Última atualização: 04/07/2018

Capítulo 1


Fechei os olhos, respirei fundo. Relaxei meu corpo e me preparei para mudar. Minha cabeça esvaziou e meu corpo ficou leve. Sem poder aguentar mais de ansiedade, eu me joguei na água, deixando meu corpo afundar o máximo possível. Logo, senti meus membros inferiores formigarem. Apenas relaxei e deixei acontecer.
Abri meus olhos.
A água salgada não ardia meus olhos nem atrapalhava minha visão, como faria com qualquer outro ser humano. Olhei para baixo, não encontrando mais minhas pernas: no lugar, uma enorme cauda azul me dava impulso para nadar. Nas minhas costelas, no lugar que eu tinha tatuado três rasgos de cada lado, os rasgos realmente se abriam e deram lugar para brânquias, assim como aconteceu no meu pescoço. Meus dedos também se modificaram, fazendo com que minhas unhas crescessem e ficassem afiadas como garras. Meus olhos deviam estar brilhando em um tom perolado nas pupilas e um forte preto tomava conta de minhas íris. Meus dentes também cresceram e ficaram afiados ao ponto de ser fácil para eu matar até mesmo um tubarão. Nunca tinha treinado, mas sabia que alguns de nós conseguiam estender o maxilar para tornar a mordida maior e mais feroz.
Bom, eu não precisava. Antes mesmo de eu aproveitar minha liberdade, os tritões do meu pai já estavam ao meu redor.
— Alteza...
— Fala, Jeff. — cumprimentei um deles com uma voz desanimada. Nunca podia aproveitar minha liberdade.
— Demorou para aparecer, alteza. — comentou Brutus, nadando ao meu lado.
Apenas assenti, me segurando para não dar uma resposta mal educada.
Meu pai era o Rei Tritão. Ele controlava tudo em Atlântida, mas, por causa de uma aposta que nós fizemos, eu consegui uma falsa liberdade. Eu poderia morar na superfície, longe de sua proteção, mas só até eu me tornar rei. Então, eu teria que voltar, até porque não tinha como governar o oceano estando na terra. Como meu pai era um cara saudável, tinha certeza de que ele duraria muitos anos e eu não teria que assumir o cargo tão cedo.
A verdade é que eu não queria ser rei. Não queria governar nada. Eu só queria viver no mundo humano, indo para o oceano e assumindo minha verdadeira forma quando estivesse com vontade.
Nadamos rápido para as profundezas do oceano, onde o sol não iluminava e as águas eram negras. Nossa visão é adaptada para esses ambientes, então, não era difícil de enxergar na escuridão. Mesmo assim, enxergar na escuridão não era necessário porque, após passar pelas Águas Negras, nós chegávamos a Atlântida.
Atlântida era como uma cidade grande qualquer. A única diferença era que era submersa. Nós também não tínhamos carros e ruas, porque nossa movimentação era eficiente e tão rápida quanto qualquer veículo criado pelos humanos. Se precisássemos fazer uma viagem mais longa, então pegávamos carona com algum animal aquático, com os quais podíamos nos comunicar graças à aparelhos desenvolvidos por nossos pesquisadores.
Atlântida era uma São Paulo mais avançada e submersa.
! — gritou meu pai, assim que me viu, me puxando para um abraço. Revirei os olhos ao ouvir aquele nome.
— Pai, se você não quer me chamar pelo meu nome humano, pelo menos me chame de .
! Seu nome é um nome forte, de respeito! As pessoas lhe respeitam por causa do seu nome!
Revirei os olhos novamente. Era só uma questão de tempo e eu poderia ir embora dali.
— Como você está, meu filho? Está indo para aquela coisa... Como é mesmo o nome?
Curso, pai. — respondi-lhe, rindo um pouco. Meu povo acreditava que cada ser já nascia com um dom natural, não precisando de uma faculdade, como os humanos. Tínhamos, entretanto, uma versão da escola, onde os mais novos passavam a infância para aprender a comunicação com os outros animais, conviver em sociedade e controlar as transformações. Eu não tive educação suficiente para entrar em uma faculdade, mas fazia todos os cursos possíveis para melhorar meu desempenho com os carros — Está bem. Estou de férias agora.
— Férias é aquele período de tempo onde você não faz nada?
Ri outra vez. Era muito engraçado ver meu pai ter dúvidas. Normalmente, era eu quem tinha que me esforçar para aprender com ele.
— Isso mesmo, pai. E, quando as férias acabarem, eu volto para o curso.
— Bom, bom. E o seu dom, como vai?
Dom era como meu pai se referia ao meu emprego. Como em Atlântida cada um fazia o que era melhor, era chamado de dom e não emprego. Na terra, eu tinha uma oficina mecânica, porque eu descobri que amava carros. Meu pai achava que aquele era meu dom, mesmo que eu tivesse me matado para aprender a ler e escrever e conseguir entender um simples manual de instruções e fazer um simples curso de mecânico — que, por acaso, era ridículo para o meu pai: meu dom era consertar carros, não precisava fazer curso para aprender meu dom.
Contei tudo para ele, querendo que meu pai sentisse o mesmo amor que eu sentia pelo mundo humano. Sonhar era bom. Ele ouviu tudo pacientemente, sem me interromper e prestando real atenção. Achei que estava tudo bem, mas é claro que ele não deixaria de lado a questão de um milhão de dólares...
— Mas ... — ele só me chamava pelo nome certo se queria alguma coisa — Se você passa tanto tempo lá em cima, como vai conhecer uma sereia?
— Pai, eu conheço um monte de sereias.
— Ah, meu filho! Eu falo de uma esposa! Você precisa se casar logo.
Fiz uma careta.
— Pai, eu não quero me casar.
— Mas como você será um bom rei sem uma rainha para te orientar?!
— Você é um ótimo rei e não tem uma rainha. — lembrei. Fui um pouco rude, mas estávamos entrando em um assunto que me dava vontade de correr.
— Sua mãe me ajudou a cuidar de Atlântida por muito tempo, filho. Sabe disso.
E eu sabia. Sentia tanta falta dela...
— E por isso eu chamei Blaire para conversar com você.
Você o quê?!
— Olha o respeito, tritãozinho. Blaire é uma sereia maravilhosa.
— Casa com ela você então! — gritei, ficando nervoso. Meu pai realmente não entendia nada. E eu tinha assistido A Bruxa de Blair essa semana. Se isso não era um sinal para fugir, eu não sabia o que era.
! Não fuja das suas responsabilidades como príncipe!
— Pai, eu não quero...
Fomos interrompidos por um som forte. Era um dos guardas, soando um tambor que anunciava emergência. A nossa discussão foi esquecida na mesma hora. Nós sabíamos o que aquele som significava.
— Majestade, temos duas sereias desaparecidas. — Brutus anunciou, entrando no salão que estávamos, junto com a guarda real.
— Foram eles? — perguntei, nadando na frente do meu pai.
Os guardas fizeram um silêncio ensurdecedor antes de me responder.
— Acreditamos que sim, alteza.
— Vocês não podem ter certeza. — retruquei. Olhei para meu pai, em busca de apoio — Não podem, não é, pai?
Meu pai só olhou para Brutus, esperando que ele dissesse alguma coisa.
— Encontramos as mãos das duas. As sereias já haviam sido dadas como desaparecidas no começo da semana, mas, agora pouco, uma das crianças encontrou as mãos na costa.
— O que as crianças estavam fazendo na costa?! — meu pai gritou, sua voz reverberando e fazendo bolhas estourarem ao nosso redor. Nossa audição era muito sensível sob a água, então qualquer som era muito alto. Quando meu pai resolvia gritar, era quase como ficar surdo. É claro que ele estava fazendo o que todos tínhamos vontade de fazer. Focou no fato de ter crianças na costa e não no de terem encontrados as mãos para adiar o inevitável: nós não queríamos discutir aquele assunto outra vez.
— Estavam em uma excursão. Os chefes do ensino estavam com elas, Majestade. Estavam fazendo um estudo.
— Eu quero falar com esses chefes! Se alguma delas é vista por um humano, sabe o que acontece?! Agora!
— Pai! — gritei, segurando seus braços que se mexiam loucamente. Ele estava sem controle — Se acalma. Não é assim que vamos resolver!
está certo, Majestade. Precisamos conversar.
Syrena entrou no salão com toda sua beleza. Sereias são incomparavelmente mais bonitas que as humanas, mas colocar Syrena ao lado de uma mulher era maldade. Sua cauda era de um tom dourado, assim como a cor clara de seus cabelos. Havia um brilho ao redor de sua cintura e suas garras emitiam um poder que eu não via em qualquer aquático. Syrena estava acima de todos nós.
Bom, meu pai não a escolhera como conselheira a toa.
— Eles voltaram, não é mesmo? — perguntou Syrena, sua voz melodiosa tremendo um pouco, mas sua postura era firme, como se ela estivesse pronta para a guerra.
— Acreditamos que sim, senhorita Syrena. As mãos decepadas são nossa maior pista.
Syrena assentiu e apoiou uma mão no ombro de meu pai. Ele pareceu se acalmar na mesma hora. Por alguns segundos, apenas o barulho calmo da água era ouvido.
Nós sempre enfrentamos problemas com os caçadores. Desde que me conheço por gente, eles existem e tentam nos caçar, seja para estudo, seja para vender. A maioria dos humanos não sabe que existimos, mas existem aqueles que não aceitam nos deixar em paz. Por isso vivemos sob as Águas Negras. Nenhum humano consegue nos alcançar aqui, mesmo com as tecnologias que eles possuem para mergulho. Normalmente, eles nos matam e então nos levam para algum laboratório, onde tentam nos estudar, mas é impossível fazer uma pesquisa aprofundada, porque nos transformamos em humanos se ficamos poucos minutos longe da água. Além disso, nós apodrecemos muito fácil. É incomum um corpo de sereia demorar mais de um dia para apodrecer fora d'água. Para nossa defesa, usamos nossas garras que são extremamente venenosas. Assim que arranhado, nenhum humano consegue sobreviver. Quando uma sereia some e suas mãos são encontradas, fica fácil de imaginar quem a levou.
— Precisamos fazer alguma coisa. — Syrena quebrou o silêncio. Ela era ativa na luta contra os caçadores porque sua melhor amiga fora morta por um. Minha mãe.
Mas não havia o que fazer. Não tínhamos como combater os caçadores, sem que eles se aproximassem. E quando eles se aproximavam, algum de nós acabava morrendo.


