Finalizada em: 04/06/2020

Capítulo Único

- Entra. - respondeu distraidamente enquanto analisava as imagens de uma coleção de quadros que havia recebido em seu e-mail. As pinturas eram muito coloridas e abstratas, interessantes o suficiente para ocuparem salas de estar e jantar.
- Com licença, senhor. - Jean, o assistente de vendas, aproximou-se da mesa e estendeu um envelope pardo.
Pegou da mão do homem e verificou o remetente, não encontrando nada. Ambos os lados estavam sem qualquer informação. Encarou o outro em confusão.
- Do que se trata? - Balançou a mão que segurava o envelope para indicá-lo.
O funcionário tinha uma expressão desconfortável.
- Stefano Vincenzo. - Soltou nervoso e saiu da sala.
O nome fez Pasquale largar o envelope em cima da mesa e massagear as têmporas. Suspeitava do motivo do contato e seria amargo.
Rasgou o topo do envelope e enfiou a mão, encontrando o anel de diamante e um cartão branco. As batidas do seu coração aceleraram, sentou-se mais ereto na cadeira de couro escuro e largou o envelope. Segurou o anel entre o dedo indicador e polegar, a bela pedra refletiu a luz da sala. Leu o cartão escrito com uma letra caprichosa.
Fique longe da minha filha!
- Droga! - Xingou indignado e soltou o cartão, vendo-o deslizar calmamente até alcançar o chão. Apertou o anel em punho e fechou os olhos, respirando fundo numa tentativa de manter o controle.
Sabia que não seria fácil quando soube quem era , a bela mulher que entrou em sua galeria em busca de um quadro, não desistiria tão facilmente do amor da sua vida.

xXx


havia lutado com toda a sua determinação e falhou miseravelmente. Vincenzo não estava ali em seu quarto e jamais estaria novamente. Doía, doía muito. Um mês que decidiu abrir mão da mulher e se fechou em seu próprio sofrimento. Havia aceitado o fato de que não poderia insistir ou forçá-la em algo que a mesma não acreditava. Após ter recebido o anel de noivado e a mensagem do sogro, decidiu ir até a mansão da família. Os Vincenzo eram uma família muito rica da Itália e que possuíam negócios legais e ilegais em todo o país. Perdera as contas de quantas vezes ouvia alguém dizer ‘’Escolha a morte, mas não irrite um Vincenzo.”, o que não entendia até acontecer com ele.

xXx


O mordomo pomposo o encarou com desdém e alegou que a família havia viajado para Florença na semana anterior. O que era mentira, pois antes de bater à porta, vislumbrou atrás da cortina rendada de sua janela no segundo andar. Por isso, deixou bem claro que esperaria o retorno deles ali nos degraus da entrada. O homem apenas o encarou com uma expressão contidamente divertida e fechou a porta.
ajeitou o paletó cinza que o deixava elegante para o seu trabalho diário e o mais dignamente possível, sentou-se nos degraus. O anel brincava entre seus dedos enquanto o olhar castanho observava o céu nublado e que ameaçava chuva. Torcia profundamente que intercedesse por ele ou sabia que o patriarca da família o deixaria ali até morrer de uma hipotermia. Pegou o celular no bolso da calça e verificou, mas não tinha recebido uma mensagem da amada. Soltou um suspiro triste e discou o número, caindo direto na caixa postal. Estava determinado a lutar pela mulher que amava, mas admitia ter medo de estar sendo em vão.

