Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

I dare you to challenge me
I'm begging for mercy please
Just watch! I'll give you something to follow
Cause I've been waiting so patiently (to the left)
Got fire come outta me
I fought you up again, I'm just letting you know
(I keep givin' you the)
We bring the fire
I'm a heat it up
Under my control
Here's the night that you've been waiting for
Fire
I'm a light it up
Gotta make it hot
This stage is mine
So set it up



considerava muitas coisas como detestáveis em sua vida, contudo, nada, absolutamente nada, em seus dias miseráveis parecia tão detestável quanto , o queridinho do curso de Direito. Jovem promissor, dezenove ou vinte anos, filho de um policial incrível e responsável, dono de um futuro brilhante como sucessor do inspetor ou como advogado criminalista —ele ainda não havia decidido, era o que os seus colegas costumavam contá-la. Não era como se ficasse pensando naquele projeto medíocre de bad boy britânico, não mesmo; ele sequer fazia seu tipo. O problema era que estava sempre presente para fazer de sua vida um inferno, como se não bastasse todas as confusões que aconteceram entre suas famílias ao longo dos anos.
— Eu acho que você só está sendo implicante — Rose, sua colega brasileira, comentou após ouvir suas reclamações acerca de . — Ele é legal, você é legal e ambos seriam bons amigos se não insistissem nessa rivalidade familiar que nem existe mais.
— Não acredito que você também está se rendendo àquele fedelho ridículo — rebateu um tanto emburrada. — Enfim, não falemos sobre isso. Está pronta para festejar seu último final de semana na cidade? Passou tão rápido, não acredito que vou perder o sotaque mais gostoso do mundo para sempre! — Rose riu e abraçou a colega de lado.
— Estou pronta e te encontro no metrô às sete. Você não vai perder meu sotaque para sempre, só por um longo período… preciso me formar, mas tenho planos de retornar à Inglaterra logo depois.
— Certo, espero que volte mesmo. Estou pronta para dividir a mesa com você — sorriu e ergueu o olhar para o portão da universidade, onde uma moto estacionava em uma manobra incomum e chamava a atenção. — Bom, minha carona chegou. Às sete e meia, no metrô!
— E você costuma dizer que o que é exibido… — Rose comentou e deu de ombros. — Cuide-se, . Sabe que esse cara não é o certo para você.
— Até mais tarde, Rose — fugiu da conversa, indo em direção ao namorado. No fundo, sabia que Rose estava certa: Chace não era o homem certo para ela, nem para ninguém. Mas, ainda assim, ele era tudo o que ela tinha depois de todo o caos que sua vida havia se transformado nos últimos anos. Chace fora seu alicerce, seu porto seguro e o amor que lhe faltava na casa em que deveria viver agora, já que seus pais haviam sido tirados de sua vida de forma tão brutal.
Sem olhar para trás ou pensar em qualquer outra coisa, sorriu e montou na garupa da moto. Não recebeu um olhar carinhoso, um beijo ou sequer um “oi”; mas, bom, não importava. Era o jeito de seu namorado — e não importava se ele estava olhando para as outras universitárias; era ela na garupa de sua moto e em sua cama todas as noites; isso deveria ser o suficiente para alguém como ela.

