02. I'm a Mess






-Essa é minha música favorita - disse, cantarolando em torno da piscina - Você tem que escutar. - riu da morena, que estava levemente alterada devido às cervejas que estavam dividindo.
- Seu gosto musical é muito ruim - revirou os olhos e ela riu.
- Você vai amar essa, eu juro! - ela riu e ele concordou com a cabeça.
- Posso escutar, mas com uma condição - olhava intensamente para , que correspondia sem hesitar, mesmo não entendendo o real valor do olhar.
- E qual seria? - falou arrastado, ainda se movimentando em torno do menino
- Um beijo - ele disse, se aproximando sem antes esperar uma resposta.
- Mas... sua namorada? - não podia esconder a felicidade daquele momento, porém sua consciência falou mais rápido. Ela poderia ignorá-la facilmente, no entanto.
Ele murmurou algo sem sentido e fez algum tipo de careta.
- Shhh - ele disse e uniu seus lábios com os da garota habilmente, fazendo-a soltar um suspiro.
- Isso é tão errado - ela pausou o beijo com um sorriso.
- Você sente como se fosse errado? - o loiro provocou, dando beijos estratégicos no pescoço da garota.
- Nunca senti algo tão certo - sussurrou e voltou à atenção para os lábios do garoto.
Naquele momento, nada importava: quem poderia vê-los, o quanto aquilo era errado, o quão mal se sentiria no dia seguinte, a possibilidade da melhor amizade de sua vida ser estragada.
Desde que estivessem juntos, tudo ficaria bem.
[...]

A música alta preenchia os ouvidos de , que tentava, frustradamente, dançar sem prestar atenção na cena revoltante que acontecia a alguns metros dela e de suas amigas.
Ela estava cansada de ficar triste e por isso decidira deixar os estudos acumulados por uma noite e dançar até cair com algumas de suas melhores amigas. Mas ela não esperava vê-lo ali.
Por isso, deixou as amigas sem qualquer explicação e foi até o bar, pedindo mais um shot de tequila. Sabia que teria que voltar para casa dirigindo, mas realmente não se importava. Seu pesadelo de um metro e oitenta e cinco insistia em persegui-lá para todos os lugares. Era sufocante ouvir suas gargalhadas durante a noite, enquanto ela se preparava para dormir, e saber que já não era mais a causadora delas. Era irritante ter descer cinco andares de escada só para não ter que dividir o elevador com ele. Mas o pior era vê-lo ficar com outras meninas quando, no fundo, ela sabia que eles tinham uma ligação especial.
A tequila, esperançosamente, iria tirar apagar todos os seus lamentos, por isso não hesitou em pedir outra. E outra. Se sentindo mais leve e alegre, voltou até onde tinha deixado suas amigas. Não se surpreendeu ao perceber que Isabella e Júlia conversavam animadamente com dois meninos que ela jurava ter visto em algum ponto de sua vida. Deu de ombros e começou a dançar sozinha, no meio da multidão, e pegou uma taça de uma bebida qualquer que um garçom estava servindo.
Ela sorria distraída ao balançar os quadris no ritmo da música, e não percebeu quando um moreno de olhos azuis se aproximou, sorrindo sedutor para ela.
- - sussurrou em seu ouvido - Pensei que nunca te veria em uma balada... - ela gargalhou e revirou os olhos, tentando focar a visão no garoto a sua frente.
- Ah, você não sabe de nada - os dois riram - Agora vai arranjar outra pra importunar, Bixo - Pedro revirou os olhos e deu um beijo na testa da menina. Antes que ele pudesse se afastar, no entanto, foi puxado para longe por dois braços fortes, que não pode deixar de notar que conhecia muito bem.
- O que você acha que está fazendo? - ela disse entredentes, controlando sua raiva, e empurrou o peito largo do loiro, afastando-o de Pedro. abriu a boca para responder, mas suas palavras eram incompreensíveis. Isso bastou para que o puxasse de lá e lançasse um olhar de desculpas para o amigo.
- Nós vamos embora - anunciou, enquanto tentava empurrar para a direção correta.
- Ei, eu não quero ir - segurou os braços da menina e se posicionou em sua frente - Quero ficar aqui e dançar com você - a menina riu brevemente. Ele era um péssimo dançarino e ela tentara, em vão, ensiná-lo a não parecer patético alguns meses atrás. Essa memória fez com que seus olhos lacrimejassem, mas se recompôs rápido.
- Você tá muito bêbado - ela balançou a cabeça negativamente - E só me dá trabalho - murmurou mais para si mesma do que para ele e saiu da balada, acompanhada de perto pelo loiro.
- Eu é que costumava dizer isso... - ele riu e tirou a chave de seu carro do bolso - , os tempos mudaram - ela riu amargurada e pegou a chave da mão do menino. Se ele pensava que iria dirigir, estava muito enganado. Ela o levou em direção ao seu carro e não precisou de muita força para colocá-lo no banco. Entrou rapidamente no veículo e, com um pouco de esforço, conseguiu sair do estacionamento apertado e pegou a avenida que levava em direção ao prédio dos dois. Antes que pudesse evitar, no entanto, as lembranças a atingiram em cheio.

Xx

- Sabe, não que eu goste dele - revirou os olhos, se sentindo incrivelmente confortável ao conversar com aquele estranho que acabara de conhecer - Mas ele não devia ficar com cinco meninas na minha frente.
- Você certamente não merece isso. Ele é um idiota - Otavio disse, antes de entortar todo o líquido de seu copo - Mas você não devia ficar aqui vendo isso, vamos embora - pegou uma garrafa de vodka que não os pertencia e segurou pelo braço, esperando por uma resposta para o pedido. A menina gargalhou e isso foi o suficiente para que ele a levasse até seu lugar favorito da cidade.
- Ok, como eu nunca tinha vindo aqui? - olhava, boquiaberta, para a vista que aquele lugar proporcionava. Ela podia ver boa parte da cidade de Ribeirão Preto com todas suas luzes e atrativos.
- Esse lugar é meu segredo - ele sorriu e deu um gole na bebida.
- Espero que saiba que vai ter que compartilhá-lo comigo - ele gargalhou e confirmou com a cabeça, fazendo-a alargar o sorriso, que não saíra de seu rosto desde que começou a conversar com o menino.
- Ah, eu tive uma ideia! - exclamou, deixando a menina curiosa por alguns instantes - Um gole na bebida, um segredo.
- Eu adorei! - ela riu - Vou começar.
Depois de muitas gargalhadas e uma garrafa de vodka terminada, não conseguia nem ao menos ficar em pé. não estava muito diferente, porém conseguiu carregá-la até a casa de sua avó.
- Só dá trabalho - fez uma falsa expressão de raiva ao deixá-la na porta.
- Você adora - ela riu - Boa viagem, estranho.
Ele riu à menção da palavra, já que tinha se mostrado completamente para a menina naquela noite.
- Te vejo em breve.
- Ribeirão te espera, loiro! - ela gritou, completamente alterada e entrou na casa, deixando o novo amigo com uma expressão sorridente para trás.

Xx

- Entra - disse, abrindo a porta do apartamento do menino. Ele sempre a deixava destrancada, alegando que ninguém invadiria o quarto andar do prédio, somente os três primeiros. sempre reclamara e rira da ideia, mas caso a porta não estivesse aberta, ela nunca conseguiria deixá-lo em seu apartamento, já que ele estava sem condições para se lembrar onde tinha deixado as chaves.
- Não sei o que seria de mim sem você - ele disse, jogando-se no sofá - Obrigada, .
- Você não merece nem metade do que eu faço por você, sabia? - disse, com lágrimas nos olhos - Tome um banho e coma alguma coisa, tá bem? E tranque essa maldita porta. - fechou a porta ao dizer isso e correu para as escadas, esperando que ele não tivesse visto suas lágrimas, que a acompanhariam pelo resto da noite.
Ela sabia desde o inicio que tudo que começava errado não tinha como terminar bem. Mas a emoção sempre falava mais alto quando se tratava de .

[...]

A morena acordou com uma ressaca pesada, mas com um bom-humor que a muito não sentia. Por isso, levantou-se rapidamente e foi até o banheiro para tomar um longo banho quente.
Renovada, mandou mensagem para todas suas amigas mais próximas, avisando que as pegaria em cerca de uma hora para que almoçassem em algum bar da cidade. Recebeu mensagens animadas em resposta, afinal, ela sempre era obrigada a sair de casa pelas amigas e não as chamava para qualquer coisa desde o fatídico dia que teve seu coração quebrado.
Não esperava, no entanto, que seu bom-humor fosse estraçalhado ao ver o causador de toda sua angústia sentado em seu sofá.
- Mas o que diabos você está fazendo aqui, ? - gritou e corou, percebendo estar só de toalha e cruzou os braços, tentando parecer mais vestida.
- Eu... - o menino perdeu o rumo da fala ao vê-la só de toalha, mas logo tratou de continuar. Sabia muito bem que ela o expulsaria dali em alguns minutos se não tivesse um bom argumento para entrar em seu apartamento sem avisar. Riu, irônico, pensando em como isso era frequente antigamente - Vim pedir desculpas?
- Desculpas? - disse, ainda emburrada.
- Por ontem. Eu não queria te dar trabalho - a menina suspirou. Aquele era o menor dos problemas que acontecia entre os dois.
- Tudo bem. Agora, vou me trocar. Te vejo por ai - lançou-lhe um olhar distante e girou nos calcanhares, indo até seu quarto.
- Espera! - aumentou um pouco o tom de voz e tolamente desejou que ele lhe pedisse desculpas pelo tanto que a fez sofrer. Mas sabia que não era isso o que escutaria a seguir - Você pode me levar pra pegar meu carro?
revirou os olhos e riu.
- Tá. Mas só porque eu tô saindo.
- Obrigada! Vou te esperar na recepção - disse e saiu, batendo a porta.
Ela apenas balançou a cabeça negativamente e foi se trocar. Não queria perder mais um dia se lamentando pelos cantos. Ela merecia mais do que isso. E ele não parecia se importar nenhum pouco com seus sentimentos naquele momento, então ela tentou com todas as suas forças relevar.
Desceu de elevador a até a recepção e chamou . Em silêncio, os dois andaram até o HB20 da menina. Ela rapidamente deixou-o no estacionamento da balada e foi em direção a casa de cada uma das amigas. Quando todas estavam devidamente acomodadas, Isabella abriu a boca.
- Você foi embora ontem e nem nos avisou! E esse seu bom humor repentino significa que... - deixou a sentença no ar.
- O idiota tomou vergonha na cara e pediu desculpas por te machucar 555 vezes e vocês tiveram uma noite maravilhosa? - foi Júlia quem completou.
- Não - riu, tentando não imaginar o cenário - Significa que eu cansei de esperar o idiota tomar uma atitude. E estou... desistindo - tremeu nas ultimas palavras. Mas não importava. O carro foi tomado por palmas e risadas apoiadoras, o que fez com que a menina sorrisse verdadeiramente.
As meninas resolveram ir a um novo bar na mais movimentada avenida de Ribeirão Preto. A menina consentiu rapidamente. Tudo o que ela precisava era de um ambiente animado, alguns drinks e suas amigas. Tudo iria ficar bem.
Entraram em um bar e não pode deixar de lembrar de Pedro, que morava ali perto, e da atitude grosseira de na noite anterior. Precisava pedir desculpas, por isso mandou uma mensagem, convidando-o para o almoço.
Ele não demorou a chegar e sentou-se ao lado da menina. Depois de boas risadas, arrastou o menino até uma mesa vaga para desculpar-se.
- Eu sinto muito por ontem! O não devia ter se comportado dessa maneira e eu estou muito, muito, muito envergonhada! Me desculpa - a menina finalizou com um sorriso convidativo e Pedro revirou os olhos, rindo.
- Quem deve pedir desculpas é ele e você não tem que se envergonhar. Acontece – sorriu, gentil, para a garota.
- Mas eu me sinto responsável - suspirou - E não acho que ele vá se desculpar. Por isso, estou fazendo isso por ele.
- O que vocês tem, hein? - Pedro perguntou, como quem não queria nada, e se remexeu desconfortável na cadeira.
- Nada – disse, após alguns tortuosos segundos, com a voz triste.
- Mas - suspirou, irritado. sempre o ajudava tanto, mas nunca o deixava ajudar - Eu não entendo.
- É... Falando em não entender, que tal irmos para casa e eu te explicar Sociologia? Você disse que suas notas estavam vergonhosas - falou, dando o assunto por encerrado e levantou-se da cadeira, pronta para retornar à mesa de suas amigas.
- Tudo bem - Pedro disse, frustrado. Não estava nem um pouco a fim de estudar, mas sabia que a ajudaria esquecer dos problemas e talvez se abrir com ele, então não hesitou em seguí-la.

