Finalizada em: 11/04/2021

Capítulo Único

Life's a test, yes, but you go toe-to-toe; You don't give up, no, you grow.



O baile de formatura foi sempre o evento mais aguardado do ano para os jovens, para muitos seria finalmente a noite em que dançariam com aquela pessoa especial, ou então a noite em que se divertiriam em grupo junto de todos os amigos, e para aqueles que não gostavam tanto assim de festejar, significava o encerramento de um ciclo. Claro, o baile do nono ano para o primeiro do ensino médio não era nada emotivo, pelo contrário, os adolescentes adoravam pular na quadra toda enfeitada, enquanto aqueles que se despediam da escola acabavam vendo de uma forma muito mais emocionada, uma verdadeira despedida. Para null sempre foi difícil criar uma conexão com as escolas e turmas que passava, pois infelizmente estava sempre se mudando, o máximo que durou, até onde se lembrava, foram quatro anos, pois já na quinta série acabou indo para uma nova escola. Foi assim todos os anos.
Todo primeiro dia de aula sempre foi desafio para null. Muitos adolescentes a encarando feio de cima a baixo. Será que estava sempre tão estampado em seu rosto que ela era minimamente diferente deles ali? Ela sempre era a estranha que usava roupas pretas, muitos anéis e colares para alguém tão nova, mas nunca foi por mal, muito menos uma forma de se rebelar, pelo contrário, a relação com sua Tia sempre era a melhor possível. Ah, claro, esse era outro motivo pelo qual também sua mudança de escola acabava sendo constante; seus pais vieram a falecer quando a null tinha seus cincos anos em um acidente de carro, tendo então sua guarda passada para a irmã de sua mãe. Vivian, ou Tia Viv, como gostava de chamá-la. E por conta do pior trauma possível em sua vida, ela ainda tinha que ouvir as outras crianças a chamando de sem pais ou então "abandonada pelos próprios pais". Sim, crianças são bem desgraçadas quando querem. A constante mudança sempre quebrava o coração de Vivian, tudo o que ela queria era que a garota crescesse bem com todo o amparo possível, mas a tia também sabia que empatia era algo difícil de outros terem.
E como se já não bastassem os apelidinhos miseráveis, com treze anos, null passou a ver vultos em alguns lugares que frequentava, com eles ficando cada vez mais nítidos conforme os anos foram passando. Vivian sentiu a mediunidade florescer nela tempos depois do acidente. Mediunidade que ela também tinha, assim como sua irmã, e que acabou em null também, então no primeiro momento em que a pequena veio correndo chorando para seus braços dizendo que tinha "visto várias sombras em formas de pessoas", ela já começou a prepará-la para o que viveria, mas por ainda ser muito nova, Viv acabou optando apenas por lhe dar um colar que tinha uma medalha com um verso de proteção nele, uma lembrança que a mãe tinha deixado para a filha. Colar que jamais saiu de seu pescoço desde então.
Mas tudo mudou quando ela chegou no colégio Los Feliz, as pessoas lá pareceram sequer ligar que era nova na escola, coisa que deixou null feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz por talvez ser seu primeiro ano em que ninguém iria ficar pegando seu pé ou fazendo piadinhas sobre sua vida, e triste pelo fato de que por ser o último ano, provavelmente muitos grupinhos já estariam "fechados", talvez não dando espaço para que se fosse acolhida e fizesse algumas amizades. Felizmente ela foi pega de surpresa ao ver que sua turma de classe era extremamente tranquila, todos a receberam de braços abertos. Claro, a null ainda recebia alguns olhares tortos, principalmente dos anos mais novos quando frequentava as áreas comuns do colégio nos horários de pico, muitos ainda estranhavam a vibe meio bruxa que null exalava de longe. Isso não a impediu de fazer amigos, pelo contrário, duas meninas de sua turma ficaram admiradas com os anéis e colares que ela usava, obviamente, as duas viraram suas melhores amigas; Marie e Lara. Ela ainda também era próxima de um dos meninos do time de basquete, Steve, provavelmente o único não babaca do time inteiro. Os dois estavam na mesma turma de literatura, sendo parceiros em vários trabalhos, e null até o ajudou com uma forcinha extra para que seu amigo não reprovasse na matéria por conta dos jogos finais.
Mas nenhuma amizade ainda se comparava com as mais incomuns que tinha. Algo que começou bem na primeira semana em que ela chegou em Los Feliz.

03 de agosto



De certa forma, ela estava feliz e aliviada por finalmente ser seu terceiro ano de ensino médio. Tudo o que ela mais queria era se livrar daquele sentimento de dor que todos os outros anos lhe trouxeram. Agora a null já conseguia dominar seu 'dom' muito melhor do que quando mais nova, mas, ainda assim, não conseguia controlar quando via de fato que alguém do outro plano estava no mesmo ambiente que ela. Um arrepio desceu por sua espinha e ela arfou, não era uma energia negativa, muito pelo contrário, era algo bom e bastante positivo, quase palpável. Ela riu baixo, arrumando a alça da mochila no ombro enquanto seguia para sua primeira aula do dia, feliz por pelo menos sentir positividade no ambiente. Os olhares também não a incomodaram tanto, naquele dia em especial ela usava uma calça preta simples com uma blusa fina de manga comprida da mesma cor, dando destaque a todos os colares que enfeitava seu colo e os anéis pratas também adornavam seus dedos; nos pés, tênis vermelhos que completavam o look escolhido. Não queria chamar muita atenção logo em seu primeiro dia. null virou o corredor, quase alcançando a sala que deveria estar no primeiro horário quando um trio de rapazes encostados nos armários a chamou a atenção.
- Uau! - o mais alto disse assim que passou por eles. Ela franziu a testa e parou de caminhar um pouco mais a frente deles, fingindo olhar algo no celular, voltando a sentir aquela forte energia ao seu redor. - Novata? - o loiro perguntou aos outros amigos.
- Parece ser... Caso contrário, nós teríamos percebido. - null se pronunciou, começando a se aproximar um pouco mais da garota. - Certo?
- Eu teria! - null afirmou, indo até o amigo. - Ela é linda... - sorriu leve, mas os dois pararam os movimentos quando a null se virou de costas, encarando diretamente aqueles dois, desviando o olhar para o loiro, que continuou nos armários. - Cara, você acha que ela tá vendo a gente?! - murmurou para o amigo, os três sem saber muito o que fazer.
- Impossível! Nós só aparecemos para a Julie!
- Então por que ela está nos olhando como se enxergasse nossa alma? - o null voltou a questionar, ainda sorrindo, nervoso, porém sustentando o olhar da garota.
- É realmente um ótimo questionamento. - null replicou de volta, seguindo o olhar da garota, e virou a cabeça para trás, verificando se não era outra coisa que estava encarando. - Ninguém atrás da gente 'tá encarando ela...
Nisso ela já estava com as sobrancelhas franzidas e a cabeça levemente tombada para o lado, se perguntando sobre o que aqueles estavam falando. Deu uma última olhada de cima a baixo neles, e seguiu seu caminho, entrando na sala alguns minutos antes da aula começar.

