Finalizada em: Ago/2021

all i got

O último flash quase o deixou cego.
Yugyeom desfez o aperto frouxo na cintura da modelo, que encarou as mãos se afastarem dela com certo desgosto.
Ouviu a voz do outro lado encerrar a sessão, fingindo não perceber a expressão murcha dela.
— Mandou bem, Yugyeom — ele ouviu o fotógrafo animado — A matéria de capa pode trazer mais dinheiro do que a gente esperava. Talvez seja agora que você compra o seu carro.
— Carros são para mocinhos — ele respondeu enquanto se sentava em frente ao espelho cravado de lâmpadas, automaticamente recebendo a atenção especial de maquiadores — Talvez eu dê um upgrade na Harley.
— Você quer dizer tornar aquela coisa perigosa ainda mais perigosa — o outro estalou a língua, ainda encarando as fotografias com concentração — De qualquer forma, não faz parte do meu trabalho rastrear para onde seu dinheiro vai. Só não seja pego com nada ilegal, você é praticamente meu ganha pão.
Yugyeom soltou uma risada enquanto uma moça se aproximava e começava a deixar seu cabelo mais em seu estilo, vulgo bagunçando-o na rebeldia típica do dia a dia do rapaz. Ele lhe lançou uma pequena piscadinha pelo espelho, aprovando o resultado e fazendo nascer um rubor no rosto dela, que foi logo afastada pela loira alta de antes, que se colocou em frente ao garoto sentado.
— Você fica bem bonito assim, Yugyeom — ela jogou o cabelo para trás, enquanto ele arqueou as sobrancelhas — Não acha que trabalhamos bem? O diretor não parou de elogiar nem um minuto. Acho que vai nos chamar de novo.
— Que bom, gosto de dinheiro — ele deu um sorriso de canto e se levantou, caminhando até a arara de roupas coloridas ao lado da mesa grande de acessórios e tirou o casaco jeans, trocando-o por um preto de praxe.
A garota não desistiria assim tão fácil.
— Já vai embora? Acho que o sr. Tennant quer levar a equipe para jantar...
— Desculpa, não vai dar — ele respondeu de imediato, puxando as chaves e o celular e verificando as horas no relógio de pulso — Tenho um compromisso importante.
— Compromisso? — ela engoliu em seco — É um encontro?
Ele se virou para ela, segurando o riso pela expressão desolada da garota. Sabia que deveria dizer alguma coisa, como "Você ainda está tentando?" ou "Não vai rolar nada entre a gente, me desculpe", mas era divertido. Cozinhar o cérebro de garotas bonitas e carentes era seu hobby, e isso por si só já adiantava o tipo errado de cara que era.
Seria ainda mais divertido deixá-la fritar com as possibilidades de sua recusa.
— Talvez — respondeu ele simplesmente.
Com um sorriso, ele passou a alça da bolsa em diagonal pelo tronco e caminhou até a saída, dando um leve cumprimento de cabeça para o diretor e demais funcionários, que retribuíram com simpatia, porém resignação. Yugyeom era o tipo de pessoa que estava ali para fazer seu trabalho e nada mais. Era fechado e esquivo, mas não mal educado. Não recusava conversas, apenas algumas perguntas, principalmente quando vinham acompanhadas de insinuações sobre sua vida pessoal. Era algo inato, natural. Ninguém parecia realmente conhecê-lo de verdade, fora de toda aquela armadura.
Quer dizer, exceto por sua melhor amiga.

atravessou a porta giratória do edifício, ainda rindo do amarelado doente no jaleco de Evelyn, que havia acidentalmente pipetado milímetros a mais do reagente e causado um estrago na bancada. Tirando todo o susto inicial, lembrar disso era extremamente engraçado agora.
— Quero só ver se um dia acontecer com vocês — ela resmungou, olhando com tristeza para a mancha, que certamente nunca mais sairia — Esse era meu favorito. Minha mãe até bordou flores nele.
— Ela pode bordar outra em volta dessa mancha, pelo menos não terá que gastar linhas coloridas — disse, e a explosão de risadas surgiu novamente entre o trio. Evelyn colocou a língua para fora para rir logo em seguida, e Jocasta de repente freou os passos, agarrando o pulso das duas.
— Para tudo! — ela murmurou, puxando as duas discretamente para mais perto de seu corpo — O que é aquilo bem ali?
As outras duas seguiram o olhar da garota até alguns metros na esquerda, onde a enorme Harley estacionada no meio fio chamava a atenção de longe. Assim como seu piloto, trajado de roupas inteiramente pretas e ainda usando o capacete robusto com a viseira completamente escura que escondia qualquer parte de seu rosto.
Ao vê-las, ele prontamente saltou da moto, tirando o capacete e balançando o cabelo já desarrumado. Abriu um sorriso divertido enquanto colocava o objeto debaixo do braço, inclinando a cabeça para a garota de óculos redondos, chamando-a para perto.
A garota em questão era e sua única reação foi revirar os olhos.
— Meu deus, quem é esse gato?! — Jocasta levou as mãos ao peito, os olhos brilhando intensamente ao observá-lo.
— Ele está olhando pra cá? Não acredito! Como eu estou? — Evelyn se apavorou enquanto ajeitava o cabelo castanho avermelhado, pegando o celular e encarando sua imagem na tela de bloqueio.
— Você tem um rímel? Sei que tem! Você sempre carrega um! — Jocasta resmungou, contagiando-se pelo desespero da amiga. Os murmúrios continuaram enquanto ele esperava na mesma posição.
respirou fundo, olhando a agitação das garotas com certo tédio. Não era uma cena assim tão incomum, não quando ele aparecia. Não se sentiu mal ou ofendida por não terem pensado que ela poderia ser o alvo dos olhares furtivos do rapaz; ela preferia desse jeito. Tanto preferia que não se adiantava a contar sobre seu melhor amigo para as outras, principalmente quando havia acabado de entrar na empresa de seus sonhos.
Convenhamos, ninguém pensaria em me ligar a ele, pensou ela. Evelyn Getty era alta, cabelos longos e cheios e um corpo escultural. Jocasta McGrath também não ficava atrás de forma alguma; tinha o cabelo preto e escorrido, tingido de claro debaixo para cima, tão ou mais bonita que a outra. não poderia nem se comparar às duas com seus míseros 1,59, cabelos sem graça e presos na maior parte do tempo, acompanhada de óculos redondos de grau e sem nenhuma maquiagem. Não que necessariamente fosse feia ou algo do tipo; ela era apenas normal demais.
Por fim, revirou os olhos e tossiu para chamar a atenção para si.
— Meninas... Gente! — ela aumentou o tom, recebendo finalmente os olhares — Eu preciso ir agora. Vejo vocês amanhã.
— Espera aí, , e o...
— Até mais! — ela deu um sorriso gentil e começou a caminhar para o outro lado, mas deu meia volta e gritou — Prometo que explico tudo amanhã!
As garotas a olharam confusa, e retribuíram o aceno de despedida, só que não por muito tempo. Os dois pares de mãos travaram no ar e seus queixos tiveram de ser recolhidos do chão quando viram se aproximar do cara bonito, conversando de forma casual mesmo que elas não ouvissem uma só palavra.
— São gostosas — Yugyeom falou assim que a amiga chegou perto o suficiente, ainda encarando as outras duas ao longe e levantando uma das palmas da mão para lançar um tchauzinho. Evelyn pareceu pálida demais.
— Muito obrigada por ter tirado toda a minha paz do expediente amanhã — ela bufou — Não tínhamos combinado de não aparecer sem avisar?
— Mas eu tinha que aparecer, esqueceu que dia é hoje? — ele arqueou uma sobrancelha.
— Natal? — ela riu em descaso.
