóquei depois que eles foram patinar no gelo e ele percebeu que o outro era realmente muito bom. Hae fazia aquilo regularmente com os irmãos menores, mesmo em região litorânea, os ringues de patinação eram populares, assim como no resto do país.
— Eu não acho que seus amigos vão me querer lá, eles não vão muito com a minha cara, lembra aquele dia no cinema? — Ele recordou a última vez que eles saíram juntos com os amigos e eles foram uns idiotas.
— Mas eu preciso ir nessa viagem, porque já tinha me comprometido e eu preciso muito que você vá comigo, não vai ser a mesma coisa. — Mark tinha deitado a cabeça no colo de Haechan, eles tinham ido caminhar no parque e as folhas estavam espalhadas pela grama ao redor, um cenário pateticamente romântico.
— Mas as acomodações já estão reservadas, ou não? E porque vocês vão pra um lugar tão frio para esquiar, já não basta todo o frio do ringue de patinação? — Haechan estava nervoso, em outra situação adoraria ir esquiar com ele, mas ali naquela situação, era impossível.
— Meu quarto tem espaço o suficiente, esses hotéis são sempre tão grandes e eu não ligo de dividir. — Mark estava realmente empolgado.
— E o que os seus amigos vão pensar da gente dividir o quarto? Eles já pensam que somos namorados e…
— Você se importa? — Interrompeu Hae, e se levantou se sentando em frente a ele.
— Não, porque eu sou muito bem resolvido, mas isso te atinge, eu vejo como você fica incomodado. — E era verdade, sempre que falavam que eles namoravam, Mark ficava esquisito, eram momentos estranhos e constrangedores.
— Eu não fico incomodado, acho que eu estou confuso. — Hae viu os ombros do outro caírem, como se tivesse tirado um peso deles. — Sabe, eu nunca senti o que venho sentindo por outro cara, quer dizer, sempre achei alguns bonitos, mas acho garotas também, então meio que achar pessoas bonitas não é bem um critério para determinar sentimentos, mas quando as pessoas falam que estamos namorando eu penso "e se a gente estivesse mesmo, seria legal" e depois eu me perco, porque sabe, eu não sei como me definir ou definir meus sentimentos e…
— Peraí, você acha que seria legal se fossemos namorados? — Hae ficou surpreso com aquela revelação.
— É, sei lá eu gosto de estar com você e de conversar com você e de fazer parte da sua vida e eu sinto vontade de te beijar às vezes, o que é ridículo, porque você nem sente isso e eu sou um poço de confusão na minha mente, e…
Os lábios de Haechan se grudaram aos de Mark como se fossem imãs, cessando toda aquela falação. Hae só precisava saber que o rapaz sentia vontade de beijar a sua boca para quebrar aquela barreira, era aquilo, eles sentiam coisas parecidas, se não fosse o mesmo, e aquela era a prova de tudo. Mesmo que Mark tenha ficado imóvel durante aquele longo selar.
— Ãn, me desculpa. — Haechan disse se sentindo muito idiota depois que separou os rostos e viu que Mark estava parado do mesmo jeito. — Eu… Eu acho que…
Antes que Hae se explicasse mais, Mark segurou seu rosto com as duas mãos e iniciou um beijo intenso, profundo, usando não só os lábios nos dele, mas a língua, com a alma e com o sentimento.
Nem eles sabiam o que aconteceria com a amizade deles dali para frente, mas eles tinham aquele momento e aquele sentimento e só aquilo importava.
FIM DA PRIMEIRA PARTE.
Nota da autora: Olá Jiniers, como estamos? EU SOU MUITO FELIZ POR ESSA NOVA SAGA. Porque eu absolutamente amo essa fanfics e esses personagens e precisamos explorar mais eles não é mesmo? Espero que tenham gostado.
ps: Se quiser conhecer mais fanfics minhas vou deixar aqui embaixo minha página de autora no site e as minhas redes sociais, estou sempre interagindo por lá e você também consegue acesso a toda a minha lista de histórias atualizada clicando AQUI.
AH NÃO DEIXEM DE COMENTAR, ISSO É MUITO IMPORTANTE PARA SABERMOS SE ESTAMOS INDO PELO CAMINHO CERTO NESSA ESTRADA, AFINAL O PÚBLICO É NOSSO MAIOR INCENTIVO. MAIS UMA VEZ OBRIGADA POR LEREM, EU AMO VOCÊS. BEIJOS DA TIA JINIE.
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