Finalizada em: 02/10/2021

Prólogo

2015, Califórnia - 24 anos

By myself tonight, to give my mind some space
Yeah, I know
Yeah, I know that it hurts when I push your love away


Dor. Foi meu primeiro pensamento do dia enquanto acordava pelo o que parecia ser cedo demais em meu refúgio em Laguna Beach, Califórnia. Sair da cama parecia exigir o esforço de um maratonista olímpico quando meus reflexos ainda não respondiam aos estímulos cerebrais a tempo hábil para que eu não tropeçasse em nada pelo caminho. Ou pior, que eu descesse rolando escada abaixo à procura de um remédio que fizesse a maldita enxaqueca desaparecer. Era o preço que escolhi pagar quando decidi tomar um porre na noite anterior. Grande erro.
Já de pé, parei para admirar a vista privilegiada que aquele cômodo me presenteava. O mar sempre me fazia relaxar, por isso todas as vezes em que preciso de paz e um pouco de sossego de todo o caos que só a vida de um artista de Hollywood pode proporcionar, é para cá que venho. Sei que a aquisição desta propriedade foi uma das melhores decisões que já tomei. E, bem, não posso dizer que foram muitas. A começar pelo modo que deixei as coisas terminarem com ela na noite anterior.
Festas. Eu odiava festas. Sempre acabavam em drama. Ainda mais em Hollywood.

Flashback ON
07:58 A.M., West Hollywood, Califórnia


— Bom dia — Chamei sua atenção, sentindo minha voz ainda rouca. Ela deu um curto sobressalto.
— Que susto — Ela colocou a mão sobre o peito. Acompanhei o movimento num olhar nada casto. — Achei que ainda estivesse dormindo. Te acordei?
— Talvez.
— Desculpe. Estou uma pilha de nervos. A inauguração do Hotel Lafayette é amanhã, preciso achar algo para vestir.
Soltei um murmúrio enquanto escondia o rosto no travesseiro. Geralmente essas festas e inaugurações eram um porre: teria de ficar horas em pé, forçando conversas sem conteúdo com pessoas sem conteúdo.
— Será que a gente pode… Sei lá… Não ir? — perguntei, já sabendo a resposta e a explosão que viria em seguida.
— É óbvio que não! Que horror, Nicholas! — Ela disse, exasperada. Ri internamente da sua reação. Ela ficava uma graça irritada. — Já confirmamos presença, seria muito deselegante, e o Lafayette é seu amigo…
— Tá bom, tá bom, já sei, já entendi. — Ela pareceu se acalmar, virando-se para o guarda-roupas, voltando à árdua tarefa de escolher o “look do dia”. — Só não custava perguntar — Respondi, levantando-me da cama.
— Poderia ter se poupado do trabalho. Nem parece que é você o detentor da fama aqui.
— Você também é famosinha.
— Foi um acidente. E a culpa é toda sua.
— Não sou eu que fico por aí batendo perna com atrizes e supermodelos. — falei, me arrependendo logo em seguida. virou-se para mim, levantando uma de suas sobrancelhas.
— Você literalmente terminou um namoro há pouco tempo com a ganhadora do Miss Universo.
— Ok, você me pegou nessa.
— Eu sempre pego.
Olhei-a maliciosamente. Ela, percebendo o que havia feito, tentou consertar.
— Oh, não nesse sentido.
Mas já era tarde demais. Me aproximei vagarosamente da minha melhor amiga e ela já sabia o que viria a seguir.
— Nick… Não ouse.
Ela dava passos para trás sem notar que uma parede se aproximava de suas costas, encurralando-a num canto do quarto. A emboscada perfeita.
— Pare… — ela pediu e soube claramente que estávamos numa daquelas situações em que queremos dizer o oposto do que falamos. — São oito da manhã, a inauguração é às cinco e eu ainda nem sei o que vestir...
— Uhum… — tentei me manter focado nas palavras que saíam de sua boca, porém tudo em que eu conseguia prestar atenção era em como sua pele era macia e no inconfundível perfume de baunilha que emanava de seu pescoço. Distribui beijos por aquela região e pude vislumbrar os cabelos de sua nuca se eriçarem com meus toques. Em resposta, ela apertou meus bíceps num pedido claro para que eu continuasse. Fiz pressão para que suas pernas se entrelaçassem ao redor do meu quadril e busquei seus lábios, que também procuravam ávidos os meus.
Ficamos bons minutos naquela posição, apreciando o gosto um do outro, até que as obrigações do dia gritaram novamente nos ouvidos de minha amiga, fazendo-a interromper nossos carinhos.
— Eu vou tomar banho. E não, você não pode vir junto. — ela respondeu a pergunta que eu faria logo a seguir. — Arrume-se logo também, sairemos em meia hora.
— Mas que mandona.
Ela me deu língua, entrando no banheiro de sua suíte enquanto eu me dirigia ao outro banheiro que o apartamento dispunha.

Flashback OFF


Aqui está a situação: Eu e nos conhecemos quando eu tinha 13 anos e estava começando minha jornada em busca da fama. Comecei fazendo pequenos papéis em peças infantis da Broadway e logo me destaquei. Daí tive de me mudar com a minha família para Nova Jersey. Nova cidade, nova escola. Foi lá que conheci .
Éramos vizinhos. Quando sua família veio nos trazer a tradicional torta de boas-vindas, todos se deram bem logo de cara. Nossas famílias se adoraram, e como tínhamos a mesma faixa etária e frequentávamos a mesma escola, logo ficamos próximos muito rápido. Parecia que eu a conhecia há eras. Depois de alguns meses, com todo aquele sangue adolescente borbulhando hormônios, comecei a me apaixonar de verdade por ela.
E foi aí que toda nossa trama começou.

Capítulo 01 - When You Look Me In The Eyes

Flashback ON
2007, Nova Jersey - 16 anos

POV


Já passava das seis da manhã quando eu ainda me escondia debaixo de minhas grossas cobertas. O outono já se aproximava de seu fim, dando lugar ao ainda tímido, porém já presente, inverno norte americano. Era minha época favorita do ano: quando setembro terminava, significava a chegada do Halloween, do Dia de Ação de Graças, e por fim, o Natal. Como uma boa descendente de família escocesa, eu adorava datas comemorativas, especialmente as que traziam as pessoas para mais perto uma das outras. E quando famílias diferentes se juntavam era melhor ainda! Esse era o caso da minha família e da do Nick, meu melhor amigo.
Nossas famílias se conheceram no ano de 2005. Os Jonas se mudaram para minha cidade, Little Falls, em Nova Jersey, devido às atuações de Nick na Broadway. Passamos a ser vizinhos e foi amor à primeira vista. Entre nossas famílias e, bem… Entre Nick e eu.
Nos demos bem desde o começo. Era simplesmente impossível não ser enfeitiçada por aqueles cachinhos e aqueles olhinhos que se fechavam toda vez em que ele sorria. Fomos matriculados na mesma escola, e a partir daí começamos a passar o intervalo escolar juntos, voltávamos para casa juntos, fazíamos os exercícios juntos, e nunca mais nos desgrudamos. Tínhamos 13 anos quando os meninos assinaram o contrato com a Hollywood Records e começaram a fazer turnê por todo o país. Agora nos víamos muito menos, mas eu estava feliz pela conquista do meu melhor amigo. Não ficávamos um dia sem falar um com o outro, por ligação ou mensagens.
Devido à nova rotina, estava óbvio que Nick e os meninos precisariam sair da escola, e, por isso, durante as turnês foi contratado um professor para que eles pudessem terminar os estudos.
Estudar! Pulei da cama já ligeiramente atrasada para a aula do dia. Na minha correria, olhei para minha janela, que ficava frente a frente para a janela do quarto de Nick, e me deparei com o habitual vazio e escuro de seu quarto. Já fazia meses desde que os meninos estavam na estrada
Eu me virei bem na escola. Não era exatamente uma das populares, mas conhecia muitas pessoas. Porém, todos os dias sentia falta dele, das piadinhas ridículas que ele fazia, me fazendo rir em situações inapropriadas. Suspirei, dando uma última olhada no cômodo do meu vizinho enquanto pegava minha mochila e desci atendendo o chamado de minha mãe, que me chamava para o café.
— Bom dia, mãe.
— Bom dia, querida — ela respondeu enquanto despejava uma porção de ovos mexidos em nossos pratos.
— Onde está o papai?
— Ele teve que sair um pouco mais cedo hoje. Algo relacionado ao dia do fechamento do mês da empresa.
— Oh… É que eu realmente estava precisando de uma ajudinha numa questão de álgebra… Parece que ficará para mais tarde então.
— Sim, com toda certeza ele te ajudará. — ela terminou seu café, checando seu relógio de pulso. — , olha a hora! Precisamos ir!
Repeti sua ação com um pouco mais de pressa e subi correndo para escovar os dentes. Uma última olhada para a janela fez meu coração palpitar. Segui meu caminho com um bom pressentimento. Era isso o que Nick despertava em mim, sem nem mesmo estar presente.