— Engraçadinha — ele pegou o segundo capacete apoiado na garupa, entregando-o a ela — Sobe logo que preciso ver sua cara de taxo o quanto antes pra esse dia melhorar.
Fala sério, você trocou os capacetes de novo — ela grunhiu, inspecionando o item com desânimo — Mas esse é novo? Não estou reconhecendo... — ela passou o objeto pela cabeça, mas Yugyeom travou suas mãos imediatamente, estalando a língua.
— Você é sempre desatenta nas menores coisas — ele revirou os olhos enquanto tomava o capacete dela e tirava-lhe os óculos de grau com cuidado, virando-a de lado e guardando o acessório em sua bolsa. O simples movimento a fez olhar para as amigas de novo, que permaneciam petrificadas na mesma posição.
Ela se virou, trincando os dentes e pronta para dizer pra saírem dali rápido quando tudo ficou negro. Yugyeom encaixou a cabeça dela no capacete com delicadeza, chegando perto para fazer as amarras necessárias e últimos posicionamentos. A imagem de longe causou borboletas no estômago das duas amigas chocadas em frente ao edifício.
— Agora podemos ir — ele deu um sorriso irônico e passou as pernas longas por cima da moto, colocando seu próprio capacete.
Ela desviou os olhos em desdém, subindo logo atrás dele.
— Continua me tratando como criança em público — ela resmungou — As pessoas podem interpretar mal.
— Me preocupo bem mais com o distintivo aposentado do seu pai se descobrisse que não te carreguei por aí em segurança do que com as insinuações das suas amigas gostosas.
— Ah, por favor, não transa com as minhas colegas de trabalho. Eu acabei de chegar, gostaria de paz e sossego antes de ter alguém chorando no meu pé.
Ele gargalhou alto e virou a chave.
— Tudo bem, vou seguir suas ordens... por enquanto.
Ela estava prestes a responder, mas o barulho alto da descarga a calou na mesma hora em que ele arrancava dali.

Já era quase noite quando Yugyeom estacionou em frente ao pequeno restaurante quente e apertado na Namdaemun. tratou logo de descer primeiro do que ele, encarando a fachada do Eomeoni com nítida empolgação.
— Ah! O cheiro! Está sentindo o cheiro? — ela fechou os olhos e abriu os braços em um derradeiro teatro — Quanto tempo faz que não sinto esse cheiro! Glórias!
— Eu não seria louco de quebrar uma tradição dessas — ele riu enquanto guardava os capacetes em cada lado do guidão — Mas não te vejo com nenhum presente no braço. Você ofendeu alguém por ser inteligente demais?
Ela cerrou os olhos pelo sarcasmo.
— Não é nada disso...
— Não contou a elas que hoje é seu aniversário?
— Não achei necessário. Aliás, não é. Só forçaria as pessoas a me darem algum presente, sendo que nem me conhecem direito. Prefiro esperar um tempo e talvez eu diga no ano que vem — ela deu de ombros, satisfeita pelo raciocínio.
Ele balançou a cabeça, rindo pelo nariz.
— Tudo bem, Walter White. Vamos entrar antes a sra. Walsman ligue pra polícia porque não aparecemos esse ano.
— Já falei pra não me chamar assim — ela respondeu irritadiça, o que só serviu para deixá-la ainda mais fofa.
— Vocês têm o mesmo trabalho, ué. Fabricar drogas e essas coisas.
Ela deu um soco em seu ombro e então finalmente passaram pela pequena porta com cortina de lantejoulas. Zam Walsman era uma idosa cheia de energia que os recepcionou com alegria, sempre atentando-se ao fato de que Yugyeom crescia mais a cada ano que passava. A mesa já estava pronta no centro do pequeno espaço, ocupado com nada mais do que alguns clientes espalhados. Antes de se sentar, Yugyeom lançou uma piscadela discreta para a senhora, que retribuiu com um sorriso. Em pouco tempo, a mesa foi tomada pela grelha e as carnes, junto com a salada e os demais acompanhamentos de um perfeito churrasco coreano.
— Meu deus, como eu senti falta disso — murmurou de boca cheia, mastigando rápido ao perceber que estava com mais fome do que pensara — A pele de porco daqui é a melhor de todas, e ela ainda tem os intestinos. É um verdadeiro paraíso! O kimchi foi feito no céu, tenho certeza disso, e o tteokbokki...
Yugyeom observou-a falar enquanto comia, muito rápida e voraz para uma simples garota. Ele riu, concordando com suas abordagens, sentindo o prazer que era aquela companhia tão familiar e agradável. Ele era assim: amante da mesmice. Uma personalidade constante.
Talvez por isso tendia a enlouquecer deliberadamente frente às mudanças bruscas.
A noite passou rápido em meio às conversas e atualizações da semana dos dois. Não costumavam ficar muito tempo sem se ver, mas o novo emprego de estava tomando mais de sua agenda do que esperava. Ela sabia que Yugyeom continuava com sessões e viagens, junto com after parties que odiava e, logo depois, pubs lotados de rock e cerveja que amava. Ela fez parte da bagunça algumas vezes para acompanhá-lo, mas nada muito recorrente.
Quando chegou a hora certa, ele virou as costas em direção ao balcão onde a velha Zam entendeu prontamente o recado ao ver a piscadela que recebeu do rapaz. Depois de alguns minutos, ela pousou um bolo confeitado bem no centro da mesa, arrancando um sorriso e uma expressão surpresa de .
— Bolo de sorvete e gelatina, sério? — ela arregalou os olhos ao ver os detalhes em roxo e as pequenas frutas que decoravam ao redor — Mas como… Onde você arrumou isso, Yugyeom?
— Achou mesmo que era impossível? — ele levantou uma sobrancelha, convencido — Seul é uma cidade grande, mas essa belezinha estava mesmo em Sokcho esperando.
— Eles sempre sabem de tudo em Sokcho — ela riu, se apressando em puxar uma faca conjunta à sobremesa e cortando o primeiro pedaço, passando-o para o rapaz — Pelo crédito de todo o seu esforço em buscar um bolo impossível.
— Eu teria que ganhar o primeiro pedaço mesmo que só tivesse te dado uma folha de alface — ele riu e ela estreitou os olhos — Te aguento desde a escola, esqueceu?
— Ah, muito engraçado! O que te garante que eu não sou a que mais sofro com essa amizade? Fala sério, você viu as garotas mais cedo, sempre foi assim…
Mais uma rodada de histórias do passado saíram da boca de . As risadas iam aumentando, assim como as garrafas de soju na mesa, e voltar para casa na Harley de Yugyeom passou a ser uma opção inviável. A velha senhora Walsman acompanhou o casal de amigos até a porta, como em todos os anos, e já tinha chamado o táxi para a garota que estava de olhos fechados e a cabeça encostada no ombro do garoto, o rosto rubro provindo do álcool – também como em todos os anos.
O apartamento pequeno e bem organizado de mostrava o lado interno dela. Yugyeom sempre gostou de observar os detalhes, que mudavam conforme a fase atual dela também era outra. Ele gostava disso nela – o fato de ser o total oposto de si. Desta vez, ela tinha arrumado um enorme pôster do G-Dragon, que estava grudado na parede ao lado da cama, na qual Yugyeom depositou seu corpo com cuidado enquanto ela soltava grunhidos preguiçosos.
— Hmmm — ela murmurou enquanto sentia ele retirando seus sapatos — Seu ombro é mais confortável que essa cama.
— Já ofereci pra te dar uma nova — ele estalou a língua, puxando as duas pernas dela para atravessarem a cama em linha reta — Você sempre recusa.
— Não quero seu maldito dinheiro — ela disse, tentando abrir os olhos inchados — Não para me comprar camas. Camas não são bolos de sorvete e gelatina.