Ainda naquela semana, mais alguns incidentes estranhos continuaram a acontecer. Ela ainda via aqueles mesmos três garotos circulando pela escola de vez em quando, mas nunca estavam em nenhuma sala de aula e sempre apareciam ou ficavam perto de uma outra menina. Ela era mais baixa e tinha os cabelos castanhos grandes, com cachos volumosos. Mas o fato estranho era que, quando null os viu junto da garota, eles estavam no refeitório, ela sentada e eles de pé ao seu lado, mas mais ninguém que estava na mesa parecia sequer notá-los ali, exceto a morena baixinha e ela própria, pois o trio sempre a encarava de volta, nunca vindo conversar com ela. O sinal bateu, anunciando o final do expediente, e como sua última aula do dia fora educação física, todos de sua turma correram para os vestiários para se trocarem. null particularmente não era nada fã de tomar banho na escola, então acabou juntando suas coisas e seguiu em direção ao outro banheiro dentro da escola.
Lavou seu rosto e refez o rabo de cavalo alto, trocando a camiseta da aula pela a qual estava usando de manhã, e colocou a calça que ia até os tornozelos novamente. Se olhou no espelho algumas vezes até que ouviu um barulho vindo dos boxes atrás de si. Ela virou a cabeça para ver se tinha algo, mas estava completamente sozinha ali, o arrepio familiar voltou e encarou novamente sua imagem no espelho, não vendo ninguém refletido atrás. Jogou um pouco mais de água no rosto e secou com sua toalhinha. Quando seu corpo virou para ir embora, aqueles três estava apoiados na parede, com um deles bloqueando a porta, todos com uma expressão curiosa no rosto. null travou os movimentos, mas não conseguiu segurar o grito - ainda curto - de susto, fazendo com que eles gritassem, assustados também.
- Estavam me espiando enquanto eu trocava de roupa?! - foi a primeira coisa que passou por sua mente. - Pervertidos!
- O quê? Não! - o do meio, de olhos azuis, se apressou em se pronunciar. - Ahm... - engoliu em seco. - Nós...
- Você consegue ver a gente?! - null cortou o amigo, dando um passo em frente, e ela deu um passo para trás, sem saber se poderia confiar naqueles rapazes.
- Que tipo de pergunta é essa? - devolveu. - É claro! Por que eu não veria?
Eles se entreolharam sem saber muito bem o que dizer, e antes que o null pudesse abrir a boca novamente, a porta se abriu violentamente, passando pelo mesmo garoto, que voltou a se assustar com o estrondo, e então ela entendeu. A garota baixinha de cachos grandes entrou, com os olhos arregalados, já encarando os três, e então virou sua atenção para a null.
- Eu ouvi gritos! - se aproximou rapidamente da mais alta. - Você está bem?
- E-Estou... - suspirou, alterando seu olhar entre ela e eles. - Você os vê também, não é?
- Vejo quem? - a morena tentou desconversar, mas o sorriso e a expressão nervosa denunciaram que ela sabia muito bem.
- Eles! - apontou para o trio. - E eu sei que sim, porque eu mesma vi você com eles no refeitório hoje mais cedo.
Ela engoliu em seco, passando a língua pelos lábios, e assentiu devagar. - Eu vou explicar.
- Acho que podemos ajudar na explicação também... - o loiro finalmente se pronunciou, fazendo com que todos se aproximassem da baixinha. null se apoiou na parede, cruzando os braços, encarando aquele grupo, e assentindo para que começassem.
Eles se encararam, ainda sem saber o que falar, até que null revirou os olhos e resolveu contar a verdade.
- Somos fantasmas!
null abriu a boca, desviando o olhar para o chão, conectando alguns pontos desde sua chegada naquela escola. Fazia sentido. Aquela energia positiva e elétrica vinha deles, é claro!
- Eles! Eu ainda sou real! - a garota quase gritou e ela riu, subindo o olhar novamente.
- Como você consegue nos ver? - o null que estava na porta voltou a perguntar. - Até onde sabíamos, só aparecemos para Julie e a melhor amiga dela.
- Bem... - a null começou, coçando seu pescoço. Se eles eram fantasmas, acho que não teria problema se falasse a verdade. - Eu sou médium... Consigo sentir, ouvir e muitas vezes ver aqueles que já não estão mais nesse plano.
- Ohhhh! - todos soaram em conjunto.
- Faz sentido... - a garota estendeu uma das mãos. - Sou Julie!
- null. - a null respondeu, apertando sua mão de volta, e não pôde deixar de sentir que algo bom emanava dela também. - Mas pode me chamar de null.
Os meninos também se apresentaram em ordem. Do lado direito de Julie estava null, ele tinha olhos azuis e tocava guitarra, no meio, o loiro alto e baterista, chamado null, e, por fim, o null que tinha um dos sorrisos mais lindos que null já havia visto, null, o baixista.
- Vocês ainda não falaram o porquê estavam no banheiro feminino. - a null lembrou, voltando a cruzar os braços.
- Ahm... Era um teste. - o null se posicionou ao seu lado. - Queríamos saber se você nos veria de fato.
- Desde quando vocês estavam lá dentro?
- Assim que você saiu da cabine! - null respondeu. - Ouvimos as roupas sendo trocadas e esperamos. Não somos pervertidos! - ele fez uma cara ofendida, causando risadas em Julie e nela.
- Tenho que desconfiar sempre, desculpa. - se justificou, dando ombros. - Mas... Eu quero saber... Como vocês se conheceram?
- É uma longa história... - Julie começou, virando o rosto para encará-la, e quando viu que null assentiu, ela sorriu, continuando. - Tudo começou quando entrei no estúdio da minha mãe depois de quase um ano...