[...]

estava deitado em uma das espreguiçadeiras da área de lazer do prédio em que morava, como de costume. Vários estudantes da USP moravam por ali e o menino odiava estar sozinho e entediado, então apenas descia até a piscina, aproveitava a música ambiente, as conversas e risadas dos conhecidos.
Estava distraído quando viu passar, sorridente, quase arrastando sua bolsa no chão, como sempre fazia. Desejou andar até a antiga amiga, mas sentia como se não fosse mais bem vindo. Isso o incomodava, pois sentia falta das profundas conversas que tinha com ela. Sentia falta de sua risada escandalosa e até mesmo das broncas constantes que a morena lhe dava.
Viu que Pedro, calouro no curso de direito, a acompanhava e então todas as saudades foram transformadas em um sentimento asfixiante cada vez mais constante na vida do loiro. Bufou alto, chamando atenção de algumas pessoas que estavam na piscina, mas não de . Era levemente doloroso perceber que ela não notava mais sua presença e estava seguindo sua vida sem olhar para trás duas vezes.
Sabia que tinha errado com , mas a reação da garota tinha sido exagerada e dramática. E ela sabia muito bem que o garoto odiava drama.
Repentinamente, o garoto não fazia mais questão de ter companhia e então se apressou em subir as escadas, já que o elevador insistia em demorar para chegar. Subiu correndo até o quarto andar e abriu a porta de seu apartamento. Aquilo estava uma bagunça.
Decidiu tentar arrumar o local que chamava de lar para tirar do peito o sentimento ruim, mas, a todo momento, lembrava sobre o quanto seu apartamento era mais organizado quando ela o frequentava. A menina tinha uma mania irritante de manter tudo em ordem e dava surtos toda vez que via uma meia jogada no chão ou um prato sem lavar.
Depois de duas horas perdidas e nenhum progresso alcançado, decidiu descer até a sala de cinema do prédio. Um bom filme sempre era capaz de manter a cabeça do loiro ocupada.
Se surpreendeu, no entanto, ao encontrar sentada em uma poltrona escondida no fundo da sala. Ela estava tão concentrada em sua leitura que não percebeu que tinha companhia. O loiro sentou-se em uma poltrona perto da dela e ligou a grande tela, conectando-a a sua conta do netflix, finalmente chamando a atenção da morena, que apenas o olhou e voltou para sua leitura. Sua concentração, no entanto, nunca voltaria a ser a mesma.
soltou um pigarro.
- Vi você chegando com o Pedro mais cedo - olhou acusador para a menina - O que vocês tem, hein?
- Engraçado - disse, tentando manter o olhar fixo no livro a todo custo - Ele me perguntou a mesma coisa sobre nós dois.
- E o que você disse? - perguntou, tentando soar menos curioso do que realmente estava.
- Eu disse que nada - olhou bem no fundo dos olhos de , tentando não demonstrar toda a mágoa que sentia e ao mesmo tempo, tentando culpá-lo por não terem mais nada.
Depois de não ter resposta alguma e o clima na sala não ser um dos mais agradáveis. A menina levantou-se para ir embora, mas segurou seu braço, fazendo-a ficar de frente para ele.
- Então, não temos nada? - ele riu ao perceber a expressão de choque da menina e percebeu que seus joelhos tremiam levemente. Se aproveitou do efeito que tinha sobre ela e levantou-se, tornando a distância entre os dois mínima. congelou, sem esboçar reação alguma - Hmm?
- É, não temos nada - disse com a voz trêmula, tentando se recompor, sem muito resultado. Ela odiava o menino por fazer isso. Ele sabia exatamente como a fazer suspirar, sabia todos os seus pontos fracos e se preparava para beijar seu pescoço levemente quando a menina conseguiu se afastar. Ele riu.
- Você é uma péssima mentirosa, - deu ênfase ao apelido, sabendo que a afetaria completamente. E conseguiu. Deu mais um passo até ela e passou a mão carinhosamente em seu rosto, ganhando um suspiro em troca.
- Você precisa parar de fazer isso - olhou para o amigo e sorriu amargurada. O menino tomou a reação pacifica como um consentimento e juntou seus lábios em um selinho carinhoso.
- Não consigo - disse com a voz fraca, com medo de quebrar aquele momento - E você tem que parar de fugir de mim.
- Não posso - ela disse e tentou conter uma lágrima quente de escorrer, em vão. carinhosamente a enxugou e a puxou para um abraço.
- Por que, ?
- Sempre que eu estou quase pronta pra seguir em frente, você aparece e volta a agir normalmente comigo, como se nada tivesse acontecido. Todo carinhoso. E então tudo volta, e eu fico sempre presa a você.
- Ficar presa a mim é tão ruim assim? - deu um sorriso sacana, mas a pergunta era uma das mais sinceras que já tinha feito em sua vida.
- Meu coração diz que não. Minha cabeça grita desesperadamente que sim.
- Qual fala mais alto?
- Eu sempre vou contra tudo que eu acredito quando é relacionado a você - sorriu fraco e os dois apenas se olharam, lembrando de quando aquela frase fora proferira pela primeira vez.

Xx

Era noite de ano novo e todos os amigos de e estavam reunidos na casa de um deles para passar a virada. Logo depois do relógio marcar meia noite, os amigos pegaram uma garrafa de champagne e saíram do meio de todos, como era de costume deles. Gostavam da calmaria, de estar somente na companhia um do outro, imersos nas discussões sobre tudo o que os atormentava ou encantava. Andavam sem rumo pela cidade, rindo leve.
- John Snow morre - diz , rindo e tentando parecer convincente. Era mentira, mas ele adorava vê-la irritadinha.
- Você não pode estar falando sério! - grita e vai em direção dele, cambaleando - Me explica por que todos os melhores personagens tem que morrer. Eu odiei.
- Falando em odiar - chega mais perto da menina e eles caminham em direção ao fim de uma avenida vazia - Escutei aquela música.
petrificou ao seu lado e ofereceu um sorriso incerto ao amigo, lembrando dos acontecimentos daquele dia. Os dois tinham combinado que não deviam mais comentar sobre o assunto. Tinha sido um erro, embora o coração de ambos dizia o contrário.
- Você não pode ter odiado - disse e revirou os olhos, tentando deixar de lado o frio na barriga que agora tomava conta dela.
- Fiz muito esforço pra escutá-la até o fim - ele riu e andou lentamente até a parede de uma casa qualquer, sendo seguido por .
- E você quer um prêmio por isso - a menina disse, debochada e levantou as sobrancelhas em confirmação, encostando-se na parede e a puxou para perto dele.
- Sim - aproximou seus lábios dos de , que recuou.
- Errar é humano - falou pausadamente, tentando usar a razão e controlando-se para não agarrá-lo - Persistir no erro, é burrice. Eu não devo nada pra ninguém, mas você... - o menino prestava atenção no que ela dizia com um sorriso leve no rosto, como se não se importasse com a bronca - Pense bem, se você quer isso, é porque alguma coisa está errada e... Droga, quem eu estou tentando convencer? Eu nem me importo, pra falar a verdade. E isso é o pior! - a menina se movimentou, tentando colocar os pensamentos em ordem - Sempre vou contra tudo o que acredito quando você está envolvido. - O menino riu e abraçou-a, logo colando seus lábios e diminuindo toda a distância que existia entre eles. Já tinham feito isso antes, mas parecia como se fosse a primeira vez. O beijo calmo, cheio de significado, de carinho, era sincronizado e tudo que os dois conseguiam pensar era em como tudo parecia certo quando estavam juntos. Não havia vontade nenhuma de parar, mas eventualmente precisaram de um pouco de ar.
- Eu terminei meu namoro - falou rápido, impedindo que a menina pensasse em se arrepender daquele momento que compartilharam. Sabia que ela não ia, mas preferiu garantir.
- O que? - ela disse, tentando não se exaltar demais - Por que não me contou, seu idiota?
Ele riu. Nem tentou responder, apenas a beijou novamente. Ela sorriu entre o beijo. Talvez nunca tivesse se sentido tão completa em toda a sua vida.
- Queria que fosse uma surpresa de ano novo - disse, e a menina riu debochado - E além do mais.. esse era seu desejo de ano novo, huh? - ele riu e deu um selinho nela, segurando sua cintura e continuando a caminhada
- Idiota - revirou os olhos, internamente admitindo.

xx

não esperou mais do que o necessário. Beijou-a com empenho, fazendo com que se desequilibrasse. A menina caiu em uma das poltronas, o levando junto. Ele riu de como ela desastrada e puxou-a para seu colo. deu um suspiro de aprovação, e mordiscou seu queixo, sabendo que ele ia se arrepiar. Ele a encarou, adorando a provocação e começou a beijar o pescoço dela, até chegar no lóbulo de sua orelha e sussurrar que sentia sua falta. A menina sorriu e puxou seus lábios para ela, mordiscando-os. Por mais que sua mente explodisse pedindo para ela sair dali antes que fosse tarde demais, ela ignorava prontamente. Sabia que era impossível. Quando os dois se beijavam, não existia mais ninguém na face da terra. Ela não estava se importando como se sentiria no dia seguinte. Que se explodisse o dia seguinte.
Talvez fosse isso que o tornava tão interessante: ele era capaz de fazê-la esquecer de todas as preocupações e neuroses que acompanhavam desde que se conhecia por gente. Mesmo que ele fosse o causador da maioria delas. Talvez por isso o amasse, ele fazia se sentir livre e feliz, a fazia se sentir ela mesma.
- Que tal - ele disse, entre selinhos - Irmos para o meu apartamento?
- Ótima ideia - ela sorriu, se levantando rapidamente e praticamente correndo até o elevador. Ele se esforçou para acompanhar, estava imerso demais na beleza e leveza de .
- Sabe do que esse elevador me lembra? - ele riu, travesso.
- Ah não! Modos, - ela o empurrou quando ele chegou na frente dela - Você sabe que tem uma câmera aqui, não é? Então para de perversão - ela riu.
- Você nunca aceita minhas sugestões, não é? Pare de ser travada, menina - provocou, fazendo-a revirar os olhos.
- Preciso de um pouco mais de bebida para isso...
- Isso não é um problema - ele sorriu e seus olhos ficaram entreabertos, como sempre acontecia quando estava realmente feliz. Aquele expressão serena era preciosa, trazia uma paz inimaginável para .
deu um selinho nela, apreciando-a, no exato momento que o elevador emitiu um apito, avisando-os que tinham chegado. Ele saiu na frente e a puxou pelo braço. Todo aquele ardor de antes tinha passado, e os dois só queriam aproveitar aquele momento de paz e carinho que a muito não acontecia.
Por isso, a puxou até o sofá e os dois se aconchegaram em baixo das cobertas que ali estavam. virou-se para ele e passou a mão em seus cabelos, sorrindo no ato.
- Sabe - ele disse - Até que eu senti saudade de você.
Ela revirou os olhos e sentiu-o beijar sua bochecha. Sabia que ele não era bom com as palavras, então era o máximo que conseguiria. Não se importou tanto, apenas sorriu divertida.
- Por isso - fez uma pausa dramática. O menino já esperava o que viria a seguir - Vai assistir um filme de conspiração comigo - ele bufou, derrotado e ela sorriu, triunfante.
- Meu Deus, por que diabos você não gosta de romance igual todas as outras garotas do mundo inteiro? Assim eu poderia dormir, enquanto você repete as falas decoradas e solta algumas lágrimas afetadas - falou, divertido, porém agradecendo por não ser essa a sua realidade.
- Você ama meus debates, nem tente me enganar.
- , você está muito convencida. Precisa de mais tempo comigo e minha humildade revigorante. - ela riu e o beijou, esquecendo do filme que planejavam assistir.

[...]

acordou sem saber ao certo como e quando pegou no sono. Confortável, entre os braços de , agora percebera que aquela ideia de uma despedida era terrível. Ter que deixá-lo depois da noite anterior era mais difícil do que ela imaginara.
Se moveu devagar, tentando não acordá-lo e tirou a mão dele de sua cintura, com muito pesar. Foi até a cozinha e arranjou um papel e uma caneta para deixar um recado para ele.
“Sei que você odeia acordar sozinho, mas tive que ir. Tenho muitas coisas a fazer e vou visitar meus pais. Fiz café. Está em cima da mesa de jantar.
Obrigada pela despedida. Sou eternamente grata por tudo que passamos.

Com lágrimas ameaçando sair de seus olhos, a menina correu até a porta, fechando-a devagar para que ele não acordasse. Suspeitava que, se ele olhasse para ela, nunca seria capaz de ir embora.

[...]

Seu celular fez um barulho estridente, a acordando do cochilo que tirava. Sua mãe tinha ido ao mercado e seu pai estava assistindo a um jogo de futebol. Ela sentia muita falta de casa e gostava de passar o maior tempo possível com sua família, mas estava tão cansada e transtornada que decidiu que podia se dar ao luxo de tirar um cochilo. O celular não parecia concordar. Era a quinta vez que ele apitava, mostrando que a menina tinha uma nova mensagem. Dessa vez, decidiu olhar.
“Não vou dizer adeus. Devíamos continuar amigos. Afinal, foi assim que começamos. O que acha?”
“Talvez eu te dê mais uma chance. Afinal, você não consegue viver sem minha amizade, huh?”
“Te vejo segunda, .”