Me sentia exausta. Três aulas seguidas de álgebra haviam detonado com o meu cérebro naquela manhã. Felizmente, fui agraciada com aulas de história logo em seguida, o que impediu que eu entrasse em completo pane.
Eu amava história. Saber os acontecimentos que nos trouxeram até aqui, contemplar nossos acertos e reconhecer nossos erros como sociedade para nunca mais cometê-los. Era algo que eu sempre admirei e gostei, e tinha quase certeza de que era essa a carreira a qual eu seguiria.
Cheguei em casa ainda um pouco de dor de cabeça, encontrando minha mãe um tanto quanto animada na cozinha.
— Oh, olá, querida! — ela abriu um sorriso maior do que o de costume. — Já está em casa?
— Mmm… Sim… — estranhei enquanto abria a geladeira atrás de um pouco de água para organizar meus pensamentos.
— O que você quer jantar hoje? Lasanha?
— Mas estamos no meio da semana…
— Sim, mas a vida é muito curta para não comemorarmos.
— Comemorarmos o que?
— Não sei, minha filha. A vida?
— Por que você tá agindo de forma tão estranha?
— Eu estou agindo normalmente.
— Sei…
— Troque de roupa e me ajude com o almoço, sim?
— Ok…
Desci do banquinho da bancada e peguei minha mochila, ainda estranhando o comportamento esquisito de minha mãe. Entrei em meu quarto chutando meus tênis, quando percebi uma figura deitada despreocupadamente em minha cama. Ele.
— Aqueles posters não estavam ali desde da última vez que estive aqui.
— Nick!

Nicholas POV

Lar doce lar. Depois de meses rodando o país sem pausas, finalmente havíamos terminado a turnê e voltado para casa. Estávamos exaustos, porém muito satisfeitos com os resultados e a experiência completamente nova para nós. Chegamos em casa pela manhã, provavelmente logo após ter saído para a escola. Não avisamos que chegaríamos naquele dia para a família . Graças a uma ideia de Joe, para eles nossa turnê seria estendida por mais um mês. Por isso, quando nosso carro estacionou na calçada, foi recebido com muita surpresa pela matriarca, , com muitos beijos, abraços e a promessa de um jantar para comemorar nossa volta. Eu amava aquela mulher. A considerava minha segunda mãe.
Quando finalmente entramos em casa, todos suspiraram de alívio. Já estava morrendo de saudades da minha cama, do meu quarto, da minha rotina... Mas, principalmente, dela.
Não havia passado um dia sequer sem que eu não sentisse falta de seu abraço, do cheiro dos seus cabelos, de seu perfume… Assim, decidi fazer uma surpresa para : seria simples e bem clichê, mas achei que ela iria gostar. Logo após descarregarmos as coisas do carro, pedi para que meu pai o guardasse na garagem para que ela não percebesse que estávamos em casa. Depois, corri na floricultura do centro da cidade e pedi um buquê. Foi quando dei por mim de que não sabia as flores favoritas da minha melhor amiga. Resolvi pedir um que não fosse muito grande nem chamativo, porque com certeza ela não gostaria. Optamos por tulipas azuis, assim pelo menos na cor eu acertaria. Com tudo pronto, fui para casa da minha vizinha. Aproveitei para colocar o papo em dia com , e quando o horário foi se aproximando, fui para o quarto dela e esperei.
Depois de algum tempo, pude ouvir sua voz no andar inferior. Imediatamente senti as habituais borboletas em meu estômago se agitarem. Rapidamente tirei meus tênis e me deitei em sua cama, como fazia sempre. Observei seu quarto novamente. Praticamente nada havia mudado por ali, com exceção de…
— Aqueles posters não estavam ali desde da última vez que estive aqui.
— Nick! — ela largou sua mochila no chão e veio correndo em minha direção. Levantei a tempo para que ela pulasse no meu colo num abraço de urso, cheio de saudade. Foi como respirar novamente depois de muito tempo embaixo d’água. Coloquei-a no chão para observá-la e entregar o buquê.
— Ai, meu Deus… Flores? — ela pegou o buquê, já um pouco amassado devido ao nosso abraço anterior. Pude notar algumas tímidas lágrimas em seu rosto.
— O quê? Você não gostou? Eu sabia que era demais, não deveria ter…
— Para, doido! Eu amei. — ela deu risada do meu desespero.
— Então por que está chorando? — perguntei, limpando suas bochechas com meu dedão.
— Ora, porque você está aqui! — ela me deu outro abraço apertado.
Enlacei sua cintura e vi que os cabelos de sua nuca se arrepiaram. Sorri internamente. Bom. — E porque isso foi muito fofo. Eu nunca recebi flores de ninguém antes.
— O que me leva à pergunta: qual é a sua flor favorita? Somos amigos há séculos e mesmo assim ainda não sei uma coisa tão banal como essa. — sentei-me novamente em sua cama e chamei-a para sentar-se ao meu lado.
— Eu não sei. Na verdade, nunca parei para pensar nisso. — ela deixou o buquê em cima de sua escrivaninha, não sem antes parar para analisá-lo novamente. — Mas eu realmente amei essas aqui.
— Então podem ser tulipas?
— Sim. Tulipas azuis.
— Anotado. — sorrimos.
Ela sentou ao meu lado e virou-se para mim. Novamente pude sentir as benditas borboletas se remexem em meu interior. Era o “efeito ”, como meus irmãos costumavam dizer. Engraçadinhos.
— Quando você chegou?
— Hoje pela manhã.
— Você disse que a turnê seria estendida por mais um mês! — ela me deu um tapinha no braço.
— Ai! — reclamei da dor inexistente enquanto esfregava meu braço. — Mas tecnicamente a turnê ainda não acabou. Temos shows para fazer em Nova Iorque.
— Sim. Você só esqueceu da parte em que vocês estariam perto de casa dessa vez.
— Detalhes…
— Ora, seu… — ela ameaçou jogar uma almofada em mim, mas me esquivei a tempo de empurrar seu quadril na cama e fazer cócegas nela. Ela tentou revidar e ficamos poucos segundos naquela pequena guerra, porque simplesmente não aguentávamos sentir cócegas. Nenhum dos dois.
Por fim, deitamos cansados na cama dela, numa tentativa de recuperarmos nosso fôlego.
— Você vai, não é?
— Para onde?
— Para os shows. De Nova Iorque.
— Mas é claro, que pergunta é essa?! — abri um sorriso largo.
Não seria a primeira vez que ela me veria tocar. Havia perdido as contas de quantas vezes dei shows particulares apenas com meu violão para ela. Contudo, seria a primeira vez em que ela me veria em uma tour oficial, já que os shows começaram no lado oeste do país e apenas agora tinham chegado até aqui. — E quero ingressos de graça com acesso ao backstage.
— Que folgada! — sorrimos. Era óbvio que suas entradas estavam todas garantidas. — E qual música do álbum você mais quer ouvir ao vivo?
— Hmm… — ela fez uma cara pensativa. — Acho que “Hello Beautiful”.
— Interessante escolha.
— Por quê?
— Porque eu a escrevi pensando em você — na verdade, todas as músicas que eu havia escrito para aquele álbum haviam sido sobre ela.
— Nick… — ela escondeu o rosto na cama.
— O que foi?
— Para com isso.
— Isso o quê?
— Você sabe.
— Não sei não. — ela me olhou sugestivamente, e depois balançou a cabeça em negação.
— Deixa para lá.
Fiquei um pouco desapontado com sua resposta. A verdade é que, mesmo antes da turnê começar, eu já sabia que sentia algo muito mais forte do que apenas amizade pela . A prova são as músicas que lançamos em nosso álbum. Elas foram escritas por mim e por meus irmãos também, claro. Porém, da minha parte, toda a inspiração para escrever todas as palavras no papel provinham dela. E todos percebiam isso. Nossos pais, meus irmãos, nossos amigos, conhecidos, todos perguntavam se éramos namorados e sempre respondíamos que não.
Não por falta de iniciativa minha. Deus, eu não sabia mais que sinais dar para ela de que ser apenas seu amigo não bastava mais para mim. Mas parecia que todas as vezes em que chegávamos perto de ter qualquer conversa sobre o assunto, ela se esquivava. Assim como nesse momento em que estávamos num silêncio estranho há alguns minutos. Mas sabia que ele não duraria entre nós.
— Mas então… Me conte tudo! Como foi conhecer todas aquelas cidades? Como são os fãs? Ai, meu Deus, como estão os meninos?
— Calma, mulher! Uma coisa de cada vez — sorri, achando engraçado todo aquele entusiasmo. Eu simplesmente não conseguia ficar chateado com ela. Chamei-a para deitar a cabeça em meu braço, como sempre fazíamos. — Começando pelo começo…