Além de ter contado todos os fatos que levaram os quatro a formarem uma banda e tocarem juntos, Julie também contou que, na verdade, estava começando o segundo ano, tinha uma melhor amiga chamada Flynn e estava no programa de música que a escola oferecia. Não demorou muito para que null tivesse ficado interessada também, sendo encorajada pela nova amiga e se juntar a eles. Música ainda era um grande hobbie para ela, gostava de tocar piano e cantar, apesar de poucas, tinha boas memórias de seu pai tocando e sua mãe cantando para ela enquanto dançavam juntas pela sala, então voltar a ter contato com a música depois de tanto tempo foi praticamente simbólico para ela, uma forma de manter seus pais com ela sempre que batia nas teclas. Os fantasmas também se surpreenderam, não demorando para que pedissem a ela que tocasse junto com eles.
- Mas você obviamente vai cantar também! - null exclamou, como se ela já soubesse.
- Quê?!
- null! - ele fez um bico e a null revirou os olhos. - Você é ótima!
- Tentamos fazer sem você nos vocais - Julie explicou, entregando as folhas com as letras novamente para a amiga. - Ficou... Ok. Mas com você, a música brilha! Por favoooooor!
Ela suspirou, achando graça no bico que o casal fez para convencê-la, até que se virou para null, que estava apoiado no piano, observando a cena. null abriu a boca, mas ele a interrompeu antes. - Eu concordo com eles, o brilho vem de você... - sorriu terno, se aproximando um pouco dela, se perdendo nos olhos profundos da null por um momento.
- Tudo bem... Eu canto com vocês! - ela exclamou, fazendo todos comemorem ali.