*

A noite estava agradável; típica de verão. As estrelas brilhavam forte do céu, rodeando uma grande lua cheia em um céu aberto e tão incomum na cidade de Londres. A brisa gelada batia nos corpos espalhados pelo jardim da mansão do filho do reitor da universidade e deixava-os arrepiados, porém, ainda mais excitados e animados. O som da música era estrondoso e ecoava por todo o quarteirão, certamente incomodando todos ao redor, entretanto ninguém se daria ao trabalho de ligar para a polícia e ousar a atrapalhar a festa do jovem mais importante da cidade naquela década.
Em um canto um tanto isolado, ria alto. O cigarro entre os dedos de uma mão e um braço em volta da cintura esguia da namorada, a promissora Elizabeth Johnson. Ao redor do casal tinha um grupo de jovens, cerca de seis ou sete. Todos bebiam e riam felizes, desfrutando da noite tão gostosa e atípica.
Repentinamente, sentiu os lábios macios e bem desenhados de Elizabeth grudarem aos seus. A mulher sorriu ao se afastar um pouco do namorado e sussurrou algo contra a boca alheia; ele, porém, não entendeu bem o que ela disse, mas deixou-a livre para soltar-se de seu abraço e cruzar o jardim a passos firmes. não deu importância e estava pronto para voltar a atenção ao que os amigos falavam, porém, a alguns metros à frente, algo atraiu sua atenção. Ao lado de um homem alto e de uma mulher baixinha e de cabelos pintados de rosa, a caloura caminhava lentamente. As roupas simples, porém, perfeitas ao corpo bem delineado chamaram sua atenção. Nos pés, um par de botas de salto a deixava quase da altura do homem que segurava sua mão firmemente, e os cabelos ondulados soltos ao vento eram o ponto forte daquele momento, deixando-a encantadora. Por um segundo, desejou-a, mas, em seguida, repreendeu-se mentalmente, lembrando a si mesmo que tinha uma namorada incrível, bonita, atenciosa e inteligente ao seu lado, não precisava desejar ninguém, tampouco uma caloura idiota que o odiava por questões familiares e outras milhares de histórias ridículas que só existiam na cabeça dela. não a conhecia tão bem, não sabia muito sobre sua vida; seu nome, quem eram seus pais e o que havia acontecido com eles era o suficiente para ele; principalmente depois de descobrir que a garota culpava seu pai por toda a desgraça que a cercava.
— Ei, qual é a da Elizabeth? — perguntou, atraindo a atenção do melhor amigo sem que os outros percebessem.
— Como assim? — encarou o melhor amigo, levando o cigarro até à boca.
— Ela não ia embora?
— Só quando ela se formar, cara — deu de ombros. — Pelo menos foi isso que ela me disse…
— Hum — encolheu-se um pouco, dando um gole em sua cerveja. — Ouvi dizer que ela conseguiu uma bolsa para os Estados Unidos para o próximo semestre e com honras… se ela quiser, pode ficar por lá para sempre.
sugou o cigarro com vontade, prendendo a fumaça pelo máximo de tempo que conseguiu. Quando soltou o ar, liberando a fumaça pelo nariz lentamente, encarou o amigo. Por fim, perguntou:
— E por que você ouviu sobre isso e eu não?
— Não sou eu que devo responder isso, . Eu faço parte do grêmio estudantil, ouço muitas coisas e a grande maioria é verdade. Você deveria perguntar à sua namorada por que cargas d'água você não sabe que ela vai embora antes da hora.
jogou o resto do cigarro no chão e pisou. Sem sequer fitar qualquer pessoa do círculo de amigos, saiu da rodinha a passos largos e apressados. Embora estivesse chateado com a informação do melhor amigo, preferia esperar que Elizabeth fosse conversar consigo. Ainda assim, era impossível não sentir-se apreensivo diante de uma notícia daquelas. Não que fosse um segredo a vontade que Elizabeth tinha de viver nos Estados Unidos; seus planos sempre incluíram seu diploma em jornalismo e uma viagem duradoura para o país tão adorado ao redor do mundo. Ela era inteligente o suficiente para conseguir uma bolsa e sua família tinha condições boas o suficiente para enviá-la para lá independentemente da época que ela decidisse ir. E isso era o que preocupava o jovem ; não se incomodava com as vontades da namorada, tampouco poderia, a vida era dela e ele a apoiava, ainda assim, não conseguia sentir-se totalmente seguro em relação à decisão dela. O que fariam caso ela fosse antes do previsto, teriam um relacionamento à distância? Jamais funcionaria, ele não era bom com aquilo e ela muito menos. Elizabeth conseguia ser ainda mais complicada e seu instinto de liberdade deixava-a sempre à beira do abismo, e ela normalmente preferia pular de cabeça do que mudar seus planos por causa de alguém. Ele não era muito diferente, e não se via longe da Inglaterra. Queria conseguir o trono da delegacia, que pertencia ao seu pai e a Charlie, apenas para si. Queria lutar ao lado de Charlie Raymond e sua equipe. Queria proteger seu país, servi-lo e faria o que fosse preciso para tal. No entanto, ao mesmo tempo, sentia que Elizabeth era o amor de sua vida, ou algo próximo a isso. Queria casar com ela dali uns anos, queria ser feliz, ser pai e cuidar de uma família, como seu pai fazia consigo ainda que não precisasse. Mas, no fundo, sabia que aquele futuro era irreal demais e, agora, estava mais ameaçado do que nunca. E ele faria o possível para fingir que não percebia seu relacionamento ir por água abaixo naquela noite.