[...]

- Ei - uma voz conhecida parou e o grupo de amigas que faziam seu caminho para a primeira aula daquela ensolarada e fria segunda feira. O loiro se aproximou da morena e lançou um sorriso galante para o resto das meninas - Esperar pra vir pra aula faz parte da amizade, não? - fingiu estar decepcionado e percebeu o resto do grupo desacelerando os passos, para que os dois ficassem sozinhos.
- Ah, não pede demais, vai - a menina revirou os olhos e riu leve - Você não está na posição de reclamar tanto assim.
- Droga, só por que eu ia te pedir um super favor - fez uma falsa cara de decepção e a menina se limitou a revirar os olhos.
- Manda.
- Uma filha de uns amigos do meu pai conhecer a cidade e eu tenho que fazer o fim de semana dela o melhor - disse meigamente e a menina sorriu. Ele nunca falava de assuntos familiares e vê-lo se abrindo com ela a deixava feliz.
- Certo. E você quer que eu a leve a uma festa.
- O quê? Você perdeu a cabeça? É importante para os negócios dos meus pais! Se ela me vir como um festeiro vai achar meus pais irresponsáveis e já era o contrato - riu, deixando-o sem entender - Eu quero que você leve-a ao shopping. Assistam um filme de menininha. Depois podemos jantar no Outback.
- , você só pode estar brincando! De que década você é mesmo? Com esse programa para menininhas de dez anos você vai perder a simpatia da menina - ele fez uma cara emburrada, fazendo-a rir mais ainda - Veja, podemos ir a uma festa mais tranquila. E eu não vou perdê-la de vista, prometo.
- Não gosto da ideia.
- Você confia em mim? - ele confirmou com a cabeça - Então sabe que eu sou muito cuidadosa e vai ficar tudo bem.
- Certo, mas eu vou junto.
- Meu Deus, você é encanado demais - ela riu, andando na frente dele - Vou contar pra todo mundo!
- , vai cagar.
As risadas atraíram olhares curiosos e foi como se eles estivessem atravessando o campus pela primeira vez.

xx

- Ai meu deus, você sabe que horas são aqui? - a menina atendeu ao celular mal humorada. Eram 4 da manhã e ela tinha acabado de pegar no sono. - Eu vou te matar!
- Puta que pariu, você ta em Las Vegas! Isso vai ficar muito caro - ele falava rápido, sem conter o entusiasmo.
- Fala logo! - riu de . Odiava quando ele a fazia rir quando estava brava - Eu tenho que voltar a dormir.
- Você é muito chata, estou gastando todo o meu dinheiro com você e você está pensando em ir dormir.
- Para de enrolar! E é bom valer a pena.
- Você passou na USP - ele riu e ficou sem entender.
- O que? - ela não conseguiu segurar um grito, que provavelmente acordou os hóspedes do quarto ao lado.
- E eu também.
- Você ta falando sério? - ela riu, segurando as lágrimas.
- Eu não te acordaria essa hora da manhã - ele riu do entusiasmo e da falta de confiança da amiga.
-Aham - disse, irônica - Meu Deus! Eu vou pra ai agora mesmo! Temos que fazer as matrículas e ver apartamentos...
- Calma, você tem que voltar a dormir - disse, irônico e riu - Já arranjei uns apartamentos..
- Idiota. E você acha mesmo que eu vou te deixar escolher um apartamento pra mim? Não sou nem louca. Agora desliga, você vai ficar sem dinheiro.
- Vai dormir, menina.
- Vou pegar um voo, isso sim. Te mando uma mensagem com o horário pra me pegar no aeroporto! - disse elétrica e desligou o celular sem esperar qualquer resposta.

[...]

- Eu esperei tanto por isso - disse, abraçando e segurando as lágrimas de emoção - Nem acredito que eu consegui. Nem acredito que conseguimos.
- Você está toda emocionada só porque vamos morar na mesma cidade, admite. - o loiro riu, empurrando-a carinhosamente para frente.
- Vai cagar. Olha essa vista. É tão linda.
- Se você estiver falando de mim, com certeza. Se for do resto, são só um bando de prédios velhos. - a menina revirou os olhos e empurrou o peito do garoto, depois roubando um selinho. Saiu andando na frente e olhou, sorrindo, para ele.
- Vamos fazer as matrículas.
xx

- Ok, você tem que pegá-la no aeroporto daqui uma hora. Você já devia ir, vai se atrasar! - a menina disse elétrica, tentando fazer o apartamento do amigo parecer apresentável.
- , você ta parecendo minha mãe - ele riu e ela revirou os olhos.
- Vai se fuder, querido. Eu estou sendo uma ótima amiga e te fazendo um favor. Mas estou vendo que para esse fim de semana ser decente, ela vai ter que dormir no meu apartamento...
Ele tacou uma almofada da menina e mostrou o dedo do meio.
- , eu vou almoçar com ela, ok? Depois passamos aqui e vamos ao cinema.
- Cinema e depois festa, só não se esqueça disso - disse, desconfiada.
- Ok, mamãe. Tenho muita sorte por ter uma responsável ao meu lado.
- Te odeio...
-
- Sof... ? - a voz de parecia próxima demais, o que a assustou. Abriu os olhos e o encontrou sentado na ponta de sua cama e tacou algum objetivo não identificado nele, ganhando um murmúrio de dor em troca.
- Como você entrou?
- Um dos benefícios da amizade são as cópias de chave - deu de ombros e ela arregalou os olhos
- Como assim você fez uma cópia da minha chave sem que eu percebesse? Você achou que fosse uma boa ideia? - ela riu nervosa e levantou da cama.
- Veja bem, se eu não tivesse tido essa ideia brilhante você ficaria dormindo a tarde toda e não iria ver o filme mais divertido de toda a sua vida comigo e com minha adorável irmã!
- Eu tinha esquecido, me desculpe. Vocês podem esperar um pouco para que eu me troque?
- Claro, . Verena está ansiosa para te conhecer.
- Diga a ela que eu também estou - deu um beijo na bochecha dele e fechou a porta do quarto, preparando para se trocar. Decidiu que iria simples, colocou uma saia branca rodada e um suéter preto, completando o look com uma sapatilha nude e sua bolsa Prada favorita.
Se arrependeu no momento em que colocou os olhos em Verena. A menina não podia ser real. parecia um anão de jardim perto dela. Tinha mais ou menos um metro e setenta, o corpo perfeito e um sorriso simpático no rosto. Ela tinha saído de uma maldita revista!
- Você é a ? - perguntou com a voz fina e delicada, sorrindo meiga - me disse que você é uma ótima amiga! Até se voluntariou para arrumar o apartamento dele para que eu ficasse confortável. É muito gentil de sua parte - todo o discurso parecia falso. E todo aquele agradecimento não passou de uma ofensa escondida. “Nossa, você limpou o apartamento. Poderia ter contratado uma empregada. Ah! Você é uma.” sorriu delicadamente, tentando conter a vontade de ser a maior vadia de todo o planeta. Precisava se conter, por , pelos negócios da família dele.
- Sim - sorriu - Como foi o almoço de vocês?
- Foi ótimo! realmente sabe escolher um bom restaurante. Me fez lembrar muito de Paris.
- Que bom que gostou! Espero que goste de filmes com zumbis, também. é fissurado neles.
- Ah, não! Eu odeio os zumbis. Nós mulheres temos que nos unir, não é? Podemos assistir um romance. Tenho certeza de que ele não vai se opor se pedirmos com jeitinho.
riu. Tentara sua vida toda convencer o menino a assistir algo menos másculo. Falhara miseravelmente.
Adoraria a ver tentar.
- Onde está ele, falando nisso? - perguntou, olhando ao redor do apartamento.
- Foi ao mercado, pedi algumas águas Evian - gargalhou e Verena a olhava sem entender.
- Você está falando sério?
- Sim.
- Ah, é que ele nunca vai ao mercado! Deve te considerar muito - riu fraco, e acompanhou, mesmo contrariada. Certo, ele realmente precisava impressioná-la.
- Ah! Somos amigos desde sempre, querida. Nos conhecemos desde os três anos. Você tinha que ver como ele era desastrado. Nunca pensei que fosse se tornar tão atraente.
tossiu. Ela não queria que Verena o visse assim. Poderia citar diversos defeitos do menino, mas sabia que isso talvez estragasse a imagem dele. Não podia arriscar.
- Vai me falar que nunca notou? - a menina sorriu, brincalhona.
- Ele é realmente atraente - disse, colocando um fim no assunto. Mas era tarde demais, ele estava na porta olhando divertido para as duas. corou, enquanto Verena apenas balançou a cabeça graciosamente.
A menina tinha mesmo que ser perfeita. era com certeza a mais azarada. Essa coisa de amizade nem tinha começado e já estava exigindo muito de seu coração.
- Verena, deixarei suas águas na cozinha. Vocês já estão prontas? - ele estava olhando para ela como se precisasse de ser venerada. Não parecia nada falso. percebeu que não era. Nem tinha como ser. Ele tinha uma deusa ao seu lado e sua tarefa era passar o fim de semana com ela. Grande desafio.
- Estamos, ? - perguntou com um sorriso de orelha a orelha.
- Claro - deu um sorriso fraco para a menina e olhou significativamente para , que deu de ombros.


Eles assistiram o pior filme da história. por um momento chegou a pensar que Verena escolheria algo melhor do que os sanguinolentos filmes de , mas a menina preferiu o filme mais fútil e sem conteúdo que existia, é claro. assistiu sem dar nenhum pio.
A festa, que seria a salvação da noite, não iria mais acontecer. Aparentemente Verena era muito clássica e rica, não podia se misturar com pessoas de festas de fraternidades. Claro, porque o dinheiro impedia que se divertisse. Ou impedia que fosse a festas de fraternidades. Muito pelo contrário: ela adorava estar em meio a pessoas diferentes, completamente bêbadas e que não a julgariam pelo seu sobrenome.
Depois dessa, definitivamente odiava Verena. E não era nem por ela ser uma maldita Barbie Malibu, mas sim por ser uma fresca que não sabia o que era viver sem mostrar a todos que ela era mais rica e melhor que eles. Mal sabia ela que não era a única pessoa do mundo que realmente importava.
Ela entendia , mas só até certo ponto. Ele estava tratando-a bem e fazendo suas vontades, o que era compreensível. Mas não precisava ficar babando nela o tempo todo. Homens eram terríveis, meu Deus!
Decidiram que iriam a uma festa da alta elite de ribeirão no Espaço Golf. não reclamou. Tinham convidado-a para aquela festa e seus pais adorariam saber que ela passaria algum tempo com os filhos de seus amigos e os própios. O problema era a roupa.
Eram cinco da tarde. E esses eventos exigiam vestidos impecáveis. Ela não tinha nenhum. Aparentemente, Verena tinha vindo preparada e tinha que se arrumar, por isso não podia esperar ela escolher um modelito. se desculpou com o olhar, o único ato amigo do dia. Ela deu de ombros e disse que pegaria um taxi para casa. Aquilo era o de menos.
jurou a si mesma que seria a mais bonita da festa. Queria ver a cara de Verena no chão ao ver que a “empregada” sabia muito bem se adaptar ao seu ambiente - afinal, tinha nascido nesse meio, só não era muito chegada a ficar se exibindo ou ficar presa a somente uma classe social. Era muito grata por seus pais terem-na ensinado que o mais precioso da vida é a felicidade, que só é alcançada com humildade.
- Mãe, tenho um evento para ir e preciso de um vestido - disse, um pouco desesperada, ao telefone.
- Ah, querida! Você ligou para a pessoa certa - as duas riram - Quem você está querendo impressionar?
- Tá mais pra colocar alguém no lugar - disse, debochada. Talvez impressionar não fosse assim tão ruim, também.
- Você está no shopping? Vá até a Espaço Fashion e peça o vestido Prada que está no meu nome, querida. Aproveite a noite e mostre quem quer que seja que não se brinca com .
- Ah, mamãe, você é demais! Muito obrigada.
- Sempre aqui, querida.
A morena andou até a loja apressada, curiosa para ver o vestido de que a mãe falara. A atendente ficou tão animada por pegar o vestido, com toda a razão.
Era de um azul bebê maravilhoso, fechado na frente e com as costas todas abertas. Tinha uma cauda maravilhosa e diversas pedrarias na parte da frente. A melhor parte: servia perfeitamente. Ficou imensamente grata por sua mãe sempre se preparar para emergências.
- Use com o cabelo preso, senhorita . Vai ficar maravilhosa.
- Vou seguir seu conselho. Muito obrigada! - disse, ao sair da loja. Mal via a hora de encontrar com Verena e . Pelo menos um deles ficaria impressionado.