Passamos toda a tarde tagarelando e colocando a conversa em dia, até que precisamos nos arrumar para o jantar. Fui para casa pensativo e subi para o meu quarto para tomar banho. Durante minha ducha, voltei várias vezes na parte interrompida da conversa que tivemos mais cedo. Por que será que ela sempre se esquivava? Será que ela não gostava de mim daquele jeito? Seria a falta de um pedido mais apropriado? Então tomei uma decisão.
Naquela noite, eu a pediria em namoro.
Mas e se ela recusasse? Isso atrapalharia nossa relação? O pensamento percorreu minha espinha, arrepiando-a. Ele vinha me assombrando desde o primeiro minuto em que comecei a pensar em dessa maneira. Não sei o que faria se perdesse a minha melhor amiga. E, como um estalo, havia percebido que essa era a única coisa que me impedia de finalmente pedi-la em namoro.
Penteava meu cabelo em frente ao espelho de tamanho razoável que ficava no meu quarto, quando Joe entrou como um rompante pela porta, me dando um susto.
— E aí, maninho? Como foi o reencontro com a ?
— Você por acaso está tentando me matar do coração? — constatei minha indignação enquanto voltava à minha tarefa anterior. — Foi muito bom, obrigado.
— Ela gostou das flores?
— Sim.
— Que bom.
— É. — Joe percebeu meu comportamento diferente.
— Por que está tão pensativo, maninho?
Olhei para Joe, apreensivo.
— Nada não.
— Ok, então… — ele fez menção em sair do quarto.
— Joe, espera.
— Sim? — apertei os olhos com os diversos pensamentos controversos que se passavam em minha cabeça, que, naquele momento, já estava começando a doer.
— O que você acha de eu pedir a em namoro?
Joe primeiro arregalou os olhos, mas sorriu logo em seguida.
— Não acredito! Finalmente! — ele veio me abraçar e aproveitou para bagunçar o cabelo que eu tinha literalmente acabado de pentear. — Kevin! Corre aqui!
Ele gritou meu irmão mais velho, cujo quarto se localizava na outra ponta do corredor.
— Cala a boca, Joe! — tapei sua boca, desesperado. — Não é para todo mundo saber!
— Por que não?
— Porque no momento em que souberem, não vão conseguir controlar a ansiedade e estragarão o nosso momento!
— O que houve? — indagou Kevin, entrando no quarto.
— O Nick vai pedir a em namoro!
— Uau! Finalmente, irmãozinho!
— Eu não disse que vou. Perguntei o que você achava.
— Ora, o que eu acho? Eu acho ótimo! Nós amamos a como se fosse nossa própria irmãzinha mais nova. Você namorando com ela apenas oficializaria tudo.
— Concordo. — Kevin complementou. — Mas por que demorou tanto?
— Eu… — suspirei pesadamente. — Eu tenho medo.
— Medo de quê? — Joe perguntou, franzindo a testa.
— Medo de ela não sentir o mesmo por mim e depois tudo ficar estranho entre nós. De perder a amizade dela. Não tê-la mais na minha vida, de…
— Ei, ei, ei, calma. Senta aqui e respira — Kevin me conduziu até a cama, onde sentei e coloquei o rosto entre as mãos. — Eu acho muito improvável que ela não sinta nada por você, romanticamente falando.
— Todos percebem o jeito que ela olha pra você, e o jeito que vocês se tratam… Tudo em vocês grita namoro — disse Joe.
— Eu acho que ela vai aceitar. Mas se não… Bem, vocês antes de tudo são melhores amigos. Tenho certeza de que tudo acabará bem, independentemente da decisão que ela tomar. Apenas siga seu coração.
— Estaremos aqui torcendo. E se der errado, também estaremos aqui para recolher seus cacos.
— Joe…! — Kevin deu uma cutucada forte em meu irmão do meio.
— O quê? Só quis mostrar suporte… Mas ok: quando você pretende fazer isso?
— Hoje.
— Hoje?!
— Será que dá para você ser mais escandaloso?
— Que gritaria é essa aqui? — nossa mãe apareceu na porta, nos assustando.
— Nada, mãe, está tudo bem — colocamos nossa melhor cara de paisagem.
— Hm… — ela nos analisou dos pés à cabeça, notando claramente que estávamos escondendo algo. — Ok. disse que o jantar já está quase pronto. Já já sairemos, não demorem…
— Tá bom. — ela se afastou, ainda desconfiada.
— Mas hoje? Que horas? — Joe voltou a perguntar, dessa vez quase sussurrando.
— Depois do jantar.
— Ok. Distrairemos os adultos para que vocês tenham um pouco de privacidade.
— Obrigado. Não sei o que faria sem vocês.
— Meninos, vamos! — escutamos nosso pai gritando no andar debaixo.
— Boa sorte, maninho — Joe bagunçou meu cabelo mais uma vez.
— Droga, Joe! — voltei para o espelho para consertar o estrago que meu irmão havia feito. Eles saíram do quarto, rindo da travessura.

Respirei fundo e encarei meu reflexo pela última vez antes de encontrar-me com novamente naquele dia, me sentindo um pouco mais confiante. Ainda estava um pouco aterrorizado, não sabia qual seria o destino de nossa amizade depois disso, mas finalmente me sentia pronto para encará-lo.

------------------------xxxxxxx--------------------------


Depois do jantar e sobremesa, todos estavam na sala colocando os assuntos em dia. Nossos pais engataram uma conversa que provavelmente não teria fim tão cedo, endossados por Kevin e Joe. Depois de algum tempo, Kevin deu um sinal para mim, apontando discretamente a cabeça para a porta. Entendendo seu recado, coloquei uma mecha do cabelo de para trás e sussurrei em seu ouvido:
— Vamos lá fora tomar um ar?
— Está com calor?
— Não… Quer dizer, sim — estava nervoso demais pro meu próprio bem. — Está um pouco abafado aqui, não? — disse, abanando minha camisa.
— Não exatamente… Mas, se quiser, posso ligar o ar-condicionado — ela ia levantando em direção ao controle remoto do aparelho, quando eu a impedi.
— Não! — falei em um tom mais alto, mas não o suficiente para chamar a atenção de nossos pais para nós. Apenas de Joe e Kevin, que me olhavam confusos, se desdobrando para prestarem atenção em ambas as conversas do ambiente. — Quer dizer, não, não é necessário...
— Nick, tá tudo bem? Você está estranho...
— Sim, só… — suspirei, nervoso, sentindo uma gotícula de suor se formar em minha testa. — Vamos lá para fora, ok?
— Tudo bem… — ela levantou, estranhando meu comportamento. Ótimo, já estava estragando tudo.
Avisamos aos nossos pais que estaríamos na varanda e fomos em direção à
entrada principal da casa. Quando fechamos a porta, me dei conta de que as janelas da varanda davam uma vista privilegiada da sala de estar para o mundo exterior, e, consequentemente, para a varanda onde estávamos. Não ia funcionar. Foi então que tive a ideia de sugerir:
— Erm… Podemos ir para a minha varanda?
— Ahm… Claro… — ela me olhava, desconfiada. Seguimos lado a lado o breve caminho que separava nossas casas, e nos sentamos no sofá-balanço. Ficamos em completo silêncio enquanto eu tentava organizar as palavras em minha mente. Não havia nem sequer ensaiado um textinho
— Nick, o que está acontecendo? Você está começando a me assustar… — me levantei.
— O quê? Por favor, não se sinta assim… Eu… Droga! — passei as mãos pelos cabelos em completo pânico, me enrolando em meus próprios pensamentos que borbulhavam em nervosismo.
— Ei… Vem cá. — ela me chamou para sentar-me novamente ao lado dela, entrelaçando nossas mãos. — Feche os olhos e respire fundo.
Fiz exatamente o que ela pediu, sentindo minha respiração normalizando aos poucos. — Agora olhe para mim e diga o que tem para me dizer.
Abri meus olhos, encontrando os dela. Analisei suas feições e nossas mãos entrelaçadas, e lembrei-me do porquê estava fazendo aquilo. Então, me sentindo um pouco mais seguro, comecei.
… Sobre o que estávamos conversando mais cedo…
— O que exatamente? Falamos sobre muitas coisas hoje.
— A parte da música. Em que eu disse que escrevi “Hello Beautiful” para você.
Ela prendeu a respiração, desviando o olhar do meu.
— Sim… O que tem?
— O que você sentiu? O que sentiu quando eu te revelei isso?
— Nick, eu… — senti que ela fugiria de minha pergunta, como sempre fez. Mas não dessa vez. Precisava saber se o que vinha acontecendo entre nós era real ou apenas um devaneio meu.
— Por favor. Eu preciso que você me responda.
Ela hesitou por um momento. Logo em seguida, respirou fundo e revelou:
— Eu fiquei feliz. Feliz em saber que inspirei uma música tão linda, e tão…
— Tão…
— Tão romântica. — abrimos um sorriso.
— Hmm. Ok. Espere aqui. — ela assentiu, curiosa. Subi correndo para pegar meu violão em meu quarto. Havia tido uma ideia melhor. Voltei para a varanda, sentando-me no mesmo lugar de antes.
— Nick… O que você vai fazer com isso?
— Eu sempre me expressei melhor com música.
Comecei a dedilhar as notas de “When You Look Me In The Eyes”. Ela, percebendo sobre o que se tratava, cobriu sua boca com as mãos em surpresa.
Cantei toda a canção e ela escutava cada verso atentamente, e vez ou outra cantava junto também. Também percebi que seus olhos estavam cheios d’água.