xXx


Duas horas depois, a chuva caiu forte e sem sinal de diminuir. Permaneceu firme no mesmo lugar, cruzou os braços na frente do corpo numa tentativa falha de se aquecer. O vento e a água estavam gelados e tornava tudo pior, tendo certeza que a gripe o alcançaria. Cobiçou a cobertura da entrada da mansão e que lhe daria uma boa proteção da chuva, mas ignorou o desejo de erguer-se e ir se proteger. Sabia que toda a família o assistia de perto, o sogro com o sorriso e a pose de sabe-tudo, certo de que o rapaz iria se acovardar e partir. não daria essa satisfação ao homem. Engoliu o sofrimento e concentrou-se na visão da fonte que ficava no pátio, os carros de luxo estacionados ao redor. A grama verde e bem aparada, diversos arbustos e árvores, uma propriedade imensa e que custava milhões.
Encolhia-se a cada rajada de vento mais forte, os cabelos castanhos encharcados e grudados na testa. A roupa grudada ao corpo e muito gelada.
Ninguém ousou abrir a porta para socorrê-lo, nem mesmo . Ninguém se apiedou ou levou em consideração a sua determinação em lutar pela amada. Isso não era uma prova de amor verdadeiro? Os pensamentos pessimistas e até mesmo sensatos, dominavam a sua cabeça. Entretanto, era um homem teimoso e determinado, não conseguia abandonar o campo de batalha até sair destruído, sem condições de abrir os olhos. Lutava para ganhar.
Por isso, se prendeu as lembranças e os momentos felizes que esteve ao lado da amada.
- ! - Ouviu a voz feminina e o seu coração bateu descompassado. Sentiu o corpo rígido ao se erguer e virou-se, viu na porta. Os cabelos castanhos que adorava brincar com os cachos estavam soltos. O corpo que conhecia cada detalhe, o qual beijou e acariciou várias noites, estava coberto por um vestido longo e florido. Ali, mesmo encharcado da cabeça aos pés, era capaz de apreciar e se sentir atingido pela beleza da amada. Os sentimentos que dominavam o seu coração, deixava-o sem fôlego e fazia com que esquecesse completamente de si mesmo. Poder compartilhar o mesmo ar e local que , era uma honra que ele amava experimentar. E todas as vezes eram como a primeira vez que se viram. Foi uma atração instantânea e arrebatadora, o prelúdio de uma paixão libertadora e que se tornaria um cavalo selvagem, perdido e sem rédeas, seguindo os próprios instintos.
amava a mulher.
- Você está bem? - Ela se aproximou até o limite da cobertura e abriu um guarda-chuva que ele não havia notado de tão atordoado ao vê-la. Colocou na mão rígida e fria do homem, deixando cair o anel nos degraus.
- … - Sussurrou atordoado, estendeu a mão livre e tocou o rosto da mulher. Todo o seu corpo se arrepiou com o contato quente no frio e o coração continuou batendo ainda mais rápido.
Ela o encarou com tristeza, parecendo não compartilhar da mesma sensação.
- Você precisa ir embora. - Pediu, a voz sofrida assim como seu olhar castanho.
- Não! - Falou determinado. A mão apertou o cabo do guarda-chuva e a expressão tornou-se séria.
- Acabou, .
Agradeceu aos céus por estar molhado e a mulher não ser capaz de distinguir a lágrima de uma gota.
- Por quê, ? - Questionou num sussurro sofrido. Continuou acariciando o rosto quente da mulher.
Viu-a abraçar o próprio corpo, os braços nus, pois o vestido era de alça.
- Por causa desse velho? Pelo dinheiro? - Insistiu indignado. Soltou o guarda-chuva e deixou-o partir com a rajada de vento.
- ! - Soltou surpresa com a atitude do homem. As mãos cobriram a própria boca, a expressão esbanjando surpresa.
- Me responde, ! - Exigiu. Abriu os braços em sinal de rendição e desviou o olhar para a porta, a raiva ferveu e dominou a sua língua. Apontou o dedo acusatório para o local atrás da mulher e sentiu-a quase se jogar para cima dele. Tentando fazê-lo permanecer no lugar, afinal, o ódio fervilhava em seu sangue e não permitiu que percebesse que estava se movimentando. Nem mesmo abalou-se ao tê-la novamente grudada ao seu corpo frio.
O sogro estava em pé com uma expressão de arrogância. A sogra e a cunhada se abraçavam com uma expressão triste. Todos ali eram reféns daquele homem, sofriam com suas manipulações.
- Você! - Continuou com o dedo apontado para o sogro, tentou dar mais um passo e baixou o braço, tentando libertar-se do aperto da amada. - Me solta, ! - Ordenou friamente.
- Vai embora, ! - Choramingou enquanto algumas lágrimas escapavam de seus olhos.
Ele parou no mesmo lugar, deixou os braços caírem ao lado do corpo e olhou-a.
- Só me diz o motivo. - Sussurrou enquanto segurava-a pela nuca.
A chuva começou a atingir o casal novamente, mas ambos ignoraram. Estavam submersos o suficiente em seu sofrimento para se importar.
- A minha família precisa de mim. - Confessou num sussurro. A expressão tornou-se séria, mas os olhos castanhos demonstravam o sofrimento.
Ele sentiu-se arrasado. Segurou-a pela nuca com as duas mãos, os cachos molhados grudaram ali. Acariciou com os polegares, a linha do maxilar em ambos os lados do rosto feminino. Sua visão tornou-se turva pelas lágrimas, a respiração prendeu-se em sua garganta. Nunca havia chorado por uma mulher e estava prestes a fazê-lo. Puxou ar pelo nariz em desespero e sentiu as lágrimas escaparem por seu rosto.
- Eu também preciso de você. - Confessou com a voz embargada, o olhar preso ao dela.
- Não. - Ela encarou-a de forma doce e tirou a mecha molhada da testa dele. - Você não precisa de mim, . - Soltou as mãos do homem de sua nuca e segurou-a. - Agora, vá! Acabou! - Forçou um sorriso confiante, mas que tornou-se uma careta de tristeza.
Ela estava molhada assim como ele. Continuavam na parte descoberta da entrada. Ambos sentiam frio, mas a dor da separação era maior do que qualquer outro sentimento.
- . - Chamou-a, mantendo as mãos da mulher nas suas. - Por favor, não. - Fungou e encarou os pés, envergonhado por implorar.
-
- . - O chamado autoritário interrompeu-a e reacendeu a raiva dentro do homem.
- Você é um homem egoísta, Stefano Vincenzo! - Acusou-o irado. Dessa vez, manteve as mãos da amada entre as suas, mas o olhar cortava o sogro feito navalha.
O mais velho riu, o mais puro desprezo.
- Eu faço o que julgo ser o melhor pela minha família, rapaz. - Deu de ombros e abriu um sorriso de desprezo. - Agora, saia da minha porta ou chamarei a polícia. - Ameaçou. Deu um último olhar para o mais jovem e sumiu porta a dentro, deixando apenas a esposa e filha caçula.
- , você ouviu o seu pai. - A mãe aconselhou a mulher, a expressão contida.
- E você faz parte da infelicidade da sua filha, Marta. - Ele falou calmamente, mas o olhar acusador.
A mulher ignorou e entrou, seguida da filha caçula.
- Chega, ! - A amada aumentou o tom de voz e chamou a atenção dele. Soltou as mãos do amado e aproximou o rosto do dele. Uniu seus lábios frios, mas logo se transformou em um beijo profundamente apaixonado. O gosto de despedida misturado com sofrimento inundava a boca de ambos. Finalmente, afastaram-se sem fôlego.
- Eu te amo, . - Declarou sofridamente ao vê-la se afastar até a porta. - Por favor, deixa eu te abraçar uma última vez. - Pediu num tom sofrido.
Viu-a ignorá-lo enquanto seguia até a porta onde o mordomo aguardava com uma enorme toalha branca.
- Por favor. - Insistiu.
A mulher não se virou, aceitou a toalha depositada em seus ombros e seguiu porta a dentro.
fechou as mãos em punho ao lado do corpo e sentiu mais lágrimas escorrerem por seu rosto.
- Com licença. - O mordomo disse friamente ao entrar e fechar a porta de entrada, deixando-o sozinho ali.
O homem libertou o choro enquanto fungava e virou-se. Quando desceu a escada, pisou no anel e ignorou-o. Havia custado uma fortuna, mas não precisava dele. Ironicamente, a chuva havia parado e a noite estava sem lua. Tudo muito sombrio, assim como o seu próprio coração.