Ele riu, sentando-se ao lado de sua panturrilha.
— Devia ter te dado uma cama de presente então.
— Não! — ela levantou a perna, buscando forças para chutá-lo — Você precisa parar com isso… — ela suspirou, agora afundando a base de seus pés na curva de seu cotovelo — Vem para cá.
Ele revirou os olhos e sussurrou “lá vamos nós de novo”. Tirou o casaco preto e o pousou na cadeira da escrivaninha ao lado. Colocou as mãos nos bolsos e apanhou as chaves e o celular, mas parou imediatamente. Retirá-los significaria ficar, e esse momento era tomado de uma estranheza escondida que ele jamais revelara. Um aperto em seu peito denunciava o que realmente queria: ficar. Mas ele já ignorava seu coração há tempo demais para lhe dar ouvidos.
Quando se deitou ao seu lado, os dois agora olhavam as estrelas pequenas e infantis no teto acima da cama, captando seu brilho esverdeado e defeituoso. Já se foi o tempo em que aqueles objetos realmente funcionavam, mas coisas de valor sentimental eram muito importantes para .
— Ei, Yugyeom? — disse ela, e ele murmurou em resposta — Lembra quando me salvou dos valentões no primeiro dia do ensino médio?
— Lembro — ele soltou uma risada fraca.
— Como poderia esquecer? Eles eram seus amigos — ela balançou a cabeça, abrindo e fechando os olhos lentamente — Um deles me enganou com uma carta de amor. Me atraíram para atrás da escola com uma promessa de confissão, e você sabia do plano. A consciência bateu em você no último segundo e de repente você apareceu lá, afastando todos eles e suas risadas de mim.
— Isso não me torna menos cúmplice — ele deu de ombros, passando um braço embaixo da cabeça.
— Claro que não, tanto que chorei na sua frente enquanto dizia meus primeiros palavrões — riu com a lembrança — Foi uma humilhação divertida, hoje eu reconheço. Quem seria eu sem aquela pegadinha ridícula? — ela virou o rosto para ele — Quem seríamos sem ela para nos aproximar?
Ele a encarou nos olhos e engoliu em seco. Ela não parecia estar vendo-o de fato; com certeza sua visão tinha virado um imenso borrão. Mas ele estava bem e lúcido, tão presente no momento que era capaz de contar as batidas de seu maldito coração. Ele sabia bem o que vinha após essa lembrança. Se lembrava da frase que havia dito logo após todos os gritos raivosos de uma de 15 anos que havia sido alvo de baboseiras de outros adolescentes. Ele sabia. E, quanto mais pensava nela, mais ela se tornava um karma. Afirmações mentirosas e incertas soltas ao vento daquela maneira voltavam para te atormentar depois, com o verdadeiro intuito de mostrarem quem realmente manda. Ele agora acreditava em tudo isso.
Ela não chegou nessa parte da história porque o sono a levou bem antes disso. Ela nunca chegava, na verdade. A frase era tingida de um certo impacto para ambos os corações. Um pacto velado e indiscutível. Em meio aos gritos, ela saiu da boca dele de forma limpa e fria:
Não vou me apaixonar por você. Nunca. Jamais.

No dia seguinte, Yugyeom estacionava em frente ao prédio grande e espelhado da GLAM, uma marca que não passava de uma startup amadora até dois anos atrás. O crescimento exponencial de mercado fez com que seu nome aparecesse cada vez mais nos tópicos da bolsa de valores e atraía investidores como ímã, não demorando em ampliar filiais e outras dezenas de prédios como aquele em que Yugyeom entrava no momento.
O que vendiam? Não importava muito, no fim das contas. As pessoas só estavam dispostas a reconhecer a genialidade dos fundadores do negócio.
Harry, vestido adequadamente com seu terno de sempre, já batia os pés enquanto observava o rapaz de preto atravessar as portas duplas. Suspirou aliviado, apontando para os ponteiros no relógio de pulso.
— Você está atrasado — ele resmungou quando Yugyeom se aproximou.
— Você é maluco? — ele ergueu uma sobrancelha — Ainda faltam cinco minutos.
— Você sempre chega faltando dez, então posso considerar como atraso.
— Tive um compromisso importante — deu de ombros, começando a caminhar para o elevador.
Harry revirou os olhos e acompanhou o outro, lado a lado.
— Ei, ei, anda mais devagar — pediu, estalando a língua — Preciso te avisar sobre o conteúdo da reunião. Recebeu o arquivo que mandei por e-mail?
— Tirar fotos para a mais nova Gucci? Li o suficiente — Yugyeom respondeu, apertando o botão redondo.
— Isso é sobre o trabalho em si. Presta atenção, Yugyeom, essa reunião é para conhecer o CEO — Harry respondeu, frisando a última palavra com certa urgência — Sei que não te falta cordialidade no lado profissional da vida, mas não quero te ver confuso depois e fazendo perguntas sobre informações já passadas. Consegue entender? — ele arqueou as sobrancelhas enquanto Yugyeom apenas observava os números vermelhos acima diminuindo até o térreo — E ele é considerado super gentil e eloquente, o tipo de cara que janta com o presidente da República, tudo bem? Por isso, não dá em cima de nenhuma modelo enquanto estivermos aqui dentro. Sei que alguma delas vai te passar o telefone mais tarde, de qualquer forma.
— Isso é calunioso. Desde quando dou em cima de alguém?
Harry estreitou os olhos, fazendo com que Yugyeom deixasse escapar uma risada divertida.
— Ser esse estereótipo vivo de tsundere deslumbra até a mais distante das mulheres. Seu bosta.
Yugyeom soltou mais uma gargalhada ao mesmo tempo em que o elevador abriu.
— Não sabia que você prestava tanta atenção aos detalhes, Harry.
— E não é pra isso que empresários servem?
Yugyeom sorriu e levantou os ombros em zombaria. Quando as portas se abriram de novo, eles já entravam no piso acinzentado do andar indicado. A sala de reuniões já estava cheia com os participantes do novo projeto, inclusive garotas muito bem vestidas que detiveram o olhar sobre o mais novo modelo da marca por alguns muitos minutos. Ele apenas cumprimentou a todos educadamente enquanto se sentava ao lado de Harry abaixo da janela.
— Onde está o super-homem educado e pomposo? — sussurrou no ouvido do garoto, curvando a cabeça discretamente.
— Eu não sei, ele é bem ocupado, sabia? Deve estar recebendo mais um prêmio de filantropia por aí. Fiquei sabendo que ele tem uns dez no armário.
Yugyeom assentiu, sufocando o que realmente queria dizer: grande bosta. As pessoas não se tornavam melhores só porque cediam um espaço a mais em seus bolsos.
Ele não sabia que seu pensamento iria se completar de maneira tão literal.
Ele ouviu a voz imponente antes de se virar e ver de fato. Ela veio do corredor antes de chegar à sala. Yugyeom havia aproveitado o último minuto de silêncio absoluto para digitar e enviar uma mensagem à , lembrando-a de tomar a sopa que havia deixado antes de ir e, de quebra, pedindo a confirmação de satisfação do presente de aniversário que só ele podia dar. Ele sorriu com a lembrança repentina e ouviu o som, desligando o telefone imediatamente enquanto todos se levantavam em cumprimento ao chefe. Então, enfim, ergueu os olhos e se levantou.
Qualquer sorriso existente em seu rosto se esvaiu como se nunca tivesse existido.
Ele não teve outra reação a não ser ficar parado e imóvel. A reverência respeitosa não veio e ele nem percebeu; não viria mesmo se tivesse percebido. O homem sorridente à frente era considerado um perfeito gentil e cavalheiro. Uma gargalhada maluca tomou sua garganta. Que piada!