“When you look me in the eyes
I know that is forever
I just gotta let you know
And I’ll never let you go
‘Cause when you look me in the eyes
And tell me that you love me
Everything’s alright
When you’re right here by my side
When you look me in the eyes
I catch a glimpse of heaven
I find my paradise
When you look me in the eyes”


Cantei o último trecho da canção, deixando o violão de lado.
— Nick, o que quer dizer com isso?
— Quero dizer que desde a primeira vez em que coloquei meus olhos sobre você, sabia que seria minha melhor amiga. E, depois de um tempo, comecei a perceber que você era mais incrível do que eu imaginei. Eu me apaixonei pelo seu sorriso, pelas suas manias, e até pela sua família!
Ela me encarava, e a julgar pela sua expressão, parecia não estar acreditando no que estava ouvindo.
— O que quero dizer é que estou completamente apaixonado por você.
— Nick… Isso é lindo, eu… Nem sei o que dizer.
Meu estômago afundou. Era isso. Ela não me via dessa maneira.
— Bom… Você pode começar me dizendo o que acha sobre isso. — ela limpou as lágrimas que rolaram pelo seu rosto durante minha declaração.
— Eu… Eu também estou apaixonada por você. — senti o alívio percorrer minhas veias em forma de felicidade. Eu não estava louco, afinal. — Mas… Eu tenho medo.
— Medo de quê?
— De que um relacionamento possa estragar nossa amizade.
— Eu também. Esse foi o maior motivo do porquê não fiz isso antes. — peguei uma de suas mãos, acariciando-a. — Mas nunca descobriremos o que poderíamos ser se não dermos esse passo. — coloquei uma mecha de seu cabelo para trás.
— Sim, você está certo.
— Então… — me levantei e ajoelhei em sua frente de forma teatral, pegando uma de suas mãos. — … Você aceita ser minha namorada?
Ela se levantou do sofá-balanço.
— Podemos fazer um test-drive. — ela disse, brincalhona, eu abri o que parecia ser o maior sorriso que já tinha dado em toda minha vida.
Levantei-me, ficando frente a frente com ela. Nos encaramos, analisando as feições um do outro e tomei a liberdade de colocar minhas mãos em sua cintura, colando-a ao meu corpo delicadamente. Senti suas mãos se encaixarem em minha nuca e nos aproximamos lentamente, sentindo nossas respirações se encontrarem, quando finalmente encostamos nossos lábios, iniciando um beijo calmo, como se tivéssemos nos conhecendo pela primeira vez. Exploramos os lábios um do outro sem pressa, como se apenas existisse nós dois no mundo naquele momento.”

Foi um namoro breve. Naquela mesma semana, eu e os meninos nos apresentamos em Nova Iorque. Terminado o show, um empresário apareceu em nosso backstage e nos ofereceu um contrato com ninguém mais, ninguém menos que a própria Disney. Era óbvio que não podíamos recusar. Contudo, teríamos que nos mudar para o outro lado do país: Hollywood.
Amada e odiada com a mesma intensidade por mim, a cidade que me deu a oportunidade de mudar de vida, ao mesmo tempo era uma maldição. Com toda a atenção que começamos a receber, logo fomos apresentados ao lado sombrio da fama: empresários, relações públicas, blogs e revistas de fofocas, marketing. Assim que assinamos o contrato com a gigante da indústria do entretenimento, nossa vida virou do avesso. Agora, éramos freneticamente controlados, todo passo que dávamos era estritamente calculado e monitorado. Até mesmo nossos relacionamentos foram afetados. E é claro que meu namoro com não ficou de fora dessa equação.
Fui orientado a terminar com ela em prol do sucesso da banda, porque membros solteiros atraíam mais fãs. Decidi que manteria nosso relacionamento em segredo, o que obviamente não deu certo.

Flashback ON

“— Oi, .
— Oi, Nick.
— Desculpe não ter ligado durante esses dias, estava uma loucura aqui.
— Já faz duas semanas, Nick.
— Eu sei.
Por alguns segundos, tudo o que ouvíamos era nossa respiração. Estava me sentindo um idiota.
— Saiu mais uma manchete sobre você e a Selena Gomez. — resolveu quebrar o silêncio sepulcral que se instalara entre nós.
Dei um suspiro pesado. Sabia o que viria a seguir.
— Sobre isso… Nós fomos orientados a… — respirei fundo, cansado. — Meio que entrarmos num relacionamento fake. Você sabe, para aumentar nossa visibilidade e… — ouvi seu suspiro pesado do outro lado da linha.
E pronto. Estava ali, enfim. O momento que tanto postergamos tinha chegado.
— Entendo, Nick.
, eu…
— Está tudo bem, sério. Eu entendo. É a sua carreira, é o seu sonho, você precisa fazer isso.
— Mas…
— Mas não tem como continuarmos juntos.
Fechei os olhos com força, sentindo como se alguém tivesse me acertado um soco no estômago. Permaneci em silêncio, absorvendo suas palavras. Não havia o que dizer. Desde que recebemos a notícia de que eu teria de me mudar para Los Angeles, lá no fundo sabíamos que tudo mudaria. Um namoro à distância já é, por si só, complicado. Adicione a fama na equação e veja tudo desmoronar.
— Eu compreendo. Nunca te pediria para aceitar algo desse tipo. — a respondi, tirando forças e coragem do além. Como algo tão bonito e puro como o amor poderia machucar tanto? — Mas quero que saiba, , que eu te amo. Eu te amei desde que te vi pela primeira vez. E vou continuar te amando, independentemente do que nos tornarmos a partir de agora.
Pude ouvir um pequeno soluço do outro lado da linha. Pude ouvir meu coração, já dolorido, quebrar em milhares de pedaços. Me sentia a pior espécie de ser humano por ser o motivo das lágrimas da pessoa que eu mais amava no mundo.
— Eu te amo também. Antes de tudo, você foi meu melhor amigo.
— Fui? No passado?
— Eu vou precisar de um tempo para processar isso tudo, Nick. Espero que entenda.”

E foi assim que nos afastamos pela primeira vez. Dizem que para Hollywood te dar fama, ela cobra um preço. O meu, foi perder .

Capítulo 02 - ‘Tis the Damn Season

Natal de 2009, Nova Jersey - 18 anos

If I wanted to know who you were hanging with
While I was gone I would have asked you


Nicholas POV

Depois de nosso breve, porém fatídico, término, tudo mudou entre e eu. Se antes trocávamos mensagens todos os dias, dentro do que minha rotina permitia, hoje se mantivéssemos uma conversa que passasse do “oi, tudo bem?”, seria um milagre. Ela pediu por espaço e eu aceitei. Era o mínimo a se fazer, depois de todo o sofrimento que eu a havia feito passar. Daí um dia sem entrar em contato virou uma semana, que virou meses, e depois nunca mais nos falamos.
Eu e meus irmãos começamos a fazer muito sucesso, nossas rotinas e compromissos quase triplicaram de volume, e eu não tinha mais tempo para absolutamente nada. Entretanto, não importava quanto tempo passasse, ou quantas meninas eu namorasse, todas as vezes em que colocava minha cabeça no travesseiro, era nela em quem eu pensava. E, bem, nós terminamos, mas parecia que nossa família, não.
Minha mãe fazia questão. O que era bem… Estranho, para dizer o mínimo, dado que todos os feriados e festas comemorativas nós nos encontrávamos.

