Última atualização: 18/05/2018

Capítulo 1

ATO 1 Aprender a dizer adeus é uma grande e dolorosa sabedoria, principalmente quando estamos cientes de que as horas não voltam e as que passaram já nos criaram mágoas demais. Amadurecer é aprender a dizer adeus, mesmo quando ainda há amor. É dizer adeus a uma pessoa querida que parte para outro hemisfério. É dizer adeus a um animal de estimação que se foi sem ter oportunidade de contar as suas últimas novidades. É dizer adeus a um lar, aconchegante e quentinho, que tinha tudo para ainda ser o nosso recanto. Fato é que aprender a dizer adeus dói demais para aprendermos a lidar com maturidade e realismo; o sofrimento da partida é sempre inédito, e necessário, e precisamos aprender a hora de nos de despedir sem olhar para trás. E eu estava ali no meio de uma estação de trem da forma mais clichê possível, vendo o olhar decepcionado de pra mim. E eu podia me perguntar como tínhamos chegado até esse nível. Mas tinha plena consciência de como tínhamos chegado nisso.
Belo Horizonte — Área central, 20:16 AM, dois meses atrás — 09 de Março.
Pisquei os olhos atônita ao ouvir o que havia dito. Eu tinha plena noção de que em Belo Horizonte, a área que eu desejava seguir não era bem reconhecida e quando eu finalmente consegui um estágio em publicidade e poderia atuar na área que eu queria, eu segurei com todas as forças possíveis. Tinha total noção de que era uma revista famosa e que o fato de estagiar ali, seria o ápice da minha graduação.
— Se eu não for você não vai e eu não vou.
. Eu parecia estar confusa com algo, ou estar tendo algum tipo de torcicolo, contudo eu só encarava como se ele estivesse louco. Quem diabos ele achava que era pra me prender aqui? E foi a exata pergunta que eu o fiz.
— Eu sou seu namorado!
— Ser meu namorado não lhe dá o direito de me prender, .
— Você quer ir para outro estado.
— Eu mal te dei a notícia e você me jogou mil pedras. Pode ser essencial tua mudança para São Paulo também.
— Eu não vou sair de Belo Horizonte tem excelentes oportunidades aqui.
— E eu não vou ficar em Belo Horizonte, tenho excelentes responsabilidades lá.
— Eu sou praticamente seu noivo, .
— Eu sei, e eu não quero mudar isso. Só precisamos conciliar, veja meu lado.
— Ver o seu lado? E o meu lado? E nossos planos? E nossa vida?
, ainda faltam dois meses. Não vamos discutir sobre isso agora.
Belo Horizonte — Aeroporto Internacional de Confins, 22:50 PM, atualmente. — 14 de maio.
Talvez tenha sido o acúmulo de coisas, ou termos adiado por tanto tempo tudo que tínhamos pra conversar, talvez seja as brigas constantes ou todo o medo da mudança. Brigas bobas são os pratos mais pedidos do cardápio.As conversas não faziam mais tanto sentido, eram repetitivas, cansativas e cheias de verdades unilaterais. Como conversar com quem não quer ouvir? É árduo, complicado. O silêncio já foi um “conforto” longo demais, e hoje não é mais sábio, muito menos maduro, mas um constante desperdício de tempo por se acreditar em uma alegria que somente fez juras de amor no passado. E agora o presente e o futuro importam mais. Não é uma questão de egoísmo, é que a partir do momento em que sua felicidade e seus planos ficam em segundo lugar, porque não agradam, ou não são iguais aos de quem você tem um relacionamento, isso deixa de ser saudável. Não precisava escolher, mas ele decidiu por nós dois. Ou meu futuro e minha vida, ou ele. E eu o amava, claro. Mas não vivo em um mísero conto de fadas onde o amor é suficiente para ficar junto com alguém. Eu tinha o meu final feliz, por mais que doesse ali e agora. Eu era feliz com a escolha.
Belo Horizonte — Parque Serra do cipó, 05:10 AM, três anos atrás — 23 de maio, 2015.
— Eu não acredito que você me trouxe até aqui.
— Um ano de namoro, .
— Nunca imaginei que íamos dar certo.
— Era tão improvável assim?
— Não fazemos parte de um clichê, .