[...]

A expressão de Verena foi impagável. Elas se encontraram já na festa, pois fez questão de chegar depois dos dois. Ela até tentou disfarçar a inveja, mas não conseguiu.
Por outro lado, parecia não tirar os olhos dela, que estava com um Dior curto e preto e os saltos Louboutin mais perfeitos que tinha visto em toda sua vida. Edição especial, segundo ela.
De pouco importava. decidiu que não precisava ficar perto dos dois a noite toda e encontrava-se junto às irmãs Vergara, que conhecia desde sempre.
- Você nunca aparece, isso é a maior injustiça! - disse Allie, a mais nova das duas.
- É verdade! As festas seriam muito mais divertidas se você estivesse por perto. - completou Annie.
- Vocês estão exagerando! E, aliás, não se preocupem. Essas festas se tornaram muito mais interessantes a partir de agora - disse, dando um gole em seu champagne, e olhando para um loiro que nunca tinha visto em sua vida atravessar o salão - Podem esperar me ver mais vezes.
As três riram, olhando fixamente para a beldade que conversava animadamente com um senhor, que também não conhecia.
- Quem é?
- Alex White Miller, que, a propósito, está vindo em sua direção.
- O que? - riu nervosa - Quem é ele?
- Está passando uma temporada aqui - disse Annie - Com os Smith. É da California.
- Então temos um gringo - abriu um sorriso convidativo ao loiro, que estava mais próximo agora.
- Olá - ele disse, para a surpresa da morena, em português e logo se virou para o barman- Três cosmopolitans para as senhoritas - arrancou suspiros das irmãs, mas apenas um sorriso de .
- Só dois, senhor - dirigiu-se ao barman - Estou bem.
- Negar bebidas não é educado, - repreendeu Allie, brincando.
- Não me importo - disse, revirando os olhos e rindo - Não me leve a mal, querido - disse ao loiro e deu seu melhor sorriso - Mas prefiro Martinis.
Ele riu, o que a surpreendeu.
- Um martini para a senhorita, então. E um whisky para mim, por favor.
- Então, Alex - disse Annie, animada - O que está achando do Brasil?
- Um país simpático. As pessoas são bem acolhedoras. Mas, se for sincero, não gosto de festas tão sérias assim.
- Nem me fale - disse, revirando os olhos.
- Você é? Não me lembro de te ver em algum lugar. E, sinceramente, não me esqueceria de alguém como a senhorita.
- . E para ser sincera - disse, imitando o menino - Odeio essas festas.
Ele riu, acompanhado pelas Vergara.
- Então está se torturando, Miss ?
- Na verdade, fazendo um favor a um amigo muito querido que tem uma convidada excessivamente exigente.
- Me permite perguntar onde você gostaria de estar?
- Só se você me permitir mostrar a você.
- Combinado.
- Combinado. Mas antes, temos que aguentar uma longa noite, querido.
- Ela ficou mais interessante com você aqui, .
Os dois riram e as irmãs tentaram não se incomodar por interromper alguma coisa.


- Sim, Verena! Você tinha que ver... ficou tão surpreso! Você deveria experimentar - estavam discutindo ir para a festa mais tarde. disse que Alex adoraria, mas não queria deixar sozinho com ela.
- O lugar não é dos melhores - disse - Mas a música é demais! E a bebida deixa tudo mais fácil.
- Vai se fuder, querido! O lugar é demais. Tem uma das melhores vistas da cidade e, realmente, é maravilhoso. Ele só está tentando te assustar.
- Tudo bem, vou pensar no caso... - disse, meio de mal grado. também não estava se importando. Nada impedira de ficar com Verena. Ela ja sabia que ia acontecer. Então, se estivesse longe, melhor.
A música animada tornou-se lenta e casais começaram a dançar. Foi surpreendida quando Alex a puxou para uma dança.
- Me daria a honra de uma dança?
- Se você parar de falar tão formalmente, por favor! Já não basta estarmos nesse salão requintadíssimo.
Ele riu e pegou a mão dela. Dançava muito bem, para sua surpresa.
- Você odeia mesmo isso aqui, não é?
- Sabe, Alex, não é ódio. Só não gosto da maioria das pessoas. Não sei se sua família e os amigos deles são assim também, então me desculpe desde já, mas é tudo uma competição para saber quem é mais rico e refinado, quem se veste melhor ou quem tem o melhor acompanhante.
- Eu sei - disse, balançando a cabeça negativamente - Infelizmente, não conheço muito além disso. E, aliás, algumas vezes damos sorte. Por exemplo, eu acabei de te conhecer em meio ao pior evento de sua vida.
Ela riu e ele a girou graciosamente.
- Você não é tão mal. Espere até conhecer a vida de verdade, Miller.
- Mal posso esperar - sorriu galanteador.
- Podemos trocar de par? - disse com um sorriso gentil.
- Boa sorte com a Barbie Malibu - sussurrou , para que apenas ele escutasse.
- Então - disse , dançando devagar com a morena, responsável por guiá-lo - Você está muito bonita essa noite.
- Obrigada - disse, tentando não corar - Coisa da minha mãe. Ela se superou dessa vez, não acha?
- Até demais! - ele riu, chegando mais perto dela - Todos os homens dessa festa estão te admirando.
- Bobagem! - ela riu, revirando os olhos - É só por que eu nunca apareço. Todos estão olhando para você e Verena, também. Já me perguntaram umas três vezes se vocês eram um casal.
- Bem, um casal por uma noite, o que acha? - sorriu, inocente. Não sabia se podia falar isso perto dela, mas uma amizade abrangia todos os campos da vida social. Amigos se ajudavam e compartilhavam os segredos. Já que eles eram só isso, não via por que não contar.
- Clássico de você - revirou os olhos e sorriu. Sentiu o coração afundar. Já sabia, era óbvio, mas ouvir dele era mais difícil. Tentou não se abalar e continuou a dançar.
- E você e o Mister California, huh? - levantou uma sobrancelha e deu ênfase ao apelidinho idiota.
- Ele é uma boa pessoa. Quem sabe não se torne mais interessante sem todos os rótulos e obrigações da alta sociedade.
- Vou torcer para que não - ele disse com um sorriso sacana - O cara é um babaca, olha só!
Os dois olharam para Alex e Verena, que dançavam graciosamente.
- Você só está com inveja por que ele sabe dançar - disse e deu um peteleco no amigo.
- Ouch, essa doeu - ele riu e recebeu um beijo na bochecha como desculpas.
- Vá dançar com a Barbie Malibu antes que ela roube meu acompanhante, . Sei que está aproveitando seu tempo longe da mimada, mas Alex não merece suportá-la.
- Ela não é tão ruim assim, vai - ele disse, mas não aguentou e riu.
- Você só diz isso por que ela é gostosa... - revirou os olhos. Ele deu de ombros e ela o empurrou até Verena e trouxe Alex até si.
- Pronto para ir? - sorriu de orelha e orelha, ansiosa para sair dali.
- Eles não vão conosco? Ela não é tão ruim assim.
- Ah, cala a boca! Só por que ela é bonita - revirou os olhos e Alex riu - E não, eles tem outros planos.
- Ah, ok. Temos que avisar seu motorista para nos buscar.
riu.
- Alex, algumas coisas sobre mim: eu dirijo, tenho um carro normal, um apartamento normal, uma vida normal. Como se o dinheiro extra não existisse. Ele só é útil para as viagens.
- E seus pais concordam com isso? - perguntou, maravilhado. A menina não tinha que parecer a filha perfeita, estar rodeada de todas aquelas pessoas insuportáveis ou participar dos negócios dos pais.
- Não. Na verdade, foi minha mãe quem sugeriu. Ela sempre soube que eu não gostava dos negócios da família e que eu seria infeliz se fosse obrigada a tomar conta deles. Então me deixou morar com minha avó, uns quatro anos atrás. Depois, passei na faculdade e comprei um apartamento. Mas é só.
- Isso é demais. Adoraria que meus pais não me obrigassem a fazer negócios.
- É por isso que você está no Brasil? - perguntou, chateada pelo menino.
- Sim. Não que seja ruim, mas preferiria vir a passeio.
- Certo. Está pronto para esquecer disso? - disse e o garoto riu, enquanto ela dirigia até o apartamento para que pudessem se trocar.

[...]

- Meu deus, eu não me lembro onde é minha casa! - o garoto ria desesperado e o acompanhava. Ele era muito engraçado sem toda a classe que tinha sido ensinado a ter. Poderia ser um grande amigo e quem sabe, no futuro, poderia mostrar a California para ela. Duvidava que ele já tivesse bebido tanto em toda sua vida e ficou feliz por proporcionar isso a ele.
- Tudo bem, podemos ir até o meu apartamento - disse, ainda rindo - Mas você fica com o sofá! Não sei se você já percebeu, mas eu não sou educada o suficiente para oferecer minha cama e ter uma noite horrível no sofá pequeno. E eu juro, se você entrar no meu quarto, eu te castro e mando o queridinho de presente para o seu pai.
- Ai meu Deus! Você é a pessoa mais engraçada que eu já conheci - ele ria desesperadamente e concordou com a cabeça em dormir no sofá.
Sem saber exatamente como, chegaram ao estacionamento do prédio com o carro intacto. Desceram e encontraram Verena e na recepção, esperando o elevador.
- Ele vai dormir aqui? - perguntou, ríspido.
- Eu não lembro como chegar à minha casa, acredita? - disse, rindo - me drogou! É a única opção.
- Cala a boca! Você só nunca tinha tomado bebida barata.
Verena fez uma expressão de nojo. Mas àquela altura, não se sentia mais afetada.
- Você está com os Smiths, certo? Sua sorte é que eu os conheço e sei onde moram. Vou te levar.
- Mas eu não quero incomodar - disse meio enrolado, fazendo revirar os olhos.
- Não vai. Vamos logo. Verena, você pode ficar com até eu voltar?
- Claro - disse, visivelmente frustrada.
- Tchau, Alex - disse com um sorriso doce - Vamos, Verena.

[...]

- Ela já foi? - perguntou, frustrada - Poxa, talvez tenha dado tudo errado.
- Não, saiu tudo conforme eu queria - deu um sorriso e se jogou no sofá da amiga - Mas acho que ela não queria passar mais um dia com você. Falei que tinha compromisso
gargalhou e a acompanhou.
- O que Verena Newsome acharia do seu importantíssimo compromisso de assistir filmes o dia todo?
- Não me importo com o que ela acharia. Como eu sou um amigo maravilhoso, não abandonaria você em um domingo tedioso.
- Ele seria muito melhor sem suas escolhas terríveis de filme - riu, em negação.
- Eu nunca mais vou deixar uma garota escolher o filme, escutou? Não tem meio termo com vocês. Ou é um filme que minha inteligência não me permite entender ou é um filme que não exige inteligência nenhuma. Meus zumbis, por outro lado...
- Ah, não... - disse rindo e jogou uma almofada nele, tentando em vão chegar antes que ele ao controle remoto - Seu ogro, você vai me matar - tentava falar entre as gargalhadas - Você é muito gordo, sai de cima de mim - gritou em vão, pois ele só se aconchegou melhor em cima dela.
- O que acha de passarmos o dia todo assim?
- Uma ótima ideia, - disse irônica, tentando em vão se mexer e lembrando da última vez que estiveram naquelas posições.

Xx

- Eu te odeio! - disse rindo, tentando escapar das mãos fortes do loiro - Não é justo, ok? Você tem mais do dobro do meu peso. - Não sabia como eles tinham acabado naquela posição, mas o menino se recusava a se mexer. Com isso, ela não conseguia assistir o filme. Estavam na casa de Nicholas, um dos amigos do grupo e todos estavam na cozinha fazendo pipoca e brigadeiro, menos a morena, que se recusara a perder uma das suas partes favoritas do filme
- , está me chamando de gordo?
- Ah, sim! Caso você não tenha percebido, eu não consigo respirar - fez uma cara feia, torcendo para que isso a ajudasse escapar.
- Ah, querida, sempre tão exagerada - rolou os olhos teatralmente - Não vou te soltar. Vai ter que conseguir sozinha.
- Você tá brincando? Como acha que eu vou conseguir fazer isso? Minhas mãos estão presas e tem um elefante em cima de mim, caso você não tenha percebido.
Ele deu de ombros e ela abriu um sorriso malicioso, revirando os olhos. Aproximou seus lábios dos dele, primeiro mordendo de leve, depois puxando-o para si com vontade. Em alguns segundos, suas mãos estavam livres, pois as dele passaram a acariciar sua cintura. Riu, satisfeita. Mas, como de costume, sempre que se beijavam ficava difícil parar. Não era uma opção. A área em que tocava estava quente, e choques elétricos percorriam o corpo dos dois. Logo, ela estava por cima e ele sorria aprovador, beijando-a ainda com mais força.
Os dois, no entanto, pararam o que estavam fazendo por conta de um barulho de copo quebrando.
- Por essa eu não esperava - disse alguma voz feminina em meio aos amigos.
- Arranjem um quarto - gritou Nicholas, rindo.