Capítulo 2


Discutimos estratégias por algumas horas. Quando pude voltar para a superfície, já estava quase escurecendo.
Eu gostava de ver o sol. Gostava de vê-lo nascer e se pôr. Quando se morava sob as Águas Negras, nós não tínhamos o costume de ver muita coisa relacionada ao céu. Por isso eu era fascinado por astronomia. As estrelas também tinham minha atenção; era incrível ver pequenos sóis, brilhando tão longe e tão forte que apareciam quando o sol maior estava do outro lado do globo.
E eu estava sentado na varanda, nos fundos da minha casa. A varanda era praticamente um deque, com uma pequena piscina ligada ao mar. A água era salgada porque — eu descobri — que a água usada pelos humanos não me fazia muito bem. Por isso, eu tinha chuveiros e torneiras em casa, mas não tinha água potável — que era como os humanos chamavam a água saudável para eles.
Estava lendo um livro de um cara chamado William Shakespeare, onde ele contava sobre a monarquia inglesa em formato de peça teatral. A forma de governo humano também era interessante; eu não conseguia entender como o mundo funcionava se alguns países adotavam a democracia, outros a monarquia e ainda tinha uns que viviam sob uma ditadura! Em Atlântida era tudo bem mais simples: meu pai era o Rei Tritão e, quando ele morresse, eu seria o Rei Tritão. Quando eu morresse, meu filho — ou filha — assumiria meu cargo e assim seguiríamos. Jamais alguém tentaria roubar o título de Rei Tritão! E, se houvesse a tal tentativa e, por milagre, fosse bem sucedida, nenhum cidadão de Atlântida respeitaria um Rei golpista.
Enquanto essas questões sobre política humana — simplesmente desisti de tentar entender a economia desses loucos — davam um nó na minha cabeça, eu não pensava nos problemas do meu povo. Nos caçadores que estavam cada vez mais próximos de provarem nossa existência. Meu pai poderia negar o quanto quisesse, mas minha permanência em solo humano era útil para Atlântida. Eu poderia prestar atenção nos humanos e tentar prever e evitar os ataques. Era quase como se eu fosse um espião infiltrado no campo inimigo.
Foi quando eu ouvi.
Uma voz feminina gritou do lado de fora. Depois, ouvi batidas na porta de aço que fechava a garagem, que eu havia transformado em uma oficina mecânica. Eu tinha apenas um carro para consertar, mas o dono só viria buscá-lo na segunda-feira, então deixaria para mexer nele amanhã. As batidas continuaram, então me levantei do chão, onde estava deitado no deque com as pernas dentro da piscina.
Coloquei a muda de roupa que deixara ao lado da piscina. Os humanos cobriam o corpo a todo momento, quase como se tivessem vergonha dele. Isso era outra coisa que me deixava intrigado; tinha visto tantas campanhas falando sobre amor próprio, mas poucos humanos se amando.
Passei por toda a minha casa na beira do mar para chegar na oficina. Ao invés de abrir o grande portão, abri o portão menor. Do outro lado a garota que batia no portão estava parada, ao lado de uma CBR 300 branca, azul e vermelha.
— Obrigada por abrir! — ela agradeceu na mesma hora, sem me dar a chance de falar — Minha moto quebrou por aqui e eu não sei o que fazer! Parei no posto da rua de cima e eles me indicaram você, disseram que é o melhor mecânico por aqui.
Sorri cordialmente para a moça.
— Não tem de quê. Pode entrar. Já fechei a oficina por hoje, mas posso dar uma olhada para você.
Afastei-me da frente do portão, dando passagem para que a moça entrasse com sua moto, o que ela fez sem muito esforço. Não parecia ter dificuldade em empurrar a moto — que não era tão pequena.
Indiquei um local para que ela deixasse a moto e enquanto eu pegava as ferramentas mais comuns para o trabalho. Ouvi quando ela fechou o portão e então ficou parada ao lado da moto, mexendo os dedos de forma inquieta. Devido ao tempo que passei observando os humanos, sabia que aquele gesto representava nervosismo.
Ajoelhei na frente da moto e comecei a verificar o mais básico, como óleo, água e gasolina.
— Pode me dizer o que aconteceu? — pedi, já verificando.
— Eu estava saindo da praia. Deixei ela naquele estacionamento perto do Bar do Tião, sabe? Todo mundo diz que não é muito confiável, mas eu vi vários carros estacionados lá e pensei “o que pode dar errado?”. Passei a tarde toda na praia e, quando eu voltei pra pegar ela, não queria dar a partida. Levei no posto de gasolina aqui perto, o que eu já te contei, mas eles também não souberam me dizer qual o problema e me aconselharam vir aqui. Acho que eu andei usando demais a coitada, peguei a estrada na semana passada e também participei de uns rachas na cidade vizinha, mas desde que eu comprei, ela nunca me deu problema! É a primeira vez que tenho que trazer no mecânico e acho que talvez fosse melhor levar numa autorizada, mas é muito mais caro e eu precisava de um lugar urgente!
Em algum momento da tagarelice dela, eu parei de checar a moto e fiquei só observando-a falar. Aquela garota falava como se o mundo fosse acabar se ela ficasse quieta. E, enquanto eu a encarava, observando mais aquele tipo de humano diferente que estava conhecendo, ela continuava falando. Acredito que nem tinha consciência das coisas que falava. Usava a fala como mecanismo de defesa, já que estava nervosa. Não sei se era por minha causa ou se era por causa da moto, mas ela parecia desesperada.
Sorri para ela, um sorriso diferente do cordial que lhe ofereci quando abri a porta. Era uma tentativa de acalmá-la e passar confiança. Na mesma hora, a garota ficou quieta.
— Está tudo bem. — respondi — Às vezes as coisas quebram, acontece. Posso dar uma olhada para você, mas se você preferir levar em uma autorizada, também não tem problema.
Ela ficou alguns segundos em silêncio, me observando e digerindo as informações. Reparei que seus olhos me analisavam com tanta precisão que era como se estivesse estudando para um projeto científico. Bom, não tinha problema, já que era exatamente o que eu fazia com ela.
— Você é o mecânico? — ela questionou, sua voz assumindo um tom julgador — Você é muito novo. Quantos anos você tem?
Como eu explicaria para ela que já tinha mais de oitenta anos? O tempo em Atlântida era diferente do tempo humano. Nós não tínhamos dia, hora e muito menos anos. Mas, de acordo com o tempo humano, eu deveria ter em torno de oitenta anos.
Por causa do meu poder de persuasão — também conhecido como “dinheiro” — ninguém tinha me questionado até agora. Foi difícil comprar a casa, porque eu não tinha identidade, mas não tem nada que os humanos consideram mais do que dinheiro. Há seis meses eu morava naquela cidade e nunca precisara provar quem eu era. As pessoas deviam achar que eu era um foragido da Justiça ou algo assim.
— Tenho vinte e dois. — menti — Meu pai era mecânico, então aprendi tudo com ele.
Parecia plausível. Já tinha ouvido essa desculpa nos filmes e lido-a em livros. Não podia dizer que minha habilidade de aprender qualquer coisa era um milhão de vezes maior que a dela.
— Ah! — ela pareceu acreditar. Então, sorriu, demonstrando um pouco mais de confiança — Você pode tentar arrumar? Eu tenho dinheiro e vou pagar tudo. Já estou aqui, não tem motivo pra levar em outro lugar.
— Claro. Posso dar uma olhada amanhã, se você não se importar.
— Não, não. Eu posso chamar um táxi para casa.
Assenti, me dirigindo para o balcão para pegar um recibo.
— Pode me dizer seu nome e um número de telefone?
deixou dois números de celular no recibo e disse que eu podia ligar a qualquer hora para avisar sobre a moto. Eu sabia que não era educado ligar em certos horários, então não pretendia ligar fora de hora, mas concordei com ela. Em minhas observações, tinha notado que, às vezes, os humanos dizem coisas apenas por educação e você concorda com eles pelo mesmo motivo.
chamou um uber e fiquei esperando com ela pelo carro.
— Você é novo na cidade? Nunca te vi na faculdade e nem em nenhum bar daqui — ela puxou assunto.
— Sou, sim. — afirmei — Me mudei tem pouco tempo.
— Ah, sim. E, me desculpe se eu estiver errada, mas você é de fora do país? Não parece nem um pouco brasileiro.
E foi com aquela fala que tudo mudou. Rodrigues despertou minha curiosidade de um jeito que só humanos conseguiam.
— Por quê? — perguntei por impulso, sem me preocupar com o que ela pensaria. Eu precisava de respostas — Por que você me pede desculpas, mas só se estiver errada?
abriu e fechou a boca algumas vezes, mas não pareceu encontrar a resposta para a minha pergunta. Continuei fitando-a, esperando por alguma coisa.
— O quê? — ela finalmente perguntou.
— Por que você se desculpa só se estiver errada? Se você estiver certa, então não tem problema ter me perguntado; mas, se estiver errada, então tem problema? Eu não entendo.
franziu o cenho, me encarando como se eu tivesse cinco cabeças.
— Olha, me desculpa se eu estou invadindo seu espaço, não quis ofender nem nada, eu...
— Não, não ofendeu! — me apressei em corrigir. Acho que eu estava sendo muito direto e assustando . Humanos se assustam fácil — Eu só estou curioso. Sou de fora do país, mesmo. Venho de um lugar muito distante e estou tentando me adaptar aqui, mas não conheço ninguém e tenho pouco contato com pessoas. Então, eu que peço desculpas por ter assustado você. Não foi minha intenção.
Algo mudou no rosto de e ela pareceu encantada com tudo o que eu tinha dito. Então, sorriu para mim.
— Isso explica muita coisa. — comentou, jogando o cabelo que havia caído no rosto para trás da orelha — Bom, eu pedi desculpas quando te perguntei sobre onde você era porque eu não te conheço e não temos intimidade. Então, não quero acabar ofendendo você de qualquer forma, entende? É apenas uma formalidade.
As palavras dela passaram pela minha cabeça, sendo processadas aos poucos.
— Você realmente não tem muito contato com pessoas, não é? — quebrou o silêncio. Eu não tinha percebido, mas tinha ficado imerso em meus próprios pensamentos por alguns minutos.
Senti meu rosto esquentar de um modo atípico. Todo meu corpo se arrepiou e eu senti uma vontade inexplicável de correr dali.
— Não muito... — murmurei, sem saber o que falar. O que estava acontecendo comigo?
O sorriso de aumentou e o calor nas minhas bochechas também. Dessa vez, senti-o descendo pelo meu pescoço e se instalando no meu peito.
— Você só precisa fazer amigos. — concluiu — Para a sua sorte, eu sou uma ótima amiga. Você vai estar ocupado hoje?
Pensei em todos os livros e todos os filmes que eu tinha planejado assistir.
— Não. — respondi.
— Ótimo! Está a fim de sair comigo? Posso te levar em alguns lugares, te apresentar algumas pessoas.
Assenti, sem saber o que dizer. Aquilo seria perfeito para que eu pudesse observar os humanos mais de perto, mas não sabia como reagiria ao redor de . Precisava tomar cuidado para manter o meu disfarce.
— Você tem carro, certo? — ela perguntou e eu assenti na mesma hora — Pode passar na minha casa? De lá a gente pode sair. Eu passaria aqui, mas só tenho a minha moto e ela está quebrada, então...
riu e eu senti meu peito doer, mas de um jeito bom.
— Pode ser. — continuei concordando.
— Isso é bom. — respondeu, começando a mexer em sua enorme bolsa, procurando algo lá dentro. Então, tirou um pequeno cartão retangular e me entregou — Aqui. Esse é o meu endereço. Consegue passar na minha casa às 20h?
Analisei o pedaço de papel em minhas mãos. Era um cartão de estúdio de tatuagem, com um endereço e um telefone. O nome de também estava brilhando no cartão.
— Consigo. — afirmei. Então, finalmente sorri para ela.
Um carro parou na nossa frente e o motorista chamou por .
— Ah, essa é a minha carona. — ela murmurou. Apontou com a cabeça para o carro e começou a se afastar, mas se virou para mim antes de abrir a porta — Espera! Eu esqueci de perguntar! Qual o seu nome?
! — respondi.
entrou no carro e foi embora me dando um tchauzinho e um sorriso de menina.