— Mas teremos nossos felizes para sempre.
— Seremos felizes.
Belo Horizonte — Aeroporto Internacional de Confins, 22:50 PM, atualmente. — 14 de maio.
Tinham sido felizes, afinal. Não entendia o porquê diabos ninguém entendia isso. Todas amigas diziam “Mas vocês eram perfeitos um para o outro” “Poxa, não era amor.” “Vocês mereceriam um final feliz” “Mas não deu certo?”
E quatro anos de namoro não era “dar certo?”. Tinham uma história, tinham se amado e nos últimos meses não considerava que eram perfeitos. Afinal, nunca foram. Nunca entendeu o porquê desse Casal perfeito que idealizavam. De verdade, se o casal perfeito era aquele que enxergava num canto e eles estavam de mãos dadas e arriscava um beijo calmo. Ou aquela cena em que viam de longe entre ela e parados de frente um para o outro. Ele a encarava com os olhos marejados e ela tinha um sorriso triste no rosto. Sabia que era uma despedida e por mais que quisesse evitar, aquilo parecia clichê demais. Por isso riu uma última vez e relembrou da briga de ontem.
Belo Horizonte — Bairro Floresta, 17:11 AM, dia anterior. — 13 de maio.
— Você me disse que eu devia correr atrás dos meus sonhos, .
— Eu não sabia que seus sonhos iam me excluir da sua vida.
— Eu não te exclui, .
— E ir para outro estado significa o que?
— Me deixa perguntar uma coisa, nos últimos dois meses eu alguma vez disse algo sobre terminar com você?
— Não estou falando sobre terminar, .
— Eu estou te dizendo que eu nunca quis terminar.
— E pretendia continuar comigo em outro estado?
— É claro.
— Não temos idade para namorar a distância, .
— Então não sou eu quem quer terminar.
— Entenda como quiser.
Viu o namorado sair andando pelo apartamento até o quarto que pertencia a ambos.
— Você está terminando comigo?
— Quem está indo embora não sou eu
. — Então prefere assim?
— Eu vou dormir fora, .
— Sabe que é a ultima vez que eu durmo aqui, não é? Vai sair mesmo assim?
— Adeus, não é?
— Não vai ficar comigo aqui, ?
Ele não respondeu, apenas bateu a porta e saiu.
Belo Horizonte — Aeroporto Internacional de Confins, 22:55 PM, atualmente. — 14 de maio.
— Você me disse que não queria mais me ver, nem pra despedir.
— Conhecendo a mim e a você, se não nos despedirmos isso ia ficar mal acabado. Ia doer.
— E agora não dói?
— Dói.
— E mesmo assim preferiu vir?
— Estou evitando todas as tardes frias que eu possa passar naquela casa.
— É sua casa, .
— Era nossa, não posso ser feliz ali se você não está.
— Eu não posso ser responsável pela sua felicidade e tão pouco você pela minha.
— Isso é finalmente um acabou?
— Convenhamos, . Já acabou há dois meses.
— Por quê? v — Nossas lembranças estavam sendo marcadas com brigas e brigas e noites intermináveis de choro mudo. Não era justo com nenhum de nós. Não era justo com aquelas memórias que havíamos construídos juntos. Sabemos que eu tomei a melhor decisão, por mais dolorosa que ela tenha sido, e foi. Fiz o que precisava ser feito, coloquei o passado na bagagem, guardei o que vivemos no coração e abri a porta pra vida nos dar uma nova chance de tentar. Não estávamos felizes, e eu queria estar, merecia estar. Assim como você. Então tive de abrir mão da nossa história. Tá na hora do meu voo.
— Posso te abraçar?
— Como se eu fosse capaz de negar isso.
Então se permitiu sentir aquela paz por alguns segundos. Talvez o último permitisse que toda mágoa morresse ali. Seriam felizes, afinal.
— Não vire para trás uma última vez, seria clichê demais.
— Nós somos clichês, . Mas eu acima de tudo, te desejo sucesso e felicidade, que tenha tudo o que sonhou e que finalmente consiga seguir seus sonhos.
— Um dia quem sabe você não vê um livro meu por aí.
— Vou ser o primeiro da fila de autógrafos em Belo Horizonte.
— Vou esperar por isso.
Um último sorriso.
Um último olhar.
Então ela segurou a mala e não olhou pra trás. Era o fim de um ciclo.
>>>>