— Ei, olha por onde anda! — Uma voz estridente invadiu seus ouvidos, finalmente tirando-o de seus devaneios. — Ah, tinha que ser você…
— Qual é a sua, caloura? — cuspiu as palavras um tanto irritado, tentando manter-se no lugar devido o esbarrão que dera na garota sem querer. — Eu não te vi, desculpa, estava distraído!
— Você está sempre distraído, rebateu, olhando-o dos pés à cabeça.
revirou os olhos e, após uns segundos, encarou-a com atenção. Ela estava sozinha e a maquiagem ao redor de seus olhos estava levemente borrada; suas bochechas e a ponta de seu nariz estavam pintadas num tom forte de vermelho, o que fez estranhar, já que, minutos antes, a garota parecia radiante.
— Está tudo bem? — Perguntou, por fim. Não era da sua conta, não se importava com ela, mas ficara curioso e levemente preocupado. O namorado de era bem conhecido no campus da faculdade, um típico mau elemento em quem ele adoraria pôr as mãos se já fosse um policial. Não duvidava da garota parecer tão murcha e chateada por culpa daquele imbecil; sentiu-se mal por ela.
— E por que não estaria?
— Caralho, garota, estou tentando ser legal. Você está um lixo. A maquiagem borrada, o rosto todo inchado e vermelho, parece que passou horas chorando. Quer saber? Foda-se! — tagarelou de uma só vez. — O problema é todo seu!
— Exatamente, Prtichard, o problema é meu! — gritou de volta, a voz quase sobressaindo à música alta do local. — Não preciso de você para porra nenhuma, moleque infantil! Agora sai da minha frente!
riu desacreditado, encarando-a nos olhos. Não moveu um músculo sequer, continuando parado na frente de feito uma muralha; era mais forte e mais alto, mas, ainda assim, ela não se intimidava e encarava-o igualmente — com o peito estufado, o queixo empinado e os olhos flamejantes. Um ódio quase palpável estava presente ali, de uma forma que desconhecia; jamais havia sentido tamanho ódio por ou vindo de alguém. era intensa demais, tinha a língua afiada e parecia não se abalar por nada, nem mesmo pelo sorriso bonito e o par de olhos profundos que ele possuía — era como se sua beleza não valesse de nada com aquela maldita caloura. Não que ele se importasse, não era isso, mas ela conseguia ferir seu ego sem falar uma só palavra, com apenas um olhar, como se quisesse humilhá-lo o tempo inteiro e isso o incomodava, porque funcionava; ele ficava abalado e desesperado querendo sair por cima e parecer superior, mesmo que não fosse aquele tipo de pessoa.
— Deve ser horrível, novata… — murmurou, dando um passo à frente. não se moveu. Ele lambeu os lábios e, por fim, disse: — Deve ser horrível querer tanto me dar e ter que fingir que me odeia.
Inesperadamente, deu um passo à frente e encarou-o profundamente, sem medo ou qualquer resquício de hesitação. Fitou todo o rosto alheio, focando alguns segundos na boca bem desenhada e nos lábios tão convidativos. Primeiro, ela sorriu. Depois, soltou uma risada fraca. Por último, gargalhou. Seus ombros sacudiram e os olhos lacrimejaram. não conseguia acreditar no que estava ouvindo. A cantada suja, tentando passar uma imagem sedutora, a sombra de deboche no sorriso, as palavras carregadas de uma sensualidade inexistente e forçada, o típico homem ridículo e cheio de si bem diante de seus olhos —quase não acreditou.
— Eu não quero te dar, — Respondeu após a crise de riso, mas ainda sustentava um sorriso de escárnio na boca bonita. — Mas, você certamente está louco para que eu vá parar em sua cama… sinto lhe informar, meu bem: você não faz meu tipo. Insolente, egocêntrico, presunçoso e convencido… — olhou-o dos pés à cabeça outra vez. — O que te faz pensar que vou abrir minhas pernas para alguém como você após algumas frases de efeito duvidoso? Nem todo mundo gosta ou cai no seu papinho, . Já parou para pensar que quem vai nessas suas ideias imundas só o faz para ter um certo status dentro da universidade? Ou, quem sabe, para conseguir drogas de maneira mais fácil? Você pode ser o filhinho do papai policial, príncipe da Inglaterra, legal, mas, nós, meros mortais, sabemos o que você realmente gosta e faz. Não se atreva a insinuar que estou sedenta por você novamente; pois, bem, não estou.
Sem dar a chance de responder, sabendo que ele falaria algo à altura ou extremamente grosseiro para sair por cima, virou as costas e partiu em direção à mansão —uma cerveja gelada talvez a fizesse esquecer os problemas da vida e a existência de .