Ele sentiu os ombros de Harry em seus braços enquanto o mesmo percebia que o rapaz de preto havia ficado estático em seu lugar, com o rosto mais sério do que jamais havia visto. Ele cruzava o olhar até o outro lado da mesa, encarando a feição alegre até que aqueles olhos o encontrassem.
Quando finalmente aconteceu, um lapso de choque também tomou o rosto do CEO, mas passou em um piscar de olhos. Ele tratou logo de limpar a garganta e desviar o rosto, pedindo gentilmente para que todos se sentassem. Yugyeom precisou que Harry o puxasse para a cadeira.
Ele não fazia ideia do que estava sendo falado. A reunião começou e terminou em uma tomada só. Se sentiu aliviado por ter um empresário competente como Harry Hackman, que o manteria informado de tudo depois, mesmo que não precisasse disso na maioria das vezes. Agir como despreocupado estava em seu jeito inato; ele gostava de Harry e eram amigos desde a faculdade, então era mais fácil e mais conveniente – para Yugyeom, claro, que não pretendia aprender a lidar com um novo círculo de pessoas – colocá-lo naquele trabalho dessa parte de sua vida. Mesmo sabendo que poderia muito bem resolvê-la sozinho.
Mas não aquele dia. Neste dia em específico, tudo havia virado um borrão de lembranças incômodas que lhe queimava o peito a cada segundo em que o desgraçado à frente abria a boca.
Ao fim da reunião, ele assistiu a todos se dirigirem animadamente para apertar as mãos do chefe gentil e motivador, que com certeza havia destilado palavras fortes e generosas, capazes de acender uma luz no peito dos demais. Yugyeom automaticamente levou as mãos no celular ao bolso, apertando os dedos em volta dele enquanto sofria o maldito dilema que já havia sentido antes, anos atrás. Será que ela sabe? Será que imagina que ele está de volta?
Ele esperava sinceramente que não.
Por fim, precisou se levantar para seguir porta afora. Sua vontade era de sair batendo os pés, não se importando com o mar de pessoas à frente e fugindo para o lado de fora onde pudesse soltar seu berro escondido. Mas precisava clarear a mente o mais rápido possível e se lembrar que suas atitudes implicam outras pessoas, e uma delas era o cara aliado ao seu lado que devia estar loucamente preocupado pela sua cara fechada.
Harry chegou primeiro à mão estendida do homem, que parecia muito bem apessoado. Ternos caros e um bom penteado não o diferenciavam muito de uma pessoa que realmente esvaziava os bolsos com grande frequência.
— Vamos fazer de tudo para que essa coleção seja um sucesso, senhor — Harry usou mais uma reverência exagerada — Esse é meu cliente, Kim Yugyeom. Foi o primeiro a receber o contrato do projeto.
Os olhos impassíveis finalmente se encararam por mais tempo do que o normal. Yugyeom era tomado por lembranças e esperava sinceramente que ele também.
— Como vai, Keith? — ele estendeu uma mão, e Harry se virou com olhos arregalados. O que ele pensava que estava fazendo? Chamando o CEO pelo primeiro nome?
Keith hesitou por um momento, mas apertou as mãos do rapaz gentilmente. Um sorriso atravessou seus lábios.
— Yugyeom. É um prazer revê-lo.
O garoto tentou sorrir, mesmo que não fosse claramente um sentimento recíproco.
— Ouvi muitas maravilhas sobre a sua carreira no mundo da moda. Um visual suave e misterioso, como um diamante bruto, foi o que disseram. Vejo que meu departamento de recursos humanos sabe bem como escolher.
— Ah, isso é novidade. Já estava começando a pensar que tudo isso era um plano seu — Yugyeom deu um sorriso em linha fina, sem mostrar os dentes. O sarcasmo escorreu por sua boca. Harry ainda o encarava boquiaberto enquanto Keith limpou a garganta, mantendo a elegância recém adquirida em seus anos fora do país.
— Não tive muito tempo pra fazer planos como esse — respondeu em voz baixa, desviando os olhos — Bem! Espero que possamos trabalhar bem juntos, Yugyeom! A coleção depende muito da cooperação de todos.
Yugyeom apenas riu e o olhou com desprezo contido enquanto andava para fora da sala, seguido por Harry, que murmurava desculpas desconexas sobre o tom informal do cliente. Antes de cruzar a porta, ele se virou novamente, focando-se naqueles olhos de novo.
— Ah, quase ia me esquecendo… — ele sorriu, apoiando um braço no batente — O parque Ttukseom anda com uma bela arborização desde a nova lei de reflorestamento do ano passado. É um ótimo lugar para se ir e pensar na vida, e principalmente clarear as ideias. Espero que dê uma passada lá antes de pensar em tomar qualquer atitude burra o bastante que só o trará arrependimentos.
Keith engoliu em seco e o lançou um sorriso desafiador. O mesmo sorriso que o lançava anos atrás, sem qualquer plateia para que precisasse fingir ser um bom homem. Yugyeom se satisfez com a atitude e a demonstração clara de que o desgraçado não havia mudado em nada. Com um aceno teatral de cabeça, ele se retirou da sala, sentindo o corpo inteiro queimar de raiva.

Ele encarou o telefone por mais tempo do que podia contar enquanto andava em círculos no chão. Sua cabeça estava um completo estrago; a dualidade era dolorosa e a raiva só sabia crescer quando lembrava do rosto daquele homem que teve a audácia de pisar novamente na cidade.
Podia se lembrar como se fosse ontem de quando ele partiu, deixando trancada em casa por dias com os olhos vermelhos e o coração despedaçado. Quero crescer, , será que é difícil de entender? Nem você e nem essa cidade são o suficiente pra mim. Yugyeom queria quebrar qualquer coisa que se mexesse só por recordar tais palavras. Elas tiveram um peso de ódio dentro dele. Quando viu chorar por aquele infeliz, foi como se seu mundo desmoronasse e ele não se lembrava de se sentir assim antes.
Mas ele também não tinha outra pessoa como ocupando um espaço de sua vida, nunca teve.
Ele torceu os nós dos dedos, sabendo com certeza que avisá-la era a decisão mais prudente. Ele veria o choque passar por seu rosto e talvez, apenas talvez – o que torcia para que não acontecesse – a tristeza e a dor em seus olhos de novo. Ele não sabia se suportaria, mas precisava fazer. Não sabia como mentir pra ela, e se fosse começar a fazer isso teria de parar de vê-la de vez, o que não era possível em nenhuma dimensão, existente ou não.
Por fim, agarrou as chaves da moto e seguiu para o estacionamento do prédio onde morava, andando rápido antes que desistisse de sua decisão.
Não demorou para que ele costurasse o trânsito de Seul bem além da meia noite, tendo consciência de que era tarde e ela provavelmente abriria a porta aos resmungos, mas precisava que ela soubesse, precisava que ela evitasse o choque e a decepção de novo.
O céu estava inchado de chuva, e uma leve garoa molhava a jaqueta de couro do rapaz que já aumentava a velocidade da Harley e conseguia ver as janelas mais altas do prédio de . Agora não deviam faltar nem mesmo dois minutos para que chegasse.
A alameda estreita e totalmente residencial da garota ficava localizada em um bairro do subúrbio, onde Yugyeom já havia repetido um milhão de vezes para que ela considerasse outras opções. Era comum o jornal local estar comentando sobre o bairro de Bongko, e de como medidas precisavam ser tomadas sobre a questão infeliz da violência. Se Yugyeom recebesse olhares atravessados de qualquer sujeito mal encarado, não acharia estranho, ainda mais em uma hora como aquela.
Mas não foi exatamente isso que o fez frear a moto com força, levantando o capacete para poder olhar a cena em completo espanto.