Capítulo 3


A primeira coisa que fiz assim que entrei em casa foi me olhar no grande espelho no meu quarto. Queria saber o que era a queimação que eu tinha sentido no rosto, mas não tinha nada demais além de uma vermelhidão nos pontos que eu sentia mais quente.
Aquilo nunca tinha me acontecido, mas eu já tinha lido sobre. Será que eu estava... Ruborizando?
Não tinha muito tempo para pensar sobre.
Tirei minhas roupas e entrei no chuveiro de água salgada. A água do mar refrescava a minha pele e fazia com que eu me sentisse novo. Eu também tinha uma banheira e ficava horas dentro dela quando queria relaxar, mas não tinha tempo para isso. estava me esperando.
As roupas eram um problema. Eu não era acostumado a usá-las e elas me causavam grande desconforto, mas era necessário. Eu nunca sabia o que vestir e qual roupa era a correta para cada ocasião, então resolvi usar a melhor ferramenta criada pelo ser humano: o Google.
Pesquisei durante alguns minutos o que eu deveria usar em uma noite de julho para ir em um bar com uma amiga. Era estranho finalmente poder usar essa palavra ao me referir à uma humana. Eu tinha uma amiga!
Os resultados da minha pesquisa foram ótimos e eu consegui me vestir. Escolhi uma calça jeans escura e uma camisa azul marinho — que o Google disse que realçava meus olhos — com um tênis também escuro. Tinha feito compras com Syrena assim que decidi morar na superfície, então tinha um enorme estoque de roupas masculinas e femininas — caso alguma sereia quisesse me visitar.
Depois, arrumei meu cabelo do melhor jeito possível. Ele estava crescendo e eu precisaria voltar ao oceano para cortá-lo em breve, mas poderia aguentar mais alguns dias. Fiquei longe de qualquer tipo de perfume, já que as essências que os humanos usavam eram prejudiciais para a minha pele — e eu descobri isso do pior jeito possível, desenvolvendo uma coceira terrível junto com uma descamação de toda a minha pele.
Faltando dez minutos para o horário combinado, entrei no meu carro, uma picape preta, e fui até o endereço indicado. Além de o povo do mar ser muito bom em aprender coisas novas, tínhamos um senso de direção excelente — ou então nos perderíamos muito fácil no oceano.
Em menos de dez minutos, parei o carro na frente do estúdio de tatuagem. Era no mesmo estilo da minha casa, com a oficina na garagem e a casa aos fundos. Desci do carro e apertei a campainha, esperando por , mas fui surpreendido quando um homem alto atendeu a porta.
— Você é o cara que veio buscar a ?
O linguajar dele me confundiu um pouco, mas eu acabei assentindo.
O homem continuou a me analisar, passando os olhos desde os meus pés até o meu último fio de cabelo. Ele usava uma camiseta de mangas curtas e notei que seus dois braços eram cobertos de tatuagens coloridas. Saindo da gola de sua camiseta, mais tatuagens.
— Até que a acertou dessa vez. — ele comentou, finalmente soltando a expressão e sorrindo um pouco — Você é bem bonitinho...
— Obrigado. — agradeci o elogio. Até que ele não era tão bravo quanto parecia.
— A ainda não está pronta. Não quer entrar um pouco?
— Gê, faz o favor de parar de dar em cima do meu acompanhante! — a voz de se sobressaiu, o que fez o homem bufar e virar para trás.
— Se você não demorasse tanto, eu não teria que entreter os seus convidados!
Não entendi muito bem a conversa entre eles, então preferi não comentar. apareceu atrás do homem no portão de aço, empurrando-o para trás para que ela pudesse sair.
, esse é o Gê. A gente divide o apartamento e o estúdio. — apresentou — Gê, esse é o ; ele é mecânico.
Gê fez uma cara engraçada que me fez sorrir para conter a risada.
— Oi, bonitão!
— Olá. É um prazer conhecê-lo.
— O prazer é todo meu. — eu tinha certeza de que Gê estava flertando comigo.
— Puta que pariu, tchau, Gê! — resmungou, empurrando o amigo para dentro do portão de aço — Não sei que horas eu volto, estou levando a chave e deixei uma lasanha assando. O relógio da cozinha vai apitar quando ficar pronto. Por favor, não ponha fogo na casa e não fique mais na fossa.
Gê bufou.
— Garota, eu já superei aquele cafajeste do Murilo! Olha minha cara de quem vai ficar na fossa por causa de macho!
— Hm, tá bom. — resmungou, não parecendo ter acreditado no amigo. Empurrou-o para dentro da casa e puxou-o pelo braço para dar-lhe um beijo estalado na bochecha — Qualquer coisa, me liga.
— Vai se divertir, doida. E você, bonitão, tome conta da minha menina!
— Claro! Boa noite. — cumprimentei. Humanos eram tão estranhos.
E eu estava absolutamente fascinado por todos eles. Mas principalmente pela humana sorrindo para mim, esperando obter minha total atenção.
— Me desculpe por isso. O Gê é doido!
Abri a porta do carro para , como eu tinha visto em tantos filmes. Ela agradeceu com um sorriso tímido e vi seu rosto ficar vermelho.
Ela estava quase tão linda quanto uma sereia. Seu cabelo tinha se ondulado nas pontas, caindo por suas costas. Usava um suéter cor de rosa claro e uma calça jeans também clara. Nos pés, uma bota sem salto. Estava tão delicada, tão diferente de quando batera na porta da minha oficina.
— Para onde? — perguntei, dando a partida no carro e dirigindo devagar.
— Conhece o Cocktail? O bar? É aquele perto da faculdade e provavelmente vai estar lotado de estudantes que acabaram de sair de férias. Está a fim?
— Por mim, está ótimo.
Eu conhecia o lugar. Na verdade, conhecia cada cantinho daquela cidade. Tinha feito o reconhecimento da área assim que decidi morar ali.
— Então... — comecei, tendo inúmeras perguntas para ela — Gê... É seu amigo?
Notei os olhos de começarem a brilhar na mesma hora.
— Sim, é sim! Nós nos conhecemos no fundamental, com uns dez anos. Ele jurava que era apaixonado por mim e eu jurava que ele era gay! Mesmo assim, nós éramos do mesmo grupo de amigos e estávamos sempre juntos. Conforme fomos crescendo, nos afastamos um pouco, mas nunca perdemos o contato. Quando eu contei pra ele que ia vir morar aqui por causa da faculdade, ele perguntou se podíamos dividir uma casa. Ele não entrou na faculdade ainda, mas está estudando para prestar vestibular esse ano e entrar na daqui. E aí vamos estudar juntos de novo. Enquanto isso não acontece, a gente tem o estúdio de tatuagem. Tanto ele, quanto eu, trabalhamos lá. Gê já fez vários cursos de desenho, tatuagem e body piercing e faz de tudo um pouco. Já eu, sou mais de fazer as tatuagens.
Assenti, digerindo toda a informação. Não entendia o motivo de seres humanos colocarem piercings no corpo, já que eram efêmeros. As tatuagens eu entendia — e inclusive tinha uma — mas os piercings eram um mistério para mim.
— E você tem piercings? — perguntei.
Ela mostrou a orelha toda adornada com brincos.
— Tenho vários nas duas orelhas, mas não tenho coragem de furar mais nada. Prefiro tatuagens.
continuou falando até chegarmos no bar. Eu gostava de ouvi-la falar; acrescentava muito para as minhas anotações mentais sobre comportamentos humanos.
Nós saímos mais quatro vezes. Ela me apresentou para seus amigos de faculdade e preparou um jantar para mim em seu apartamento, uma vez. Consertei sua moto — que não tinha nada demais — e, ao invés de me pagar, sugeri que ela me levasse para sair outra vez. E, na quarta, fomos em um restaurantes de frutos do mar, que era a minha comida favorita. Duas semanas se passaram e não desconfiou de quem eu era de verdade.
Era uma noite de terça-feira. Por causa das férias, o movimento no estúdio de tatuagem tinha aumentado e ficaria trabalhando até mais tarde e depois iria almoçar com seu pai, que estava visitando-a na cidade. Eu pensei em aproveitar a oportunidade para visitar o meu também e saber um pouco mais sobre a situação com os caçadores.
Mas eu desisti quando coloquei o pé na piscina.
Por causa do tempo passado com e seus amigos, eu quase me sentia humano de verdade. Não tinha nenhuma preocupação e nada me parecia perigoso. Tinha inventado uma história sobre o meu passado e todos tinham acreditado em mim. Eu não queria voltar para o mar tão cedo.
Então, ignorando minhas responsabilidades, eu fiquei em casa.