*

estava irritado. A noite que tinha tudo para ser divertida e engraçada, estava, na verdade, sendo um grande pesadelo. Já havia se irritado com seu melhor amigo, com sua namorada e ouvido poucas e boas de uma caloura metida a superior. Agora, estava engolindo outro cigarro como se ele fosse a única coisa que pudesse apegar-se naquele momento. Ao seu lado, com o olhar distante e em um silêncio insuportável, estava Elizabeth —ainda sem resposta para as perguntas que ele lhe fizera.
— Elizabeth finalmente falou, atraindo sua atenção. — Eu sei que prometi que não iria tentar ir para os Estados Unidos agora, mas, a oportunidade surgiu.
— E você achou que seria legal esconder isso de mim? — a fitou com um olhar inexpressivo. — Pensei que fôssemos amigos acima de tudo, Beth. Não quero e nem vou me intrometer na sua vida. Só acho que deveria ter me falado, sinto como se eu não passasse confiança e segurança para você.
— Em relação a isso, para te falar a verdade: não passa, — Elizabeth suspirou e largou a garrafa vazia de cerveja no chão. — Você espera muito de mim como sua namorada. Isso é bom… até certo ponto. Sei que a gente se gosta, você me trata bem e temos uma química legal, só que… eu tenho meus planos e você tem os seus. Eu não pretendo ficar fora da Inglaterra por muito tempo, a bolsa é para apenas um semestre e isso vai me ajudar bastante. Eu quis pensar sobre o assunto, conversar com minha família e depois falar com você, quando já tivesse uma decisão tomada. Se eu deixasse para falar com você primeiro, sei que tentaria me convencer a ficar e acabaríamos brigando.
— Como agora?
— Sim, como agora. Mas, veja bem: a culpa não é minha se seu melhor amigo tem a maldita mania de tomar conta da vida de todos ao seu redor para ficar te paparicando e contando tudo o que sabe. não sabe os meus motivos, meus sonhos e minhas vontades, ele não tem o direito de falar sobre minha vida só porque sou sua namorada. Talvez você devesse rever suas amizades e pensar sobre isso. Por que ele sempre se intromete em tudo?
— Isso não é sobre o , Beth, é sobre nós.
— Não, , era para ser sobre mim, minha carreira e meus sonhos, mas sem soar de forma egoísta, porque eu queria ter tempo e espaço para falar com você sinceramente sobre o assunto. Era para ser uma discussão e decisão minha, e você deveria ouvir sem medo de ser deixado para trás ou qualquer coisa do tipo. Depois disso, sim, seria uma discussão sobre nós e o nosso namoro, que poderíamos resolver facilmente se nós gostamos tanto assim um do outro. Mas, de repente, tudo se tornou sobre briga, mentira e fofocas do . Entende? Eu não quero que ele fique falando de mim por aí, ele sequer me conhece! Qual direito ele tem de contar para você algo que eu deveria falar e te explicar o meu lado na história?
— Mas ele não estava falando a verdade? Qual a necessidade de você esconder isso de mim?
— Ele falou a verdade com a intenção de te colocar contra mim, mas essa sua cegueira pelo seu melhor amigo não permite que veja o controle que ele tenta ter sobre sua vida, . Está na hora de você superar o seu medo de acabar sozinho. Você não está sozinho, pelo contrário, eu sempre serei, no mínimo, sua amiga. Você tem seu pai, seus outros amigos, o pessoal da delegacia, o pessoal do fórum e do seu estágio. Por que você tem que dar ouvidos apenas ao ?