O modelo mais moderno de um Audi estava estacionado no meio fio em frente às escadas da entrada, onde ele viu se agasalhando com um kimono e com os cabelos presos em um rabo de cavalo. Ela parecia ter sido bruscamente tirada da cama, e tinha a expressão dura e hesitante para o homem encostado na porta do carona, de costas para o rapaz da moto. Ele. Impossível. Era totalmente inacreditável.
Yugyeom trincou os dentes com força, sentindo toda a raiva que sentiu no início do dia, agora sem qualquer esforço em mantê-la. Ele não se achava tão ameaçador quanto ouvia de comentários esporádicos, mas sabia que tinha dado um aviso bem claro para Keith. Achou que ele tinha entendido. Ou pior: achou que ele teria bom senso.
Ele não acreditava que havia sido tão ingênuo nessa altura da vida.
Estava mais do que pronto para descer e afastar Keith de , como havia feito da primeira vez, e torceu para que ele ainda se lembrasse bem daquele soco. Mas antes que desse um passo sequer, ele viu o abraço que surgiu do nada partir do cafajeste, o que o causou outro acesso de fúria, mas ela foi apaziguada a um tom morno que o deixou paralisado quando ela retribuiu o mesmo abraço.
O mundo pareceu escurecer ainda mais. Um frio no estômago de Yugyeom o fez segurar o guidão com tanta força que os dedos ficaram brancos. Ele podia sentir algo se partindo dentro de si, e não sabia como interpretar aquilo, não conseguia interpretar coisa alguma naquela hora. Tudo que queria era que aquela imagem não passasse de uma miragem maluca da última bebedeira de algumas horas atrás, enquanto tentava tomar uma decisão difícil demais para uma pessoa só.
Por fim, ele não queria mais pensar. Meteu os pés na embreagem e acelerou a toda velocidade enquanto os pneus cantaram no asfalto ao fazerem a curva brusca da meia volta. O barulho ensurdecedor certamente chamou a atenção dos dois, mas ele não se importava mais. Tinha uma ideia do que era a dor aguda que queimava seu peito, mas não queria refletir sobre ela no momento. Então simplesmente partiu por entre a neblina da escuridão chuvosa, pilotando a Harley sem um destino certo.

topou com a voz da secretária eletrônica mais uma vez.
Ela fazia aquilo pelo menos três vezes por dia àquela altura. Tentou se lembrar de alguma vez na vida ter sido ignorada de forma tão descarada por Yugyeom, mas a resposta não vinha. Sabia que ele jamais agiu dessa forma, muito menos com ela.
Ela sabia que ele estava irritado. Sabia o que ele tinha visto. E pretendia explicá-lo a situação, dizer que era um mal entendido gigante, mas ele não dava nenhuma chance. Nem mesmo Harry parecia inclinado a responder suas perguntas sobre Yugyeom; apenas de que ele estava muito ocupado com o novo contrato, e uma pilha cheia de outras novas propostas para sentar e ler com calma.
Besteira. Ela sabia que o melhor amigo mal se dava ao trabalho de ler as próprias contas.
Ela havia chegado ao ponto de se deslocar até o prédio enorme da GLAM, onde se sentia extremamente desconfortável só pelas possibilidades estranhas e desconfortáveis que poderia encontrar ali. Desde que se encontrou com Keith em uma fatídica visita surpreendente e maluca, ela se encontrava convivendo de meias palavras com ele. não achava prudente insinuar visitas, já que havia deixado bem claro sua ainda falta de confiança no homem, e que términos como o deles não podiam ser apagados da memória de um dia pro outro. E repetiu, novamente, que jamais se afastaria do melhor amigo.
Já era uma boa hora para o almoço, e ela suspirou antes de seguir em frente e entrar pela porta giratória, segurando firme na sacola de papelão branca com a logo do Choker, o restaurante de bibimbap preferido de Yugyeom. Ela andou até a recepção e, como esperado, foi imediatamente barrada de subir e observar qualquer processo do trabalho de campanha da próxima coleção, mas era parte do plano. Aquilo só a confirmou de que ele estava mesmo ali.
Ela se afastou e pegou o telefone, discando o número de Harry imediatamente.
Ele atendeu no último toque.
— Me coloca pra dentro — disse ela com firmeza.
— Quê?
— Anda logo, Harry, sei muito bem que ele está em algum lugar dessa fortaleza de vidro. Mexe seus pauzinhos e diga pra me deixarem subir agora — ela bufou — E ai de você se contar pra ele!
O garoto respirou fundo do outro lado, levando um tempo para responder.
— Você sabe que ele está trabalhando, não sabe?
— Eu também estava, mas ele nunca me ignorou só porque ganho alguns milhões de wones a menos do que ele — esperava que sua ironia demonstrasse sua urgência — Estou esperando, Harry.

— Faço ele aceitar qualquer proposta que você esteja tentando enfiar na goela dele de novo, como aquele comercial de pasta de dente.
— Ei… — ele bufou, tentando pensar em formas de se livrar — Argh! Por que sempre acabo envolvido nas tretas de vocês? — ele xingou mais umas vezes e suspirou — Você não pode dizer que fui eu. É sério! Eu não sei o que rolou agora, mas ele anda bem estranho.
— Ameaçou atropelar as pessoas com a Harley de novo? Você sabe que ele usa frases propositalmente agressivas quando está bravo.
— Não, ele não está bravo, — Harry fez uma pausa para suspirar — Ele parece, sei lá… Magoado.
Ela não ouviu as últimas despedidas dele. Seu coração parece ter se apertado de forma diferente e tensa. Ela desligou sem perceber e esperou sua vez por minutos arrastados enquanto encarava qualquer ponto disforme do piso de mármore até ouvir seu nome ser chamado pela mesma recepcionista que havia impedido sua entrada da última vez. Ela viu a feição confusa da mulher enquanto agora a deixava subir e caminhou até o elevador indicado em um estranho estado de torpor pensativo; sua cabeça trabalhava a mil enquanto ainda parecia estar estática na palavra magoado. Yugyeom não era uma pessoa que ficava magoada. Ainda mais com ela. O que raios estava acontecendo?
O elevador se abriu em um corredor amplo e brilhando em cores marfim. Ela não podia sequer imaginar o enorme trabalho da equipe de limpeza; aquilo era um terror de serviço, mesmo que fosse lindo. Ela caminhou até encontrar a letra em cima da porta larga e dupla, ouvindo barulho de vozes por trás dela, não se demorando a abri-la e entrar na confusão de flashes e trocas de figurino.
Ela imediatamente o viu posando no fundo branco, parecendo confortável em roupas escuras e exalando sua beleza misteriosa e distante, como sempre. sempre soube que Yugyeom tinha uma beleza diferente – achara isso desde a primeira vez que o avistou na escola, quando ele era apenas o garoto estranhamente inteligente e estranhamente calado do fundo da sala. Era uma beleza amplamente apreciada, mas quase nunca compreendida. O tipo de produto na vitrine que parece caro por ser bem feito, e que quase ninguém tem coragem de entrar e verificar o preço – que pode ser menos do que se pensava.
Ela andou alguns passos até notar que ele não estava sozinho. Sentado em uma poltrona do centro, ambos os lados direito e esquerdo eram ocupados por duas garotas em roupas coloridas e curtas, apoiadas de um lado a outro dos braços de madeira, onde Yugyeom passava os seus por trás enquanto seguia as recomendações do fotógrafo, que não se segurava para destilar elogios pelo trio. Os sorrisos estampados no rosto delas parecia genuíno; até mesmo Yugyeom abria um sorriso em linha fina, mas não sabia se era porque estava curtindo o trabalho ou porque haviam mandado fazer isso.