It's the kind of cold, fogs up windshield glass
But I felt it when I passed you


Durante esses dois anos, todas as vezes em que nos encontrávamos eram como um tormento para mim. Quando as datas comemorativas se aproximavam, sentia uma espécie de ansiedade que crescia em meu interior pela expectativa de encontrá-la, mas quando finalmente o momento chegava, não trocávamos nada mais que um cumprimento e olhares vazios durante todo o tempo em que precisávamos estar juntos no mesmo ambiente, até que um de nós se cansasse da tortura e se retirasse. Para ela, a desculpa de que precisava estudar. Descobri por intermédio de minha mãe que ela tentaria uma vaga para cursar História. Não tinha dúvidas de que ela conseguiria.
Quanto a mim, a conhecida “dor de cabeça” sempre funcionava, mas todos percebiam que era só uma desculpa para não nos falarmos.

There's an ache in you put there by the ache in me
But if it's all the same to you
It's the same to me


Até que, no natal de 2009, cansados de nossa falsa indiferença um para com o outro, nossos familiares tiveram a magnífica ideia de nos trancarem em casa sozinhos, porque, "acidentalmente", esqueceram de nos chamar para fazer as compras natalinas de última hora. E aí não tivemos escolha. Tivemos que realmente interagir.
— Eu não acredito que eles fizeram isso! — ela vociferou enquanto forçava a maçaneta da porta principal da casa. — Eu vou pular a janela.
, para. Está nevando lá fora. E são só algumas horas. É assim tão horrível ficar na minha companhia?
Ela não respondeu minha pergunta. Ao invés disso, fechou os olhos e suspirou, derrotada, e, passando por mim, foi se jogar no sofá, ligando a televisão. A segui, sentando ao seu lado, porém a uma distância considerável. Era quase lacerante ver o que nos tornamos.
— Você não vai escolher um canal? — eu perguntei, quando percebi que ela não parava de zapear o guia da tv.
— Eu vou, quando achar algo interessante. — sua resposta me pareceu um pouco ríspida, mas tudo bem, eu merecia.
Ela finalmente achou uma programação que a agradasse: o filme 007.
— Boa escolha.
Então ela sorriu para mim, pela primeira vez em muito tempo. E pude notar que não era um sorriso forçado, então presumi que ela realmente gostava desse filme.
Depois de um tempo, pude constatar que, realmente, Daniel Craig fez um grande trabalho atuando naquela franquia. Com certeza também entrou para minha lista de favoritos. Mas a presença ao meu lado me impedia de prender completamente minha atenção no filme. Por fim, já um pouco inquieto com nosso silêncio ensurdecedor, decidi iniciar uma conversa.
— Então… Ouvi dizer que você quer cursar história.
Ela voltou sua atenção para mim.
— Sim.
— Legal… Você sempre gostou dessa matéria. — Ela assentiu. Outro silêncio. — Já tem ideia de onde quer ir?
— Bom… Ainda não. — pensei que ela seria novamente breve em suas afirmações, e, se assim fosse, eu pararia de atormentá-la. Mas felizmente estava enganado. — Estava pensando em Columbia, por ser perto de casa. Mas pensei melhor, e talvez eu queira me aventurar um pouco mais, conhecer outros lugares. Daí pensei em Brown ou talvez Harvard, se eu for bem o suficiente.
— Tenho certeza de que se sairá bem e poderá escolher qualquer universidade que desejar. — “até mesmo uma na West Coast, mais perto da Califórnia”, minha mente bradou. Mas me segurei. Não queria assustá-la.
— Obrigada, Nick. Seu apoio significa muito para mim. — ela estendeu sua mão, tocando as minhas, seu sorriso transparecendo gratidão e sinceridade.
Encarei nossas mãos juntas e fiz um carinho espontâneo. Ao perceber o que tinha feito e falado, arregalou os olhos e resolveu recolhê-las imediatamente, mas eu consegui impedi-la a tempo.
— Não… Precisa fazer isso. — a encarei com súplica. — … — percebi sua postura relaxar ao ouvir seu apelido. — Será que podemos… Fingir que não nos falamos há dois anos e apenas… Sermos nós mesmos?

We could call it even,
You could call me “babe” for the weekend
‘Tis the damn season, write this down


Ela me olhou como se eu tivesse falado a maior loucura do mundo.
— Eu prometo que quando todos chegarem, fingimos que nada aconteceu e voltamos ao normal novamente. — “Normal”. Aquela palavra saiu amarga de minha boca. Esse não era o nosso normal.
estudou meu rosto, e suas feições foram suavizando à medida em que ela aceitava a minha ideia maluca.
— Ok. — ela concordou. Senti um calor gostoso se espalhar pelo meu peito. “Efeito ”, eu lembrei.
Ela voltou sua atenção para a tv novamente e eu fiquei um pouco confuso, até que depois de alguns minutos, ela voltou a se dirigir a mim.
— Aquele drink. Nós definitivamente devíamos tentar.
Olhei para a tv no momento em que o barman servia um drink que parecia ser muito complicado de ser feito.
— "Três doses de Gordon’s, uma de vodca, meia de Kina Lillet, batido e servido com gelo e uma raspa fina de casca de limão”.
— Vesper… Martini? Nunca ouvi falar dessa bebida.
— Como não? É um clássico da cinematografia.
— E desde quando você se importa com a “cinematografia”?
— Faz pouco tempo, na verdade — ela me confidenciou. — No momento, estou viciada em filmes de ação. Daqueles com bastante tiroteio. E se tiver espionagem, melhor ainda — ela completou.
— Uau. Você não cansa de me surpreender. — ela me deu um sorriso tímido. Depois pensou um pouco, e fez a sua típica cara de quem queria aprontar algo.
— O que acha de fazermos esse drink?
— Agora?
— Sim, ué.
— Mas nós não temos 21 anos ainda.
— Oh, me desculpe. Esqueci que agora você é um santo. — ela olhou para o anel de castidade que eu carregava no dedo.
A verdade era que, apesar de ser virgem, eu não acreditava em castidade. Aquele anel nada mais era que mais uma jogada de marketing para agradar ao público e, sinceramente? Eu já estava cansado de todo aquele controle e as consequências que estavam provocando em minha vida. Eu já havia perdido a minha melhor amiga, o que mais tirariam de mim? — Pensei que Hollywood era mais divertida. — ela me olhou, como se tivesse me lançado um desafio.
— Quer saber? Vamos fazer. — me levantei do sofá, decidido, e logo me toquei de que havia caído na sua armadilha mais antiga: eu adorava um desafio. Adorava provar para as pessoas que elas estavam erradas sobre o que achavam de mim. E ela sabia disso.
— Ótimo. Esse é o Nick que conheço — ela me acompanhou até a cozinha, animada. — Acho que temos todos os ingredientes aqui.

And it always leads to you in my hometown


Começamos a fazer o tal drink, que não era tão complicado assim, afinal de contas. Enquanto cometíamos nosso pequeno delito, nos tratávamos como se nada nunca tivesse acontecido. Brincamos, conversamos. E nos provocamos.
Quando estávamos preparando o que seria nossa terceira dose de Vesper Martinis, nos esbarrávamos de propósito e trocávamos olhares cúmplices. Eu não sabia dizer se era o álcool, ou a saudade, ou a mistura dos dois que nos levou a, no meio de um assunto aleatório qualquer, começarmos uns amassos ligeiramente avançados no meio da cozinha de sua casa.

I won't ask you to wait if you don't ask me to stay


começou a nos empurrar para a escada que levaria até o seu quarto, e colocou sua mão por debaixo de minha blusa. Aquilo só poderia ter um final.
, espera. — interrompi o beijo, ainda ofegante.
— Não. Eu já esperei demais. — ela me lançou um olhar que arrepiou todos os pelos do meu corpo.
— Mas nós estamos bêbados. Não era para ser assim…
— Eu vou lembrar, Nick. Acredite, eu nunca esqueceria algo desse tipo. Ainda mais…
— Ainda mais…?
— Ainda mais com você.
Eu olhei para o chão, ainda incerto sobre toda a situação.
— Olhe para mim. — eu obedeci. — Eu quero isso. E não faria nenhum sentido se fosse com ninguém além… Além de você.
Aquela foi a gota d’água para que meus resquícios de autocontrole, já prejudicados, se acabassem.
Agarrei os cabelos de entre meus dedos, e começamos o beijo mais intenso que já tínhamos dado em toda nossa história juntos. Era um beijo que misturava, raiva, frustrações, saudades, e, principalmente, amor. Todo o amor que nos fora impedido de compartilhar desde o dia em que me mudei de Nova Jersey estava sendo depositado ali naquele momento. Agarrei suas coxas e ela, entendendo o recado, subiu em meu colo. Subimos as escadas desajeitadamente até chegar em sua cama.