— Porque ele é o único que não me engana, Beth. Até agora se mostrou o único que me vê como alguém confiante de verdade.
Elizabeth riu em puro escárnio e suspirou, voltando a fitar o namorado no fundo dos olhos. Sentia muito por e todos seus traumas; infelizmente os detalhes sórdidos e sombrios de seu passado e sua família imunda fizeram com que ele vivesse em um eterno complexo de inferioridade e abandono. Para ele, a qualquer momento, todos iriam deixa-lo; como se ele houvesse nascido para viver sozinho já que, aparentemente, nem mesmo sua mãe o quisera —mas Elizabeth não sabia até que ponto aquilo era verdade, já que nunca sentiu sinceridade nas palavras do sogro acerca da falecida ex-esposa.
— Eu odeio te ver agindo assim, , como se fosse o ser humano mais odiado e desprezível da face da Terra — Elizabeth disse com uma calma que não possuía de verdade. — Você não é. Você é incrível, mas precisa aprender a pensar por si mesmo e perceber a maldade ao seu redor, mesmo que de pessoas próximas. Nós não vamos terminar essa conversa aqui, estamos em uma festa e deveríamos estar aproveitando e festejando com nossos amigos.
— Nós ainda somos um casal, Beth, mesmo depois disso tudo, depois dos problemas dos últimos meses? — murmurou, mudando de assunto. Não gostava de ter suas fraquezas expostas. E, naquele momento, saber sobre seu relacionamento parecia mais importante do que lidar com as insinuações que Elizabeth fazia com que isso acontecesse.
— Não sei, , me diz você: somos?
— Eu gostaria que fôssemos, mas não sinto isso. Não mais.
Elizabeth sorriu de maneira triste. Os últimos meses haviam sido difíceis, terminaram e voltaram mais vezes do que poderiam contar; brigaram muito também. Pareciam dois desconhecidos que se odiavam mais do que tudo, quando, na verdade, deveriam ser amigos e namorados cheios de planos para o futuro —como haviam sido no começo, há alguns anos, logo que saíam da escola.
— Então, você já tem a sua resposta.
— Estamos terminando de novo?
— Até você decidir andar com as próprias pernas, sim, estamos terminando de novo. Quando você conseguir enxergar as coisas ao redor, talvez possamos tentar outra vez.
pensou que sentiria um peso maior e uma dor insuportável no fundo do peito quando Elizabeth dissesse aquelas palavras, no entanto, após ouvi-las e ver a mulher lhe dar as costas, não sentiu nada além do vazio. O medo de ser abandonado já não estava mais ali; havia se acostumado a ser deixado de lado e se conformara com sua posição perante as pessoas. Não sabia até onde era coisa de sua cabeça, e até onde era coisa de outras pessoas que implantavam em sua cabeça, mas, naquele momento, não fazia mais diferença. Queria que Elizabeth fosse feliz, com ou sem ele. Assim como também gostaria de ser feliz e aproveitar o resto da festa; não tinha muito mais o que fazer a não ser se divertir pelo menos uma última vez naquele semestre.
O cigarro que tinha entre os dedos, já no final, foi de encontro ao chão, sendo apagado pela ponta de seu coturno moderno e a dose de alguma coisa alcoólica que jazia esquecida em sua mão desceu queimando sua garganta. Era hora de voltar a ser o que dominava todas as festas, não o deprimido por causa dos seus traumas de infância.
Ao longe, avistou a caloura metida outra vez e um sorriso brotou em seus lábios. Talvez fosse o momento de trazer a diversão de volta para aquela festa.