Em seguida, uma delas recebeu a orientação de se levantar e deixar apenas uma em cena. Em um grito, ouviu bem a próxima frase do fotógrafo: ele queria que a outra modelo chegasse mais perto, que passasse as pernas pela dele e que criassem um clima romântico para que vendessem bem a imagem da coleção de outono. Yugyeom demorou um tempo para assentir com a cabeça, como se a ideia não o agradasse tanto, mas ele não pretendia discutir. A garota sentou-se tão próxima de seu colo que cruzou as sobrancelhas, sentindo um estranho formigamento no estômago. Ela andou um pouco mais à frente quando o primeiro flash iluminou os dois e Yugyeom finalmente olhou para a nova presença.
Uma mistura de calor e frio tomou conta de todo o seu corpo e ele teve uma reação totalmente impulsiva. Em um movimento só, ele tirou todo o resquício de sorriso do rosto e se afastou bruscamente da modelo, ficando de pé enquanto encarava a garota perto do fotógrafo com uma mistura de choque e raiva. Choque porque não esperava vê-la ali; e raiva pela cena que ela viu. Raiva de Harry, que com certeza estava por trás daquilo. Raiva pela cena que presenciou há alguns dias atrás.
— Tempo, Max — ele disse para o fotógrafo sem olhá-lo e andou até a garota, passando por ela com um olhar cravado em seu rosto enquanto seguia para o outro lado do enorme galpão, ouvindo seus passos atrás de si. Sentiu raiva novamente; ele ainda não tinha o que dizer, por que ela tinha que aparecer daquele jeito?
Em meio aos gritos de Max, que dispersava os demais funcionários para o almoço, se aproximava do garoto carrancudo.
— Ei, dá pra parar de andar? Só tem a parede na sua frente — ela disse para as suas costas.
Ele parou e se virou bruscamente, os músculos do maxilar tão trincados quanto jamais viu.
— O que está fazendo aqui, ? — ele sussurrou de forma furiosa.
Ela encarou aqueles olhos estranhos e ergueu a sacola branca devagar, como um sinal – também – de bandeira de rendição.
— Pensei que podíamos almoçar juntos.
Ele olhou dela para a sacola e suspirou, desviando os olhos.
— Não posso agora, estou trabalhando.
— Pessoas trabalhando também precisam comer — ela revirou os olhos — Eu daria crédito para essa besteira se estivesse respondendo meus recados. Qual é o problema, Yugyeom? Quando vai parar e conversar comigo?
— Já deixamos de almoçar juntos várias vezes, não diga como se fosse a primeira vez que eu…
— Você viu, não é? — ela o interrompeu, e os olhos da garoto de repente escureceram — Sei que viu. A pergunta é: você viu tudo?
Ela o olhou com firmeza e ele lutava para permanecer impassível, ou tão indiferente quanto poderia fingir. Mesmo que fingir não fosse bem uma opção quando estava perto de .
— Vi o suficiente — deu de ombros, como se não se importasse — E está tudo bem com isso. Você é adulta e sabe bem o que faz da sua vida.
— Ah, agora eu sou adulta? — ela levantou uma sobrancelha — De repente não tá mais afim de me dar seus conselhos sobre cada situação da minha vida?
— Parece que você não quer nenhum conselho.
— Exatamente, Yugyeom, não quero. Quero só uma conversa.
— Já decidiu o que quer, então, para querer só uma conversa — ele bufou, querendo desesperadamente que ela fosse embora antes que tentasse desvendar demais o que ele sentia — Vou ter que passar. Como eu disse, estou trabalhando.
— E você sabe o que eu decidi? — ela deu um passo à frente e ele engoliu em seco.
— Não preciso saber.
— Então por que foi lá naquela noite? — ela deu de ombros — Ia me avisar, não ia?
— Pelo visto, não precisei. Já pareciam felizes o suficiente juntos.
— Para com isso, Yugyeom…
— É só uma questão de tempo, — ele grunhiu e se afastou a um passo — Acha que quero ficar do seu lado quando a bomba estourar? Pois não quero. A situação toda já foi estressante demais da última vez, e sei que você sabe disso. Mas tudo bem, posso abrir a porta pra você chorar no meu sofá caso me avise com antecedência.
Ela o encarou boquiaberta. As palavras pareceram saídas de outra pessoa. Yugyeom escondeu as mãos trêmulas no bolso e quis agora que todos saíssem dali e o deixasse sozinho enquanto se perguntava porque havia soltado seu lado canalha pra cima da única pessoa que não merecia nada daquilo. Ele percebeu que a raiva ainda estava ali, e a frustração pela cena que havia visto dominava cada célula de seu corpo e não o deixava raciocinar direito, não o deixava sequer querer escutar nada. Ele só queria que os sentimentos que o esmagavam fossem embora, mesmo que notasse – que havia notado bem antes, mas o mantinha como o segredo mais oculto que já guardou – que eles sempre estiveram ali, tão fortes e tão vivos como a face dura da garota.
E ali, naquele momento, ele viu que ela sabia. Ou pensava que sabia. Como um sentimento distante que já passou por seus olhos várias vezes, mas que ela – assim como ele –, também abafava no canto mais escuro de sua mente.
Aquela troca de olhares dolorosa era a abertura de cárceres de ambos os lados.
foi a primeira a se aproximar, sussurrando com raiva, com precisão. Como se fosse a última vez que faria tal coisa.
— Lembra do que me disse naquele dia? — ela perguntou, retórica — A frase que você disse… Você prometeu. Disse que nunca iria sentir isso por mim — ele viu os olhos dela marejados e sentiu a raiva se dissipar — Você disse, Yugyeom. Com todas as letras. Por esse tempo todo, eu acreditei nisso. Não é justo… — ela balançou a cabeça, dispersando a feição de choro — Não é justo agir assim agora. Idiota miserável.
Ela pressionou a embalagem contra o peito dele e saiu quase correndo para o lado de fora, passando uma mão por debaixo dos olhos em uma tentativa de conter as lágrimas intrometidas. Yugyeom não soube explicar a proporção do aperto e a queimação de dentro dele. Tais sensações foram como um soco no estômago, e os olhos de ficariam para sempre marcados a ferro em seu cérebro. Ela tinha partido e levado toda a locomoção de suas pernas junto; ele não conseguia se mover. O baque da verdade o atingiu tão em cheio que ele não foi capaz de ir atrás dela por pura estupidez.
A estupidez que estivera escancarada em seu rosto durante todo esse tempo, que afogava-a repetidamente porque tinha prometido não senti-la. E ela sabia. Só não queria acreditar que era verdade porque confiava no que via à sua frente, e confiava nele, sempre confiou. Estava certa da frieza em sua voz, de sua personalidade constante, das várias mulheres e casos diferentes. Era isso que ela tinha de parâmetro de Kim Yugyeom quando não estava sendo seu melhor amigo. Não tinha espaço em sua mente para pensar em outra coisa.
Ele fechou os olhos com força e praguejou a si mesmo. Sempre olhara para ela e pensara apenas uma coisa: não vou sentir isso. Jamais vou sentir isso. Porque jamais vou ter o que ela precisava, jamais serei o que ela deseja.
Ele queria fechar o cativeiro de sentimentos de novo, mas sentiu que era tarde demais. A inércia de seu coração havia chegado ao fim; e que tudo iria mudar.

Uma semana depois, Yugyeom piscou os olhos depois do último flash que encerrava a sessão de fotos, a última daquela semana e daquele trabalho. Ele se viu desconfiado de sua competência pela primeira vez – sua mente se encontrava tão perturbada naqueles dias que, por muitas vezes, sua consciência fugia de si. As fotos eram a única prova que mostrava que ele estava realmente ali. Apenas o corpo, a alma espalhada por outro lugar.