Xx

O frio incomum para a região não parecia atrapalhar de deitar-se no chão e observar as estrelas. reclamava a cada dois segundos, mas ela simplesmente revirava os olhos ou ignorava.
- Você está muito Zen hoje - falou com um falso tom de voz irritado - Está me deixando agoniado.
- Você está quase conseguindo me tirar desse estado de espírito maravilhoso. Então, por favor, saia daqui. Eu te compro um lanche se você for.
- Você precisa de ideias melhores para se livrar de mim, - ele gargalhou - Agora que sei que estou quase te irritando, vou ficar aqui até você gritar comigo.
- Você costumava ser mais fácil de lidar, tenho que admitir - ela riu leve, empurrando-o e finalmente levantando-se.
- Não, você que costumava realmente querer se livrar de mim - revirou os olhos.
- Eu te xingaria agora, mas isso só ia te fazer cumprir seu objetivo. Então deixo-lhe sozinho com suas fantasias em que eu mato e morro por você.
Ela riu e saiu, deixando-o sozinho com suas próprias gargalhadas.
- Ai, você é tão engraçada! Acha que está mentindo, mas falou a maior das verdades - gritou, ainda rindo.
- Meu Deus! Como eu fui ser amiga de alguém tão convencido quanto você? - ela riu ao perceber que ele a seguia.
- Não sei. Talvez precisasse de alguém pra aguentar a sua chatice?
- Estúpido - revirou os olhos e soltou uma risada, meio contrariada, entrando no carro.
- Aonde vamos?
- Te comprar um hambúrguer. Talvez eu tenha sorte o suficiente e você encontre alguém mais para importunar.
- Ah, mas eu não te abandono de jeito nenhum! - ele riu e deitou-se em cima dela.
- , eu te odeio. Muito - ela gritou e ele riu. Mentalmente, no entanto, agradeceu por tê-lo ao seu lado.
- Então não vai aceitar fazer outro favor pra mim? - perguntou, com um sorriso de orelha a orelha.
- Você só está comigo por interesse, vagabundo! - ela deu um tapa nele, que riu - Antes de mais nada, já aviso: Socialites loiras normalmente não gostam da minha companhia.

[...]

estava saindo do banho e resolveu checar seu celular antes de ir dormir um pouco. Tinha uma prova decisiva na segunda-feira, portanto o fim de semana não seria prazeroso. Precisava estar descansado física e mentalmente.
A mensagem o fez mudar de ideia de uma hora para a outra.
“Estou reformando o apartamento e uma ajuda masculina seria muito bem vinda.
.”
Ele não pode evitar de lembrar da última vez em que a ajudou a colocar os móveis no lugar, ou pelo menos tentou.
“-Meu deus. Você é mesmo um inútil. Nem pra colocar um sofá no lugar serve - a menina disse debochado, pendurada em seu ombro. Ele sorriu malicioso, fazendo o rosto de refletir a expressão.
- Você está me provocando muito, menina. Cuidado pra não se arrepender - ela gargalhou, ficando de frente para ele, na ponta dos pés. Brincava destraidamente com seus cabelos, provocativa.
- Eu, provocando? Você que está se sentindo incapaz. - revirou os olhos e deu as costas, indo até a cozinha. Foi seguida de perto por , que tinha um sorriso provocativo no rosto e malícia transbordando no olhar.
- , eu sei que você está fixada com essa ideia de terminar a mudança, mas o que acha de estrearmos sua cama hoje? - chegou perto da menina, acariciando toda a extensão de seu tórax.
- Olha só, até que você serve pra alguma coisa. - disse, antes de beijá-lo e acompanhá-lo até seu novo quarto.”
A menina não teve nem tempo de esboçar reação, pois bateu a porta de seu apartamento com força e vinha determinado em sua direção, vestindo apenas uma calça de moletom e um olhar cortante.
- O que... - foi interrompida rapidamente por um beijo sufocante e exigente, que explorava todos os cantos de sua boca e deixava seus joelhos trêmulos, fazendo-a questionar como ainda estava em pé.
- Combinamos uma amizade sem benefícios. Mas tanto eu quanto você sabemos que isso nunca daria certo. E eu não aguento mais ficar longe de você - falou apressado, tirando o cardigã da menina e avançando para seus lábios novamente. Ele tinha tanta convicção que não tinha nada a ser feito se não cooperar. Os lábios se chocavam como se fosse a única coisa acontecendo no mundo, e as carícias não cessavam, pois se isso ocorresse, seria como o fim do mundo. Estavam juntos como se sua sobrevivência dependesse disso e somente disso.
explorava o pescoço de , que arqueava a cabeça para trás e sentia o prazer de tê-lo junto a si novamente. Não se lembrava da sensação arrebatadora e não se imaginava mais longe dele.
- Sem mais juras de última vez, ok? - disse pausando um beijo para abrir o zíper do vestido de , que riu em concordância e apagou as luzes do quarto.

Xx

Era um grande dia. odiava ter seu destino na mão do acaso, por isso planejava até os mínimos detalhes. Tinha escrito possíveis perguntas em fichas e elaborado respostas impecáveis. Tinha lido e relido o caso que deveria defender mais de cinquenta vezes. Separou excertos de livros que a ajudariam a ficar mais calma e dariam formas de recuperar o comando da situação caso o advogado de acusação tivesse bons argumentos. Mas a menina estava uma pilha de nervos. Não podia evitar.
Era a oportunidade de sua vida. E nem era uma audiência de verdade! Mas diversos olheiros de faculdades dos Estados Unidos estariam assistindo. Era sua chance de explorar o mundo. Tinha que conquistá-la.
Estava tão nervosa, que nem percebeu que estava parada na porta do apartamento de . Abriu-a sem hesitar e, sem se importar com o horário em avisá-lo que estava ali, foi em direção ao quarto do menino e enfiou-se em baixo das cobertas, o abraçando. Ele abriu os olhos lentamente e sorriu ao vê-la por ali.
- Ainda bem que você não está fugindo - a abraçou mais forte - Durma um pouco, vai ficar tudo bem - falou com a voz fraca, percebendo que alguma coisa estava errada.
- Estou nervosa - a menina disse, com os olhos lacrimejando. Ganhou um selinho em resposta.
- Você é a pessoa mais brilhante e esforçada que já conheci. Agora durma, tudo bem? Descanso é imprescindível. - beijou a testa de e fechou os olhos, sendo acompanhado por ela. Em poucos instantes, as respirações atingiram o mesmo ritmo e a menina antes nervosíssima pegou no sono profundo.

[...]

Acordou com o barulho de algo pesado caindo no chão e seus olhos demoraram a reconhecer o ambiente claro e bagunçado em que estava. Percebeu que as cortinas claras estavam abertas e o chão cheio de roupas masculinas. Revirou os olhos e levantou-se, contendo o impulso de arrumar o quarto todo. Tinha mais coisas a fazer.
Seguiu o barulho e encontrou um irritado na cozinha, tentando limpar o café que tinha derrubado no chão. Ela riu e se aproximou dele, abraçando-o pelas costas.
- Bom dia, bonitão - deu um beijo em sua bochecha e sentou-se em uma das cadeiras, sem se importar com a bagunça.
- Bom dia o caramba! Sempre que eu vou tentar fazer as coisas, tudo dá errado. - balançou a cabeça negativamente, olhando para o chão.
- Veja pelo lado bom: seu café é horrível - riu da cara dele, sem se importar com a irritação matutina.
- , você está brincando comigo? - abriu um sorriso sacana que a garota conhecia bem e ela levantou uma sobrancelha, desafiadora. Ele marchou em direção a ela e começou a fazer cócegas, o que a levou a loucura. Não conseguia se controlar e o chutava, tentando escapar de seus braços. Ria escandalosamente e ele a acompanhava. - Nunca mais insulte meu café, ok? É a melhor coisa do mundo! - os dois estavam no chão da cozinha, tentando recuperar o fôlego após tantas risadas.
- Depois você insulta meu gosto, eu hein... - a menina levantou, oferecendo uma mão para o loiro, que quase a puxou para si novamente.
- , você está querendo morrer - revirou os olhos e foi até o quarto, seguido da menina - Mas como hoje é um dia importante, vamos tomar um café.
- Você é o melhor! - ela riu e o beijou carinhosamente. Podia muito bem se acostumar àquela rotina novamente. - Vou me trocar!
- Mas você tá linda assim - ele riu, olhando para a morena descabelada, com a blusa do pijama caindo do ombro, calças largas e pantufas do bob esponja.
- Vai se fuder, queridinho - mostrou o dedo e saiu gargalhando do apartamento.


- Eu vou querer um muffin de chocolate, um capuccino grande com chantilly extra e um croissant de frango.
- Nossa senhora, você acha que eu vou pagar por isso? - riu, sendo acompanhado pela atendente.
- A ideia foi sua - deu de ombros e piscou para ele - Hoje é um dia muito importante, lembra?
- Aniversário de namoro? - a mocinha arriscou e os dois sorriram envergonhados, sem saber muito bem como se comportar.
- Mais pra apresentação de trabalho? - arriscou e a atendente riu fraco.
- Certo. E o que você quer? - apontou para , que balançou a cabeça negativamente.
- Nada! Como você acha que eu vou pagar por tudo? - os três riram da voz exagerada dele e o clima pesado se dissipou.
escolheu uma mesa escondida que tinha vista para um bosque, o que a deixava calma. Estava tentando ao máximo ficar longe de qualquer tensão, mas estava tentada a voltar para casa e refazer tudo. conseguia a distrair bem, roubando sorrisos aqui e ali, mas nada era infinito.
- Você quer o muffin ou o croissant? - perguntou, percebendo que ela estava imersa em pensamentos e voltando a ficar nervosa.
- Os dois - deu de ombros e sorriu - Não comprou nada vai ficar sem comer.
Ele revirou os olhos e pegou o muffin, recebendo um tapa.
- Eu que paguei! - riu e deu mais uma mordida.
- Tudo bem, vai. Mas só por que escapamos do seu café.

[...]

Checou sua imagem no espelho uma última vez. Os olhos perfeitamente maquiados, a boca em um tom rosa claro para não chamar muita atenção, os cabelos caindo nos ombros em ondas perfeitas. A calça preta clássica, a blusa branca cuidadosamente ajustada e seu blazer preto favorito. Estava incrivelmente calma e sorriu para seu reflexo, satisfeita. Calçou os saltos e pegou sua bolsa com todos os livros e anotações.
Tudo sairia perfeitamente como o planejado. Ela impressionaria os olheiros e seus professores, conseguindo uma nota ótima para fechar o semestre e talvez uma bolsa de estudos do outro lado do mundo. Sorriu com a perspectiva e apertou o botão do elevador, que miraculosamente chegou em alguns segundos.
A apresentação seria em duas horas, mas não aguentava mais ficar em casa. Além disso, poderia ensaiar com as amigas, o que a deixaria mais tranquila e confiante. Tinha ainda um bônus: chegando cedo, poderia assistir as concorrentes e aprender com seus erros e acertos.
Estacionou seu carro bem perto do anfiteatro da USP, saindo rapidamente do carro e encontrando as fiéis escudeiras a esperando.
- Como você está, Miss ? - brincou Isabella, pedindo por um abraço.
- Estou bem, querida. E vocês?
- Estamos morrendo de nervosismo por você e você está bem? - Júlia disse de seu modo escandaloso e as três riram.
- Vamos entrar! Quero mostrar a apresentação pra vocês.
- Ótimo, mais um show de direito pra artista que não entende de nada!
- Ah, querida, eu prometo que falo tudo bem devagarinho e Isabella traduz pra você - riu, abraçando as duas amigas e entrando no anfiteatro. Foram direto para as salas atrás do palco, que estavam nomeadas. Eram pequenas, mas serviam para maquiagem e para ensaios.
ficou em pé em frente às duas amigas, entrando no personagem. Isabella fingiu ser a juiza e Júlia tentou não rir da interpretação. Quando se deram por satisfeitas, as duas meninas foram até seus lugares reservados, deixando sozinha com seus nervos.
“Estou nervosa! Cade você?” digitou rapidamente e bufou, andando de um lado para o outro.
“Houve um imprevisto, . Vou chegar a tempo, mas talvez não consiga falar com você antes.” A menina quase chorou ao ler as palavras. Precisava recobrar a calma e ele era expert em ajudá-la.
- Eu me preparei para isso. Sou capaz de falar em público, sou capaz de defender o que acredito - disse em voz alta, ficando mais calma.
Sempre odiara falar em público, mas anos atrás transformara isso em uma arte. Gostava de desafios, eles a faziam se aperfeiçoar. Esse era mais um deles. E ela se superaria.
Estava saindo de sua sala para ir para o palco quando encontrou com ele. Preferia não ter encontrado, no entanto. Ele estava de costas, então não conseguia vê-la.
- Fique ai! Eu ja volto... não vai querer te ver aqui. Só vai nos causar problemas.
- , não tem por que me esconder - ia continuar a sentença, mas foi interrompida por uma risada irônica.
- Ela era seu imprevisto? - olhava fixamente para o garoto e para a ex-namorada, que estavam sem palavras - Se eu soubesse, você não precisava nem se dar o trabalho de vir aqui - ficou parada de braços cruzados, segurando as lágrimas. Ela era tão idiota!
Se sentia enganada, traída, como sempre. Como fora tola em confiar nele de novo. Tudo o que ele fazia era machucá-la e ela simplesmente continuava ao lado dele, deixando-o destruí-la. Ele abriu a boca várias vezes, sem deixar palavras saírem.
- Ótimo, não tenho tempo para perder com suas desculpas - saiu andando, tentando lembrar o que tinha que falar daqui a alguns minutos. Ela tinha esquecido tudo, não podia ser.
- , não é o que você está pensando - correu atrás dela e colocou a mão em seu ombro.
- Me explica, então - a menina gritou e virou para ele com força, sentindo nojo de sentir o toque dele - Por favor! Porque eu morro de vontade de entender por que toda a vez que a gente tá bem você me afasta, me machuca. Me explica por que você não consegue fazer uma coisa certa. Eu não sou o suficiente, é isso? Por que me parece ser a única explicação.
- , não! Você não entende - a maneira calma como ele pronunciou essas poucas palavras foi o fim.
- Não ouse me chamar assim, escutou? Aliás, não ouse mais falar comigo. Eu não vou deixar você me destruir, entendeu? Acabou, . Eu estou tão cansada de ser feita de idiota.
- Mas...
- Sem “mas”. Você sempre faz isso. Me trata bem em um segundo, eu dou as costas e você está se esfregando com outras. E já dói quando você escolhe qualquer uma. Mas ela? Foi golpe baixo, .
- Nós dois não temos nada, .
- Uma pena. Porque nós também não temos nada, . E dessa vez eu realmente acredito nisso.
A morena deu um sorriso irônico e superior, encontrando a calma dentro de si e andou calmamente até o palco quando seu nome foi chamado, como se não tivesse acabado de perder seu coração.