*

revirou os olhos pela milésima vez naquela noite. A festa que tinha tudo para ser a despedida perfeita de Rose, estava sendo um completo desastre —não por causa de sua amiga ou por estar ruim; mas, sim, por conta de outras pessoas, incluindo seu próprio namorado e o maldito encosto que jazia ao seu lado com um sorriso debochado. De todas as festas frustradas que já havia ido em sua vida, aquela estava sendo insuperável. Primeiro, Chace sumira sem nenhum aviso prévio, deixando-a sozinha, já que Rose havia encontrado seu “ficante” logo nos primeiros minutos da festa; segundo, havia, outra vez, surgido diante de seus olhos quando, na realidade, ela só queria distância de toda sua arrogância e petulância. Como se não bastasse, quando finalmente conseguiu encontrar um momento de paz, o mauricinho havia retornado de seus piores pesadelos para fazer absolutamente nada ao seu lado quando tinha todo aquele terreno enorme para desfrutar.
— Noite solitária, novata? — Ele perguntou, por fim, em um tom ameno, porém, ainda assim, debochado.
— Não sei, cara, me diga você — rebateu cansada; não queria mais brigar, mas também não queria lhe dar corda, queria paz. — Por que está aqui?
— Porque também estou solitário hoje — deu de ombros, virando-se para olhá-la nos olhos. — Minha namorada acabou de terminar comigo para fazer uma viagem aos Estados Unidos e porque, de acordo com ela, eu não tenho as rédeas da minha própria vida.
— E eu com isso, ?
— Você parece estar passando pela mesma situação, . A diferença é que seu namorado é um completo babaca que só te suga e te faz mal.
— O que você sabe do meu namoro e quem garante que você não foi isso tudo com sua namorada?
— Eu fui babaca com a Elizabeth muitas vezes ao longo desses anos de namoro — assumiu com pesar. — Mas, acredite, caloura: eu nunca a toquei de maneira indevida, nunca a forcei fazer o que não queria e muito menos a agredi de alguma forma.
Automaticamente, levou uma das mãos ao próprio pescoço, querendo escondê-lo de alguma forma. Sentiu-se envergonhada repentinamente, perguntando-se como foi que deixou-se atingir tanto e tão rápido por algumas palavras de impacto de , o cara que ela mais odiava naquela universidade. Não que ele estivesse mentindo, ela sabia que não estava, mas, ainda assim, Chace tinha seus motivos para fazer tudo o que fazia com ela… não tinha?
— Não precisa ficar acuada por algo que você não tem controle nem culpa — murmurou. — Mas, bem, as pessoas comentam por todo o campus; acaba sendo impossível não ouvir e perceber que os boatos são verdadeiros.
— Vocês não sabem de nada — voltou à postura rígida e defensiva. — São um bando de desocupados que só sabem falar da vida alheia; Chace nunca levantou a mão para mim — Mentiu, mesmo que sua voz embargada e falhada a denunciasse por completo.
soltou um riso fraco, enfim entendendo que não deveria se meter naquilo e tampouco falar sobre. Ao encarar o salão repleto de jovens bêbados, pôde enxergar um dos colegas com um barril de cerveja andando entre as pessoas e servindo-as com maestria, entre risos e gritos. Animou-se, por fim, e ficou nas pontas dos pés enquanto assobiava e balançava os braços, chamando atenção. O garoto da cerveja não demorou muito para chegar até onde estava, oferecendo-o dois copos grandes e cheios da bebida. Tão rápido quanto veio atender ao colega, o garoto se foi, deixando e sozinhos outra vez.
— Bebe aí — murmurou, entregando um dos copos para . — Posso não saber nada sobre relacionamentos, mas sei que não existe nada que uma boa cerveja gelada não possa curar.
ponderou entre aceitar e afundar-se na bebida de uma vez por todas e mandar aquele maldito para o quinto dos infernos; um dilema que vinha encarando mais vezes do que poderia contar naquela noite. Por fim, pegou o copo que lhe era estendido e ignorou o sorriso satisfeito que recebeu em troca. não se deu ao trabalho de agradecer, de iniciar algum assunto inútil e de tampouco olhá-lo outra vez; estava irritada, apesar de tudo. parecia conhecê-la bem demais, e isso a assustava, já que nunca foram próximos ou tiveram tanto contato mesmo que as famílias tenham sido próximas há alguns anos.
, em contrapartida, achou graça no jogo duro que a garota queria fazer. Não que tivesse segundas intenções com ela, não era isso, mesmo que fosse extremamente bonita e atraente; aquelas ações, os posicionamentos precipitados e as frases cortantes deixavam-na… fofa. E constatar isso era engraçado para ele, porque sempre acreditou que odiaria aquela estudante tal qual era odiado; mas, ali, diante dela e com um copo de cerveja nas mãos, constatou que achava apenas engraçado e fofo —e seria legal e divertido provocá-la.