Capítulo 4


Estava no meio da leitura de Drácula quando o meu telefone de casa tocou. Eu não tinha um celular e não pretendia comprar um, apesar das insistências de — ela jurava que todo mundo precisava de um celular e eu argumentava que eu não precisava porque já tinha um telefone em casa e um computador; então ela dizia que eu não entendia nada.
Atendi ao telefone e uma voz chorosa me respondeu.
? Ainda está acordado? — ela perguntou em meio aos soluços.
— Estou, sim. Está tudo bem?
— Não. Você pode vir pra cá?
Eu fui na mesma hora.
Eu não sabia como me sentia em relação à . Ela fazia meu coração bater com força demais e meu rosto esquentava muito quando ela sorria para mim. Minha pele formigava de vontade de ser tocada por ela e minhas mãos coçavam para segurar as dela. Eu encontrava desculpas para tocá-la, arrumar ou bagunçar seu cabelo e ligar para ela, mesmo que fosse do telefone fixo. O único argumento de que me deixava inclinado a adquirir um celular era o de que poderíamos conversar o tempo todo, se eu tivesse um.
E, mas que merda, eu queria conversar o tempo todo com ela.
me encantava e, ultimamente, eu acreditava que ela tinha feito alguma coisa na aparência, porque estava ainda mais linda que Syrena. Ela não se importava com a minha curiosidade e ficava feliz em me ensinar as coisas, discutia política comigo, fosse atual ou antiga. E o mais engraçado é que ela não se importava em falar sobre qualquer assunto, fosse dentro do meu carro, no estúdio de tatuagem ou em um bar lotado de gente. Ela queria me levar em uma balada para dançar, mas eu tinha medo do som alto machucar minha audição sensível; porém, eu estava quase cedendo. Qualquer coisa para passar mais tempo com ela.
Por isso que cheguei em sua casa tão rápido ao ouvir sua voz desesperada no telefone.
A porta estava aberta quando eu cheguei, mas toquei a campainha para avisar que tinha chegado. Fechei o portão com a chave que eu sabia que ela guardava atrás de um vaso e subi as escadas para a casa no fundo. Só tinha estado ali uma vez, quando me convidou para jantar com ela e Gê.
? — chamei. Eu ouvi todos os seus amigos chamando-a pelo apelido e resolvi usá-lo também.
— Estou na cozinha, pode subir. — sua voz ainda estava trêmula, mas parecia mais controlada que no telefone.
A escada do estúdio terminava em uma porta — que estava aberta. A porta separava a casa do estúdio. Assim que era aberta, revelava uma sala pequena e modesta, junto com uma cozinha, um pouco maior, mas igualmente modesta. Um sofá confortável, de frente para uma televisão enorme — e aquele parecia ser o único luxo da casa. Um tapete felpudo preto, que combinava com o sofá dava um ar aconchegante à casa. Nas paredes, vários quadros pintados por Gê e . Eles gostavam de desenhar e, os desenhos que não iam para pele, iam para a parede. Era como entrar em uma galeria de arte.
estava na cozinha, apoiada na bancada da pia, bebericando algo em uma xícara. Estava envolta em uma manta vermelha, que mais parecia um casulo para escondê-la. Quando me viu, largou a xícara na pia e deixou a manta cair, correndo em minha direção.
Seus braços envolveram meu tronco e o calor de seu corpo me dominou. Como eu era um ser do oceano, meu corpo era ajustado a temperatura da água, ou seja, mais frio que os corpos humanos. Então, quando me tocava, era como ser atingido pelo sol. Não que eu estivesse reclamando. Sentir o calor de era a melhor coisa do mundo.
Seu rosto estava enterrado em meu peito e ela estava tão perto de mim que nossas pernas estavam intercaladas. Eu queria trazê-la para ainda mais perto e não entendia a sensação que se instalava no sul do meu estômago. Era como... Uma necessidade. Eu precisava, desesperadamente, de algo. Não fazia ideia do que era, mas sabia que só poderia me dar.
Envolvi-a com os braços, perdendo minhas mãos em seus cabelos. Quando sentiu que eu correspondia seu abraço, desatou a chorar, assim como fazia no telefone.
— Ele não vem, . — ela murmurou e eu não entendi nada, mas não a questionei. Apenas a abracei com mais força e rezei para que ela não pudesse ouvir a velocidade das batidas do meu coração.
contou que Gê não estava em casa. Ela tinha planejado um grande jantar para o pai, pois fazia muito tempo que eles não se viam. E, do nada, ele ligara cancelando, avisando que estava com problemas no trabalho.
Nós estávamos sentados no sofá de e a televisão estava ligada, passando um filme que eu não conhecia. A manta que ela usava estava sobre nossos corpos, nos cobrindo naquela noite fria de julho. Eu me sentia um pouco culpado, pois ela já estava com frio e o meu corpo gelado não devia estar ajudando em nada, mas não podia ficar longe dela. Não quando se prendia a mim com tanta força, como se precisasse de mim mais do que eu precisava da água.
— Ele não era assim. — ela continuou contando. Nossas pernas estavam entrelaçadas sob a manta vermelha — Meu pai costumava a ser extremamente atencioso comigo. Mas tudo mudou depois do acidente. Eu perdi minha mãe quando eu tinha 15 anos. Ela e meu pai sempre foram apaixonados pelo mar, então sempre moramos em cidades litorâneas. Tanto que, quando escolhi uma faculdade, escolhi a desta cidade por causa do mar, que é tão lindo aqui. — sorriu e uma mecha de cabelo caiu em seu rosto. Eu hesitei por apenas um segundo antes de colocá-la atrás de sua orelha — Meu pai é... Bem, ele é pescador. Por isso sei preparar frutos do mar como ninguém!
— Realmente, o seu talento na cozinha esta justificado. — comentei, sorrindo para ela. aceitou o incentivo e continuou sua história.
— Já minha mãe era bióloga, especializada na vida marinha e trabalhava com o meu pai e fazia trabalho voluntário em uma ONG de preservação de vida marinha. Sei que é contraditório, ela ser casada com meu pai que pesca e ainda defender a vida marinha, mas era quem ela era. Quando eu tinha quinze anos, eles saíram para pescar e só meu pai voltou. Estava chovendo muito e meu pai contou que o barco virou e minha mãe foi puxada para baixo. Ele nunca me explicou exatamente o que aconteceu, acho que porque não queria ficar revivendo o momento em que perdeu o amor de sua vida. Mas depois disso, meu pai ficou distante, sabe? Ele se fechou num casulo. Não agüentei morar com ele e morei com a minha avó até terminar a escola. Depois, voltei para casa e fiquei um ano trabalhando com ele e estudando para o vestibular. Quando passei, resolvi que era melhor deixá-lo. Ele precisava de um tempo para se curar e eu só o lembrava da minha mãe.
— Sinto muito, . — murmurei, falando sério. Eu sabia muito bem como era perder a mãe. Porém, quando isso aconteceu, meu pai se apoiou em mim enquanto eu me apoiei nele. Nós nos ajudamos mutuamente para conseguirmos sobreviver sem a rainha dos oceanos — Eu também perdi minha mãe quando era mais novo. Sei qual é a sensação.
Isso a fez virar para mim, apoiando a mão em meu peito.
— É mesmo? Me fale sobre ela. Você nunca fala sobre a sua família.
Bom, eu tinha um motivo para evitar falar da minha família.
— Ela era uma mulher maravilhosa. Todos a tinham como um exemplo. Ela também morreu quando estava trabalhando. Mas, não gosto de falar disso. Falar dela me traz muita dor.
Não era totalmente mentira, mas não era totalmente verdade. Agradeci por dentro quando pareceu entender e resolveu mudar de assunto.
— Obrigada por vir. — ela murmurou, se aninhando ainda mais ao meu lado, quase subindo no meu colo — O Gê saiu com um cara novo, finalmente, depois do imbecil do Murilo. Não poderia estragar a noite dele, não agora que ele está começando a se curar.
Passei as mãos por suas costas para tranqüilizá-la.
— Não tem problema, . Você sabe que pode me ligar a hora que quiser, não sabe?
Ela assentiu, sem dizer nada.
Continuei assistindo o filme, que era sobre dois jovens que se apaixonavam durante uma viagem de navio. Ele era pobre e ela era rica e por isso os dois não podiam ficar juntos. As imagens eram em sua maioria escuras, e como as luzes da sala estavam desligadas, nós estávamos em uma penumbra aconchegante.
ficou quieta por muito tempo, então eu virei um pouco o corpo para olhá-la. Senti sua mão apertar meu braço e levá-lo para perto de seu corpo, por baixo da manta. Encontrei-a me fitando com um brilho diferente nos olhos e a boca levemente aberta, enquanto sua respiração saía entrecortada. molhou os lábios com a ponta da língua e eu não sei por que, mas meus olhos não resistiram e acompanharam o movimento, fazendo meu corpo começar a formigar e aquela estranha necessidade voltar a se instalar no pé do meu estômago.
Ao notar minha reação, ergueu um pouco a cabeça e, antes que eu percebesse, seus lábios tocaram meu pescoço e eu soltei a respiração que nem tinha percebido que estava prendendo. Ela já tinha me beijado antes, mas nunca daquele jeito, com os lábios abertos, diretamente na pele do meu pescoço. Eu me remexi sob a manta.
se afastou alguns centímetros e continuou me observando. Eu não consegui me mover ou falar algo. Não entendia absolutamente nada que estava acontecendo comigo.
A verdade era que o meu corpo humano não era exatamente igual ao meu corpo de tritão. Além da diferença física, havia a diferença interior. A única coisa que se mantinha era a minha mente, que operava ambos os corpos. Eu ainda não havia aprendido tudo que tinha para aprender com o corpo humano e tudo aquilo era novo demais.
Senti se movendo ao meu lado e fechei os olhos, com medo e expectativa correndo em minhas veias humanas.
Então, seus lábios me tocaram outra vez. Era diferente das outras vezes que ela havia me tocado. Algo tinha mudado.
Quando ela me deu seu terceiro beijo, um som estranho escapou da minha boca. Foi incontrolável e eu apenas aceitei aquilo como uma reação do que ela estava fazendo. Então, tentando ao máximo desligar a minha parte tritão, deixei que meu lado humano assumisse.
E o que esse lado fez me deixou um pouco surpreso.