13 de outubro



null acabou se aproximando bastante dos quatro, na verdade, mesmo com Julie sendo um ano mais nova, as duas passavam bastante tempo juntas no programa de música do colégio e nos ensaios que participava, mas um dos fantasmas acabou um pouco mais próximo dela. null se mostrou aquele tipo de garoto que sempre tinha algo de engraçadinho a ser falado. De vez em quando, ele adorava entrar nas aulas dela e fazer comentários inapropriados sobre os professores, fazendo com que ela tivesse que segurar a risada no meio da sala silenciosa. Um dia ela não aguentou e realmente acabou rindo, e alto, inventando uma desculpa que foi algo que viu em seu celular, ganhando sua primeira detenção em seguida.
- Obrigada mesmo, null! - ralhou de forma irônica, conferindo se estavam sozinhos no corredor, caminhando juntos até a sala de detenção. - Pelo menos foi só um dia.
- Me desculpa mesmo, null. - ele falou de forma cabisbaixa, desviando o olhar dela e coçando a nuca. - Prometo te recompensar com algo!
- Não, tá tudo bem, sério...
- Quando é sua prova com essa professora? - um sorriso travesso se formou nos lábios do null, causando um leve arrepio em sua espinha.
- Semana que vem... - respondeu com as sobrancelhas franzidas. Ela parou na frente da porta da detenção, vendo algumas pessoas ali dentro já. - Bom, nos vemos amanhã, então. - acenou rapidamente e ele sorriu, piscando um olho enquanto a observava entrar na grande sala. A detenção sempre foi restrita a ficar em silêncio, então ela fez bom proveito daquela hora para fazer a lição de matemática, já que não tinha levado nenhum livro para ler naquele dia.
No dia da prova, null conversou rapidamente com os amigos, dando falta de null, mas não comentou nada, seguindo caminho para sua sala. Quando entrou, alguns alunos conversavam entre si para não ficarem tão nervosos, enquanto outros continuavam revisando a matéria até o último minuto, em que a professora entrou na sala e fechou a porta. null acompanhou os movimentos dela e abriu a boca em surpresa quando a figura do null se revelou ali, dando um sorriso travesso para null. Então aquele seria o jeito que ela iria ser recompensada.
- O que você tá fazendo aqui? - moveu os lábios sem fazer qualquer som.
- Eu vim te dar as respostas! - respondeu de forma audível, indo até as anotações da professora. - Não era óbvio?
- Eu sei as respostas!
- E aquelas que você não souber?
- Ai, meu Deus. - ela sussurrou, rindo baixo enquanto abaixava a cabeça.
- Tá tudo bem, null? - Lara se virou para trás, checando o estado da amiga. - Muito nervosa?
- O quê? - franziu as sobrancelhas. - Não! Nãão. Eu ‘tô bem! Só aquela pequena ansiedade para começar logo, sabe.
- Sei. – Marie, que estava do lado direito, respondeu também. - Passei a noite toda ontem revisando o conteúdo, só quero que isso acabe logo.
- Muito bem, vamos começar! - a professora anunciou, entregando os blocos de folhas paras os primeiros das filas. - Sejam objetivos nas respostas, por favor. Vocês têm 50 minutos, começando agora!
null suspirou, começando a ler as questões e a responder o que lembrava de suas anotações, levantando o olhar de vez em quando para encarar null, que ainda continuava encostado na parede com uma expressão de tédio até que a encarou de volta.
- Finalmente precisa de mim? – perguntou, brincalhão, e ela precisou respirar fundo para não rir, apenas fazendo um ponto de interrogação ao lado da pergunta que não sabia. Ele se abaixou, chegando mais perto dela, e ela jurou sentir a respiração dele bater em sua bochecha. null deu a resposta que até ele mesmo se impressionou por lembrar, mas, por segurança, deu algumas andadas pela sala, checando a resposta dos outros colegas, fazendo com que a dele ficasse mais completa, e null passou tudo para o papel, tentando segurar o riso bobo conforme escrevia. Ela completou mais duas questões da prova com a ajuda do fantasma e entregou a folha quando já faltavam poucos minutos para a finalização da prova.
null recebeu a prova corrigida pouco menos de duas semanas depois e ficou bastante surpresa com a nota, mas esperou até o final do dia para contar a boa notícia aos amigos. Era sexta-feira e Julie a chamou para ir à casa dela depois da aula e até mesmo pedirem pizza para a janta. Um convite que foi muito bem aceito por ela.
- Flynn não vem hoje? - a null perguntou enquanto se sentava no sofá do estúdio.
- Não. Ela foi viajar com os pais, acho que foram visitar um avô ou avó, não me lembro agora. - Julie riu baixo, se sentando ao lado dela. - Ah, eu esqueci de te contar as novidades. Vamos tocar num show de halloween na semana que vem!
- Que ótimo! - null se desencostou do sofá para abraçar a amiga. - Claro que estarei lá para ver vocês.
- Sobre isso... - a morena começou, já com um sorriso travesso e olhos brilhantes, mas foi interrompida quando os três fantasmas brotaram na frente delas, dando um leve susto em null. Ela ainda não tinha se acostumado.
- Saiu sua nota?! - null foi rápido até a null, se apoiando em um joelho para ficar na mesma altura do sofá.
- Ahm, oi, null! - Julie fingiu ciúmes, fazendo uma careta de indignação pelo amigo a ter ignorado.
- Desculpa! - o null balançou a cabeça, encarando a amiga. – Oi, Julie. - voltou a atenção para null, fazendo todos os outros rirem com aquela cena.
null sentiu seu rosto quente pela situação levemente constrangedora e por null estar tão perto de si novamente. Ela deu um pigarro, abrindo a mochila para tirar a prova que estava dentro da pasta, fazendo um leve suspense de desdobrar e mostrar a nota azul que recebeu. Eles gritaram em comemoração e null não pensou duas vezes ao impulsionar o corpo para frente, passando os braços pela cintura da garota. null estava tão feliz e centrada no momento que o abraçou de volta por puro impulso, permanecendo naquele aperto por alguns segundos.
A comemoração cessou, Julie e os outros fantasmas encarando aquela cena de boca aberta. Aos poucos, null foi abrindo os olhos, dando conta do que estava fazendo, e se afastou minimamente para encarar o rapaz em sua frente, que estava igualmente perplexo. Ela desviou o olhar para os outros, observando as reações antes de voltar a encarar os olhos brilhantes de null e riu baixo.
- Como eu estou fazendo isso? - perguntou baixinho, ainda emocionada, e apertou levemente os ombros dele.
- E-Eu não sei! – respondeu, sincero, sorrindo de volta, e encarou os amigos. - Palpites?!
Todos se encararam, confusos, mas ainda admirados, apenas negando com a cabeça. null desfez o abraço, descendo as mãos pela cintura dela, passando levemente pela lateral das coxas, até parar em seus joelhos. - Quer dizer, já conseguimos abraçar Julie também, logo depois que achamos que iríamos ser desintegrados de vez por causa do Caleb... - explicou, vendo a garota repousar as mãos por cima das dele, e ele a segurou com firmeza, fazendo um leve carinho com seus polegares. null deu graças internamente por já estar sentada, suas pernas tremiam levemente e ela tinha certeza de que já teria caído. - Conseguimos abraçar outros vivos agora? - voltou a encarar null e null, que negaram rapidamente com a cabeça. Eles também não sabiam.
- Peraí! - a null se levantou com a ajuda de null, andando devagar até os outros dois fantasmas. Eles trocaram olhares cheios de expectativas enquanto estendiam as mãos para ela. null respirou fundo e segurou as mãos dos dois meninos ao mesmo tempo, abrindo a boca em surpresa ao sentir o aperto ser retribuído por eles.
- Caramba, isso é incrível! - null exclamou, sendo acompanhado por null, que puxou a garota para um abraço duplo.
- Abraço em grupo! - Julie gritou, puxando null e se jogando no meio deles, que agora trocavam risadas. Aos poucos eles foram se soltando, ainda extasiados pela sensação. null e null trocaram olhares novamente, sentindo o sorriso se alargar, e ele passou os braços por ela novamente, que agora segurou firme em seu pescoço, aproveitando para levantá-la do chão e girar com a garota. Os três restantes trocaram olhares desconfiados enquanto observavam o casal.
- Tava tão na nossa cara assim? - null perguntou, surpreso, encarando Julie.
- Eu ‘tô tão surpresa quanto você!
- Se toda vez que eu passar em uma prova tiver uma comemoração assim... - brincou.
- Será meu maior prazer te ajudar, null. - o null comentou, piscando um olho e sentando na poltrona que tinha ao lado do sofá.
- Bom, já que estamos todos calmos novamente... - Julie voltou a falar, aproveitando que já estava de pé. - Eu disse para null que teremos um show no Halloween, e como aquele dia que ela cantou com a gente foi simplesmente incrível... - ela sorriu abertamente para a amiga. - Queríamos saber de você, se você topa fazer novamente!
- Eu acho que já não posso mais falar "não", não é mesmo? - riu baixo.
- Não! - todos responderam em uníssono, fazendo-a rir ainda mais alto.
- Tudo bem! - levantou as mãos em rendimento. - Vai ser ótimo estar com vocês novamente.

So get up, get out, relight that spark. You know the rest by heart.