Xx

A luz piscava a casa cinco segundos, deixando o ambiente melancólico. O balcão empoeirado e cheio de copos vazios estava cheio de homens sem consciência, que xingavam e viam de qualquer coisa. Diferentemente dele, que não dizia ou sentia nada, somente o ardor das bebidas em sua garganta.
Não sabia quando ou como tinha chegado lá, muito menos como conseguiria voltar para casa. Tudo o que sabia era que queria preencher o vazio em seu peito. A bebida não estava ajudando. Muito pelo contrário, só trazia de volta a lamentável cena que o atormentava, ou os sorrisos roubados que ele costumava arrancar de . Ou a lembrança de tudo o que passaram juntos.
Ele não podia ou conseguia acreditar. Tinha perdido a única pessoa que jurava que teria ao seu lado pelo resto da vida. O mais difícil de admitir era a culpa.
Não era a primeira vez que a machucava e sabia bem disso. Mas nunca imaginou que chegariam a esse ponto. Não imaginou que a deixaria tão abalada.
Sempre foi ruim em lidar com sentimentos. Demonstrando-os, era terrível.
Sabia que devia ter se afastado da morena no momento em que a conheceu. Não era normal gostar e confiar tanto em alguém que tinha acabado de conhecer. No dia, culpou a bebida.
Uma semana depois, no entanto, ainda não tinha esquecido os malditos olhos cor de mel e a risada escandalosa. Tentara de tudo para deixar isso de lado. Não tinha fundamento algum. Ele não podia gostar dela tanto assim. Todo o esforço foi em vão. o conquistara tremenda e profundamente. A namorada ja não o fazia feliz. Não era tão bonita, engraçada ou agradável. Não era com quem queria passar seus dias e noites. Sua companhia já não fazia mais sentido.
Ele não resistiu.
o deixaria louco caso não se aproximasse mais. Por isso, esqueceu que tinha uma namorada. Esqueceu que talvez se arrependesse no dia seguinte, esqueceu da dor que poderia causar.
A beijou pela primeira vez e percebeu que foi a pior coisa a se fazer: a partir daquele momento, definitivamente não se veria livre dela.
E esse sentimento de dependência o sufocava. Por isso sempre buscou outras pessoas, outros corpos, outros risos. No começo, deu certo. Depois, percebeu que era inútil tentar ficar sem ela.
Mas a menina estava determinada a esquecê-lo. Pelo menos poderia ter sua amizade, pensou. Não era o suficiente, mas era melhor do que nada.
E como era melhor do que nada.
Naquela noite, a menina quebrou não só a si mesma, mas a . Ele não podia ficar sem ela. E lamentações não o ajudariam. Por isso, um pouco cambaleante, pagou a conta do bar e levantou-se, andando até um lugar mais movimentado, para que pudesse pegar um taxi.
Conseguiria de volta, não importa o que tivesse que sacrificar.

--
“I messed up this time
Late last night
Drinking to suppress devotion”

Querida,

Não durmo há dois dias, tentando me acostumar com o vazio que minha vida se tornou sem você. Percebo que é inútil, no entanto. Acho que nunca serei capaz de deixar que você escape de mim sem lutar pelo que amo.
Sei que estou um pouco atrasado. Talvez muito. Mas espero verdadeiramente que a situação não seja irreversível. Temo que talvez não consiga lidar com a burrice que cometi. Perder o que sempre julgamos como fixo não é de nada agradável.
Pensei em mil maneiras de tentar consertar meus erros. Sei que não é possível apagar de sua memória todas as lágrimas que te fiz derrubar. Sei que só te causei dor e que não mereço seu perdão. Mas viver sem você é sombrio.
Estou te escrevendo essa carta, me sentindo o maior dos antiquados. Nunca fui bom com as palavras, você sabe. Quem dirá com os sentimentos. Me sinto ridículo escrevendo isso, mas de pouco importa. Lembro-me do seu sorriso espontâneo quando me contou sobre aquele livro bobo das cartas de amor. Lembro-me de seu entusiasmo ao ler todas as cartas para mim e lembro-me das lágrimas em seus olhos ao presenciar uma história tão bonita. Sei que essa nem ao menos se compara com aquelas, mas você sempre admirou e presenteou o esforço, .
Quando você me disse que eu não deveria mais olhar para você, não levei a sério. Por que sou um idiota, obviamente. Sempre te tive ao meu lado, mesmo quando não merecia, e pensei que mais um erro não faria com que você desistisse de mim.
Mas quando te vi me ignorar completamente, sem sinal algum de mágoa ou ressentimento e não me contar sobre sua importante viagem, percebi o o quando estava enganado. De início, fiquei bravo por saber por outra pessoa que você faria um semestre na UCLA. Depois, fiquei feliz. Sempre foi seu sonho ter o mundo em suas mãos e acho que isso pode ser um início.
Nada se comparou ao que senti antes de dormir, no entanto. Durante o dia, tinha tudo pra te afastar de minha cabeça. Mas foi só me lembrar de sua risada escandalosa, do jeito calmo como você pega no sono ao meu lado, de como você chora por coisas simples, mas não se deixa abalar por problemas mais graves. De como você defende com ardor todos que ama. De como você sussurra meu nome. De todas as suas qualidades e também de suas falhas, que desmoronei.
Acho que nunca senti algo tão forte em toda minha vida como eu sinto por você. E não posso admitir que isso esteja acabado, não vou.
Sei que te causei muito mais dor do que qualquer outra coisa. Mas também sei que tivemos bons momentos. Espero que você consiga colocá-los à frente dos demais porque eu te amo e vou fazer tudo para te ter de volta.
Talvez você me ache um mentiroso, mas tudo o que eu quero é sentir o seu amor.
Seu,
.

“Easy baby maybe I'm a liar
But for tonight I wanna fall in love
Put your faith in my stomach”

ficou sem chão. Estava sentada na única poltrona remanescente em seu apartamento, com as malas em volta de si. Não esperava aquilo dele. Não esperava que ele fizesse nada. E preferia que fosse assim. A carta abriu um buraco em seu coração, que a muito custo ela tinha remendado. Mas ela não permitiria que isso fosse o suficiente para um perdão.
Aliás, ela não queria perdoá-lo. E enquanto estivesse firme e longe de sentimentos, permaneceria assim.
Iria para longe. Seria uma aluna brilhante. Faria novos amigos, esqueceria . Quando voltasse ao Brasil, ele seria apenas uma lembrança.
Pegou um papel e uma caneta, preparando-se para escrever.

,

Disse-lhe naquela noite que acabou. Sinto muito por terminar assim, mas não podia continuar. Eu tenho 19 anos e uma vida inteira pela frente. Esperava que o tivesse do meu lado, mas não planejo ficar trancafiada em meu apartamento chorando o tempo todo, enquanto você se diverte e nem se lembra que eu existo.
Eu mereço mais que isso.
Estou indo atrás dos meus sonhos e te deixando para trás. Não posso mais te permitir me destruir. Não sou estúpida a esse ponto.
Agradeço por todos os bons momentos que tivemos, mas eles serão apenas lembranças.
.

Isabella e Júlia chegaram rapidamente. Tinham combinado de se despedirem ali mesmo, já que tinham aula a tarde e não poderiam ir até o aeroporto. Foi melhor, inclusive. não queria demonstrar emoções em público e era impossível não chorar ao dizer adeus àquelas duas. Além disso, elas tinham que entregar a carta a .
- Prestem atenção nas instruções - disse, limpando as lágrimas - Vocês devem entregar isso a ele na hora do meu voo. Nem um minuto antes, nem um minuto depois. Vocês devem falar que eu já fui e que estava muito feliz, caso ele pergunte.
- A gente pode ler? - Julia arriscou.
- Não - disse ríspida. Nunca era assim com as amigas, mas não queria contar a elas tudo o que tinha acontecido. Não tinha dito que eles estavam juntos de novo, e preferia que continuasse em segredo.
- Tudo bem. Amamos você, .
- Amo vocês e vou sentir muita, muita falta! Venham me visitar no verão - ela sorriu ao fechar a porta de seu apartamento, contendo as lágrimas e indo em direção ao taxi que a esperava. Olhou mais uma vez para o prédio que ela chamou de lar nos últimos dois anos. Deu adeus silenciosamente a e embarcou na jornada de sua vida.


Eram cinco horas da tarde, o que significava que tinha acabado de embarcar, e que elas teriam que entregar a carta para . Fizeram muito esforço para não ler, mas se essa era a vontade da amiga, assim seria.
Tocaram a campainha estridente duas vezes e estavam prestes a ir embora quando uma versão descabelada e acabada de abriu a porta. Algo muito ruim tinha acontecido, pois ele tinha olheiras profundas e uma postura curva, como se carregasse um fardo imenso em suas costas.
- Ei - Julia disse, pegando a carta da mão de Isabella - mandou entregar.
- Onde ela está? - disse, alarmado.
- A caminho da California - disse Isabella, obvia. Mas foi ai que percebeu que ele não sabia que ela estava partindo hoje. Então por isso a carta. Para se despedir e impedir que ele fosse atrás dela.
- Droga! - disse, com a voz irritada - Bom, obrigada, meninas. E vocês podem, por favor, me avisar se ela mandar notícias?
Era um pedido estranho, mas ele parecia tão desesperado que negar não era uma opção.
- Claro. Assim que ela ligar nós te avisamos - disse Isabella, dando as costas para o loiro, que suspirou e fechou a porta.
Ela estava indo para a Califórnia mesmo. E ele não podia acreditar. A carta dele não tinha servido de nada, então. Pensar nela chegando em seu novo apartamento, conhecendo novas pessoas, talvez até se apaixonando, fazia o monstro dentro do peito dele dobrar de tamanho.
Ele já estava uma bagunça sem vê-la, agora sabendo que ela estava longe e não se importava com ele ou com o que eles tiveram o fez perder a cabeça. Ele nem mesmo quis ler a carta. Não fazia sentido.
estava longe de seu alcance e ele não podia permitir isso.
Ela era a responsável por todos os seus sorrisos e alegrias. Ela era quem o fazia ser uma pessoa melhor. Ela o ensinara tantas coisas, como o verdadeiro sentido de uma amizade, o que era realmente gostar de alguém. O ensinara a ver a vida com outros olhos: ele não devia se importar com as pequenas coisas, porque tinha de tudo enquanto outros lutavam para sobreviver. O ensinara que dinheiro não era a coisa mais importante do mundo e que se ele realmente quisesse fazer alguma coisa nova e importante teria que lutar por isso. O ensinara que nem toda história tem só um lado. E, o mais importante, o ensinara que o amor nem sempre é ruim.
Abriu a carta e instantaneamente o perfume dela preencheu o ambiente, fazendo-o bufar. A imagem dela já estava marcada em todos os cantos daquele lugar, ele obviamente não precisava de mais um indício do que perdera.
As palavras só confirmaram aquilo que ele já sabia: ele já não merecia um lugar ao seu lado. Saber que ele tinha feito a pessoa mais importante de sua vida sofrer o fazia sentir-se um monstro. E, por mais que parecesse egoísta, era menos pior do que saber que ela tinha seguido em frente, pois significava que ela ainda o amava ou ao menos sentia alguma coisa por ele.
Sabia que não desistia do que amava. E ela tinha, definitivamente, desistido dele.
Sabia também que deveria desejar o melhor para ela e seguir em frente, mas era humanamente impossível desistir de alguém que era sua razão para viver, sua alma gêmea.
Revirou os olhos com esse sentimentalismo excessivo. Se conseguisse de volta, a mataria por deixá-lo daquele jeito e eles ririam de toda aquela situação, pois era característico deles fazer piada de suas tragédias pessoais.
Pensar na risada dela o fez sentir-se ainda mais para baixo e, como não tinha uma estratégia melhor, pegou um papel e uma caneta e tentou ao máximo fazer uma letra bonita: se ela chegasse a ler a carta, notaria e lembraria de como se irritava com ele por ser tão desleixado. Talvez isso a fizesse sorrir, e já seria o suficiente pelo momento.