Ele não parava de pensar nela e em seus olhos atribulados.
A situação havia se invertido completamente. Agora era ele que dava de cara com o telefone desligado dia após dia. A última expressão dolorosa da garota havia sido fincada com uma força extraordinária dentro de seu peito. Tudo havia se transformado em um esboço depois daquilo. Quando tomou o partido de suas pernas naquele mesmo dia, ele tentou bater em seu apartamento, desta vez com nenhum carro caro na frente, mas não obteve resposta. As colegas haviam lhe informado que havia simplesmente decidido aceitar o convite de participação de um congresso em Busan que a deixaria fora por pelo menos duas semanas. A distância destruiu ainda mais a cabeça de Yugyeom; ele sentia como se não fosse capaz de fazer coisa alguma até que esclarecesse tudo com ela e dentro de sua mente, que pensava já estarem mais do que claras.
No meio da outra semana, ela ainda permanecia inacessível e não o atendia. Ele também não havia visto Keith, e um frio na espinha de que ela havia se deixado levar por suas palavras mentirosas o atingiram como uma bomba. Poderia ser tudo menos aquilo, tudo. Desta vez a situação era diferente; era como se ele tivesse praticamente jogado-a nos braços do canalha. Entregando seu amor de bandeja.
Porque depois de várias noites em claro e reflexões de sua vida inteira, aquela era a verdade que ele tanto tentou ocultar: seu amor. Ela era o seu amor. E não fazia mais sentido esconder tal coisa.
Mesmo que ele não a merecesse. Nunca mereceu. Yugyeom não era o tipo certo de cara que tem direito de se declarar para a garota que ama; era boa demais pra ele, sempre foi. Ele nunca pretendeu mudar, desde a escola. Sabia que a magoaria de alguma forma se abrisse uma brecha para que alguma coisa acontecesse, mas não conseguia abrir mão de sua companhia. Tudo em o tornava melhor, mais gentil, mais humano. Mas a bondade dela não alterava nada dele pela raíz; ele se sentia extremamente miserável por não estar em seu patamar. Ele servia para ser seu amigo, mas jamais serviria para ser seu homem.
Mesmo com tais pensamentos, ele tomou uma decisão após o flagrante decepcionante. Mas ao ter a máscara destruída pelas palavras doloridas de , ele não via mais sentido. Se sentiu idiota por agir e julgar a situação sempre de um lado só. Se tivesse se declarado antes, ela jamais teria tempo e espaço para abrigar um lixo como aqueles no coração. Um lixo que estava à espreita de novo, esperando para ganhar espaço de novo.
Ele tentaria. Tinha que tentar. Poderia morrer com sua rejeição de uma vez e nunca mais conseguiria retomar a relação como era. Poderia perder sua melhor amiga de uma vez por todas, mas a deixaria seguir seu caminho sabendo da verdade. Dita pela sua própria boca.
Antes de mais nada, ele precisava – por contrato – passar pela sala do CEO para finalizar os últimos ajustes. A exigência era ridícula, mas Yugyeom já estava acostumado a cláusulas medianas. Repetiu para Harry no telefone pela última vez que sua presença não era necessária e que ele poderia seguir tranquilamente para casa e se concentrar nas outras propostas que chegavam para o garoto. Ele bufou e cumprimentou a secretária, abrindo a porta da presidência.
Ele não ouviu mais nada do outro lado da linha e muito menos foi capaz de proferir qualquer cumprimento que fosse.
estava parada de costas para a porta, olhando a cidade pelas janelas imensas de vidro. Keith estava ao seu lado, trocando o peso de uma perna a outra como se estivesse nervoso. Os dois se viraram ao ouvirem a porta se abrir. Yugyeom não conseguia acreditar em seus olhos: estava vestida com um belo vestido vermelho, as bordas do cabelo presas atrás da cabeça e saltos baixos, como ele nunca vira antes. A maquiagem e a ausência dos óculos a deixavam inegavelmente uma estrela de cinema. Estava linda, mas denunciando o que Yugyeom um dia temeu: que ela não parecia mais a que conhecia.
— Você veio rápido, Yugyeom — Keith se aproximou da mesa, ignorando os olhares furtivos das duas pessoas — Aqui está. Se puder ler com cuidado quando chegar em casa, vou ficar agradecido. É a melhor proposta que o departamento de recursos humanos já apresentou.
Yugyeom pegou a pasta sem olhar para ela. Seus olhos estavam cravados nos olhos maquiados de , que carregavam a mesma dureza de antes e, ainda assim, pareciam ser exatamente os mesmos de que se lembrava. Tudo daquela o estava machucando mais do que imaginava.
— Yugyeom?
— Eu te ouvi, Keith — murmurou o rapaz.
O CEO finalmente reparou nas faíscas que vazavam dos olhos de Yugyeom. Ele não planejava causar nenhuma cena, mas se via incapaz de perder a oportunidade de sair por cima.
— Curioso sobre aonde vamos? — ele levantou uma sobrancelha. finalmente desviou os olhos, encarando-o com surpresa. Yugyeom apenas esperou — vai me acompanhar no prêmio empresarial. Ela está magnífica, eu sei. Com os elogios que recebeu na loja, garanto que os flashes desta noite irão todos para ela.
Yugyeom nada disse. Não sabia se era capaz de proferir alguma coisa. Ela estava realmente linda e nada o faria negar isso, mesmo com a raiva e a frustração. Mesmo que estivesse linda daquele jeito para outra pessoa.
— Prêmio empresarial? — ele soltou uma risada de escárnio — Meus parabéns. Ainda bem que se lembrou que ela não se dá bem com saltos altos.
Keith limpou a garganta, olhando de soslaio para a garota, que ruborizou mais do que o vestido ao ouvir as palavras de Yugyeom. Não era o momento certo para contar-lhe que, na verdade, Keith não havia se lembrado. Que ela pediu a troca para uma das muitas garotas contratadas para servirem a ela. Que o homem não seria capaz de conhecê-la tão bem quanto o melhor amigo.
Em uma última encarada, o rapaz começou a dar passos para trás, tentando disfarçar o tamanho abalo de seu peito ao vê-la de novo.
— Estou saindo. Foi bom te ver — ele murmurou apenas para ela — Divirtam-se. Boa noite.
Ele deu as costas, sentindo a derrota cair sobre os ombros, pesada como um piano atirado há 50 metros de altura. Seus olhos arderam com a possibilidade que girava em sua mente. Uma probabilidade vestida de confirmação, tão bem vestida como estava naquele vestido vermelho. A comprovação de que ele havia perdido sua chance. Perdido para sempre. Passado-a adiante, assim como sempre passou por cima de seus sentimentos.
O chuvisco respingou sobre sua jaqueta de novo, e ele praticamente correu até o outro lado da rua, subindo na Harley e ajeitando o capacete de maneira preguiçosa para que pudesse acelerar e sair daquela rua o mais rápido possível. Ele trincou os dentes e apertou a embreagem com ainda mais força quando viu o Audi reluzente, à espera do casal que logo mais seria revelado. Claro que seria. Ele esperou por isso esse tempo todo.
Os pneus fizeram um barulho frenético ao arrancarem pelo asfalto úmido, partindo em direção a qualquer lugar onde pudesse gritar sozinho, chorar, lamentar por todas as escolhas terríveis e odiosas que havia feito em relação à . No fim de tudo, Kim Yugyeom era um covarde. Quando a viu daquele jeito, do jeito que sempre mereceu estar, toda a sua coragem havia evaporado como fumaça. No início, pensou que ela precisava de um cara com um alto poder aquisitivo. E, mesmo depois de ter conseguido tal coisa, chegou à conclusão de que era um idiota e havia antecipado coisas demais; não precisava de nada dessas besteiras materiais. Mas isso não o deixava melhor. Porque se não fosse isso, ele não tinha mais nada para oferecê-la.