16 de dezembro



Não demorou muito para que o grupo passasse a frequentar a casa de null também. Sua tia Viv ficou surpresa com a visita de Julie e a energia vibrante que ela carregava junto de si. null encarou a mulher mais velha um pouco apreensivo, assim como os outros garotos, perguntando sem fazer som se ela podia vê-los também. null observou sua tia por alguns segundos enquanto ela conversava com sua amiga, sem prestar muita atenção ao redor, então ela apenas deu ombros e respondeu de volta que provavelmente não. Pelo menos até agora. A casa dela também tinha dois andares e um quintal relativamente espaçoso, com uma árvore que dividia sua sombra com o vizinho, lá fora também tinha uma mesa de madeira e um balanço em forma de rede. Acabou se tornando o espaço favorito do grupo.
Quando não estavam tocando saraus e festivais da cidade, null sempre fazia questão de passar tempo junto com null, ainda mais agora que sabia onde ela morava, pegando-a de surpresa de vez em quando.
- Eu ainda estou confuso com uma coisa... - ele comentou. Estava com meio corpo deitado em sua cama, com as pernas para fora do colchão enquanto ela arrumava algumas roupas em seu armário.
- Diga.
- Você e sua tia são médiuns, certo? - ele levantou a cabeça para encará-la e a null assentiu.
- Isso!
- E como que só você consegue nos ver... - nos tocar, completou em pensamento. - E ela não?
null guardou a última peça e se virou para ele, sentando ao seu lado da cama enquanto ele se levantava para se sentar também. - Eu também não sei bem o porquê. – suspirou. - Já aconteceu várias vezes dela ver algo e eu não e vice-versa, acredito que possa ter acontecido isso novamente. - mordeu a boca antes de encarar os olhos brilhantes do fantasma. - Mas ela já me disse que sente bastante quando vocês estão aqui... A energia se espalha por toda a casa, é algo bom, leve!
- Ela sabe quando estamos aqui?
- Sabe... Quando vocês foram embora na primeira vez que vieram, ela me perguntou se tinha "mais alguém" além da Julie, e eu fui sincera, não costumo guardar segredos dela. - sorriu fraco, desviando o olhar para as mãos dele.
- Ela sabe sobre mim? - perguntou um pouco mais baixinho, tomando as mãos dela agora.
- Sabe que eu tenho uma amizade incomum com alguns fantasmas. – brincou. - Ela já assistiu alguns shows que fizemos, logo veio me perguntar tudo sobre você e os outros meninos... Ela queria saber quem era o baixista bonitinho com quem divido uma dinâmica interessante quando cantamos juntos.
- Dinâmica? - ele franziu as sobrancelhas, brincando com alguns dedos dela. - null já comentou algo parecido, mas ele disse química, e null disse que era tão forte quanto a dele e Julie.
- Sério? - ela sorriu, surpresa, mordendo levemente a boca, sem saber muito bem o que dizer. null a observava com carinho, soltando uma de suas mãos para enrolar uma mecha dos cabelos null em seu dedo. - É tão estranho... Mas um estranho bom! - ele riu, subindo a mão por sua bochecha, onde fez um carinho nela que acabou fechando os olhos, aproveitando aquele momento. Não segurou o suspiro audível que escapou, fazendo null sorrir, e ele encostou sua testa na dela, ainda meio desacreditado que aquilo estava acontecendo. Os lábios dos dois quase se tocando quando ouviram algumas batidas na porta, fazendo com que eles se separassem com o susto, engolindo em seco.
- null? - a voz de sua tia ecoou do corredor.
- S-Sim!
- Eu fiz café e bolo, querida! Vem comer.
Ela suspirou, já mais calma do susto, e riu ao se sentir envergonhada. - Já vou!
- Posso ir também? - ele deu um pigarro e sorriu, divertido.
- Sempre!
Após aquele incidente, null ficou um pouco tímida ao redor dele e dos outros meninos, os olhos ficavam baixos ou então evitava encarar diretamente null, não conseguindo sustentar tanto seu olhar quanto antes. Demoraram alguns dias, mas Julie percebeu que tinha acontecido algo, assim como os outros dois fantasmas que acabaram questionando os amigos. Nenhum deles tinham motivo para guardar segredo, então eles resolveram abrir o jogo, null contou e null também, depois null e null contaram - fofocaram, melhor dizendo, para Julie. Os dois notaram que o resto do grupo tentava deixar eles dois sozinhos mais frequentemente, a fim de querer ver com os próprios olhos se rolava algo, mas até então não tiveram muito bem um clima para que a situação se repetisse.
- Pode parecer loucura, mas acho que eles estão tramando algo para nós. - null comentou e algo pareceu se iluminar na cabeça de null, que arregalou os olhos em surpresa.
- Que traíras!
- Você contou, não foi?
- Ahm... C-Contei o quê? - sua voz falhou e ela apenas arqueou uma sobrancelha. - Okay, sim... Eu contei. Mas porque eles são meus melhores amigos!
- null... - ela riu, caminhando até ele e repousando as mãos em seus braços devagar. - Eu não estou brava. - sorriu leve para acalmá-lo. - Somos todos amigos, uma hora eles iam descobrir. Não fizemos nada de errado... Ou fizemos?
- Não que eu saiba. Quer dizer, eu nunca morri e comecei a gostar de uma pessoa que estava viva antes, então... - ele disparou, rindo com a própria piada, mas null perdeu os movimentos e o ar. Só então ele se deu conta do que falou. - Eu falo sério.
null engoliu em seco, subindo as mãos até o rosto de null, fazendo um leve carinho com os polegares, e sentiu ele a puxando para mais perto. Seu coração errou uma batida e ela mordeu a boca, nervosa. - Eu também gosto de você, null. - falou baixinho, a testa dele repousada na dela, e ele tinha os olhos fechados. - É difícil explicar. - puxou o ar de volta, se afastando para encarar novamente os olhos brilhantes dele. - I got a spark in me... - cantou baixinho.
- I got a spark in me. - ele respondeu, tomando uma de suas mãos e a girou, numa valsa improvisada.
- And you're a part of me. - os sorrisos se alargaram e ele a guiou de um lado para o outro.
- And you're a part of me. - o nariz dele passou pela bochecha da null, junto com seu lábio superior, fazendo leves cócegas na pele dela.
- Now 'til eternity! - os dois cantaram juntos, parando aquela pequena dança e rindo. null a abraçando pela cintura, tirando seu corpo do chão e a girando, como na primeira vez que pode tocá-la.
Julie, null e null assistam aquela cena pela pequena abertura das portas do estúdio, todos com sorrisos no rosto. Não era o plano inicial, mas ainda ficaram felizes com o resultado após tantas tentativas, mas foi ali que eles também perceberam que não precisariam fazer mais nada, null e null eram naturais, quase como se fossem feitos um para o outro.