xXx


Não tinha fome ou sono. O cigarro era o seu maior companheiro nas noites insones. Buscava ocupar a mente com o trabalho durante o dia, mas quando a escuridão caía, as lembranças voltavam à tona. E quando se dava conta, sentia a gota quente molhar sua bochecha e logo, se transformar em várias. Tentava ignorar a sua própria mente, mas os momentos felizes voltavam como replay. Cada canto da galeria, o escritório, a sua casa, tudo trazia ela à tona. Toda vez que permitia recordar, prometia que seria a última vez, mas continuava preso no loop. Como esquecer se estava em todos os lugares? Dominando o seu próprio coração?
sabia que não poderia esquecê-la.

Y no puedo olvidarte
E não posso te esquecer
Y no puedo olvidarte
E não posso te esquecer
Y no puedo olvidarte
E não posso te esquecer
Y no puedo olvidarte
E não posso te esquecer



Fim.




Nota da autora: Feliz de participar do ficstape desses lindos que marcaram minha infância <3 RBD FOREVER!!!! HAHAHA Obrigada por ter chegado até aqui! <3

E se gostou dessa fic, também confere as outras:

Café com Pattinson - [Atores - Em Andamento]
01. Raindrops (An angel cried) - [Ficstape #169 - Ariana Grande: Sweetener]
03. The light is coming - [Ficstape #169 - Ariana Grande: Sweetener]
05. Come Back Home - [Ficstape Calum Scott/Finalizada]

Nota da beta: Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.




comments powered by Disqus