Puxei pela cintura e a fiz subir no meu colo. Ela não era magra como as garotas que eu conheci no mundo humano, mas era muito leve com a minha força de tritão. Ela estava sentada sobre as minhas coxas, mas eu precisava dela mais perto, então prendi as mãos em seu quadril e a puxei para mim, encaixando-a no meu próprio quadril. Quando nos ajustamos na posição, eu gemi outra vez e meu corpo começou a esquentar quando ouvi-a gemer também.
pegou a manta que havia caído de seu corpo e nos envolveu com ela, como se criando um casulo ao redor de nós dois. Seus braços foram para os meus ombros e senti suas mãos subirem e agarrarem os cabelos que nasciam na minha nuca.
O carinho que ela me fazia era tão gostoso que fechei os olhos para apreciar melhor. Acabei inclinando a cabeça em suas mãos e acho que soltei uma exclamação de satisfação, porque quando abri os olhos de novo, estava sorrindo.
— Você é tão lindo que dói, . — ela sussurrou.
Eu não sabia o que responder, principalmente porque ela começou a se movimentar para frente e para trás e isso causou uma explosão de sensações por todo o meu corpo. O ar estava me faltando e, de forma inconsciente, meu corpo começou a se balançar para encontrar o dela.
E quando eu pensei que fosse explodir, tocou a minha boca com a dela.
Eu nunca tinha beijado. Só tinha visto nos filmes e lido nos livros, mas nunca tinha beijado outra pessoa. Beijar era uma prática muito comum entre os jovens humanos, mas não entre os de Atlântida. Nós acreditávamos no amor e que só deveríamos fazê-lo depois que o encontrávamos em outra pessoa. Então, beijar era coisa para se fazer depois da União — que os humanos chamavam de “casamento”. Pesquisei sobre na internet e descobri que os humanos que não faziam nada antes do casamento eram considerados puritanos e caretas, mas eu não conseguia entender o motivo. Quer dizer, qual o problema de querer se envolver apenas com alguém por quem você tem sentimentos de amor?
Mas todas aquelas questões sumiram da minha cabeça quando senti a língua macia de deslizar para dentro da minha boca.
Meu corpo estava praticamente rodando em um frenesi de sensações novas, então eu desliguei minha mente e deixei que ele controlasse tudo — na verdade, estava me controlando. Deixei que ela fizesse comigo o que achava melhor e apenas fui seguindo seus passos, como tinha acontecido com todos os nossos encontros até agora. Ela me mostrava como ser humana e eu tentava imitá-la.
Depois de sondar pela minha boca, sua língua deslizou sobre a minha e aquilo foi muito bom. Se todos os beijos eram como aquele, então eu conseguia entender por que os humanos sentiam a necessidade de beijar todas as bocas que viam pela frente.
usava um suéter com uma gola que ia de ponta a ponta em seus ombros. Conforme ela se movimentou sobre mim, a gola foi caindo e expondo seus seios. Aquela visão também fez o sul de meu corpo se contrair. Quer dizer, eu já tinha visto inúmeros seios, das mulheres de Atlântida, já que lá ninguém cobria o corpo. Então, por que a visão dos de me causara aquele aperto?
Por mais confuso que eu estivesse, não conseguia pedir para ela parar.
notou que meus olhos estavam perdidos em seu decote. Senti que eu estava ficando vermelho — ainda mais do que já estava — por ter sido pego olhando. Mas ela não pareceu se importar. Na verdade, ela pegou as minhas mãos que estavam apertando suas coxas e as trouxe para frente do corpo, colocando-as exatamente sobre seus seios. Minhas palmas foram preenchidas com sua carne macia e senti meu quadril se mover com mais força em direção ao dela. Comecei movimentos exploratórios em seu corpo, olhando nos olhos dela, pedindo permissão para avançar o tecido do suéter e tocar sua pele. apenas se abaixou e beijou meu pescoço outra vez.
Joguei a cabeça para trás para lhe dar mais acesso. Seus dentes escorregaram sobre mim e eu deixei outro som necessitado escapar. Eu sempre me sentia com calor perto dela, mas era por causa da minha pele mais fria. Dessa vez, eu estava em brasa e precisava muito arrancar minha camiseta.
Acho que podia ler minha mente, porque suas mãos escorregaram pelo meu peito e começaram a brincar com a barra da minha camiseta. Senti seu toque contra a minha pele nua e minha respiração falha ficou quase inexistente. Devagar, ela ia deslizando as mãos para cima, levando minha camiseta e expondo meu tronco. Quando foi passá-la pelos meus braços, eu os ergui e não ofereci nenhuma resistência.
Achei que eu ia me sentir melhor sem a camiseta, mas a necessidade que eu sentia pareceu aumentar um milhão de vezes. O quadril dela continuava perfeitamente encaixado no meu, se movendo de uma forma maravilhosa.
Sua boca voltou a me beijar, dessa vez com menos delicadeza. Eu gostei de seus movimentos mais rudes, como se ela estivesse faminta, com fome de mim. Mordiscou meu lábio inferior, puxando-o um pouco e eu gemi.
Então, se afastou e eu poderia chorar pela perda do contato. Ela deixou a manta cair dos ombros e então puxou o próprio suéter para fora do corpo, ficando com o tronco nu, como eu estava. Pressionou seu peito contra o meu, pele com pele. E o calor poderia me queimar. Na verdade, acho que eu estava mesmo sentindo queimar.
gemeu baixinho no meu ouvido e aquilo foi como me empurrar de um precipício. Eu me sentia caindo. Caindo cada vez mais em , precisando dela cada vez mais.
Sua boca tocou minha orelha, seus dentes brincaram com o meu lóbulo.
— Me toca. — ela pediu com uma voz rouca que me fez contrair — Por favor, me toca.
Aquela era a hora que eu precisava contar para ela. Precisava explicar que eu não sabia como ela queria ser tocada porque não tinha nenhuma experiência com mulheres humanas.
Mas, ao invés de contar, eu apenas pedi:
— Me ensine como você gosta de ser tocada.
E aquilo foi como se eu acendesse um fósforo no corpo dela. pegou minhas mãos e correu-as por todo seu corpo, apertando-as em alguns pontos estratégicos. No final, colocou-as sobre seu quadril, onde enterrei meus dedos e comecei a ditar um ritmo diferente, mais intenso. Ela pareceu aprovar.
Seus seios balançavam bem na minha frente, mas eu não queria tirar as mãos de sua bunda para tocá-los. Sentia minha boca salivando e fiz o que estava com vontade: provei de sua pele.
Comecei beijando seu colo do mesmo jeito que ela beijou meu pescoço: com a boca aberta, deixando um pequeno espaço para que a língua pudesse passar. Depois, fui descendo os beijos pelo meio de seus seios, até que escolhi um e capturei seu mamilo em minha boca, A reação de foi maravilhosa, com um gemido baixo e um aperto forte em meus braços, então continuei o que fazia. Beijei seu mamilo, que estava duro em minha boca. Deixei que minha língua esbarrasse nele, o que a fez ficar arrepiada. Então, suguei-o devagar, querendo ver com ela reagiria àquilo.
Eu amava todas as reações dela.
voltou a me beijar, redobrando a intensidade. Afastou seu quadril do meu e então senti suas mãos começarem a descer por meu tronco, parando exatamente onde a minha necessidade estava maior.
Ela quebrou o beijo e seus olhos encontraram os meus, como que pedindo permissão. Eu não sabia o que ela tinha em mente, mas confiava nela para que fizesse comigo o que quisesse. Quando conseguiu me entender, começou a desabotoar minha calça. Senti um alívio absurdo quando ela abriu o zíper, afrouxando o jeans que estava me espremendo e me machucando. Então, seus dedos tocaram a fonte de toda a minha necessidade por cima do tecido da cueca e eu acho que vi estrelas. Comecei a entender que era muito bom quando ela me tocava, mas era infinitamente melhor quando ela tocava lá. já parecia saber disso, porque suas mãos se esgueiraram pelo elástico da cueca e me tocaram, sem nenhum tecido para diminuir a sensibilidade do contato. O ar me faltou e eu precisei fechar os olhos para não explodir.
beijou meu queixo e começou a movimentar as mãos em um ritmo que estava me enlouquecendo. Apertei sua bunda com muito mais força e a ouvi gemer no pé do meu ouvido.
— Você é bem forte, . — ela sussurrou — Acho que vou ficar marcada.
Ao ouvi-la dizer aquilo, afrouxei o aperto. Eu tinha esquecido que minha força era superior à de um humano e poderia machucá-la se agisse sem controle.
— Desculpe. — eu sussurrei de volta, começando a me sentir constrangido. Com certeza não estava fazendo aquilo pela primeira vez e eu devia estar parecendo um idiota inexperiente, embasbacado pelo toque dela — Eu não sei o que fazer.
Um sorriso quase maternal brotou em seus lábios.
— Eu imaginei. Não tem problema. Eu posso te ajudar. Você só precisa querer. Você quer que eu continue, ?
Ela tinha dito aquilo enquanto ainda movia as mãos em mim, e eu estava me sentindo tão perto que teria concordado com qualquer coisa que sugerisse.
— Nossa, sim. Eu preciso que você continue, . Me mostre o que fazer.
beijou minha bochecha.
— Vou mostrar, daqui a pouco. Agora, você só precisa relaxar, tudo bem?
Como ela queria que eu relaxasse? Eu estava tão necessitado de algo que meu corpo inteiro se contraía a cada batida do meu coração. Suas mãos começaram a se mover com mais rapidez e me vi inclinando o quadril para encontrar seus movimentos. Sua boca desceu para o meu peito e então ela chupou um dos meus mamilos, exatamente como eu tinha feito com ela. A sensação me fez tremer e deixar uma sequência de sons desconexos escapar da minha boca.
Olhei para baixo, vendo-me nas mãos dela. Eu estava escorrendo e toda vez que ela passava o dedo por onde eu escorria, eu queria gritar de prazer. Seus movimentos ficavam cada vez mais rápidos e a sensação de que eu iria explodir a qualquer momento aumentava cada vez mais.
Mas foi só quando eu a vi se esfregando na minha coxa que eu perdi o controle.
estava sentada sobre mim, com seu centro apoiado em minha coxa. Ela se arrastava para frente e para trás devagar, sem tirar os olhos do meu rosto. Seu colo estava vermelho e sua respiração escapava pelos lábios abertos.
Excitação: estado de agitação, de exaltação. Desejo carnal; estado do corpo que reage favoravelmente a estímulos sexuais.