Wake up your dream and make it true



Quando o dia do baile finalmente chegou, null já estava uma pilha de nervos. Ela praticamente só falou sobre isso o mês inteiro, já que era a primeira vez na vida que se animava para um evento escolar. Ela até conseguiu um par! Steve, da sua aula de literatura, não hesitou em convidar a amiga para ser seu par da noite e ela aceitou de prontidão. Ao contar as novidades para os amigos, o peito de null afundou um pouco. Eles ainda não sabiam muito o que tinham. "Apenas amigos" estava fora de cogitação, principalmente quando os dois sempre trocavam carícias e olhares apaixonados, mas nenhum deles ainda tivera a coragem de oficializar fosse lá o que eles tinham. Como se define um relacionamento entre um fantasma e uma médium? Era inevitável ele sentir ciúmes, já que tudo que ele queria também era dançar com sua garota no meio da quadra pela noite toda.
No dia anterior, null e sua tia aproveitaram para pegar o vestido que ela tinha comprado há quase um mês e alguns outros acessórios para complementar o look da sobrinha. Agora as duas estavam se divertindo em um dia de spa, com direito a música, máscaras faciais e até massagem nos ombros, pois Viv viu que sua garota estava bastante tensa. O relógio marcava três e meia da tarde quando null saiu do banho, começando então todo seu ritual para se arrumar. Ela se sentia mais calma, mas seu estômago ainda parecia agitado com a ansiedade. Secou o cabelo e o prendeu em mechas para que pudesse ter várias ondas enquanto fazia a maquiagem. Ela não optou por nada que não soubesse fazer, passou um pouco de sombra marrom e um glitter mais rosado nas pálpebras que brilhavam sempre que piscava, finalizando com um delineado fino e um batom vermelho. Sua tia a ajudou com o vestido e a arrumar o cabelo do jeito que tanto gostava: preso na metade da cabeça com sua franja e uma mecha lateral soltas. As sandálias não eram muito altas, confortáveis o suficiente para que aguentasse a noite toda sem que precisasse tirá-las do pé.
- Eu te espero lá embaixo. - encarou a sobrinha pelo espelho da penteadeira, dando uma leve apertada nos ombros dela, segurando as lágrimas de emoção.
A porta fechou e null soltou o ar preso, se encarando mais algumas vezes, feliz com o resultado que refletia. Ela se levantou, indo até o espelho de corpo inteiro, onde virou algumas vezes para se observar. O vestido era preto, longo, mas o suficiente para não arrastar no chão, tinha um forro alguns centímetros mais curtos e uma camada de tule brilhante por cima, com uma marcação na cintura para dar movimento. Não tinha um decote muito grande e as alças caíam por seus ombros. Era o vestido perfeito. Ela colocou as novas pulseiras brilhantes e escolheu alguns novos anéis, deixando somente o colar de sua mãe no pescoço dessa vez, mas ainda sentia que faltava alguma coisa, então começou a testar alguns outros.
null apareceu em seu quarto de fininho, não fazendo barulho, e ela só notou sua presença quando o viu refletido no espelho, levando a mão ao peito com o susto.
- Desculpa! Eu não queria te assustar! - ele se apressou em ir até ela, que respirou e riu da situação.
- Acho que eu já deveria ter me acostumado a esse ponto, não é mesmo? - largou o acessório que tinha na penteadeira e se aproximou dele. - Oi!
- Oi... - ele respondeu, ainda meio bobo, descendo os olhos pelo corpo da garota. - Você... - ele estendeu sua mão para ela, segurando firmemente ao sentir o toque dela e a girou enquanto a observava, admirado. - Você está linda.
null sentiu o rosto esquentar, as batidas no peito voltando a acelerar, e ela sorriu de volta para ele. – Obrigada, null, de verdade. - ela voltou a se virar para o espelho. – ‘Tô com medo de que o vestido seja muito para a ocasião, mas eu não gostei de nenhum outro das lojas que fomos. É perfeito!
- Você vai ser a mais linda da festa inteira, eu tenho certeza. - ele apertou levemente o ombro exposto dela. - Olha, eu te trouxe uma coisa... Estava arrumando algumas coisas minhas e encontrei isso aqui, acho que vai combinar com você. - ele tirou o colar do bolso, abrindo o fecho para colocar nela. null afastou os cabelos de sua nuca, sentindo a corrente passar por seu pescoço. O colar era prata, com a corrente um pouco mais grossa do que ela já usava, com um pingente de rosa na ponta. Ele ia quase quatro dedos abaixo de sua medalha, fazendo o complemente perfeito. A rosa tinha alguns detalhes marcados nas pétalas e no caule, como se tivesse envelhecido ao longo dos anos. null deslizou levemente os dedos por seus braços e a observou pelo espelho, vendo o acessório cair perfeitamente nela.
- null, é lindo! - o sorriso se alargou e ela se virou para ele, segurando suas mãos antes de passar os braços pelo pescoço dele num abraço carinhoso. - Muito obrigada. - disse baixinho.
Ele a segurou pela cintura, se afastando apenas para encarar os olhos brilhantes dela.
- Sabia que ia gostar. Considere um presente!
- O melhor que já ganhei... - a mão dele fez um carinho em seu rosto, sem se cansar de observar todos os detalhes dela.
- Você está quase do meu tamanho! – comentou, divertido, e riu junto de null, que levantou um pouco a barra do vestido, mostrando os saltos que estava usando.
- Bom, você ainda continua quase um palmo mais alto. – deu de ombros. Eles ouviram uma buzina vinda da rua e Viv chamar por seu nome. Era Steve que viera buscá-la. null sentiu o peito apertar novamente, mas não demonstrou, apenas continuou sorrindo quando a garota voltou a encará-lo, segurando sua mão. - Eu preciso ir... Mas ainda nos vemos, certo? Mal posso esperar para ver você e o pessoal tocando no nosso baile!
- Sim! Claro... - assentiu rapidamente, trazendo a mão dela aos seus lábios e beijou o dorso antes de também beijar carinhosamente a testa dela. - Salva uma dança para mim?
- Quantas você quiser... - ela beijou rapidamente a bochecha dele, se virando para pegar a bolsa pequena em cima da cama e acenou sorridente para ele antes de sair do quarto.
Ela e Steve tiraram algumas fotos na sala junto com Marie e Clark, outro colega de classe dela, mas quase já o namorado da amiga, saindo de casa pouco depois das seis e meia. Quando chegaram na escola, null não deixou de ficar encantada com a visão, todos vestidos como se estivessem indo para um evento de gala, algumas meninas com vestidos mais simples, porém, igualmente lindos, enquanto outras não se importavam de chamar atenção. A null notou alguns olhares em si, retribuindo o sorriso para aqueles que conheciam.