Belo Horizonte — Aeroporto Internacional de Confins, 00:30, atualmente. — 15 de maio.
não soube quanto tempo exatamente ficou rodando pelo aeroporto e tentando forçar-se a acreditar que ela voltaria pra dizer que tinha desistido, mas era . Ela não desistiria dos seus sonhos e isso o fez entrar no carro e seguir o caminho para casa. E aceitar que todo aquele vazio seria permanente.
São Paulo — Aeroporto Internacional de São Paulo - Guarulhos, 00:22, atualmente — 15 de maio
Não era nada surreal, não era algo mágico. Mas estava feliz e sabia que iniciava um ciclo novo ali. E recomeços eram necessários, afinal.
>>> Entrou no apartamento mobiliado e surpreendeu-se com o que viu. Estava tudo do jeito exato que havia pedido e não podia encontrar jeito melhor de começar uma nova vida. Principalmente encarando o centro de São Paulo. Sempre foi muito urbana. Gostava de estar rodeada de pessoas, prédios e todas as coisas do gênero. Então se permitiu escorar no sofá branco e encarar o novo mundo. Sabendo que no fundo, e ela se amaram e aquilo era suficiente.
ATO 2

Eu lembro que no primeiro dia aqui desde que eu resolvi vir embora São Paulo chorava junto comigo. Enquanto eu estava no ônibus, voltando de um longo dia de trabalho, a chuva não parava de cair. E junto com ela, minhas lágrimas rolavam. Naquele momento em que tocava nossa música no fone de ouvido e por mais clichê fosse eu ouvia ABBA, você sempre me disse que não entendia meu gosto por músicas antigas. A música era de 1976 também, percebi que passava um filme na minha cabeça. Eu se lembrava do seu sorriso, da sua risada sem som e daquele brilho peculiar que seu olho tem, apenas no canto direito. Se a física explica tal refração, eu não sei. Só sei que doeu demais aceitar que eu não veria esse brilho mais. Eu não queria esquecer nenhum detalhe seu, nenhuma história nossa. Mas eu precisava. Não podia viver para sempre presa na história em que eu era a única personagem. Eu fui embora sem olhar para trás. Precisava encontrar meu caminho, mesmo que sozinha. Precisava lutar minhas batalhas e aprender a conviver com a decisão de não ser mais sua. Virei dona de mim mesma. Virei à página e sorri por ver uma folha inteira em branco. As respostas que eu tanto procurava dentro de você, estavam eram dentro de mim o tempo todo. Tive que reaprender a viver sem você e, olha, não foi tão ruim quanto eu pensava. Aprendi a quantidade certa de pó de café + água. Aprendi a dormir numa cama de casal sozinha, aproveitando cada espaço dela, sem nem me encolher num cantinho.
E agora girando na cadeira de um das salas da Editora Intrínseca e pensando no quão eu cresci de um tempo pra cá. Eu mudei de empresa, mas também são seis anos. O que havia mudado em Belo Horizonte seis anos depois? Aproveitei os minutos de intervalo e observei a pagina do facebook aberta no notebook em minha frente. Em meio á tantas coisas digitei.
e dei enter.
Surpresa em perceber que você já não me tinha mais como amiga na rede social. Tudo bem, tinha seus motivos, abri a página e desci o mouse observando as suas últimas publicações dele e notou algumas fotos com os amigos em comum. Algumas publicações sobre a profissão. Nada diferente.
Havia tido pouco contato com os meus velhos amigos desde então, consequentemente perdeu qualquer coisa que pudesse saber sobre . Não que gostasse dele ainda, só se preocupava. Sabia que o relacionamento teve motivos cabíveis para acabar, mas tudo bem. Bastava continuar seguindo a vida.
— Posso saber o que a purpurina está vendo aí?
— Nada, Rafael.
— Tem alguém brava.
— Eu não estou brava.
— Vendo perfil do ex, ?
— Atualizando apenas.
— Tudo bem que ele era um pedaço de mau caminho, mas larga disso.
— Nós terminamos por que eu vim embora.
— Vocês terminaram por que ele tentou te privar do seu sonho. Porque ele quis que você focasse nos planos dele e esquecesse dos seus e principalmente por que as brigas passaram do limite.
— E conhecendo á nós dois só ia piorar.
— É isso que eu estou tentando te explicar, docinho. Não valia a pena, olha pra você agora e veja o quanto você cresceu e o quanto está seguindo a vida. Veja o melhor amigo gay que você poderia ter e a maior editora de São Paulo.
— Eu já disse que eu amo você?
— Só se me comprar um Cupcake de coco.
— Interesseiro!
Vendo o melhor amigo jogar-se no sofá branco e cruzar os braços á encarando parou para refletir que diante dos três anos que tentou desapegar e seguiu todos os passos não havia conseguido. Mas agora ali...Demorou pra entender que “os sei lá quantos passos para o desapego” não existem. Não tem uma fórmula pra esquecer alguém, para apagar uma história, para deixar de sofrer. É preciso sentir a dor até que ela vá embora. E foi o que fez. Chorava vendo as fotos que você postava sempre em uma festa diferente, chorava ouvindo a música dos dois e cantando desafinada enquanto tentava entender o que foi que aconteceu. Então parou de querer encontrar uma explicação, uma justificativa, um motivo. Não deram certo e tudo bem, paciência, acontece. Foi bom por um tempo. Teve amor de verdade na história, mas de repente estar junto ficou ruim e não tinha o que fazer pra mudar isso, o amor também acaba. O deles acabou. E precisava entender isso sozinha. Quando o luto passou, voltou a sentir vontade de ser feliz, não pra provocar e mostrar como tava bem, mas por si mesma. Voltou a querer curtir com os amigos, voltou a querer sair com outros caras, voltou a querer viver a vida. Voltou a ser eu inteira.