Era isso. Eu tinha lido sobre aquilo em dicionários e tinha pesquisado sobre. Quando estimulados corretamente, os humanos ficavam excitados. Era isso que estava acontecendo comigo. Eu estava absurdamente excitado.
E também estava.
Perceber aquilo foi o que me fez perder o controle.
, eu não consigo mais segurar... — murmurei. Não sabia exatamente o que estava segurando, mas sabia que era decorrente da minha excitação.
— Tudo bem. — ela sussurrou de volta — Eu não quero que você segure. Quero ver você gozar, .
E, ouvir falar daquele jeito, mas os movimentos ritmados da sua mão... Eu explodi.
Meu corpo se contraiu ainda mais, e a melhor sensação que eu já tinha sentido se espalhou pelo meu corpo, se concentrando onde ela tocava. Com uma das mãos agarrei seu quadril e com a outra me agarrei à manta esquecida no sofá.
A explosão não durou muito tempo, mas foi o suficiente para me deixar cansado. Sentia que tinha nadado por milhões de quilômetros em um oceano tempestuoso.
Minha cabeça estava pesada e caída para trás. Meu peito subia e descia com uma velocidade incrível, tentando recuperar o ar.
? — me chamou.
Abri os olhos e levantei a cabeça para olhá-la. Vê-la semi nua, sobre a minha coxa e totalmente corada, fez com que a necessidade que tinha se dissipado na explosão voltar com força.
— Sim? — respondi, sem saber o que fazer. O que eu fazia agora? O que eu deveria dizer?
— Você nunca fez isso, não é?
Fiquei tenso na mesma hora. Precisava inventar alguma coisa que me transformasse em um homem normal e não a fizesse suspeitar das minhas origens.
— Não. Eu nasci em uma cultura onde nós só fazemos essas coisas depois da União... Hm, casamento. Só depois do casamento.
me olhou com curiosidade.
— Você é tão diferente, . Você fala diferente, age diferente e tem costumes diferentes. E o problema é que eu sempre me senti atraída por tudo que é diferente. E, quando você apareceu... , você me faz pensar que todos os outros são iguais, quando colocados ao seu lado. Eu tenho conheço há pouco tempo, mas estou apaixonada por você, . E sei tão pouco sobre você, porque você é tão fechado sobre tudo, mas eu quero saber. Eu quero saber porque quero me sentir mais próxima a você. Eu amo a sua curiosidade e o modo que você me escuta, como se eu tivesse todas as respostas para as suas perguntas... , quando você me olha com admiração como está fazendo agora... Eu sinto como se tivesse, sim, todas as respostas que você quer.
O meu coração parecia que ia explodir. Batia mais forte do que quando ela estava me beijando. Era uma sensação sufocante, mas de um modo bom. Como se não fosse mais o ar que me mantinha vivo e sim as batidas que meu coração dava por .
A vontade de beijá-la ficou tão insuportável que precisei puxá-la para perto de mim. Então, beijei seus lábios que pareciam gritar o meu nome.
Eu não conhecia as sensações que estavam experimentando, mas desconfiava de que estava apaixonado por .