So I'll go back to L.A. and the so-called friends
Who'll write books about me, if I ever make it
And wonder about the only soul who can tell which smiles I'm faking
And the heart I know I'm breaking is my own
To leave the warmest bed I've ever known


Algum momento depois de terminarmos, todos chegaram da demorada “compras natalinas”, ou sei lá o que eles inventaram para nos deixar sozinhos. Foi um momento mágico. As sensações que me fez sentir naquelas horas em que passamos juntos eu tinha certeza de que jamais sentiria com qualquer outro alguém.

We could call it even
Even though I'm leavin'
And I'll be yours for the weekend
'Tis the damn season


Depois do momento que passamos juntos e depois, quando precisei ir embora, começamos a nos tratar como amigos. Ainda não como antes, mas melhor do que o total vazio que eu experimentava anteriormente.
Não contei o que aconteceu imediatamente para meus irmãos. Apenas quando voltamos para Los Angeles, resolvi finalmente parar de usar meu anel de castidade, e não só eles, mas o mundo todo, percebeu também. Eles ficaram loucos e muito felizes com a revelação, mas já nossa equipe de marketing, não muito, pois tiveram que trabalhar o dobro para cobrir a loucura que aquele simples gesto causou. Foi o assunto dos tablóides por semanas, mas eu não me importava. Foi a melhor decisão que já tinha tomado na minha vida, e eu nunca me arrependeria daquilo. Nunca.

Capítulo 03 - As I Am

2015, Califórnia - 24 anos

Nicholas POV


Depois de nossa manhã quase tranquila, já que quase me arrastou para fora do apartamento, finalmente havia chegado o momento da fatídica festa. Não me levem a mal: Lafayette, o anfitrião, era meu amigo há anos, e finalmente havia encontrado algo melhor para fazer com sua herança do que ficar torrando-a em bebidas e mulheres. Justamente pelas companhias que havia juntado nesse processo, eu sabia que a festa estaria cheia, não só de algumas celebridades, mas também de mauricinhos endinheirados e sem rumo na vida, assim como ele um dia foi.
Não posso ser hipócrita: eu também já fui um mauricinho sem rumo em Hollywood, apesar de ter trabalhado desde muito novo para isso, mas depois de todos esses anos no mundo da fama, eu simplesmente não tinha mais paciência para aquele tipo de evento. Porém, chegando lá, até que consegui me distrair um pouco com alguns conhecidos. Não muito longe de mim, e deslumbrante em seu vestido, que ela muito custara a escolher, estava .
Depois de nossa primeira vez e com nossa relação quase restabelecida, consegui convencê-la de cursar História em Stanford, na Califórnia, onde eu poderia vê-la com mais frequência do que em qualquer outra faculdade. Depois de terminar sua graduação, ela decidiu continuar morando no mesmo estado e, devido a suas constantes aparições ao meu lado, começou a atrair olhares para si própria, e, sem querer e sem se dar conta, ela havia virado uma influenciadora razoavelmente conhecida na internet.

I wanna tell you lies, so your heart won't break
Yeah, I know
Yeah, I know that I made my fair share of mistakes


Durante todo esse tempo, muitas coisas aconteceram entre nós. Para variar, mais desencontros. Sabíamos que nutríamos sentimentos fortes um pelo outro desde a adolescência, mas parecia que o destino não cansava de brincar conosco. E aí, quando ela estava solteira, eu começava a namorar alguém e vice-versa. Ficamos mais algumas vezes durante aqueles anos, mas algo sempre nos atrapalhava.
Eu tinha terminado há alguns meses com Olivia, minha ex-namorada top model e Miss Universo que havia mencionado antes. No geral, foi um relacionamento bom, e eu demorei alguns bons meses para superá-lo. Não poderia mentir: Liv ainda mexia comigo. Foram dois anos que significaram muito para mim e eu ainda tinha muito carinho por ela. Terminamos por conta de . Ela não sabia disso, é claro. Não queria que se sentisse culpada.
Liv cismava que eu dava mais prioridade para do que para ela, o que não era de todo verdade, e começou a implicar com minha melhor amiga. Apesar de amar , entendi que ainda não estávamos prontos um para o outro. E devido a tantos desencontros, eu confesso que tinha desistido de tentar. Por isso sentia que era justo. Eu estava 100% engajado em fazer dar certo naquela relação, a prova é que aquele tinha sido o meu relacionamento mais duradouro. Mas Liv cometeu um grande erro: me fez escolher entre ela e . E, bem, a minha escolha era bem óbvia.
Depois de algumas horas de festa, todos os convidados já se encontravam um pouco “altos”. Seja pelas bebidas oferecidas, ou por substâncias que passaram por vista grossa dos seguranças locais. Era Hollywood, afinal. Cheguei acompanhado de e logo encontrei meus irmãos, Kevin e Joe, acompanhados de suas companheiras, Danielle e Sophie. Conversávamos animados, até que percebi que minha ex, Olivia Culpo, se encontrava no evento também. também percebeu, mas nada falou sobre. Depois de algumas horas, fui pegar mais bebidas e senti que algo incomodava minha amiga, que cochichava algumas coisas no ouvido de Sophie. Voltei para nossa rodinha e, depois de me direcionar alguns olhares que pareciam diretos demais, ela pediu para que eu a seguisse até o jardim.
Eu, relutante, a acompanhei. Caminhamos calmamente até o ambiente, que estava muito mais agradável que o interior da festa. Pequenas luzes iluminavam as plantações, fazendo o clima ali parecer confortável e romântico.
E aí começou o motivo da minha dor de cabeça.

FLASHBACK ON
23:58 pm, Hollywood Hills, California


Sometimes, I don't know why you love me
Sometimes, I don't know why you care
Take me with the good and the ugly
Say, "I'm not going anywhere”