“Ooh I'm a mess right now
Inside out
Searching for a sweet surrender
But this is not the end”

,
Hoje você foi embora e, mesmo assim, você está em todos os lugares. Vejo imagens de você em todos os cantos de meu apartamento e daquela maldita faculdade. Não consigo esquecer de todos os seus sorrisos e, infelizmente, também não esqueço de suas lágrimas. É um peso difícil de suportar, saber que te fiz sofrer mais do que gostaria
Eu sou um idiota, mas não estou escrevendo para me lamentar. Só quero te contar sobre os meus momentos favoritos com você.
Lembra-se da primeira vez que dormiu em meu apartamento? Você estava com medo de um filme de terror estúpido e eu ri tanto da sua cara e você ficou tão irritada que esqueceu totalmente do que te aterrorizava e dormiu rapidinho - no sofá da sala, por que se recusou a dividir a cama com o “pior amigo que alguém podia ter”. Naquele dia podia não parecer, mas rir das situações assustadoras sempre foi meu jeito de te distrair de seus problemas.
Eu nunca fui muito bom com palavras, isso é algo que não posso mudar, mas sempre me importei muito com você. Nunca fui capaz de lidar com a sua tamanha importância para mim. E agora tentarei explicar o por quê.
Minha família não é nada do que você pensa ser. Meus pais se casaram por negócios e não amor. Minha mãe, no entanto, acabou se apaixonando por meu pai. O sentimento a corroeu por dentro, meu pai não se importava com ela e deixava isso bem claro no dia-a-dia. Tudo não passava de uma grande farsa. Eu sofri crescendo nesse meio e nunca aprendi o que era o amor realmente.
Alissa nunca foi uma namorada para mim. É claro, agíamos como tal, mas ela sempre fora mais uma distração e alguém para desabafar do que qualquer outra coisa. Eu nunca imaginei que o amor recíproco fosse possível, até encontrar você.
Ah, ! Se você soubesse o quanto lutei para permanecer longe de você, lutando contra o medo de me despedaçar e ser tão infeliz quanto minha mãe. Mas o amor não é ruim. Como compartilhar um tempo de minha vida com você poderia ser ruim?
Tudo o que vem de você tende a ser maravilhoso. Como já te disse, você é brilhante. E talentosa. Amo como você se dedica ao máximo àquilo que almeja. Amo o brilho nos seus olhos quando fala sobre algo que ama. Amo sua paixão incessante, sua compaixão. Seus sorrisos bobos, especialmente.
Eu sei que muitas vezes você fica tensa, mas quando você se deixa levar, é maravilhoso! Ah, , você fica tão leve! Como se nada mais no mundo importasse do que se divertir e ser feliz naquele momento. Você me ensinou isso.
Sei que deveria te dar o espaço que mereçe. Talvez eu nunca chegue a enviar essas ridículas cartas de amor. Mas escrever para você te trás para mais perto de mim. E só eu sei o quanto preciso de você perto de mim.
Sem você aqui, me sinto deslocado. Não me parece um lar. Eu fui tão estúpido ao relacionar a palavra lar a um lugar! Sempre foi você, , que me fez me sentir em casa, me sentir completo. Devo a você alguns dos momentos mais felizes de minha vida. E não, eles não serão só memórias.
Talvez o tempo te mostre que você e eu pertencemos um ao outro. Talvez o tempo nos ajude a sermos melhores um para o outro. Enquanto isso, sentirei sua falta. E não deixarei de escrever. Talvez você nem chegue a abrir essas cartas, mas no fundo do meu coração eu sei que vai. Sei que o que tivemos não pode desaparecer assim.
Eu te amo, . Com todo o meu coração, aproveite a estadia e, por favor, volte logo.
.

“And though I've known it for the longest time
And all of my hopes
All of my words are all over written on the signs
But you're my road walking me home
Home, home”

Não sabia exatamente como, mas escrever fazia com que ele se sentisse menos vazio. Aproveitando o alívio momentâneo, decidiu tomar um banho e estudar. Afinal, por mais que não parecesse, a vida tinha que prosseguir.


A California era simplesmente maravilhosa. já tinha visitado o estado antes e, mesmo assim, ainda se via encantada por todos os centímetros daquele lugar. Faziam duas semanas desde que chegara e já estava bem acomodada em um apartamento perto do campus da UCLA. Até fizera alguns amigos, vizinhos de andar. Uma das meninas estava muito ansiosa por conhecer uma brasileira e fizera de tudo para que ela se sentisse em casa. Em certa parte, funcionou bem, mas sabia que faltava alguma coisa. Seu coração dizia “alguém” e ela, teimosa, negava veemente.
O que ela sentia era parte da tão conhecida adaptação e passaria rápido.
Seu primeiro dia de aula fora muito bem. Não chamara muita atenção e conseguira acompanhar todas as aulas que queria. Os professores foram muito gentis com ela, perguntando se precisava de alguma coisa e elogiando suas perguntas.
Chegar em casa era meio solitário, se ela fosse sincera consigo mesma. Apesar dos vizinhos cooperativos, sentia falta das risadas conhecidas dos universitários da USP e até mesmo da música horrível que eles escutavam até as duas da manhã. Sentia falta dos jantares coletivos na recepção e dos filmes semanais.
Sentia falta dele, mais do que gostaria de admitir. Ela tinha se decidido que ele nunca mais entraria em sua vida, mas aquela carta tinha destruído suas defesas. Ela precisava colocá-las de volta no lugar.
Em tese, estar longe dele seria mais fácil, faria com que esquecer fosse menos doloroso. Por que insistia em doer tanto, então? Ela não entendia. Tinha prometido não chorar mais, não sofrer mais, não pensar mais nele. Era um saco não conseguir.
Cansada de seus pensamentos, decidiu explorar a cidade. Afinal, tinha apenas seis meses e uma imensidão de lugares para conhecer.
Decidiu ir até Venice Beach - diziam que a praia tinha o pôr do sol mais bonito da região. Ela ainda estava sem carro, então pegou um táxi. Precisava de um carro urgente.
Sentou-se na areia, tentando camuflar-se entre os nativos. O que pareceu funcionar, pois segundos depois alguém sentou-se ao lado dela.
- Não esperava te encontrar por aqui - olhou para o lado assustada e depois riu. Escutar português depois de duas semanas foi um alívio.
- Nem eu, senhor alta sociedade. Você tem permissão de sentar na areia? - riu leve e voltou a atenção ao mar.
- Muito engraçada, - revirou os olhos e riu, empurrando a menina de lado - Esta passeando ou se rendeu aos negócios familiares?
- Prefiro morrer! - disse, animada - Na verdade, estou estudando na UCLA.
- E não nos esbarramos por ai? - disse, olhando intensamente para a menina, que gargalhou.
- Você, em uma universidade?
- Bom, conheci alguém que me influenciou a sair da sombra de meus pais - ele sorriu para ela, que devolveu o ato. Se sentiu orgulhosa dele e dela mesma.
- Há! Como agradecimento, mereço um tour, não acha?
- Começamos agora? - ele levantou, oferecendo uma mão para a morena.
- Imediatamente, Alex - falou em inglês e o menino aprovou, apontando a direção que ela devia seguir.
[...]
Nenhum dos dias tinha sido tão divertido como aquele. Acabou que Alex era ainda mais engraçado sem as bebidas. E ainda mais encantador ao mostrar seus pontos favoritos de Los Angeles e arredores. Eram duas horas da manhã quando ele a deixou em frente ao apartamento. Se sentia muito mais quente, em casa.
Subiu as escadas de dois em dois degraus, feliz. Era bom saber que tinha alguém com quem contar. Com toda a correria, tinha se esquecido completamente que Alex morava em Los Angeles. Saber que ele estava na UCLA a deixou muito feliz.
Ele prometera que a encontraria amanhã e iriam almoçar com os amigos - muito mal educados e de classe média. Ela não podia estar mais animada.
Estava tão cansada que não teve tempo de pensar em qualquer coisa, somente tomou um banho rápido e adormeceu como a muito não fazia.


Estava atrasada e só Deus sabia como ela odiava esse tipo de coisa. Não sabia como tinha acontecido. Se sentia irritada. Não estava ali nem a um mês e já tinha se atrasado - uma vergonha para a impecável e pontual . Para piorar, o porteiro vinha até ela com um sorriso amigável. E tinha uma prancheta em mãos. Ela teria que assinar alguma coisa, o que tomaria pelo menos cinco minutos - que ela não tinha.
- Senhorita , correspondência - o senhor de uns 60 anos sorriu acolhedor para ela - Pode assinar aqui, por favor?
- Claro! - disse com um sorriso. Pensou que fossem contas, mas eram cartas. Tinham três envelopes. Só de pensar em sua família e amigos, seu coração apertou. Sentia tantas saudades!
Pegou as cartas da mão do porteiro e se despediu rapidamente, caminhando rápido até o campus. Não conseguiria entrar na primeira aula, de qualquer maneira, então sentou-se na arquibancada e tentou assistir o jogo de lacrosse. Sua curiosidade para ler as cartas, no entanto, a impediu.
A primeira era uma carta conjunta de Isabella e Júlia. Não sabia por que elas decidiram se comunicar por cartas, mas ela adorou a ideia. Isabella estava muito brava por não saber o que estava acontecendo entre ela e . Júlia estava muito brava por ter que aguentar as neuroses de Isabella sozinha. As duas estavam com muitas saudades e já estavam reservando hotéis para as férias de julho.
A segunda era de seus pais - que estavam com muitas saudades - e perguntaram se ela não gostaria de passar uma semana em Milão com eles: como se pudesse se dar ao luxo de perder aulas.
A terceira trouxe lágrimas aos seus olhos imediatamente. A caligrafia desleixada fez com que as barreiras de seu coração desabassem novamente. Dessa vez, definitivamente.
Abriu o envelope com cuidado e agarrou-se àquele pedaço de papel como se fosse tudo o que importava. Sentia tantas saudades dele. Mas também sabia que estava muito melhor sem ele por perto.
Ler não faria mal, desde que ela prometesse não responder. Então fez isso mentalmente e iniciou a leitura daquelas preciosas palavras.
“...Sem você aqui, me sinto deslocado. Não me parece um lar. Eu fui tão estúpido ao relacionar a palavra lar a um lugar! Sempre foi você, , que me fez me sentir em casa, me sentir completo. Devo a você alguns dos momentos mais felizes de minha vida. E não, eles não serão só memórias.
Talvez o tempo te mostre que você e eu pertencemos um ao outro. Talvez o tempo nos ajude a sermos melhores um para o outro. Enquanto isso, sentirei sua falta. E não deixarei de escrever. Talvez você nem chegue a abrir essas cartas, mas no fundo do meu coração eu sei que vai. Sei que o que tivemos não pode desaparecer assim.
Eu te amo, . Com todo o meu coração, aproveite a estadia e, por favor, volte logo.”
As lágrimas ficaram mais frequentes e grossas, mas a morena não tentou as impedir. Talvez se ela chorasse tudo o que tinha que chorar, não sobrasse nada dele em seu organismo. Talvez se permitindo sentir tudo por uma última vez, poderia finalmente estar livre do sentimento avassalador que destruía seu peito. Pegou um caderno e uma caneta e pôs no papel tudo aquilo que sentia.