Capítulo 5


Acordei no quarto de , me sentindo feliz como não me sentia há anos. O sol que entrava pela janela de seu quarto batia nas minhas costas nuas e o calor era bem vindo. Ao meu lado, outro calor maravilhoso me aquecia: o corpo de estava embolado no meu. Estava frio e nós tínhamos dormido sem roupa, então ela se prendia a mim para tentar se aquecer, junto com o grosso edredom sobre nossos corpos.
Espreguicei para relaxar meus músculos e se moveu ao meu lado. Ela ergueu a cabeça e me olhou por entre os fios de cabelo que caíam em seu rosto.
— Bom dia. — murmurou com uma voz sonolenta que fez meu coração pular uma batida.
— Bom dia. — respondi, colocando as mechas de seu cabelo para trás, deixando seu rosto livre para que eu pudesse apreciá-lo.
sorriu e deitou outra vez, agora com a cabeça no meu peito, provavelmente ouvindo as batidas descompassadas que meu coração dava. Continuei acariciando os fios bagunçados de seu cabelo.
Eu ainda não tinha me acostumado com a presença de outro ser humano, tão próximo de mim, então me sentia um pouco sufocado e com saudade do oceano. Mesmo assim, ainda não estava pronto para me separar dela.
E acho que foi por isso que fiquei tão atordoado com tudo que aconteceu depois.
Ouvi batidas frenéticas na porta do quarto de e logo Gê estava do lado de dentro, afobado, com um celular na mão.
— Gê! — se levantou, segurando o edredom para cobrir o corpo — Sai daqui!
— Desculpa, meu amor, mas eu precisei entrar. — ele avisou e se aproximou da cama, apontando o celular para — É o seu pai. E ele parece um pouco desesperado.
fez uma careta estranha. Sentei-me ao seu lado e fiquei observando suas reações. Ela tinha o cenho franzido e o corpo estava tenso de preocupação quando pegou o telefone.
— Pai? Está tudo bem?
Graças à minha audição de tritão, consegui ouvir perfeitamente a voz de homem do outro lado do celular.
! Eu consegui! Eu finalmente consegui! Você precisa vir para cá! Eu consegui!
— Conseguiu o quê, pai?
— Consegui provar a existência deles, ! Estou com uma aqui, bem na minha frente!
balançou a cabeça algumas vezes.
— Pai, o senhor não está bem.
, eu consegui pegar! Ela matou a sua mãe! Eu consegui! Está aqui!
— Pai, fique calmo. Eu estou indo aí.
— Venha, filha, venha! Você vai ver!
desligou o celular, parecendo atordoada. Gê continuava parado na ponta da cama.
— Está tudo bem?
— Eu não sei. O meu pai está falando umas merdas. É melhor eu ver o que está acontecendo.
Gê assentiu e saiu do quarto, deixando-nos sozinhos.
Eu havia ouvido tudo o que o homem dissera e estava com um mau pressentimento. não me deu tempo de dizer nada, apenas pulou da cama, nua como estava. Pegou a calcinha que estava jogada no chão e a vestiu com pressa, pegando mais roupas no armário e se vestindo com rapidez.
— Desculpa, , mas eu preciso ir.
— Você quer que eu vá com você? Parece preocupada. Não é bom dirigir assim.
se virou para mim, as mãos tirando os cabelos que caíam em sua testa.
— Não sei se quero que você conheça meu pai, . Principalmente agora. Nós acabamos de ficar juntos e ele...
, não se preocupe comigo. Eu não vou julgar você ou o seu pai. Na verdade, eu nem preciso conhecê-lo. Só quero te dar uma carona.
Ela pareceu relaxar um pouco, mas seu sorriso não alcançou seus olhos.
— Tudo bem. Obrigada, .
Sorri de volta, me sentindo péssimo. não sabia, mas eu insistira em ir com ela porque tinha um péssimo pressentimento em relação ao pai dela. E, por algum motivo, eu sentia que tinha a ver comigo também.
Dirigi por cerca de trinta minutos, indo para a cidade vizinha, que era bem mais movimentada. O sol batia no rosto de e, toda vez que eu olhava para ela, era como se estivesse olhando para um anjo iluminado. O vento que entrava pelo vidro aberto balançava seus cabelos, fazendo-a parecer ainda mais com um anjo.
Foi quando eu te encontrei, ouvindo o som do mar rolar... — o rádio cantava a música calma, que eu havia aprendido a gostar. Uma das coisas que me fascinava nos humanos era a capacidade musical e eu tinha ficado impressionado quando vi um teclado e um violão no canto do quarto de , mas não tinha tido tempo de perguntar sobre.
— Isso é algo que sempre acontece com o seu pai? — perguntei, puxando assunto. O silêncio no carro só estava sendo preenchido pelo som do rádio e aquilo estava me incomodando — Ele te liga e diz que fez alguma descoberta incrível?
sorriu de lado.
— Bem, mais ou menos. Eu te contei que ele é sozinho desde que minha mãe morreu e eu fui embora. Bom, não te contei toda a história. Meu pai já velejou muito nessa vida e ele já viu todo o tipo de criatura, desde peixes pequeninos até tubarões e baleias enormes. Eu acredito nele, mas tem algo que não consigo acreditar: meu pai jura já ter visto uma sereia.
Na hora que eu ouvi aquilo, o ar sumiu de meus pulmões. Meus ouvidos começaram a zunir e eu senti que ia desmaiar.
Por sorte, interpretou errado a minha reação.
— É, eu sei. Doido, não é? Mas é isso. Meu pai é obcecado por sereias. Ele já era antes do acidente. Na noite que a mamãe morreu, eles estavam na pista de uma. Eles juravam que iam conseguir capturá-la, mas algo deu errado e a minha mãe morreu. Meu pai jura de pés juntos que duas sereias atacaram. Ele matou uma delas, enquanto a outra levou a minha mãe e a matou afogada e por isso nunca encontramos o corpo dela.
As palavras me fugiam da cabeça. Eu precisava agir como um humano incrédulo.
— Uau, então seu pai viu uma sereia. E ele disse como elas eram?
revirou os olhos.
— Não seja debochado, . Meu pai realmente acredita nisso. Ele até fez um desenho. Eu puxei o dom de desenhar do meu pai.
Ela sacou o telefone do bolso e começou a digitar.
— Na verdade, eu acho que ele apenas se inspirou em algum desenho de sereia que ele viu por aí, só deixou tudo um pouco mais assustador. Ele colocou garras e dentes afiados na sereia dele, mas, tirando isso, elas se parecem muito com as da ficção.
me ofereceu o celular, onde um desenho podia ser visto. Diminuí a velocidade do carro para poder olhar melhor o desenho.
Quando coloquei os olhos na imagem, eu quis gritar.
A sereia desenhada era a minha mãe.


Capítulo 6


tinha me pedido para parar na frente de uma casa à beira mar, no meio da estrada costeira. Era enorme, grande demais para um homem morar sozinho. Ficava próxima a um deque, onde havia duas pequenas embarcações ancoradas. Imaginei que fosse tudo do senhor .
— Você se importa de ficar no carro? — ela pediu quando eu estacionei na entrada.
— Não, tudo bem. Vou mergulhar os pés na água, um pouco.
franziu o cenho.
— Tem certeza, ? O mar está tão agitado hoje.
Então, pela primeira vez desde saí naquela manhã, olhei para o mar. As ondas se quebravam com força e se formavam com rapidez. O céu estava limpo, então não podia ser nenhuma tempestade ou tornado se aproximando. Era apenas o mar, furioso.
E isso significava que eu estava com problemas em casa.
Não tinha voltado ao mar desde o dia que conheci , duas semanas atrás. Nunca ficava tanto tempo longe. Algo estava errado.
? — chamou minha atenção. Eu tinha ficado assustado com a imagem que ela me mostrara da minha mãe e agora me sentia ainda pior ao ver o mar tão atormentado. Mas me virei para e tentei lhe mostrar o meu sorriso mais tranqüilizador — Obrigada por entender. Sério.
Ela me deu um beijo na bochecha e saiu do carro. Sua intenção era de que aquele beijo fosse um agradecimento por tudo o que tínhamos passado naquelas semanas e uma promessa de tudo o que estava por vir. Porém, quando vi entrar na enorme casa, eu senti que tinha sido um beijo de despedida.
Saí do carro assim que ela entrou. Tirei o tênis e as meias, jogando tudo no banco do carro e corri para a praia, pisando com força na areia. Não era muito bom com as pernas, então tropecei e quase caí de cara no chão algumas vezes, mas finalmente consegui sentir a água salgada penetrando minha pele.
Seres humanos são feitos de 70% de água, mas sereias e tritões são 100%. Cada poro meu era composto por água e pedia pela água salgada a cada batida do meu coração. Meus sistemas funcionavam bem melhor no oceano e eu não podia negar que sentia falta da água salgada. Mas a minha curiosidade pelo mundo humano sempre vencia a batalha e eu sempre acabava escolhendo por ele. Agora, eu estava com medo.
Fechei os olhos, tentando sentir algo vindo das Águas Negras. Nós, povo de Atlântida, conseguíamos sentir a presença uns dos outros, mas eu não estava sentindo nada além da solidão naquele momento. Seria melhor se eu me transformasse, mas precisaria afundar completamente na água e não tinha tempo para aquilo. sairia da casa a qualquer segundo.
Frustrado por não sentir nada, resolvi desistir e deixar para lá. Poderia ir visitar meu pai mais tarde e me convencer de que tudo não passara de um mau pressentimento.
Mas foi aí que senti uma presença conhecida. Era forte, imponente. Era Syrena.
Syrena estava por perto, em algum lugar. Mas, tão repentino quanto começou, sua presença desapareceu. Eu não podia mais senti-la.
Nós só podíamos sentir um ao outro quando estávamos em contato com a água. Quando estávamos secos, o elo se quebrava.
O que significava que Syrena não estava no oceano. Ela estava na superfície.
Aproximei-me da mansão, forçando minha audição para tentar ouvir o que acontecia lá dentro, mas estava longe demais. Podia ouvir alguns gritos de , mas era só isso. Eu precisava entrar na casa.
Tinha prometido para que ficaria do lado de fora, mas agora eu não podia manter minha promessa.
Encontrei a porta dos fundos da casa, aberta. Agora, ouvia perfeitamente a voz de , discutindo com um homem — seu pai.
— Você não pode fazer isso, pai!
— Eu não estou errado, ! Eu me lembro bem do que eu vi!
Continuei entrando na casa. As vozes estavam abafadas e pareciam vir de um porão. Fui seguindo os sons, com passos cautelosos.
Encontrei um alçapão no meio da sala, perto de um bar de parede. Estava aberto e era dali que as vozes vinham. Uma escada pequena levava para baixo. Sem pensar duas vezes, eu desci.
Encontrei um hall iluminado com luzes fluorescentes. Uma porta de metal separava o hall do outro cômodo, mas esta estava aberta. Era ali que estava gritando com seu pai.
, você não está vendo?! Eu capturei uma sereia!
— Pai, isso não é uma sereia! Isso é uma mulher e o senhor vai matá-la se continuar a mantê-la debaixo d’água!
Ao ouvir aquilo, eu não agüentei. Precisei ver o que estava escondido por aquela porta.
Era um cômodo amplo e tão bem iluminado quanto o hall. Era um laboratório, com geladeiras e parafernálias científicas. Mas, o que mais me chamou a atenção, foi o enorme aquário no fundo da sala, onde uma mulher se debatia, amarrada, com o corpo imergido na água, apenas sua cabeça para fora, mas a boca tampada com uma fita preta.
Era Syrena. Eu consegui senti-la aquela hora porque ela tinha se permitido transformar, pelo menos um pouco, o suficiente para tentar chamar alguém que estivesse por perto. Mas, antes de deixar a transformação se completar, ficara em sua forma humana.
! — gritou, assim que me viu — O que está fazendo aqui? Pensei que estivesse esperando no carro!
— Solte ela! — gritei para o pai de e fui para cima dele, deixando a raiva tomar conta de mim. Ele era um caçador. Estava tudo ficando claro — Solte ela, agora!
Agarrei seu jaleco com as mãos, chacoalhando-o, como se assim pudesse obrigá-lo a fazer o que eu mandava.
, solta o meu pai!
— Ele pegou Syrena! — gritei para — Ela era amiga da minha mãe!
— Você conhece a sereia! — o homem gritou para mim. Syrena gritou também, mas não pude entender o que ela dizia por causa da fita em sua boca.
— Sereias não existem, pai! — gritou, exasperada — Pelo amor de Deus, o senhor não vê que é uma mulher?! Uma mulher comum! Como eu e você! O senhor precisa aceitar que a mamãe morreu, ela não vai voltar e sereias não existem!
Soltei o pai de , que ficou olhando para a filha como se ela fosse um monstro de sete cabeças. Corri para onde Syrena estava presa e me pendurei no tanque para tirar a fita que cobria sua boca.
! — ela murmurou, aliviada. Agradeci por ela não ter usado meu nome de tritão, porque aquilo poderia nos denunciar, principalmente naquele momento tão delicado — Eu estava indo te visitar e esse homem me pegou e me acusou de matar a mulher dele!
— Meu Deus! — estava com a mão na boca e eu vi lágrimas se formarem em seus olhos. Ela correu para o tanque e apertou alguns botões no computador ao lado, o que fez a água começar a diminuir.
O senhor apenas nos observou e não fez nada.
Syrena estava em sua forma humana e usava as roupas que eu tinha deixado guardadas na minha casa. Não sabia como ela tinha chegado até ali, mas estava imaginando uma forma ou duas.
Subi na escada ao lado do tanque e me deu um bisturi, que eu usei para cortar as cordas que prendiam as mãos de Syrena. Quando seus pulsos estavam livres, ela mesma pegou o bisturi e começou a cortar as cordas em suas pernas. Então, pediu minha mão e eu a ajudei a descer.
Ela estava completamente molhada e tremia, assustada. Eu podia entender seu pânico, então apenas a abracei com força, sussurrando que estava tudo bem. apareceu com um lençol branco, que havia pegado em um dos armários do laboratório e me entregou, me deixando envolver Syrena em algo seco. Por sorte, a água em que ela estava imergida era do mar, então não estava ressecada.
— Venham comigo, por favor. — guiou. Quando passou pelo pai, lançou-lhe um olhar mortal — E o senhor fique aqui!
Ela nos guiou para fora do laboratório, seguindo pelo alçapão. Pediu milhares de desculpas e disse, aos prantos, que o pai estava louco.
Eu não sabia o que dizer. Estava assustado e, pela primeira vez na minha vida, não queria estar entre os humanos.
— Por favor, não denunciem o meu pai. Ele não tem noção do que faz. Tem sido assim desde que a minha mãe morreu. Eu quero interná-lo em uma clínica, mas não tenho como pagar. No momento...
. — interrompi. Eu a conhecia o bastante para saber que aquela tagarelice continuaria até que ela se sentisse mais calma. E, naquela situação, era quase impossível que ela se acalmasse — Nós só queremos ir embora. Você precisa de carona para voltar?
Ela entendeu que eu estava bravo e que não queria ouvi-la. E, mais do que isso, eu estava com muito, muito medo.
— Não. Vou ficar um tempo com o meu pai e depois vou pegar o carro dele para voltar. Obrigada por me acompanhar até aqui. E perdão por isso. De verdade.
Assenti, mas não consegui dizer mais nada.