POV

A festa estava bombando. Meu look estava maravilhoso, os drinks estavam ótimos… Sophie, o recém affair de Joe, havia se tornado uma amiga e ultimamente estávamos muito próximas. Ela era minha companhia na festa naquele momento, já que Nick estava com alguns amigos, e eu estava tentando não surtar com uma notícia a qual eu ainda não tinha compartilhado para Nick.
— Eu passei. — Sophie me encarou, confusa.
— Passou?
— Para Glasgow. Eu passei.
— É sério? — assenti com a cabeça e um meio sorriso. — Ai, meu Deus! Parabéns, ! — Ela me abraçou e percebeu que eu não estava tão animada como deveria. — O que foi? Não está feliz?
Enquanto estava na faculdade, pensava no que faria depois que terminasse. Depois de muito pensar, cheguei à conclusão de que queria continuar a estudar História. Era a verdadeira paixão da minha vida e eu sentia que precisava continuar seguindo carreira nessa área. Ao mesmo tempo, Nick tinha acabado de iniciar seu namoro com Olivia e parecia muito apaixonado por ela. Não era a primeira vez que acontecia, eu também já havia namorado outras pessoas ao decorrer daqueles anos na Califórnia, mas eu sentia que daquela vez era diferente para ele. Era o namoro mais longo que ele havia tido na vida. Então, decidi tomar um rumo na minha: me inscreveria num programa de mestrado em História no país de minha família, a Escócia. Aproveitaria para me reconectar com minhas origens, visitar meus avós, e ter a chance de conhecer outro país que não fosse os Estados Unidos da América.
O problema é que:
Número 1: Nick havia terminado seu namoro. Depois de alguns meses de sofrimento pela ex, nós começamos a nos ver de novo. Era um ciclo que eu honestamente não fazia questão de quebrar. Eu amava Nick e sempre amei. Podia ser um pouco autodestrutivo e masoquista, porém, eu sabia que, não importava quantos namorados ou namoradas tivéssemos, nós sempre voltávamos um para o outro e, dessa vez, parecia que finalmente as coisas estavam se acertando entre nós. Depois de anos, estávamos tendo a chance que tanto esperamos.
Número 2: Eu não esperava que seria aceita. Qual é! Era uma bolsa integral de estudos numa das melhores faculdades do Reino Unido. Mas...
— Sim! Sim, eu estou muito feliz. Era tudo o que eu mais queria.
— Queria?
— Quer dizer, quero!... Eu só… — fechei os olhos e respirei fundo. — Eu só estou confusa sobre o que fazer. — Meu olhar pousou involuntariamente sobre Nick, que conversava animadamente com amigos no meio da multidão. Sophie me analisou por alguns segundos, entendendo tudo.
— Não me diga que você está cogitando não ir estudar o que mais gosta na Europa de graça por causa de homem.
— Não! Sim… Eu não sei, Sophie. — revelei, exausta. — Parece que a vida gosta de tirar uma com a minha cara.
— O que quer dizer com isso?
— Agora que finalmente eu e Nick estamos juntos, aparece mais uma rasteira para nos separar. Parece que o destino não quer que fiquemos juntos. — revelei, com os olhos começando a encher d’água. Olhei para cima numa tentativa de não borrar minha maquiagem.
— Não fala assim! Não é uma rasteira, é uma bolsa de mestrado em Glasgow.
— Eu sei! Eu deveria estar feliz, eu estou feliz… Mas estou dividida também. Não sei o que fazer.
— Nossa… Pensando bem, acho que também não sei o que faria. Mas acho que se for realmente importante para você, Nick vai entender. Vocês passaram por tanta coisa…
— Eu não sei. Acho que distância não é muito o nosso forte…
— Bom… Numa situação como essa, devo dizer o clichê: apenas siga o que seu coração mandar, sweetie. O resto se ajeitará eventualmente.
— Obrigada, Sophie. — foi então que tomei a coragem necessária e decidi que, naquela noite, contaria para Nick. Pedi que me acompanhasse até o jardim, um lugar mais calmo para conversarmos.
Ao chegarmos, nos sentamos num banquinho charmoso que decorava o local. Então, iniciei nossa conversa.
— Nick…
— Sim, baby.
— Preciso te contar uma coisa.
— Ok, estou ouvindo. — respirei fundo. Era agora ou nunca.
— Você se lembra de quando você ainda estava namorando a Olivia e eu te disse que estava pensando em me matricular para uma bolsa de mestrado em Glasgow?
— Sim. Que loucura. Imagina, você morando em outro continente? Acho que eu infartaria — ele soltou uma risadinha. Eu congelei.
— Bom, eu… Eu me matriculei. E… Eu fui admitida. — Nick parou lentamente de sorrir.
Pude notar várias feições passarem por seu rosto: surpresa, alegria, confusão.
— Uau. Meus parabéns, .
— Obrigada. — senti um clima estranho se instalando no lugar. Ele coçou sua barba por fazer.
— E… Você quer ir? — me perguntou sem jeito.
— Sim.
— Entendi. — outro silêncio. Ele encarou o chão, pensativo. — E para quando seria o seu, hm… O seu embarque? — fechei os olhos.
— Na sexta-feira. — ele deu um sobressalto, levantando-se do banco.
— O quê? Como assim, na sexta-feira, ? — mordi meu lábio inferior, nervosa.
— Me desculpe, Nick. Eu nem sabia se queria ir até alguns momentos atrás.
— E por que não me contou assim que soube?
— Porque… Eu não sei, Nick! Eu estava confusa! Mas agora sinto que preciso ir. — tentei me explicar. — Eu finalmente teria a chance de conhecer a outra parte de minha família e de quebra estudar na Europa sem pagar um único centavo. Eu finalmente sairia dos Estados Unidos e conheceria outro país, outra cultura...
— Eu sei, eu só… — ele andava de um lado para o outro. — Que droga! — ele chutou o ar em frustração. Me assustei com a sua repentina reação. — Eu realmente achei que dessa vez funcionaria, eu e você. Quer dizer, são tantos anos… — ele sorriu tristemente enquanto enxugava os filetes de lágrimas das bochechas. — Mas nós não aprendemos. Não nascemos para ficar juntos.
Senti aquela frase me despedaçar como um tiro numa peça de vidro. Apertei os olhos, experimentando uma ardência estranha no peito enquanto tentava formular alguma frase que fizesse sentido.
— O que… O que você tá falando, Nick...
— Nós somos amigos, . Bons amigos. E só. Chega de tentar. Nós estamos há anos nos machucando porque estamos constantemente confundindo tesão e amizade com amor. Isso... — ela apontou para nós. — Precisa acabar. Hoje. De uma vez por todas.
— Você sabe que não é verdade. — dei um passo em frente tentando me aproximar dela, porém, ele deu outro pra trás. Meu peito doeu novamente.
— Tem que ser. A partir de hoje, seremos apenas bons amigos. Como sempre fomos. Você fará seu mestrado na Europa e eu seguirei minha vida aqui em Los Angeles.
— Nick, nós podemos resolver isso…
— Como?
— Podemos continuar o que temos…
— Eu e você? Namoro à distância? Eu acho que não. — sua frieza me cortou como uma faca. — Sabemos muito bem no que deu na última vez.
— Mas agora é diferente.
— Não tem nada de diferente, . — ele sorriu sem humor. — Acho que devemos aceitar de vez que não nascemos para ficar juntos. Devemos parar de adiar o inevitável e apenas terminar logo com isso de uma vez por todas.
— Nick, espera, eu… — ele saiu andando, sem ao menos me deixar falar algo.
Tentei segui-lo de volta para a festa, mas acabei perdendo-o no meio da multidão.
— Nick! — tentei gritá-lo, mas o som alto abafava minha voz, já embargada pelo choro entalado em minha garganta.
Pude avistar Sophie do outro lado do salão e corri para ela.
— E aí, como foi? — ela me perguntou, animada.
Me limitei a apenas abraçá-la e deixar algumas lágrimas rolarem pelo meu rosto. Entendendo o recado, ela afagou minhas costas. Enquanto abraçava minha amiga, pude observar de relance Nick e Olivia seguirem sozinhos para o jardim do hotel.
— Ai, meu Deus.
— O que houve?
— Nick e Olivia. Indo para o jardim.
— Ai, meu Deus. Você precisa ir para lá agora!
— Eu não vou, Sophie. Vou embora. — me dirigi à saída em passos largos.
— Espera aí! ! — ela me seguiu com dificuldade, por conta dos saltos e de alguns shots de tequila. — Deixa eu pelo menos te colocar num táxi.
Aguardamos o táxi, que não demorou a chegar na entrada do hotel. Me despedi de Sophie e entrei no carro, que deu partida com destino ao meu apartamento, onde me permiti chorar tudo o que podia.
Chorava porque me sentia uma ingrata. Quantas pessoas queriam estar em meu lugar e conseguir aquela vaga enquanto eu lamentava?
Chorava porque mais uma vez perderia a chance de finalmente ficar junto com o amor da minha vida. Por que as coisas não podiam dar certo para mim ao menos uma vez na vida?

Nicholas POV

Entrei novamente no local da festa e fui direto em direção ao bar. Pedi ao barman que me desse shots da bebida mais forte que tivesse e logo me encontrava mais alterado que o normal. Foi quando percebi a presença de Olivia ao meu lado, bloqueando minha próxima dose.
— Não acha que já está bom por hoje? — Ela perguntou em meu ouvido.
— Sinceramente, acho que nunca será o suficiente. — respondi.
— Quer conversar sobre isso?
A encarei. Que mal poderia fazer? Assenti com a cabeça e caminhamos em direção ao mesmo lugar em que eu havia acabado de terminar mais uma vez com .
— Conta tudo.
Desabafei com Liv. Contei partes da minha história com que ela não conhecia, desde nossa adolescência e tudo o que passamos até o dia de hoje. Quando terminei, Liv não perdeu de me alfinetar sobre ela estar certa quanto à preocupação com minha relação com enquanto namorávamos. Porém, eu nunca seria capaz de traí-la, deixei isso bem claro, e ela pareceu acreditar em mim. Depois me encheu de conselhos e me orientou sobre como proceder diante dessa situação. Sempre serei grato a ela por tudo, mas principalmente por ser um pilar tão improvável num momento tão angustiante como aquele que eu estava passando.
Finalmente, decidi ir para casa. Não sei como cheguei, ou como acordei deitado em minha cama no dia seguinte, mas estava lá. Sentindo dor. Física e mental.

Epílogo

2015, Califórnia - 24 anos

A thousand miles apart, yeah
You're the one that holds my heart
It's no surprise, and I tell you all the time
And when life gets way too hard, I'll meet you in the stars
You know I will
I'll keep you near
As I wipe away your tears


Mais uma fisgada atingiu meu cérebro. Dessa vez meu estômago decidiu acompanhá-lo e sabia que nada tinha a ver com a bebedeira desenfreada. Me dirigi ao banheiro da suíte e debrucei-me sobre a pia, jogando um pouco de água gelada em meu rosto e nuca, numa tentativa de melhorar o mal estar generalizado enquanto encarava meu reflexo no espelho.
Caos: era o que minha imagem emanava. Roupas completamente amassadas, cabelos desgrenhados, olheiras profundas. Contudo, nada disso se comparava ao caos que começara a se instalar em meu interior no momento em que ela desferiu aquela frase.