Foi quando ela finalmente chegou na grande quadra que seu queixo foi ao chão. A decoração era azul e dourada, com tecidos drapeados nos cantos, vários arcos de balões, também com alguns espalhados pela pista de dança. O palco improvisado não estava muito alto e já tinha algumas peças montadas para as atrações que iriam passar ali. Elas encontraram com Lara e foram tirar mais fotos enquanto a música não começava, fazendo várias poses e caretas para memórias de cada momento. O diretor da escola subiu no palco, falando algumas palavras bonitas e até brincou que o discurso de fato estava guardado para o dia da colação, desejando boa festa a todos os alunos ali presentes. Flynn, a melhor amiga de Julie, assumiu o palco com seu set de músicas, fazendo a pista encher com aqueles que já haviam chegado. null demorou um pouco para ir dançar, ela e Lara experimentaram alguns dos salgados que estavam sendo servidos, além dos doces que estavam igualmente maravilhosos. Steve foi atrás dela novamente e ela então foi curtir um pouco com seus amigos, se divertindo e rindo do jeito que os meninos exageraram em certas danças.
- Aquela sua amiga Julie vai tocar que horas? - Marie perguntou enquanto descansavam em sua mesa, com várias garrafas de água espalhadas por ali.
- Não sei, eu perdi totalmente a noção do tempo. - a null riu, balançando os ombros e se esticando para ver uma pequena movimentação no palco, as luzes mudaram para um tom arroxeado. - Acho que agora! - ela se levantou, sendo acompanhada pelas amigas. Os pares tinham ido fazer algo que ela sinceramente não prestou atenção, então as meninas puderam curtir um pouco sem eles.
Julie entrou no palco, sendo recebida por aplausos calorosos e logo começou a cantar. A bateria já estava posicionada atrás dela e aos poucos os "hologramas", como os meninos eram chamados, foram aparecendo um de cada vez, com null sempre fazendo a finalização. Ela apenas lamentou não conseguir estar mais perto do palco para poder admirar melhor os amigos. Todos eles estavam lindos. Julie usava um vestido curto e roxo, com várias camadas de tule na saia que caia mais comprida atrás e um short metalizado da mesma cor, ainda com uma jaqueta preta coberta com pedrinhas brilhantes. Os cabelos soltos e volumosos dela davam um ar ainda mais de rockstar a ela. null usava calças pretas e uma camisa branca mais transparente, com detalhes ao redor de um decote que mostrava um pouco mais de seu peito, por cima o terno rosa bebê com detalhes pretos. null estava vestido com o que parecia ser um conjunto, calças azul marinho com o colete da mesma cor e uma blusa preta também com detalhes drapeados por baixo. Sem mangas, claro. Ele tinha um lenço comprido amarrado no braço esquerdo e por algum milagre, os cabelos que sempre caiam pela testa dele estavam agora penteados para o lado.
Mas foi seu olhar cair em null que ela perdeu o ar. Ele também estava com os cabelos penteados para trás, mas uma mecha teimosa caiu sob sua testa, usava calças e uma blusa preta de manga comprida, em contraste com o colete sem mangas, em um tecido vermelho quase brilhante com alguns detalhes em bordado preto. Ele estava lindo. Todos estavam. Apesar das roupas diferentes, todas elas estavam complementando umas as outras. A banda realmente não usava muito aquelas de fato, a última vez foi quando finalmente tocaram no Orpheum e como aquela também era uma ocasião bastante especial, resolveram tirar as roupas do armário novamente.
null procurou por null naquela multidão e se surpreendeu quando a viu dançando do lado em que ele estava do palco. Ela sorriu abertamente para ele, até mandando uma piscada de olho enquanto aproveitava o show. Foi um esforço grande para ele tirar os olhos dela, que parecia estar ainda mais linda com todas aquelas luzes brilhando nela, mas ele como bom músico que era, precisava criar laços com o público também, por mais que eram poucos os olhos na banda de fato, muitos dançavam com seus pares ou então em grupos. Até alguns professores estavam dançando! Era uma cena realmente bonita de se ver e ele não evitou de se pegar pensando em como seria a formatura dele e dos outros meninos.
Eles tocaram por quase duas horas que, para null, passaram rápidas demais, os meninos sumiram do palco, deixando apenas a garota que agradeceu e saiu. As luzes voltaram a ficar baixas enquanto uma música lenta começou a tocar e como ela estava sem seu par, voltou para a mesa de doces onde aproveitou mais alguns minutos até Steve aparecer, com algumas marcas no pescoço e com alguns fios de cabelo desalinhados. Provavelmente em uma sessão de amassos no corredor. A null segurou a risada quando ele ainda pediu uma dança somente com ela. Não que estivesse brava, nem nada, mas a situação em si era engraçada.
- Se divertiu? - comentou entre os risos baixos.
- O quê? - ele abriu a boca em surpresa e null apenas tombou a cabeça para o lado, sinalizando as marcas com os olhos. - Ah! Isso... - Steve sorriu sem graça. - Em minha defesa, eu não fazia ideia de que Katy também estava a fim de mim!
- Meu Deus, Stev! Você descobriu isso agora? - jogou a cabeça para trás, rindo junto com ele. - Talvez você devesse prestar mais atenção ao seu redor, querido. - ela passou os olhos pelo salão, vendo a garota de que estavam falando entrar na quadra novamente. - Chama ela para dançar...
- Sério?
- Sério! – assentiu, divertida. - Já fizemos praticamente tudo, tiramos fotos, dançamos, aproveitamos a banda, dançamos uma música lenta... E a festa ainda nem acabou! Acho que se vocês se gostam, não devem perder a oportunidade. - deu ombros, esperando a reação do amigo.
Steve sorriu, nervoso, e girou a null, dando um beijo quase estalado em sua bochecha.
- Você é incrível! - apertou sua mão e foi até Katy, onde voltaram a conversar.
Ela se sentiu feliz em ver aquela cena e fez seu caminho de volta para mesa, pegando outra garrafa de água no caminho. Marie e Lara estavam sentadas jogando conversa fora quando se juntou a elas, esticando uma das pernas na cadeira vazia ao seu lado. Menos de 15 minutos depois, a baixinha morena do vestido roxo apareceu eufórica do seu lado.
- Julie! - exclamou ao ver a amiga ali. - Vocês foram incríveis, como sempre.
- Eu preciso que você venha comigo. - ela mal agradeceu o elogio, apenas sorria de forma travessa e tinha a mão estendida para a null.
- Tá tudo bem? - franziu as sobrancelhas em preocupação enquanto se levantava de seu lugar, seguindo a liderança da amiga. - Aconteceu algo com os meninos?