ATO 3

Observou o banner com sua foto segurando o livro e lembrou-se da quantidade de vezes que tinha ido até aquela livraria ao longo da sua adolescência e observou a fila que vinha de fora do local. Respirou fundo não acreditando que estavam na cidade natal doze anos depois e com o próprio livro. Colocou os óculos e jogou o cabelo de lado sentando-se na cadeira e fechou os olhos vendo que a porta tinha sido aberta. Não sabia quão alto era seu nível de nervosismo, ou ansiedade. Mas soube que ia ficar mais alto agora.
— Queria que um dia ele lesse esse texto em uma das paginas que escrevo hoje e entendesse que eu precisei ir embora. Eu não podia mais continuar vivendo numa relação que sugava todas as minhas forças. Eu sei que me amou. Eu também o amei. Mas não dava. Nós perdemos a sintonia. Perdemos os sonhos e a vontade de fazer acontecer. E quando um para de lutar, o outro precisa desistir também. Não existe história de amor só com a mocinha. Aprendi muito bem com a minha mãe que não se deve caminhar sozinho e só depois de um tempo, eu notei que estava na estrada deserta. Ele já tinha abandonado o carro. Eu me amava o suficiente para saber que o que me oferecia não era suficiente. Estreitou os olhos e erguei a cabeça encarando e lembrando-se da promessa de doze anos atrás. “Eu serei o primeiro da fila”. Ele estava ali, em sua frente e lendo o trecho que não sabia se deveria mesmo estar ali. Mas não restou escolha alguma e nenhuma palavra a mais. Abriu o livro na página quarenta e seguiu a leitura.
— Eu fui embora sem olhar para trás. Precisava encontrar meu caminho, mesmo que sozinha. Precisava lutar minhas batalhas e aprender a conviver com a decisão de não ser mais sua. Virei dona de mim mesma. Virei à página e sorri por ver uma folha inteira em branco. As respostas que eu tanto procurava dentro de você, estavam eram dentro de mim o tempo todo. Tive que reaprender a viver sem você e, olha, não foi tão ruim quanto eu pensava.
— Estou feliz por saber quem você se tornou e saber que eu fui parte disso.
— Eu estou feliz por ter cumprido sua promessa, .
— Hoje eu entendo, . Conhecendo a mim e conhecendo a você, o amor permaneceu, mas nós somos pessoas melhores agora. Saiba que tudo vai dar certo.
— Eu sei que vai, . Pra quem eu dedico?
— Pra mim mesmo, ainda sou seu fã numero um.




Fim.



Nota da autora: Eu fiz uma nota curtinha só para agradecer vocês por lerem e a Tatye por todo apoio ao escrever.





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