Ei,
Eu também sinto sua falta. Mais do que tudo. E não tenho palavras para descrever o quanto isso está me matando. Essa viagem era para ser um refúgio de você, mas é louco pensar que você está na minha mente todos os instantes. Você e suas incríveis burradas. E, por mais que eu tente coloca-las à frente dos momentos bons, é simplesmente inútil.
Mas espero que entenda que não posso fazer nada a respeito. Não posso te perdoar, por mais que acredite em segundas chances. E você já teve muitas. Não posso prender-me a você sem garantia nenhuma de que você irá se comprometer comigo. Não posso ter meu coração quebrado mais uma vez.
Eu te amo, mas estou pronta para esquecer disso. Então, por favor, pare de escrever. Se você se importa comigo, vai atender meu pedido. Preciso aproveitar esse tempo aqui, voltar a ser feliz e leve como você disse que eu já fui uma vez.
.

Ela enviaria aquela carta e não abriria mais nenhuma que chegasse. Ele tinha que entender que estava acabado dessa vez. E ela tinha que se convencer a não pensar mais nele. Se entupiria de problemas, se necessário. Não teria um momento de descanso. Não deixaria que suas defesas fossem atacadas mais uma vez. E aproveitaria a California o máximo que pudesse. Ficaria longe dele, independente das consequências.
Estava se levantando quando encontrou Alex. Ele fingiu não notar suas lágrimas e ela agradeceu silenciosamente. Acompanhou-o até a mesa cheia de amigos - típicos californianos que não se importavam com nada além de surfar e rir de qualquer bobeira - e era exatamente daquilo que ela precisava. Distração, risadas leves e companhia agradável.


não recebia notícias de desde aquela carta que o deixou mais confuso do que qualquer outra coisa. Ela o amava, como ele imaginava. Mas o sentimento não parecia ser forte o suficiente para que ela o perdoasse. Escreveu mais de dez cartas e perguntou-se se era certo mandá-las. deixara claro que preferia não ter mais notícias dele.
Mandou algumas, se arrependendo ao não receber resposta alguma. Ele deveria ter guardado-as para si mesmo, ela ficaria mais feliz assim.
Mas uma coisa que não sabia fazer era desistir.
Ele tinha melhorado durante esses dois meses. Percebeu que ficar sem não era o fim do mundo. Mas também percebeu que ficar sem ela não tinha nem a metade da graça. Não era a mesma coisa. Não se sentia completo do mesmo jeito.
Sua mãe fizera duas visitas desde que ela foi embora. Por motivos desconhecidos, ela sabia, sem ele precisar dizer uma só palavra. Ela dera vários conselhos a ele. Disse que o tempo amenizava tudo. Que ser um cafajeste era coisa de família e, que, com sorte, ela voltaria para ele.
Ele não sabia depender da sorte. Não podia deixar seu coração nas mãos do destino. Por isso não conseguia desistir das cartas. E estava ficando cada vez mais exigente com elas. As palavras tinham que ser muito bem escolhidas, para demonstrar o quanto ele sentia falta dela. O quanto ela era importante para ele e o quanto ele se arrependia.
Abriu a caixa em que guardava as cartas e leu algumas delas, sentindo-se um inútil. Não conseguia pensar em nada para tê-la de volta. Não com ela tão longe.
“...Hoje fui ao teatro. Você sabe o quanto eu odiava quando você me forçava a ir com você. Mas, aparentemente, as peças são geniais. Acho que eu tentava tanto te irritar que não prestava muita atenção. Não que agora tenha conseguido, pois só pensava em seus comentários inteligentes e suas broncas, pedindo encarecidamente que eu parasse de jogar pipoca em você e calasse a boca....”
! Você talvez não queira saber, mas passei com excelência em todas as matérias, da pra acreditar? Com você longe, meio que tirei um tempo para me dedicar à faculdade. Talvez você se irrite com isso, pois sempre tentou me fazer ser um aluno exemplar e nunca conseguiu.. Mas é que você me distraia demais com esse sorriso maravilhoso e as conversas bobas. Enfim, queria te avisar que seus métodos de estudo realmente funcionam. Quem diria, os inúteis fichamentos realmente servem pra alguma coisa....”
“Hoje Isabella foi gentil comigo! É uma mudança em tanto, não acha? Fiquei tão surpreso que comecei a rir da cara dela, o que a fez voltar ao mal humor cotidiano. Pedi desculpas, então foi a vez dela de rir da minha cara. Sabe, ela é uma boa amiga. E até reconheceu que eu não era um partido tão ruim assim. Tá vendo? Isso merece uma recompensa. O que acha? Assim que você voltar, um jantar em seu restaurante favorito? Por minha conta, juro!”
“Sinto tanto a sua falta. Cansei de me lamentar pelos cantos, no entanto. Agora lembro-me de todos os nossos momentos com um sorriso no rosto e saudade estampada no peito. Não mais com aquela melancolia - assim como você me ensinou, não adianta ficar sofrendo sendo que não vai ajudar em nada.Devemos apreciar as coisas boas da vida, não é? Isso não quer dizer que eu desisti - e você não perde por esperar: vai ser minha de novo. Te amo,
.”
As cartas não seriam o suficiente. Mesmo assim, agrupou-as e mandou para o endereço. Elas seriam responsáveis por amolecer o gelo que poderia ter criado em torno de seu coração.


Duas cartas tinham chegado nos dois meses seguintes. Ela não se deu o trabalho de lê-las, somente a guardou em uma gaveta trancada e escondeu a chave tão bem que seria impossível encontrá-la agora.
Uma parte dela estava orgulhosa. A outra se perguntava o porquê de tanta resistência. Ele era tudo o que ela sempre quis e tinha, finalmente, se declarado para ela. Sabia que tinha sido um desafio para ele, que era péssimo com as palavras e os sentimentos. Mas o orgulho recém criado falava mais alto.
Estava muito bem ali. Tinha feito vários amigos maravilhosos e se sentia muito acolhida por eles. Tinha até ficado menos pálida devido ao maravilhoso sol californiano. Estava saindo frequentemente, talvez até mais do que saia no Brasil. Suas amigas adiaram a viagem e passaram com ela uma semana maravilhosa, passando por diversos pontos do sul da California e duas noites - das quais não se lembravam de nada - em Las Vegas.
- - Angela, a única menina de seu grupo de amigos, aproximou-se dela com um sorriso brilhante. Ela era maravilhosa, típica Californiana - Isso é pra você - entregou um cartão, que a morena abriu prontamente.
“Comecei assistir aquela série de menininha que você gosta, Teen Wolf. E meu deus, eu estou ficando louco! Assisti duas temporadas em um só dia pra descobrir que o Jackson é o Kanima? Vou te matar! Estou começando a duvidar de meus gostos. Talvez minhas escolhas cinematográficas tenham atingido o nível das suas. Ah, estou tão ferrado.”
não conseguiu evitar o sorriso. Não sentiu a mágoa de antes, somente uma saudade imensa. Sentia falta do garoto idiota que a fazia sorrir por qualquer coisa. Preferia ele ao monstro que a fazia chorar o tempo todo. Gostaria muito de encontrar um equilíbrio entre os dois.
Balançou a cabeça negativamente. Não podia pensar nele assim! Não podia perdoá-lo por tudo que a fizera sofrer.
- Onde você conseguiu isso? - perguntou, confusa.
- Estava na porta do meu quarto. Você tem um admirador secreto do Brasil? Será Johnny o estranho? - ela riu, acompanhando-a pelos corredores movimentados da faculdade.
- Ah, não! Pelo amor de Deus - ela gargalhou - É uma longa história.
- Sabe, você não precisa assistir a primeira aula. Até que está ficando boa em não surtar sobre isso.
- Angela, você é totalmente maluca! Eu não vou perder uma aula para conversar.
- Muito melhor do que perder uma aula por estar de ressaca, sabe - disse, irônica, fazendo revirar os olhos e rir contrariada.
- Meu Deus, vocês estão me transformando em uma irresponsável.
- Isso é um sim? - Angela sorriu, hesitante.
- Sim, Angela, isso é um sim. Talvez contar isso para alguém faça bem.
- Boa menina. Vamos, podemos ir ao meu dormitório.
Chegaram ao dormitório da menina e encontraram mais um cartão em baixo do tapete.
- Ele falou com você? - perguntou, desconfiada.
- Ah, você gosta de homens, graças a Deus! Sempre desconfiei. Afinal, Alex faria tudo o que você quisesse e você não parece dar a mínima - Angela riu, desviando o foco da conversa.
- Cala a boca! - gargalhou, preparando-se emocionalmente para ler o próximo bilhete.
, como você aguenta essas aulas de Sociologia? Eu odeio tê-las. Me disseram que era só pelo primeiro ano. Mas, aparentemente, preciso de três anos com a bruxa da senhora Judith. Ela é o Hannibal na versão feminina! Me dá calafrios. Kant parece muito mais agradável com você me explicando. Volte logo, pelo amor de Deus.”
riu e resmungou ao mesmo tempo. Ele não podia estar fazendo isso com ela. Era sua maior especialidade - fazê-la esquecer que estava brava com ele.
- O que esse diz?
- Que ele precisa de ajuda em Sociologia e sua professora parece o Hannibal na versão feminina.
- Que romântico - ela revirou os olhos e riu, balançando a cabeça negativamente.
- Acredite, isso já é muito para ele.
- Temos um garoto com problemas em confessar seus sentimentos pela Miss Brasil aqui?
- Um garoto com vários problemas, na verdade - ela riu e passou a contar a história dos dois desde o dia em que colocou os olhos nele pela primeira vez.


- faltou a aula e apareceu no almoço. Você é oficialmente uma de nós - Edwin disse e ela riu, embora sentisse um grande aperto no peito - Tenho uma coisinha pra você - tirou um cartão da mochila e murchou.
- Ai. Meu. Deus - disse, sentando-se na mesa - Eu vou enlouquecer.
- O que é isso?
- Memórias de meu passado - tirou o cartão da mão de Edwin antes que Alex pudesse ler. Não queria deixá-lo magoado. Ele tinha sentimentos por ela durante todo esse tempo, apesar da menina não permitir que ele se aproximasse. Talvez fosse uma questão de tempo até acontecer.
- Seu passado não vai te impedir de ir ao luau, né? - disse Angela, esperta.
- Ah, como parte desse maravilhoso grupo, não nego festas! - disse animada e todos riram, voltando à suas refeições, enquanto lia o menor e mais importante dos cartões.
“Eu te amo. Mais do que qualquer coisa, . Só tenho a agradecer por tudo o que passamos. Você é a melhor.”
Aquela era uma despedida ou ela estava enganada? Só de pensar na possibilidade, seu estômago revirou e seus olhos ameaçaram a lacrimejar. Ela era tão idiota! Não tinha como ser um fim, sendo que eles já não tinham mais nada. Talvez fosse apenas um encerramento, que a permitiria seguir em frente de uma vez por todas. Talvez ele finalmente tivesse entendido que não tinha mais volta.
Por que aquilo a fazia querer chorar, então? Algo que não tinha mais volta se encerrando deveria fazê-la se sentir aliviada.


tentava em vão não pensar na despedida da hora do almoço. Tinha se ocupado a tarde toda tentando tirar sua mente dele e do Brasil, não tinha funcionado. Ela, pelo menos, estava impecavelmente arrumada, com um vestido branco boho e cabelos soltos em ondas, e pronta para beber.
- - Alex chamou, fazendo com que a morena andasse até ele - Você me parece triste. Quer conversar sobre o que está achando da California?
- Ah, Alex! Eu estou amando. Não podia pedir por amigos melhores. Vocês todos me acolheram e me fizeram me sentir totalmente em casa! A universidade é maravilhosa... - terminou a frase com um, mas implícito, que Alex, perspicaz, não deixou de perceber.
- Mas... Falta alguma coisa? - ele perguntou e ela, relutante, balançou a cabeça em concordância.
- Então, antes que você comece a beber para esquecer de tudo, deixe-me te entregar uma coisa - ele tirou um cartão amassado do bolso do shorts.
- Mas? - ela perguntou, confusa.
- Você foi sempre dele, de qualquer maneira - deu de ombros e apontou para trás. Ela virou-se rapidamente. Só podia ser uma pegadinha, não tinha como ele estar ali.
Mas ele estava. Com um sorriso do tamanho do universo e os braços abertos, certo de que não haveria rejeição. Ele a conhecia bem demais. Sabia que ela correria para os braços dele. E foi isso que ela fez.
Abraçou-o e se desfez em lágrimas, misturadas com o sorriso mais feliz que já tinha saído de seus lábios. Eles eram tudo um para o outro e esses meses afastados tinham quebrado inteiramente seus corações.
Mas aquela união naquele momento apagou todos os problemas e mágoas. Perceberam, finalmente, que nada era mais importante do que estarem um nos braços do outro. Perceberam que independente de tudo, sempre voltaríam um para o outro.

Fim.



Nota da autora: (27/05/2015) Sem nota.




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