- Não, estamos todos bens!
- Então o que aconteceu? Para onde você está me levando? - riu quando elas viraram o corredor, seguindo para o primeiro andar.
- Calma, você já vai descobrir. - Ela avistou null encostado na porta e acenou para ele, que logo veio ao encontro delas.
- Uau! - ele abriu a boca ao ver o vestido da null. - Você está incrível, null!
- Awn, obrigada, null. Você também está lindo, a cor do terno combinou bastante com você. - ele deu um sorriso galanteador até ouvir o pigarro de Julie.
- Ah, sim! - se posicionou atrás dela, colocando as mãos em seus olhos com cuidado para não estragar sua maquiagem. - Vamos seguir reto por mais alguns passos, okay?
- Gente, achei que fossemos amigos! Por que vocês querem me sequestrar? - brincou, segurando no ombro de Julie enquanto ela lhe guiava novamente, fazendo os dois rirem.
- Vai valer a pena, juro! - a morena disse, parando de andar. - Agora vamos todos ficar quietos para não estragar nada, sim? - null apenas assentiu, sorrindo fraco e ouviu o que pareceu ser uma porta abrindo, mas fechou quando ela passou. Mais alguns passos e a null foi posicionada no que ela pensou ser o centro da sala, ouviu uma luz ser ligada e null finalmente tirou as mãos de sua visão. Ela encontrou null parado em sua frente com null atrás dele, provavelmente fazendo a mesma coisa que null. Sorriram abertamente e então viram onde estavam.
Era uma das salas que a turma de teatro usava para ensaiar, o espelho estava coberto com as próprias cortinas, mas com alguns outros panos dourados por cima, além de estar nas outras paredes também. As luzes estavam apagadas dando lugar aos refletores do teto com uma luz muito mais suave, a máquina de fumaça deu um efeito no local assim como os balões e alguns confetes brilhantes que estavam espalhados pelo chão.
- Você que planejou tudo isso? - perguntou ainda meio boba, se aproximando dele.
- Estou tão surpreso quanto você... - disse baixo e seus olhos encararam os amigos, que agora sorriam de ponta a ponta.
- Depois de tudo, era óbvio que não iríamos deixar vocês sem sua dança! - Julie começou.
- Sabíamos também que vocês dois provável iriam escapar da festa para se encontrarem, deu para ver como null estava te olhando do palco. - null deu de ombros e o null coçou a nuca, envergonhado.
- Então como não queríamos que vocês tivessem uma primeira dança no corredor, improvisamos um pequeno baile aqui! - null terminou, passando um braço pelo ombro de null, que puxou Julie e eles se aproximaram do casal, dando um abraço em grupo.
- Eu não posso chorar, droga! - null exclamou, rindo enquanto limpava uma lágrima teimosa que escapou de seus olhos. - Não sei nem como agradecer!
- Vocês são os melhores amigos que alguém poderia ter! - null bateu nas costas dos dois amigos.
- Vamos deixar vocês aproveitarem o resto da noite e avisamos caso alguém suba até aqui. - Julie deu um último aceno antes de colocar a caixinha de som para tocar e fechar a porta, deixando os dois finalmente a sós.
null suspirou, ainda extasiada, e null estendeu uma de suas mãos para ela antes de passar o braço livre por sua cintura, balançando os corpos lentamente de um lado pro outro. Eles não trocaram muitas palavras, apenas aproveitaram a sensação de gostosa que era de estar um nos braços do outro. Do lado de fora, no corredor, Julie e null também dançaram juntos, também com null para que ele não sentisse tanta falta assim de um par romântico. Quando ouviram os primeiros acordes de 'Finally Free', eles trocaram olhares travessos, abrindo minimamente a porta para espiar os dois. null e null agora dançavam e pulavam de forma animada, trocando risadas enquanto ele a girava algumas vezes, até a abraçou fortemente, tirando o corpo dela do chão como amava fazer. Ela segurou firme em sua nuca, sentindo o corpo escorregar aos poucos.
"I got a spark in me. I got a spark in me. And you're a part of me. And you're a part of me. Now 'til eternity. Now 'til eternity! Been so long and now we're finally free!"
Eles cantaram novamente um para o outro, passando todo o sentimento naquelas melodias, e a null voltou a sentir seus olhos cheios de lágrimas. Era uma sensação de alegria, felicidade. Amor. Ela não esperava se apaixonar tão fortemente assim. null passou o polegar pela bochecha dela, limpando a lágrima fina e repousou a testa na dela, suspirando fortemente. null já estava de olhos fechados, completamente entregue quando sentiu o lábio superior de null passar levemente contra o seu e então ela sentiu o espaço entre as bocas finalmente ser cessado. Ele segurou firme seu rosto, a puxando para mais perto com o braço livre e ela enlaçou seu pescoço, aprofundando aquele beijo. Os três encararam aquela cena boquiabertos e fecharam novamente a porta, comemorando no corredor o acontecimento. Eles se separam, mas ainda com as bocas próximas uma da outra, até que null sentiu uma pressão no peito, mas diferente da outra vez, era uma pressão boa. Seu corpo começou a se iluminar com uma luz dourada e null o encarou, sem saber o que fazer, apenas apertando mais sua mão, que jurou estar mais quente agora. null e null também começaram a se sentir mais fortes, com a mesma luz brilhando neles, e Julie os puxou para um abraço.
null se sentia mais feliz e mais forte do que nunca, deixando algumas risadas bobas escaparem por estar tão leve com a situação. null estava igual, a energia que vinha dele parecia ser quase elétrica, passando como uma corrente por todo seu corpo.
- Been so long, and now we're finally free... - ela terminou de cantar, agora de forma baixa, segurando o rosto dele entre suas mãos enquanto roubava alguns selinhos.
- Til' eternity? - ele perguntou, divertido, fazendo com que ela sorrisse com a referência da própria música.
- Til' eternity...
- Promete?
- Eu prometo, null! - não importava quantas vezes ele perguntasse, a resposta sempre seria sim. Os dois haviam se encontrado por uma razão, null tinha certeza disso e aproveitaria cada momento disponível com ele, sem que ninguém no mundo pudesse jamais separá-los agora que finalmente estavam juntos.



Fim!



Nota da autora: Sem nota.

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Nota da beta: Eu tô APAIXONADAAAAAAA! Eu amei demais essa história, amei ela ficar com o null, amei o jeito que eles se aproximaram e como você fez tudo funcionar, você é maravilhosaaaaaaaaaaaaa! A história ficou perfeita, sério! 💙

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