*

deixou que mais uma risada escapasse alta, quase deixando-o zonzo tamanha a força que a gargalhada explodira. Ao seu lado, rodeada de copos de bebidas alcoólicas, estava uma de bochechas coradas e cabelo bagunçado, contando piadas e momentos engraçados de sua vida com o tom de voz alto e enrolado —não muito diferente dele, que já não estava mais tão sóbrio assim.
— Até que você é engraçada, caloura — soltou de repente, ainda sorrindo. — Eu pensei que você era só mais uma falsa rebelde a fim de destilar o ódio para cima de mim.
— O mundo não gira ao seu redor, respondeu com um sorriso simpático na boca, encarando-o sem nenhum resquício de raiva ou repulsa. — Eu ainda não gosto de você, mas hoje estávamos tendo uma noite de merda e extremamente solitários. Por que não dar uma chance? Ficar bêbada acompanhada é muito melhor, mesmo quando a companhia é você.
— Nossa, eu sou tão desprezível assim?
— Só um pouquinho.
— Não existe mesmo a chance de sermos amigos um dia?
— Não sei, . Talvez a gente nunca mais se veja depois de hoje.
Quando se preparou para rebater, ergueu-se de supetão e começou a pular enquanto cantarolava a música recém iniciada. Ele não reconheceu a música de imediato, mas sabia que era algum hit recente da banda Incubus. A informação acabou ficando de lado, seu foco indo todo para e sua cantoria desafinada que combinava perfeitamente com a dança desengonçada. Ela era uma garota adorável e lhe arrancava sorrisos sem muito esforço; queria tê-la como amiga, no mínimo.
— O que você ‘tá olhando?! — gritou empolgada. — Vem, dança comigo, !
não encontrou outra saída a não ser juntar-se à caloura naquele cantinho que virou uma pista de dança particular improvisada. A bebida parecia estar correndo mais rápido em suas veias, levando-os à beira da embriaguez. Pulavam, dançavam e cantavam como se não houvesse nada além dos dois ao redor; não repararam nos olhares tortos que recebiam, tampouco nos comentários que algumas poucas pessoas desocupadas faziam; nada importava, no fim das contas —apenas eles, a música e aquela madrugada improvável e deliciosa.
Sem ao menos perceber, estava tão perto de que as respirações se misturavam enquanto dançavam e riam juntos. Os corpos sincronizados e se esbarrando, causando arrepios involuntários e inesperados, deixando-os confusos com as sensações que estavam compartilhando, mas não tinham coragem de se afastar. Os olhares estavam conectados e os corpos cada vez mais próximos, e agora mais lentos. A música ainda estourava alta e agitada pelas caixas de som espalhadas pelo local, mas eles não tinham o mesmo fervor que elas —não mais. Os cheiros se misturavam, o suor de ambos era compartilhado intimamente através das mãos, agora, unidas. Os dedos entrelaçados e apertados, o toque macio e confortável, diferente e intenso.
— Você tinha razão — sussurrou ao aproximar-se mais do rosto de , para que somente ele a escutasse. — É horrível te desejar tanto e ter que fingir que te odeio.
Pela primeira vez na noite, ficou sem palavras. No entanto, seu coração estava acelerado e um frio lhe tomou a espinha, como se estivesse descendo uma montanha russa em alta velocidade. Suas mãos suaram mais e todo seu corpo se arrepiou outra vez; não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Por um segundo, pensou que estava alucinando; entretanto, ao fitar o olhar determinado e destemido que sustava, teve certeza que estava ouvindo direito. E foi naquele momento, sob aquele olhar e com um sorriso bobo e encantando na boca, que decidiu entregar-se também. Ele não precisou dizer nada, apenas puxou-a pela mão que já estava entrelaçada à sua e colou seus lábios em um beijo intenso.