Ele atirou a pasta em qualquer canto da sala, sentindo as mãos tremerem de novo. Despejou o corpo no sofá grande, afundando o rosto entre as mãos, pensando em como lidaria com aquela mudança mais do que brusca em sua vida: a perda de . Ele sentia que enlouqueceria, que era capaz de atravessar a cidade e invadir um evento inteiro para impedir que qualquer pronunciamento fosse feito, impedir que ela aceitasse qualquer coisa vinda de Keith Lang, apenas impedir que ela não soubesse. Ela precisava saber o que ele sentia, precisava…
Ele não sabe por quanto tempo ficou parado com os olhos fechados, tentando varrer todas as imagens do que acontecia com ela no momento. Ele disse que lutaria. Foi tão fácil lutar contra aquele canalha daquela vez; ele poderia, finalmente agora, falar abertamente pelo que estava lutando. E mandaria embora todo o medo de perder, porque sabia que se arrependeria muito mais se não tentasse.
Ele levantou decidido, pegando as chaves que havia lançado no chão, abrindo a porta branca do apartamento e preparando-se para sair, quando trombou com a garota de vermelho com o punho aberto no ar, pronta para bater.
… — ele disse boquiaberto. Precisou piscar os olhos para verificar se ela de fato estava mesmo ali — Por que você…
Um golpe no estômago o fez dar vários passos para trás. Seus reflexos eram bons o suficientes para agarrarem um sapato na barriga antes que caísse, mas não teve tempo de pensar muito; logo o segundo também estava voando em sua direção. Ele encarou os olhos furiosos dela, enquanto entrava na casa e batia a porta atrás de si.
— Seu imbecil! — ela disse entredentes — Que grande merda saber que não curto saltos altos! Por que você fez isso? Por que ainda continua com essa cara de idiota mesmo depois de me ver? Por que, Yugyeom?

— Não, você não tem nem o direito de se desculpar! Em todos esses anos, você teve inúmeras chances, tantas vezes que não consigo nem enumerá-las direito! Todas as vezes que você, você — ela se aproximou do rapaz, empurrando seu dedo indicador em seu peito — agia como um perfeito cara gentil e cavalheiro, jogava cartas com meu pai, me buscava na faculdade ou me dava presentes significativos, eu pensava, Yugyeom! Pensava demais! E me odiava por isso toda maldita vez, porque você tinha deixado claro, tinha garantido que nunca iria acontecer, e eu acreditei nisso. Acreditei tanto que não tive escolha a não ser me confundir com outro cara que parecesse ser minimamente parecido com você…
A voz dela falhou e Yugyeom se sentiu sem ar. Todo o choque inicial de que ela estava realmente ali havia passado e dado lugar a um tipo estranho de anseio. Ela estava ali. Isso significava que…
— Você não foi com ele… — soou como uma pergunta, mas ele apenas constatou em voz baixa. Ela soltou uma risada seca e nervosa.
— É, não fui com ele, seu babaca. Está satisfeito agora?
, me deixa te explicar…
— Não. Nada do que você disser vai…
— Mas eu preciso dizer! — ele falou alto, fazendo-a paralisar assustada. Uma respiração pesada escapava de sua boca — Eu preciso que você saiba que sou um grande idiota que está provando agora mesmo que as malditas palavras tem poder, e um poder tão obscuro e perigoso que é capaz de me enlouquecer. Eu estava bem até perceber tudo, e estou pra te dizer que devo ter percebido isso antes mesmo do que imagino. Porque era completamente impossível que eu não me apaixonasse por você, e me sinto um completo babaca por não ter percebido isso antes daquelas palavras, não ter percebido isso assim que te vi — ele pousou uma mão na cintura, passando uma mão pelos cabelos — Talvez eu também acreditasse tanto em mim mesmo que achei que jamais aconteceria. Mas acho que aconteceu assim que tratei de soltar as palavras.
Era como se o chão não existisse mais. sentia o ar escapando de seu nariz, mas não se dava conta se ainda estava acordada ou não. As palavras dele haviam sufocado todas as dela.
Ele não perderia mais tempo. Em uma atitude impensada, se aproximou dela rapidamente enquanto puxava sua boca até a sua, selando seus lábios em um aperto quente e desejado, terrivelmente desejado. Ela sentia o coração se elevar em alturas astronômicas, típicas de sonhos bons que ficam marcados para sempre no peito, mas ainda estava confusa. Afastou seu rosto do dele e o encarou com surpresa, mas sem repreensão. Yugyeom estava assustado com a própria atitude, mas não demonstrava fraqueza ou arrependimento algum.
… — ele suspirou, de repente desesperado para não agir com ímpeto de novo e afastá-la de vez — Eu não… Me desculpa, eu…
— Não aconteceu nada naquele dia — ela disse em voz baixa — Preciso que você saiba disso antes de… — ela parou, ruborizando mais uma vez — Antes de dizer isso de novo.
Ele juntou as sobrancelhas, tentando desesperadamente enxergar por aqueles olhos sem deixar que todo seu desejo contido passasse na frente e afetasse seu julgamento. Ele enxergou diante dela a verdade que o fez perder o fôlego: que não existiu segunda chance. Que ela, intrinsecamente, sem saber, sempre esteve esperando por aquele momento. Por mais que tenha deixado ambas as mentes perturbadas com a percepção da verdade, era ali que deveria estar agora. E não tentando afogar aquele sentimento.
— Eu amo você, — ele sussurrou, parado no mesmo lugar, fitando seus olhos com uma intensidade jamais sentida — Te amo como homem. Me perdoa por não ter percebido antes que você é a mulher que eu quero, a única que eu já quis de verdade. E isso é tudo que eu tenho pra te dar — ele se aproximou a um passo leve — Esse coração idiota é o único tudo que eu posso te oferecer.
Ela atacou a boca dele com rapidez, sentindo espasmos de uma alegria absoluta e louca que jamais pensou que sentiria. Desta vez, ele não se conteve em demonstrar o quanto a queria, o quanto esperou por aquele momento, mesmo não sabendo se ele realmente aconteceria. Os passos se embolaram no carpete enquanto eles se conduziam, sendo incapazes de se afastarem. As costas de bateram no corredor enquanto as mãos dela puxavam a jaqueta pesada de Yugyeom para baixo, sentindo o corpo pegar fogo. Ela ouviu um apito de consciência chamando-a para a realidade, uma fala importante que precisava dizer antes que tudo se consumasse.
— Yugyeom… — sua voz saiu em um gemido sôfrego enquanto ela sentia os lábios dele descerem até seu pescoço — Eu preciso falar…
— O que? — a voz dele saiu abafada, e ela percebeu que ele já estava livre de sua camisa. Deus do céu, ela nem se lembrava mais do porque tinha parado — Você não quer…
— Quero — ela balançou a cabeça, ofegante. Queria mais do que tudo — Mas… O que aconteceria se eu também dissesse que te amo?
Ele paralisou por um instante até rir e encostar uma mão na parede ao lado da cabeça de . Ela o encarava com inocência; como se realmente não soubesse e nem imaginasse a resposta.
— Acho que você teria que aceitar ser minha namorada.
Ela abriu um sorriso, que foi abafado pelos lábios dele novamente. Desta vez, ela não pretendia parar. Ele a puxou para cima, onde ela passou as pernas por sua cintura e caminhou com ela até a o cômodo no final do corredor, batendo a porta atrás de si e sem planos de sair de lá tão cedo.


FIM.



N/A FIXA 📌: Obrigada por ter lido :)


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