“Embarcarei na sexta-feira”


Ri da minha própria desgraça enquanto tirava minhas roupas e me dirigia ao chuveiro. Talvez a água gelada ajudasse a tirar de minha mente a quase excruciante dor de cabeça. Ou aquele diálogo. Meu corpo retesou quase que imediatamente mediante o contato de minha pele quente e a água ártica. Se ela estivesse aqui agora, provavelmente eu ouviria sobre os perigos de pegar uma pneumonia. Mas ela não estava. E não estaria por um bom tempo.
Ok, esse pensamento foi bem dramático. Ela poderia fazer isso pelo telefone. Fechei o chuveiro, buscando em minha memória a conversa que tive com Liv na noite anterior. Ela tinha me orientado a conversar novamente com e dar todo suporte necessário a ela. Basicamente me chamou de egoísta e surtado, e que eu devia desculpas à .
E eu não poderia concordar mais. Reconheci que fui duro demais com na noite passada. Ela apenas estava indo atrás de seus sonhos, assim como eu fui quando tínhamos 13 anos. Ela me deu todo o suporte possível e, quando chegou a vez dela, eu tinha feito exatamente o oposto. Me sentia o pior exemplar de idiota, um perfeito imbecil.

You were there for me when I was acting selfish
And you prayed for me when I was out of faith
You believed in me when ain't nobody else did
It's a miracle you didn't run away


Acabei meu banho e me vesti, decidido a encontrá-la. Não antes de tomar um remédio para a maldita enxaqueca. Eu nunca mais iria beber.
Mandei uma mensagem para , esperando que ela respondesse. “Você está em casa?”, eu perguntei. Não obtive resposta, mas não desistiria tão fácil. Peguei minhas chaves e comecei a dirigir até seu apartamento. Estacionei numa rua próxima e parei em uma cafeteria. Comprei seu latte com especiarias e um muffin de mirtilos, seus favoritos. Quando enfim já estava a caminho de sua casa, encontrei uma floricultura no caminho. Eu não perderia aquela oportunidade.
Com um buquê de tulipas azuis e seu café da manhã preferido, toquei a campainha dela. A demora para atender a porta me fez pensar que ela realmente não estava em casa, mas logo pude escutar o característico barulho das chaves abrindo a fechadura.
Ela abriu a porta e eu pude notar sua feição abatida e os olhos um pouco irritados, provavelmente pelo choro da noite anterior. Ao pousar os olhos sobre mim, pude notar suas pálpebras levantarem levemente em uma leve demonstração de surpresa pelas sacolas em minhas mãos. Mas, apesar disso, seus traços se mantinham impassíveis.
— Ahm… Bom dia.
— Bom dia.
— Eu trouxe isso para você — entreguei o café da manhã com uma mão. — E isso aqui também — completei, entregando o buquê com a outra.
— Oh… Ahm… Obrigada.
Ela pegou as sacolas e o buquê, porém permaneceu parada em frente a porta.
— Eu posso entrar?
A ouvi suspirar, cansada.
— Eu não sei, Nicholas. Se for só para brigarmos novamente, eu prefiro que não.
— Não vim aqui para brigar. Muito pelo contrário.
Depois de hesitar um pouco, ela, convencida, abriu a porta e liberou minha passagem. Adentrei o conhecido apartamento.
Ela colocou as sacolas na cozinha e depositou o buquê delicadamente na mesa da sala. Esperei que ela me convidasse para sentar, me sentindo um completo estranho numa casa que eu conhecia como a planta da minha própria. E mais uma vez era tudo minha culpa.
— Antes que você comece, posso perguntar uma coisa? — ela indagou.
— Mas é claro.
— O que aconteceu entre você e a Olivia no jardim depois que terminamos nossa conversa?
— Não aconteceu nada. Ela me viu passando do ponto no bar e me chamou para conversar sobre o porquê daquilo. — ela não pareceu muito convencida. Não podia culpá-la. Se as situações fossem invertidas, eu sentiria o mesmo. — Na verdade, é por causa disso que estou aqui hoje.
— Como assim?
— Eu contei toda nossa história para ela, inclusive sobre nossa última… Briga. — me encorajou a continuar, curiosa. — E ela me ajudou a enxergar que agi como um completo idiota com você.
Ela surpreendeu-se.
, eu… Eu sinto muito. Sinto muito por não ter sido o namorado que você merecia quando éramos jovens, mas principalmente por não ser o amigo que você merece agora. Quero que saiba que eu estou aqui para te apoiar, seja qual for a escolha que você decidir tomar. Que nossa amizade não vai mudar se você escolher se mudar para a Escócia. Você me apoiou quando eu estava começando a minha carreira e eu deveria estar te apoiando agora que você está começando a sua.
Pude notar seus olhos começarem a marejar. E os meus também.
— Peço, por favor, que me perdoe.
sorriu, correndo em minha direção e, para minha surpresa, me beijou. Deixou seu corpo se despejar sobre o meu, sentando em meu colo com as pernas nas laterais das minhas. Retribuí o beijo, apertando sua cintura como se minha vida dependesse daquilo. E, bem, às vezes eu poderia jurar que dependia. Depois de alguns minutos, fomos diminuindo lentamente a velocidade de nosso beijo, até que este se converteu em pequenos selinhos.
— Eu só não como vou conseguir viver tão longe desse beijo.
— Ora, você pode me visitar a hora que quiser. Você sabe que sempre será bem-vindo. — ela voltou a distribuir beijos por toda minha face. — Não só beijos, como também…
Ela deixou a frase no ar. Nos olhamos maliciosamente, já sabendo o que viria a seguir.
Passamos todos os dias que restavam a ela na América juntos, aproveitando ao máximo nossas companhias. Eu ia visitá-la toda vez que podia na Escócia, e ela vinha em suas férias para os Estados Unidos visitar a mim e a sua família.
Anos depois, logo após mais uma fatídica despedida, me dei conta de que simplesmente não poderia mais viver longe daquela mulher. E então, tomei uma decisão que mudaria para sempre nossas vidas. De uma vez por todas.

Take me with the good and the ugly
Say, "I'm not going' anywhere"



Fim!



Nota da autora: Olá!!! Primeiramente queria agradecer, não somente a Deus, mas a Jesus… Brincadeira kkkk -q
Obrigada a todos vocês que tiraram um tempinho do seu dia e escolheram ler a minha história! Vocês poderiam estar fazendo qualquer outra coisa, mas escolheram dedicar esse tempo para dar ibope para mais uma história que surgiu dos meus muitos devaneios de canceriana que tive coragem de colocar no papel (ou computador). Então, mais uma vez, obrigada! <333
Segundamente: apesar de eu ter colocado algumas datas, alguns acontecimentos não vão bater certinho com a realidade. Mas é uma fic, né? A gente finge que foi daquele jeito e tá tudo bem hahahaha
Terceiramente, gostaria de agradecer ao anjo da minha vida, minha bff, Ana Luiza. Sem ela essa fanfic literalmente não estaria aqui hoje (rindo de nervoso). Obrigada por ser a melhor beta-reader do mundo, e por me incentivar a postar todos os meus sonhos malucos e fanfiqueiros pra toda a internet ver. Te amo <33
Quartamente: VAI TER UMA CONTINUAÇÃO SIMM!!! Na verdade, essa fic foi inspirada em um conto que eu tinha escrito há alguns anos atrás, e que estava guardado no fundo da gaveta do meu google drive, e que eu nunca tinha pensado em postar. Mas agora finalmente vou colocá-lo no mundo :) também será uma songfic/shortfic, se passará depois de alguns anos depois de todos esses acontecimentos e contará a bendita decisão que o sr. Nick Jonas tomou. Qual é o seu palpite?
Dica: provavelmente a fic se chamará “Sauchiehall St”.
É isso meus amores, mais uma vez muito obrigada por chegarem até aqui! Até a próxima!
Isa xx

Caixinha de comentários: A caixinha de comentários pode não estar aparecendo para vocês, pois o Disqus está instável ultimamente. Caso queira deixar um comentário, é só clicar AQUI


Nota da beta: COMO ASSIM “FIM”????????? EU QUERO SABER DESSA DECISÃO! ISAAAAA! Você me enlouqueceu com essa fic! Hahaha Eu estava tão envolvida e DO NADA, “fim”, aí que dor na alma! Eu amei esses personagens, amei a forma como se envolveram e eu sou a maior fã de melhores amigos que se apaixonam dessa vida! Já quero essa continuação pra ontem, por favorrrr! 💙

Qualquer erro nessa atualização ou reclamações somente no e-mail.


comments powered by Disqus