*

e não sabiam explicar como diabos haviam ido parar em um quarto daquela casa. Para falar a verdade, sequer pensaram que conseguiriam acesso livre à casa, de fato. Ainda assim, estavam ali: em um quarto pequeno e escuro, colados um no outro e com as mãos apalpando os corpos com pressa e curiosidade. Os lábios, já inchados e vermelhos, passeavam por todo pedaço de pele que encontravam, arrancando suspiros profundos e gemidos baixos um do outro. A sensação de pertencimento fora automática ao caírem juntos sobre o colchão de solteiro da cama do outro lado do cômodo. Uma risada escapou do fundo da garganta de e sorriu, feliz, ao escutá-la. Sabia que as reações que ambos estavam tendo eram sinceras e verdadeiras, incomuns demais para os dois naquele semestre que havia deixado suas vidas de cabeça para baixo. Mesmo depois de todas as brigas e xingamentos, estavam ali, juntos, excitados e extasiados.
Não demorou muito para as roupas irem de encontro ao chão, assim como não demorou para os gemidos altos e sôfregos ecoarem por todo o ambiente, excitando-os e estimulando-os cada vez mais.
ia fundo e lento, arrancando xingamentos e súplicas de abaixo de seu corpo. Sentiam-se em chamas e com uma conexão jamais vista ou sentida. A cada movimento, a cada toque e a cada murmúrio, mergulhavam mais fundo em um frenesi que beirava ao surreal —completavam-se deliciosamente bem. Era como se o corpo de tivesse sido moldado apenas para receber o de , que fora feito apenas para invadi-la. As peles quentes e suadas, os íntimos conectados, a sonoridade das vozes roucas e sensíveis, o orgasmo mútuo se aproximando, sincronizados. Frenesi.
ergueu o colo com tesão, colando-se em com mais vontade e profundidade, seus olhos reviraram e seus dedos embolaram em um prazer puro e verdadeiro. sentiu-se arder ao tê-la tão apertada e molhada em volta de si, sentindo as unhas longas e firmes arranhando-o dos ombros ao meio das costas largas; arrepiou-se, gemeu ao pé do ouvido da mulher e entregou-se a um orgasmo cegante. Sentiu-se ir de encontro ao paraíso mais pecaminoso e sensual que pudesse existir. Um paraíso apenas deles dois, um segredo, uma passagem secreta para um universo paralelo criado apenas para recebê-los; quase como um sonho, uma sensação.
O que eles não sabiam, porém, é que na manhã seguinte nenhum dos dois se lembraria daquela noite.


Fim



Nota da autora: E foi isso hahaha como se sentem finalmente conhecendo nossos personagens na transição para a vida adulta? Não consegui abordar tantas coisas, e também nem daria, mas ‘tô bem satisfeita com o resultado! Deu pra gente conhecer um pouco mais dos principais, o porquê deles terem algumas manias (o pp, por exemplo, com essa coisa de abandono e de sempre ouvir cegamente as pessoas próximas a ele -quem leu a PMI sabe o quanto ele sofreu por conta dessa confiança exagerada-), conhecemos a Elizabeth universitária -coisa que eu sempre quis mostrar pra vocês porque sou apaixonada nessa mulher hahaha-. E uma coisa muito importante: eles realmente NÃO SE LEMBRAM que essa noite aconteceu, ok? Hahaha por isso não é citado em momento nenhum, na Pull me in 1 nem na 2, que eles tiveram um rolo. É falado apenas que eles estudaram na mesma universidade e tinham alguns impasses, que perduraram a vida inteira, até eles atingirem os objetivos profissionais que tinham. Tem uma outra coisinha implícita aí também, mas essa coisinha só quem já leu a PMI 2 vai perceber (e se prestar muuuita atenção!). Uma dica: tem a ver com a pp e os segredinhos dela, e aquele probleminha que ela tem... hahaha essa é só pra quem realmente presta atenção nos detalhes tanto das duas partes quanto desse spin-off! Enfim! Foi isso. Não esqueçam de comentar! <3





Outras Fanfics:
» Pull Me In
» Pull Me In 2 - Fire
» Sombras do Passado
» Supernova

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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