Capítulo 7


— Eu estava procurando por você. Você sumiu. Seu pai ficou preocupado. Brutus ia subir para te procurar, mas eu insisti em vir. Quando não te encontrei em casa, peguei uma das roupas que você guarda e resolvi passear pela cidade, procurar por você. A casa parecia em ordem, então imaginei que você só estivesse se divertindo, principalmente porque vi jovens da sua idade por todo canto. E foi quando ele me pegou.
Eu estava na beira da piscina da minha casa, com Syrena. Nós já havíamos nos livrado das roupas e estávamos nos preparando para mergulhar e voltar para casa. Mas, primeiro, eu queria ouvir a história do que tinha acontecido com ela.
— Ele me agarrou em uma rua escura, bateu na minha cabeça com alguma coisa e depois tampou minha boca e meu nariz com um pano molhado. Eu achei que era só água e respirei, então senti a ardência. Tinha alguma substância ali. Desmaiei e, quando acordei, estava presa no tanque. Ele gritava comigo, mandava eu me transformar. Dizia que eu tinha matado a mulher dele e agora ele ia me matar. Que tinha conseguido provar a existência das sereias, capturando justo a que matou a esposa dele.
— E vocês mataram? — eu perguntei.
— O quê?
— Você e a minha mãe. Vocês mataram a mãe de ? O pai dela desenhou a mãe, logo depois da morte. Foram duas sereias. Vocês duas andavam sempre juntas.
Syrena suspirou.
— Eu tinha ouvido falar que ele estava envolvido com caçadores. Quando o vi, eu e a sua mãe resolvemos atacar. Íamos matar os dois, como um aviso. Mas sua mãe hesitou e a mulher acabou matando-a. Então, eu e arranhei e ela morreu com o nosso veneno. Achei que ainda dava tempo de salvar Úrsula, então deixei o homem e corri com ela para Atlântida. Mas ela já estava morta antes mesmo de eu passar pelas Águas Negras.
Eu me lembrava. Lembrava de ver Syrena chegando com a minha mãe nos braços, chorando e gritando por ajuda. Lembrava do grito de dor de meu pai, ao constatar que sua rainha estava, de fato, morta.
Jamais imaginei que seria filha da pessoa que matou minha mãe.
— Você entende agora, ? — Syrena perguntou, depois que me deu tempo de digerir a história — Entende por que não vamos à superfície? Os humanos não querem viver em paz com nós. Eles querem nos vender, nos caçar e nos matar. Eles querem que sejamos tão impuros quanto eles. E é por isso que mantemos distância. Porque toda vez que nos aproximamos, acabamos morrendo.
Engoli em seco. Minha cabeça girava e todo o meu corpo doía. Tudo que eu conseguia era ver a imagem de , sorrindo no nascer do sol.
— Eu estou apaixonado por ela. — confessei. Não precisava explicar quem era ela. Syrena havia nos visto chegando juntos e já tinha ligado os pontos.
— Isso não pode acontecer, . E não é que não pode acontecer porque é proibido. Não pode acontecer porque nunca vai dar certo. Você precisa desistir dessa ideia maluca de viver no meio dos humanos. Nossos espiões já correm risco suficiente aqui. Volte para casa, aprenda a ser Rei. — Syrena pegou minhas mãos entre as suas e, com seus olhos suplicantes, ela me implorou — Por favor, volte para casa. Atlântida precisa de você. Eu e seu pai precisamos de você.
— Mas e ?
— Você é novo, garoto. Vai se apaixonar de novo. Dessa vez, por uma sereia. Não por uma filha de caçador, que não hesitaria um segundo em nos vender.
Eu tinha certeza de que não seria do tipo cruel. Ela não iria explorar e tentar arrancar riquezas de Atlântida. Eu a conhecia e não conseguia imaginar seu sorriso se tornando ganancioso em nenhuma situação.
Mas, por hora, eu concordei com a cabeça. Estava assustado e precisando da proteção da minha casa. Da minha casa real. Não sabia quando voltaria para a superfície, mas demoraria um tempo até ter vontade de voltar a conviver com humanos.
Demoraria o mesmo tempo que levaria para eu esquecer ; talvez, uma eternidade.


FIM



Nota da autora: Olá para você que chegou ao fim de mais essa história!
Bom, primeiramente queria dizer que o limite de páginas para escrever shortfics acaba comigo! Deixei tantas cenas de fora dessa fic! Queria ter colocado a pp ensinando o pp a tocar no violão a música do Charlie Brown Jr. que toca na fic! Queria também ter colocado uma cena onde eles assistem A Pequena Sereia juntos e ele se identifica com a Ariel! E, no planejamento original, ela descobriria que ele é um tritão e aceitaria isso, manteria isso em segredo e ensinaria para ele as coisas do mundo humano mais abertamente. Porém, se ela soubesse, o desfecho seria muito diferente e levaria muito mais páginas. Acho que, se eu colocasse tudo que tinha em mente, essa fic saíria com, no mínimo, umas 100 páginas (e o máximo das shortfics é de 40!). Essa aqui saiu com 38.
Apesar de ter tirado algumas cenas, acredito que o essencial ficou! Espero que tenham gostado e que eu tenha conseguido passar o medo que o pp estava sentindo, apesar da curiosidade. Ele queria muito ficar, mas o medo de morrer como a mãe e ser capturado como Syrena acabou vencendo!
Estou apaixonada por essa história e espero muito que, você que leu até aqui!, tenha gostado tanto quanto eu e se apaixonado pelo fofissímo tritão <3.
XOXO, Flowers!

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